ESTUDO BÍBLICO NA 8ª DO NATAL E 1º DIA DO NOVO ANO DE 2021

ESTUDO BÍBLICO NA OITAVA DO NATAL ANO 2020 E INÍCIO DO ANO NOVO

Comunidade Católica Paz e Bem

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SEGUNDA FEIRA: Mateus 2,13-18 (Santos inocentes)

A VIDA AMEAÇADA

“É Raquel que chora por seus filhos”

Nestes dias as crianças passaram a um primeiro plano na vida familiar, social e também eclesial. Uma criança é um ser frágil, não exerce nenhum poder, sua vida está sempre em risco (enfermidades e todo tipo de perigos).

Uma criança não tem como defender-se e afirmar-se ante as forças do mundo adulto. Muitas crianças são vítimas de sua incapacidade para defender-se. Porém olhando o outro lado da moeda, positivamente falando, para que uma criança continue vivendo, necessita de muitos cuidados e ajudas.

Daí que seja tão importante que ele conte com uma proteção eficaz e inteligente que se ponha ao serviço de sua vida. Jesus criança participou, também, de toda esta realidade de ameaça e de necessidade de ajuda.

O Evangelho de hoje nos convida a refletir seriamente sobre esta realidade. Para isso o texto nos apresenta os dois lados da moeda:

  • Jesus é ameaçado. A vida do divino menino é ameaçada pelo poder do rei Herodes e, com ela, também toda sua obra messiânica.
  • Jesus é protegido. O relato nos conta como intervém Deus para salvar a vida de seu Filho.

Vejamos:

  1. A ameaça da vida: “Herodes vai buscar o menino para lhe matar” (Mt 2,13). O proceder de Herodes está em contraposição com o dos pais da criança: os progenitores protegem e cuidam da vida do menino, enquanto Herodes quer eliminá-lo (ver o fato na contextualização do Evangelho de domingo passado). Por assegurar seu próprio bem estar, Herodes se vale da vida inocente dos pequenos de Belém que não têm como defender-se. Como tanta gente que escala o poder, ele só pensa em seus interesses pessoais, não se importa que outros tenham que sofrer.
  2. O compromisso com a vida: “Levanta-te, toma contigo à mãe e o menino” (2,13). O Evangelho nos apresenta também as lágrimas e o compromisso concreto dos pais. “Raquel chora por seus filhos” (2,17-18). A dor vai até o fundo da história. O grito de dor de Raquel, a mãe das tribos de José e de Benjamim, manifesta toda a profundidade da dor causada às mães pelo assassinato de seus filhos. Cada vez que uma mãe chora a morte do filho, Raquel chora com ela.

O Anjo disse a José”. Deus entra na história para salvar a vida do Filho, para isso chama de novo José e o ensina como fazer; vemos na série de verbos em imperativo: “levanta-te”, “toma contigo”, “foge ao Egito” e “fica ali”. Como salvar a vida do inocente se aprende na escuta da Palavra de Deus.

Na passagem vemos como José se encarrega de proteger o menino dos perigos externos, enquanto Maria é encarregada dos cuidados maternos. Maria e José têm tarefas distintas, porém no centro de suas vidas está o serviço a Jesus. A vontade homicida de Herodes é anulada pela proteção de Deus, para isso se vale dos braços fortes e amorosos dos pais de família.

Aprofundando com os nossos pais da fé

São Gregório de Nissa (cerca de 335-395), monge e bispo

Hoje começa o mistério da Paixão.

“Quando soube do nascimento do Salvador, Herodes ficou preocupado e toda Jerusalém com ele” (Mt 2, 2)…

Era o mistério da Paixão que a mirra dos magos simbolizava já; sem piedade, manda-se massacrar recém-nascidos… Que significa esta mortandade de crianças? Porque ousar um crime tão terrível? «É que, dizem Herodes e os seus conselheiros, apareceu no céu um sinal estranho; ele assegura aos magos a vinda de um outro rei». Compreendes, Herodes, o que são estes sinais anunciadores? Se Jesus é senhor dos astros, não estará ao abrigo dos teus ataques? Julgas que tens o poder de fazer viver ou morrer, mas não tens nada a

temer de alguém tão doce. Deus submete-o a teu poder; porquê conspirar contra ele?… Temos depois o luto,

«a queixa amarga de Raquel que chora os seus filhos» – porque hoje o Sol de justiça (Mc 3,20) dissipa as trevas do mal e derrama a sua luz sobre todo a natureza, ele que assume a nossa natureza humana… Nesta festa da Natividade, «as portas da morte foram rebentadas, as barras de ferro foram quebradas» (Sl 107,16); hoje, «abrem-se as portas da justiça» (Sl 118,19)… Porque a morte veio por um homem; hoje, por um homem, vem

a salvação (Rm 5,18)… Depois da árvore do pecado, ergue-se a árvore da bondade, a cruz… Hoje começa o mistério da Paixão.

Para cultivar a semente da Palavra de Deus no coração:

  • De que forma vemos hoje ameaçada a vida das crianças?
  • A que forças e interesses obedece o comportamento do rei Herodes? Onde se apresentam hoje estas forças e que consequências tem?
  • Que significado tem a presença de José e Maria na vida do Menino Jesus? Que nos ensinam?

 

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA

Lucas 2,22-35

UMA GLORIOSA MANIFESTAÇÂO QUE RESPONDE À LONGA ESPERA

“Meus olhos viram tua salvação”

Os relatos de infância de Jesus em Lucas não deixam de contagiar-nos sua graça.Cada detalhe é significativo, pois nos ajuda a entender Jesus que pouco a pouco vai se manifestando. Por exemplo, a primeira aparição em público de Jesus se realiza no Templo, assim se realiza a profecia de Malaquias: “Em seguida virá a seu Templo o Senhor a quem vós buscais” (3,1).

Podemos relacionar o relato de hoje com o de ontem. Se ontem víamos o passar de Jesus à idade adulta, hoje o vemos em um momento, ainda inicial, quando depende, completamente, de seus pais. Maria, que trouxe Jesus ao mundo, o introduz, também, no mundo da fé israelita e em seu lugar mais significativo, que é o Templo. Leiamos e oremos o Evangelho de hoje notando como Jesus está rodeado do amor de seus pais e também da fé de seu povo que durante muitos anos tem aguardado o cumprimento das promessas.

  1. A família vai unida ao Templo para agradecer o dom da vida (2,22-24).

Lucas nos apresenta em um só relato a purificação da Mãe, Maria, e a apresentação de Jesus como filho primogênito. O texto dá maior realce à ação de graças e consagração do menino a Deus por seus pais. A santa família que entra ao templo tem três características:

  • É uma família piedosa: a Lei do Senhor é sua norma de vida: A família de Nazaré compreende seu projeto familiar à luz da Palavra de Deus. Notemos a ênfase no texto: três vezes se repete “segundo a lei” (2,22.23.24 e logo uma vez mais em 2,39). Assim, a sagrada família é apresentada como uma família fortemente aderida a Deus e fiel cumpridora da lei.
  • É uma família pobre: a oferenda das rolinhas: O ritual que menciona o Evangelho consistia essencialmente em fazer uma oferenda no Templo. Com relação ao conteúdo da oferenda, Lucas nos dá a entender que Maria e José estão no direito dos pobres. Visto que têm poucos recursos apresentam a oferenda que faziam os que tinham menos posse: “um par de rolas ou dois pombinhos”. Com este detalhe lucano, o Evangelho continua desenhando o retrato da pobreza de Jesus e de seus pais que começou a iniciar-se na noite do nascimento.
  • É uma família que agradece o dom da vida: o filho é uma dádiva de Deus: A razão de ser da oferenda é simbolizar a entrega definitiva do filho a Deus, pois, segundo a lei, todo primogênito pertence a Deus. Mas Jesus desde sempre pertencia a Deus de um modo único, especial, portanto a sagrada família se compreende a luz do mistério de Deus que está por ser revelado. Isto vai se confirmar na profecia inspirada que escutaremos em seguida: Jesus, como consagrado ao Senhor, é salvação e glória de Israel e luz para todos os povos. Por isso o cântico de Simeão e as aclamações de Ana são como uma liturgia de entrada deste ritual de consagração de Jesus a Deus.
  1. Simeão dá as bem-vindas a Jesus (2,25-35)

Simeão nos dá um novo horizonte para entender melhor Jesus e Maria. Nesta parte podemos distinguir:

  • Uma descrição das características de Simeão (25-28)

A breve descrição nos disse que se trata de uma pessoa realmente boa que: é “justa” e “piedosa”, “espera a consolação de Israel”, está “cheia” e é “movida pelo Espírito Santo”, consegue ver aquele que estava esperando durante toda sua vida. Simeão é descrito, então, como um homem de esperança. Em sua idade avançada se comporta como um jovem que vê com otimismo o futuro que chega, sustentado pela certeza de que Deus não se esquece de seu povo.

A “espera” deu sentido a sua vida e, sustentado nela, andou numa vida reta: justo e piedoso. O cansaço não o levou a subestimar a fidelidade a Deus. O abraço que dá no menino Jesus é um abraço no verdadeiro futuro da humanidade, acolhendo-o como o dom de Deus para os homens. Assim, Simeão antecipa o que será de muita gente ao longo da missão de Jesus. Doravante o dia do encontro com Jesus será para cada pessoa o dia mais importante de sua vida. Com Jesus em seus braços, com apenas 40 dias de nascido, canta um belo hino inspirado, que é também uma profecia sobre Jesus. O reconhecimento do Messias esperado dá a Simeão uma nova compreensão de qual será o futuro de todos aqueles que o rodeiam. A família de Nazaré, a humanidade inteira e o próprio Simeão, se vêem iluminados pela luz salvífica de Jesus.

  • Uma oração de louvor a Deus pela chegada do Messias (29-32)
  • Simeão vê a realização de sua própria vida (vv.29-30) Contemplando Jesus, o ancião mergulha espiritual e profundamente no caminho de vida que lhe aguarda. “Agora, Senhor, podes, segundo tua palavra, deixar que teu servo se vá em paz”. Em seu hino, Simeão celebra em primeira pessoa dois dons concretos que Deus concede na pessoa de Jesus: o dom da salvação e o dom da paz. A acolhida do primeiro dom leva ao segundo. “Meus olhos viram tua salvação”, quer dizer que a salvação é uma pessoa, é Jesus. Os termos “paz” e “salvação” estão relacionados. Esta é a terceira vez que os relatos da infância proclamam o dom da paz (1,79; 2,14; 2,29). Jesus é a “paz” para quem o acolhe. A paz que só Deus pode conceder é, para Simeão, a superação da insegurança, do medo, do vazio que se sente ante o futuro, da incerteza do desenlace final ante a perspectiva da morte. Por isso o dom da paz é esse estar em Deus que muda a visão da vida, que leva a viver de um modo distinto e fecundo no presente e que é à base de uma vida plena e definitiva em Deus que começa de verdade a realizar-se.
  • Simeão vê o futuro da humanidade toda em Jesus (v.31-32ª). A salvação é para todos: “A preparastes em vista de todos os povos” (v.31). Este dom é primeiro “luz para iluminar aos povos” (v.32ª). A humanidade parecia estar mergulhada na escuridão da ignorância do Deus da história. Jesus é a “luz” que ilumina as nações, que ilumina além de Israel, que penetra todos os recantos da humanidade, em todos os aspectos de sua diversidade cultural, sócio-política, econômica e ainda religiosa. Acaba o privilégio de um povo: na pessoa de Jesus todos os homens tem a possibilidade de conhecer e receber as bênçãos do único Deus.
  • Simeão vê o futuro de Israel em Jesus (v.32b) A vinda de Jesus é também uma bênção especial para o povo de Israel: “Glória de teu povo Israel” (v.32b). Porque a história da salvação chegou a seu ponto culminante no abraço salvífico que Deus dá a todos os povos, “Israel é glorificado”. Jesus leva a Israel, com quem Deus tem caminhado em sua história, a viver, agora, a máxima proximidade de Deus; por meio de Jesus, o povo de Israel é introduzido em seu destino final que é a “gloria” de Deus.
  • Uma profecia sobre o destino de Jesus que envolve também sua Mãe (v.33-35)

Depois da oração de Simeão, o evangelista anota que os pais de Jesus participam com sua admiração. Também seus olhos se abriram ante o mistério que se manifesta no menino Jesus. Então “Simeão os bendiz” e dirigindo-se a Maria anuncia, profeticamente, tanto o destino de Jesus como o dela.

  • Simeão vê e anuncia profeticamente o futuro de Jesus (v.34)

O cume da história da salvação é luz e glória, porém, vem pela rota a qual se chega, verdadeiramente, a ela: a rota que seguirá Jesus: a luz da glória passa pela sombra da dor, da rejeição do servidor de Deus. “Este está posto para queda e elevação de muitos em Israel” (v.34ª). Em seu ministério, Jesus não será acolhido unanimemente: uns o acolherão e outros o rejeitarão. Ao longo do Evangelho será fácil distinguir estes dois grupos. Ante Jesus terá que tomar sempre uma opção e, qualquer que seja a decisão que se tome, sempre haverá consequências: quem o aceite encontrará n’Ele a salvação (=elevação); e quem o rejeite terá que ver-se, ao final, com Deus (=queda). Por tudo isto Jesus é “sinal de contradição”. A trama do Evangelho se tece no conflito que acompanhará sua vida até seu desenlace final na cruz.

  • Simeão vê e anuncia profeticamente o futuro de Maria unido ao de seu Filho (v.35)

E a ti mesma uma espada te atravessará a alma!” (v.35ª). A Mãe do Messias seguirá unida a Ele como sua discípula; como tal o acompanhará com sua presença física e com seu coração e compartilhará a dor da rejeição. Esta união com Jesus em tudo e, sobretudo em seu destino, e que ao final conduz à glória (ver 24,26), será a exigência fundamental do discipulado. Maria é apresentada, então, como a discípula perfeita, que percorre o caminho completo de Jesus: ela soube acolhê-lo desde o primeiro momento, porém terá que aprender a percorrer seu caminho como servidora fiel até o final. Se seguimos lendo a obra de Lucas, nos Atos dos Apóstolos, notaremos como desde já em Maria, Simeão está contemplando o futuro da Igreja missionária.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Hoje podemos começar a fazer a síntese do itinerário que temos percorrido com a Palavra ao longo deste belíssimo mês. Jesus irrompe em meio de seu povo, culmina as esperanças que haviam alimentado os profetas, nos convida a pensar no futuro de nossa vida, nos compromete com seu caminho. Que tal um bom espaço de retiro para que releiamos a luz da Palavra o ano que vivemos?

  • Que ideal de família nos apresenta o Evangelho de hoje? Estes dias de natal não são um bom espaço para que a construamos? Que haveria que fazer?
  • Que diz Simeão em seu hino de louvor inspirado pelo Espírito? Somos capazes de dizer o mesmo?
  • A comunhão de destino de Jesus e Maria que lição nos dá para nosso caminho de discipulado?

 

 

QUARTA-FEIRA

Lucas 2,36-40

UMA ANCIÃ QUE PROFETIZA A CHEGADA DA LIBERTAÇÃO

 “Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, de idade avançada… Louvava a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”

 

O texto de hoje dá continuidade ao de ontem e o conclui como deve ser: “Assim se cumpriram todas as coisas segundo a Lei do Senhor” (v.39). Em torno deste cumprimento vemos, em primeiro lugar, a anciã Ana que também lhe da bem-vinda ao menino Jesus e, em segundo lugar, um resumo da infância de Jesus elaborado pelo evangelista.

 

  1. Jesus e a profetiza Ana (2,36-38)

 

Ao lado da figura masculina que vimos ontem, o ancião Simeão, Lucas coloca um personagem feminino. Ana está colocada ao mesmo nível de Simeão, representando -junto com Ele- ao Israel que dá o passo de fé ante Jesus.

 

Mais adiante, no relato do ministério de Jesus, poderemos notar como ao lado das discípulos estão as discípulas e como este fato é já “boa noticia” porque contesta a então tradicional marginação da mulher no mundo hebreu.

 

Israelita até os ossos (vê sua descrição), Ana tem a coragem de reconhecer, no recém nascido, o Redentor e faz uma confissão aberta de fé. Da anciã Ana se diz expressamente, além do mais, que tem um ministério. Ela, como servidora de Deus, se coloca também a serviço de Jesus: desde que o encontra, seu ministério profético é o anuncio: “louvava a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a redenção…”.

 

As palavras de Ana nos remetem de novo a mensagem central deste capítulo: em Jesus hão se realizado todas as promessas da parte de Deus e hão se satisfeito a espera da parte do povo.

 

  1. Jesus cresce sob a tutela de sua família (2,40)

 

Lucas nos leva enfim a acompanhar ―com breves alusões, todas elas muito importantes― o processo de crescimento de Jesus, até que alcance sua maturidade (2,40; 2,51-52 encontramos novos dados).

 

Lucas nos disse em poucas palavras que Jesus se desenvolve de maneira progressiva e harmoniosa. O menino débil se faz forte e aprende a conduzir sua vida com sabedoria (Eclo 51,17). À maturidade que vem com o aumento de idade (“estatura física”, “ante os homens”) segue-se também, ao mesmo tempo, a maturidade espiritual: “ante Deus”.

 

Todos podem verificar os progressos de Jesus, do mesmo modo que em Eclo 45,1 se dizia de Moisés: Fiz sair dele um homem de bem que achava graça aos olhos de todos, amado por Deus e pelos homens. Jesus é apresentado como homem perfeito que viveu seu crescimento perfeitamente e que está em condições de conduzir aos homens a seu mesmo estado. Este é precisamente o critério fundamental da educação na família.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

São Cipriano (cerca 200-258), bispo de Cartago e mártir

 

“Servindo a Deus dia e noite”.

 

Nas Santas Escrituras, o verdadeiro sol e o verdadeiro dia é Cristo; é por isso que para os cristãos nenhuma hora é excluída, e sem cessar, e sempre, há que adorar a Deus. Porque estamos em Cristo, quer dizer, na luz verdadeira, estejamos em súplica e em oração ao longo de todo o dia. E quando, segundo o curso do tempo, a noite vem depois do dia, nada nos impeça, nas trevas noturnas, de orar: para os filhos da luz (1 Tm 5,5), é dia mesmo na noite. Então, quando está sem a luz, quem que tem a luz no seu coração? Então, quando é que falta o sol, quando é que não é mais dia, para a pessoa para

a qual Cristo é o Sol e o Dia? Durante a noite não deixemos pois de rezar. Foi assim que Ana, a viúva, obteve o favor de Deus, na oração perseverante e nas vigílias, como está escrito no Evangelho: “Ela não se afastava do Templo, servindo dia e noite com jejuns e orações”… Que a preguiça e o deixar andar não nos impeçam de rezar. Pela misericórdia de Deus, fomos recreados no Espírito e renascemos. Imitemos pois o que seremos. Devemos habitar um reino onde não haverá mais noite, onde brilhará um dia sem ocaso, vigiemos já durante a noite como se fosse dia claro. Chamados à oração e a dar, no céu, graças sem fim a Deus, comecemos já aqui em baixo a rezar e a dar graças sem cessar.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Qual é o significado da presença de Ana na manifestação de Jesus ao povo de Israel?

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  • Quem foram as “Ana” de nossa historia pessoal, mulheres de Igreja que com a solidez de sua fé nos atraíram para Jesus e nos sustentaram na esperança?

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  • Que lição nos dá o processo de maturidade humana e espiritual de Jesus?

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Que lições tiramos para reforçar processos educativos a todos os níveis, em família e comunidade?

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QUINTA -FEIRA

João 1,1-18

DEUS VEM AO NOSSO ENCONTRO EM NOSSA CARNE E COM OS BRAÇOS ABERTOS

“E a Palavra se fez carne, e pôs sua morada entre nós”

 

A Palavra de Deus segundo o itinerário bíblico do Advento e do Natal neste mês de dezembro foi abundante. Hoje, para terminar o mês e o ano, nos encontramos com a frase: “A Palavra se fez Carne, e pôs sua morada entre nós” (Jo 1,14). Este é o cume de tudo o que temos lido, meditado, orado, contemplado e vivido ao longo deste mês no qual a liturgia da Igreja nos tem colocado frente a belas páginas da Santa Escritura.

Deixemos que o mistério de um Deus que se manifesta na encarnação de Jesus, no rosto de um homem como nós, começando pela fragilidade da infância, coloque nosso olhar contemplativo sobre o amplo horizonte dos braços abertos de um Deus amoroso que vem pressuroso ao nosso encontro.

O prólogo do quarto Evangelho, também chamado o “Hino ao Verbo” (Jo 1,1-18), nos põe cara a cara com a pessoa de Jesus, Deus em pessoa que vem ao encontro da humanidade.

  1. Jesus como “Verbo” de Deus

No principio existia a Palavra… E a Palavra se fez carne”.

A “Palavra” (=“Dabar”) de Deus, também chamada “Logos” ou “Verbo”, é a maneira como Deus vem ao encontro do homem e o espaço comunicativo que possibilita e fundamenta a relação entre Deus e os homens; neste espaço Deus se dá a conhecer completamente.

Isto quer dizer que na pessoa de Jesus:

  • Deus se revela de maneira definitiva e plena. Fala-nos e atrai-nos para Ele, para que sejamos parte d’Ele, inseridos em sua comunhão eterna;
  • Deus se dirige a nós para inaugurar um novo tipo de relação: entre a divindade e a humanidade. Porém, também para dirigir-nos sua Palavra Criadora que nos interpela, que quebra os nós do coração os quais impossibilitam ou tornam difíceis as relações, que nos avalia e que urge nossa resposta.

O Deus da historia que se revela em seu filho único, Jesus Cristo, em quem toma rosto, para estabelecer a relação pessoal tão aguardada, que queiramos e saibamos abrir os braços a seu extraordinário amor, o único capaz de tirar-nos de nossas profundas crises, dar sentido e resposta às nossas buscas e salvar-nos.

É tão radical este gesto de Deus, de dar-nos a tudo por seu filho Jesus, que não deveríamos esperar nenhuma outra revelação divina, nem buscar a Deus por caminhos diversos de Jesus. Nele Deus disse tudo. João resume assim: “A Deus ninguém jamais o viu: o Filho único, que está no seio do Pai, Ele o deu a conhecer” ( 1,18).

São João da Cruz, profundamente admirado ante esta realidade, com sua mão poética a expressa assim: “Deus ficou como mudo e não tem mais o que falar, porque o que falava antes, em parte, aos profetas, agora falou tudo, dando-nos o Tudo, que é seu Filho”. Imagina, então, um diálogo com Deus, no qual Ele nos falaria assim: “Se te tenho já falado todas as coisas em minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra, que te posso agora responder ou revelar mais que isso? Ponho os olhos só nele, porque nele tenho dito e revelado tudo, e falarás n’Ele ainda mais do que pedes e desejas”.

Podemos dizer, então, que o Deus da Bíblia, ao revelar-se como o Deus da Palavra, da comunicação e das relações, apresentou-se, ante o mundo, como uma pessoa de braços abertos, com um grande coração pronto para amar e mãos para ajudar. Que, tendo dado o ser e a vida aos homens com sua Palavra, os convida com persistência e carinho e, também, com a força dessa Palavra, a consumar sua existência no grande abraço da comunhão com ele, no ilimitado oceano de sua grandeza divina.

Quando a palavra se pronuncia as coisas já não ficam a mesma maneira. Isto quer dizer que o “Dabar”, o “Logos”, o “Verbo” de Deus, uma vez que se lança ao mundo espera uma reação por nossa parte, nos pressiona amavelmente para que lhe demos uma resposta. O que Deus espera é nossa acolhida positiva, que abramos espaço para o diálogo profundo com Ele, que nos deixemos recriar por sua presença e suas orientações e que nos comprometamos com Ele.

  1. Releiamos o “Hino ao Verbo”

Para compreender melhor o profundo significado da vinda de Jesus ao mundo e descobrir as grandes repercussões que podem trazer para nossa vida ainda o mais simples encontro com Ele, releiamos as palavras do “Hino ao Verbo” (Jo 1,1-18).

Neste podemos distinguir inicialmente duas grandes partes. Para ajudar na meditação do texto sugerimos: ler estrofe por estrofe em clima de oração e suscitar um diálogo profundo com Deus e com os irmãos a partir das perguntas para cada estrofe.

Primeira parte: Jesus é anunciado como o Verbo de Deus (Jo 1,1-13)

1ª estrofe (Jo 1,1-2): Na eternidade: A relação entre o Verbo e Deus

  • Que impacto tem para mim descobrir-me seguidor de Jesus, que se denomina “Verbo”? Quer dizer: Que implicação tem para minha forma de falar (enquanto comunicação, expressão de confiança, animação, etc.)? e de calar (por necessidade, por mutismo, por falta de interesse, rancor, etc.)? Que implicação tem para minha experiência de Deus?
  • Que significado tem para mim a relação de Jesus com Deus?
  • À luz desta estrofe, que está na raiz da historia da humanidade e de minha historia em particular?

 

2ª estrofe (Jo 1,3): Na origem da historia: a relação entre o Verbo de Deus Criador e o Criado

  • De que maneira expresso cotidianamente em minha vida de oração minha criaturalidade, quer dizer, que minha vida é dom e está mantida pelo Deus que me gerou amorosamente?
  • Valorizo suficientemente tudo o que me rodeia (meus irmãos, a natureza) como criação de Deus? Percebo neles as “pegadas digitais” do Criador?
  • À luz desta estrofe, como começou a historia de minha aliança pessoal com Jesus?

3ª estrofe (Jo 1,4-5): Na historia, a relação particular do Verbo de Deus com a humanidade

  • Que relação há entre luz e vida? Em minha vida pessoal: Porque entre más luz há mais vida tenho?
  • Estou em grau de perceber as trevas que me circundam e as que há dentro de mim?
  • Que se contrapõe entre mim e meu Criador, que obscurece seu rosto em mim e me impede de uma comunhão viva com Ele?
  • Tenho fé e me apoio na vitoria pascal de Cristo ou combato só meus problemas pessoais?

4ª estrofe (Jo 1,6-8): O primeiro enviado: o Testemunho da Luz

  • Por que a luz (que é algo evidente) necessita testemunhos?
  • Soe testemunha da luz? De que maneira?
  • Por que o Hino tem que esclarecer que João Batista “não era a luz”, mas apenas “testemunha”? Acontecem essas confusões em meu apostolado? Que as outras pessoas percebem em mim?

5ª (Jo 1,9), 6ª (Jo 1,10-11) e 7ª (Jo 1,12-13): Efeitos da vinda do Verbo de Deus ao mundo

  • Que pode ser mais interessante, mais importante, convincente e prometedor que a acolhida do Deus que se doa? Que acontece em minha vida quando acolho a Jesus que vem a meu encontro?
  • Segundo o Hino, que é “crer”? Em consonância, creio verdadeiramente em Jesus? Que devo fazer para que minha fé seja mais forte?
  • Que pode ser causa de tibieza em minha vida espiritual: a rebeldia contra a criaturalidade (me sinto pressionada por Deus, creio que me tira a liberdade); ou a excessiva familiaridade com Deus que me leva a habituar-me até o ponto de perder o “sabor” a suas coisas?

2ª parte do Hino: Jesus se faz presente como Verbo encarnado em meio do… (Jo 1,14-18)

  • Que significa que o Verbo “assumiu minha carne”?
  • Que se espera que eu descubra no Verbo Encarnado?
  • Como se conecta o que o Hino afirma sobre o Verbo de Deus com o Jesus de Nazaré histórico? … E com minha própria historia hoje?

Concluindo…

Terminamos um itinerário com a Palavra. Terminamos também um ano inteiro carregado de ricas experiências. Ponhamo-nos de joelhos diante do Senhor que tem em suas mãos o rumo da historia, o Deus que decidiu caminhar a nosso lado fazendo-se historia: “E a Palavra se fez carne, e pôs sua morada entre nós”.

Tenhamos presente que a encarnação do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã, que nela a historia humana foi assumida por Deus para conduzi-la em clave de salvação a sua máxima expressão. Se tentássemos deixá-la de lado, resultaria comprometida a imagem de Deus e a dignidade do homem.

Por isso, o mistério do natal, que preparamos com muito cuidado no advento e agora não nos cansamos de celebrar, não deixa de maravilhar-nos com sua dupla mensagem:

  • a da máxima proximidade de Deus a suas criaturas e
  • a da altíssima dignidade de todo homem, começando pelos últimos e os pobres, cuja situação é compartilhada pelo mesmíssimo Filho de Deus, que fez suas, todas as fragilidades humanas.

 

———————- 1º DE JANEIRO DE 2021— SEXTA FEIRA ————————–

Solenidade

da Santa Mãe de Deus

 

 

 

Lucas 2,16-21

  1. NASCIMENTO E VIDA OCULTA DE JOÃO BATISTA E JESUS

(A visita dos pastores ao presépio;

A circuncisão de Jesus)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARIA, UMA MÃE QUE CONTEMPLA:

Vê desde um ponto de vista mais profundo

 

 

                                                                                                   “Maria e a Igreja, são uma só mãe”

(Isaac de L’Etoile)

 

 

 

 

 

 

 

“E a Palavra se fez carne, e habitou entre nós”

 

 

 

 

 

  1. FIDEL OÑORO, CJM

 

 

 

 

Introdução

 

Começamos o ano com a solenidade de María, Mãe de Deus. O Domingo passado comentamos grande parte da leitura que propõe a liturgia para este domingo.

O Evangelho desta solenidade retoma o relato que já foi proclamado na Missa da Aurora do Natal (o relato da adoração dos pastores) e agrega a notícia da circuncisão do menino Jesus e a imposição de seu nome (2,21).

Convidamos a reler as notas que ali pusemos e a ter em conta as anotações complementárias que agora oferecemos.

  1. O texto

Leiamos Lucas 2, 16-21.

Depois da anunciação, Maria leva a boa nova à casa de Zacarias e Isabel. Ela pode constatar o cumprimento do que o anjo do Senhor lhe disse.Sua prima Isabel está, de fato, no sexto mês.

O mesmo acontece agora no relato do Natal: os pastores da noite do Natal não descartam a boa nova anunciada pelo anjo. Eles saem em busca do que lhes foi dito e podem constatar que o que lhes foi anunciado se realizou.

Na Bíblia, os relatos de uma intervenção do Senhor terminam, frequentemente, com reações de testemunhos.     É o que aqui acontece. Todo mundo se assombra do que dizem os pastores.

O acontecimento é inaudito: neste menino manifestou-se um Salvador, Cristo e Senhor, nascido por nós.

Na Páscoa, este mesmo assombro se verá nas mulheres que vão ao sepulcro, depois os apóstolos anunciarão a ressurreição do Senhor. Porém, os pastores não ficam ai. Eles regressam a suas casas improvisando uma liturgia de ação de graças.

Em tudo isto Maria tem um lugar particular.

Ela não diz nada, porém escuta melhor que todos: retém o sentido dos acontecimentos, medita-os e apropria-se deles.

Ela aparece aqui como modelo do discípulo que escuta, admira-se e maravilha-se, acolhe em seu coração e medita a palavra que lhe chega sob a forma de anúncio ou de acontecimento.

E que acontecimentos! É assim como Maria chega a ser Mãe de corpo e alma.

Porém em sua atitude lemos mais: Maria é como o rosto interno da Igreja que está a ponto de nascer.

Ela é a parte meditativa, recolhida, orante da comunidade dos crentes, que é chamada a acolher a boa nova e a anunciá-la. Mas, não será pelos artifícios da propaganda.

A boa nova atuará espontaneamente nos corações fervorosos que tenham sabido acolhê-la.

Finalmente…

O centro de gravidade da passagem está na notícia da circuncisão e imposição do nome. É um dos mistérios da infância de Jesus, o “sinal de sua inserção na descendência de Abraão, no povo da Aliança” (Catecismo da Igreja Católica, nº 527).

Aquele que pela circuncisão leva em sua carne a marca indelével da aliança de um povo com Deus, recebe o nome de Jesus em obediência às palavras do Anjo na anunciação (ver 1,31; también Mateus 1,21).

Mas, o nome manifesta e implica a própria realidade da pessoa que o leva. Desde Josué, o herói da conquista da terra, muitos israelitas haviam levado esse nome. Porém, somente Jesus de Nazaré realizou plenamente seu significado etimológico: “Iahweh Salva”.

Sim, como se desprende da primeira leitura, a bênção consiste, radicalmente, na invocação do “Nome”, então “Jesus” é o nome que encerra e recapitula todas as bênçãos. Não se poderia conceber de melhor maneira a bênção do ano novo.

 

  • A circuncisão de Jesus (v.21)

 

  1. Releiamos o Evangelho com um Padre da Igreja

 

Cristo é único, formando um todo com a Cabeça e o Corpo;

único como Filho de um único Deus nos céus e de uma única

mãe na terra. Muitos filhos e um só Filho.

Pois, assim como a cabeça e os membros são um só Filho e

ao mesmo tempo muitos filhos,

assim também Maria e a Igreja são uma só Mãe, e mais que

uma; uma só Virgem, e mais que uma.

Ambas são mães e ambas são virgens;

ambas concebem virginalmente do próprio Espírito;

ambas dão a luz a Cabeça do corpo;

a Igreja, na remissão de todos os pecados, deu a luz o corpo

da Cabeça. Uma e outra é Mãe de Cristo,

porém, nenhuma delas, sem a outra, deu à luz ao Cristo total.

 

(Beato Isaac de l’Etoile, Sermón 51)

 

  1. Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

 

  • Em minha vida diária existem muitos detalhes pequenos que podem converter-se em sinais de salvação, assim como fez Maria. Quais seriam?
  • Como posso fazer para que estes detalhes se convertam em sinais para os demais?
  • Um anjo anunciou aos pastores a “boa notícia”. De que forma posso converter-me, para os demais,

nesse “anjo de boa notícia” dentro de uma sociedade na qual abundam as “más notícias”?

  • Ao final o relato nos diz que “Maria guardava todas estas coisas e as meditava em seu coração”.

Que espaços podemos dedicar em nossa família, ou em nossa comunidade, para “guardar e meditar”

o mesmo que ela meditava?

  • Porém, sobretudo, como projetaremos em gestos de solidariedade esta grande alegria?

 

ANEXO 1

 

Já passou o tempo do Advento, com o qual demos início ao ano litúrgico, preparando-nos para receber o Senhor que nasce entre nós. Já passou a grande festa do Natal, e hoje se conclui a Oitava de Natal.

 

É o momento de avaliar e colher os frutos. É o momento de perguntar-nos que marca profunda deixou em nós todo este tempo. Significou algo para nós?

 

Para muitos foi entrar em um período de agitação e de consumismo, sem deixar um instante de tranquilidade para refletir sobre o sentido do que celebrava nossa fé cristã. Tudo isso já passou, porém, que sentido teve? É este o objetivo da festa de Natal?

 

Todavia, é tempo de resgatar seu autêntico sentido. A festa de Natal é tão importante que a Igreja a celebra durante oito dias; é como um só longo dia. E conclui com a solenidade da Maternidade divina de Maria, Mãe de Deus.

 

Ao concluir a Oitava de Natal oxalá pudéssemos ter a atitude dos pastores que, depois de ver o menino recostado em um presépio, “retiraram-se glorificando e louvando a Deus, por tudo o que haviam ouvido e visto”.

 

Esta é a mesma atitude do coro celeste que havia se apresentado: “Uma multidão do coro celestial louvava a Deus dizendo: ‘Glória a Deus no céu e na terra paz aos homens que amam o Senhor'”.

 

O nascimento do Filho de Deus na terra é motivo de louvor e glória a Deus da parte dos anjos e dos homens. Se alguém crer haver vivido o verdadeiro sentido do Natal, examine seu coração para ver se surge nele o louvor a Deus “por tudo o que viu e ouviu”.

 

A festa de hoje tem três aspectos que não podem passar inadvertidos. O primeiro se refere ao tempo: ninguém pode ignorar o fato de que hoje começamos um novo ano. A contagem dos anos nos permite situar os fatos da história em uma linha e assim podê-los ordenar no tempo e em sua relação de uns com os outros. Por que a este ano damos, precisamente, o numero 2012?

 

A antropologia estima que o homem tem, pelo menos, três milhões de anos sobre a terra (nessa época se situa o homem “australopitecus”). A pergunta óbvia é: 2012 anos em relação a que?

 

Responde-nos São Paulo: “Quando chegou à plenitude do tempo enviou, Deus, seu Filho nascido de mulher” (Gl 4,4). Quer dizer, 2012 anos de uma nova qualidade de tempo; 2012 anos desde o nascimento do Filho de Deus entre nós e de sua presença na história humana. É a “plenitude do tempo”.  Por este fato entre parêntese é o mesmo que fugir da realidade.

 

O segundo aspecto está dito nessas mesmas palavras de São Paulo que temos citado: Enviou, Deus, seu Filho “nascido de mulher”. O uso normal era identificar alguém pelo pai: “Nascido de José ou de João ou de Zebedeu, etc”. Aqui, em troca, no começo deste tempo de plenitude, se encontra uma mulher, da qual devia nascer o Filho de Deus.

 

Por isso, é conveniente que o primeiro dia de cada ano, quando se recorda o evento fundante, se celebre a Virgem Maria como Mãe de Deus. É o primeiro que viram os pastores quando correram a verificar o sinal dado pelo anjo: “Foram com toda pressa e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura”.

 

Ao iniciar este ano, antes de todos os eventos que nele ocorram, o Evangelho nos convida a ter a atitude interior de Maria: “Maria guardava todas estas coisas e as meditava em seu coração”.

 

Por último, o primeiro dia de cada ano a Igreja celebra o Dia mundial da paz. Dissemos que alguém pode verificar sua vivência do Natal pelo desejo de louvar e glorificar a Deus que brota espontâneo de seu coração. Mas, à glória de Deus no céu corresponde a “paz na terra aos homens por Ele amado”.

 

Este ano, declarado “Ano da Fé” a mensagem dada pelo Santo Padre para o dia mundial da paz, tem o título: “Educar os jovens para a Justiça e para e Paz”. A paz, no sentido bíblico é o bem maior que se pode desejar a alguém. Alguém possui a paz quando está bem em todo sentido, em particular, quando goza da graça de Deus.

 

Esta paz foi dada ao mundo com o nascimento de Cristo. E nisto consistiu sua missão na terra, tal como Ele mesmo o declara antes de deixá-la: “A paz vos dou, minha paz vos dou” (Jo 14,17).

 

+ Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo Auxiliar de Concepción

 

 

 

ANEXO 2

 

A DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA

Honrar a Jesus nela e a ela em Jesus

A devoção à Santa Virgem Maria, Mãe de Deus, agrada tanto a seu Filho e é tão necessária e familiar aos verdadeiros cristãos que não necessito recomenda-la a quem deseja viver cristamente como são os destinatários deste livro. Só te direi que não devemos separar o que Deus tão perfeitamente uniu.

Jesus e Maria estão, de tal maneira, vinculados entre si que ver Jesus é ver Maria, amar a Jesus é amar a Maria, ter devoção a Jesus é tê-la a Maria.

Jesus e Maria são os dois primeiros fundamentos da religião cristã, as duas fontes vivas de toda bênção, os dois protagonistas de nossa devoção e as duas metas que devemos olhar em nossas ações e exercícios.

Não é cristão de verdade quem não tem devoção à que é Mãe de Jesus Cristo e de todos os cristãos. Daí que Santo Anselmo e São Boaventura afirmem que não podem ter parte com Jesus Cristo os que não são amados de sua Santa Mãe, como tampouco podem perecer os que ela olha com benevolência.

E visto que devemos continuar as virtudes e sentimentos de Jesus, é preciso que continuemos o amor, a piedade, a devoção de Jesus por sua Santa Mãe. Ele a amou e a honrou de forma singularíssima, ao escolhê-la por mãe.

Ao dar-se a ela em qualidade de filho, ao tomar dela um ser e uma vida nova, ao criar nexos fundos com ela, ao deixar-se, guiar por ela durante sua infância e sua vida oculta e ao constituí-la soberana do céu e da terra, glorificando-la e fazendo-la glorificar pelo mundo inteiro.

Para continuar na terra a piedade e devoção de Jesus por sua Santa Mãe devemos ter por ela uma devoção especial e honrá-la singularmente. Pois bem, para honrá-la, como Deus pede a nós e como ela deseja, temos que fazer três coisas:

  1. Olhar e adorar nela unicamente a seu Filho. Assim deseja ela que a honrem, por de si mesma nada é. Seu Filho é tudo nela; ele é sua vida, sua santidade, sua gloria, seu poder e sua grandeza. Temos que agradecer a ele a glória que nela e por ela tributou a si mesmo; oferecer-nos a ele e rogar-lhe que nos entregue a ela de maneira que nossa vida e nossas obras estejam consagradas a honrar as suas; que nos faça participar do amor que ela lhe tem e de suas demais virtudes; que se sirva de nós para honrá-la, ou melhor, honrar-se a si mesmo nela, segundo seu beneplácito.
  2. Reconhecê-la e honrá-la como a Mãe de nosso Deus e logo como nossa mãe e soberana; agradece-lhe o amor, a glória e os serviços que prestou a seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor; confiar a ela, depois de Deus, nosso ser e nossa vida e pedir-lhe que toma a direção de tudo quanto nos corresponde; dar-nos e submeter-nos a ela na qualidade de escravos, rogando-lhe que tome plena possessão de nós como de algo inteiramente seu e que disponha de nós segundo lhe apraz para a glória de seu Filho; que se sirva de todas as nossas ações para honrar as de seu Filho e que nos associe ao amor e aos louvores, que ela o tributou e que o tributará, por toda a eternidade. Convém render-lhe estas homenagens todos os dias e de maneira especial uma vez por semana, ou pelo menos, uma vez no mês.
  3. Podemos e devemos honrar a tão sagrada virgem: com nossos pensamentos e reflexões, considerando a santidade de sua vida e a perfeição de suas virtudes; com nossas palavras deleitando-nos em falar e ouvir falar de suas excelências; com nossas ações, oferecendo-as em honra e união das suas; com nossa imitação, esforçando-nos por reproduzir suas virtudes, especialmente sua humildade, sua caridade, seu puro amor, seu desprendimento de todas as coisas e sua pureza divinal. O pensamento desta última virtude deve levar-nos a fugir, temer e olhar com mais horror que a morte, as menores faltas contra a pureza por pensamentos, palavras ou ações.

Finalmente, podemos honrar à sagrada Virgem com alguma oração ou exercício de devoção como o terço, cuja recitação deve ser comum a todos os cristãos e o Ofício de Nossa Senhora que devemos rezar em união do amor e da devoção que seu Filho Jesus tem para com ela, e em honra da vida de seu Filho e da sua, de suas virtudes e ações.

 

(São João Eudes)

 

 

 

 

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