Estudo Bíblico Semanal de 01 a 06 de outubro de 2018

26ª Semana do Tempo Comum – Ano B

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

Lucas 9,46-50
QUANDO SE PERDE DE VISTA A CRUZ

“Suscitou uma discussão entre eles…”

Hoje voltamos ao capítulo 9 de Lucas, onde se confessa a fé em Jesus como o Messias-Cristo e onde Jesus tem traçado a nova rota do seguimento: o mistério da Cruz.

 

Sábado passado havíamos visto um primeiro sinal de “imaturidade espiritual” dos discípulos ao não conseguir entrar em sintonia com a proposta de Jesus. Hoje vemos outros dois sinais. Que acontece quando uma pessoa ou uma comunidade caminham com Jesus, porém deixam de lado a Cruz?

 

Acontecem estas duas situações:

 

  • Há problemas de autoridade

 

Quando uma comunidade se divide, quando um líder arrasta uma parte da comunidade consigo e a põe contra outro líder, quando há pelejas do tipo “eu mando aqui”, quando há presunção entre as pessoas, de submissão de umas a outra. Se isto acontece, é que se perdeu de vista a Cruz do Senhor.

 

  • Há censuras e acusações a outras comunidades

 

Quando na comunidade brotam atitudes de intolerância, quando entre as comunidades entram em competências para mostrar quem faz mais e melhor para levar os aplausos da Igreja, quando há invejas entre os líderes, quando se difama a outra comunidade, quando se discute suas atuações, é que se perdeu de vista a Cruz do Senhor.

 

Enfim… Jesus recorda a seus discípulos que a Cruz é humildade e pequenez, como a criança que é colocada no meio da comunidade (9,47).

 

Porém, também é acolhida do diferente, é abertura de coração para captar o bom que há nos outros e trabalhar por uma sã harmonia.

 

Quando se tem em vista a Cruz, então as relações são diferentes: “O que recebe a esta criança em meu nome, a mim recebe; e o que me recebe, recebe Àquele que me enviou; pois o menor entre vós, esse é maior” (9,48).

 

Ponhamos em nossas comunidades a dinâmica e o sabor do Evangelho.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Em minha vida pessoal, em minha família, no grupo ou em minha comunidade, percebo os sinais de imaturidade espiritual que assinala o Evangelho de hoje?
  • Qual a causa?
  • Qual o caminho de superação?

 

TERÇA-FEIRA

João 1,47-51
CHAMADOS A CONTEMPLAR A GLÓRIA DE JESUS

“Vereis… os anjos de Deus subir e baixar sobre o filho do homem”

Celebramos a festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael. Na Sagrada Escritura eles aparecem, dentro da linguagem e mentalidade bíblicas, como intermediários entre o mundo de Deus e o dos homens:

  • Miguel: cujo nome significa “Quem como Deus?”, o encontramos no livro de Apocalipse na grande batalha contra o dragão: “Então se travou uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos combateram com o dragão…” (Ap 12,7-8) (Dn 10,13.21;12,1).
  • Gabriel: o recordamos especialmente pelos relatos da anunciação em Lucas, e Zacarias, “Eu sou Gabriel, o que está diante de Deus…” (1,19), e a Maria, “Ao sexto mês foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia…” (Lc 1,26) (Dn 8,16; 9,21).
  • Rafael: o nome liga-se à cura, apresenta-se a si mesmo no livro de Tobias: “Sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre presentes e tem entrada à Glória do Senhor” (12,15).

 

O Evangelho, nesta festa, nos convida, não tanto a deter-nos nos anjos em si, mas a contemplar Àquele que realiza em si a plenitude da revelação, da qual os anjos eram mediação.

 

  1. A promessa ao verdadeiro israelita

 

Quando Jesus chamou Natanael deixou entender que conhecia seu coração: “Antes que Felipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi” (1,48). Que conhecia Jesus dele? O mesmo disse: “Ai tens um israelita de verdade, em quem não há engano” (1,47). Este admirável conhecimento desfaz as dúvidas que inicialmente traça sobre Jesus e o leva a compreender diante de quem está: “Rabi, tu é o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (1,49).

 

“O verdadeiro israelita”, assim como fez Abraão (Gn 12,1-7; 18,1-5) reconhece a presença de Deus onde quer que se manifeste e reage positivamente frente a ela. Natanael, por sua formação hebreia, sabe que as ações de Deus são poderosas, surpreendentes e incríveis. Porém quando descobre a Jesus, é capaz de ver mais: este não pode ser senão o Filho de Deus o Messias que estamos esperando.

 

Ao final Jesus lhe promete uma nova e grandiosa visão (1,50) da identidade e da missão de Jesus: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do homem”.

 

  1. Uma maravilhosa revelação

 

Em sua viagem para a Galileia junto com seus discípulos, Jesus, provavelmente, passou pelas proximidades de Betel, onde tempo atrás o patriarca Jacó teve o sonho da escala que unia o céu com a terra e sobre a qual subiam e desciam os anjos de Deus (Gn 28,10-17).

 

A promessa de Jesus a Natanael alude a este fato. Com duas afirmações solenes (“Vereis o céus…”; “Vereis os anjos…”), Jesus alude às relações contínuas e recíprocas entre Ele e o Céu, entre o Filho do homem e o Pai. Em Jesus e sua revelação do Pai ao longo do Evangelho se oferece o espetáculo deste céu aberto. Há que descobrir esta relação e logo entrar a formar parte da cena, tenta dizer Jesus.

 

  1. Convidados a participar na cena: o caminho do “crer”

 

Esta visão da glória já havia sido proclamada no prólogo Jo 1,14 quando também um plural comunitário (“vereis”, 1,51 / “temos visto”, 1,14) se anuncia que no Verbo encarnado a imensa majestade de Deus e toda a realidade divina se fizeram presentes no mundo; não de maneira passageira – como nas antigas teofanias – mas de maneira definitiva, porque Ele veio “morar” na terra.

 

Por isso se afirma de Jesus: “Temos contemplado sua glória, glória que recebe do Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (1,14b). Para “ver” e “contemplar” se requer fé: “Se por ter dito que te vi debaixo da figueira, crês?” (1,50ª). Visto que a resposta implícita é “se”, agrega-se: “Há de ver coisas maiores” (1,50b). Quer dizer, verá o Pai (14,9: O que me vê, viu ao Pai).

 

Este é o caminho pelo qual entramos no conhecimento d’Aquele de quem os relatos bíblicos sobre os anjos já tentavam dar a conhecer em sua grandeza.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que se entende por “anjos” e por que os celebramos?
  • Onde aparecem na Bíblia os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael? Qual a sua missão?
  • Quais são as coisas maiores que Jesus convida Natanael a ver? Que se requer para vê-las?

 

 

QUARTA-FEIRA

Lucas 9,57-62

PARA UM SEGUIMENTO RADICAL

Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus


A reprovação dada aos discípulos agressivos dá passagens a novas lições sobre o discipulado. Sobre o caminho, no qual vai decididamente ao encontro de seu destino em Jerusalém, Jesus estabelece critérios para aqueles que o acompanham, aprofundando no que significa renunciar a si mesmo, tomar a cruz cada dia e segui-lo (ver 9,23).

 

Temos três candidatos ao discipulado e à vida missionária. O primeiro (v.57) e o terceiro candidato (v.61) se apresentam espontaneamente a Jesus. O segundo é chamado diretamente: “Segue-me”  (v.59). Não sabemos exatamente que motivos tiveram para aproximar-se neste momento a Jesus, porém é evidente que estão fascinados com o Mestre e desejam ficar com Ele.

 

No ensinamento que segue, se faz ver que, os impedimentos para levar adiante o exercício do discipulado e da evangelização não provêm somente de fora. As três situações difíceis, que aqui se expõem, mostram outro tipo de obstáculo que provém da mentalidade dos próprios discípulos.

 

Do ponto de vista positivo, as dificuldades apresentadas servem para delinear, a partir da grande prioridade já estabelecida, o dom da vida na Cruz, as condições para seguir a Jesus. Estas são: (a) Abandonar tudo; (b) Priorizar a evangelização; e (c) Olhar sempre adiante. Em outras palavras: o esquecer do passado, a paixão do presente e a esperança no porvir.

 

Desta maneira, com a narração destes pequenos episódios, Lucas estimula a quem está a ponto de optar por Jesus (ver 9,23) para que discirnam os motivos do seguimento e suas implicações. Pois o discipulado é uma graça que provém da vocação e não se pode seguir Jesus de qualquer modo.

 

  1. Seguir a Jesus implica estar disposto a compartilhar sua pobreza (vv.57-58)

 

O primeiro candidato expressa a Jesus sua incondicional disponibilidade (v.57). Na cena anterior já se havia visto que Jesus não tem hospedagem segura. Agora propõe essa cena como estilo de vida.

 

Que é que um discípulo entusiasta vai encontrar em Jesus? Ele diz: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (v.58).

Desde o estábulo de Belém (2,7), não tem morada. Sua vida é errante, precária, sem lar nem lugar. Andar com Jesus supõe estar disposto a sair da comodidade de uma vida instalada para enfrentar imprevistos e pobreza.

Desta maneira é livre para seguir seu caminho e para alcançar seu destino. Seu olhar está na meta e é livre de tudo o mais. Todo o resto é secundário; todo o resto o aceita assim como se apresenta. Como se acaba de ver, em Samaria, Jesus depende da acolhida que se lhe ofereça.

 

A menção do “Filho do homem” nos remete, também, ao despojo absoluto da Cruz. A crueza da Cruz é o caminho que Jesus propõe a seus discípulos, fortemente desejosos de ir com Ele pelos caminhos do seguimento e da evangelização. A mesma renúncia, a mesma liberdade e o mesmo compromisso pede Jesus, a todos aqueles que queiram segui-lo.

 

  1. Seguir Jesus é sair do âmbito da morte para entrar no da vida segundo o Reino (vv.59-60)

 

O candidato seguinte, chamado por iniciativa de Jesus (não se trata de um desejo, mas de um convite, quase de uma ordem de Jesus: “Segue-me”, v.59), põe uma condição a Jesus: “Deixa-me ir primeiro enterrar meu pai” (v.59). Antepõe-se um “primeiro” ao seguimento. A meta de Jesus não é neste momento a prioridade.

 

Na frase do candidato não é claro se, se trata de esperar até a morte de seu pai, ou se este já morreu e quer ir assistir ao funeral.

 

A resposta de Jesus impõe prioridade (v.60). A evangelização deve ser assim. Jesus não aceita retardar a missão e requer, para isso, obediência comparável à de Abraão, a quem disse: “Sai de tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gn 12,1).

 

O vocacionado havia feito uma solicitação em nome da piedade filial (quarto mandamento da Lei de Deus).  Sepultar o pai era um dever muito estrito que nenhum filho, sobretudo o maior da casa, podia deixar de fazer. Porém, os compromissos próprios da vocação constituem um dever infinitamente superior.

 

O amor pelo Senhor está acima do amor pela família (ver 14,26). Este critério proposto por Jesus é uma característica da novidade do Reino. De fato, quando Eliseu foi chamado, Elias lhe deu permissão para despedir-se de seus pais antes de partir (1Rs 19,19-21). Nos novos tempos isto já não se permite.

 

Algo já intuía o Sirácida, que recomendou, não chorar a um morto, senão um dia, no máximo dois, porque a tristeza “fará dano a ti mesmo” (Eclo 38,21).

 

Por que não há demora? O Reino que anuncia Jesus é de vivos (9,60). Olhando a outra face da moeda, isto quer dizer que os que não escutam a Jesus e não o seguem estão espiritualmente “mortos”. Em consequência, Jesus está convidando a reconhecer, no discipulado, a plenitude da vida, à qual estão convidados todos os que não deram este passo. Quando se entra no Reino, no âmbito da vida (24,5), já não se deve dar marcha à ré.

 

Portanto, Jesus não está recomendando uma divisão familiar, mas, justamente, o contrário. O fundamental é: o anúncio do Reino tem importância absolutamente superior aos deveres humanos mais preciosos e, se esse é o dever maior, tudo haverá que reconduzi-lo para ele. O seguimento do Reino e sua proclamação exigem que estejamos dedicados completamente a ele.

 

  1. Seguir Jesus indica adeus verdadeiro ao passado e lançar-se sempre adiante (vv.61-62)

 

Chega o terceiro candidato pondo também uma condição (9,61). O “mas” se faz sentir.

 

Naquela época, muitas vezes todos os membros da família viviam na mesma casa (avós, pais, tios, etc.). Ainda hoje isso ocorre no Oriente. O ambiente narrado aqui põe à luz um perigo: a despedida, por simples que seja, leva seu tempo e inclusive podia esfriar, ou pior ainda, levar a mudar a decisão.

 

Em sua resposta, parece que Jesus lança mão de uma imagem proveniente da sabedoria popular camponesa e muito conhecida no âmbito intelectual pelo sábio conhecido como Plínio “o Velho” (23 aC): quando se ara o campo, não se pode fazer um rego reto e profundo se o que ara olha para trás.

 

Recordemos que na maior parte das famílias ricas esta antiquíssima ferramenta de agricultura era realizada por bois. Um trabalhador devia pôr constantemente seu olhar sobre o rego que se ia fazendo, só assim o campo estaria preparado para receber a semente e fazer uma boa colheita.

 

Jesus aplica a imagem à consequência que traz a absoluta novidade do Reino (9,62). Com isso, Jesus não pretende legitimar uma falta de amor à família. Mas sublinha que o seguimento exige um corte claro; que as relações vividas até agora não podem continuar do mesmo modo. Todo passo adiante na vida supõe assumir dolorosas renúncias que a opção implica. Jesus dá um exemplo disto quando rompe com sua amada Galileia (ver 9,51).

 

Isto vale para o anúncio do Evangelho. Jesus se entregou completamente, firme e decididamente, à missão, e pede o mesmo a seus discípulos: devem trabalhar o solo humano e consagrar neste trabalho todos os esforços. Aquele que se deixa distrair nesta função, não tem as qualidades para executá-lo. Isto se aplica, também, a todos os âmbitos da vida do discípulo. Jesus não aceita decisões tíbias: ir em seguimento exige ruptura, mudança de valores, esquecer experiências morais adquiridas.

 

Em conclusão: inspirados em Jesus, tomar bem as decisões.

 

É comum ouvir dizer que este é um Evangelho “difícil”. Curiosamente, é o evangelista da ternura e da misericórdia que nos conta esta página, com um tom particularmente rigoroso, porém não rígido. Todo o ensino aponta para a exigência evangélica: quem quer seguir Jesus, deve decidir-se totalmente por ele e comprometer-se. A hora das decisões é a hora da verdade. O discipulado não admite frieza espiritual, é tempo de rupturas enérgicas com o passado para abrir-se a um futuro cheio de promessas.

 

A passagem de hoje nos ensina a dar todos os passos corretos na tomada de decisão fundamental por Jesus. Na história de cada um, tamanha decisão, representa um momento chave que não se define necessariamente em termos de acontecimentos presentes ou futuros, mas em termos de graça, que devemos saber aproveitar quando passa por nós, assumindo as dores das rupturas.

 

A propósito dos últimos três personagens, o Evangelho nos deixa sem saber se depois das palavras de Jesus realmente o seguiram ou não. O que sabemos, com certeza, são as circunstâncias e as condições que são necessárias para segui-lo. De cada um de nós se espera agora a resposta.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Quais as exigências que Jesus nos expõe para poder segui-lo incondicionalmente?
  • Neste momento de minha vida que sinto com mais força que devo deixar para segui-lo?
  • Por que custa tanto esse desprendimento? Que passos concretos dar? Possuo a valentia para optar?

 

QUINTA-FEIRA

Lucas 10,1-12

A IDENTIDADE DE UM HOMEM DA PALAVRA

“Enviou-os como cordeiros em meio de lobos”

 

O texto que hoje nos propõe a liturgia nos coloca precisamente ante o perfil de uma pessoa que é servidora da Palavra. Não temos sido chamados somente para “ouvir” a Palavra, mas também para “anunciá-la” a todos nossos irmãos.

 

Seguindo o fio do texto de hoje vejamos, esquematicamente, para que cada um leve à meditação, a oração e a ação contemplativa, os traços de um missionário:

  • Missionário reconhece que não manda em si mesmo, é Jesus quem escolhe e envia. “Designou o Senhor… e enviou-os” (10,1ac);
  • O missionário sabe que a missão é tarefa de todos os discípulos de Jesus, que todos são chamados a serem portadores da Palavra, mas isso em comunhão com os doze. “… A outros setenta e dois…” (10,1b);
  • O missionário tem consciência eclesial, não vai por conta própria, mas em equipe. “De dois em dois …” (10,1d);
  • O missionário é antes de tudo um orante: nela capta a urgência da missão e a recebe de Deus. “Rogai, pois ao dono da messe que envie obreiros a sua messe” (10,2b);
  • O missionário é consciente do risco de sua tarefa: anunciam a Palavra em uma sociedade cheia de conflitos, a perseguição será constante. “Os envío como cordeiros no meio de lobos” (10,3);
  • O missionário se faz um com os pobres, a sua é uma opção consciente de despojo pessoal para que, o que brilhe nela seja a eficácia do mesmo Deus; ademais, não se apega a nada nem a ninguém, porque a missão é urgente e não admite distrações. “Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias. E não saudeis a ninguém no caminho” (10,4);
  • O missionário é uma pessoa de paz, com sua maneira de ser, inauguram um novo tipo de relações entre as pessoas onde quer que entra. “Dizei primeiro: Paz a esta casa…” (10,5-6);
  • O missionário não está afanado pela ganancia ou a acumulação de bens, porém igualmente “merece seu salário”. “Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo o que tenham, porque o operário merece seu salário” (10,7);
  • O missionário vai prioritariamente onde está os marginalizados e as pessoas que sofrem para que no meio delas aconteça o Reino de Deus. “Curai os enfermos…” (10,8-9);
  • O missionário não faz alianças com a sociedade que rejeita o projeto de Deus, mas que profeticamente mostra sua indignação e sua tomada de distância das atitudes que são contrárias à vontade de Deus; deixa que lhe corresponderá a Deus. “Dizei: até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, os sacudimos. Porém sabei, contudo…” (10,10-11)

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que um “ouvinte” da Palavra deve converter-se em “servidor” dela?
  • Que características deve ter um missionário, segundo o texto de hoje?
  • Que propósito eu vou fazer para incrementar minha vida de oração e compromisso pelos caminhos da Palavra?

 

 

SEXTA-FEIRA

Mateus 18,1-5.10
PRESENÇA DO CÉU AMIGA:

“Seus anjos vêem, continuamente, o rosto de meu Pai”

 

Nesta memória dos anjos custódios, o ensino de Jesus nos acompanha: “Guarda-te de menosprezar um destes pequenos; porque eu vos digo que seus anjos, nos céus, vêem continuamente o rosto de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10).

 

  1. O Anjo custódio na peregrinação pascal

 

A propósito da denominação “anjo”, fiel ao pensamento bíblico, São Gregório Magno nos ensina: “Há que saber que o nome ‘anjo’ designa a função, não o ser, do que o leva”. A função é ser “mensageiro”, ou seja, mediação de um Deus que gosta de relacionar-se.

 

No marco da vivência das profundas relações entre Deus e seu povo, na Aliança, a Sagrada Escritura nos apresenta “anjos” dos quais Yahweh se serve para entrar em comunicação. Deles Deus se serve e a Ele o servem.

 

Tudo como testemunho de que “Deus está conosco”, que não nos abandona, que se interessa continuamente por nós, fazendo de nossa vida uma história de salvação na qual –fortemente comprometidos com a história e responsáveis com seu projeto criador- caminhamos em sua direção.

 

Tal como nos recorda a imagem do “Anjo de Yahweh” (Ex 23,20), verdadeiro custodio do povo peregrino no deserto rumo à terra prometida, Deus é nosso companheiro no caminho, nos estende a mão e, sobretudo, nos guia para que façamos de nossa existência uma dinâmica de libertação pascal que seja possível à terra da fraternidade.

 

Porém, esta imagem primeira do Anjo do Êxodo evolui no interior da Bíblia dando-nos uma visão mais ampla das intervenções de Deus.

 

Para isso se apóia no esquema das antigas realezas: assim como um rei não aparece só, mas rodeado de uma corte, igualmente Deus é representado circundado por uma espécie de conselho de ministros, aos quais se chamam “seus anjos”, “seus mensageiros” (Jó 1-2; Sl 29,1; 34,8; 103,20-21 e muitos outros textos).

 

No Salmo 91,11, que o poeta Paul Claudel definia como “o hino dos santos anjos” lemos: “A seus anjos deu ordens para que te guardem em todos teus caminhos”. Neste texto a antiga imagem do Anjo que Yahweh manda “para que te guarde (custodia) no caminho e te conduza ao lugar que te tenho preparado” (Ex 23,20), se funde com a da representação de uma corte celestial desde a qual Deus segue custodiando os passos do homem por todos os caminhos do mundo.

 

Como no Salmo 34,8-9 (“Acampa o anjo de Yahweh ao redor dos que lhe temem e os livra; olhai e vede que bom é Yahweh, feliz o homem que se refugia n’Ele”), a imagem dos anjos custódios pretende inspirar nossa confiança em um Deus disposto a defender-nos e a oferecer-nos repouso nos tortuosos e atormentados caminhos da aventura da vida, assim como o fez também no de Tobias (na figura do anjo Rafael; Tb 12,6-15).

 

A presença angelical indica, então, a Deus mesmo que protege não só dos caminhos pedregosos do deserto, mas de todos os terrenos minados pelo mal. A presença de Deus sempre é libertadora.

 

  1. Deus cuida de seus pequenos.

 

No evangelho de Mateus 18,10, Jesus evoca a convicção bíblica de que Deus cuida de seus pequeninos desprotegidos e vulneráveis diante da maldade humana. Para isso retoma com seu colorido a imagem da corte celestial: “Seus anjos vêem continuamente o rosto de meu Pai”.

 

A ideia é que os “pequenos”, quer dizer, aqueles que por sua fragilidade podem ser facilmente excluídos, menosprezados ou escandalizados, contam com o respaldo de Deus. Quem se converte em ameaça para um dos “pequenos” terá que ver-se com o mesmo Deus.

 

Mais ainda, estes “protegidos” do Pai, são a imagem do Filho por excelência que é Jesus: “O que recebe uma criança como esta em meu nome, a mim recebe. Porém ao que escandalize…” (18,5-6); tudo mostra o grave que é a afronta contra o “pequeno” e ao mesmo tempo –com o verbo “receber”- ensina de que maneira cada um deve fazer-se “anjo” de Deus para eles. Isto tem, todavia outra implicação: se o “pequeno” é o que aparece “custodiado” por Deus, não compreenderemos o que significa ser protegidos por Deus, se não nos fazemos “pequenos”.

 

A frase “Se não mudais e vos fazeis como crianças não entrareis no Reino dos céus” (18,4) faz supor que não pode captar em profundidade o que significa a “presença angelical” em sua vida, quem não se coloca no lugar do pequeno que confia em Deus e se deixa guiar por Ele.

 

O caminho pascal pelo qual Jesus custodia nossos passos é o da conversão. E a conversão não é possível sem a docilidade de criança que –como esponja- aprende o que lhe oferece. Este é o ponto de partida de todo crescimento espiritual. Santo Agostinho preferiu chamá-la “humildade” e a comparou a uma árvore que só é capaz de crescer se tem raízes profundas.

 

As raízes profundas do que cresce nos caminhos do Senhor, desde criança até a fase adulta, é esta capacidade de abandono humilde e confiante em Deus. Assim como as raízes profundas de uma criança é a confiança em seus pais, assim também com o Deus da vida.

 

A confiança na providência de um Deus Pai e a docilidade a seu ensino que nos faz amadurecer, nos dão a força para superar todas as dificuldades da vida e chegar vitoriosos à meta. Esta certeza que nos infunde Jesus nos dá motivos para celebrar sua amorosa e permanente companhia em seus anjos.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que entende a Bíblia por anjos? Por que para falar da transcendência de Deus que se faz próxima a nós em nossos caminhos históricos se alude a esta imagem dos anjos?
  • Quando a Bíblia fala dos anjos os coloca no contexto dinâmico do caminhar –pascal- da vida. Deixo-me guiar por Deus nos caminhos da vida? Que respaldo me oferece Deus e aonde me quer conduzir?
  • Que quer dizer Jesus quando fala dos anjos em Mt 18,10? Por que o disse? Que implica para um discípulo de Jesus que cada dia vai aprendendo o que é ser “filho” de Deus e, portanto, “pequeno”, chamado ao crescimento dia a dia?

 

 

 

SÁBADO

Lucas 10,17-24
O MISSIONÁRIO NO GOZO DO ESPÍRITO SANTO.

“Alegrai-vos por que vossos nomes estão escritos no céu”

 

Os 72 missionários voltam da missão. Para Lucas, que está interessado em expor o processo de formação dos discípulos para a missão, não é suficiente apresentar-nos todos os detalhes relativos ao envio, como vimos nos dois dias anteriores.

 

Para ele também é importante que aprendamos novas lições com o regresso. Assim como o missionário tem que saber sair, também tem que saber voltar.

 

À diferença do evangelho de Marcos, os discípulos não vêm a descansar, mas que tomam um tempo para contar ao Mestre o que viveram (10,17). E isto se torna costume entre as comunidades primitivas.

 

É o que vemos fazer Paulo e Barnabé ao final de sua primeira missão: À sua chegada reuniram a Igreja e se puseram a contar tudo quanto Deus havia feito juntamente com eles (Atos 14,27).

 

O relato dos discípulos é o ponto de partida para novas lições de Jesus para os missionários.

 

A oração

 

A missão que, começou na oração (10,2), deve terminar também na oração (10,21). A notícia que os discípulos dão a Jesus já tem a forma de uma oração: “Senhor!” (10,17). Por sua parte, Jesus dirige seu olhar um pouco mais para o alto: entoa um hino de louvor a Deus Pai, no gozo do Espírito, pela obra realizada por seus discípulos (10,21-22). Em sua oração retoma o essencial do acontecido: a revelação de Deus aos pequenos.

 

Os destinatários do perdão recebido conheceram o centro da missão de Jesus, e na sua pessoa tiveram acesso a fundo ao mistério de Deus: o rosto de um Pai que vela por seus pequeninos e os ama através das ações de seu amado Filho. O Senhor do céu e da terra inclinou-se benevolamente ante sua amada humanidade!

 

A alegria

 

Os discípulos foram testemunhas do poder de Jesus e por isso irrompe a alegria festiva. Os discípulos estão sendo convidados a louvar também ao Pai junto com Jesus. Os 72 “regressaram alegres” (v.17) pelo êxito de seu trabalho: a vitória sobre o mal, vitória conquistada pela invocação do nome de Jesus. Agora não só conhecem mais a Jesus, mas conhecem também a grandeza do ser discípulo: Jesus lhes deu “poder de pisar sobre serpentes e escorpiões, e sobre todo poder inimigo” (10,19).

 

Que pode causar mais alegria que uma vitória? Porém Jesus em seguida lhes faz cair em conta que a verdadeira vitória é a do céu: alegrai-vos de que vossos nomes estejam escritos nos céus (10,20), isto é, não só a obra que hão realizado pela salvação de outros, mas a mesma salvação deles.

 

Jesus então lhes ensina a pôr a alegria na sua (v.21). É a alegria no Espírito, sinal de plenitude, do céu na terra, como a viveram Maria e os primeiros testemunhos do Senhor (ver Lc 1,14.228.40.58; 2,10), como provaram todos os que foram tocados pela misericórdia de Jesus (ver Lc 5,25-26;6,20-23;15,4-32;19,37-44;24,50-53; igualmente At 2,26-27.42-47; 13,48.52; 15,3.31). É a alegria que se envolve oração continua ante a contemplação da obra de Deus todos os dias na história da humanidade.

 

A formação continua

 

Ao final fica claro que os missionários, que já começaram a ensinar, devem voltar à escola (10,23-24). O missionário não deve esquecer que antes de tudo é um discípulo, que o que ensina deve ir em coerência com o que vive, que o que ele proclama é a expressão do que sua vida testemunha, que o que ele dá é a expressão do que leva dentro.

 

Por isso as últimas palavras de Jesus soam a um novo convite à escola. Os discípulos estão sendo testemunhas privilegiadas de uma revelação que muitos outros de maior categoria quiseram “ver” e “ouvir”. Jesus lhes chama por isto, “felizes” e ao mesmo tempo lhes recorda que devem seguir sendo receptores ativos da Palavra.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Tenho estado alguma vez em uma missão? Que tenho feito ao regressar?
  • A missão é o conteúdo de minha oração? Vivo no gozo do Espírito Santo como Jesus?
  • Onde está a verdadeira felicidade para um discípulo do Senhor? Que deve fazer para chegar a esta?

 

 

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