Estudo Bíblico Semanal de 11 a 12 de fevereiro de 2019
5ª Semana do Tempo Comum – Ano C
Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM
SEGUNDA-FEIRA
Marcos 6,53–56
A pastoral de Jesus com os enfermos.
“Quantos tocavam seu manto ficavam salvos”
Depois do relato da multiplicação dos pães (Mc 6,35-44) e a penosa travessia do lago (6,45-52), Jesus chega à terra de Genesaré (6,53). A comunidade chega a um lugar diferente, ao qual haviam sido despachados sozinhos (6,45).
Um claro contraste
A chegada à costa mostra-nos, em seguida, um contraste com a cena anterior: no lago, os discípulos confundiram Jesus com um “fantasma” (6,49), enquanto que na margem o povo imediatamente “reconhece” a Jesus (6,54). Ao longo da passagem seguimos encontrando outros contrastes entre o que fazem os habitantes da região e as atitudes interiores dos discípulos.
Os discípulos haviam sugerido a Jesus que despedisse à multidão “para que fossem às aldeias e povoados a comprar comida” (6,36). Aqui, ao contrário, Marcos nos disse que o povo do lugar “percorre toda a região” (6,55ª), não para cuidar de si mesma, mas para “trazer os enfermos em macas onde ouviam dizer que ele estava” (6,55b).
O poder da fé
Chama a atenção que “lhe pediam que tocasse sequer a orla de seu manto” (6,56). Para os enfermos isto parece ser suficiente para serem curados. Isto nos recorda a passagem da hemorroíssa (ver 5,25-34) que descreve desta maneira o poder da fé.
Comparando-se a atitude que os discípulos tiveram com as multidões, vemos que o povo tem um procedimento muito diferente com o enfermo. Ela se preocupa com o enfermo, se compromete, faz de sua situação um problema seu, vai mais além das fronteiras impostas pela lei da pureza e se arriscam a interceder por eles, assim como o fez Jairo por sua pequena enferma (ver 5,23). Este é o impulso que provém da liberdade de coração que Jesus anima quando disse: “tende fé” (5,36).
O risco de ocupar-se com os demais e interceder
O que toda esta gente de Genesaré faz não é normal. Atrevem-se a tocar gente impura. Por sua parte os impuros se atrevem a tocar em Jesus. Jesus por sua parte lhes dá vida, graças a todos aqueles que foram sensíveis com seus sofrimentos e os levaram até a presença do Mestre, em quem viram a solução de seus problemas.
Este contínuo contato com impuros, este querer ajudar a dar vida aos demais passando por cima das fronteiras legais, em seguida vai se tornar problemático. A atitude pastoral dos discípulos fica, assim, questionada. Porém, eles, todavia, estão em processo de aprendizagem.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
“Todos que lhe tocavam eram curados”
Quando Jesus estava neste mundo, o simples contato das suas vestes curava os doentes.
Porquê duvidar, se temos fé que ele também realize milagres quando está tão intimamente unido a nós na comunhão eucarística? Porque não nos dará ele o que lhe pedimos uma vez que está na sua própria casa? Sua Majestade não tem por hábito pagar mal a boa hospitalidade que lhe é dispensada.
Se estais desolados por não o verdes com os olhos do corpo, considerai que isso não vos convém…
Mas assim que Nosso Senhor quer que uma alma aproveite da sua presença, ele revela-se-lhe.
Ela não o verá, é verdade, com os olhos do corpo, mas ele manifestar-se-á a ela por meio de grandes sentimentos interiores ou por outros meios. Portanto, estai com ele de bom coração. Não perdeis uma ocasião tão favorável para tratar dos vossos interesses com o momento que se segue à comunhão.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Qual a diferença entre a atitude dos discípulos e a da gente de Genesaré? Qual é a recomendável?
- Que ações concretas delineiam neste texto uma pastoral dos enfermos?
- Que responsabilidade tem a família e a comunidade com relação a seus enfermos?
Que deve fazer?
TERÇA-FEIRA
Marcos 7,1-13
A verdadeira pureza é a do coração.
“Este povo me honra com os lábios, porém seu coração está longe de mim”
Não perdendo de vista que na página anterior de Marcos o tema era o alimento, não nos estranha que este volte a passar ao primeiro plano, ao começar este novo capítulo.
O assunto agora não é o serviço pastoral, mas a liberdade de coração do discípulo com relação a certa norma. Ali se expõe dois temas: que a obra de Jesus aponta ao coração e não ao epidérmico e que o serviço aos demais não pode deixar-se condicionar por falsas normas que o impedem.
Ante Jesus aparecem agora “fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém” (7,1). Tudo começa ao caráter de uma confrontação oficial. O assunto problemático se enuncia imediatamente: “alguns de seus discípulos (de Jesus) comiam com mãos impuras” (7,2).
Em seguida Marcos faz um breve parêntese para explicar como funcionam os costumes de purificação dos fariseus antes das refeições.
A questão de fundo é que todo alimento se tem à custa da vida de outros. Para alimentar-nos, tiramos a vida das plantas e animais. Este aspecto de morte, presente na vida, faz que os alimentos se tornem impuros. E, por isso, os ritos de purificação, de maneira que estes se façam puros ante Deus.
O problema é que parece que era praticamente impossível permanecer puro. Assim, a lei de pureza se tornou um problema social, dividindo o povo entre puros e impuros.
Este é o ponto exato que Jesus vai questionar. Ele desmascara a conduta hipócrita de seus acusadores: “Bem profetizou Isaías de vós, hipócritas” (7,6).
O mais grave é que este mesmo esquema de comportamento era trasladado a outras esferas da vida, como, por exemplo: a responsabilidade que os filhos têm de manter a seus pais quando chegam à velhice (ver 7,9-13).
O que muitos buscam é a prática externa da norma, vivendo-a com contínuos escrúpulos, sem preocupar-se que é o verdadeiramente fundamental, qual é o sentido da Lei.
Jesus assinala como as pequenas normas criadas pelos homens, supostamente para interpretar o querer de Deus, ao final terminam “anulando a Palavra de Deus” (7,13).
As normas que Jesus põe em questão são as chamadas “tradições dos antepassados” (7,5.13): um conjunto completo de normas para os detalhes mais simples da vida que ao final terminam perdendo de vista o que era fundamental. Como se a cinza tapasse o fogo.
O que importa, segundo Jesus, é a comunhão de coração com Deus. Por isso, citando a Isaías sublinha: “Seu coração está longe de mm” (7,6). A verdadeira pureza é a adesão à vontade de Deus, sem suavizações nem manobras para evadi-la.
É preciso discernir o que é mandato de Deus e o que é tradição dos homens. A segunda não quita à primeira, porém deve estar em coerência com ela.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
«Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.»
A oração é um coração a coração com Deus. […]
A oração bem feita toca o coração de Deus, incitando-O a ouvir-nos.
Quando rezamos, que todo nosso ser se volte para Deus: nossos pensamentos, nosso coração.[…]
O Senhor deixar-Se-á vencer e virá em nosso auxílio. […]
Reza e espera. Não te agites; a agitação é inútil. Deus é misericórdia e há de escutar a tua oração.
A oração é a nossa melhor arma: é a chave que abre o coração de Deus.
Deves dirigirte a Jesus, menos com os lábios do que com o coração.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Qual é a ideia central do Evangelho de hoje? Busco a pureza de coração?
- De que maneira me esforço por viver unido/a a Deus? As práticas rituais me levam a esquecer que o que Deus quer de mim é a ética? O conflito que aparece no texto segue se repetindo hoje? Como? Que fazer?