Estudo bíblico Semanal de 11 a 16 de março de 2019

Estudo bíblico semana

Um apoio para a Lectio Divina 1ª Semana da Quaresma – Ano C

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

 

 

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 25,31-46

VER E AMAR A JESUS NOS IRMÃOS

“Cada vez que fizeram com o menor de meus irmãos, fizeram comigo”

 

Na 1ª semana da Quaresma, contemplamos Jesus no deserto e vemos como ai renova seu “sim” ao Deus que o reconheceu publicamente, como Filho, no Batismo.

 

Ali, Jesus nos revelou as intenções de seu coração e ratificou suas opções de vida, pondo acima de tudo, a Palavra e o querer do Pai.

 

Jesus não quis valer-se de sua condição de Filho para ganhar nada deste mundo, elege, novamente, o esvaziamento e a humildade, como atitudes fundamentais na realização de sua missão.

 

Neste dia, a Palavra de Deus nos coloca no mesmo horizonte de Jesus, convidando-nos a viver, como Ele, em função do outro, dos outros, e fazendo do amor a Deus e aos irmãos, a meta fundamental de nossa vida.

 

O evangelho de hoje, nos projeta para o momento final. Mais que uma parábola, encontramo-nos diante de uma cena do Juízo final, com imagens contundentes.

 

No centro está Jesus Cristo, Rei universal, diante de quem todas as gerações da terra devem comparecer, para receber a sentença definitiva. Porém, este Rei Glorioso é diferente dos reis da terra, é um Rei com atitudes e coração de Pastor que, mesmo dando a sentença, respeita e ama.

 

A cena está estruturada a partir da contraposição de dois grupos: os que estão à direita e os que estão à esquerda. O juízo que o Rei pronunciará, então, será o mesmo que hoje nós fazemos ante o pobre.

 

Na realidade, seremos nós mesmos que daremos o juízo, acolhendo ou desprezando o pobre, o pequeno. O Rei somente fará a constatação final do que temos feito, lerá publicamente o que nós, dia a dia, temos escrito com nossos atos.

 

Jesus nos antecipa este juízo para que abramos os olhos. Agora, estamos no tempo favorável de preparar para nós um juízo favorável.

 

  1. O tema do Juízo é o amor concreto.

 

O tema fundamental do juízo será o amor, as obras de  misericórdia, expressadas em situações humanas bem concretas: fome, sede, hospitalidade, nudez, enfermidade, prisão.

 

O que se examinará serão diretamente as ações:tive fome, tive sede… e me deram… e me visitaram e vieram ver-me” (25,35.36).

 

Não bastaram os bons sentimentos nem as palavras de alento, só serão levadas em conta, aquelas ações com as quais temos promovido, defendido, cuidado, protegido a vida do irmão.

 

  1. Jesus nos irmãos: o exercício quaresmal do “ver” e “amar”.

 

Tanto justos como condenados, não parecem terem sido muito conscientes da presença de Jesus nos irmãos, pois perguntam admirados: “Quando te vimos com fome, nu… enfermo…?” (25,37.44).

 

Porém, Jesus fazendo ênfase neste aspecto, está nos dizendo quanto é importante e decisivo que o reconheçamos nas pessoas, particularmente nos mais necessitados, os pequenos. Em verdade, em verdade os digo: ‘Quanto fizeram… ou deixaram de fazer com um só destes meus irmãos mais pequeninos… a mim o fizeram, ou deixaram de fazer(25,40.45).

 

Jesus reafirma sua identificação com os pequemos, neles temos sua presença concreta. São eles os privilegiados, aonde Ele se revela dia a dia. É parte essencial de nossa fé cristã, de nossa fé pascal: o Ressuscitado se escondeu nas pessoas, nelas o encontramos, ali o amamos, ali o servimos.

 

Talvez, para Jesus “os mais pequenos” são seus discípulos, que são chamados a percorrer o mesmo caminho de esvaziamento que Ele percorreu, que se fazem pobres e dispostos a sofrer no lugar dele. Assim revelou a Saulo, que perseguia os cristãos: “Eu sou Jesus a quem tu persegues(At 9,5).

 

  1. Algumas “dicas” para viver este evangelho.

 

Na pessoa mais próxima, aquela que sentimos mais debilitada, mais estranha ou incapaz, está Jesus, caminha ao nosso lado; esse é o que Jesus chama “meu irmão mais pequeno” (25,40.45).

 

Quando expressamos nossa atenção e nossa ternura àqueles que, aos olhos dos homens, não contam tanto, aqueles que consideramos últimos, estamos amando efetivamente a Jesus, que, por amor a nós, se fez o último e carregou sobre si nossas limitações, fragilidades e pecados.

 

Quando amamos de coração a estes pequenos, estamos reproduzindo em nós, os mesmos sentimentos de Jesus, que passou por este mundo, derramando ternura e compaixão do Pai sobre os mais desprezados da terra.

 

Desta maneira, Jesus nos traçou o caminho para nos realizarmos realmente como filhos de Deus.          A riquíssima e profunda mensagem de Jesus, neste dia, nos ensina, enfáticamente, que nosso destino eterno está em nossa capacidade de “ver” e “amar” o Senhor nos irmãos, nos mais pequenos.

 

A Palavra do Mestre segue ressoando. Que toque nosso coração e acenda o fogo de seu mesmo amor.

 

Cultivemos a semente da Palavra em nosso coração.

 

  1. Quais são os critérios chaves com base nos quais seremos julgados ao final?

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  1. Em nosso redor quais são as pessoas que são menos levadas em conta aos olhos dos demais; pessoas consideradas “últimas”?

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Que estamos dispostos a fazer por elas?

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  1. A que pessoa, ou pessoas concretas, que vivem em situações de fome, sede, nudez, enfermidade, prisão, temos estendido a mão como comunidade?

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Se não o temos feito, como podemos fazer?

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Rasguem seus corações e não suas vestes: “Por que rasgar o coração se não é para derramar a caridade?Não fechemos as entranhas de nossa misericórdiaao próximo que está na indigência” (São Bernardo, “Sermão de Quaresma”)

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TERÇA-FEIRA

Mateus 6,7-15

NOSSA CONVERSÃO: ORAR COMO FILHOS

“Devem orar desta maneira”

 

O Evangelho deste dia nos leva outra vez ao “discurso da montanha”, para aprender, na contemplação e na escuta do Mestre, a orar e a viver como filhos de Deus.

 

  1. Renovar a relação de amor com o Pai (6,7-8)

 

O Pai nosso é a oração de Jesus, o Filho amado, que por pura gratuidade nos participa o que Ele é, nos faz iguais, filhos nEle e como Ele, até o ponto que possamos dirigir-nos ao Pai com seu mesmo espírito: “Abá, Pai!” (Rm 8,15).

 

Ensinando o Pai Nosso, Jesus partilha com os discípulos a relação de amor que vive com o Pai; por isso, os discípulos “não multiplicam as palavras como os pagãos” (Mt 6,7), pois, têm colocado a sua confiança no Pai que os ama e conhece suas necessidades:não sejais como eles, porque antes que peçam, o Pai sabe o que necessitam(6,8).

 

  1. O Pai-Nosso (6,9-13)

 

Pai!”. Jesus não chamava a Deus “Pai”, mas “Abbá”, que é uma expressão de familiaridade própria do filho na relação com seu pai. Em português, poderíamos dizer “Papaizinho, paizinho lindo”. Isto nos leva a entender, que Jesus tratou sempre a Deus, com a confiança de uma criança a seu papai, e assim quer que façamos também.

 

A Palavra Nosso nos faz reconhecer que, é na paternidade de Deus onde se fundamenta nossa fraternidade, somos irmãos, filhos amados do Pai, todos viemos da mesma fonte! Nos sete pedidos do Pai-Nosso, Jesus nos ensina a pedir ao Pai o que Ele quer nos dar.

 

Os três primeiros pedidos

 

  • Santificado seja teu Nome: Que o Pai seja reconhecido como Deus por todos;
  • Venha teu Reino: Que ao reconhecer-nos como filhos de Deus, nós possamos viver a justiça, a

                              igualdade e a solidariedade; o Reino do Pai é a fraternidade de seus filhos;

  • Faça-se tua Vontade: que se realize seu projeto eterno sobre cada um de nós, reproduzindo em

                                    todos à imagem de seu Filho (Rm 8,28)

 

Com estas petições, Jesus ensina que a oração, é sair de si mesmo, e entrar em sintonia com o coração do Pai, para querer o que Ele quer de nós, porque sabemos que o Pai nos ama e nos quer felizes.

 

Os outros quatro pedidos

 

Os quatro pedidos seguintes nos fazem olhar o Pai, como o doador de todo bem, que cuida e se compadece de seus filhos.

  • Dá-nos hoje o pão de cada dia”: confiados no Pai, Deus dá vida, pedimos o pão, as possibilidades de trabalho, de sustento, com as quais segue recriando nossa vida. Pedimos também o Pão do céu, Jesus Eucaristia, alimento que perdura e não nos deixará morrer jamais;
  • Perdoa-nos, como nós perdoamos aos que nos ofendem”: Com esta súplica, Jesus quer ajudar a manter viva a consciência que, somos pecadores, mas n’Ele e por Ele, podemos esperar confiantes a misericórdia do Pai; a sã consciência de nosso pecado, nos situa na humildade e nos faz abertos, tolerantes e compreensivos uns aos outros, dispostos ao perdão e à misericórdia. Por isso, para Jesus Cristo, é obvio que quando suplicamos o perdão do Pai, já nos temos perdoado entre nós.
  • Não nos deixeis cair em tentação”: Jesus nos situa na humildade de coração, que nos retira de nossa autossuficiência e nos faz depender confiadamente da misericórdia;
  • “e livra-nos do mal”: e nos faz depender confiadamente, também, do poder do Pai, que em Jesus, já nos livrou do pecado e das forças do mal;

 

Estas petições estão marcadas por um profundo sentido de solidariedade e de fraternidade, que agrada ao Pai e lhe permite ver e escutar, em nós, a oração de Jesus, seu Filho amado. O Pai-nosso identifica nossos sentimentos com os de Jesus, nos faz partícipes de sua identidade, oramos n’ Ele, por Ele e como Ele.

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

 

  • Que partilha conosco Jesus ao ensinar-nos o Pai-Nosso?

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  • Das petições, qual a que mais me identifico e por quê?

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  • Em que faço consistir, concretamente, minha relação com o Pai?

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  • Somente peço coisas ou também sei bendizer seu nome?

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“Ó Coração imenso, poderá haver algo maior que tu? E quem pode dizer-me que existe algo maior, no céu ou na terra, que aquele a quem tenho dado meu coração?” (São João Eudes, “Chamas de amor”).

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QUARTA-FEIRA

Lucas 11,29-32

Nossa conversão: ACOLHER OS SINAIS DA PRESENÇA DE DEUS

“Aqui há algo mais que Salomão, aqui há algo mais que Jonas”

 

A conversão de nosso coração é obra de Deus e dom imenso de seu amor, porém, requere de nós uma grande confiança e docilidade para aceitar com sinceridade o que Ele nos pede. O Senhor não falha nunca, porque foi Ele quem nos amou primeiro, até o ponto de entregar o seu Filho por nós, para que n’Ele tivéssemos a vida (Jo 3,16).

 

Somos nós quem, com frequência, resistimos a seu amor, e por medo, talvez, de perder algo, deixamos nossa conversão para amanhã, e assim vamos, “lançando em saco roto a graça do Senhor” (2 Cor 6,1). É o caso de muitos contemporâneos de Jesus, que pretendiam sinais para provar sua autoridade, porque não acreditavam n’Ele e recusavam converter-se (Cf. Ex 17, 7; Jo 2, 11).

 

O Evangelho deste dia, nos mostra a dor de Jesus ante aqueles que, por sua incredulidade, exigem sinais de Jesus para provar sua autoridade. A esses, Jesus lhes diz energicamente: “esta geração é uma geração perversa; busca um sinal e não lhe será dado outro sinal que o sinal de Jonas” (11, 29).

 

  1. Captar o sinal

 

A Palavra chave de todo o texto é “sinal”, “sinal”, repetida quatro vezes. O sinal é, realmente, chave na comunicação com Deus e em toda comunicação. Deus concede sinais para ajudar-nos a chegar à fé, porém, uma vez que chegamos à fé, os sinais já não são necessários.

 

Quando seguimos, pretendendo e buscando sinais, é porque no fundo nos falta a fé. Os sinais são sempre um dom de Deus, o pretendê-los com arrogância –como se os mereçamos- quer dizer que não os consideramos um dom da infinita gratuidade de Deus.

 

Jesus fala do sinal de Jonas, como o único que Ele se dispõe a dar a esta geração incrédula. E qual foi o sinal de Jonas? Sua pregação sobre um Deus misericordioso e clemente, que se compadece e perdoa.

 

Este é o sinal que Jesus veio trazer a este mundo, e que, em sua morte gloriosa, chegou a sua expressão mais plena. O importante nos sinais é que saibamos lê-los e acolher a realidade que neles se revela; porém, é justamente isto o que com frequência não logramos ou não queremos fazer.

 

Jesus pôs em confronto aquela geração, que em lugar de crer, exigia provas, com os ninivitas que se convertem com a pregação de Jonas; e com a Rainha de Sabá que veio dos confins da terra a escutar a sabedoria de Salomão. Eles mesmos no dia do juízo se levantarão contra esta geração e a condenarão.

 

  1. De Jonas e Salomão a Jesus: aqui há um maior!

 

Ao final, Jesus conclui confrontando a pregação de Jonas, e a sabedoria de Salomão, com sua própria Pessoa, quando disse: Aqui há algo mais que Salomão… aqui há algo mais que Jonas (11,31.32). Enquanto Salomão tem o dom da sabedoria, Jesus é a sabedoria mesma (7,35) que permanece velada ante aqueles que pretendem sinais.

 

A sabedoria de Jesus não se revela em sinais de poder, mas na debilidade e necessidade da cruz (1 Cor 1,5). O Pai a esconde aos soberbos e a revela aos pequenos e simples de coração (Lc 10,21-22). Jonas anunciou a conversão e foi mediação da misericórdia de Deus para os ninivitas, quase contra sua própria vontade; Jesus, ao contrário, o fez na obediência livre e amorosa ao Pai (cf. At 10,5-7); e declarado com gozo inefável, que para isto veio ao mundo (5,32;19,10). Jesus é a imagem viva, a personificação da Misericórdia.

 

Ante a Palavra do Mestre neste dia, podemos perguntar-nos, se descobri os sinais da presença e do amor do Senhor na cotidianidade de minha vida? Estou acolhendo seus constantes chamados à conversão? Que me faz resistir e propor minha conversão para amanhã?

Este é o tempo favorável, este é o dia da Salvação”, que o Senhor nos concede a graça de deixar-nos tocar o coração, e de fazer o que está de nossa parte para deixar-nos transformar por Ele.

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração:

 

  • A que sinais se refere Jesus quando fala de Jonas e de Salomão?

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  • Existiu algum momento ou etapa de minha vida que foi para mim um sinal com o qual o Senhor quis dizer algo?

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Que ficou em minha vida de tudo isto?

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  • De qual atitude concreta em minha vida devia fazer-me convertido? Por que não tenho feito? Que passos seguirei para consegui-lo?

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“Convertei-vos a Mim, disse Ele, de todo coração… Cristo fala aqui de uma conversão espiritual, que não se faz em um dia. Ai daquela pessoa que passa todo seu tempo no que é exterior; ele crê que tudo vai bem, porque não sente o verme escondido que corrói interiormente! Põe atenção ao que temes, ao que te regozija, e ao que te contrista, e tu encontrarás, talvez, que sob a aparência do convertido, conservas um coração perverso. Penso que é preciso entender estas palavras: convertei-vos, contudo vosso coração” (São Bernardo, “Sermão de quaresma”).

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QUINTA-FEIRA

Mateus 7,7-12

Nossa conversão: VIVER COMO FILHOS DE DEUS E COMO IRMÃOS

“Todo o que pede, recebe”

 

Durante este primeiro tempo de quaresma a Palavra de Deus nos tem centrado no essencial de nossa vida cristã: O amor a Deus e aos irmãos, expressado na oração, no perdão e na misericórdia, síntese de todos os mandamentos e na vontade explicita de Deus.

 

Neste Evangelho, Jesus volta a insistir-nos com outros matizes, sobre as atitudes fundamentais de nosso discipulado: A filiação expressada na oração, e a fraternidade expressada no respeito à misericórdia.

 

  1. Os imperativos da oração

 

Nosso texto começa com três imperativos: “Peçam, busquem, chamem…” (Mt 7,7). A petição é um aspecto essencial da oração, que já Jesus nos havia ensinado na oração do “Pai Nosso”.

 

O importante é ter bem claro, que devemos pedir, e também isto Jesus Cristo nos ensinou de muitos modos: “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça, e tudo vos será dado por acréscimo” (6,34).

 

Buscar acima de tudo, sempre, e em todo momento, seu Reino, sua glória e a paz dos homens, como cantaram os anjos na gruta de Belém, e o Pai nos dará tudo o que necessitamos para viver felizes como filhos de Deus e como irmãos.

 

O marco no qual está integrado nosso texto de hoje:Não julguem e não serão julgados(7,1-5). A chamada Regra de ouro (7,12), nos estar indicando, claramente, o que o Pai quer que peçamos: o amor fraterno, este é o dom que o Pai quer dar-nos em abundância.

 

Lucas em seu evangelho identifica o dom maior com o Espírito Santo, “quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o peçam” (Lc 7, 11). O Espírito Santo é o amor de Cristo derramado em nossos corações, que desde o íntimo de nosso ser, nos faz gritar “Abbá”, e grava em nossos corações os sentimentos de Jesus pelo o Pai e pelos irmãos.

 

Os imperativos que Jesus repete em diferentes formas, e que constituem o corpo do texto, nos estão dizendo também que Deus dá na medida de nosso desejo, nossa abertura e disposição para acolher. O Pai quer dar-nos seu amor, sua vida, seu Espírito. O único que nos pede como condição, é que o desejemos, o peçamos, o busquemos.

 

Por trás das palavras, podemos perceber em todo o texto, o desejo de Jesus de fazer-nos vibrar com o coração do Pai em seu amor por cada um de seus filhos, um amor que supera imensamente a paternidade e maternidade humana: “Se, pois, vocês, sendo maus, quer dizer limitados e inclinados ao mau, sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais seu Pai que está nos céus”, que transcende e supera, imensamente, nossa maneira de amar, “dará coisas boas aos que pedem (7,11).

Jesus, que compartilha conosco o dom inefável de sua filiação, quer que reconheçamos nela, nossa grandeza e nossa glória (1 Jo 3,1-2). Por este dom maravilhoso, que o Pai nos oferece cada dia, de novo, na entrega eucarística e na palavra de seu Filho amado, podemos viver na confiança plena, seguros de seu amor de Pai Mãe.

 

Jesus fecha sua exortação com uma instrução que resume a lei e os profetas: Portanto, tudo quanto queiram que os outros façam por vocês, façam também vocês(7,12). O amor verdadeiro se antecipa, longe de todo interesse, sai ao encontro, toma a iniciativa, é criativo e gratuito, porque busca somente a felicidade do outro.

 

Com esta exortação Jesus Cristo nos está convidando a ser como Ele, que não pensou em si mesmo e fez, por nós, tudo aquilo que podíamos esperar e desejar, e muito mais, porque com sua Morte e sua Ressurreição, nos comunicou a vida mesma do Pai e a sua filiação, que nos faz participes de sua glória.

 

Amar como Jesus nos amou, segue sendo para seus discípulos a norma de vida, o caminho à plenitude. Que o avançar da quaresma seja para todos nós, um crescer em nossa atitude filial e no amor fraterno, identificando-nos cada dia melhor com os sentimentos e atitudes do Filho amado, nosso irmão.

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

 

  • Que quer dizer que Jesus compartilha conosco sua filiação?
  • O amor verdadeiro se antecipa. Qual foi a última vez que minha solicitude e solidariedade, com os demais, chegaram antes que me pedissem?
  • Em que forma eu tenho desejado, pedido e buscado o amor que o Pai me quer dar?

 

“Se tu não buscas o perdão, é porque não sentes, plenamente,as feridas de tua alma, a lesão de sua consciência”(São Bernardo, “Sermão da quaresma”

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SEXTA-FEIRA

Mateus 16,13-19

DEIXEMO-NOS INTERROGAR POR JESUS.

“Feliz tu, Simão filho de Jonas, pois não foi a carne nem o sangue que te revelou isto…”

 

A celebração da Cátedra de São Pedro neste dia dá à liturgia a ocasião para colocar-nos ante a Pessoa de Jesus e seu Mistério.

 

Mateus nos narra hoje a profissão de fé de Pedro com mais detalhes que os outros sinóticos, no qual se refere à Pessoa de Jesus e ao discípulo que acolhe seu mistério.

 

O lugar concreto onde Jesus é reconhecido pelos seus é precisamente Cesárea de Filipe, o lugar talvez mais afastado de Jerusalém e reconhecido abertamente como região pagã.

 

Até este momento no Evangelho, foram os outros que, continuamente, se puseram interrogantes sobre a Pessoa de Jesus:

“Quem é este a quem o vento e o mar obedecem?” (Mt 8,27);

“Quem é este que até perdoa pecados?” (Mc 2,7; ver Mt 9,3).

 

Porém, agora é Jesus mesmo quem interroga sobre si, aos discípulos, para fazer brotar a resposta da fé. A fé começa justamente, quando deixamos de questionar ao Senhor e permitimos que seja Ele mesmo a nos questionar. Nossa resposta será, então, a expressão viva de nossa fé.

 

  1. Entrando no mistério do Mestre

 

Jesus interroga aos discípulos, pedagogicamente, em dois momentos sucessivos.

 

Primeira pergunta: “Quem dizem os homens ser o filho do homem?” (16,13)

 

“Filho do homem” é o titulo que, mais frequentemente, Jesus aplica a si mesmo. Jesus prefere mais este titulo que o de Messias, porque está mais relacionado com a figura do “servo de Iahweh” que será rejeitado e humilhado, porém, finalmente, triunfará.

 

Com esta pergunta indireta Jesus dá a seus discípulos a oportunidade de expressar tudo o que ouviram sobre Ele no falar comum, numa resposta genérica que não lhes compromete. “Eles disseram: uns, que é João Batista, outros, que é Elias, outros, que é Jeremias ou alguns dos profetas” (7,14).

 

As atitudes de Jesus, acompanhadas por sinais, suas denuncias ante as autoridades religiosas e a rejeição a sua Pessoa e a sua mensagem, deram motivos suficientes para que a multidão o considere como um profeta. Jesus, que parece não prestar atenção a esta resposta, vai diretamente ao assunto:

 

Segunda pergunta: “E vocês, quem dizeis que eu sou?(16,15)

 

Com estas palavras Jesus aplica a si mesmo o título de “Filho do homem” e os interpela diretamente: “Porém, vocês”. Vocês que escutam a minha palavra. Vocês, que creram em mim e que vivem comigo. Vocês, que são minha comunidade, que dizem de mim?

 

Pedro, responde em nome de todos. Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (16). A profissão de fé de Pedro é a profissão de nossa fé cristã. Jesus é o Cristo, o único Cristo, o Filho de Deus, o Filho amado do Pai, enviado ao mundo para que nele tenhamos a vida (ver Jo 3,16). Pedro foi, neste momento, admitido para participar da intimidade de Deus.

  1. Entrando no mistério do discípulo

 

Após a resposta de Pedro, Jesus revela que esta não provém da lógica ou da compreensão humana; é uma resposta inspirada no coração pelo Pai: Bem-aventurado és tu, Simão filho de Jonas por que não foi a carne nem o sangre que te revelou isto, mas meu Pai que esta nos céus(16,17).

 

Pedro foi o primeiro a receber a revelação do mistério escondido aos sábios e aos inteligentes (11,25-27). Se bem que, depois terá que reconhecer que Jesus não era o Cristo que ele pensava. E terá que aceitar, apesar de sua resistência, que Ele se revela como tal, justamente, no que menos esperava: a morte e morte de cruz.

 

Nisto podemos compreender porque Jesus pediu aos discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era Cristo. Esta Palavra tão questionante nos ajuda a verificar, profundamente, a qualidade de nossa relação com Jesus, nossa acolhida de seu Mistério e nossa resposta.

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

 

  • Quais são os dois momentos sucessivos nos quais Jesus interroga a seus discípulos?

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  • No meio em que vivo como é considerada a figura de Jesus?

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  • Que fazemos para conhecê-lo melhor?

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  • De que forma compartilho com os demais o passar de Jesus por minha vida?

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Mais sobre a Transfiguração de Jesus:

 

“Sua meta principal era neutralizar no coração de seus discípulos o escândalo da Cruz e impedir, pela revelação da excelência de sua dignidade oculta, que a fé deles fosse perturbada pelas humilhações de sua Paixão voluntaria” (São Leão Magno, “Sermón 51”)

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SÁBADO

Mateus 5,43-48

ESCOLA DE VALORES (V): UMA VIDA DE FILHOS QUE REFLETE O AMOR PERFEITO DO PAI

 “Vós, pois, sede perfeitos como é perfeito vosso Pai”

 

A Justiça do Reino, a que gera vida e fraternidade, é que dá pleno sentido à Lei e os Profetas. Mas Jesus não veio dar-lhe “cumprimento” exigindo uma observância mais rigorosa da Lei.

 

De fato, a Lei não faz, senão indicar aquilo que o Pai quer que façamos, mas não tem força para fazer-nos realizá-la.

 

A última lição que Jesus dá, nesta escola de valores que ensina a conviver no estilo do Reino de Deus, é precisamente isto: o que dá plenitude à Lei é a identificação com os comportamentos e atitudes do Pai celestial: uma vida de Filhos de Deus: sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celestial (5,48).

 

Aqui já não se fala de um valor específico e, sim, da fonte de todos os valores: a perfeição do Pai. Mesmo que Deus Pai seja perfeito em tudo que possamos imaginar, aqui se está aludindo ao que mais o caracteriza com relação a nós: o amor (ver Lc 6,39, como aparece claramente o termo “misericórdia”).

 

As bemaventuranças levam a viver segundo o Coração do Pai. As boas obras, que refletem a luz da vida nova dos discípulos, são aquelas que fazem notar uma vida de “filhos”, filhos que levam em si a marca da personalidade do Pai: “para que vendo… glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (5,16).

 

Os bons filhos honram seu nome. Portanto, o critério último de ação não é a “Lei” escrita e, sim, a maneira de ser do Pai, que se refletiu, nitidamente, na prática de misericórdia de Jesus de Nazaré.

 

  1. A situação

 

Tenho um inimigo. A princípio, ou seja, no tempo de Jesus, quando se cita o antigo mandato de “odiar ao inimigo” e, também, de limitar as relações com o próximo, pensa-se no irmão israelita. Agora, anos após, já no tempo das comunidades, provavelmente se está pensando nos inimigos da comunidade.

 

Recordemos que, ao final das Bem aventuranças, se ressalta que as comunidades estavam sendo perseguidas (5,10-12).

 

É dentro deste horizonte que se descreve a última lição, onde o “ódio ao inimigo” (5,43) pode ser válido para quem conhece a “Lei” (Lv 19,18), mas, não mais para quem fez a experiência de Jesus ressuscitado. Não mais para quem já vive na esfera do Reino.

 

  1. O Coração do Pai como modelo que inspira a vida do discípulo

 

O homem velho costuma pensar assim: “de um lado, os meus amigos e, do outro, os meus inimigos. Aos primeiros eu me dirijo, aos outros não”. Deus Pai não é assim: ele “faz brilhar seu sol sobre maus e bons, e chover sobre justos e injustos”. No coração de Deus, Pai de Jesus, cabe todos.

 

  1. Aplicação: um amor sem limites e com capacidade de regenerar

 

A menção do “sol” e da “chuva” é uma referência às bênçãos que Deus providencia aos seus: com elas Deus mantém e faz prosperar o que criou. Que Deus ilumine e conceda prosperidade a uma pessoa “” ou “injusta”, indica que – assim como acontece com o sol e a chuva – o amor do Pai não se limita aos que o amam, mas o oferece, gratuitamente, e sem distinções, mesmo a quem não o merece.

 

Assim age o discípulo de Jesus com quem o persegue e o causa dano, a ele e à comunidade. Por isso Jesus muda a frase “odiar o inimigo” por “amar o inimigo”. A maneira concreta de amá-lo é incluí-lo em sua própria vivência do Deus Pai, no Reino: “rogai pelos que vos perseguem” (5,44b). Então o Deus do Reino o transformará com suas bênçãos.

 

Realiza-se, assim, o segundo passo na maneira de enfrentar uma inimizade: transformar o inimigo com o poder regenerador do Reino. A atitude fundamental de um discípulo de Jesus é o amor, que só deseja o bem, faz o bem, e, assim, torna o outro bom.

 

Como afirma São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal; antes, vence o mal com o bem” (Rm 12,21). Assim se corta o mal pela raiz. Enfim, uma maneira de ser diferente e fazer a diferença.

 

Enfim, uma maneira de ser diferente e especial. Uma pessoa que age assim, evidentemente, é diferente de outra que não “conhece” o que é viver sob a graça da filiação divina. Exemplos claros são: o publicano, que vive em seu pecado, e o gentio, que adora outros deuses (ver 5,46-47).

 

Eles amam (nada mais) aos que os amam e saúdam (não mais que) aos de seu estrito círculo de amizades.  Por outra parte, o discípulo é claramente diferente porque, o motivo fundamental que inspira seu agir, é o amor perfeito, primeiro e criador do Pai celestial.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que sinto antipatia ou aversão?

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Há alguém que “não me entra” no coração ou que tenho decidido excluir dele?

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  • Meu coração é capaz de acolher a todos, como o de meu Pai celestial?

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  • Parece que o Senhor me pede demasiado? Isto me desanima?

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Qual fundamento que me leva a pensar que amar é possível, ainda que tudo pareça adverso?

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“Deus de meu coração,que o amor que te levou a morrer por mimme faça também morrer por ti” (São João Eudes, “Chamas de amor”).

 

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