Estudo Bíblico Semanal de 25 a 30 de Março de 2019

ESTUDO BÍBLICO SEMANAL

3ª Semana da Quaresma

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

 

Segunda–feira

Lucas 4,24-30

RESISTÊNCIAS DE CORAÇÃO PARA A CONVERSÃO

Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”

 

Ao iniciar esta terceira semana de quaresma, a Palavra nos introduz, delicadamente, no mistério Pascal que, de alguma forma, esteve sempre presente durante sua vida e, em particular, durante sua missão.

 

O evangelho de hoje nos situa no começo da pregação de Jesus na Galiléia e, particularmente, em Nazaré. Jesus prega nas sinagogas com a força do Espírito Santo.

 

Quem o escuta recebe a salvação prometida pelos profetas: “Esta escritura que acabam de ouvir se cumpriu hoje” (4,21) e todos se admiram das palavras de graçaque saem de sua boca (4,22).

 

Mas, à admiração, segue-se, imediatamente, o escândalo. Desde o início até o final de sua vida Jesus será ocasião de escândalo para seus contemporâneos: “Não é este o filho de José?” (4,22).

 

A simplicidade, a humildade e a pobreza de Jesus “que não fazendo alarde de sua categoria de Deus, se esvaziou de si mesmo e assumiu a condição de escravo” (Fl 2,6), colocando-se entre os últimos, é motivo de escândalo para seus vizinhos e conterrâneos.

 

Eles creem conhecer tudo de Jesus, porque conhecem sua família humilde de Nazaré, enquanto que Jesus conhece seus pensamentos e desmascara sua realidade: “seguramente vão me dizer o refrão: médico cura-te a ti mesmo. Tudo o que temos ouvido que tens feito em Cafarnaum, faz também aqui em tua terra” (4,23).

 

Os vizinhos e conterrâneos de Jesus, em lugar de converter-se com “as palavras de graça que saem de sua boca” (4,22), se negam a crer n’Ele e pretendem que faça, para eles, os mesmos milagres que fez em Cafarnaum.

 

O conhecimento que crêem ter de Jesus e a pretensão de vê-lo realizar milagres não lhes permite crer n’Ele. E Jesus, vendo sua incredulidade, lhes diz com autoridade: “nenhum profeta é bem acolhido em sua terra”.

 

A rejeição que é dada a Jesus é a mesma que foi dada aos profetas. Elias e Eliseu não puderam fazer milagres em Israel, só em Sarepta de Sidón e na Síria (25-27) onde encontraram corações abertos para acolher a palavra de Deus (ver 1 Rs 17,7.16; 2 Rs 5,1.14).

 

Enquanto Jesus está cheio do Espírito Santo, em sua pregação, seus vizinhos e conterrâneos estão cheios de raiva e querem matá-lo (4,28-29). “Porém, Jesus, passando no meio deles, saiu” (4,30).

 

São Lucas deixa entrever algo de extraordinário que não permite aos nazarenos acabar com Jesus: o Mestre se sai das mãos deles, passa pelo meio da raiva e da rejeição de seu povo, não se deixa atrapalhar, nem afetar, sai livre de suas mãos. Nesta incrível liberdade de Jesus se pré-anuncia a sua ressurreição, a sua vitória sobre as garras da morte.

 

Encaminhando-nos, já, para o final da quaresma, o Evangelho de hoje questiona, fortemente, nossa fé e a autenticidade de nossa conversão. Haverá algo que a este ponto, está nos impedindo uma verdadeira conversão?

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

 

  • Que significa dizer que Jesus prega com a força do Espírito Santo?
  • De que forma concreta eu estou aproximando-me, diariamente, da Palavra de Deus e, que efeitos de mudança constato em mim?
  • Como manifestamos que cremos em Jesus, não só a nível individual, mas como família e também como comunidade?

Não será que nossa fé se reduz a uns curtos momentos, diários ou semanais, que depois não tem que ver, em nada, com a nossa vida?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA

Mateus 18,21-35

NOSSA converSÃO: Perdoar de coraÇÃO.

“Não devias tu, também, compadecer-te de teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”

 

Em nosso itinerário quaresmal, a Palavra de Deus nos convidou a verificar nosso processo de conversão. Continuamos na escuta do Mestre e na docilidade a seu Espírito, permitindo que Ele possa infundir-nos esse espírito novo que nos faz pessoas renovadas, verdadeiros discípulos.

O Evangelho deste dia iniciado no discurso de Jesus sobre as relações fraternas próprias da comunidade dos discípulos (Mt 18), nos coloca ante um ensinamento de Jesus sobre a necessidade de perdão.

 

Nosso texto tem duas partes:

  1. O Diálogo de Pedro com Jesus: o “perdão” dá identidade à comunidade (vv.21-22)

Pedro toma a iniciativa e se aproxima de Jesus para perguntar-lhe: Senhor, quantas vezes tenho que perdoar as ofensas que me faça meu irmão? Até sete vezes? (v.21). A pergunta de Pedro nos deixa ver que ele havia entendido muito bem que a comunidade de Jesus se constrói no perdão recíproco. É assim que somos identificados como filhos do Pai celestial (ver 5,43-45; 6,14-15). Na pergunta, Pedro pôs um limite: “Até sete vezes?”.

A resposta de Jesus, por sua parte, abre o perdão do discípulo para um horizonte ilimitado: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (v.,22). Portanto, o perdão do discípulo não tem limites, assim como tampouco tem limites o perdão e a misericórdia do Pai para nós. Para aprofundar este ensinamento, Jesus introduz, em seguida, a parábola do “Servo sem misericórdia”.

  1. A Parábola do servo sem misericórdia (vv.23-35)

 

A parábola está construída a partir do contraste entre a misericórdia de um rei que perdoa a um de seus servos, uma dívida incalculável e a crueldade e dureza desse mesmo servo, que não perdoa seu companheiro que lhe deve uma pequena soma de dinheiro.

 

A magnitude do coração do Pai:

Ao rei, que chama os servos a ajustar as contas, é apresentado um que lhe devia dez mil talentos (v.24). Dez mil talentos é uma soma tão desproporcional, que, talvez, só o rei poderia possuí-la e que, talvez, o servo não teria conseguido pagar durante toda sua vida. Ante o servo que lhe suplica, o rei se deixa tocar o coração.

Não pensa na grande soma de dinheiro que tem a perder, não persiste em fazer-lhe cumprir de acordo com a justiça, mas, cheio de compaixão e misericórdia, perdoa-lhe tudo e o deixa ir, livre. A magnitude de seu coração superou, imensamente, aquela dívida que superava, já, toda medida. Com estes traços desproporcionais, Jesus nos mostra como é o coração do Pai, sua infinita ternura e compaixão para conosco. Os “dez mil talentos”, soma incalculável, aludem à grandeza do que Deus tem feito e segue fazendo por nós.

 

A dureza de nosso coração:

Ao sair, aquele servo encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem denários” (v.28a).      Cem denários é uma soma mínima, em comparação com a dívida que fora perdoada. Vem, então, a hora cruel, o servo maltrata física e moralmente seu companheiro. Ante a súplica do companheiro, que usou exatamente as mesmas palavras que pouco antes, havia expressado a seu senhor (v.29; ver 26), foi cruel (v.30).

Notamos uma desproporção imensa entre a misericórdia que havia recebido e a dureza de seu coração. A história põe na balança a dissipação do perdão recebido (do Pai, dos outros) e a estreiteza e dureza de nosso coração, que é incapaz de perdoar. Mas as coisas não ficam assim. Quando o rei soube do comportamento do servo, o chama de novo e encara sua maldade: (vv.32b-33).

O coração do Pai, medida de nosso perdão: O perdão que recebemos de Deus, nos indica a medida do perdão que devemos dar aos irmãos. Este é o sentido da resposta de Jesus a Pedro: “Até setenta vezes sete(18,22). Em outras palavras: o que Deus faz comigo é o princípio do quanto devo fazer pelo irmão; a misericórdia, que o Pai derrama sobre nós, sem medida, acolhida em nosso coração, deve derramar-se, gratuitamente, para os outros, como gratuitamente nos foi dada.

O perdão uma necessidade vital e recíproca: Retomando o contexto amplo no qual se encontra esta parábola, compreendemos agora que o perdão é o que torna possível a vida comunitária. Estamos juntos, não porque não nos equivocamos e não nos ofendamos, mas porque perdoamos e somos perdoados. Nossas limitações e defeitos, em lugar de afastar-nos e dividir-nos, podem fortalecer a comunhão e unidade, quando o perdão se torna uma atitude permanente em nossa vida.

Por isso, o perdão é algo vital de nossa convivência diária. Porém, temos que observar a última frase desta passagem: o perdão que Jesus pede é um perdão que vem do “coração” (18,35). Neste “coração”, quer dizer, no mais profundo de mim mesmo, deve permanecer, não o rancor pela pequena ofensa que recebo do irmão, mas o amor infinito e incondicional do Pai. Pode-se dizer que não perdoar é matar em meu irmão o amor do Pai.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que diferença encontro entre a atitude do amo e a do servo, segundo nos apresenta o texto?
  • Minha atitude de perdão para os demais é sempre generosa? Que posso melhorar a respeito?
  • Como tenho agradecido o perdão que alguma vez tenho recebido de alguém?

QUARTA-FEIRA

Mateus 5,17-19

APRENDER A FAZER EM JESUS A VONTADE DE DEUS.

“Não vim a abolir, mas a dar cumprimento”

 

Quem faz a experiência das “bem-aventuranças” é um homem novo no Reino de Deus pregado e levado a cabo pela pessoa de Jesus, n’Ele tem agora um novo coração. O discípulo começa a centrar-se todo em Jesus. Mas a vivencia da radical nova do Reino pode levar a pensar que “a Lei e os Profetas” ficam abolidos (Mt 5,17ª). Isto  não é exatamente assim, mas como disse Jesus: Não vim a abolir, mas a dar cumprimento (5,17b).

 

A frase “a Lei e os Profetas” é uma forma de designar tecnicamente a Bíblia Hebreia (para nós é grande parte do AT), isto quer dizer que indica toda a primeira parte da revelação de Deus. A “Lei” é o critério de vida por excelência para o povo que tem feito Aliança com Yahweh. Os “Profetas”, enquanto defensores da Aliança, foram intérpretes da Lei.

 

Quando Jesus disse que veio a dar cumprimento a Lei e os profetas”, está afirmando que n’Ele visível todo o que a Lei e os Profetas tentaram dizer. O que Deus tem querido revelar a seu povo tem seu ponto culminante na pessoa de Jesus. Por isso, digamos assim, entre o Antigo e o Novo Testamento não há contradição, mas uma linha continua, sempre ascendente.

 

Pondo o olhar então em todas as ações de Jesus no evangelho, porque foi ali onde “deu cumprimento” ao querer de Deus. Já a primeira ação de Jesus no Evangelho de Mateus havia sido programática ao respeito quando, a beira do Jordão, lhe disse a João: convém que cumpramos toda justiça (3,15).

 

Nas palavras seguintes de Jesus se aprofunda no modo como se dá “cumprimento” à Lei e os profetas:

  1. Da parte de Deus, mantém firme sua Palavra e nos oferece um caminho para que esta se realize plenamente (“que todo suceda, 5,18);
  2. Da parte do homem, a Palavra de Deus alcança seu cumprimento nele na medida em que a leve à prática e sejam ensinadas (“observar e ensinar”, 5,19).

 

Deus é o primeiro que põe em prática a Lei em seu Filho Jesus. A “justiça” primeira é a de Deus. E esta justiça –segundo o evangelho de Mateus- se chama Jesus. Por isso não se falará explicitamente do “ensinamento de Jesus” (só até 7,24), mas do “cumprimento da Lei”, simplesmente porque esta ordem de idéias é o mesmo.

 

Deus: A Palavra se faz realidade

 

Asseguro-vos: passarão céu e terra antes que passe um ‘i’ ou um ‘til’ da Lei sem que tudo aconteça” (5,18). Tudo a lei quer que “aconteça”. Jesus a realiza em sua própria vida e deste modo oferece a quem quer que lhe siga a possibilidade de aprender n’Ele a fazer a vontade de Deus. O evangelho aos poucos irá desvelando de que modo o “cumprimento” está na práxis de Jesus.

 

A síntese do que quer a ‘Lei e os Profetas’, finalmente, será o amor misericordioso. Desta forma a “Lei” segue sendo inquebrantável, porém por outra parte não se compreende plenamente, mas na interpretação que lhe dá Jesus. Portanto, porque Jesus deu sua máxima expressão a todo o valor que tem “A Lei e os Profetas”, todos temos a possibilidade de viver a Palavra de Deus em seu seguimento e, assim, esta manterá sua vigência até o fim do mundo (“céu e terra passarão antes de que passe…”).

 

O discípulo: A Palavra se faz vida

 

Deus cumpre sua Palavra, mas os discípulos também tem que cumpri-la, isto é, passar da teoria à prática. Todos os mandamentos, inclusive os menores, são obrigatórios, já que o homem somente se faz “justo” na vivencia do querer de Deus. Mas o discípulo não andará ansioso por detalhes, porque vive a Lei desde uma vida inspirada na nova “justiça” que ensina Jesus, uma “justiça” que provem do estar imerso na experiência do “Reino” (ver as bem-aventuranças).

 

Para enfatizar isto, Jesus apresenta a mesma idéia tanto em negativo como em positivo:

(1) “O que traspasse…”/“o que observe”;

(2) “Será o menor no Reino…”/“será grande…”.

Jesus havia de “por em prática”, porém também de “ensinar”. Jesus aplica a mesma lógica do compromisso com a Palavra ao compromisso com a correta educação que consiste no aprendizado do evangelho enquanto cumprimento perfeito “da Lei e os profetas”.

 

O discípulo que põe em prática a Palavra, já é por si um bom mestre e com a mais eficaz das didáticas: o testemunho.  Mas não pode esquecer que diante dele vai Jesus. Ao dizer que veio “dar cumprimento”, que maravilha! Ele mesmo faz o que ensina! Estar na escola de Jesus é aprender sua vida.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Um cristão pode permitir que se desvalorize o Antigo Testamento? Que argumentos tem para sua resposta?
  • Em contrapartida, que se passaria se lêssemos o Antigo Testamento sem chegar ao Novo? Que tipo de espiritualidade viveríamos?
  • Quem dar “cumprimento” à “Lei e os Profetas”?
  • A “lectio divina” tem como finalidade ajudar-me a passar da teoria do texto à prática da Palavra de Deus

em minha vida. Como a estou fazendo? Estou ensinando-a a outras pessoas?

 

 

QUINTA-FEIRA

Lucas 11,14-23

Estás com Jesus para seres libertados do mal

“O que não está comigo, está contra mim, o que não recolhe comigo, espalha”

 

A Palavra de Deus que vem iluminando e orientando nosso caminho quaresmal, nos tem mostrado, nas parábolas e discursos de Jesus, os diferentes matizes do amor cristão, com uma particular acentuação na reconciliação, no perdão e na misericórdia, como experiências fundamentais de nossa identidade de filhos de Deus.

 

A vivência do amor à maneira de Jesus é o selo que distingue seus discípulos.

 

O Evangelho de hoje tem como contexto anterior o ensinamento de Jesus sobre a oração segundo a versão de Lucas.

 

Na oração pedimos ao Pai o “pão de cada dia” (11,3). O pão é o dom ‘do amigo que já está descansando’ para dar ‘ao amigo que vem de viagem’ (11,6-7), é o símbolo da “coisa boa” que um pai – por mau que seja – nunca nega a seu filhinho (11,11-12).

 

E na oração, que sempre é escutada (11,10), obtemos o dom do Espírito Santo (11,13), que é o dom maior do Pai com o qual também nós podemos vencer ao maligno. E isto porque a luta de Jesus, no deserto, continua em nós, seus discípulos (11,4).

 

  1. Jesus liberta do mal com o dedo de Deus

 

Em nosso texto (=Mt 12,22-30 e Mc 3,22-27), vemos Jesus que, depois de expulsar um demônio, é acusado, por seus opositores, de fazê-lo com o poder de beelzebu, o príncipe dos demônios (11,14-16).

Porém ele, conhecendo seus pensamentos” (11,17) explica quão contraditória e ilógica é sua acusação:

  • “Se, pois Satanás está dividido contra si mesmo, como vai subsistir seu reino?…” (11,18).
  • Porém se pelo dedo de Deus expulso, eu, os demônios, é que chegou a…” (11,20).

 

Na vitória sobre o mal, Jesus revela seu mistério e dá um sinal inequívoco da chegada do Reino. “Pelo dedo de Deus” (11,20).

 

A imagem expressa, na Bíblia, a realidade do poder de Deus atuando em meio do povo (Dt 9,10; Ex 7,18;8,15); “Pelo dedo de Deus, quer dizer, com a força de Deus, com seu Espírito, Jesus liberta da escravidão do pecado e reconstrói em cada pessoa o rosto do filho para o qual foi chamado.

 

O gesto que Jesus realiza é pascal. O que Deus fez no passado, libertando o povo da escravidão, realiza agora em Jesus. Assim afirma sem rodeios: “chegou a vós o Reino de Deus”.

 

  1. Quem conhece Jesus, sente a necessidade de optar por Ele.

 

Esta apresentação do Jesus pascal, vencedor do maligno, nos orienta, em seguida, em uma direção prática, para o discipulado: Quem reconhece em Jesus a chegada do Reino de Deus, não pode deixar de segui-lo.

Conhecê-lo, é acolhê-lo e optar por Ele: “O que não está comigo, está contra mim, o que não recolhe comigo, espalha” (11,23).

 

Portanto, quem está com Jesus recolhe frutos de vida: recupera a filiação perdida, entra no coração do Pai e ama aos irmãos com seus mesmos sentimentos. Estar com Jesus leva-nos a ter seu Espírito.

 

Quem não está com ele, espalha (11,23b), quer dizer, perde sua vida, fica indefeso em mãos do inimigo.

Ao contrário, com Jesus o mais forte(11,22), que derrotou, definitivamente, ao maligno, é possível vencer as insídias do mal e serem os filhos amados do Pai (ver 11,2.13).

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que quer dizer que Jesus liberta do mal com o dedo de Deus?
  • Em que momentos de minha vida tenho constatado que estou com Deus? Em que momentos ou situações tenho constatado o contrário?
  • Que implicação “pascal” tem o ser discípulo? De onde vem à vitória sobre o mal? Como fazer para obtê-la?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA

Marcos 12,28b-34

PRIORIDADE EVANGÉLICA (I): UM AMOR OBLATIVO QUE É EXPRESSÃO DA VINDA DO REINO

“Amarás ao Senhor, teu Deus… e a teu próximo como a ti mesmo”

 

Na resposta de Jesus aos Saduceus ficou claro que o fundamental é: Quem é Deus? Qual é a natureza de sua relação conosco? A ênfase estava na obra de Deus: obra criadora sempre a serviço da vida.

 

  1. A pergunta do Rabino (12,28)

 

Agora a pergunta se inverte: O que Deus espera que façamos para entrar na justa relação com Ele? A resposta é clara: amar!

 

A pergunta, traçada, desta vez, por um escriba, sobre o que Deus quer que façamos, aparece nestes termos: “Qual o primeiro de todos os mandamentos?” (12,28). É como se dissesse: Que é, em última instância, o mais importante para Deus? Em que devemos concentrar todas as nossas forças?

 

  1. A resposta de Jesus (12,29-31)

 

Jesus toma citações do Antigo Testamento para assinalar o caminho que devemos seguir de modo que nossa vida siga na direção reta e alcance sua plena realização.

 

Jesus recita o texto de Dt 6,4-5, no qual está ordenado que a primeira e mais importante tarefa de um israelita é amar a Deus sem divisão, pois é o Deus único, e com todas as forças de que disponha.

 

Fala-se “da força” em geral: “Com todas as tuas forças”. Mas, antes se especifica: o amor se exerce com todas as faculdades humanas, isto é:

  • “Com todo teu coração”, quer dizer, com todo teu querer, com tua vontade. O amor é decisão;
  • “Com toda tua alma”, quer dizer, com todas tuas forças vitais. O amor é impulso vital;
  • “Com toda tua mente”, quer dizer, com toda tua inteligência. O amor é inteligente.

 

Estas dimensões do amor acima mencionadas não esgotam tudo, nem pretendem tampouco estabelecer compartimentos. O que se quer dizer é que devemos empregar todas as nossas forças, sem exceção alguma, no amor a Deus.

 

Por isso se repete o termo “Todo”: tal deve ser a intensidade e a cobertura de nosso amor. Em seguida, apesar de que somente lhe perguntaram pelo primeiro, Jesus menciona “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, colocando o segundo em equivalência com o primeiro (“Não existe outro mandamento maior”, disse).

 

Este novo mandamento tem como critério o amor que tenhamos por nós mesmos, isto é, o aceitar-nos com tudo o que somos e que constitui nossa personalidade e nosso projeto, com todas nossas capacidades, porém também com todos nossos limites.

Por isso este segundo mandamento é um “sim” a tudo o que Deus nos tem dado (a nós e a nosso próximo) e, portanto, uma forma de amá-lo.

 

  1. A conclusão (12,32-34)

 

É tão importante o que Jesus acaba de dizer que o escriba o repete quase nos mesmos termos (32-33).

 

O fato que lhe agregue, que este amor “vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios” (12,33), indica que este é o valor número um sobre o qual se devem ordenar todos os demais, por ser oblativo, de oferenda do próprio ser, supera toda a espiritualidade sacrificial do Antigo Testamento.

 

As palavras finais do escriba fazem supor que está assumindo um compromisso com o que se está dizendo e que, portanto, está em plena sintonia com Jesus. Por isso, a declaração final de Jesus o coloca na categoria dos discípulos: “Não estás longe do Reino de Deus(12,34).

 

Tenhamos presente: amar significa sair da passividade, da indiferença, da comodidade, da superficialidade, da desconfiança, de modo que todo nosso ser tenda, ativamente, fortemente e decididamente, a Deus, com uma motivação despojada de qualquer mesquinhez, com interesse profundo, pronto e vivo.

Quando vivemos isto, “O Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15).

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que o amor a Deus e ao próximo “Vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”?
  • De que forma o amor a Deus move e anima minha vontade, minhas forças vitais e inteligência?
  • Que expressões de amor são as que mais necessitam nossos povos hoje, nossos jovens, crianças, esposos, os necessitados, e nossos irmãos de comunidade? Qual foi o último gesto de amor que fiz a alguém? Que me moveu a fazê-lo?

 

 

“Amabilíssimo Coração de meu Salvador, ofereço-te o amor que arde por ti nos corações dos divinos amantes, e rogo-te que associe meu coração aos seus neste mesmo amor” (João Eudes)

 

 

 

 

SÁBADO

Lucas 18,9-14

A humildade: Ambiente de nossa transformação interior

“Porque todo o que se exalta, será humilhado; e o que se humilha, será exaltado.”

Neste tempo de quaresma a Palavra de Deus tem sido, para nós, um espelho no qual temos podido olhar, com nitidez, as vibrações do coração de Deus e as de nosso próprio coração, em uma confrontação constante de nossa relação com Deus e de nossa relação com os irmãos.

 

Desta maneira, temos tido a oportunidade de assimilar os sentimentos de Jesus, o homem novo, o Filho amado, o verdadeiro irmão, em nosso exercício quaresmal do amor: a oração e a misericórdia.

 

  1. Qual espírito anima nossa oração?

 

No Evangelho de hoje, a parábola do fariseu e do publicano, nos convida a discernir o verdadeiro espírito que anima nossa oração.

 

Esta parábola tem uns destinatários muito precisos: alguns que se tinham por justos e desprezavam aos demais” (Lc 18,9). Com esta parábola Lucas ajuda a desmascarar esse “fariseu” que pode assediar, continuamente, a vida de um discípulo de Jesus.

 

Vejamos como o faz:

“Dois homens subiram ao templo a orar: um fariseu, outro publicano” (18,10). Os dois personagens representam duas maneiras de está ante Deus e ante os irmãos, duas maneiras de orar, que estão em aberta oposição.

 

A oração do fariseu

 

O fariseu parecia mais concentrado em seu próprio eu (ver 18,11). O centro de sua oração é ele mesmo, sua autossuficiência, sua vanglória. Dá graças, não para louvar a Deus, mas para louvar a si mesmo, condenando e desprezando aos demais.

 

Com Deus é autossuficiente, com os outros é acusador. Acredita-se justo por cumprir as leis, porém está muito longe do amor de Deus e dos irmãos, como já havia dito Jesus neste mesmo evangelho de Lucas (ver 11,42).

 

A oração do publicano

 

“O publicano ao contrário, mantendo-se a distância, não se atrevia nem a alçar os olhos ao céu, mas que se golpeava o peito… (18,13). Sua atitude externa revela o reconhecimento humilde de seu pecado, de sua própria indignidade ante Deus e um profundo arrependimento.

 

Dizendo “Ó Deus! Tem compaixão de mim, que sou pecador” (18,13), o publicano demonstra que o centro de sua oração é o Deus da misericórdia que purifica do pecado (Sl 51,3). Assim, como faz o orante do Salmo “miserere”, sua oração humilde e confiante, brota do mais profundo de seu coração.

 

  1. Quem confia, humildemente, em Deus, é justificado:

 

Depois desta forte contraposição a parábola de Jesus chega onde queria chegar: “digo-lhes que este chegou a sua casa justificado e, aquele, não” (18,14).

 

O que justifica uma pessoa diante de Deus não são suas próprias obras, mas a abertura, a confiança e a acolhida da salvação que o Pai oferece, gratuitamente, em seu Filho Jesus Cristo: “Pelas entranhas de misericórdia de nosso Deus, que farão que nos visite uma Luz da altura, a fim de iluminar os que habitam em trevas…” (1,78-79ª).

 

Na última frase, Jesus explica por que um é justificado e o outro não: “Porque o que se exalta será humilhado, o que se humilha será exaltado” (18,14).

Também, neste evangelho, Jesus havia ensinado que a humildade de coração é a atitude de fundo de nossa fé e de nossa relação com Deus.

 

Só os pequenos, os puros de coração, podem entrar no Reino dos céus, porque Deus “esconde estas coisas aos sábios e as revela aos simples” (Lc 10,1-2).

Este mesmo caminho de humildade o tem percorrido Jesus para levar-nos ao Pai. Sua máxima expressão é a humildade do crucificado.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Em que se assemelha e se distingue a atitude do fariseu e do publicano?
  • Quais atitudes do fariseu e do publicano encontro em minha vida na relação com Deus?

Como fazer para melhorar?

  • Comparo-me, frequentemente, com os demais para poder justificar minha maneira de agir?

Que me pede Jesus a respeito?

 

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