Estudo semanal de 07 a 12 de maio

 6ª Semana da Pascoa – Ano B

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

João 15,26–16,4a

COMO AMAR EM SITUAÇÃO ADVERSA (II): AS AÇÕES

“Vós também dareis testemunho”

 

Terminamos, hoje, a leitura da segunda parte do discurso de despedida de Jesus.

 

Após descrever todas as implicações da comunhão com Jesus, desde a perspectiva do amor (cf.15,1-17), vimos que o evangelho prepara os discípulos para a dura experiência no “mundo”: serão odiados (cf.15,18-21). A partir desta realidade, Jesus convidou seus discípulos a fazer uma avaliação da situação (cf.15,22-25).

 

Agora, para terminar, Jesus educa seus discípulos, com instruções precisas, para enfrentar a rejeição.

Na primeira delas retoma a promessa da assistência do Espírito Santo, cuja presença está agora relacionada com o “dar testemunho” (cf.15,26-27).

 

Então, como devemos responder ao ódio do mundo? Há quatro instruções sobre a maneira de responder ao mundo, todas elas giram em torno a uma única idéia: “dar testemunho”.

 

Vejamos o processo que Jesus descreve:

 

  1. Deixar que o Espírito nos dê testemunho (15,26)

 

Jesus lhes diz: “Quando vier o Paráclito… dará testemunho de mim” (15,26). A pergunta do texto é: A quem dará o testemunho?

 

Alguém tende a pensar que será para as pessoas de fora, aquelas que nos estão rejeitando, e não é assim. O testemunho do Espírito Santo, em primeiro lugar, é para os discípulos, pois é a eles que o mesmo é enviado.

 

Trata-se do testemunho de que Jesus verdadeiramente vive e que segue sendo o Senhor de seus discípulos, que não os abandona. Este os animará para que dêem esse testemunho.     O discípulo perseguido necessita desta força de ânimo.

 

Só quem fez uma experiência do senhorio de Jesus, por meio do Espírito Santo, não tem nenhum problema para testemunhar ante o mundo. Alguém só pode falar do que tem vivido.

 

O “Paráclito” não vem, em primeiro lugar, para eliminar nossos problemas: ele nos ensina a analisá-los e a descobrir o que é que, verdadeiramente, temos que trabalhar em nós, para poder sustentar e avivar o testemunho de uma vida em Cristo. E isto já é o decisivo.

 

  1. Dar testemunho, junto com o Espírito Santo, daquilo que temos vivido no caminho com Jesus (15,27)

 

A obra do Espírito Santo se expressa, assim, mediante o testemunho explícito de Jesus, que damos, nós, por palavras e obras: “E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio” (15,27).

 

Não se testemunha um sentimento nem uma boa intenção com relação a Jesus, mas todo um caminho de vida percorrido junto com Ele. O conteúdo do testemunho é o Evangelho feito vida, encarnado no longo e paciente caminho da fé.

 

Testemunha-se o que Deus tem feito desde o primeiro momento de graça, quando fomos chamados ao seguimento, até agora. Anuncia-se, com fatos concretos, o que Jesus tem significado para nossa vida, tudo aquilo que, certamente, não se teria podido viver sem Ele.

 

  1. Manter-se firme, apesar da dureza da perseguição, não vacilar (cf.16,1-3)

 

Aos discípulos, “Expulsar-vos-ão das sinagogas” (16,2a). Este é o momento mais doloroso: a rejeição da própria comunidade de fé e de amor. O evento pode chegar até ao desenlace trágico: “Mais ainda: virá a hora em que aquele que vos matar julgará realizar ato de culto a Deus” (16,2). Neste momento os discípulos poderão se “escandalizar”. Parece-lhes que é demais, tanto sofrimento.

 

Jesus pede-lhes para que não se escandalizem; que não saiam correndo apavorados. Ele estará ao lado deles, cuidando. Recordemos o testemunho de Paulo, frente às perseguições de Nero (cf 2 Tm 4,17).             O permanecer firmes, quer dizer, leais e fieis, é uma forma importante do testemunho.

 

  1. Fazer memória da Palavra de Jesus (cf.16,4)

 

Jesus disse: “Tenho-vos dito isto para que, quando chegar a hora, vos recordeis de que já vos havia dito. Não vos disse isto desde o princípio porque eu estava convosco”.

 

Jesus nos fala, antecipadamente, para, não nos pegar de surpresa, a situação. Porém, o que terá que recordar-se, o discípulo, não é da perseguição, mas da promessa da vitória. Neste sentido, a memória da Palavra do Senhor é decisiva. É uma forma de vigilância cristã.

E isto, nós podemos estender a todas as Palavras do Senhor: elas têm por finalidade ajudar-nos a tomar consciência das diversas situações em que nós vivemos em nossa vida cristã, e a discernir a atitude justa, que nos coloca à altura da situação. Porém, a base de tudo é que nos sintamos firmes e seguros da verdade das promessas de Jesus.

Ao terminar esta seção do discurso de despedida de Jesus, oremos:

 

Obrigado, Pai, pelas palavras de Jesus. Teu Filho coloca nossos pés na dura realidade do caminhar do discipulado, porém não deixa nunca de iluminar-nos, amavelmente, com sua presença sempre fiel. Ajuda-nos a compreender melhor o que estamos vivendo todos os dias. Ajuda-nos, para que não nos deixemos surpreender, não aconteça que, à hora do testemunho, não estejamos, suficientemente, maduros, nem preparados. Infunde, em nós, o amor, a paciência e a fortaleza, que lhe sustentaram no caminho da Cruz. Amém.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

  • Em que situações concretas me tenho visto empurrado a dar testemunho de Jesus?

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  • A quem o Espírito Santo dá testemunho em primeiro lugar?

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Testemunho de que?

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  • Sinto-me preparado para enfrentar as adversidades, sem chegar a cair no desânimo, nem na tentação de deixar de lado minha opção cristã?

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TERÇA-FEIRA

João 16,5-11

JESUS FORMA SUA COMUNIDADE (I):

COMUNIDADE TRANSFORMADA PELO ESPÍRITO SURPREENDE O MUNDO.

“O Paráclito convencerá o mundo”

 

Inicia a terceira parte do discurso de despedida de Jesus. Voltamos a encontrar Jesus e seus discípulos que, depois da ceia, vão a caminho do Getsemani.

 

Jesus, inspirando-se na imagem da videira, lhes explicou a nova relação que viverão com ele a partir da Páscoa: “Eu neles e tu em mim” (17,23ª).

 

Uma profunda comunhão de vida, entre o discípulo e o mestre, que leva o discípulo, não só a dar os frutos pascais de vida nova para o mundo, mas, também, a experimentar a rejeição e a perseguição do mundo, precisamente, por sua união a Jesus.

 

No capítulo 16 de João, começando pelo versículo 5, encontramos a última instrução de Jesus, que pode ser lida desde a perspectiva da formação da comunidade. O Senhor agora lhes ensina como construir uma igreja com vitalidade e força pascal no mundo.

 

Há cinco ensinamentos. Hoje abordamos o primeiro: a vinda do Espírito Santo que inaugura uma nova etapa na vida da comunidade.

  • Jesus convida seus discípulos a que estejam felizes por sua partida, condição esta para enviar o Espírito Santo, que é o “Paráclito” – auxiliador – dos crentes (cf. 16,4b-7).
  • Jesus vê, em consequência, desde já, o começo de um povo transformado pela Páscoa (cf.16,8-11).

Este é o ponto de partida da vida da comunidade pascal.

 

  1. O que o Espírito faz na comunidade, vai impressionar o mundo

 

No inicio de seu discurso havia dito: “O Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque vê nem não o conhece” (14,17). Agora Jesus volta a este ensinamento: quando o Espírito vier, ele não vem ao mundo, mas à Igreja.

 

Duas vezes repete esta ideia no v.7, uma vez em negativo e outra em positivo: “pois, se não for, o Paráclito, não virá a vós. Mas, se for, enviá-lo-ei a vós” (cf. 16,7). Assim, é o que o Espírito faz, na Igreja, aquilo que vai impressionar ao mundo. Este é o primeiro passo na obra que o Ressuscitado faz com a força do Espírito.

 

  1. A obra do Espírito na comunidade

 

E quando ele vier, convencerá ao mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento” (16,8). Jesus vai longe, ao elucidar as implicações disto. Frente ao testemunho da Igreja vivificada no Espírito, o mundo faz três aprendizagens:

 

1ª aprendizagem que faz o mundo: o sentido do “pecado” (16,9)

 

Jesus disse que o Espírito convence ao mundo “a respeito do Pecado, porque não crêem em mim” (16,9). Uma pessoa, que não tem uma forte experiência de Deus, não tem sentido do pecado, tudo lhe parece normal.

Vejamos, Jesus não disse “pecados”, mas, sim, “pecado” (em singular). A tarefa de uma comunidade centrada no Senhor não é atacar a pessoa, acusando-a de seus pecados, mas fazer-lhe cair em conta, profeticamente, de seu pecado fundamental.

 

O pecado é a rejeição de Deus e de seu projeto para a humanidade. É uma força destrutiva que arrasa a glória e a beleza da humanidade. Um olhar rápido ao que está acontecendo no país e no mundo leva a cair em conta que isto é verdade. Isto é, justamente, pelo pecado. Porém, quem o faz não tem consciência disso, não compreende o dano profundo que está fazendo.

 

Porém, quando se “crê” em Jesus, o assunto é diferente: tem-se uma grande sensibilidade frente ao pecado. Além do mais, quando há uma comunidade viva, integrada, renovada, transformada, o pecado daquele que joga com a vida e a dignidade dos demais fica denunciado.

 

Quem está nesta situação, quando vê pessoas profundamente transformadas pela presença do Espírito, descobre primeiro que a natureza do pecado é ignorar ao único doador de vida, ao único que pode dar serenidade, paz e perdão. Começa, então, a ter sensibilidade de seu pecado.

 

2ª aprendizagem que faz o mundo: onde está a fonte da “justiça” e retidão de vida (16,10)

 

Jesus disse que o Espírito convence ao mundo “a respeito da justiça, porque vou ao Pai” (16,10).    A retidão é um termo que no Antigo Testamento equivale a “santidade”: indica que uma pessoa íntegra, aos olhos de Deus e do mundo, é uma imagem patente do homem querido por Deus.

 

A Boa noticia do Evangelho é que alguém não se faz íntegro por si mesmo. A única maneira de alcançar uma vida integra, coerente, sólida, bem conduzida, é “vir a Jesus”.

 

“Santificar-nos”, é o que Jesus faz por meio do Espírito. A obra do Espírito é dar-nos o que nunca conseguiríamos, por nossas forças: ser retos e profundamente íntegros na presença do Senhor. Esta é a maravilhosa experiência que podemos chamar “a beleza da santidade”: uma beleza que não provem de maquiagens, mas que vem de dentro.

 

A comunidade verdadeiramente bela é a que está formada por gente que, apesar de sua debilidade, chegaram a ser profundamente íntegras, pela fé em Jesus. Quando isto acontece, começa uma transformação vitral de tudo ao redor, de modo processual.

 

Pois bem, isto é o que o mundo descobrirá, da ação do Espírito nos crentes: o mundo entenderá que é possível ser santo, ser justo, ser diferente. Que nossa oração realiza o que diz o Salmo 90,17: “Que a beleza (doçura) do Senhor venha sobre nós!”.

 

3ª aprendizagem que faz o mundo: o julgamento deste mundo já aconteceu na morte de Jesus (16,11)

 

Jesus disse que o Espírito convence ao mundo “a respeito do julgamento, porque o príncipe deste mundo está julgado”. Todo homem tem a responsabilidade de prestar contas a Deus sobre sua vida, quando, ao final de sua historia, se encontre, cara a cara, com Ele. Porém, coisa curiosa! Jesus está indo muito mais além desta simples idéia. Jesus diz que este julgamento já aconteceu.

 

Um cristão que segue a Jesus no Espírito Santo vive sempre em uma incrível liberdade, porque já se sabe julgado. Um discípulo vive gozoso, como filho de Deus vivente.

 

O que o mundo aprenderá, observando aos crentes, é, precisamente, isso: que são pessoas que sabem viver porque conseguiram superar suas contradições internas e agora estão em paz, com uma grande liberdade e força interior. Este é o primeiro passo na obra de Deus conosco.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

  • Considero-me uma pessoa sensível ao “pecado”?

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De onde provem esta sensibilidade?

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  • Anseio uma vida na beleza da santidade?

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Que me oferece Jesus?

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  • Vivo no gozo da liberdade dos filhos de Deus ou arrasto contradições internas que tornam infeliz e insegura minha vida?

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Que fez Jesus na Cruz por mim?

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Que faz agora pela força de seu Espírito?

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QUARTA-FEIRA

João 16,12-15

JESUS FORMA SUA COMUNIDADE (II): ESTA É CONDUZIDA EM UM PROCESSO DE CRISTIFICAÇÃO

“O Espírito da verdade vos guiará até a verdade completa”

 

 

Vejamos o segundo passo na grande obra de Jesus, formando sua comunidade: a ação reveladora do Espírito Santo continuará a obra de Cristo, o substituirá quando o Filho regresse ao Pai, guiará à inteira verdade e fará compreender o que Jesus havia dito.

 

  1. A incapacidade dos discípulos para viver tudo de uma vez

 

“Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar” (16,12). Estas são palavras que infundem ânimo. Jesus fala a seus discípulos com muita ternura. Compreende a confusão que têm e sua debilidade frente à realidade da Paixão.

 

Em grego, lemos um verbo que se poderia traduzir: “não podeis suportá-lo”. Este verbo, em outras ocasiões, está relacionado com o peso da Cruz. Provavelmente, deve ter, aqui, uma referência à dificuldade para carregar a Cruz, que é a tarefa mais importante do discipulado. À meta só se pode chegar, caminhando atrás de Jesus, carregando a Cruz (cf. Jo 14,36).

 

  1. O Espírito, como “pedagogo” que nos conduz até a plenitude de Jesus

 

Após indicar a dificuldade presente dos discípulos, Jesus dirige seu olhar ao dia da efusão do Espírito e à experiência das primeiras comunidades que interpretam o acontecimento pascal e relatam o Novo Testamento: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará na verdade plena” (16,13ª).

 

O que se quer dizer, em primeiro lugar, é que o Espírito vai levando-nos pela mão, como crianças, para que possamos viver, um a um, os ensinamentos do Evangelho, até que a vivência do Evangelho seja completa, em nossa vida.

 

O Espírito não traz novas revelações, sua tarefa é conduzir ao interior da revelação de Jesus. Ele guia até a “Verdade Plena” que é Jesus (cf. 14,6), fidelidade de Deus na história, em que surge o homem novo, o homem e a comunidade que alcançam sua plena realização.

 

Não se vive todos os ensinamentos de Jesus de uma vez. Por isso é preciso deixar que o Espírito do Ressuscitado faça sua pedagogia com cada um de nós. Ele e só Ele conhece os caminhos de maturidade de cada um e sabe como conduzir-nos para a plenitude de Cristo.

 

O mesmo vale para a comunidade cristã em seu caminhar ao longo da história. Nos vv.13.14.15, três vezes aparece o verbo no futuro: “Anunciará”. O sentido do termo grego é “tomar e apresentar de novo”, quer dizer, “atualizar”. Visto que, ao longo da história, vão surgindo novas realidades e desafios com os quais interage a fé, o Espírito mantém vigente, na comunidade, a eterna novidade de Cristo.

 

Desta forma, o Evangelho se encarna continuamente, e o rosto de Jesus Ressuscitado se revela sempre atual. Neste sentido, o Espírito é “central criadora de luz sempre nova”.

 

  1. O Espírito tem uma estreita relação com o mistério completo de Jesus, desde sua origem, no Pai, até seu regresso a Ele

 

O Espírito se refere sempre à atualidade permanente do mistério pascal de Jesus. Através dele podemos conhecer o mistério de Cristo até o fundo e desde sua raiz: a relação profunda do Verbo com Deus Pai antes da história humana (cf.Jo 1,1-2). Por isso a frase: “Tudo o que o Pai tem é meu” (16,15).

 

Insiste-se, ao final, que o Espírito “tudo receberá de mim” (16,14.15). Visto que, “tudo” recebe de Jesus, pode “guiar-nos” para Ele. É assim que o Espírito nos introduz na pessoa de Jesus, enquanto caminho aberto ao Pai. E nesta total manifestação do sentido da obra de Jesus: “Ele me dará glória”.

 

O Espírito Santo permanece cristocêntrico e, deste modo, não faz, senão centrar-nos permanentemente naquele, que de boca, confessamos como o que tem o senhorio em nossas vidas.

 

O mistério da Igreja brota nesta identidade com Cristo e se afirma na relação que provém da comunhão eterna do Pai e do Filho na origem da história e, também, no cume dela. Esta é a segunda lição: a comunidade é conduzida a um processo de crescimento, em uma progressiva cristificação.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

  • Há algum ensino de Jesus que me custa muito viver?

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Que me oferece Jesus para tal debilidade?

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  • Que quer dizer: Quando vier Espírito da verdade, ele vos guiará até na verdade plena (16,13)?

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  • Como se aplica aos processos de fé pessoal e à tarefa missionária da Igreja?

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QUINTA-FEIRA

João 15,9-17

PERMANECER EM CRISTO (III): AS EXPRESSÕES DO AMOR.

“Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos”

Depois de colocar os fundamentos do amor (cf.15,9-11), Jesus explica quais são suas expressões, os frutos que brotam dessa seiva, e qual é o motivo da imensa alegria dos discípulos (cf. vv.12-17).

Esta passagem, sem as anteriores, careceria de apoio, e as anteriores sem esta, se converteria em um discurso abstrato sobre o amor, um a mais entre tantos . No centro de tudo está o amor de Jesus: é tal, que é capaz de redefinir, completamente, o modo como compreendemos nossas relações com os demais.

  1. O mandamento do amor (15,12.17)

Notemos três elementos que compõem a frase de Jesus:

(1) Jesus começa com um imperativo: “Amai-vos”

(2) Jesus lhe dá uma identidade própria, o chama: “meu mandamento”

(3) Jesus mesmo é o conteúdo do amor: “Como eu vos amei”

Para Jesus não há ambiguidades. O coração do mandamento do amor é o “Como eu vos tenho amado”. O comportamento de Jesus para com seus discípulos define a “substancia” do verdadeiro amor. Daí que não é um mandamento geral, mas específico, que se circunscreve ao “ser como ele”. Como foi o amor de Jesus com seus discípulos?  É o que se responde, em seguida, nos vv.13-16.

  1. As características do amor de Jesus (cf. 15, 13-16)

O conteúdo dos vv.13-16 é a explanação do “Como eu vos amei”. Se olharmos as grandes ações de Jesus, com relação aos discípulos, notaremos que são, sobretudo, três: Deu sua vida por eles; Fez deles seus amigos e não, simplesmente, seus servidores; e confiou-lhes a missão. Sem dúvida, podemos desdobrar a segunda em duas ações: chama-os a seu serviço, o qual não se descartou; e converte-os em seus amigos.

O mesmo acontece com a terceira: elege-os; envia-os à missão; e assegura-lhes o respaldo firme do Pai, em sua oração missionária. Dai que, as características distintivas do amor de Jesus por seus discípulos são: Deu sua vida por eles; Deu-lhes a honra de serem seus servidores; Levou-os até a intimidade com ele, revelando-lhes seus mistérios; Elegeu-os (=separou); Destinou-os para a missão; Assegura-lhes o respaldo firme do Pai na missão (a obra é d’Ele). O fim de todas estas ações é a formação da comunidade.

Podemos ler, então, Jo 15,13-16, assim:

A comunidade para dentro: uma comunidade de “amigos” de Jesus (cf. vv.13-15). Nela se destacam três ações de Jesus, Senhor da Comunidade: (a) sua entrega na Cruz; (b) o chamado ao serviço; (c) a relação de amizade.

A comunidade para fora: uma comunidade de “enviados” de Jesus (cf. v.16). Nela se destacam também três ações de Jesus, Senhor da Igreja, que a faz: (a) comunidade eleita; (b) comunidade enviada; E (c) comunidade respaldada. Vejamos:

(1) A comunidade para dentro: uma comunidade de “amigos” de Jesus (cf. vv.13-15)

O amor de Jesus constrói uma comunidade de “amigos”. De que maneira Jesus faz, dos discípulos, seus amigos?  Nas mesmas palavras de Jesus podemos notar:

  • Que Ele toma a iniciativa, porém a amizade é “mutua”, por isso espera uma resposta concreta;
  • Que os conduz por dois níveis de relação: a do servidor” e a do “amigo”;
  • Que a amizade se concretiza no “querer juntos o mesmo” e, para isso, passam por duas etapas: a do “conhecer” e a do “fazer”.

Ainda que estas três idéias sejam transversais nos vv.13-15, vão se desenrolando, lentamente, de um a outro versículo. Para ser mais claro, é bom aprofundar nelas, seguindo a ordem dos versículos:

  • Jo 15,13-14: Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando. A disposição para o supremo sacrifício da vida pelo “amado”. Jesus se faz amigo por primeiro e espera que nos façamos seus amigos.
  • Jo 15,15ª: “Já não vos chamo servos”. A honra de estar a seu “serviço”.
  • Jo 15,15b:“…mas vos chamo amigos”.Jesus envolve seus amigos em seu projeto de vida:revela os segredos.

(2) A comunidade para fora: uma comunidade de “enviados” de Jesus (cf. v.16)

O amigo envolve o outro em sua vida. Jesus nos envolve, tanto em sua vida como em sua missão. E tudo isto para que? O fim de tudo é (note-se o “para que”) “dar fruto e um fruto que permaneça”.

Os discípulos, como Jesus, devem tomar a iniciativa no amor. Eles, como Jesus, devem compartilhar tudo o que são e têm, e abrir os corações com confiança para gerar verdadeira comunidade. Eles, como Jesus, devem viver e morrer pelos demais para continuar a obra de Jesus de “dar vida ao mundo”.

Quando a comunidade está bem sedimentada em amor e no projeto de Jesus, ela tem força missionária e transforma o mundo. Isto vemos nas três ideias fortes que aponta Jesus, segundo as quais a Igreja é comunidade: eleita (v.16ª), enviada (v.16b) e respaldada (v.16c).

A Igreja está no mundo para “trazer à luz” frutos da vida do Ressuscitado, que caminha na historia. Neste esforço, pede ao Pai pelas necessidades do povo –as realidades que necessitam da mão do vinhateiro- para que o plano salvífico-amoroso de Deus comece a atuar na vida de todos. Tudo o que iniciou com o amor do Pai: “Como o Pai me amou” (15,9), culmina com a resposta dos discípulos que, vivendo em Jesus, seguem abertos a esse amor e o imploram para o mundo inteiro.

Temos lido, nos últimos três dias, três maravilhosas passagens do Evangelho. Resta-nos, agora, um desafio: amar desde a comunhão com Jesus. Aceitar o espaço em que vivemos como um desafio para transformá-lo a fundo, desde nossos frutos de vida cristã. Assumi-lo como um espaço de oração que implora a manifestação da providencia divina sobre as limitações humanas.

Dar-se, desta forma, no compromisso e na oração, isto é, “amar-nos uns aos outros”. Este é o verdadeiro amor, o amor crucificado com Cristo na Cruz. Seu amor comprometido, seu amor orante, capaz de transformar tudo o que lhe rodeia e ser luz em meio da treva, dignidade em meio da humilhação, ressurreição em meio da morte.  Isto, sim, que é amor.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  • Que características tem o amor de Jesus?

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Quais tem o meu?

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Que me diz a frase: “Já não vos chamo servos mas amigos”?

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  • Qual é a tarefa missionária da Igreja à luz da passagem de hoje?]

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  • Minha vida é uma contemplação contínua da Cruz onde sou amado, um deixar-me escolher pelo Senhor para dar seus frutos, um escutar, amorosamente, seus “segredos”, na leitura da Bíblia e responder-lhe com opções vitais livres e valentes?

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SEXTA-FEIRA

João 16,20-23ª

JESUS FORMA A COMUNIDADE (IV): COMO UMA MÃE QUANDO DÁ A LUZ

“Vossa alegria ninguém pode tirar”

 

Hoje continuamos aprofundando sobre a terceira lição da comunidade pascal. Jesus compara sua Páscoa com um parto: “A mulher, quando vai dar a luz, está triste, porque a sua hora chegou; porém, quando deu a luz ao menino, já não se recorda do aperto pelo gozo de haver nascido um homem no mundo” (v.21)

 

A angústia do nascimento pode fazer pensar que não se vai sobreviver, que tudo chegou só até ai. Porém, depois que nasce o bebê, o rosto da mãe se transforma completamente, não há nada mais formoso no mundo que o rosto de uma mãe feliz, cheia de paz, de gozo, também, ainda, de glória, depois dos trabalhos do parto.

 

É assim que a dor e a aflição passaram: como uma mulher quando tem um parto. A dor dará passagem a uma grande alegria e esta alegria não se acabará, nem poderá ser arrebatada, mas permanecerá. A morte de Jesus será um passo. Com a ressurreição entrará na vida definitiva. Então todos os que vivem sustentam com Jesus a bela amizade descrita em Jo 15, terão imenso júbilo e bem aventurança.

 

Assim como a Cruz trouxe tantas lágrimas para Jesus e para os discípulos, essa mesma Cruz será motivo de nossa liberdade e de nossa felicidade pascal, graças a ela podemos dizer hoje que há cura, redenção, libertação, vida nova em nossa história.

 

Chegado a este ponto em seu discurso, Jesus se torna mais explícito e conclui esta parte de seu ensinamento assim: “Também vós estais tristes agora, porém voltarei a vê-los e se alegrará vosso coração e vossa alegria ninguém os poderá tirar.”

 

Jesus se detém no tema da alegria. A alegria pascal é a superação da causa de nossa tristeza. Com estas palavras nos convida para que exploremos e assumamos a tristeza de “agora”. A causa pode estar em nós mesmos, uma escravidão, um pecado, um problema de saúde, uma situação afetiva, enfim, algo que nos faz viver, continuamente, melancólicos, queixosos e até sem muitos alentos de vida. Porém, pode estar também fora: um familiar ou um amigo nosso que se torna causa de sofrimento, uma má relação, uma situação moral no lar, uma situação de trabalho, etc.

 

A promessa de Jesus sobre a qual se fundamenta sua comunidade pós-pascal é a de uma alegria sem comparação, uma alegria nunca antes experimentada, uma alegria que tem três características:

  • É produzida pelo encontro vivo com Jesus ressuscitado: voltarei a vê-los;
  • É uma alegria profunda, não superficial, é uma alegria que vem de dentro, da raiz da existência, uma alegria de coração: “vosso coração se alegrará”;
  • E uma alegria permanente: “e vossa alegria ninguém a poderá tirar”. Não é uma alegria de um ou dois dias, ou enquanto dura a emoção. Não. É uma alegria que não se acaba nunca, que não passa, que nos acompanha até o final: a bem aventurança presente que se confundirá com a alegria do céu.

 

Assim chegaremos ao definitivo, ali onde já não haverá mais perguntas (16,23ª).

 

Oremos neste dia: Ó Senhor, queremos essa alegria.Tu, como Senhor Ressuscitado és o Senhor da alegria. Que nossa vida cristã seja manifestação dessa alegria. Que nossas comunidades estejam sempre em festa, em gozo da vida nova que, cotidianamente, partilhamos na mesa, na oração, no trabalho partilhado, na fraternidade comunitária. Obrigada por nossas mães, porque elas são o ícone, a imagem viva da Páscoa. Obrigada porque o parto que nos trouxe à luz e a historia, se repete hoje quando voltamos a nascer, porém, à vida nova que brota da Cruz. Ajuda-nos a compreender a verdade de tuas palavras em nossas próprias experiências, especialmente nas tristezas que nos tocam profundamente, para que façamos Páscoa nelas, para que de nossa cruz brote a ressurreição, o homem novo que, amadurecendo,o sofrimento, vê brotar de dentro de si uma nova personalidade formada na tua e modelada na grandeza de teu amor. Amém.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

  • Que indica a comparação da Páscoa com um parto?

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Que diz para a nossa vivência da Cruz?

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  • Jesus fala do “gozo de haver nascido um homem no mundo”. Que tem renascido em minha vida e em minha comunidade nesta Páscoa?

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  • O encontro vivo com Jesus Ressuscitado está suscitando a alegria profunda e perene que promete?

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SÁBADO

Lucas 1,39-56

O CANTICO PROFETICO DA MÃE.

“E disse Maria: ‘Engrandece minha alma ao Senhor e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador’”

 

No evangelho de hoje, a maternidade de Maria é felicitada por Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu seio” (Lc 1,42). O ventre de Maria é reconhecido, por estas palavras inspiradas, como a arca da aliança perfeita na qual o Senhor se faz presente de modo pleno e definitivo. Às palavras de Isabel, responde Maria com outro hino, inspirado pelo Espírito Santo, que anuncia, profeticamente, a obra do Salvador. O conhecemos com o título de “Magníficat”.

Retomemos o texto, tratando de descobrir seus fundamentos, seu conteúdo e seu itinerário oracional perguntando: Em que se baseia o Magníficat? Qual é sua fonte de inspiração? Que canta Maria? Qual é o núcleo de seu conteúdo? Como o canta? Como se desenvolve?

 

  1. Em que se baseia o Magnificat?

 

Lucas nos mostra que o cântico de Maria não é resultado de um simples momento de emoção, mas que vem de um longo processo de tomada de consciência, vivido, primeiro, a partir do encontro consigo mesma, no silêncio, e, logo, por meio da voz inspirada de Isabel.

 

Observemos que o cântico é, em última instancia, a resposta de Maria à primeira palavra que lhe dirigiu o Anjo: “Alegra-te!” (1,28). Depois de um tempo, durante a visão, Isabel lhe recordou, com outros termos, a primeira palavra do Anjo: “Tu és feliz!” (1,45). Agora, após todo este processo de maduração interna, é a própria Maria que vai dizer: “Alegro-me em Deus, meu Salvador!” (1,47).

 

Assim, o “magníficat” é um canto que nasce de um coração agradecido a Deus, de um coração atento à voz e à ação de quem lhe disse que a ama profundamente. Unindo, em sua voz, salmos e cânticos do Antigo Testamento e pondo o olhar na extraordinária novidade de Deus neste novo tempo, Maria pode, agora, expressar a síntese que elaborou em seu coração orante.

 

  1. Que canta Maria?

 

O tema central do Magnificat é Deus: “Engrandece minha alma ao Senhor”. Ele foi o protagonista de tudo o que aconteceu até o momento e de tudo o que virá depois. Tendo como referencia sua experiência pessoal, Maria dá uma olhada retrospectiva na obra de Deus na Historia da Salvação.

 

Com este hino proclama, pois, a grandeza do Deus da historia, que reconhece por sua santidade, poder, misericórdia e fidelidade. Entende, agora, porque o experimenta dentro dela mesma, porque todos estes atributos. Colocou-se no lugar justo para entender a Deus: o dos humildes (1,48; 10,21).

 

  1. Como o canta?

 

Maria entoa sua canção inspirada, proclamando a obra de Deus nela, no mundo e no povo de Israel.

(1) A obra de Deus nela (1,39-49a)

O Deus, a quem reconhece grande em sua santidade, poder, misericórdia e fidelidade, é também seu “Salvador”. E tem sido pondo seus olhos em sua humildade de escrava, amando-a nessa situação, e fazendo maravilhas nela: o poder criador que a fez mãe do Senhor (ver 1,35). Isto a impulsiona a profetizar: “Desde agora todas as gerações me chamarão feliz”. Isabel foi a primeira em fazê-lo e, bem o sabemos, a profecia saída de seus lábios tem se cumprido, até hoje.

(2) A obra de Deus no mundo (1,49b-53)

Erguendo seu olhar contemplativo sobre a humanidade, Maria vê como Deus muda sua situação pelo poder de seu braço.

Primeiro, como que se renova a imagem envelhecida de um Deus distante e estático: o “Santo”, Deus em sua transcendência, é, também, o “Misericordioso”, com um coração próximo ao homem, capaz de comover-se e sofrer com ele. Saboreia sua misericórdia aquele que o teme, quer dizer, quem está aberto, sem resistências, à sua Palavra, que busca seus caminhos.

 

Segundo, Maria, pequena entre os pequenos, apresenta-se como um destes pequeninos da história que, por sua vivencia da misericórdia, está em condições de proclamar a “revolução” que introduz o poder libertador de Deus, “a força de seu braço” (imagem significativa que nos remete ao Êxodo):

 

  • Aos soberbos, orgulhos, presumidos e auto suficientes, oposto ao temor de Deus, os dispersa.
  • Aos que constroem seu projeto de vida, baseando-se no poder e na força humana, os derruba. Pelo contrário exalta ao humilde.
  • Aos que apóiam sua vida nos bens materiais e põem a confiança na própria riqueza, os despede sem nada. Mas assiste aos famintos, a quem a má distribuição dos bens da terra marginalizou.

 

Contemplando, criticamente, a realidade humana e suas desgraças, Maria proclama que o poder de Deus é mais forte que as maquinarias que oprimem a sociedade provocadora de fome e da desigualdade.

 

A escala de valores e a distribuição dos bens que hoje vemos e que tanta indignação nos causa, não é  definitiva, já que Deus tem a última palavra sobre a historia e constrói, com sua Palavra, um novo tecido de relações baseado na fraternidade, justiça e solidariedade (ver primeiros capítulos de Atos).

 

Trata-se, então, de uma visão global da obra do Evangelho, porque Maria faz referencia, justamente, a três dos pontos com os quais choca Jesus em seu ministério.

 

(3) Uma visão ampla da historia da Salvação (1,54-55)

 

Maria está consciente de que está contemplando o vértice da historia, uma historia, na qual, Deus tem caminhado como companheiro fiel de seu povo escolhido. Sinal concreto de seu amor fiel é que, agora, cumpre-se a antiga promessa feita a Abraão.

 

A palavra da promessa foi o fio condutor em todo o Antigo Testamento e se cumpre através da obra começada agora em Maria: a Encarnação.

 

Antecipando-nos ao final do Evangelho, podemos dizer que o mesmo que Abraão, também Maria passou pela prova da fé e saiu vitoriosa: hoje a obra segue adiante, seu Filho Jesus é o último e definitivo sucessor de Davi (ver 1,32-33), Senhor e Salvador, n’Ele se cumpre a promessa da benção (ver Gn 12,1-3) que, ao fim de tudo, é o dom da plenitude de vida.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • À luz do canto de Maria, que relação há entre “oração” e “vida”?

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Que elementos do canto nos ajudam caracterizar a espiritualidade de uma pessoa que quer viver sua fé comprometida com sua realidade?

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  • Quais são os momentos do cântico de Maria?

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Que caracteriza cada um?

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Que lição nos dá Maria para nossos momentos de oração?

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  • Que valor tem orar pelas tardes com as mesmas palavras de Maria?

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Como recolhe e expressa o que se vive ao longo de uma jornada?

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Que me ensina o cântico de Maria quando disse que Deus é “meu Salvador”?

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Que relação tem com o natal e com o mistério pascal?

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