Exercícios de Gratidão (EFC)

Lucas 17,11-19

A espiritualidade de “dar graças”

“Não há voltado mais que este estrangeiro para dar gloria a Deus?”

A frase de Lucas, o narrador do evangelho, “E aconteceu que, a caminho para Jerusalém” (17,11), nos indica que entramos em uma nova etapa da viagem didática a Jerusalém que Jesus empreendeu com seus discípulos desde 9,51.

Daqui até o final da viagem (19,48) vamos nos encontrar com uma serie de temas que giram em torno à vinda do Reino, quer dizer, da salvação, tais como: o louvor a Deus, a perseverança na oração, a humildade, a renuncia, a chegada da salvação, o serviço a Deus, curas por misericórdia.

Começamos com a cura de dez leprosos (17,11-19; recordemos a cura de outro leproso em Lc 5,12-14). Este relato, em particular, quer inculcar-nos o dever da gratidão, quer dizer, do reconhecimento daquele de quem verdadeiramente vem a salvação.

Notemos alguns aspectos importantes deste belo relato:

  • O v.11, ao recordar-nos que Jesus viaja em direção de Jerusalém, a cidade na qual vai ser crucificado, ressuscitar e derramar seu Espírito nos indica em que chave devemos ler esta historia: a da salvação que vem de Jesus.
  • O v.12 nos apresenta a oração dos leprosos. Eles se mantêm a distancia, porque não podiam mesclar-se com a população sã. A lei diz que o leproso: “se cobrirá até o bigode e irá gritando: ‘Impuro! Impuro!… É impuro e habitará só; fora do acampamento estenderá sua morada” (Lev 13,45-46). Os dez leprosos pedem com um grito a Jesus que tenha “misericórdia” (v.13).
  • No v.14 Jesus não se faz esperar, lhes responde imediatamente. Em sua resposta lhes pede um ato de fé (ver 17,5-6), eles devem ir a Jerusalém como se já estivessem curados. E efetivamente o fazem, confiam no poder de sua palavra e se curam.
  • A partir do v.15 Jesus fica frente aos dez leprosos. O leproso agradecido: (a)se vê curado, (b) volta a Jesus, (c) glorifica a Deus em voz alta, (d) adora a Jesus prostrando-se a seus pés e (e) lhe dá repetidamente graças. Destaca-se o tema do louvor e ação de graças festiva e expressiva.
  • Nos vv.16-17 Jesus lhe faz três perguntas aos que o circundam, das quais não espera resposta (estas vêem da resposta que lhe damos – nós leitores). As perguntas de Jesus fazem eco a uma realidade que Lucas acaba de nos recordar: “este era um samaritano”.

As perguntas de Jesus soam quase a reclamação, porém na realidade são um convite para uma profunda reflexão sobre a espiritualidade de ação de graças: o samaritano dá graças porque há se deixado surpreender pela ação de Deus, ao contrário os demais – os que têm estado continuamente em contacto com as grandes obras de Deus – tomam como algo “normal” e simplesmente seguem seu caminho.

Agradece aquele que é capaz de admiração, que não se sente com “direitos adquiridos” com Deus, que descobre que tudo é graça, que nada é merecido.

Às vezes nos acontece na família e nas comunidades: estamos tão habituados a receber serviços que pouco a pouco vamos esquecendo de agradecer. Porém, não deveria ser assim, cada dia poderíamos ler o pequeno gesto de amor como uma imensa novidade, com um convite à alegria.

Além do mais, quem agradece fica, de alguma forma em divida com o outro. Por isso, o reconhecer –mediante o agradecimento- um bem que nos foi feito, de alguma maneira nos compromete com o outro. Talvez os outros dez leprosos só queriam, como acontece tantas vezes nas relações com Deus, o favor imediato, porém, não o compromisso do seguimento até a Cruz.

Como conclusão, Jesus disse ao leproso: “Levanta-te e vai-te; tua fé te salvou” (v.19). Aparece assim o tema da salvação, que não consiste tanto na cura física (que também receberam os outros nove leprosos), mas a recuperação da vida em sentido pleno, o dom da vida recebido pelas benditas mãos de Jesus, presença viva de Deus em meio dos homens.

O dom da salvação é para quem sabe reconhecê-la pelo caminho humilde da gratidão.

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