Lectio Divina de 01 a 07 de Julho

 

ÍNDICE DA SEMANA 

Domingo, 28 – Mateus 16,13-19 (Profissão de fé e primado de Pedro)

 

«O Senhor me assistiu e me revestiu de forças» (2 Tm 4,17)

 

Solenidade de São Pedro e São Paulo: “Estes mártires viveram o que pregaram, pois seguiram a justiça, confessando a verdade, morrendo pela verdade” (Sermón 295,1). Qualquer leitura do Evangelho, ainda que seja superficial, permite concluir que Pedro foi o primeiro e o mais destacado do grupo dos Doze discípulos que Jesus elegeu e formou pessoalmente durante sua vida terrena. Pedro aparece primeiro em todas as listas dos Doze (Mc 3,16;Mt 10,2;Lc 6,14;At 1,13); só a ele disse Jesus particularmente: “De agora em diante serás pescador de homens” (Lc  5,10); só a ele disse por 3 vezes: “Apascenta  minhas  ovelhas” (Jo 21,15.16.17); sobretudo, só a ele disse, como veremos mais adiante: “A ti darei as chaves do Reino dos Céus; e o que atares na terra ficará atado nos céus, e o que desatares na terra ficará desatado nos céus” (Mt 13,19). São Paulo, por outro lado, não pertenceu ao grupo dos Doze e não reunia as condições indicadas por Pedro para ser incorporado a esse grupo, quando se tratou da substituição de Judas: ser “um dos homens que andaram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus conviveu conosco” (At 1,21). E, sem dúvida, ninguém pode negar que haja sido um grande apóstolo até o ponto de merecer ser celebrado em uma só solenidade junto com Pedro.

 

Segunda-feira, 29 – Mateus 8,18-22 (Exigência da vocação)

«O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de amor” (Sl 102,8)

 

Terça-feira, 30 – Mateus 8,23-27(A tempestade acalmada)

“O Senhor é minha luz e minha salvação” (Sl 26,1)

 

Primeiros Mártires da Igreja de Roma (+64-67) – Os rimeiros Mártires da Igreja de Roma são recordados conjuntamente, neste dia, os inúmeros cristãos que sofreram o martírio em Roma, acusados, injustamente pelo imperador Nero de terem incendiado a cidade.

 

Quarta-feira, 01– Mateus 8,28-34 (Os endemoninhados gadarenos)

«Eu, como uma oliveira verde na casa de Deus,

 confio no amor de Deus para sempre e eternamente» (Sl 51,10)

 

Quinta-feira, 02– Mateus 9,1-8 (Cura de um paralitico)

«Sei em quem coloquei minha confiança» (2 Tm 1,12).

 

Sexta-feira, 03– João 20,24-29 (Primeira aparição de Jesus aos Discípulos)

“Meu Senhor e meu Deus”

 

São Tomé, Apóstolo e Mártir (+ Índia, séc. I) – Do grupo dos Doze. O Senhor o chamou dentro de sua realidade, com suas fraquezas e até com suas crises de fé. Jesus revelou a nós coisas maravilhosas através de Tomé: “Tomé lhe disse: ‘Senhor, nós nem sabemos para onde vais, como poderíamos saber o caminho?’ Jesus lhe disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). Tomé nunca teve medo de expor a realidade de sua fé e de sua razão, que queria saber cada vez mais e melhor. Quando Jesus apareceu aos apóstolos ao ressuscitar, Tomé não estava ali, e aí encontramos seu testemunho: “Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende atua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,26-28). O Papa São Gregório Magno meditando essa realidade de São Tomé diz: “A incredulidade de Tomé não foi um acaso, mas prevista nos planos de Deus. O discípulo, que duvidando da Ressurreição do Mestre, pôs as mãos nas chagas do mesmo, curou com isso, a ferida da nossa incredulidade.” Segundo a Tradição, Tomé teria ido, depois de Pentecostes, evangelizar pelo Oriente e Índia onde morreu martirizado, ou seja, por amor, testemunhando a sua fé.

 

Sábado, 04– Mateus 9,14-17 (Discussão sobre o jejum)

«Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

que nos abençoou com toda benção espiritual» (Ef 1,3)

 

Santa Isabel de Portugal, Viúva (+ Estremoz, 1336) – Era filha do rei Pedro III, de Aragão, e da rainha Beata Constança. Era sobrinha-neta de Santa Isabel da Hungria. Foi a neta preferida de Jaime I, o Conquistador, grande rei de Aragão. Casou, aos 12 anos de idade, com D. Diniz, que foi rei de Portugal. É conhecida em Portugal como a Rainha Santa. Sofreu muito com as infidelidades e ciúmes do marido, e teve papel decisivo na pacificação das freqüentes contendas familiares. Exerceu também papel muito importante na pacificação de conflitos entre reinos cristãos, na intrincada política peninsular da Idade Média. Viúva, passou a viver em pobreza voluntária, na fidelidade ao espírito da Ordem Terceira de São Francisco. Era inesgotável sua caridade. Morreu em Estremoz e teve seu corpo conduzido para Coimbra, onde a sepultaram no Convento de Santa Clara, cuja construção dirigira pessoalmente.

 

 

 LECTIO DIVINA

 

 DOMINGO, 01 DE JULHO DE 2018 – Solenidade de São Pedro e São Paulo – ANO B

Mateus 16,13-19 (Profissão de fé e primado de Pedro)A confissão de Pedro é um texto de grande impor­tância para a vida do cristianismo e se compõe de duas partes: a resposta de Pedro sobre o messianismo de Je­sus, Filho de Deus (vv.13-16); e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro (vv.17-19). Sobre a pergunta que dirige Jesus a seus discípulos, po­demos sublinhar dois pontos de vista: o dos homens, com sua apreciação humana: (“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”; v.13:) e o de Deus, com o correspondente conhecimento sobrenatural (“E vós quem dizeis que eu sou? v.15). A opinião do povo do tempo de Jesus reconhecia nele um profeta e uma personalidade extraordinária (v.14). A opinião dos doze, ao contrário, é expressada pela confissão de fé de Pedro: Jesus é o Messias, o Filho de Deus (cf. v.16). Mas, essa revelação é fruto exclusivo da ação do Espírito Santo, “pois isso não te reveleou nenhum mortal, mas meu Pai, que está nos céus” (v.17). Por causa desta confissão, Pedro será a rocha sobre a qual Jesus edificará sua Igreja. A Pedro e a seus sucesso­res foi confiada uma missão única na Igreja: são o fundamento visível dessa realidade invisível que é Cristo ressuscitado. Ambos constituem a garantia da indefectibilidade da Igreja ao longo dos séculos. De outro lado, o poder especial outorgado, por Jesus a Pedro, expressado pelas metáforas das chaves, do «atar» e «desatar» (v.19), indica que terá este autoridade para proibir e permitir na Igreja.

 

 

At 12,1-11 (Prisão de Pedro e sua libertação miraculosa) – Estamos em tempos da perseguição contra a Igreja por obra de Herodes Agripa, nos anos 41-44. Pedro, como Jesus, foi arrastado durante os dias da páscoa judia e encarcerado (cf. Lc 22,7). Lucas nos faz compreender a sorte que havia correspondido a Pedro se o Senhor não tivesse intervindo com um milagre (vv.1-4). Este tem lugar com a libertação da morte certa por meio de um anjo. O evangelista põe de relevo, a seguir, a grandeza da libertação de Pedro, toda ela obra de Deus, até tal ponto, que os cristãos não podiam dar crédito a seus olhos. Deus manifesta, assim, sua benevolência com os primeiros cristãos de modo extraordinário. O relato da libertação do apóstolo se divide em duas partes. A primeira nos conta o que acontece na prisão, onde dorme Pedro confinado, e o procedi­mento de sua libertação por meio do anjo (vv.7ss). Na segunda se descreve como o anjo e Pedro percorrem os caminhos da cidade, enquanto as portas se abrem facilmente à sua passagem. Depois disto, desaparece o anjo libertador (vv.9ss). Uma vez salvo, disse Pedro: “Agora me dou conta de que o Senhor enviou a seu anjo para livrar-me de Herodes e das maquinações que os judeus haviam tramado contra mim”, e se reúne com sua Igreja, que estava orando por ele (cf. v.5). Para Lucas, esta é a páscoa de Pedro, quer dizer, a libertação definitiva do mundo judeu, e a libertação do cabeça dos apóstolos se converte em sinal concreto da salvação que devem levar também aos gentios.

 

2 Tm 4,6-8.17ss (Solene admoestação) – O texto nos apresenta o testamento de Paulo, que sente, agora, próxima, sua morte. Após fazer algumas recomendações a Timóteo, o apóstolo nos faz conhecer seu estado de ânimo: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas, não vítima, pois tem a consciência tranquila e o Senhor está com ele. Conservou a fé e a vocação missionária, fiel ao mandato recebido. É consciente de que «combateu o bom combate, concluiu sua carreira» (v.7). Compara-se, então, com a «libação» que se derra­mava sobre as vítimas nos antigos sacrifícios: quer morrer como um verdadeiro lutador, tal como viveu, consciente de ter se doado por completo a Deus e aos irmãos. É consciente de que agora lhe espera a vitória prometida ao servo fiel e, também, a todos os que «esperam com amor sua vinda gloriosa» (v.8). A conclusão do trecho sublinha os sentimen­tos pessoais do apóstolo dos gentios, seu amor pela causa do Evangelho, sua imitação da pessoa de Cristo, e sua consciência de ter levado a obra de salvação aos gentios, à qual havia sido cha­mado pelo Senhor (v.17).

 

Salmo 33/34 (Louvor à justiça divina) – Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Ó meu Senhor Jesus Cristo, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e me faça presente e nunca falte as minhas orações por todas as iniciativas e realizações que busquem resplandecer o teu amor e a tua justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

MEDITATIO: A Igreja celebra, através destes dois apóstolos, seu fundamento apostólico, mediante o qual se apoia diretamente na pedra angular que é Cristo (cf. Ef 2,19ss). São Pedro e São Paulo são os «fundadores» de nossa fé; a partir deles se trava o diálogo entre instituição e carisma, a fim de fazer progredir o caminho da vida cristã. O pescador da Galileia iniciou sua extraordinária aventura seguindo o Mestre de Nazaré, primeiro, na Judéia e, a seguir, após sua morte, até Roma. E ali ficou não só com sua tumba, mas com seu mandato, quer dizer, naqueles que têm subido à «cátedra de Pedro». São Pedro continua sendo, nos bispos de Roma, a «rocha» e o centro de unidade, sobre o qual Cristo edifica sua Igreja. São Paulo, o Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, converteu-se, de perseguidor de Cristo em zeloso missionário de seu Evangelho. Tomado pelo amor ao Senhor, Jesus Cristo chegou a ser para ele sua maior paixão (2 Cor 5,14), até o ponto de dizer: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo quem vive em mim» (Gl 2,20). Seu martírio revelará a substância de sua fé. A evangelização destas duas colunas da Igreja não se apoia em uma mensagem intelectual, mas em uma experiência profunda, sofrida e testemunhada com a palavra de Jesus.

 

ORATIO: Ó Deus, que com inefável sacramento quiseste pôr na sede de Roma a potestade do principado apostólico, para que dela a verdade evangélica se difundisse por todo o mundo, concede que o que se tem difundido por sua pregação em todo o orbe seja seguido com toda a devoção cristã.

 

CONTEMPLATIO: […] nos apóstolos Pedro e Paulo quiseste dar a tua Igreja um motivo de alegria: Pedro foi o primeiro em confessar a fé; Paulo, o mestre insigne que a interpre­tou; aquele fundo, a primitiva Igreja com o resto de Israel, este a estendeu a todas as gentes. Desta forma, Senhor, por caminhos diversos, ambos congregaram a única Igre­ja de Cristo, e a ambos, coroados pelo martírio, ce­lebra, hoje, teu povo com uma mesma veneração (Missal romano, prefácio da missa do dia).

 

AÇÃO: Repete hoje com frequência orando com São Pedro e São Paulo:

«O Senhor me assistiu e me revestiu de forças» (2 Tm 4,17)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL- A liturgia fixa, hoje, alguns momentos na rica e agitada vida dos dois apóstolos. Domina, sobretudo, a cena de Cesareia de Filipo, descrita no texto evangélico. Que reteremos, em particular, deste episódio tão célebre? Estas palavras: «Tu és Pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». A Igreja, pois, não é uma sociedade de livres pensadores, mas é a sociedade, ou melhor, a comunidade dos que se unem a Pedro na proclamação da fé em Jesus Cristo. Quem edifica a Igreja é Jesus Cristo. É Ele quem elege, livremente, um homem e o põe na base. Pedro não é mais que um instrumento, a primeira pedra do edifício, enquanto que Jesus Cristo é quem põe a primeira pedra. Sem dúvida, de agora em diante, não se poderá estar verdadeira e plenamente na Igreja, como pedra viva, se não se estar em comunhão com a fé de Pedro e com sua autoridade; ou, ao menos se não se tende a estar. Santo Ambrosio escreveu umas palavras vigorosas: «Ubi Petrus, ibi Ecclesia», «Onde está Pedro, ali está a Igreja». O que não significa que Pedro seja, por si só, toda a Igreja, mas que não se pode ser Igreja sem Pedro (R.Cantalamessa, La Parola e Ia vita).

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 02 DE JULHO DE 2018- 13ª Semana do Tempo Comum – Ano B

Mateus 8,18-22 (Exigência da vocação) =Lc 9,57-40Jesus mandou os seus discípulos passarem à outra margem do mar. Continuando, seguem-se duas verdades que têm como tema o seguimento de Jesus e mostram dois aspectos diferentes do mesmo: a dificuldade e a ur­gência. No primeiro caso aparece um mestre da Lei que quer seguir Jesus como a um mestre e a cuja escola deseja pertencer. É ele que toma a iniciativa; a resposta que recebe é absolutamente desencorajadora. Assim é: quem se põe a seguir a Jesus carecerá de toda segurança, porque Ele – do mesmo modo, que os animais encurralados ou caçados, não têm onde refu­giar-se: está só e não tem onde proteger-se. No v.20 poderia haver uma alusão ao Sl 36,24ss, a saber: à condição do homem solteiro, com efeito, a toca, ou o ninho, seria o lar que faz falta ao homem que não tem mulher. Jesus não anima, pois, a quem quer seguir-lhe, como tantos rabinos, para converter-se em mestres. «Segue-me», diz, ao invés, a um discípulo. O que para o mestre da Lei é Deus e sua lei; para o discí­pulo, é Jesus e seu caminho: o único tesouro, o único afe­to, ao qual não se pode antepor nada, em absoluto. Por isso, Jesus não permite nenhuma dúvida e sua palavra expre­ssa uma urgência extrema que, ainda com o risco de contrariar a obrigação de honrar ao seu pai, conduta própria de todo filho varão, mostra que é preciso preocupar-se mais de não estar «mortos», de dar sepultura aos mortos. Com efeito, os que não entram no Reino de Deus estão mortos, e o seguimento de Jesus é a porta de acesso ao Reino de Deus, porque Jesus, só Ele, é o Kyrios, o Senhor de todos.

 

 

Gn 18,16-33 (A intercessão de Abraão)- Nesta página bíblica, no contexto de uma refle­xão teológica precisa, é apresentado Abraão, o «amigo de Deus», eleito para ser uma grande nação, como o grande intercessor. De fato, Abraão surge como “pai da justiça e do direito”, realidades que são a alma da vida de aliança com Yahweh. O narrador indica o verdadeiro objetivo do relato no monólogo de Deus. Com efeito, a Abraão e à sua descendência deve ficar claro o sentido da inter­venção punitiva de Deus contra Sodoma, de modo que fique a salvo a justiça divina. O «caso» das cidades corruptas constitui um exemplo ótimo para tratar sobre o tema da salvação dos justos e do castigo dos malvados, assim como para falar do papel de alguém que intercede. Em primeiro lugar (v.20), se apresenta com uma linguagem técnica – “o clamor” –  ou melhor, a querela, que sobe de Sodoma. Por hora não se há dito do que se trata. No capítulo 19 compreenderemos que o pecado consiste em uma gravíssima falta de hospitalidade. Imediatamente depois voltam à cena os três personagens do relato precedente, cujas funções se esclarecem. Dois deles se dirigem para Sodoma, enquanto “Deus seguia em presença de Abraão», como dizia o texto original, corrigido pelos escribas para evitar uma falta de respeito ao Senhor. A vivacidade do relato reflete o gosto, absolutamente oriental, pela negociação. Abraão aparece aqui como um poderoso intercessor, audaz e apaixonado na arte de engendrar para salvar aos justos, apoiando-se no fato de que «o juiz da terra» não po­de deixar de praticar a justiça. Deus estaria disposto a perdoar à cidade em consideração a uns poucos inocentes: bastaria dez. Aqui se detém Abraão, o perfeito intercessor do Antigo Testamento. Todavia não surgira ainda o único Justo – prefigurado no Servo do Segundo Isaias (cf Is 53) – que estará em condições de oferecer, com sua própria vida e morte, o sacrifício perfeito: Jesus, “sempre vivo para interceder em nosso favor” (Hb 7,21).

 

Sl 102/103 (Deus é amor) – Com um canto suave, o salmista goteja afeto e amor ao Senhor e canta suas maravilhas e atos de ternura para conosco. Devemos meditar este Salmo lentamente, saboreando cada palavra que nos introduz nos mistérios do coração de Deus. Quando o rezamos com fé, o Senhor nos fortalece e confronta. Todo o amor de Deus Pai podemos contemplar na pessoa de Jesus: “Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e seu amor pela humanidade” (Tt 3,4) O Pai nos enviou seu único Filho, Jesus, por puro amor a nós e para que Ele nos ensinasse o caminho da vida plena. O grande hino de ação de graças que podemos oferecer ao Pai em resposta à sua generosidade não é realizado por palavras, mas sim com a própria vida. Tocam-me profundamente as palavras deste Salmo: “[O Senhor é] lento para a cólera e rico em bondade”. Ele tem pressa em nos amar, nos perdoar. Não perca tempo, o Senhor está lhe esperando! Se você compreende melhor este Salmo, leia e medite o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, as três grandes parábolas da misericórdia. Bendize minh’alma e não se esqueça de nenhum dos benefícios do Senhor.

Ó Senhor, como é maravilhoso parar um pouco as minhas atividades e pensar em quantos benefícios até hoje tenho recebido do teu amor. Deixa que minha alma, como a do salmista, se expanda, dilate e cante “bendize minha alma ao Senhor por todos os benefícios e não esqueça nenhum”. Quero agradecer-te por me ter criado; como é bela a vida; mesmo mesclada pelo sofrimento, com decepções; com dores, vale a pena viver e agradecer com todas as batidas do meu coração, com todos os meus tons e repertório. Que tudo cante teu louvor. Bendigo-te por minha família, pelos pais, por todas as pessoas que passaram hoje na minha vida: obrigado, Senhor. Animado pela força da fé, te quero também bendizer pelas cruzes, pelos sofrimentos e por todas as pessoas que me fizeram sofrer e que me ajudaram a amadurecer na minha caminhada. Com Santa Teresinha quero te dizer “tudo é graça”; agradeço-te com a lucidez que hoje tenho, Senhor Jesus, por tudo o que vier até a minha morte; dá-me a força para sempre dizer: muito obrigado por tudo. Amém.

 

 

MEDITATIO: Vivemos em uma época marcada por uma espécie de delírio de onipotência. O homem parece não pôr limites ao seu prazer, mas, por outro lado, se encontra mudo e desorientado cada vez que tropeça com acontecimen­tos como a morte, que o fazem tocar com a mão sua extrema impotência, e aos quais não pode dar um sentido fora de uma perspectiva de fé. Sem dúvida, o homem é chamado, verdadeiramente, a possuir uma grandeza inesperada, ainda que só se aceite ser criatura e aderir-se a um desígnio que não é seu. “Eu não os chamo servos… mas os chamo amigos”: isso é o que diz Jesus (cf. Jo 15,12-17). Na passagem do Gênesis, proposta à nossa meditação, vemos Deus que se pergunta: «Como vou ocultar a Abraão o que penso fazer?». Ele, Deus, de fato, é quem elegeu Abraão, uniu-se a ele, e isto dá a seu amigo um grande poder sobre o coração divino, um poder de intercessão que Deus mesmo susci­ta, pois quer ser rogado suplicado, para poder manifestar sua suma justiça, que é a misericórdia. Abraão se detém, no relato, em dez justos: com efeito, será preciso es­perar ainda a chegada do único Justo, que, carregado com a culpa de todos, salvará, não só as cidades corruptas, mas toda a humanidade, lavando-a em seu sangue. Então Deus seguirá estando ainda mais conosco e escolherá amigos para associá-los a sua missão de Salvador. Contudo, a iniciativa dessa eleição seguirá sendo sempre sua e só sai: “Não fostes vós que me elegestes, mas fui eu que vos escolhi”. Deus é Deus, e a nossa verdadeira liberdade consiste em conseguir pronunciar um “sim” de assentimento pleno e amoroso à sua eleição. Jesus não pode ser seguido senão por amor a Ele. Todas as outras motivações desaparecerão um dia: então nos encontraremos com nossos sonhos esfarrapados. Poderemos ser seus amigos e converter-nos em intercessores só quan­do tivermos aderido à sua pessoa, não pelas vantagens que isto pode carrear-nos, mas só por deixar-nos conduzir por seu caminho de peregrino que não tem aonde reclinar a cabeça. Esse chamado – quando é verdadeiro – ­tem uma urgência e um valor que o faz inevitável. Então, e só então, tomará corpo essa inesperada grandeza que consiste em ser amigos de Deus, de um Deus poderoso que se fez débil para receber nosso amor.

 

ORATIO: Senhor, também nós, como os grandes orantes do Antigo Testamento, ficamos surpresos ante o mistério de tua grandeza e, ainda mais, ante o dom de tua benevolência. Os céus dos céus não podem conter-te e, sem dúvida, tu, que ao vir a terra elegeste uma vida de pobreza e abandono, te apresentas cada dia como ali­mento para nossa fome de amor e de vida. Transborda nosso coração de infinito agradecimento que nos converta, em meio dos irmãos, em alegres testemunhas de tua amizade com os homens. Converte-nos, também, em audazes intercessores, para que a ninguém falte a ale­gria de saber-se eleito e amado desde toda a eternidade. Amém.

 

CONTEMPLATIO: Oração, segundo sua condição e natureza, é união do homem com Deus; mas, segundo seus efeitos e operações, oração é guarda do mundo, reconciliação de Deus, mãe e filha das lágrimas, perdão dos pecados, ponte para passar as tentações, muro contra as tribulações, vitória das batalhas, obra dos anjos, manutenção das substâncias incorpóreas, sabor da alegria vindoura, obra que não se acaba, manancial de virtudes, procuradora das graças, vantagem invisível, mantenedora do ânimo, luz do entendimento, suspensão do desespero, argumento da fé, desterro da tristeza dos monges, tesouro dos solitários, diminuição da ira, espelho do bom uso, indício da medida das virtudes, declaração de nosso estado, revelação das coisas vindouras e significação da clemência divina aos que perseveram chorando nela. Tudo isso se diz ser a oração. Seja simples todo o fio da oração, sem multiplicação e elegância de muitas palavras, pois só com uma se reconciliou com Deus o publicano e o filho pródigo. Um é o estado dos que oram, mas nele há muita variedade e diferença de orações. Pois há uns que ficam ante Deus como ante um amigo e senhor familiar, oferecendo-lhe orações e louvores não tanto por si, mas por outros, como fazia Moisés. Há outros que pedem maiores riquezas e maior glória e confiança. Outros pedem instantemente ser de todo liberto do inimigo. Há alguns que pedem honras e dignidades; outros, o pagamento total de suas dívidas. Sobretudo ponhamos em primeiro lugar em nossa oração, como entrada dela, uma sincera ação de graças; e no segundo aconteça a confissão e contrição, que saia do íntimo afeto de nosso coração; e depois destas duas coisas signifiquemos nossas necessidades a nosso Rei, e façamos-lhe nossas petições. Não uses de palavras adornadas e elegantes na oração, porque muitas vezes as palavras das crianças, pura e simplesmente ditas quase balbuciando, bastarão para aplacar a seu Pai, que está nos céus. Não se esforce por falar muitas palavras na oração, para que não se distraia teu espírito, inquirindo e buscando muitas coisas que dizer. Geralmente o Senhor se incendeia mais em amor aos homens agradecidos, ouvindo mais prontamente sua oração (…). Não di­gas, após ter estado em oração, que não apro­veitaste nada, porque já aproveitaste em estar ali. Porque, que coisa pode ser mais elevada que achegar-se ao Senhor e perseverar com ele nesta unidade? (João Clímaco, La escala espiritual).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de amor” (Sl 102,8)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Para a oração levamos toda a nossa vida. E nós somos seres em relação com os outros: os outros fazem parte de nós. Portanto, na oração nos sentimos confirmados, também, na fraternidade. Que quer dizer, de fato, interceder? Etimologicamente, interceder significa «dar um passo», «interpor-se» entre duas partes. Em particular, é dar um passo para alguém em favor de outro. Conforme o Sl 85,11 poderíamos dizer que na intercessão «se encontram a fé e o amor», «se abraçam a fé em Deus e o amor pelo homem». Este caminhar entre Deus e o homem; apertados entre a obediência à vontade de Deus e a misericórdia pelo homem, explica a razão de que, na Bíblia, a intercessão en­contre sua representação plena e total em Cristo, «único media­dor entre Deus e os homens» (1Tm 2,5). Sim, é com Cristo, e este crucificado, que encontra sua realização o anseio de Jó: «Se houvesse entre nós, Senhor, algum árbitro que pudesse mediar entre ambos» (cf. Jó 9,33). Cristo crucificado pode mediar entre Deus e o homem. Na intercessão aprendemos a oferecer-nos a Deus pelos outros e a viver esta oferenda de um modo concreto na vida diária. Só no Espírito, que nos arranca de nossa indivi­dualidade fechada, podemos orar pelos inimigos, passo essencial para chegar a “amar” fazer «amar» os ini­migos (Mt 5,44). Existe uma estreita reciprocidade entre a oração e o amor. Mais ainda, poderíamos dizer que o cume da intercessão não consiste tanto em palavras pronunciados ante Deus, como em um viver ante Deus na posição do crucificado, com os braços es­tendidos, em fidelidade a Deus e solidariedade aos homens. Até esse ponto está claro que a intercessão é a essência mes­ma de uma vida devorada pelo amor a Deus e aos homens (E. Bianchi, Le parole della spiritualità, Milán).

TERÇA-FEIRA, 03 DE JULHO DE 2018 – 13ª Semana do Tempo Comum – Ano B

Mateus 8,23-27(A tempestade acalmada) =Mc 4,35-41; Lc 8,22-25 O fragmento de hoje se abre com uma nota que, em sua aparente normalidade, encerra um elemento chave para a interpretação deste relato, conhecido como o milagre da tempestade acalmada. Jesus é o primeiro a subir na barca e seus discípulos o «seguem». O próprio Mateus relê o episódio como figura da Igreja que atravessa o mar tempestuoso da história com a pre­sença de Jesus, presença real, ainda que escondida e silenciosa, não a exime de desconcertos e medos. Por outro lado, Mateus não fala, propriamente, de «tempestade», como faz o evangelis­ta Marcos, mas usa o termo «seis­mós», que tem claro sabor apocalíptico: trata-se, portanto, de uma grande tribulação pela qual deve passar a barca dos discípulos de Jesus. Agoniados, o despertam gritando: “Senhor, sal­va-nos!” (Kyrie, sôson), uma invocação quase litúrgica e muito diferente da referida por Marcos: «Mestre, não te importa que pereçamos?» (v.48). Há outro detalhe particular que nos ajuda a compreender a perspectiva eclesial de Mateus: Jesus, dife­rente do relato de Marcos e Lucas, antes de fazer o milagre, repreende os discípulos por serem «de pouca fé» (v.26, literalmente), ou seja, por sua fé ainda incerta e vacilante. Só então é que Jesus «se levantou, conjurou» os ventos e o mar, como se fossem seres endemoninhados (cf. também Mc 4,39). A passagem se encerra com uma nota de admiração ante o poder de Jesus, ca­paz de submeter até os elementos cósmicos (v.27). Ele, e só ele, pode dormir em meio da tempestade, por­que repousa no seio do Pai e desperta no po­der de Deus que nos salva, não da morte, mas na morte, despertando-nos a uma vida nova, ressuscitada, que durará para sempre.

 

 

Gn 19,15-29 (Destruição de Sodoma)- No «ciclo de Ló» se recolhe uma antiquíssima ex­plicação da origem de uma paisagem espectral situada ao sul do mar Morto e que ainda hoje surpreende e im­pressiona. Trata-se, talvez, de uma verdadeira relíquia histórica de algum desastre natural e relida pelo narrador em chave teológica. Perfila-se ainda melhor a contraposição entre a hospitalidade de Abraão e a falta dela no povo de So­doma. Ló, que havia escolhido para ele a melhor parte, perde agora tudo: terra, bens, mulher, e só terá descendência através de um incesto com suas filhas; enquanto que Abraão, por ter confiado na promessa de Yahweh, terá uma descendência numerosa e possuirá a terra. O texto de hoje se abre com uma tensão dra­mática entre a urgência dos mensageiros e a dúvida de Ló, que segue sendo observado pelo autor do relato de um modo negativo. Só seu parentesco com o nosso patriarca Abraão é que lhe faz objeto de «uma grande misericórdia» da parte do Senhor. Deus, de fato, lhe concede refugiar-se em Soar, cidade do vale cuja denominação popular se explica deste modo “Vê, ai próximo há uma cidade pequena” (v.20). O relato acaba com o nosso patriarca Abraão contemplando do alto a zona do desastre. Seu olhar marca, não só uma antítese ao olhar curioso da mulher de Ló, que se converte em estatua de sal; é também o olhar de quem se sente objeto da «memória» de Deus que lhe salva. Assim é, porque Deus se recorda sempre de «sua santa aliança, do juramento que fez a nosso antepassado Abraão para conceder-nos que, livres de nossos inimigos, possamos servir-lhe sem temor, com santidade e justiça em sua presença durante toda nossa vida» (cf. Lv 2,72-75).

 

Salmo 25/26 (Súplica do inocente) – Esse é o cântico daqueles que lutam pela justiça e não se deixam contaminar pelo mal. Ter diante de nós a fidelidade e o amor de Deus e caminhar na justiça e na retidão são os caminhos para a santidade e a felicidade. Muitas são as situações que nos agridem na vivência da Palavra de Deus. Às vezes, somos tentados a seguir caminhos do mal para suprir a necessidade de algo que nos falta. É esta a tentação à qual devemos resistir sempre, pois é melhor sermos pobres e honestos do que ricos e desonestos. Amar a beleza da casa de Deus é viver na intimidade com o Senhor.

Senhor dá-me a força de resistir às seduções e aos convites que pessoas desonestas me fazem para ganhar dinheiro fácil. Não quero ter uma vida cômoda, ganha por meio de caminhos ilícitos e pecaminosos. A minha fidelidade ao teu amor me impede de envolver-me nos caminhos dos maus, perversos e sanguinários. Aqueles que te seguem não podem fazer aliança com eles. Amém.

 

 

MEDITATIO: Pode-se perceber mais de uma analogia entre as lei­turas propostas pela liturgia de hoje. Em ambas se fala de uma situação tranquila que sofre uma mudança imprevista: o fogo que desce do céu e o desencade­amento dos elementos naturais sobre o mar agitado. Em ambos os casos se oferece ao homem aterroriza­do uma salvação misericordiosa de alguém que lhe presta socorro. Ambas as situações podem ser uma grande figura da condição humana, da viagem do homem à salvação, uma viagem espreitada por inúmeras adversidades que, com frequência, fazem que o homem se sinta amedrontado ante as realidades que lhe superam e esmagam. E que medo é superior ao da morte? Sabemos hoje que não estamos sozinhos e, ainda que nos sintamos assim, sempre podemos gritar «Senhor, salva-nos!» àquele que quis passar por nossas mesmas situações, que quis dormir conosco o sono da morte, para despertar-nos com Ele na vida sem fim. É pedido que não sejamos «pequenos na fé», mas audazes, constantes, perseverantes na oração. Estamos seguros, de fato, que, a quem chame, abrir-se-á; a quem peça, ser-lhe-á dado; a quem foi ba­tizado na sua morte e ressurreição, não se lhe arrebatará a vida, mas que, simplesmente, será mudada, porque “se vivemos ou se morremos, somos do Senhor”. Ele veio compartilhar nossa condição hu­mana para dar-nos sua paz, sua alegria e plenitude de vida. Também nós, pois, agarrando-nos ao ma­deiro de sua cruz, podemos atravessar todos os mares tempestuosos, seguros agora de chegar são e salvo com Ele à terra dos vivos.

 

ORATIO: Senhor Jesus, Tu fizeste, por nós, de uma vez por todas, a grande travessia do mar tempestuoso da história, apoiando, suavemente, tua cabeça, nos braços do Pai no lenho da cruz. Assim, abriste para todos nós um caminho grande e seguro, que nos permite atravessar, são e salvo, o grande abismo do mal, que tenta atrapalhar-nos constante­mente. Faz Senhor, com que cada homem te conheça e experimente que os sofrimentos do momento presente não são, nem de longe, comparáveis à alegria da salvação que nos prepa­raste no abraço do Pai. Ele nos quis desde sempre para ser um com Ele, e contigo, no amor.

 

CONTEMPLATIO: ”O Senhor está próximo de todos quantos lhe invocam” (Sl 144,18). Não faz acepção de pessoas. O Pai ama o Filho e pôs tudo em suas mãos (cf. Jo 13,3). Isto com a condição de que amemos a Ele, a nosso Pai celestial, como filhos. O Senhor escuta tanto um monge como um homem do mundo, um simples cristão, com a condição de que amem a Deus no fundo de seu coração e tenham uma fé autêntica, grande como um grão de mostarda. O Senhor disse: «Tudo é possível ao que crê» (Mc 9,23). Mais surpreen­dente, ainda, são estas palavras: «Asseguro-vos que o que crê em mim fará também as obras que eu faço e, inclusive, outras maiores» (Jo 14,12). Deus busca, sobretudo, um coração cheio de fé nele e em seu Filho e, como resposta a esta fé, envia do alto a graça do Espírito. O Senhor busca um coração repleto de amor por Ele e pelo próximo; este é o trono sobre o qual gosta de sentar-se e manifestar-se na plenitude de sua glória. «Filho, dá-me teu coração, o resto te darei por acréscimo» (Pr 23,26). Ainda que as penas, desgraças e tribulações sejam inseparáveis de nossa vida terrena, o Senhor nun­ca quis que estas constituíssem toda a trama de nossas vidas. Por isso, nos recomenda, pela boca do apóstolo, que levemos os fardos uns dos outros, e obe­deçamos assim, a Cristo, que nos deu o mandato do amor recíproco. Confortados por este amor, nos parecerá menos difícil o caminho doloroso pela senda estreita que conduz à pátria celestial. Aca­so não desceu o Senhor do céu, não para ser servido, mas para servir e dar sua própria vida em resgate de muitos (cf. Mt 20, 28)? Comporta-se do mesmo modo, amigo de Deus que consciente da graça que tem sido objeto, transmite-a a todos os homens, promovendo sua sal­vação (Serafim de Sarov,Vita,colloquio con Motovilov,Turín).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra: “O Senhor é minha luz e minha salvação” (Sl 26,1)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL«Eu estou convosco». A frase é de uma simplicidade absoluta, mas, o mistério que encerra é grande. Quando se leva a sério esta afirmação tudo muda. Quem é este homem que tem marcado com sua pegada toda minha vida, minha única vida? Quem é este homem que condicionou e condiciona todos meus pensamentos e decisões? Quem é este homem invisível que diz estar sempre comigo? É estranho: há momentos nos quais sua presença é a de alguém com o rosto velado. Não sei nada dele. Sem dúvida, apostei minha vida nele. E há momentos em que me parece que não conheço ninguém como Ele. Ignoro a cor de seus olhos, o timbre de sua voz, o gesto de sua mão; mas, sem dúvida, sei que lhe reconhecerei, prontamente, como um velho amigo. Jesus está sempre conosco, mas isso não implica que estejamos sempre com Ele. Temos garantida a fidelidade de Cristo, porém não temos garantida a nossa. “Porém, quando vier o Filho do homem, encontrará fé na terra?” (Lc 18,8). Jesus está sempre conosco: trata-se de ser capaz de ver este amigo de viagem que não nos deixa nunca. O céu do espírito é, ainda, mais mutável que o que temos sobre nossas cabeças. Nossos dias são sempre distintos. São dias da alegria e dias das lágrimas, dias das tempestades e dias da tranquilidade; dias aborrecidos e dias apaixonados; dias do ofuscamento e dias dos resplendores inesperados, dias da exaltação e dias do cansaço metafísico. Mas não há nenhum dia sem Cristo, nenhum dia é incompatível com sua presença salvífica. O invisível amigo de nossa viagem é também um guia. Com Ele todo passo que damos, todo metro que avancemos por nosso caminho tem uma meta. Com Ele, nenhuma etapa de nosso caminho está perdida: não há extravio que, ao final, não revele sua motivação providencial; não há volta ociosa que não apareça logicamente orientada (G. Biffi, Meditazioni sulla vita ecclesiale).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 04 DE JULHO DE 2018 – 13ª Semana do Tempo Comum – ANO B

Mateus 8,28-34 (Os endemoninhados gadarenos) Jesus atravessa o lago de Tiberíades e desembarca no território pagão da Decápoles. Em poucos versículos, diferente de Mar­cos, o evangelista Mateus esboça uma demonstração de autoridade e poder da parte de Jesus, e não tanto uma cura, que liberta do domínio do demônio dois homens possuídos por espíritos imundos. Estes saem ao encontro de Jesus e os demônios gritam revelando sua identidade de «Filho de Deus» e, ao mesmo tempo, sua raiva, pois se atreve a desafiar-lhes entrando em seu território, pondo fim a seu indiscutível domínio sobre o homem (v.29): com Jesus cumpriu-se o tempo da derrota do inimigo (Mc 1,15). O exorcismo de Jesus manifesta seu espetacular poder. Com uma só palavra (“Ide») realiza o desejo dos demônios expulsos do corpo do homem, de refugiar-se numa manada numerosa de porcos, animais considerados impuros e, portanto, não criados pelos judeus. Esta concessão é só o meio para que estes se precipitem de cabeça no mar, símbolo do mal, e se afoguem nele. O poder de Cristo é absoluto, porém não se impõe pela força. Os habitantes da cidade saem também ao encontro de Jesus, porém, ante o temor de novas perdas econômicas, preferem afastar o Nazareno. Desgraçadamente, também nós muitas vezes preferimos conviver com nosso mal, que extirpá-lo pela raiz. Torna-se mais fácil viver atados a nossos cepos que administrar uma liberdade por demais exigente.

 

 

Gn 21,5.8-20 (Expulsão de Agar e Ismael) – No texto é evidente a obra do poder de Deus agindo na debilidade do homem. O relato será posto em paralelo com o capítulo 16, do que, provavelmente, seja uma réplica com a mesma intenção. Nele se vê que o projeto de Deus segue adiante, apesar da mesquinhez humana; de outra parte, se dá, uma vez mais, a explicação popular dos nomes de Isaac (v.9) e de Ismael (v.17). O banquete que dá Abraão pela desmama do filho da promessa, depois de três anos de lactação, brinda a ocasião para submeter à comparação os dois filhos de Abraão. Esta narração, diferente do capítulo 16, mostra Ismael quase como do mesmo tempo de Isaac, pois «brincava» com ele. Basta isto para suscitar os ciúmes de Sara, que pressiona Abraão para que afaste o filho da escrava (v.10). O v.12 é o ponto central do relato porque não esperávamos, certamente, que Deus apoiasse Sara, porém isto ilustra adequadamente como distin­tos dos nossos são os caminhos do Senhor. Deus, de fato, sabe tirar o bem até do mal. Por isso convida Abraão a afastar Ismael, que também está destinado a ser cabeça de uma descendência numerosa. Através de alguns sábios toques nos introduz, o narrador, no cerne do relato, fazendo-nos saborear a atmosfera do momento, uma atmosfera carre­gada de excessos. Deus mostra, também, sua identidade nesta situação: Ele é «o que escuta» o grito do pobre e do oprimido, uma clara referencia à etimologia de Ismael: neste caso, Agar e seu filho destinado à morte. É importante assinalar que a palavra do anjo de Deus não opera milagre algum; limita-se, somente, a levar Agar a ver o poço que já estava ali. A espe­rança infundida pela intervenção divina dá novo ânimo a Agar e estabelece um promissor futuro para Ismael, que também é protegido pelo Senhor. Per­fila-se assim, sob os nomes de Ismael e Isaac, o destino dos dois povos irmãos, os ismaelitas e os israelitas, unidos por um misterioso destino de hostilidades e de historias compartilhadas.

 

Salmo 33/34 (Louvor à justiça divina) – Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia.Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Senhor, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e participe de todos os atos e realizações que busquem resplandecer o amor e a justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém

MEDITATIO: Não é fácil ao homem pôr-se na mesma visão de Deus, pois o Senhor vai «muito» além do humano sentido comum. Vemos isso ao meditar as leituras de hoje. Deus pede a Abraão que aceite o repudio de Ismael por Sara. Abraão obedece à palavra e o Senhor abençoará, também, o jovem destinado, em aparência, à morte. Jesus, para libertar os endemoninhados de Gerasa, prejudica a economia dos criadores de porcos; daí que toda a cidade, concorde que saia da cidade. Deus, por meio de sua palavra, nos propõe ca­minhos que, com muita frequencia, são duros e exigen­tes, porém, nunca «violenta» nossa liberdade. A nós corresponde eleger. Que importante é, pois, outorgar o tempo e a possibilidade de avaliar bem o que é, realmente, melhor para nós! Sua Pa­lavra, até quando nos incomoda, não é nunca para a morte, mas para vida. O risco que corremos é o de decidir e escolher a Deus quando o maligno nos tem já em suas engrenagens, de modo que já não nos deixa saída, enquanto que, normalmente, vivemos uma espécie de compromisso entre o bem e o mal. Essa situação de tranquilo vi­ver não nos permite chegar a ser conscientes de estar mergulhados na egoísta busca de nós mesmos. Outras vezes, ao contrário, ainda que advertido da co­modidade, não estamos dispostos a pagar o preço que o Senhor nos pede para libertar-nos. A salvação é sempre gratuita, é dom, porém, segundo a conhecida máxima agosti­niana, o Deus que nos criou sem nós, não pode salvar-nos sem que nós queiramos. Se lhe dizemos «sim», em seguida nos daremos conta de que Ele está dis­posto, não só a dar-nos mais de que temos sacrifi­cado, mas, vencerá, também, em sua raiz, todos os nossos medos, pois venceu à morte e nos introduz no reino ilimitado da vida, de seu amor.

 

ORATIO: Jesus, só tu tens palavras de vida eterna. A quem poderemos pedir ajuda e sal­vação? Agradeço, pois tua voz ressoa cada dia em nosso coração e nos repete tua Palavra, sempre viva e sempre nova. Não permitas que nos escondamos por trás de nossos cálculos mesquinhos; concede-nos seguir-te teus caminhos de liberdade e amor, visto que lanças ao fundo do mar todos os nossos pecados e, cada dia, nos ofereces a possibilidade de ressurgir como criaturas no­vas, santas e amadas.

 

CONTEMPLATIO: A vontade divina é sempre amante, pois «Deus é amor» (1 Jo 6,16). Não só possui o amor, mas é Amor infinito, indefectível. Tudo que Deus faz por nós é motivado pelo amor, um amor que é, também, Sabedoria eterna e Onipotência. Deus nos ama como filhos, e é o Pai por excelência, do qual deriva toda paternidade. Ele nos guia com a luz de seu incomparável amor paterno por toda vida. Amou-nos tanto que nos fez filhos adotivos, fazendo-nos partícipes de sua mesma felicidade; fazen­do-nos entrar em comunhão de vida com a Santíssima Tri­ndade. Mas isso não basta. As maravilhosas manifestações do amor divino são inesgotáveis; esta resplandece também no caminho admirável eleito por Deus para atrair-nos a Ele. Para fazer-nos filhos seus, nos dá seu Filho unigênito, Cristo Jesus, dom supremo do amor; e nos dá, a fim de que seja, para nós, sabe­doria, santificação, redenção, justiça, luz e caminho se­guro; para que seja alimento e vida; em uma palavra, para que se converta em mediador entre Ele e nós. Cristo Jesus, Verbo encarnado, enche o abismo que separava o homem de Deus; nele e por Ele Deus derrama sobre nós, as bênçãos celestes da graça que nos fazem viver como verdadeiros filhos do Pai celestial. Jesus foi constituído rei e cabeça da herança divina, e Ele, com seu sangue, nos restitui o direito de possuí-la. Permanecendo nele com fé e amor, Ele estará em nós com sua graça e seus méritos; Ele nos oferecerá ao Pai e o Pai nos encontrará nele. Como, então, não abandonar-nos, seguros, à vontade onipo­tente, que é toda amor? (C. Marmion, Cristo ideaIe del monaco).

 

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra: «Eu, como uma oliveira verde na casa de Deus, confio no amor de Deus para sempre e eternamente» (Sl 51,10)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Quem hoje fala de demônios ou forças malignas, enfrenta ceticismo e aversão. Por outro lado, precisamente, nesses dias, se acentua, cada vez mais, a viva impressão de que, com o crescente controle da vida na terra, avança de modo ameaçador algo incontrolável. De que serve a ciência, se algo, do qual não posso dispor, dispõe de mim e torna a vida rasa, mísera e temerosa? O contado com as potencias demoníacas supõe sempre para o homem o contado com o limite invisível, inexpressável profundo e obscuro de si mesmo e de seu mundo. Porém estas potencias que se apoderam incessantemente do mundo e dos homens para corrompê-los, foram vencidas – segundo afirma o Novo Testamento – por Jesus Cristo que destruiu seu poder de uma maneira definitiva. Isto o sabem elas; por isso, precisamente agora recorrem a todo para mascarar sua impotência com uma força aparente. Dai que a historia seja uma grande luta que se desenrola, em primeiro lugar e, sobretudo, a pequena escala, no coração do homem. O mundo não há sido libertado do domínio das po­tencias malignas nem volta a aparecer como criação boa de Deus, a não ser de um modo indireto por meio deste ou aquele coração humano e, em primeiro e último lugar, por meio de meu coração. Nele, e não em nenhuma outra parte, se decide a historia do mundo. A luta para fazer visível e dar eficácia ao destro­namento do espírito demoníaco que já ha tido lugar pode ser desarrollada, em principio, sempre e unicamente lutando contra nós mesmos (H.Schlier,Riflessioni sul Nuovo Testamento, Brescia).

 

 

QUINTA-FEIRA, 05 DE JULHO DE 2018- 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B

Mateus 9,1-8 (Cura de um paralitico) Jesus, após ter estado em território pagão, volta a Cafarnaum, «sua» cidade, onde desenvolve, agora, seu ministério. Levam-no um paralítico. A descrição do episódio no relato paralelo de Marcos (2,1-12), integrado em uma disputa de Jesus com os mestres da Lei sobre o poder de perdoar os pecados, é muito rica em detalhes particulares. Os padioleiros, de fato, abrem um buraco no teto e descem o enfermo para que chegue a Jesus. Mateus omite tudo isto. Centra sua atenção na palavra de autoridade de Jesus (9,2), onde o uso da passiva divina iden­tifica Jesus com Deus, o único que pode perdoar. Os mestres da Lei captam, de imediato, a grave «blasfêmia», visto que perdoar é uma prerrogativa divina (Ex 34,6ss; Sl 25,18; 32,1-5). Sem dúvida, Jesus, desmascarando a maldade de seus corações, afirma, com cla­reza, a razão de seus milagres: é um sinal para mostrar o poder que tem Deus de perdoar os pecados, um ges­to, com o qual o homem que está preso a uma paralisia, uma paralisia que já antecipa a morte, pode reco­brar sua identidade de viajante, chamado a caminhar para chegar a sua verdadeira casa: o amor do Pai, único lugar no qual pode saborear a paz e o repouso. De fato, o Filho do homem veio dar aos homens (cf.9,8) o poder de Deus, para que no perdão recíproco entre os irmãos se manifeste a glória do Pai na terra. A nós, comunidade cristã, nos foi confiada, portanto, a prerrogativa de perdoar como somos perdoados por Deus; de amar como somos amados por Ele, para levar, desde agora, o Reino para o qual Ele nos criou e redimiu.

Gn 22,1-9 (O sacrifício de Abraão) – A beleza deste relato, uma das obras mes­tras da arte narrativa bíblica, esconde em si mesma um extenso trabalho de composição. De fato, os estudiosos distinguem em seu interior, pelo menos, quatro filões que contêm o estudo de um lugar de culto identificado, posteriormente, com a colina do templo de Jerusalém; a crítica dos sacrifícios humanos, a prova da fé e, por último, a ratificação da promessa feita por Deus a Abraão. Mas, além de tudo isto, o relato se apresenta sempre vivo, atual, comprometedor. Antes de tudo, o leitor deve saber que se trata de uma «prova» na qual Deus testa a fé e a obediência de Abraão, o qual, com prontidão (cf. seu «aqui estou»: v.1), toma seu amado filho para executar a paradoxal petição de Deus. A habilidade do autor está em descrever uma cena tão dramática com poucos toques, sem expressar de um modo direto os sentimentos dos protagonistas. Abraão caminha durante três dias: isto demonstra que sua obediência foi amplamente pensada e ponderada. A tradição judia sublinhou, em particular, a «sintonia» (literalmente, aqedâ) de Isaac, que se dispõe ao sacrifício de uma maneira voluntária. A interpretação cristã viu, sempre, nesta imolação do amantíssimo filho, a figura do único e perfeito sacrifício de Cristo morrendo na cruz. Nos vv.13ss, tem uma importância particular o verbo «ver». Dele se pode deduzir que Deus «se deixa ver» quando «vê» o coração do homem que o busca, e que o homem, após a noite escura da fé, chega a saber que Deus «provê» sempre. A intervenção do anjo do Senhor, que livra Isaac da consumação do sacrifício, ratifica-o em seu papel de filho da fé que abre a descendência da promessa de que «todas as nações da terra alcança­rão a benção».

 

Salmo 114/116A (Ação de graças) – É uma dádiva de Deus caminharmos com os salmistas que milhares de anos antes de nós se encontraram constrangidos pelas dificuldades, sofreram perseguições por serem fieis ao Senhor, foram caluniados, alguns mortos, mas não voltaram atrás e não traíram a própria fé. Diante da vontade do Senhor, pronunciaram “amém”. O verbo hebraico aman significa construir sobre uma rocha, escudo, fortaleza, pedra angular sobre a qual construímos e que nem o vento nem a tempestade poderão derrubar. Cantar a misericórdia de Deus é sentir-se vitorioso, sofrido, mas não derrotado. Perseguidos, mas não vencidos. Porque Ele, o pastor, nos acompanha sempre. Passado muito tempo, morreu o rei do Egito. Os israelitas continuaram gemendo e clamando sob dura escravidão, e, do meio da escravidão, seu grito de socorro subiu até Deus. Deus ouviu os seus lamentos e lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. Deus olhou para os israelitas e tomou conhecimento (Ex 2,23-25). Jesus conhecia este Salmo e o cantou na instituição da Eucaristia (cf. Mt 26,26-30). É preciso passar por muitas dificuldades para entrar no Reino dos Céus, pois só seremos vitoriosos se carregarmos a nossa cruz.

Senhor, sou pobre, desgraçado, infeliz, mas tenho fé. Quero construir sobre a pedra Cristo todo o meu futuro e não sobre as areias movediças que, à primeira enxurrada, destroem tudo. Mas às vezes, Senhor, vejo ao meu lado muitos sofrimentos e injustiças que tentam me afastar do teu caminho e do teu amor. Sei que a vida do cristão é marcada pela cruz, e esta nos fortalece quando amada e carregada por amor. Sei também que quando sofremos por amor, somos bem-aventurados: “Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”(Mt,511-12). Senhor, na minha desgraça e pobreza que eu conserve a fé no teu amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: Na vida de todo crente, chega uma hora que Deus o «põe a prova». É a hora dolorosa na qual Deus deixa de ser para nós o Deus bom e amante que nos tem cumulado de favores e bênçãos, para converter-se, de modo inexplicável, no pa­trão exigente de seus dons a quem temos de devolver tudo. É o momento crucial no qual, faltando-nos toda segurança, nos resta só à fé, uma fé pura e exigente, que nos pede «esperar contra toda esperança», devolven­do-o, em uma adesão incondicional, tudo o mais que­rido que nos havia dado: talvez a vida, os talentos que temos recebido; as pessoas queridas. Resta-nos só Ele, convertido em «Outro». Feliz de quem sabe reconhecer a «hora» e percorre, como Abraão, em silêncio, o caminho para o lugar do sacrifício. Feliz quem pode subir como ele, sem proferir um só lamento, sem um só protesto, a montanha da oferenda. Feliz quem é capaz de crer, como ele­, que Deus pode fazer ressuscitar também aos mortos. Feliz o que percorre até o final, com uma determi­nação firme e ponderada, o caminho da obediência e da fé, pois se configurará plenamente com aquele Deus que, por amor a nós, sacrificou seu Filho amado, o verdadeiro Isaac.

 

ORATIO: Virgem santa, Tu, de pé no monte do sacrifício, consumaste de modo generoso a oferenda de teu Filho, o verdadeiro Isaac. Ali pronunciaste teu novo e impossível «sim», convertendo-te em mãe de todos. Acompanha-nos na hora da prova, para que não duvi­demos que Deus é fiel, capaz de dar vida, inclusive aos mortos. Que a alegria da ressurreição que sentiste depois da tragédia da sexta-feira santa, seja para nós penhor e certeza do grande sorriso que contemplaremos no rosto do Pai quando a obediência da fé nos tenha configurado plenamente com o verdadeiro cordeiro oferecido, Jesus. Amém.

 

CONTEMPLATIO: Era uma vez um homem que, quando pequeno, ouvira a bela história de Abraão, que, posto a prova por Deus, superou a prova e guardou a fé. Quando aquele homem tornou-se adulto, via o relato ainda com maior ad­miração. Quanto mais crescia, mais se demoravam seus pensamentos naquele relato; seu entusiasmo ia aumentando; sem dúvida, cada vez lhe era mais difícil compreendê-lo. Afinal, este relato lhe fez esquecer tudo o mais. Aquele homem não era um pensador: não tinha nenhuma necessidade de ir além da fé. Cada vez que voltava a sua casa após um passeio pelo monte Maria, se abatia pelo cansaço; unia as mãos e dizia: “Nunca houve ninguém tão grande como Abraão, quem pode compreendê-lo?” Se não houvesse no homem uma consciência eterna, que seria a vida, senão desespero? Se assim fosse, se não houvesse nenhum vínculo sagrado que unisse os homens; se as gerações fossem passando pelo mundo como o vento pelo deserto, sem que a vida tivesse um sentido, um fruto; se houvesse um esquecimento eterno que espreita a sua presa e não houvesse poder algum suficientemente forte para arrebatá-la, que vazia e esquálida seria a vida! Porém, não é assim. Não! Ninguém que foi grande no mun­do será esquecido; mas, cada um foi grande a seu modo, cada um tem sido em proporção à grande­za com que amou. Quem amou a si mesmo se fez gran­de para si mesmo, mas quem amou a Deus se fez maior que todos. Cada um permanecerá na re­cordação; mas, cada um se fará grande em relação ao que esperou. Um se fez grande esperando o possível, outro esperando o eterno, porém o que esperou o impossível se tornou o maior de todos. Cada um permanecerá na recordação; mas, cada um se fará grande segundo a grandeza contra a qual lutou. Visto que quem lu­tou contra o mundo se fez grande vencendo o mundo; e quem lutou consigo mesmo se fez maior supe­rando a si mesmo, porém quem lutou com Deus, se fez maior que todos (S. Kierkegaard, Temor y temblor, Ed. Altaya]).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Sei em quem pus minha confiança» (2 Tm 1,12)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Quem encontrou Cristo escutou seu chamado à conversão do coração e da vida. É impossível encontrar Cristo e ser como antes: se o encontras de verdade, Ele não te deixa indiferente, não se cansa de chamar-te para que saias de ti e vá ali aonde seu amor te preceda. No fundo do coração do crente ressoa, sem parar, o convite a acolher a Deus que vem e faz novas todas as coisas, deixando que nos re­conciliemos com Ele. A reconciliação é o sacramento no qual Cristo vem em socorro da debilidade do homem, do homem que havia traído, rejeitado, a aliança com Deus, e o reconcilia com o Pai e com a Igreja, recria-o como criatura nova com a força do Espírito Santo. A reconciliação também recebe o nome de penitência, porque é o sacramento da conversão do homem; além do sacramento do perdão de Deus, é o encontro do coração que se arrepende com o Senhor que lhe acolhe na festa da reconciliação. Este encontro com Cristo, Salvador do mundo, que abriu as portas do paraíso ao bom ladrão, se realiza por meio da confissão: toda a vida do pecador se oferece à bondade do Senhor para que a cure da angústia, para que a liberte do peso da culpa, para que a confirme nos dons de Deus e para que a renove com o poder de seu amor. A resposta da confissão é o perdão divino, obtido mediante a aplicação dos méritos do sacrifício de Cristo, que se faz presente, Ele mesmo, no acontecimento sa­cramental, com sua obra de reconciliação e paz, e vem para unir o pecador perdoado ao Pai do amor. O Senhor que quis ser chamado amigo dos pecadores, não despreza as debili­dades nem as resistências do homem, mas as leva a sério, tomando-as para si, e oferecendo, a quem a peça, a ajuda necessária para viver uma existência recon­ciliada e ser, assim, instrumento de reconciliação entre os homens (B. Forte, Piccola introduzione ai sacramenti, Cinisello B).

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 06 DE JULHO DE 2018- 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B

João 20,24-29 (Primeira aparição de Jesus aos Discípulos)– Afirma-se, com razão, que para nossa fé, talvez tenha sido mais importante à incredulidade de Tomé que a crença dos outros apóstolos. Parece absurdo, mas é verdade! Devemos considerar como certo que, se Tomé estivesse com os outros discípulos no momento da primeira aparição de Jesus, é possível que não tivesse sucumbido numa crise de fé. Sem dúvida, com esta recordação, João abre ante nós uma nova pista para chegar à experiên­cia libertadora da fé em Jesus ressuscitado. De fato, quando Jesus aparece a seus discípulos pela segunda vez, dirige-se diretamente a Tomé e pede-lhe que realize o caminho de busca e de descobrimento que antes haviam realizado seus «companheiros». Desta vez, Tomé se torna disponível e se torna dócil ao mandamento do Senhor e chega a um ato de fé límpido e transparente: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). Jesus pronuncia a bem-aventurança que segue (v. 29), não tanto por Tomé, mas por nós: a situação his­tórica muda por completo, porém o itinerário é sem­pre o mesmo. Chegamos à fé mediante um ato de abandono total em Jesus morto e ressuscitado.

 

 

Ef 2,19-22 (A reconciliação dos judeus e dos gentios entre si e com Deus) – O mistério de Cristo e o da Igreja está intima­mente conectado para o apóstolo Paulo. Cristo é nossa paz: nele, todos, tanto os distantes (pagãos) como os próximos (judeus), encontram o caminho da re­conciliação e da unidade. Já não há dois povos, mas um só; já não há separação entre gente diferente, mas unidade entre semelhantes. Tudo isso é dom de Deus Pai, por meio de Cristo Senhor, no Espírito Santo. Neste contexto, o apóstolo imagina a Igreja como um grande edifício, um templo santo, a “morada de Deus». Os “alicerces” deste edifício, no qual estão todos e vivem como “concidadãos dentro do povo de Deus», como “família de Deus», são os apóstolos e os profetas. Sem dúvida, a “pedra angular” é Cristo Jesus: ele é a chave de abóboda que consolida o conjunto, e nele todo o edifício encontra sua ligação e pode crescer de uma maneira ordenada. Desta perspectiva cristológica, a doutrina ecle­siológica de Paulo assume uma claridade absolutamente particular. Nela a presença, o papel e o ministério dos apóstolos aparece com toda sua importância. A Igreja de Cristo é, portanto, una, santa, católi­ca e apostólica, e o é no sentido de que, nela, os apóstolos, por vontade de Deus e por eleição histórica de Jesus, constituem o fundamento da comunidade dos crentes.

 

Salmo 116/117 (Convite ao louvor) – Este pequeno Salmo confirma o ditado popular: “os melhores perfumes estão nos menores frascos”. Podemos dizer que nesta oração, que manifesta a alegria do homem de fé, está a síntese de toda a Escritura. Nossa vida foi feita para louvar a misericórdia, a fidelidade e a misericórdia de Deus. Tais palavras devem estar sempre presentes na nossa oração. Nunca devemos nos esquecer que Deus é misericórdia e verdade. Hoje há quem faça confusão com relação a isso; não é possível ter um coração grande que encobre a injustiça e o pecado. A misericórdia nunca esconde a verdade. Este Salmo de aleluia era cantado na ceia pascal e manifesta a necessidade da Igreja de missionar. Nenhum povo ou indivíduo é excluído do anúncio da verdade e do Evangelho.

Senhor, quero poder cantar este Salmo de cor, rezá-lo cotidianamente para me lembrar que tu és misericórdia e verdade e que nos envias para sermos teus missionários, para anunciar que o teu amor não pode permanecer escondido, mas deve ser revelado a todos. Amém.

 

 

MEDITATIO: O sucesso acontecido a Tomé atrai, por completo, nossa atenção, pelo simples motivo de que esta pá­gina evangélica termina com uma «bem-aventurança» que diz respeito a todos nós, pessoalmente: «Felizes o que crêem sem ter visto». É certo que, falando humanamente, o ato de fé, para ser razoável, digo «razoável», não «racional», necessita de alguns sinais, e Tomé está disposto a pe­dir explicitamente. Desde este ponto de vista, talvez a sua não possa ser definida como uma crise de fé, mas, como uma apaixonada e sofrida busca de um ato de fé que seja, ao mesmo tempo, respeitoso com o homem e devoto com Deus. E quando, ao final, Tomé alcança este ato de fé, abandona-se, por completo, àquele que se manifestou claramente. Portanto, não havia nele nenhum prejuízo ou incerteza: tratava-se só de certificar-se do fato histó­rico da ressurreição de Jesus com um método experi­mental, o único que está ao alcance de todos, inclusive dos mais simples. Ver para crer foi à exigência do apóstolo Tomé. Ver, tocar e apalpar, foi o itinerário que percorreu para reconhecer, à plena identidade, entre o Senhor ressuscitado e Jesus de Nazaré. Crer sem ver, sem tocar, sem apalpar, é a situação na qual encontramo-nos, nossa bem-aventurança.

 

ORATIO: «Vamos também nós morrer com ele». “Senhor, não sabemos aonde vais, como podemos sa­ber o caminho?” “Se não vejo em suas mãos o sinal dos cravos… não crerei”. «Meu Senhor e meu Deus!» «Crês porque me viste? Felizes os que creem sem ter visto».

CONTEM PLATIO: Da incredulidade ao êxtase: este é o caminho de Tomé e também o dessa parte de nós que ainda não se rende à ressurreição e ao invisível. Tomé quer garantias porque compreendeu algo: se Jesus está vivo, sua vida muda. Se Jesus está vivo, então o Evangelho é verdadeiro. E o Evangelho toma toda a vida. E Jesus não lhe faz nenhuma reprovação, mas lhe disse: «Aproxima teu dedo e comprova minhas mãos; aproxima tua mão e mete-a em meu lado», pois não é um fantasma. Não é uma projeção de meus desejos, não é um fruto imagi­nário de meu coração, não é o filho de uma ilusão. Há um furo em suas mãos, onde pode entrar o dedo de Tomé; há uma abertura no peito, na qual pode entrar uma mão. E dou graças a Tomé porque também eu ne­cessito que Jesus não seja um fantasma. E na mão de Tomé estão todas as nossas mãos. As dos que cre­mos sem ter tocado porque outros o têm feito. Disse João com orgulho: «O que existia desde o princípio, o que temos ouvido o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e hão tocado nossas mãos acerca da palavra da vida, […] o que temos visto e ouvido os anunciamos» (1 Jo 1,1-2). Fé de mãos que tem atravessado o coração. Tomé não busca o caminho para crer em nenhum sinal de poder, mas simplesmente nas chagas: o furo das mãos, o lado aberto, imagens embriagadoras do amor de Deus. E com Tomé começa a história dos ena­morados das feridas de Cristo, como Francisco de Assis ou Catarina de Sena ou outros mais próximos a nós (Ermes M. Ronchi).

 

ACTIO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Meu Senhor e meu Deus”

                                                             

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – É um dos principais capítulos da doutrina católica, contido na Palavra e ensinado constantemente pelos padres, que o homem, ao crer, deve responder voluntariamente a Deus e que, portanto, ninguém pode ser forçado a abraçar a fé contra sua vontade. Porque o ato de fé é voluntário por sua própria natureza, já que o homem, redimido por Cristo Salvador e chamado em Jesus Cristo à filiação adotiva, não pode aderir a Deus, que a eles se revela, a menos que, atraído pelo Pai, renda a Deus o obséquio racional e livre da fé. Está, pois, em total acordo com a índole da fé, o excluir qualquer gênero de imposição por parte dos homens em matéria religiosa. Portanto por parte dos homens em matéria religiosa. Portanto, um regime de liberdade religiosa contribui não pouco a favorecer esse estado de coisas no qual os homens possam ser convidados facilmente à fé cristã, a abraçá-la por sua própria determinação e a professá-la ativamente em toda a ordenação da vida (C.V.II, Dignitatis humanae, 10).

 

 

 

SÁBADO, 07 DE JULHO DE 2018- 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B

Mateus 9,14-17 (Discussão sobre o jejum) = Mc 2,18-22; Lc 5,33-39 – Em casa de Mateus, o publicano, além de outros colegas seus, há também fariseus. Estes últimos – como nós vimos no fragmento de ontem- se mostram escandalizados pelo comportamento de Jesus porque come – sinal de comunhão de vida – com os publicanos e os pecadores. A polêmica volta a acender-se agora com um grupo de discípulos – não melhor identificados – de Batista. Estes, como seu mestre, levavam uma vida de austeridade e penitência, e se mostram surpreendidos de que os discípulos de Jesus não pratiquem o jejum. Jesus toma então a defesa dos seus, que, neste momento, são «os filhos das bodas», quer dizer, os convidados a estar junto ao Esposo, a gozar de sua voz (cf. Jo 3,29), porque Jesus está com eles. Já chegará o momento em que o Esposo será «arrebatado da terra dos vivos» (cf. Is 53,8), e então virá o tempo do jejum. Vêm, a seguir, dois exemplos nos quais se sublinha que a alegria das bodas, da festiva novidade trazida por Jesus, não pode mesclar-se com as antigas práticas ascéticas. Trata-se de realidades irredutíveis: a vinda de Cristo contém uma novidade absoluta. Os tempos se cumpriram, as coisas de antes passaram para deixar lugar a um céu novo e a uma terra nova, enquanto que os de antes se cobrem como um vestido velho e imprestável que não se pode pôr nenhum remendo. Contudo, o antigo não foi abolido, mas recuperado, porque os odres novos estão feitos para conter vinho novo, porém o vinho envelhecido também é bom. A realidade nova, significada pela presença de Jesus, o Emanuel, o Deus com seu povo, é o tesouro que o faz todo precioso.

 

 

Gn 27,1-5.15-29 (Jacó intercepta a bênção de Isaac) – Os versículos que lemos hoje é uma obra mestra da arte narrativa e dramática capaz de implicar profundamente o leitor, que se sente cativado por um relato onde se fundem traços de humor e piedade, astúcia e mesquinhez: aspectos que chocam nossa sensibilidade moral, mas que também nos dão o tecido que nos permite entrever, além de toda previsão humana, o desígnio de Deus. Isaac representa, no relato bíblico, um personagem de transição entre duas grandes figuras: Abraão e Jacó. O autor sagrado se detém no momento final de sua vida. Rebeca, mãe de Jacó, se mostra injusta com o filho maior, mas isto põe de manifesto, ainda com maior clareza, a «justiça de Deus». De fato, Yahweh ama a todos, mas não a todos do mesmo modo, e até quando os homens se ocupam num jogo desonesto uns com os outros, pondo «trapaças» (para recolher a etimologia do nome de Jacó), Deus, de sua parte, segue o puro jogo da graça, cuja economia não está atada nem condicionada pela natureza. A graça é gratuita e não pode ser merecida pelo homem; é produto de Suas decisões e não das nossas. Jacó aparece, pois, como alguém que transgride e inverte o costume oriental da precedência do filho maior sobre o menor, apossando-se da bênção de seu pai cego. Por três vezes mente; sem dúvida, o Senhor se serve desta mentira para seguir em seu projeto. Jacó pagará amargamente com 20 anos de afastamento e de servidão a Labão. Também a bênção – que tem aqui um valor quase mágico – uma vez arrebatada por Jacó, dará testemunho do mistério e da gratuidade dos dons de Deus. O povo eleito, ao longo de sua história, reconhecerá mais em Jacó-Israel que em Abraão seu destino marcado por luzes e sombras, tecido de santidade e de pecado, de bênção e de luta incessante.

 

Sl 134/135 (Hino de Louvor) Este Salmo representa um ato de fé no verdadeiro Deus e uma sátira violenta aos ídolos. Crê-se-se que a idolatría já é algo superado no mundo moderno, que é avançado o suficiente para crer em crendices. Pura ilusão! Parece que quanto mais cultas, mais fácilmente as pessoas se deixam levar por surperstições e, com isso, negam o Deus vivo e verdadeiro, único que condena as injustiças, o pecado, o mal, que dita normas de ética e comportamento e levanta sua voz contra os falsos profetas. Amuletos não dizem ou condenam nada, pois não têm vida. O salmista nos recorda que os ídolos são obras de mãos humanas; não têm fala, nem inteligencia, nem amor, não valem nada. Certamente, não podemos confundir isso com a devoção, que é o respeito que nós, católicos, temos às imagens. Somos conscientes de que a imagen só vale enquanto nos ajuda a nos aproximar de Deus e viver com mais fidelidade o Evangelho. Sabemos que os santos não são ídolos, e sim caminhos que nos levam a Deus. Os santos não agem por si mesmos, mas são nossos intercessores ante o Senhor. O culto das imagens em nada diminui o supremo culto e respeito que devemos ao Deus único e verdadeiro. O amor a Maria não diminui a grandeza ou a primazia absoluta de Cristo. A luz de Cristo ilumina Maria e ela o ilumina. Sua única missão é levar-nos para Jesus.

Senhor, que eu saiba ver sua grandeza, viver teu amor e ser um missionário anunciador da tua presença. Tú és o único Deus ao qual é devido honra, glória e poder. Todas as coisas foram feitas por ti em nome de Cristo, pelo poder do Espírito Santo. Nada existe fora de ti, tu és vida e nos dá vida. Tu és amor e nos comunica amor; tu és ternura e nos comunica ternura e perdoa, e nos abraças com carinho quando voltamos para ti, feridos pelos nossos pecados. Liberta-nos das idolatrias ingênuas e bobas, fitas vermelhas, velas coloridas, devoções tolas. Liberta-nos da busca de orações que pedem a Deus vingança dos que são diferentes de nós. Senhor abre o meu Coração para que haja espaço e acolhida para todos os que necessitam de amor. Liberta-me de ir atrás de ilusões como horóscoos, quiromancia ou leitura do futuro. Tu és o meu futuro, o meu presente. Liberta-me Senhor da crendice, do mal olhado e de tantas outras idolatrías novas que surgem por aí, como a Nova Era, o poder da mente e tantas outras besteiras. Em ti confio e me entrego, cuida de mim e faz com que eu cuide da tua honra e do teu reino que também é meu. Amém.

 

 

MEDITATIO: Ao ler o relato do Gênesis se fica desconcertado. Sem dúvida, Deus – o Santo – «passa» através das intrigas e baixezas humanas. Passa por elas deixando-se ferir profundamente; atravessa-as, não obstante, de uma maneira soberana, como vencedor. Apesar de tanta miséria, um dia florescerá da humanidade o santo Broto, manará a Fonte de água viva: nascerá para nós o Salvador, Deus conosco, em nós. Isto representará, para cada homem, a novidade, a juventude sem ocaso, a possibilidade de viver eternamente com Deus. Portanto, em vez de lamentar-nos pela jornada de ontem, que acrescentou seu peso ao fardo que já levávamos, acolhamos com admiração o dia de hoje, esta manhã, esta noite, o dom extraordinário que Deus nos fez, a novidade de sua vida em nós, seu perdão, que nos transfigura em filhos de Deus. Seu amor, que tem sido mais forte que os pecados de muitos homens obstinados no mal, não sairá vitorioso também sobre nossos pecados? Seguramente que sim, e por isso necessitamos jejuar e fazer penitência, posto que através da penitência e oração nós apressamos a vinda do Esposo e a festa que supõe estar sempre com Ele.

 

ORATIO: Senhor, com teu nascimento, por fim, houve algo novo debaixo do sol. Tu vieste para preparar-nos o banquete nupcial do qual ninguém é excluído. Chegamos a ele com nossas vidas mais ou menos atormentadas, mais ou menos marcadas por ambiguidades e compromissos com os que tentaram vencer o aborrecimento, a solidão, o medo da morte. Tu, Senhor da vida e Esposo da humanidade, convidas a todos e reservas, a cada um, um lugar de honra, visto que para ti todos nós somos únicos e insubstituíveis. Concede a todos os homens gozar com coração grato a bem-aventurança de ser comensais teus no banquete eucarístico, esse mesmo no qual tu dispensas o vinho novo do amor e da alegria: o cálice de teu sangue derramado por nossa salvação.

 

CONTEMPLATIO: Ó tempo desejável, tempo favorável, tempo que todos os santos anseiam pedindo todos os dias ao Senhor na oração: «Venha teu Reino; faça-se tua vontade na terra como no céu» (Mt 6,10). Toda a terra está cheia de sua glória. Vejo esta terra que piso, que sinto esta terra que sou: tanto em uma como em outra, fadigas, tanto em uma como em outra, gemidos. Sem dúvida, toda a terra está cheia de sua glória. Sei, com efeito, que esta terra que piso será libertada da escravidão da corrupção e haverá uma terra nova e um céu novo. Então cantaremos um cântico novo, e se ouvirá a voz de alegria e de exultação. Então conheceremos como será a nossa transformação. Será motivo de alegria para nós a contemplação do Criador na criatura, o amor e o louvor do Criador em si mesmo e na criatura. «O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós» (1 Cor 3,17), disse o apóstolo. Este é o templo em que, uma vez transferidos ao Reino do esplendor eterno, quando Deus nos enxugue toda lágrima de nossos olhos, ofereceremos a Deus o sacrifício de louvor, como ele mesmo disse por meio do profeta: «O sacrifício de louvor me honra» (Sl 49,23). Ó Senhor, que te seja agradável no tempo presente o sacrifício de nossa contrição, a fim de que, quando te sentes em teu trono alto e elevado, te honre o sacrifício de louvor (Elredo de Rielvaux, Sermón sobre la venida del Señor).

 

 

ACTIO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

que nos abençoou com toda benção espiritual» (Ef 1,3)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A maternidade de Rebeca é uma maternidade de amor que está disposta a salvar, a proteger, a defender a seu próprio filho, inclusive incorrendo na ameaça de sua própria morte: «Recaia sobre mim sua maldição…». Uma página imensa, se a consideramos à luz de seu cumprimento último, à luz da Virgem Maria, enquanto que ela teve um Primogênito no qual foram dados outros filhos inumeráveis. Não é que Esaú fosse desprezado, mas sim é verdade, sem dúvida, que a mãe faz de um modo que também o segundo de seus filhos, que também nós, nos revistamos com a roupa do Filho maior e nos apresentemos ao Pai para obter a mesma bênção que o Primogênito. Maria, a Virgem Mãe, está disposta a sacrificar-se por completo, não pelo Primogênito, que não tem nenhuma necessidade de seu sacrifício, mas pelo segundo. Nós devemos considerar o que Maria faz com o segundo de seus filhos, com Jacó, que somos nós: não, a mãe não suporta que seu filho mais débil seja privado da benção. Nós somos filhos seus em Cristo, e ela quer que todos formemos nele um só filho, que vivamos com Ele uma mesma vida, que desfrutemos de uma mesma benção. Por isso nos recobre com a roupa de seu Primogênito e nos leva ante Deus assim vestidos. Já não há um primeiro e um segundo; já não formamos todos mais que um só filho. Interpõe-se ela, a Virgem, para que o castigo que nós merecemos não recaia sobre nós, para que a pena que deve recair sobre nós não possa lastimar-nos nunca. Rebeca é virgem, esposa e mãe. Como virgem, já está toda cheia de graça; como esposa, renova já a alegria da criação; como mãe, conhece um amor que verdadeiramente dá a salvação, obtém para seus filhos todos os dons da graça. De fato, o amor da mãe se dirige, sobretudo, aos filhos mais débeis, aos que mais necessidade tem deste amor. Por ela têm que ser protegidos, salvos e, em certo modo, inclusive amados com um amor preferencial, que pode parecer injusto, mas não é, porque o amor da Mãe, como o amor de Deus, é um amor gratuito, é um amor que se entrega não porque os outros o mereçam, mas só porque o necessitam (D. Barsotti, í.e donne dell’alleanza, Turín).

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