LECTIO DIVINA DE 19 A 25 DE MAIO DE 2019

COMUNIDADE CATÓLICA PAZ E BEM -LECTIO DIVINA

(Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

BAIXAR ARQUIVO EM PDF:APOIO LECTIO DIVINA 5ª SEMANA DA PÁSCOA ANO 2019

 

DOMINGO, 19 DE MAIO DE 2019 – 5º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

João 13,31-33a.34-35 (A despedida) Com este texto começa o «discurso de despedida» de Jesus. Abre-se a porta do cenáculo, sai Judas para consumar a traição. O evangelho assinala com brevidade: «Era de noite». A noite do peca­do, a noite do príncipe deste mundo. Jesus sabe que, ao final de poucas horas, estará ali, só, no horto do Getsemani, envolto por essas mesmas trevas que ­tentarão engoli-lo e contra as quais deverá lutar até o sangue. Sabe tudo isto e, sem dúvida, fala aos dis­cípulos de «glorificação» do Filho do homem. A «glo­ria» de Deus, de fato, não é o fácil êxito mundano, mas o triunfo do bem, que, para nascer, deve passar pela grande tribulação. A cruz é, assim, o seio materno da vida verdadeira. Jesus não pode «explicar» agora aos seus o signi­ficado de sua morte. Enfrenta-a só e a oferece. Em suas palavras se sente vibrar a solicitude pelos discípulos, que, dentro de pouco, também ficarão sozinhos, a mer­cê da dúvida e do escândalo. Por agora não podem se­guir-lhe. Por isso necessitam mais que nunca, serem guardados em seu nome. É agora que lhes deixa em testamento o “mandamento novo» do amor recíproco. Ao vivê-lo, estarão, para sempre, em comunhão com ele e nada poderá arrancá-los de sua mão. Mais ainda, poderão vivê-lo pois ele o viveu primeiro. «Nenhum discípulo é superior a seu mestre», ainda que todo discípulo esteja chamado a confi­gurar-se com o Mestre e a glorificá-lo com sua vida. O «mandamento novo» não é um jugo pesado, mas co­munhão pessoal com Deus, que quer permanecer pre­sente entre os seus como amor e como caridade.

 

 

 

At 14,21b-27 (Fim da missão) A primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé chega a seu fim. Percorrem de volta o caminho e visitam as cidades evangelizadas «confirmando» os discípulos (v.22): trata-se de um termo típico da linguagem missio­nária do século I. Indica, fato, a consolidação na fé e na práxis cristã dos que acolheram há pouco o kerygma (o anuncio) e podem ver-se desorienta­dos, com facilidade, pela experiência da perseguição que acompanha à pregação quase por onde quer que vão, gol­peando os apóstolos. Exorta-se, pois, aos novos dis­cípulos a perseverar na fé, abraçando as tribulações como participação na paixão de Cristo. Dado que as comunidades recentemente evangelizadas devem se­guir, por si só, seu caminho, os apóstolos instituem em cada uma delas um primeiro tipo de organização eclesial e nomeiam presbíteros nelas. Trata-se de um momento de importância fundamental para a vida da comunidade e, portanto, tem que ir acompanhado da oração, do jejum, da en­trega confiante nas mãos do Senhor (v.23). Paulo e Bar­nabé voltam à Igreja de Antioquia de Siria (v.26), que era a que havia preparado sua viagem. A missão apos­tólica, assim como a responsabilidade eclesial, são, de fato, tarefas que o Senhor mesmo confia a alguns (13,2s), porém das quais deve fazer-se responsável toda a comunidade, sustentando-os com a oração e o oferecimento de sacrifício. Dai que os apóstolos, apenas chegados a seu destino, reúnam a todos os irmãos para contar-lhes o que «Deus» havia feito servindo-se deles e como havia aberto ele mesmo “a porta da fé» aos pagãos. Sua é a missão, sua é a graça, seu o fruto. A Ele os apóstolos dão toda a gloria (v.27).

 

Ap 21,1-5a (A Jerusalém celeste) Após ter contemplado a derrota definitiva das forças do mal e o julgamento de Deus (19,11-20,15), o Vi­dente é considerado digno de conhecer a cara luminosa dessa luta implacável: a realidade que aparece ante seus olhos se caracteriza por uma novidade radical, substan­cial e universal: todo o cosmo está implicado nessa transformação. O universo marcado pelo mal – cujo símbolo, na Bíblia, é, com frequência, o mar – tem sido substituído por uma realidade qualitativamente diferente (v.1). Ainda que os profetas tivessem já anunciado uns céus novos e uma terra nova (cf. Is 65,17) e apresentado Jerusalém como a esposa de Deus (Is 62), seu horizonte seguia sendo material e a referencia imediata era a restauração temporal da cidade, mediante a intervenção recriadora de Deus. João vê descer agora, do novo céu à nova terra, esta cidade-esposa, símbolo da morada de Deus com os homens. É este um tema que, de modo velado, percorre toda a historia sagrada e, em certo sentido, indica, do mesmo modo, seu significado último. Desde a intimidade entre Deus e o homem no Éden, passando pela tenda da presença (shekinah), que acompanhou o povo de Israel no Êxo­do, pelo templo de Jerusalém, até a Encarnação, Deus tem se revelado cada vez mais profundamente como o Emanuel, o «Deus-com». Após a morte-ressu­rreição de Cristo, está se cumprindo um novo e último passo na revelação: o-homem-está-com-Deus. Uma vez destruído por completo o mal (cap.20), aparece um novo povo que pertence plenamente ao Senhor, e Ele está eternamente «com eles” (v.3). As citações dos pro­fetas (Ez 37,27; Is 25,8; 35,10; 65,19) se sucedem para descrever esta esplêndida realidade de comunhão, de con­solo, de vida, de festa: algo que o homem ainda não conhece -porque Deus faz novas todas as coisas – mas que já pode gozar em certo modo desde agora, porque «o que está em Cristo é uma nova criação; passou o velho, tudo é novo” (2 Cor 5,17; Is 43,19).

 

Sl 144/145 (Louvor ao Rei Yahweh) Quando se deseja rezar, já se está rezando. Por isso, Paulo sabiamente nos recorda que quer você coma, beba, durma ou faça qualquer outra coisa, que tudo seja para honra e glória de Deus. Segundo São João da Cruz o amado sempre pensa na amada vice-versa”. Deus quer que nossa oração seja sincera, forte e corajosa, mesmo nas dificuldades. O orante do nosso Salmo sente-se sofrido, abandonado, mas também sente um grande desejo de louvar e bendizer a Deus por muitos motivos que surgem em seu coração. Rezar não significa sair da realidade, abandonar as nossas atividades. Há, sim, momentos de profunda oração, mas na maior parte do tempo devemos assumir um espírito orante. Não esqueça, porém, de encontrar diariamente, como verdadeiro apaixonado e amante de Deus, momentos de silêncio e solidão para estar a “sós com o Só”, que é o Senhor.

Senhor, quero rezar e louvar por tudo na minha vida. És força e refúgio. Quero cada momento lembrar de ti, da tua presença, do teu profundo amor. Que do meu coração subam louvores e ações de graça a todo momento. Que minha oração seja como perfume agradável do incenso que sobe até ti, que sejam rápidas orações, jaculatórias, pensamentos, flechadas de amor que lanço ao céu. Que todo meu respiro seja louvor a ti. Que nada te ofenda, em mim e nos outros. Contemplamos a bondade de Deus em Jesus, nosso Senhor, que viveu sempre em comunhão com o Pai. “E agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha ante ti antes que o mundo existisse. Manifestei teu amor aos homens que, do mundo, me deste. Eles eram teus e tu os deste a mim; e eles guardaram tua palavra. Agora, eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles a acolheram; e reconheceram verdadeiramente que eu saí de junto de ti e creram que tu me enviaste”(Jo17,5-8).

 

 

MEDITATIO: O povo cristão é sempre um «pequeno resto» em meio dos milhões e milhões de homens que vivem sobre a face da terra. Porém é um fermento de massa «nova» que deve fazer fermentar, desde o interior, toda a massa. E ainda que a evidência da situação pareça desmentir sua eficácia, a Palavra de Deus nos autoriza a não duvidar e a deixar de sentir medo. O fruto da árvore só se vê depois de um laborioso tempo de germinação e de crescimento ao longo da sucessão das estações. Não é este o mesmo caminho de Jesus, o Filho do homem glorificado através da morte na cruz? Tudo se tornou novo: dão-se conta disso os que têm os olhos límpidos e penetrantes da fé, aqueles que, ressuscitados com Cristo, caminham sobre a terra mas seu coração já lhes impele ao alto. A transformação acontece dia após dia através de nosso morrer a toda classe de orgulho e  egoísmo, para passar da decadência do pecado à plenitude da vida nova. São muitos os que buscam hoje, não a novidade trazida por Cristo, mas as novidades; não a realidade nova, mas as informações em tempo real sobre os fatos mais o menos triviais da crônica. Corre-se facilmen­te atrás das «novidades velhas», das modas e modelos de vida oferecidos por uma sociedade privada de verdadeira capacidade criativa. Se o homem não re­nova a si mesmo, não faz mais que repetir um esquema antiquado do fazer parodia da originalidade. E como só Deus é criador, só confiando-nos ao sopro do Es­pírito poderemos renovar-nos e converter-nos em artífices de renovação na Igreja e em toda a comunidade.

 

ORATIO: Deus, Pai nosso, Tu que, no excesso de teu amor, expuses­te teu Filho amantíssimo à rejeição e ao ódio do mundo, concede a força de teu Espírito a nós que que­remos seguir as pegadas de nosso Mestre e dar va­lente testemunho de sua morte e sua ressurreição frente ao mundo que não te conhece. Faz que, unindo-nos com Ele, sejamos capazes de opor o amor ao ódio, a mansidão à violência, o perdão à vingança, a paz à inimizade, a benção à maldição.Não per­mitas que na hora da prova sejamos vencidos pelo medo e caiamos no pecado da falta de fé e do desamor. Faze–nos teus cada vez mais e corramos a ti, unidos a teu Filho, levando nos braços todo este mundo que amas e queres salvar.

 

CONTEMPLATIO: «Vos dou um mandamento novo». Como era de esperar que os discípulos, ao ouvir essas palavras e considerarem-se abandonados, fossem presa do desespero, Jesus lhes consola provendo-lhes, para sua defensa e proteção, da virtude que está na raiz de todo bem: a caridade. É como se dissesse: «Vos entristeceis porque eu me vou? Pois se vos amardes uns aos outros sereis mais fortes». E por que não disse exatamente assim? Porque lhes comunicou um ensinamento muito mais útil: «Pelo amor que tenhais uns aos outros reconhecerão todos que sois meus discípulos». Com estas palavras dá a entender que seu grupo eleito não deveria se dissolver-se nunca, após ter recebido dele este sinal distintivo. Ele fez novo do mesmo modo que o formulou. De fato, afirmou: «Como eu vos tenho amado» […]. E deixando de lado qualquer alusão aos milagres que haveriam de realizar, disse que se lhes conheceriam por sua caridade. Sabeis por que? Porque a caridade é o maior sinal que distingue os santos: é a prova segura e infalível de toda santidade. É, sobretudo, com a caridade que todos conseguimos a salvação. E nisto consiste, principalmente, ser discípulo seu. Precisamente, graças à caridade, to­dos vos louvarão, ao ver que imitais meu amor. Os pagãos, é ver­dade, não se comovem tanto frente aos milagres como frente à vida virtuosa. E nada educa a virtude como a caridade. De fato, os pagãos chamarão, com freqüência, «impostores» os que operam milagres, porém nunca poderão encontrar nada criticável em uma vida íntegra (João Crisóstomo, Homilías sobre el evange­lio de Juan).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Sua ternura se estende a todas as criaturas» (Sl 144,9)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL «Amarás teu próximo como a ti mesmo» (cf. Mt 22,37-39). Começo a sentir que um amor a Deus total e incondicionaL torna possível um amor ao próximo visibilíssimo, solícito e atento. O que com frequência defino como «amor ao próximo» se mostra com excessiva frequência como una abstração experimental, parcial e provisional, de solidez muito instável e fugaz. Mas, se meu objetivo é o amor a Deus, me é possível desenvolver por sua vez um profundo amor ao próximo. Há outras duas considerações que podem explicá-lo melhor. Primeiro, no amor a Deus descubro a «mim mesmo» de um modo novo. Segundo, não nos descobriremos só a nós mesmo sem nossa individualidade, mas descobriremos também nossos irmãos humanos, pois é a glória mesma de Deus que se manifesta em seu povo através de uma rica variedade de formas. A unicidade do próximo não se refere a essas qualidades peculiares, irrepetíveis de um indivíduo a outro, mas ao fato de que a eterna beleza e o eterno amor de Deus se fazem visíveis nas criaturas humanas únicas, insubstituíveis, finitas. É precisamente na preciosidade do indivíduo onde se refrata o amor eterno de Deus, convertendo-se na base duma comunidade de amor. Se descobrimos nossa mesma unicidade no amor de Deus e se nos é possível afirmar que podemos ser amados porque o Amor de Deus mora em nós, poderemos chegar então aos outros, nos quais descobriremos uma nova e única manifestação do mesmo amor, entrando numa íntima comunhão com eles (H.J.M. Nouwen, Hoascoltato I silenzio).

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 20195ª SEMANA DA PÁSCOA

João 14,27-31a (A despedida) Esta passagem que conclui o primeiro colóquio de Jesus com os seus, é um texto composto, e contém palavras de despedida e de consolo por parte do Mestre, que deixa sua comunidade e volta ao Pai. Jesus, ao despedir-se dos seus, lhes deseja a «paz», o shalom, que é o conjunto dos bens messiânicos, um dom que vem de Deus e que Jesus possui. O motivo do consolo deve prevalecer sobre o temor e a inquietude: Ele, Jesus, é a paz. Por isso Jesus acrescenta uma exortação à alegria. Ainda que estejam tristes pelo afastamento e o temor de ficarem sozinhos, a separação dos discípulos com respeito a Jesus é o passo para um bem melhor. Jesus vai ao Pai “‘porque o Pai é maior» que Ele, é a plenitude de sua glória (v.28). Mas a volta do Filho ao Pai está unida de maneira inseparável ao escândalo da cruz. Je­sus, com as pregações que tem feito sobre sua morte próxima, não só pretende sustentar a fé dos discípulos no momento da paixão, mas quer mostrar que os fatos que vão acontecer fazem parte do projeto de Deus. Em consequência, os seus não deverão desanimar: a fé será sua força e seu único consolo. O tempo terreno do Mestre está agora a ponto de concluir, restam poucos momentos para conversar ainda com seus discípulos, «porque se aproxima o príncipe deste mundo» (v.30). Ainda que se aproxime Satanás, não tem nenhum poder sobre Jesus. Este não tem pecado e Satanás não tem possibilidade de atacar-lhe. A vida de Jesus está sob o sinal da vontade do Pai e se entrega livremente à morte na cruz para que o homem conheça a verdade.

 

At 14,19-28 (Fim da missão) Após outro perigosíssimo episódio de intolerância, resolvido sem tragédia, pois «seus discípu­los o rodearam», Paulo, agora protagonista, com Barnabé, toma o caminho de volta e visita as comu­nidades recém-fundadas. Trata-se de uma «visita pastoral», onde ambos confortam os fieis e põem as bases de uma organização eclesiástica. Continuidade garantida pela con­sciência do elevado valor do Reino de Deus: para entrar no Reino «temos» que passar por muitas tribulações. Uma continuidade garantida pela pre­sença de responsáveis que creem no Senhor e foram confiados a Ele. Os evangelizadores passam; o Evan­gelho deve ser levado continuamente adiante por novos evangelizadores e pastores. Esta preocupação pelo futuro da comunidade não pode diminuir nun­ca na Igreja, tampouco em nossos dias. A volta está traçada com rápidas pinceladas. Chegados à igreja de onde haviam partido, narram os abundantes frutos da mis­são, sobretudo a confirmação que Deus «havia aberto aos pagãos a porta da fé” (v.27). O ca­minho aos pagãos parece agora irreversível, e em Antioquia, cidade aberta à missão universal, é algo que parece óbvio e pacífico. Mas não acontece assim em to­dos os lugares. A parte menos dinâmica da Igreja mãe não pensa do mesmo modo. Este dado anuncia novas nuvens carregadas, mas também de clarificações decisivas.

 

Salmo 144/145 (Louvor ao Rei Yahweh) Ver dia anterior

 

 

MEDITATIO: O Senhor derramou a paz em teu coração: Ele está presente dentro de ti, com o Pai e o Espírito Santo. Isso dar um sentido de segurança e força: Se Deus está contigo, quem estará contra ti? Sem dúvida, com frequência estás inquieto e atemoriza­do: o mundo se mostra ameaçante, as paixões não dão trégua, tudo parece desenrolar-se «como se Deus não existisse», e Deus cala dentro de ti, brinca de esconder-se, não responde. Então teu coração se espanta, te assalta a dúvida e tua paz fica assediada, quando não se esvai. Agora é quando deves recordar que Deus está pre­sente na luz obscura da fé, que tens de exercitar a fé nestes momentos para ouvir aquilo que não ouves, para ver aquilo que não vês, para aferrar-te a um amparo que tens de buscar no nevoeiro. É, de fato, a fé o que está na base da paz, que, de fato procede da comunhão com Deus. Fé no Deus já presente, mas não possuído ainda em plenitude; fé que amadurece no tempo da ausência do Esposo; fé que se aperfeiçoa na busca do Esposo; fé que se purifica através dos acontecimentos mais duros e atrozes. A paz procede de um olhar de fé sobre a realidade de um Deus presente, ainda que buscado por de um coração ferido pelo sentimento de sua ausência. A paz vem quando se compreende e se aceita o misté­rio da ausência de Deus também em sua presença, em seu silêncio, no sofrimento e no mistério da cruz como momento mais elevado do amor de Deus e do testemunho de teu amor por Ele.

 

ORATIO: Como busco a paz e quanto a busco! Sem dúvida, devo admitir que nem sempre a busco onde se encontra. Também busco, em suma, a paz como o mundo a busca: longe da cruz, fugindo de quem me perturba, evitando os que me fazem perder a paciência, esqui­vando as moléstias e fechando os olhos ante os sofri­mentos dos outros. Como vou poder viver em paz se não me defendo um pouco dos outros? E como vou vi­ver em paz se não me concedo alguma satisfação? Como se pode viver em paz estando sempre submetido à pre­ssão? Tudo são tentações, o sabes, ó Senhor. Tentações que desviam meu olhar de ti, fonte de minha paz; que me fazem esquecer tuas palavras, fonte de uma paz sólida e tenaz. Vence, Senhor, estas minhas tentações! Faz-me ouvir tua voz no meu coração perturbado e ensina-me caminhos que con­duzem à tua paz…

 

CONTEMPLATIO: Quando o Senhor afirma: «Vos dou minha paz, não como a dá o mundo», que devemos entender, senão que Ele não nos dá a paz do mesmo modo como dão os que amam o mundo? Esses, de fato, se põem de acordo para fazer a paz entre eles, com o fim de gozar, não de Deus, mas dos prazeres que o mundo dá a seus amigos, apesar de todo conflito e de toda guerra. E se também concedem paz aos justos, no sentido de que deixam de persegui-los, não se trata ainda da verdadeira paz, enquanto não é uma concórdia real, porque estão desunidos os corações. Do mesmo modo que se disse com sorte a quem une sua sorte à tua, só quando os corações estão unidos se pode falar de concórdia (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Deixo-vos a minha paz; que não se inquiete o vosso coração» (cf. Jo 14,27)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL ncontra-te sempre diante da alternativa de deixar falar a Deus ou deixar gritar o teu “eu” ferido. Ainda que deva haver um lugar onde possas deixar que a parte ferida de ti obtenha a atenção que necessita, a tua vocação é falar desde o lugar onde Deus habita em ti. Quando mais permites que teu “eu” ferido se expresse, em forma de justificações, disputas ou lamentações, mais consegues frustrar-te e, ainda mais, e te sentirás cada vez mais rejeitado. Reclama a Deus em ti e deixa que Deus pronuncie palavras de perdão, de cura e de reconciliação, palavras que chamem à obediência, ao compromisso radical e ao serviço. Muito tempo se requer, e muita paciência, para distinguir entre a voz de Deus, na medida em que vais sendo mais fiel a tua vocação se tornará mais fácil. Não se desesperes: hás de preparar-te para uma missão que será difícil, porém fecunda (H. J. M. Nouwen).

 

 

QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 20195ª SEMANA DA PÁSCOA                                                               

João 15,1-8 (A verdadeira figueira) A repetição, em poucos versículos, do verbo «permanecer», faz compreender, de imediato, quer esta é a palavra chave do texto. Se no capítu­lo 14 – começo do «discurso de despedida» – se põe o acento na partida de Jesus e na inquietude dos apóstolos, agora aparece na comunhão profunda, real, indestrutível, que há entre ele e aqueles que creem nele. Ainda que vá enfrentar-se com a morte, Jesus segue sendo, para os seus, a fonte da vida e da santi­dade “produzir fruto”: (15,6). Mais ainda, precisamente, quando está indo ao Pai, põe a condição para poder «perma­necer» para sempre nos seus. Jesus, servindo-se, de uma comparação, fala de si mesmo como da videira verdadeira: uma imagem que já haviam usado, com frequência, os profetas, para descrever Israel, a videira estéril, recidi­va aos amorosos cuidados de Yahweh (cf. Is 5). Jesus se apresenta como o verdadeiro povo eleito que corres­ponde plenamente às atenções de Deus. Por outra parte, se identifica com a Sabedoria, da qual se havia escrito que, como videira, tem produzido brotos, flores e fru­tos (Eclo 24,17). Com essa imagem quer explicar, pois, como é a extraordinária realidade da comunhão vital com Ele, que oferece aos crentes; que compromisso in­clui esta e quais são as expectativas de Deus. Jesus é o primogênito de uma humanidade nova, em virtude do sacrifício redentor na cruz. Ele é a cepa santa da qual vai aos sarmentos sua linfa vital. Quem per­manece unido a Ele pode dar ao Pai o fruto do amor e dar glória a seu nome (vv.5.8). A seguir, para que este fruto seja copioso, o Pai-vinhateiro tem todos os cuidados, corta os sarmentos não fecundos e poda os fecundos. Esta obra de purificação vai se realizando quando a Palavra de Jesus é acolhida em um coração bom (v. 3): então esta Palavra guia as ações do homem e o faz amigo de Deus, cooperador em seu desígnio de salvação, colaborador de sua glória (v.7).

 

 

At 15,1-6 (Controvérsia em Antioquia) No começo do fragmento aparece exposta a questão que tanto interessou e perturbou os primeiros discípulos: faz falta a circuncisão para salvar-se? Paulo e Barnabé respondem decididamente que não. Porém, que fazer se os que dizem o contrário contaram com o aval das colunas da Igreja de Jerusalém? Dai vem à decisão: ir diretamente a Jerusalém. Ali, após uma viagem, na qual contam seus êxitos apostólicos, suscitando uma «grande alegria a todos os irmãos», foram recebidos pela «igreja, os apósto­los e demais responsáveis», mas encontram também a mesma opo­sição que falaram em Antioquia por parte dos fariseus convertidos. Sua tese é a típica dos judaizantes, contra os quais Paulo terá que lutar durante muito tempo (cf., sobretudo, Gl 5,6-12). Para estes, a lei de Moisés tinha uma validade perene e, portanto, também tinha que ser imposta aos convertidos do paga­nismo. A questão é séria: daí que se convoque uma reunião à qual assistem os apóstolos e os demais res­ponsáveis. Segundo uma variante ocidental do texto ori­ginal, assistiram, também, “o conjunto dos irmãos». São as premissas do célebre ”Concilio de Jerusalém», a primeira reunião oficial da Igreja para resolver uma questão grave, da qual podia depender a difusão da Palavra entre o mundo pagão. Sobre esta reunião tem se derramado rios de tinta (em parte pela dificuldade de harmonizar os dados de Lucas com os de Paulo). Contudo, a importância da reunião é incontestável e seus resultados serão alta­mente positivos.

 

Sl 121/122 (Saudação a Jerusalém) Esta é, sem dúvida, uma das orações mais belas já pronunciadas: ao amor ao templo. Infelizmente, o templo perdeu a importância dia a dia e nós, a sacralidade da Igreja como o lugar onde Deus está e faz morada de modo especial. É o lugar santo por excelência. Para o piedoso judeu, ir a Jerusalém era um acontecimento de imensa alegria. Sentia-se amado e abençoado por Deus. Quem de nós não desejaria ir até Aparecida ou a Jerusalém ou Roma? Não como turistas desejosos apenas em passear e conhecer a cidade, mas como pessoas de fé que visitam lugares santos que falam de Deus, da Virgem Maria. Como é belo o sentimento que nasce no coração de quem avista pela primeira vez um lugar santo. Tenho tido a alegria de visitar e rezar em lugares muito santos, e sentir que Deus está me abraçando no seu amor. É verdade que Jesus nos anuncia um novo templo, não mais feito de pedra, mas de carne: o corpo humano, do qual a Trindade toma posse e transforma em templos vivos de amor. Hoje o templo, a Igreja, é carne viva do povo que caminha para a nova Jerusalém. A beata Elisabeth da Trindade, mística e carmelita, sente-se como templo vivo de Deus Pai, Filho e Espirito Santo. Faço minha sua oração:

“Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer totalmente de mim mesma(o) para fixar-me em vós, imóvel e pacífica(o), como se minha alma já estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar-me a paz nem me fazer sair de vós, ó meu Imutável, mas que em cada minuto eu adentre mais na profundidade de vosso Mistério. Pacificai minha alma, fazendo dela vosso Céu, vossa morada preferida e o lugar do vosso repouso. Que eu jamais vos deixe só, mas que aí esteja toda(o) inteira(o), totalmente desperta(o) em minha fé, toda(o) em adoração, entregue inteiramente à vossa ação criadora.” Senhor, só com essa consciência de que somos tua morada nasce de verdade o respeito pelo outro. Sinto-me comprometido e pecador sempre que nego o pão, o amor, o respeito ao meu irmão porque tu és carne minha e d’Ele também. Amém.

 

 

MEDITATIO: Devo cair em conta que o cristianismo não é só uma mensagem, mas uma vida. Não afeta só à mente, mas nos faz dar um salto qualitativo na ordem do ser. Não é só algo iluminador, mas trans­formador. É a vida divina derramada em mim por Cris­to, que vivifica minha existência, graças a minha comunhão com Ele. Quem pode dar-me a vida divina, a partici­pação na vida imortal, uma vida além de toda imaginação, senão Deus mesmo? Não posso subir ao céu, só posso receber o que do céu me vem. E recebo estando em comunhão com Cristo, a videira, e com os irmãos, os outros sarmentos. O Pai dá a vida ao Filho e o Filho a transmite aos que estão unidos a Ele: essa é a realidade que transforma tudo. Penso alguma vez na unicidade da «vida divi­na»? Esta expressão pode parecer-nos, às vezes, vaga, visto que não é verificável com instrumentos humanos, porém é decisiva, porque é a razão de meu «ser filho» de Deus, de minha vida definitiva com Ele, uma vida que será vida de «família» com a inacessível e gloriosa Trindade, posto que agora sou «consanguíneo» seu. O ponto de ligação insubstituível entre o divino e o humano se­gue sendo Jesus e a comunhão com Ele. Jesus é insubstituível à minha vida de filho de Deus; Ele me converte em um sarmento curado com sua palavra, Ele me faz chegar à linfa vital da imortalidade, que vem da eternidade e submerge na eternidade.

 

ORATIO: Ó Jesus, quão grande e decisivo és! Contigo estou vivo, sem ti estou morto. Contigo me arrasta o rio i­mortal da vida divina para o oceano divi­no, ilimitado e sem ocaso. Contigo sou tudo, sem ti sou nada. Dou-te graças, Senhor, cheio de admiração, por ter vindo unir-me com a eternidade; mais ainda, com o Pai, fonte da vida perene. Ata-me a ti, para que eu não seja um sarmento cortado, um sarmento sem fruto. Mantém viva em mim a consciência da necessidade de minha comunhão contigo. Por isso te apresento toda a necessidade que tenho da Palavra que me une a ti, da Eucaristia que me alimenta de ti, do mandamento novo que me une com meus irmãos e produz o fruto precioso da fraternidade, do testemunho de teu nome, que enche de cachos maduros meu sar­mento… Amém.

 

CONTEMPLATIO: Que ninguém pense que o sarmento, por si só, pode produzir algum fruto. O Senhor disse que quem está nele produz “muito fruto». Não disse: “Sem mim podeis fazer pouco», senão: “Sem mim não podeis fazer nada». De todos os modos, seja pouco ou muito, não podemos fazer sem Ele, visto que sem Ele não podemos fazer nada. Porque quando o sarmento produz pouco fruto, o agricultor poda para que produza mais; sem dúvida, senão está unido à videira e não toma alimento da raiz, não poderá dar por si mesmo nenhum fruto (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Eu sou a videira e vós os sarmentos» (Jo 15,5)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A arte de viver em íntima união com Jesus se exercita de três modos: primeiro, mantendo-nos sempre em sua presença, sem perdê-lo nunca de vista. Consiste, de modo essencial, em acostumar-se a ouvir Cristo em si mesmo, mediante a recordação de sua divina presença em nós, por meio do costume arraigado de realizar atos de amor com Ele e pela graça que Deus nos concede a fim de criar íntimas relações de familiaridade entre Ele e a alma. A disposição mais importante que se requer é pensar nele por motivo de tudo, representar-nos sua vida, sua paixão, seus ditos, porque, deste modo é como se cria uma doce familiaridade. Segundo, corresponder fielmente e com exatidão às inspirações do céu. É preciso seguir a Jesus com coração atento, ávido de escutar sua Palavra e seguir seus convites. Terceiro, com humildade de coração: assim como os que vivem na corte devem seguir a regra de uma perfeita correção exterior, também os que formam a corte de nosso Senhor devem ser conscientes da grandeza da vocação cristã e viver com ansiedade e amor humilde (J. J. Surim, I fundamenti della vita spirituale).

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 23 DE MAIO DE 20195ª SEMANA DA PÁSCOA

João 15,9-11 (A verdadeira videira) Qual é o fundamento do amor de Jesus pelos seus? O texto responde a esta pergunta. Tudo tem sua origem no amor que se move entre o Pai e o Filho. A esta comunhão temos de reconduzir todas as iniciativas que Deus tem realizado em seu desígnio de salvação para a humanidade: «Como o Pai me ama, assim eu vos amo; permanecei em meu amor» (v.9). Mas o amor que Jesus alimenta pelos seus requer uma pronta e generosa resposta. Esta se verifica na observação dos mandamentos de Jesus, na permanência em seu amor, e tem como modelo seu exemplo de vida, na obediên­cia radical ao Pai até o sacrifício supremo. As palavras de Jesus seguem uma lógica simples: o Pai ama ao Filho, e este, ao vir aos homens, “permanece unido com Ele no amor, por meio da atitude constante de um «sim» generoso e obediente ao Pai.” O mesmo tem de ter lugar na relação entre Jesus e os discípulos. Estes são chamados a pra­ticar, com fidelidade, o que Jesus tem realizado ao longo de sua vida. Sua resposta deve ser o testemunho sincero do amor de Jesus pelos seus, permanecendo pro­fundamente unidos em seu amor. O Senhor pede aos seus não tanto que lhe amem, mas que se deixem amar e aceitem o amor que do Pai, através de Jesus, desce sobre eles. Pede-lhes que lhe amem deixando a Ele a iniciativa, sem pôr obstáculos a sua vinda. Pede-lhes que acolham seu dom, que é plenitude de vida. Para Permanecer em seu amor é preciso cumprir uma condi­ção: observar os mandamentos segundo o modelo que têm em Jesus.

 

 

At 15,7-21 (Discurso de Pedro) Na assembléia de Jerusalém estão presentes duas preocupações: salvaguardar a universalidade do Evan­gelho e ao mesmo tempo manter a unidade da Igreja. A abertura ao mundo pagão, quer dizer, à tomada de consciência da universalidade do Evangelho, não dá ori­gem a duas Igrejas, mas a uma única com conotações pluralistas. Corresponde a Pedro a tarefa de de­fender a opção de Antioquia. E o faz partindo de sua própria experiência, apoiando a linha de Paulo, usando, inclusive, sua típica linguagem teológica: «Cremos que nos salvamos pela graça» (v.11). Em consequência, não se fala de impor o peso da circuncisão ou qualquer outro fardo insuportável. O problema da convivência das duas culturas, formas, mentalidades, tradições, foi exposto por Tiago, portador das instâncias da tradição. Não se opõe a Pedro, mas sugere algumas observâncias ri­tuais importantes aos judeus, que permitirão uma convivência que não ofenda a sensibilidade dos que procedem do judaísmo. Trata-se de normas de pureza legal tomadas do Levítico. Para Tiago, as comunidades dos cristãos, judeus e pagãos, são diferentes, mas devem viver sem alteração: por isso é preciso dar nor­mas prudentes. Entre o discurso de Pedro, o último em Atos, e o de Tiago tem se intercalado o testemunho dos atos da parte de Barnabé e Paulo. E todo o conjunto vem depois de «uma longa discus­são» (v.7). Estes poderiam ser considerados como conclusão e resumo de um paciente «processo de discernimento comunitário» no qual foram expostos, escutados e discutidos, a fundo, todos os fatos e todos os argumentos. Assim, fica salva a liberdade do Evangelho e a unidade da Igreja. É um método considerado cada vez mais como exemplar e que se anuncia como normal nas distintas decisões eclesiais.

 

Sl 95/96 (Yahweh, rei e juiz) O salmista convoca solenemente todos os povos e todos que têm fé para que, juntos, levem um grande hino de glória, louvor e ação de graças ao Senhor, o Deus que está acima de todos os deuses e tem o poder de destruí-los. O centro deste é a grandeza de Deus, o Senhor dos exércitos. Ofereçamos a Ele toda a nossa admiração! Senhor, muitas vezes se faz difícil o louvor; reconheço a existência de resistência dentro de mim, na minha família, na minha comunidade. As pessoas não querem me escutar e há momentos em que me consideram fanático pelas minhas ideias e minha insistência, mas o teu convite é amor. Senhor, ajuda-me a convidar a todos para reconhecer a tua grandeza, a tua força, a ser anunciador corajoso diante de todos, a não ter medo e a ser sempre um profeta destemido e corajoso. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: “Tenho dito tudo isto para que participeis em meu gozo e vosso gozo seja completo» (v.11): todos, e cada um dos discípulos, estão convidados a deixar-se possuir pela alegria de Jesus, após ter-se deixado possuir pelo amor de Deus. Minha existência como discípulo consis­te em deixar lugar a este amor divino, que é um amor “descendente»; um amor que move o Pai a «entre­gar a seu Filho único» (Jo 3,16), um amor que move o Filho a entregar-se a si mesmo, um amor que move os discípulos a fazer outro tanto, um amor que garante a «felicidade» do discípulo. Quando Jesus fala das mais que exigentes condições deste amor, disse claramente que são possíveis porque este novo modo de amar procede de Deus. É o amor de Deus que opera em mim, em ti, em todos os discípulos. E não só isso, receberemos de Jesus «sua» felicidade, a alegria que procede de ter amado como Deus ama, através do impulso e da imitação de Jesus. Trata-se de algo que nada tem que ver com o moralismo: aqui nos encontramos no alto da mística, da mística da ação, que implica a entrega de si mesmo e inclui ser possuído, todo, pelo amor de Deus.

 

 

ORATIO: Senhor Jesus, ajuda-me a olhar para o alto para ter a coragem de olhar para baixo. Ajuda-me a olhar a ti, no esplendor dos santos; a ti, completamente voltado ao Pai, que é uma só coisa com Ele desde a eternidade. Fixa meu olhar em ti para que também eu seja capaz de descer e fazer o que tu tens feito. E é que servir um pouco pode resultar fácil, porém converter toda a vida em um serviço é bastante difícil. Servir aos que não o merecem, aos que não são agradecidos, aos que te rejeitam, é, ainda mais árduo. Rogo-te que infundas em meu coração esse amor teu sedutor, esse teu amor concreto, humilde, que recebeste do Pai e que plasmou tua vida, para que também eu possa fazer o que tu me dizes que é preciso para ser discípulo teu. Meu serviço não será assim um arrastar-se de maneira penosa; minha perseverança em um serviço isento de gratificações será fonte de felicidades, porque estarei possuído pela felicidade que vem de ti.

 

 

CONTEMPLATIO: Não teria aprendido eu a amar ao Senhor se Ele não me tivesse amado. Quem pode compreender o amor, senão quem é amado? Eu amo ao Amado, a Ele ama minha alma: ali onde está seu repouso, ali estou eu também. E não serei um estranho, porque não há inveja junto ao Senhor altíssimo, porque quem se une ao imortal também será imortal, e quem se compraz na vida vivente será. Que permaneça tua paz comigo, Senhor, nos frutos de teu amor. Ensina-me o canto de tua verdade, de sorte que venha a mim como fruto o louvor, abre em mim a cítara de teu Espírito Santo para que eu te louve Senhor, com toda melodia. “Prorrompo em um hino ao Senhor porque sou seu e cantarei a canção consagrada a Ele porque meu coração está cheio dele” (das Odes de Salomón).

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Permanecei em meu amor» (Jo 15,9b)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Um dos mais célebres músicos do mundo, que tocava o alaúde com perfeição, em um breve tempo, ficou tão gravemente surdo que perdeu o ouvido por completo; sem dúvida, continuou cantando e manejando seu alaúde com uma maravilhosa delicadeza. Mas, como não podia experimentar prazer algum com seu canto e seu som, visto que lhe faltou o ouvido, não percebia sua doçura e sua beleza, cantava, unicamente, para contentar a um príncipe, a quem tinha grande desejo de agradar, porque estava muito agradecido, já que havia sido criado em sua casa até a juventude. Por isso sentia uma inexpressável alegria ao agradá-lo, e quando o príncipe lhe fazia sinais de que o agradava o seu canto, a alegria o fazia ficar fora de si. Porém, sucedia, em ocasiões, que o príncipe, para por a prova o amor de seu amável músico, o ordenava cantar e ia de imediato a caçar, deixando-o só; porém, o desejo de obedecer aos desejos de seu senhor o fazia continuar o canto com toda atenção, como se seu príncipe estivesse presente, ainda que, verdadeiramente, não lhe produzisse nenhum gosto cantar, já que não experimentava o prazer da melodia, do qual o privava a surdez, nem podia gozar da doçura das composições por ele executadas: “Meu coração está disposto, ó Deus, meu coração está disposto; quero cantar e entoar hinos. Desperta, alma minha, despertai, cítara e harpa, quero despertar a aurora” (Francisco de Sales, Tratado do Amor de Deus).

 

 

SEXTA-FEIRA , 24 DE MAIO DE 20195ª SEMANA DA PÁSCOA                                                            

João 15,12-17 (A verdadeira videira) As relações entre Jesus e os discípulos assu­mem uma intensidade particular neste breve texto onde se afronta o tema do mandamento do amor fraterno: «Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado» (v. 12). Os mandamentos que deve observar a comunidade messiânica estão compendiados no amor fraterno. Este preceito do Senhor glorifica ao Pai. Supõe viver como verdadeiros discípulos e dar como fruto o testemunho. Mas a qualidade e a norma do amor ao irmão são uma só: o amor que Jesus tem pelos seus, um amor que tem chegado a seu cume na cruz (v.13). A cruz é o exemplo da entrega de Jesus até o extremo por seus discípulos: tem entregado sua própria vida por aqueles aos quais ama. A riqueza do amor que une Jesus com os seus, e os discípulos entre eles é, em suma, total e de uma grande qua­lidade. O modelo do amor de Jesus por seus discípulos não tem que ver só com o sacrifício de sua vida, mas contém também outras prerrogativas: é relação de intimidade entre amigos e dom gratuito (vv.14s). O sinal maior da amizade entre dois amigos consis­te em se revelar os segredos de seus corações.      O amor de amizade, do qual nos fala Jesus, não se impõe; é resposta de adesão no seio da fidelidade.              O Mestre, ao fazer partícipes, seus discípulos, dos segredos de sua vida, tem feito amadurecer neles o segui­mento, lhes tem feito compreender que a amizade é um dom gratuito que procede do alto. A verdadeira amizade se situa na ordem da salvação. Jesus já não é para eles o senhor, mas o Pa­i e o confidente, e eles já não são servos, mas ami­gos. Converter-se em discípulo de Jesus é dom, graça, eleição e certeza de que nossas preces dirigidas ao Pai, em nome de Jesus, serão escutadas (vv.16s).

 

 

At 15,22-31 (A carta apostólica) – A assembleia conclui elegendo uma delegação com o envio de uma carta. Nela se desautoriza os rígidos, ou seja, os que haviam provocado à tensão, e se dá via livre à abertura aos pagãos, sem impor-lhes demasiadas cargas. É importante a consciência que tem a assembleia de ter tomado uma decisão sob a luz do Espírito: a Igreja experimentou, desde suas origens, a presença do Espírito e a transmitiu ao longo dos séculos. O discernimento praticado – no qual participou toda a Igreja – foi verdadeiramente «espiritual” quer dizer, foi guiado pelo Espírito. A delegação deve explicar os detalhes do conteúdo do texto, assim como, as cláusulas de Tiago, apresentadas como generosas; isto é, não como cargas pesadas. De fato, essas limitações cairão prontamente, em desuso frente à esmagadora presença dos numerosos cristãos procedentes do paganismo e a diminuição do componente judeu. O próprio Paulo, de sua parte, não fez nunca alusão a estas cláusulas. A linha de Antioquia tem agora via livre para seu estilo de evangelização: suas teses foram aceitas e avaliadas plenamente. Compreende-se que «sua leitura lhes enchera de alegria e lhes proporcionara um grande consolo”. Este consolo lhes animou a seguir pelo caminho empreendido. Antioquia se converte, agora, no novo centro de irradiação do Evangelho e no ponto de partida das novas empresas de Paulo. Reina um clima de alegria e serenidade em virtude do avanço do Evangelho, que lhes faz certificar da importância vital da difusão do caminho da salvação a todos os homens. Isto nos faz refletir sobre a escassa presença atual desta preocupação em nossas comunidades. Que está se passando?  Perdeu sua relevância, a nossos olhos, a causa do Evangelho? Ou será que diminuíram os homens que, como Paulo e Barnabé, «consagraram sua vida ao serviço de nosso Senhor Jesus Cristo»?

 

Sl 56/57 (No meio de “leões”) Deus, em sua bondade infinita, doa dificuldades e alegrias da vida; não há um dia sem que exista uma sombra para nos refrescar, e sem que o Sol brilhe alto na vida de cada um de nós. Cabe a nós aprender a viver com sabedoria, agradecendo ao Senhor por tudo. O que dá sabor e sentido à vida são os desafios que surgem e obrigam a parar, prestar atenção e pensar num modo de superá-los. Diariamente, somos provados para que se possa confirmar que o nosso coração está no Senhor. Quem não tem um ideal definido e não sabe que direção seguir, dificilmente encontrará felicidade. O salmista vive em meio às tribulações, dificuldades e inimigos que tentam derrotá-lo. Mas seu coração está tranquilo, pois confia no Senhor e se esconde à sombra de suas asas, onde, como em um templo, encontra proteção, asilo, esperança e confiança. Por isso, quer ser um hino de louvor ao Senhor e despertar a aurora que dorme para cantar e bendizer. Em razão de sua bela experiência com o Senhor, o salmista declara que o amor de Deus é maior que tudo, perdendo-se docemente numa contemplação silenciosa e amorosa…

Senhor, não duvido que posso a qualquer momento esconder-me à sombra de tuas asas de amor e proteção, mas há ocasiões em que me sinto imensamente só e sem apoio de ninguém, quase que perseguido por todos e abandonado nas minhas ilusões e tristezas. Fico abatido, triste, desanimado, mas é por pouco tempo, pois um novo vigor me toma por completo quando penso que posso me refugiar no templo. Qual templo? Não mais de Jerusalém nem na Igreja. Há em mim um templo novo que é meu coração, onde posso esconder-me de tudo e de todos, menos de ti e de mim mesmo, onde encontro força, coragem e abrigo. Gosto de cantar e recitar Salmos, manifestar assim quanto te sou agradecido por todos os bens recebidos por tua bondade e amor. Afaste de mim o demônio do desânimo e do pessimismo e doa-me a alegria da vida. Não te peço nada de grande, mas somente a paz do coração e coragem para anunciar-te em todos os lugares onde eu for. Tua fidelidade me comove porque tu és um amigo fiel para sempre; mesmo que eu te seja infiel, tu continuas a ser fiel e estar ao meu lado. O meu pecado não te afasta de mim, mas te aproxima ainda mais de mim. Com teu carinho, faz-me converter e voltar a ti, onde serei sempre acolhido. Amém.

 

 

MEDITATIO: «Meu mandamento», o que resume todos os outros, o que distingue um discípulo de Jesus de todos os demais, o que João chamará, também, «mandamento no­vo», o típico e inconfundível de Jesus, é simples e exigente: «Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado». Seguir a Jesus consiste em amar ao irmão, até dar a vida por ele, exatamente como fez Jesus, o Filho que desceu para dar a vida por mim. Dar a vida não significa só «morrer» pelos irmãos. Pode ser inclusive, formoso e desejado, em certos momentos em que sentimos em nós um particular impulso de generosidade. Dar a vida significa gastar nossa própria vida, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, para que sejam felizes os que vivem junto a mim. Significa que cada manhã eu devo pergun­tar-me como posso fazer para não ser uma carga para os que vivem comigo. Significa suportar seus silêncios e suas “más caras”, aceitar os limites de seu caráter, não estranhar suas contradições nem de seus peca­dos. Significa aceitar a meu próximo tal como é, e não tal como deveria ser.

 

ORATIO: Hoje me sinto obrigado, ó Senhor, a perguntar-me até que ponto eu levo a sério «teu» mandamento, esse que me distingue como teu discípulo, esse que Tu to­mas tão a peito. Se me examino bem, devo confessar que não é, de fato, o primeiro mandamento, o que tomo mais a sério. É que tenho posto adiante muitos outros valores que o mundo considera mais importantes ou que me gratificam mais e com maior fa­cilidade… Concede-me a íntima convicção de que é a prática deste mandamento o que faz novo o mundo, de que minha verdadeira contribuição como crente é a oferta de minha atitude fraterna. Ajuda-me a pôr no mais alto de minha escala de valo­res este mandamento, que é o mais antigo e o mais novo, que cada dia deverei aplicar a novas situações, para renovar a mim mesmo, minha existência e meu ambiente vital.­

 

CONTEMPLATIO: Ó santo Amor, quem não te conhece não pode gozar a suavidade de teus benefícios, que só a experiência vivida nos revela. Mas, quem te tenha conhecido, ou tenha sido conhecido por ti, não pode conceber, já, nenhuma dúvida. Porque Tu és o cumprimento da lei; tu que me cumulas e me acalentas; tu, que me inflamas e ascendes meu coração com uma caridade imensa. Tu és o Mestre dos profetas, o companheiro dos apóstolos, a força dos mártires, a inspiração dos pais e dos doutores, a perfeição de todos os santos. E preparas também a mim, Amor, para o verdadeiro serviço de Deus (Simeão, o novo Teólogo).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Eu Vos tenho destinado pra que vás e deis fruto” (Jo 15,16)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Quando o Senhor mandou seu povo amar o próximo como a si mesmo (cf. Lv 19, 18), não havia vindo ainda a terra, de sorte que, sabendo até que ponto se ama a própria pessoa, não podia pedir a suas criaturas um maior amor ao próximo. Mas, quando Jesus deu a seus apóstolos um mandamento novo, seu mandamento, não falou mais de amar ao próximo como a si mesmo, mas de amá-lo como Ele, Jesus, o amou e o amará até o fim dos séculos. Senhor, eu sei que não nos manda nada impossível. Tu conheces melhor que eu minha debilidade e imperfeição, sabes que não poderei nunca amar a minhas irmãs como tu as amas, se não és ainda tu, Jesus meu, quem as ama em mim. Para conceder-me esta nova graça, deste um mandamento novo. Ó, quanto o amo, pois me dá a garantia de que tua vontade é amar. Sim, estou convencida disso; quando pratico a caridade, é só Jesus quem opera em mim. Quanto mais unida estou a Ele, tanto mais amo a minhas irmãs (Teresa de Lisieux).

 

 

 

 

SÁBADO, 25  DE MAIO DE 20195ª SEMANA DA PÁSCOA

João 15,18-21 (A videira verdadeira) O texto contém uma advertência de Jesus dirigida a seus discípulos sobre o ódio e rejeição do mundo que terão à frente. Se a nota distintiva da comunidade cristã é o amor, agora o Mestre apresenta aos seus, o que caracteriza o mundo que lhes rejeita: o ódio (v.18). O Senhor adverte e explica esse ódio do mundo e emite um juízo sobre o mesmo. O ódio do mundo para a comunidade cristã é consequência lógica de uma opção de vida: os seguidores do Evangelho não pertencem ao mundo, e este não pode aceitar a quem se opõe a seus princípios e opções. Os crentes, em virtude de sua opção de vida a favor de Cristo, são considerados estranhos e inimigos. Sua vida é uma contínua acusação contra as obras perversas do mundo e uma desaprovação eloquente contra os malvados. Por isso é odiado e rejeitado o homem de fé. Mas como se manifesta este contra os discípulos? Pelas perseguições que padecerão os fiéis pelo nome de Cristo. Não são em verdade estas provas as que devem desanimar aos discípulos nem em seu caminho de fé nem em sua missão de evangelização. Também seu Senhor experimentou a incompreensão e a rejeição até a morte (v.20). É mais, a perseguição e o sofrimento são uma das condições da glória que toda a comunidade cristã deve compartilhar com seu Salvador. A sorte dos discípulos é idêntica à de Cristo: se este foi perseguido, também serão seus discípulos; se este foi escutado, também serão os seus (vv.20s).

 

 

At 16,1-10 (Na Licaônia, Paulo escolhe Timóteo) – Lucas passa, agora, a narrar os acontecimentos missionários de Paulo: ele será o protagonista da terceira parte dos Atos dos Apóstolos. O fragmento de hoje apresenta a segunda viagem missionária já avançada. Entretanto, houve a separação de Barnabé. A causa, segundo Lucas, foi uma diferente valorização da pessoa de João Marcos. Paulo elege como novo com­panheiro um discípulo seu, pelo qual sempre nutrirá grande carinho: Timóteo. Dando-lhe de uma grande elasticidade pastoral, especialmente em vistas à ação entre os judeus, Paulo o fez circuncidar-se, ainda que não visse, para isso, nenhuma necessidade doutrinal. Paulo se faz, em verdade, «tudo para todos», pelo Evangelho. É significativo o fato de o Espírito santo fazer-se, pra­ticamente, de guia, corrigindo a rota dos missionários. Lucas quer sublinhar que o protagonista e o diretor da evangelização é o Espírito Santo, que tem seus planos, com frequência, diferentes dos planos dos homens. É o Espírito quem impulsiona Paulo a passar à Europa, em vez de adentrar nas regiões da Ásia menor. Há um mistério no chamado aos povos e as nações, que foge por completo ao olhar humano. Basta uma simples reflexão: o diretor da evangelização é, com toda clareza, o Espírito Santo; não se trata de uma ação organizada pelos homens, ainda que estejam cheios de fé e de zelo. Na ação de São Paulo não há muita organização, mas uma grande disponibilidade à ação do Espírito Santo. Não é isto, hoje, atual e digno de atenção este dito, sem parecer só um slogan: «Menos organização e mais Espírito»?

 

Sl 99/100 (Convite ao louvor) Apesar de breve, este salmo nos dá uma importante descrição da situação do povo e de cada um de nós. É um cântico de procissão, de caminheiro e peregrino. Nossa história é êxodo constante: partimos do coração de Deus e seguimos em peregrinação por esta terra até o nosso retorno para os braços do Pai, lugar da paz infinita. Que fique claro que isso não tem relação com teorias e ideologias acerca da reencarnação, que seria uma purificação dolorosa por aquilo que não foi cumprido. O nosso Deus é bem diferente disso: oferece-nos tempo, nos orienta com sua Palavra, nos convida à conversão para que possamos realizar a nossa missão hoje. O mistério da ressurreição é algo belamente real, baseado na Palavra do Senhor, e não invenção humana. Viver é alegria, cântico e peregrinação é caminho, encontro e amor.

Senhor, sei que estou a caminho, vim de Ti e vou voltar a Ti com alegria. É neste meu lento, fatigoso e alegre caminhar que te convido, Senhor, a me abrir as portas para que eu possa entrar no novo tempo, na nova Jerusalém, na nova vida que é Jesus. Ele que veio para nos dizer que o Pai procura adoradores em espírito e verdade. Chama-me com força e com coragem para que eu nunca diga não ao teu amor, purifica minha mente e coração, e que eu nunca me deixe, de modo algum, influenciar por ideias que não sejam alicerçadas sobre tua Palavra e teu amor. Quero ter tua presença, celebrar tua grandeza e cantar teus louvores. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: Se pretendes viver segundo tuas convicções de fé, não deves surpreender-te encontrar ao teu redor a indife­rença ou a hostilidade. Não deves deprimir-te que os meios de comunicação social riam, com frequência, de maneira sutil, do estilo de vida cristão, ou que, quando expresses tuas convicções, te vejam como um antiquado; ou que as pessoas te considerem como alguém que pertence a uma era passada, a uma época da qual já temos nos despedido. Que não te abata o desalento: isso é sinal de que és fiel a Cristo perseguido e a sua Palavra de cruz. Não deves entrar em crise para que muitos não dispensem nessa cruz como seguidores de Jesus. Uma das características da fé é seu perene cará­ter inadequado. Essa característica nós temos de buscá-la em sua dimensão oblativa, que consiste no chamado à cruz, ao sacrifício, ao saber amar, à justiça paga com a própria pele. Não deves, portanto, «diluir» teu tes­temunho, nem baixar o grau das exigências da Palavra, nem envolver, com o silêncio, o que é mais comprometedor e impopular. Há silêncios que parecem excessivamente prudentes, que são expressão de temor ante os contragolpes da opinião pública, que expressam preocupação pela hostilidade de quem pode fazer-nos dano.

 

 

ORATIO: Ajuda-me, ó Senhor, a viver como tu queres em meio das dificuldades originadas pela hostilidade do mun­do. Ajuda-me a não ter medo de ser teu testemunho, porém ajuda-me também a não ser um juiz severo com os que põem obstáculos em meu caminho. Ajuda-me, an­tes que nada, a compreender minhas culpas, os motivos que eu mesmo posso ter dado, minhas faltas de compromissos. A hostilidade pode vir também de meu compor­tamento inadequado. E isso é algo que devo ter em conta. Ajuda-me a enfrentar com coragem às reações que procedem do fato de dizer o que tu dirias, de fazer as coisas que tu farias. Ajuda-me a não ter nun­ca medo de fazer um sério exame de consciência, a não diluir tua mensagem e o testemunho que devo a teu santo nome.

 

 

CONTEMPLATIO: O mundo que Deus reconcilia com Ele na pessoa de Jesus Cristo, que foi salvo por meio de Cristo, e no qual foram perdoados todos os pecados pelos méri­tos de Cristo, foi eleito entre o mundo dos ini­migos, dos condenados, dos corruptos. Também os discípulos estavam no mundo e foram eleitos para que deixassem de fazer parte do mesmo. Foram eleitos não por seus méritos, porque não haviam feito antes nenhuma obra boa; tampouco por sua natureza, por­que esta em virtude do livre arbítrio havia sido con­taminada pelo pecado em sua própria origem; foram eleitos por uma concessão gratuita, quer dizer por uma autêntica graça. De fato, o que do mundo elegeu ao mundo não en­controu bons aos que elegeu, mas os fez bons ao elegê-los. Mas, sim, isso é obra da graça, não das obras, pois, de outro modo, a graça já não seria graça (Rm 11,5s) (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Como perseguiram a mim, perseguirão a vós» (Jo 15,20)

                                                                                          

 

PARA UMA LEITURA ESPIRITUAL Uma das coisas que devemos a nosso Senhor é não ter nunca medo. Ter medo é fazer-lhe uma dupla injúria: em primeiro lugar, é esquecer que Ele está conosco, que nos ama e que é onipotente; em segundo, porque não nos configuramos com sua vontade: configuramos nossa vontade com a sua, tudo o que nos ocorra, dado que é querido e permitido por Ele, nos deixará alegres e nem teremos nem inquietudes nem temores. Tenhamos, pois, essa fé que expulsa todo medo; tenhamos a nosso lado, frente a nós e em nós, a nosso Senhor Jesus Cristo, Deus nosso, que nos ama infinitamente, que é onipotente; que sabe o que é bom para nós; que nos diz que busquemos o Reino dos Céus e que o resto nos será dado por acréscimo. Caminhemos seguros com esta bendita e onipotente companhia pelo caminho do mais perfeito, e estejamos seguros de que não nos ocorrerá nada do que não possamos retirar o maior bem para sua glória, para nossa santificação e para a dos outros. E que tudo o que nos ocorra será querido e permitido por Ele e, em consequência, longe de toda sombra de temor, só temos que dizer: “Bendito seja Deus por tudo que nos ocorre”, e só temos de roga-lo que ordene todas as coisas, não segundo nossas ideias, mas para sua maior glória (Charles de Foucauld).

 

 

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