LECTIO DIVINA NA 16ª SEMANA COMUM ANO 2020
DOMINGO, 29 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
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Mateus 13,24-43 (Parábolas do joio; do grão de mostarda e do fermento) – A pregação de Jesus sobre o Reino dos Céus transcende as expectativas de seus contemporâneos e revela uma imagem nova do rosto de Deus. É o que emerge das três parábolas de hoje. Contrariamente ao esperado, o Reino de Deus não terá uma dimensão triunfal na historia; a vitória sobre os opositores e as forças do mal não se levará a cabo neste mundo. Isto não significa que Deus, o semeador da boa semente, de alguma maneira seja derrotado. Mas, porque é dono da situação, pode frear a impaciência de seus servos (vv.28-30). Certamente, a boa semente começa a crescer junto com a cizânia; em nossa historia, o bem sempre estará obstaculizado pelo mal. Porém Deus vê o tempo desde a perspectiva da eterna meta final (vv.39-43): só com a ceifa terá lugar o discernimento definitivo. É uma lição de sabia paciência ante os fariseus e os zelotas de qualquer geração, partidários, de distintas formas, de uma pureza religiosa e nacionalista que exclui sem apelação aos «outros». E também o é para nós, dispostos a constituir-nos rapidamente em juízes e verdugos. Outro ensinamento «contra corrente» vem da parábola seguinte (v.31ss): o Reino dos Céus não tem a aparência desbordante que se esperava. Está próximo e presente (cf. Mc 1,15), porém é insignificante em seu aspecto, como o grão de mostarda. Sem dúvida, desde este estado incipiente germinará uma exuberante realidade vital. Deus realiza coisas admiráveis servindo-se de instrumentos e materiais humildes. É o ensinamento gemela que também se desprende da parábola do fermento (v.33): o Reino dos Céus é uma pequena coisa neste mundo, está oculto e misturado com os acontecimentos da historia humana, e contem em si uma potencialidade e um dinamismo irresistíveis. Os «filhos do Reino» (v.38) nunca devem separar-se do resto da humanidade, mas fermentar, desde o interior, as situações, seguros de que nada lhes impedirá produzir frutos pelo amor, o qual subsistirá eternamente (vv.30b.43; cf 1 Cor 13,13).
Sb 12,13.16-19 (Razões da moderação) – Após contemplar e exaltar a Sabedoria em si mesma, o autor sagrado considera sua intervenção na história (cf.cap.10-19) e responde agora uma pergunta implícita ao contexto do qual foi extraída esta perícope: por que Deus não castigou os inimigos de Israel (egípcios e cananeus) de modo drástico e imediato? E ensina como a Sabedoria, que guia o atuar divino, é mais sublime, magnânima e prudente que nossos critérios. O Deus criador também é a eterna Providencia que cuida de cada criatura: quem pode julgar seu proceder e acusá-lo de injusto (v.13)? Possui a plenitude da força (termo chave que introduz os vv.16-18): nada teme, diferente dos poderosos deste mundo, nem o ser incomodado, nem o perder algo. O Senhor atua segundo a justiça, a bondade e mansidão, «dosando» a força aos objetivos de uma sábia pedagogia (vv.17.19ss). Todas as interrogações sobre o atuar divino encontram uma mesma resposta: seu amor pelos homens, a filantropia. Por amor sabe esperar nosso arrependimento e nos ensina a amar (vv.19ss) com sua própria caridade, paciente e benigna (1 Cor 13,4).
Rm 8,26-27 (Destinados à glória)- O tempo presente é um longo período de parto, do qual nascerá a nova criação. É o tempo do gemido do cosmos e do homem (vv.22ss). Aprofundando na reflexão, Paulo afirma algo inaudito: Deus faz seu, o sofrimento da criação, através de seu Espírito, que leva adiante esta colossal gravidez desde o interior, desde o coração dos crentes. O Espírito transforma cada dor, espera e esperança em uma linguagem inefável de gemidos (para nós, misteriosa, mas compreensível para Deus). Gemidos que são penhor de vitoria, porque Deus «intercede pelos crentes segundo a sua vontade» (v.27). Nossa debilidade nos faz, não só impotentes para operar o bem, mas, até para compreender qual é o bem verdadeiro. E Deus vem socorrer-nos justo neste ponto. Não nos exclui, por agora, de nossa condição; ao contrario, se faz fraco conosco e em nós, por meio do Espírito. Assim, se prolonga no tempo, através dos crentes, o escândalo da cruz de Cristo: «Pois o que em Deus parece loucura é mais sábio que os homens; e o que em Deus parece debilidade é mais forte que os homens» (1 Cor 1,25). Esta loucura e debilidade de Deus conduzirão a historia dos homens ao resultado definitivo que o Senhor conhece e pelo qual o Espírito intercede insistentemente.
Salmo 85/86 (Súplica na provação) – Neste Salmo aprendemos como nos apresentar a Deus; sempre com muita humildade e servidão, como verdadeiro fiel em busca de auxílio. O pobre sabe como enternecer os ricos com sua pobreza, mediante a humildade e a simplicidade. O verdadeiro pobre nunca é arrogante ou pretensioso; quando precisa de algo, só estende a mão para que o outro entenda que é necessitado. A pobreza pode nos impedir de ter uma vida feliz e afastada, e nos oprimir. São nesses momentos que devemos nos lembrar da misericórdia do Senhor; que é o nosso refúgio. Com Ele podemos nos sentir verdadeiramente amparados e seguros. A oração do pobre é mais sincera, pois tem consciência de que sem Deus nada é possível e sabe que Ele é o único a quem pode recorrer. O pobre elogia o Senhor por sua grandeza e recorda as suas promessas. Por sua sinceridade, o pobre tem a certeza do socorro. A grandeza de Deus não oprime, e o seu amor é gratuito e generoso quando o invocamos com insistência.
Senhor, dá-me a graça de sentir-me pobre, ser pobre e viver e rezar como o pobre. Liberta-me do orgulho e da autossuficiência, concede-me a graça de recorrer a ti em todos os momentos dos meus sofrimentos. Mesmo quando perseguido e oprimido pela dor, pela solidão ou pela calúnia, que eu nunca me desespere: tu és meu consolo e conforto, minha segurança e meu apoio, meu abrigo e meu rochedo. Senhor, quero fazer deste Salmo a fonte da minha oração; não permita que eu me aproxime de ti com arrogância, mas que sempre, numa atitude de pobreza, saiba reconhecer as minha feridas e peça o teu alívio. Sou pecador, infiel, injusto, prepotente, necessito ser curado destas enfermidades e só tu podes curar-me com o teu amor e ternura. Abraça-me, Senhor, cura-me e não permitas que jamais me separe de ti. Seja tu, Senhor, o espelho onde me reconheço e te reconheço, e reconheço o rosto amável dos meus irmãos e irmãs. Amém.
MEDITATIO: A liturgia atual nos convida a abandonar nossos pensamentos e assumir os pensamentos de Deus, que ultrapassam os nossos, como o céu dista da terra (cf. Is 55,8ss). Quantas vezes, vendo que o mal ficava impune, nos perguntamos: onde está a justiça de Deus? Quantas vezes, ao surgir absurdas dificuldades, temos exclamado: até quando! A Palavra hoje nos mostra a paciência de Deus e nos ajuda a compreender melhor a realidade de seu Reino. Para nós, é forte quem supera qualquer dificuldade, tem êxito e está seguro. Para Deus, a força está no amor, até o ponto de o Onipotente ser, por assim dizer, o «Onipaciente». Espera, outra vez, de novo e sempre, que cada um de seus filhos se arrependa: a porta da casa paterna sempre está aberta para todos até o dia definitivo. E não se limita a esperar, mas sai ao encontro, fazendo-se fraco com os fracos, para conduzir a humanidade à redenção plena, a nova criação à realização do Reino. Através da cruz de Cristo e dos gemidos do Espírito que habita em nós, o Pai acompanha, mantém e sustenta o peregrinar do homem ao longo da historia. O inimigo dificultará, mas não poderá frustrar o plano de Deus. De nós depende apressar o passo. Como? Fazendo nosso o agir divino; evitando os inexoráveis julgamentos condenatórios, apagando o fervente desejo de erradicar o mal com a força. Colhendo nas realidades mais humildes e insignificantes, as grandes ocasiões de caridade que se nos apresentam. Então, o tempo dos homens fermentará com o fermento do amor de Deus; então, o Reino dos Céus crescerá desmesuradamente em nossa historia; então, o gemido do Espírito se converterá em canto de louvor impetuoso de toda a criação.
ORATIO: Senhor, tu semeias de dia no campo da Igreja, em cada um de nós, amor, paz e alegria. E à noite vem o inimigo e lança o joio: pensamentos, desejos, sentimentos hostis e traições ocultas que envolvem em trevas nosso coração. Dai-nos o espírito de vigilância e que não nos assalte o malvado. Faz-nos fortes na tentação e humildes na repreensão de nossas quedas, que não pretendamos dos outros uma perfeição que não temos; dai-nos olhos que saibam ver, além da cizânia, a boa semente; concede-nos um coração que saiba amar como o teu, com humildade e paciência, incansável.
CONTEMPLATIO: O campo, que é o mundo, é a Igreja espalhada pelo mundo. Quem é trigo, que persevere até a colheita, os que são joio, façam-se trigo. Porque entre os homens e as espigas de verdade ou o joio real há esta diferença: quando nos referimos à agricultura, a espiga é espiga e o joio é joio. Porém no campo do Senhor, isto é, a Igreja, às vezes, o que era trigo se faz joio e o que era joio se converte em trigo, e ninguém sabe o que será amanhã. Por isso os obreiros, indignados com o pai de família, queriam ir arrancar o joio, porém não consentiu; quiseram arrancar o joio e não lhes permitiu separar esse joio. Fizeram aquilo para o qual serviam e deixaram a separação aos anjos. Não queriam reservar aos anjos a separação do joio; mas o pai de família, que conhecia a todos e sabia que era necessário deixar para mais tarde a separação, lhes mandou tolerá-la, não separá-la. Eles perguntaram: Queres que vamo-nos e a recolhamos? Ele respondeu: Não, não seja que, ao querer arrancar o joio, arranques também o trigo. Então, Senhor, o joio estará também conosco no celeiro? Ao tempo da colheita direi aos ceifadores: Recolhei o joio e atai-os em feixes para queimar. Tolerai no campo o que não tereis convosco no celeiro. Escutai, caríssimos grãos de Cristo; escutai, caríssimas espigas de Cristo, escutai, caríssima messe de Cristo; refleti sobre vós mesmos, olhai a vossa consciência, interrogai a vossa fé, perguntai a vossa caridade, despertai vossa consciência; e se vos reconheceis messe de Cristo, trazei a vossa mente: Quem perseverar até o fim, esse será salvo. Porém, quem, ao perscrutar sua consciência, se encontrar entre o joio, não tema mudar. Ainda não há ordem de cortar, ainda não chegou a colheita; não sejas hoje o que eras ontem, ou não sejas amanhã o que és hoje. De que te serve o que dizes, senão enquanto mudes? Deus promete indulgencia se tu mudas, porém não te promete o dia de amanhã. Tal como sejas ao sair do corpo, tal chegarás à colheita. Morre alguém, não sei quem e era joio; acaso poderá lá fazer-se trigo? É aqui no campo onde o trigo pode fazer-se joio e o joio trigo; aqui isso é possível, porém lá, quer dizer, depois desta vida, é tempo de recolher o que se fez, não de fazer o que não se fez (Agostinho de Hipona, «Sermão» 73,a).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«O Senhor é paciente e misericordioso» (Sl 144,8)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A indulgência é uma expressão finíssima da caridade, pois é, ao mesmo tempo, compreensão, discrição, paciência, confiança. Com ela, só com ela, se supera um grande obstáculo que comumente se põe entre nós e nosso próximo. De fato, o que torna mais difícil o exercício da caridade são, com frequência, os defeitos que encontramos no outro. Estamos facilmente levados a vê-los muito mais que os nossos e, assim, estamos sempre prontos à crítica. Isto não se supera naturalmente, pois o defeito, por si, não une às almas, já que é uma falta e, como tal, não pode nunca ser um elemento positivo de união. Assim, é preciso suprir, voluntariamente, o que falta na pessoa defeituosa, com algo que permita às almas encontrar-se. Este algo o dá, exatamente, a indulgência. A indulgência de que falamos não consiste, apenas, em «fechar os olhos» ao defeito do outro: o que leva, na maioria das vezes, ao desinteresse. Sem dúvida, na verdadeira indulgência, vemos bem os defeitos; só que se lhes «indulta», ou seja, se lhe «concede» o perdão. Não ao defeito, mas à imperfeição moral da pessoa, enquanto que nos concerne e nos afeta, tirando-nos algo. Portanto, um perdão assim, implica, também, o propósito de emenda do outro, para que a pessoa não fique privada daquele bem moral que vem do corrigir aquele defeito. E nesta emenda é concedida confiança. A real indulgência consiste nisto. E até que ponto se deve empregar a indulgência? A resposta nos dá o Senhor, dizendo que se deve perdoar aos irmãos «setenta vezes sete», quer dizer, sempre. Naturalmente, é difícil uma indulgência tão generosa e delicada; sem dúvida, somos chamados, exatamente, a fazer isto com os «irmãos» que «pecam» ou, por seguir em nosso contexto com os defeitos de nosso próximo. A indulgência permite, assim, demonstrar o amor em sua rica delicadeza, que contém, realmente, o melhor da alma e do coração. De fato, neste caso, o amor não busca a si mesmo, nem busca sua satisfação; busca só o verdadeiro bem da pessoa amada. E é um amor profundamente ativo, pois opera de verdade, quer dizer, «dá»: dá o perdão e dá também a confiança à pessoa com a qual tem indulgência. Amar a uma pessoa virtuosa não é difícil, mas, ter indulgencia e amar a uma criatura defeituosa exige a força grande da virtude. Já que, além de uma grande generosidade, que permite passar por cima de si mesmo, se necessita aqui uma paciência confiada, que sabe esperar que os demais se emendem sem cansar-se nunca. E isto acrescenta ainda mais a alta moral do amor (R.Bessero Belti, Lo que vale un corazón lleno de Ia presencia interior deI Espíritu).
SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
Mateus 12,38-42 (O sinal de Jonas) =Lc 11,29-32; Mc 12,1-12; Mt 16,1-4 – No contexto do diálogo injurioso e severo entre Jesus e seus interlocutores em que se seguiu a cura do endemoniado cego e mudo (Mt 12,22-37), surge o pedido de um sinal da parte dos mestres da lei e dos fariseus. Jesus responde trazendo à luz a natureza de tal pedido: é uma pretensão formulada por gente malvada e incrédula (v.39ª). Não pedem o sinal para apoiar sua fé, bem sabe, pois já haviam mostrado em outras ocasiões não crer nele nem em sua palavra e, consequentemente, também na revelação dos mistérios do Reino de Deus, distintamente dos “pequeninos” (cf. Mt11,25-27). Ao negar o sinal pedido, Jesus declara uma vez mais que a fé não é fruto da evidência, não é resultado de um cálculo lógico, mas disponibilidade para receber o dom de Deus, que é o próprio Jesus. Daí que o sinal de Jonas siga sendo incompreensível para muitos, pois só a fé em Jesus e em sua palavra permite reconhecer em sua morte e ressurreição a verdade da filiação divina e redenção do homem. Só pela fé nos convertemos. A permanência de Jonas no ventre do peixe e acolhida positiva do convite à conversão por parte dos ninivitas pagãos é pálida figura do que está ocorrendo, disse Jesus. Ele será sepultado durante um breve tempo, como prelúdio de sua glorificação salvífica e os pagãos se disporão a acolher a Palavra de Deus anunciada (vv.40ss). Trata-se de um sinal que segue sendo ineficaz, como o brindado pela longa viagem realizada pela rainha do sul para escutar a sabedoria de Salomão (v.42), para uma geração que, por não estar disposta a cumprir a vontade de Deus, não sabe reconhecer a Jesus, seu enviado, mais ainda, seu Filho e, por não crer em suas palavras, não acolhe a sabedoria de Deus.
Miqueias 6,1-4.6-8 (Repreensões e ameaças; Yahweh processa o seu povo) – Este oráculo profético tem a forma literária do processo jucidial. Toda a ordem criada está chamada a ser testemunho, enquanto que o imputado é o povo eleito (v.2). A acusação que formula Yahweh tem o tom de um lamento repleto de ternura. Israel é o povo de Deus; pertence-lhe porque Deus mesmo o elegeu e constituiu como tal (Dt 32,6), o tem guiado à liberdade e fez com ele um pacto eterno. E o fez só porque o ama (cf. Dt 7,7ss). Que ato mau, portanto, se pode reprovar nele (v.3)? Deus não se cansa de recordar ao povo infiel suas origens, para que tome consciência de sua identidade e a manifeste com um comportamento coerente. O povo reconhece implicitamente, através de seu porta-voz, suas próprias responsabilidades, e, com uma série de perguntas, busca como aplacar a indignação de Yahweh. Pergunta-se, no oráculo, se poderão agradar a Deus os sacrifícios cruentos de animais apreciados e em grande número, ou abundantes sacrifícios incruentos. Chega-se, inclusive, a perguntar se o pecado poderá ser expiado mediante o rito da imolação dos filhos primogênitos, com base num uso comum no mundo pagão, que, embora desterrado pela Lei, era praticado às vezes e nunca desaparecido do todo em Israel. Agora intervém o profeta, a quem corresponde exercer o serviço de intermediário entre Deus e o povo. Este reafirma a vontade que Deus mesmo tem manifestado e que os profetas sempre haviam anunciado. Essa vontade interpela a cada homem, que, por essa mesma razão, está chamado a dar uma resposta pessoal. A proposta de Deus, na linha da aliança sinaítica, tem sido sintetizada por Miqueias em três pontos: justiça social, amor (cf. Ex 20,12-17; Dt 5,16-21) e submissão obediente e dócil a Deus, vivendo as ocupações diárias “em sua companhia”. O orgulho e a altivez afastam de Deus e separam do próximo. O amor e a humildade recompõem a harmonia da comunhão.
Salmo 49/50 (Para o culto em espírito) – Este Salmo tem o sabor de um exame de consciência violento, daqueles que nos obriga a parar e a olhar dentro de nós para vermos se ali existe o bem ou o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. O mesmo fazem os seus profetas. Deus nos mostra o mal para que possamos nos converter e tomar resoluções novas de uma vida santa. Deus não critica os louvores que lhe são oferecidos, exceto quando a nossa atitude de louvá-lo não condiz com a nossa vida cheia de pecados. De que serve sermos religiosos, frequentarmos a Igreja, se negamos tudo isso diariamente com as nossas atitudes?
Senhor, dá-me a coerência de vida. Que eu te ofereça sacrifícios e seja atento aos teus preceitos, mas nunca permita que minha vida renegue minha fé. Dá-me a força de ser fiel e que minha felicidade seja a melhor pregação e evangelização. Palavras nada servem se não são comprovadas e consagradas pelos atos. Amém.
MEDITATIO: Quantas vezes nos fazemos credores de Deus, reivindicamos contas pendentes com ele, como se não fosse Ele nosso Criador, o que nos deu e segue dando-nos a vida. «Deus não me escuta, não faz o que lhe peço, não me concede isto ou aquilo, depois de tudo o que tenho feito por ele, sacrifícios, renuncias, orações…»: são palavras que ouvimos com certa frequência. Nelas se revela que temos a imagem de um Deus disposto a satisfazer nossos caprichos de um modo mecânico… Sem dúvida, Deus, visto que tem, por nós, uma altíssima estima e um amor autêntico, nos chama a manter com ele uma relação pessoal, em um clima de liberdade e de responsabilidade. Deus quer fazer-nos crescer, nos quer adultos no espírito. Com frequência, nós, que tanto desejamos queimar etapas, de pequenos, nos fazemos de grandes (salvo quando seguimos sendo infantis depois na idade adulta), não nos mostramos preocupados, com a mesma intensidade, por amadurecer na fé, na relação com o Senhor. Assim, permanecemos ancorados no «ver», no «tocar» com os sentidos, e nos mostramos dispostos a correr atrás de magias e superstições, ainda quando isso comporte um notável dispêndio de tempo e dinheiro. Reflitamos sobre a seriedade de nossa crença em Deus: a atitude que mantemos, ao tratar com os irmãos e ao viver os momentos do culto, expressa o que há em nosso coração. Deus se tem feito, em Jesus, companheiro de viagem de cada homem. Abramos, com humildade, os olhos da fé.
ORATIO: Perdoa, Senhor, minha arrogância frente a ti, uma arrogância feita de pretensões e nunca saciada de teus dons. Mostro-me ridículo em minha insensata pretensão de desafiar-te a que me dês sempre novas provas de tua presença amorosa, quando na realidade eu não estou, em absoluto, disponível para acolher nenhuma. Perdoa os «delírios de onipotência» que me atrapalham e que me levam a tentar olhar-te de cima para baixo. Porém, Tu não te espantas nem te cansas de mim, ó Deus. Mais ainda, és Tu o que se faz pequeno. Deste modo dás exemplo e demonstra-me que é percorrendo o caminho do amor, da humildade, da confiança, que chegamos a ser pessoas verdadeiramente humanas, somos reconhecidos como filhos do Pai e somos capazes de ver o sinal de tua presença no mundo. Por isso, Senhor, eu nunca deixarei de bendizer-te.
CONTEMPLATIO: Quereis que vos fale dos caminhos da reconciliação com Deus? São muitos e variados, porém, todos eles conduzem ao céu. O primeiro é a reprovação dos próprios pecados. O segundo é o perdão das ofensas. O terceiro consiste na oração; o quarto na esmola, e o quinto na humildade. Não fiques tu, portanto, sem fazer nada; mais ainda, tenta avançar cada dia por todos estes caminhos, porque são fáceis. Ainda quando te encontres vivendo em uma situação de miséria muito grave, sempre poderás depor a ira, praticar a humildade, orar continuamente e reprovar os pecados. Uma vez adquirida, de novo, a verdadeira sanidade, gozaremos, com confiança, da sagrada mesa e iremos com grande gloria ao encontro de Cristo (João Crisóstomo, Homilia sobre o diabo tentador).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Tu és, Senhor, o “sinal” do Pai» (cf. Mt 12,38ss)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Conheço dois tipos de crentes. Os que necessitam de milagres para crer e aqueles a quem o milagre não soma nem uma gota de fé; mas ainda, quase lhes supõe uma mortificação. Não faz falta escarnecer aos primeiros; estão em boa companhia, posto que próprio santo Agostinho disse com eles: “Sem os milagres não seria cristão”. Aos segundos não lhe faz falta crer demasiado: se descesse a uma praça qualquer, em uma hora de tráfego ou de mercado, gritando que a uma milha dali havia aparecido a Virgem, em um abrir e fechar de olhos a praça ficaria deserta, estou seguro disso. E os primeiros em correr atrás de mim seriam talvez os materialistas, os chamados incrédulos, porém imediatamente depois, não menos ofegantes, veria a muitos desses amigos que se atreviam a dizer-me “O milagre é para mim algo supérfluo, minha fé não necessita milagres”. A verdade para todos nós é só esta: que somos milagres, viemos do milagre e estamos feitos por milagres. Até o homem que tem tudo invoca o milagre, pois o milagre, antes de ser um socorro benéfico, antes de ser um dom útil e resolutivo contra a pena, é a exaltação da infância que volta a encantar-nos, a revanche daquela primeira sabedoria inocente sobre a falaz sabedoria de depois. O Evangelho é o campo dos milagres. Sem dúvida, há uma coisa que aparece clara de imediato: que Cristo foi inimigo dos milagres. O milagre, para Ele, deveria brotar como consequência, algo para cuja obtenção cedeu a fazer-se milagreiro e que, sem duvida, só em rara ocasião conseguiu: a fé. “Mais adiante viu a outros dois irmãos: Tiago, de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam na barca com seu pai reparando as redes. Chamou-os também, e eles, deixando a barca e seu pai lhe seguiram”. E nós? Nós temos ficado reparando as redes, ainda que Ele nos tenha olhado mais de uma ocasião; tranquilos na barca temos feito fracassar o milagre raríssimo, esse ante o qual a ressurreição de Lázaro é um uma gota. O milagre que ocorre uma vez em cada mil e que ninguém foi capaz de contar. Segui-lhe. (L.Santucci, Volaete andarvene anche voi?).
TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
Mateus 12,46-50 (Os verdadeiros parentes de Jesus) – Jesus havia iniciado já há algum tempo sua atividade pública e messiânica. Já se encontrava em um estado além do círculo familiar, o qual podia condicionar sua obra. Nem sequer lhe acompanhava sua mãe. Jesus não havia renegado os seus; tratava-se, simplesmente, de que fora deste ambiente podia ser totalmente livre. Os vínculos naturais da família ou da amizade pertencem já a um plano secundário. Neste sentido, não devemos compreender as palavras de Jesus com respeito a sua mãe ou aos seus parentes (vv.48-50), de nenhum modo, ofensivas. Jesus ver as coisas e as pessoas na perspectiva de Deus e de seus desígnios. Marcos se fixa no detalhe do olhar de Jesus pousado sobre seus discípulos no momento de falar de sua nova família. Sabe-se que Mateus mostra preferência pelo tema do discipulado, e por isso, ao sublinhar o gesto da mão de Jesus, disse qual é a verdadeira família de Jesus: não mais a da carne e do sangue, mas a formada segundo o Espírito, que faz semelhantes os corações, que abre à escuta da Palavra, à renuncia a si mesmo, à fidelidade a um seguimento de Jesus absoluto e gozoso, comparável à alegria do mercador de perolas que adquire a de maior valor. Jesus mesmo é o primeiro a observar a renuncia que impõe a seus seguidores: renuncia aos sentimentos mais naturais, às tendências mais fortes, aos impulsos mais legítimos, quando esse sacrifício é para a difusão do Reino.
Êx 14,21-15,1 (O milagre do mar) – A travessia do mar Vermelho, ricamente descrito pelo autor com acentos poéticos e gloriosos, é um dos pontos culminantes da historia e da teologia de Israel. Forçosamente, devia ser assim, pois trata-se de uma experiência que nunca se apagou da memória do povo judeu. Os israelitas se viam perdidos, perseguidos pelo faraó e seu exército. Frente a eles o mar; não havia escapatória. E, precisamente, nessa situação desesperada, do ponto de vista humano, se faz sentir a mão onipotente de Deus, sua força, sua intervenção oportuna e grandiosa: os vencedores são vencidos; os condenados a morte ficam livres; o terror se converte em maravilha e exultação. É certo que este fato, histórico e concreto, foi adornado depois com elementos de epopéia, qual acontecimento prodigioso, com uma ação divina também chamativa. A teologia, a poesia, a sabedoria e os próprios historiadores de Israel descreveram a passagem do mar com acentos entusiastas para ressaltar a ação de Deus e fixar, de um modo indelével, na mente do povo, o acontecimento de sua salvação. O acontecimento se deu, sem dúvida, de um modo muito mais simples, e se viu ajudado por elementos naturais (os lagos amargos pouco profundos; a força do vento, que pôde deslocar, como segue ocorrendo ainda hoje em parte das águas dos lagos). Sem dúvida, os judeus souberam ver naquelas circunstancias uma intervenção providencial de Deus, que lhes salvou de uma morte segura.
(Sl) Êx 15,8-10.12.17 (Canto de vitória) – O cântico não fala apenas da libertação obtida; indica também a sua finalidade positiva, ou seja, a entrada na casa de Deus para viver em comunhão com Ele: “Tu guias, pela Tua misericórdia, este povo que libertaste; e com o Teu poder o diriges para a Tua santa morada” (v.13). Compreendido desta forma, este acontecimento não esteve só na base da aliança entre Deus e o seu povo, mas tornou-se o “símbolo” de toda a história da salvação. Em muitas outras ocasiões Israel conhecerá situações análogas, e o Êxodo atualizar-se-á pontualmente. De maneira especial, aquele acontecimento prefigura a grande libertação que Cristo realizará com a sua morte e ressurreição. Por isso nosso hino é cantado de modo especial na liturgia da Vigília pascal, para ilustrar com a intensidade das suas imagens o que se realizou em Cristo. N’Ele fomos salvos não só de um opressor humano, mas daquela escravidão de satanás e do pecado, que desde as origens pesa sobre o destino da humanidade. Com Ele a humanidade põe-se de novo a caminho, pelas estradas que conduzem à casa do Pai. Esta libertação, já realizada no mistério e presente no Batismo como uma semente de vida destinada a crescer, alcançará a sua plenitude no fim dos tempos, quando Cristo voltar glorioso e entregar “o Reino a Deus Pai” (1 Cor 15,24) (…).
MEDITATIO: A Palavra de Deus revela novidades surpreendentes cada vez que a lemos. Disse são Gregório Magno: «Scriptura crescit cum legente» (a Escritura cresce junto com o que a lê), quer dizer, vai revelando-se na medida em que o leitor aprofunda na fé, cresce na medida em que cresce sua vida cristã. Uma coisa lida em um determinado estado de vida espiritual volta a ter maior profundidade e mais sentido quando lemos em outro mais alto. A Palavra nos apresenta hoje duas partes importantes: em uma nos mostra o maravilhoso agir de Deus; na outra, a verdadeira família de Jesus. Só um Deus todo poderoso pode mudar as relações humanas da vida e da família e exigir que os vínculos familiares sejam diferentes dos ofertados pela natureza e a sociedade. E muda, precisamente, estas relações, só quando se compreendeu e experimentou sua salvação, isto é, quando o homem se sente mergulhado na esfera de Deus, da ação de seu amor. Então pode compreender a nova relação que existe entre ele mesmo e Deus, entre ele mesmo e Cristo, entre ele e os outros, aos quais considera seus irmãos. Paulo nos recorda: sois «concidadãos dentro do povo de Deus; sois família de Deus» (Ef 2,19). Como toda obra de Deus, também a família espiritual, apesar de sua aparente estranheza, possui uma riqueza imensurável. Faz-nos sair de um âmbito pequeno e restrito, para abrir-nos a horizontes ilimitados de vínculos e relações. Em vez de dois, quatro, seis irmãos, o próprio coração cristão nos dá todos os homens do mundo são meus irmãos, os quais amo, pelos quais rezo e confio ao Senhor, a fim de que os abençoe. Tento manter com todos relações de respeito, de amizade, de paz, de abertura.
ORATIO: Tu me falas de tua nova família, ó Senhor, enquanto eu sigo bem apegado aos vínculos da carne e do sangue, no pequeno círculo dos meus entes queridos. É certo que tu aprovas também este afeto. É uma lei inscrita em nossa natureza. Mas teu convite nos impulsiona a ir mais além destes limites humanos, ainda que sejam sagrados e intocáveis. Que teu Espírito Santo me introduza no coração desta família divina, que é a família da fé. Concede-me um coração grande, capaz de amar, de amar a todos e sempre, de perdoar, de não restringir nunca os amplíssimos horizontes que tu me ofereces para que minha vida se torne generosa e magnânima. Só pertencendo a ti e a tua família serei capaz de ver as grandes obras que Tu tens realizado: como o êxodo do Egito, sua salvação e sua libertação. Só quem pertence a ti poderá palpitar meu coração ao ritmo do teu e poderá sentir, precisamente então, os chamados à universalidade, ao amor total, ao desprendimento pelo Reino de Deus, à opção pelo Evangelho e por quanto Jesus nos tem ensinado. Senhor, Tu que quiseste fazer-te como nós, a fim de que cheguemos a ser como Tu, concede-nos olhos para ver-te, coração para acolher-te, mãos para servir-te, voz para anunciar-te e pés para levar-te aonde queiras.
CONTEMPLATIO: No Antigo Testamento, o povo foi libertado do Egito; no Novo, foi libertado do diabo. No primeiro, os judeus foram perseguidos pelos perseguidores egípcios; no segundo, o povo cristão é perseguido por seus próprios pecados e pelo diabo, príncipe dos pecadores. Porém, assim como os judeus foram perseguidos até o mar, assim também os cristãos são perseguidos até o batismo. Os judeus saíram do Egito e, após o mar Vermelho, vagaram pelo deserto; assim, também, os cristãos, após o batismo não estão ainda na terra prometida, mas vivem na esperança. O deserto é o mundo, e o que é cristão de verdade, após o batismo, vive no deserto, entendeu bem o que recebeu. Se o batismo não consiste, para ele, só em uns quantos sinais externos, mas produz efeitos espirituais em seu coração, compreenderá, adequadamente, que este mundo é, para ele, um deserto; que vive em peregrinação, que espera a pátria. Espera-a durante dias e dias e vive na esperança. Esta paciência em meio do deserto é sinal de esperança. Se, se considera já na pátria, não chega a ela. Para não ficar no caminho, deve esperar a pátria, desejá-la, sem sair do caminho. E é que estão aí as tentações. E assim como no deserto se apresentaram as tentações, assim se apresentam estas, também, depois do batismo. Quando o cristão, depois do batismo, começa a percorrer o caminho de seu coração, com a esperança das promessas de Deus, não deve mudar de caminho. Chegam as tentações que sugerem outras coisas: os prazeres deste mundo, outro modo de dirigir nossa vida, para desviar-nos do próprio caminho e afastar-nos do que nos foi proposto. Superando estes desejos, estas sugestões, os inimigos ficarão derrotados no caminho e o povo chegará à pátria (Agostinho de Hipona).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«Minha força e meu canto é o Senhor; ele me salvou» (Ex 15,2).
PARA A LEITURA ESPIRITUAL – «O primeiro que faz falta é sair do Egito…». O Antigo Testamento nos mostra o esboço das grandes obras de Deus; o Novo anuncia a consumação das mesmas; a Igreja apresenta sua repercussão atual. Uma das mais importantes destas obras de Deus é o êxodo. É, propriamente, um mistério de salvação. Contudo, não é mais que um aspecto da Páscoa. E é que a Páscoa encerra, em si, todo o mistério cristão; criação e libertação, expiação e purificação. O Cântico do Êxodo não exalta mais que um aspecto particular do mistério cristão: o da libertação do povo de Deus cativo das forças do mal. Este mistério do Deus libertador dos cativos ressurge em todos os âmbitos da história da salvação como um som que ressoa em ecos cada vez mais profundos. A beira do mar Vermelho foi libertação para Israel perseguido pelos cavaleiros do Egito; a margem das águas profundas da morte foi libertação para Jesus, cativo do Príncipe deste mundo; a margem das águas batismais foi libertação para os pagãos, cativos das potencias da idolatria […]. E já na outra margem, após ter escapado milagrosamente da perseguição do inimigo, o povo resgatado entoa o cântico triunfal. O povo de Israel, guiado pela coluna de nuvem, escapava da tirania egípcia. O faraó e seus carros se puseram a persegui-lo. O povo chegou ao mar. O caminho estava acabado. Israel estava fadado à aniquilação ou a uma nova servidão. Encontrava-se como um exército encurralado contra a beira do mar e a ponto de ser destruído ou capturado. É preciso sublinhar este caráter desesperador da situação, pois é o que dá todo sentido ao episódio. De fato, foi quando se encontravam na impotência absoluta para salvar-se a si mesmo, que o poder de Deus levou a cabo o que era impossível ao homem (ler Ex 14,21-23). Esta ação de Deus, libertando seu povo de uma situação fatal, permanecerá como a maior recordação da história de Israel através dos séculos (J.Daniélou,Essai sur le mystère de l’histoire)
QUARTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
João 20,1-2.11-18 (Aparição a Maria Madalena) – O amor de Maria de Magdala não morre aos pés da cruz. Jesus lhe havia devolvido a vida em plenitude. E a partir daquele momento ela havia vivido para Ele (cf. Lc 8,2). Depois da hora trágica da Sexta-feira Santa, Maria Madalena permanece fiel àquela entrega absoluta, obstinadamente consagrada à busca d’Aquele a quem ama. Nada pode apartá-la de seu objetivo: nem sequer o fato da tumba vazia. Esta mulher é figura da Igreja-esposa e de toda alma que busca a Cristo e não tem outra coisa para oferecer mais que as lágrimas do amor. O Senhor se deixa encontrar por quem lhe busca deste modo. Ressuscitado e vivo, se aproxima de quem sabe permanecer na solidão junto ao mistério incompreensível (v.11a). Sem dúvida, só podemos reconhecê-lo quando nos chama pelo nome e nos faz sentir que nos conhece a fundo. Este conhecer de amor não é para uma satisfação pessoal. É dom que nos faz testemunhas ante os irmãos a fim de levar a todos o anúncio pascal (v.17ss), a alegria verdadeira, uma vida nova transfigurada no encontro com o Senhor.
Cântico 3,1-4 (Terceiro poema)– Israel, ao assumir este escrito no seu cânon dos livros inspirados, e depois, também, a Igreja, reconheceu não só a consagração do amor entre o homem e a mulher, mas, muito mais: a expressão simbólica do amor de Deus por seu povo. Também a alma sedenta de Deus conhece as longas noites de seu silêncio, de sua incompreensível ausência, que a purificam daquilo que dava agora por descontado, de toda satisfação redutora (v.1). Na inquietude desperta o desejo do Senhor e se torna busca apaixonada, vital (2a). É necessário perseverar nesta tensão (v.2b), pedir humildemente ajuda e conselho (v.3) e, depois, ir mais além, na consciência de que Deus pode orientar-nos a Ele. Então, Ele mesmo se fará presente a quem não se canse de buscá-lo na noite com coração ardente (v.4).
Sl 62/63 (Desejo de Deus)– Muito conhecido, este Salmo é orado no primeiro domingo de cada mês e em dias de festa e solenidade. Recomendo tomá-lo como referêcia às orações em busca de santidade e encontro com Deus. Considerado o Salmo dos contemplativos, seu autor é desconhecido. Muitos atribuem-no a Davi, que o teria escrito enquanto era perseguido por seu filho Absalão. Seja quem for o autor entra em comunhão com Deus por meio do forte desejo e sofrimento. Quando diz “desde a aurora te procuro”, expressa o desejo de encontrar o Senhor ainda na aurora, antes do início de qualquer atividade. A terra árida da Palestina faz com que o salmista recorde a necessidade de água: metaforicamente, faz analogia com nossa alma, que, assim como a terra, também está seca, com sede. Na Bíblia, os elementos sede e fome caracterizam ausência de Deus. O próprio Jesus se apresentava constantemente com grande sede e fome de amor de Deus. “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2,49).
Senhor, este Salmo me encanta. Gostaria de meditá-lo dia e noite e na minha vida experimentar, como o salmista, a sede do teu amor, buscar sem cessar tua presença, esconder-me debaixo de tuas asas e permanecer sereno e tranquilo ante as tempestades da vida. Sinto-me sempre desejoso de bem, mas o mal me ataca de todos os lados. Quero fazer desta minha oração e por bem no fundo do meu coração as palavras: “o teu amor vale mais que a vida! Por isso meus lábios vos louvam”. Ser cântico de louvor corajoso no meio de tantas pessoas que não te conhecem ou não querem te reconhecer como o Deus da vida. Não quero me deixar amedrontar por nada, quero ser teu servo agora e sempre. Na minha família, trabalho, na estrada por onde for, quero ser coerente e levantar minhas mãos para ti, para te louvar e bendizer para sempre. Amém.
MEDITATIO: Como toda figura evangélica, também Maria Madalena é tipo do discípulo de Cristo. Nela vemos o luminoso testemunho de quem, perseverando na busca de Deus, ainda que seja na escuridão da fé e na prova da esperança, encontra, por fim, Aquele a quem ama, ou, melhor ainda, é encontrada por Ele. De fato, Cristo, o bom pastor, é, desde sempre, o primeiro em buscar-nos e permanece esperando-nos. Espera que o desejo do coração se purifique, se torne ardente e consuma, com seu fogo, toda a escória que há em nós. Espera que nossos olhos se tornem capazes de reconhecê-lo em quem nos rodeia, e nos torna atentos à sua voz, uma voz que sempre nos chama por nosso nome. Também nós, como Maria Madalena, exultaremos de alegria ante sua presença, que nunca é acessível, mas possuída ou prevista. Só quem tem conhecido a longa noite da espera e do desejo pode converter-se em testemunho crível, entre os irmãos de uma fé que não é vã.
ORATIO: Maria Madalena vieste a Cristo, fonte de misericórdia, derramando-se em lágrimas: tinhas sede ardente e foste abundantemente saciada. Foi Ele quem, quando pecadora pública, te justificou; foi Ele quem, em tua dor tão amarga, te consolou docemente. Eu, ardente enamorado de Deus, em minha timidez, venho a ti, que és bem-aventurada; eu, que vivo na obscuridade, venho a ti, que és luminosa; eu, que sou pecador, venho a ti, que foste justificada: vendo-me, recorda-te, em tua bondade, do que foste e da necessidade de misericórdia que tiveste. Obtém-me a compunção das almas puras, as lágrimas da humildade, o desejo da pátria celestial. Ajuda-me, pela familiaridade de vida que tiveste e segues tendo, ainda, com a fonte da misericórdia. Faz-me chegar a ela, a fim de que possa lavar meus pecados; dai-me de beber dela, para que fique saciada minha sede (Anselmo de Canterbury).
CONTEMPLATIO: Maria buscou, mesmo em vão. Sem dúvida, não se dá por vencida e acaba achando: seu esforço é coroado, ao fim, pelo êxito. Em que momentos buscamos ao Amado? Buscamos nas noites. Por que chega Deus, assim, com atraso? Para permitir-nos abraçá-lo com mais força no momento de sua vinda. O desejo não é autêntico se o tempo consegue debilitá-lo. Demonstra possuir um amor ardente quem larga o compromisso só quando obtém a vitória. O ser que não busca o rosto do Criador permanece insensível, triste e frio. Quem deseja, com ardor, buscar àquele que ama vive de um ardente amor; a falta de seu Senhor o torna inquieto, e as alegrias que ontem encantavam seu espírito, hoje parecem odiosas. A ferrugem do pecado se dissolve e seu espírito, incendiado como ouro, recupera na chama, o esplendor que o tempo havia ofuscado (Gregório Magno).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«Se alguém vive em Cristo, é uma nova criatura» (2 Cor 5,17)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL – «A quem buscas?» A pergunta de Jesus ressuscitado a Maria de Magdala pode surpreender, também, a nós, cada manhã e cada hora de nossa vida. És capaz de dizer a quem buscas de verdade? De fato, nem sempre está claro que buscamos a Jesus, o Senhor. Nem sempre aquele a quem queremos encontrar é aquele que quer entregar-se a nós. Maria buscava ao homem Jesus, buscava o Mestre crucificado, por isso não via Jesus, o Vivente, diante dela. Mas, se temos uma ideia de Jesus à medida de nossa pequena mente humana, nossa busca acaba em um beco sem saída. Jesus é sempre imensamente mais do que nós conseguimos pensar e desejar. Onde e como buscar o Senhor para sair do túnel de nossos extravios e de nossos medos, para não enganar-nos, dando voltas ao redor de nós mesmos, em vez de correr direto para Ele? Só se antes temos uma verdadeira e justa valoração de nós mesmos, como criaturas pobres, então, poderemos descobrir a presença daquele que sustenta tudo. Aquele a quem buscamos deve ser, verdadeiramente, o tudo a que anseia aderir nossa alma. Buscar a Cristo é sinal de que, em certo modo, já o temos encontrado, porém encontrar a Cristo é um estímulo para seguir buscando-o. Esta atitude não se expõe só ao início do caminho espiritual, mas o acompanha até a última meta, posto que a busca do rosto do Senhor é seu dado essencial. Conhecer àquele por quem somos conhecidos: isso é o indispensável. O itinerário do conhecimento de Cristo coincide com o mesmo itinerário da fé e do amor. O eu deve aprender a calar e a escutar; o coração deve aprender o caminho do exílio para afastar-se de tudo quanto o mantém apegado a seus velhos e tristes amores (A. M. Cánopi, Nel mistero della gratuità, Milán).
QUINTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
Mateus 13,10-17 (Porque Jesus fala em parábolas) =Mc 4,10-12.25; Lc 8,9-10.18
No início do longo «sermão em parábolas», Mateus insere a pergunta sobre o «porque» das parábolas e da rejeição da Palavra de Jesus da parte de Israel. Isto era importante para os cristãos das primeiras comunidades, que, de um lado, se encontravam ante a necessidade de explicar e interpretar um tipo de anúncio que se havia tornado inacessível de modo imediato e, por outra, sofriam a oposição e o escândalo do povo eleito, que, em uma grande parte, não havia acolhido o Messias. A resposta parte do reconhecimento da antítese aparecida já na parábola do semeador: há quem se mostra disponível e quem, pelo contrário, oferece resistência à Palavra de Jesus Cristo. A diferente disposição interior estabelece a diferença entre o «ver» e o «ouvir»: conversão e consequente bem aventurança para uns, incompreensão e exclusão do dom para os outros. O texto profético de Is 6,9ss, no qual Deus anuncia ao profeta os obstáculos que encontrará no exercício de sua missão, da razão do que antes Jesus Cristo e depois a Igreja terão que viver. Se bem que a linguagem semítica se refere a Deus como a causa primeira dos acontecimentos, não é certamente Ele quem determina a docilidade e a dureza do coração. O homem está chamado a assumir em primeira pessoa a responsabilidade de sua própria eleição frente à Palavra que hoje se o dirige, posto que hoje é o tempo favorável para a salvação (cf. 2 Cor 6,2).
Jr 2,1-3.7-8.12-13 (As pregações mais antigas: a apostasia de Israel) – A palavra que o Senhor confia a Jeremias para que a transmita tem aqui a forma de uma requisitória severa e apaixonada, na qual Yahweh põe Israel frente a suas próprias responsabilidades e o pede contas de sua infidelidade à aliança. Deus tem presente no coração e na mente o tempo do Êxodo e da estância no deserto, um tempo idílico de comunhão, no qual o povo respondia com docilidade e obediência a seu amor absoluto (v.2). Por sua parte, Deus tutelou de todos os modos possíveis a Israel, sua propriedade (v.3), e, fiel à promessa, o guiou à rica e fértil terra de Canaã (v.7a). O câmbio de atitude do povo motiva a acusação: una vez en sitio seguro, Israel abandonou seu Deus; seu pecado profanou a terra que habita e que é santa por ser de Deus (v.7b). É extraordinariamente grave que os guias do povo (sacerdotes, reis, profetas) hajam sido os primeiros a trair a aliança voltando-se aos ídolos. Toda a criação está chamada a ser testemunha de um fato tão absurdo: ainda que o povo tenha experimentado a plenitude de vida na comunhão com o Deus vivo, o abandona agora preferindo aos ídolos. É o mesmo estúpido dramatismo de quem, sedento, em vez de dirigir-se à fonte de água viva, prefere pôr-se a escavar cisternas que, rachar-se, acabam por perder a água que retinham (vv.12ss).
(Sl 35/36 (Prece de um justo perseguido) – Às vezes aprendemos observando mais o mal do que as virtudes em nossos irmãos, pois quando contemplamos o mal, surge-nos intensamente a vontade de rejeitá-lo por inteiro e viver somente o bem. Os maus passam a vida planejando o mal. Quantos ladrões, assassinos, sequestradores passam a maior parte de seu tempo planejando o mal? Há escolas e faculdades de crimes que ensinam a como fazer o mal “cientificamente”, enquanto os santos e justos meditam dia e noite em como fazer o bem, como ajudar os pobres, como vencer a pobreza e ir ao encontro daqueles que sofrem.
Senhor, eu quero contemplar o mal do mundo, suas armadilhas, para não me tornar uma vítima dele, e quero me colocar na tua escola do bem, e assim passar pelo mundo como Jesus: “fazendo sempre o bem a todos”. Não há maior alegria do que fazer o bem e doar-se totalmente aos outros, sem reservas. Somos felizes em ver a felicidade dos outros. Creio que ninguém pode ser feliz sozinho, então liberta-me, Senhor, de todo o egoísmo e individualismo. Amém.
MEDITATIO: Não é difícil ver, se olhamos ao redor, quantas relações superficiais existem. E não só as de «conveniência», nas quais apenas se intercambiam a saudação ou duas palavras sobre o tempo ou sobre o partido de futebol, mas também em outras que são fundamentais: entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre pessoas que partilham uma mesma opção religiosa, existencial… Vemos relações sem raízes profundas, que terminam. E seria bom que nos perguntássemos por que é tão difícil embarcar em um compromisso que dure toda a vida. A Palavra do Senhor nos propõe hoje que miremos dentro de nosso coração, que o toquemos, que verifiquemos a disponibilidade que tem para fazer um esforço de ir mais além da superficialidade; também em nossa relação com o Senhor. De modo diferente, nos escapa o sentido do que vivemos, e pode acontecer que sejamos como os judeus, que, por não mostrar-se disponíveis a comprometer-se a fundo com o Senhor, rejeitavam seu amor vivificante por cultos de morte. Torna-se paradoxo, porém talvez não longe de nossa experiência, que – estando famintos de amor – não vejamos a Deus, que é amor, e não escutemos seriamente sua Palavra; que – estando desorientados pelo vazio e a falta de sentido do viver- fechemos os olhos e os ouvidos frente a quem nos dá testemunho de Deus como verdade e como vida. Toquemos nosso coração: ainda estamos no tempo de converter-nos.
ORATIO: É verdade, Senhor, às vezes sou precisamente um preguiçoso. O emprego de produtos de todo tipo «prontos para usar» tem me acostumado ao «tudo fácil», ao «tudo imediato», e tenho me convencido de que também nas coisas do espírito funcionam também assim. Confesso, Senhor, que tenho preferido as muitas palavras brilhantes, ainda que inconsistentes, proclamadas pelo charlatão de turno, à tuas palavras, duras de entender, mas vivificantes. Também eu tenho pensado que a fé em ti era uma bugiganga infantil que temos de conservar no sótão, metida no baú das velhas recordações… Perdoa-me, Senhor, não tenho entendido nada. Sustenta em mim o desejo de converter-me a ti: necessito de olhos lavados na fé e ouvidos que não se confundam entre tantos sons, mas que saibam distinguir tua voz. Necessito, sobretudo, Senhor, um coração disponível para acolher a verdade sobre ti e a verdade sobre mim, disposto a amar e suficientemente humilde para deixar-se amar como tu queres amá-lo. Necessito e sei que Tu estás disposto há muito tempo a dar-me tudo isto: só estás esperando meu «sim». Então poderei correr e acalmar minha sede ardente não nas «cisternas» da moda e do mercado, mas na «fonte de água viva» de tua Palavra e de teus sacramentos. E talvez, se eu vou, também outros virão comigo.
CONTEMPLATIO: Ó, se tu, Deus misericordioso e Senhor piedoso, te dignasse chamar-me à fonte para que também eu, junto com todos os que têm sede de ti, pudesse beber da água viva que mana de ti, fonte de água viva. Senhor, Tu mesmo és essa fonte eternamente desejável, na qual, continuamente, devemos beber e da qual sempre teremos sede. Dá-nos sempre, ó Cristo Senhor, esta água viva que brota para a vida eterna. Tu és tudo para nós: nossa vida, nossa luz, nossa salvação, nosso alimento, nossa bebida, nosso Deus. Rogo-te, ó Jesus nosso, que inspires nossos corações com o sopro de teu Espírito e que traspasses com teu amor nossas almas, para que cada um de nós possa dizer com toda verdade: «Faz-me conhecer àquele que ama minha alma» (cf. Ct 1,6); estou ferido, com efeito, por teu amor (Columbano, Instrucción XIII sobre Cristo fuente de vida, 2ss).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«Que meus olhos vejam, e que ouçam meus ouvidos»
PARA A LEITURA ESPIRITUAL– ”Voltando-se depois aos discípulos, disse-lhes a sós: ‘Ditosos os olhos que veem o que vós vedes’” (Lc 10,23). Uma bem-aventurança que, sem dúvida, nem sequer aos discípulos serviu muito. E, ainda que sendo testemunhas oculares das maravilhas do Reino, companheiros de Cristo, partilhado com Ele os dias e sido comensais seus, contudo, foi escrito deles que, ao final, todos o abandonaram e o traíram. Assim vê-se o difícil que é ser coerente e crer de verdade e aceitar a Cristo. Uma bem-aventurança que eu, por exemplo, penso que me poderia ser atribuída com grande dificuldade. Certamente, a pergunta é só uma: Alguma vez Jesus foi seriamente crido? Quem o acolheu? «Ditosos os olhos que veem…». Não, esses olhos não eram ditosos, porque «não viam». Se ao menos fossem bem-aventurados nossos olhos! E dizer que nós vemos, que sabemos! Estamos convencidos de que não há outras respostas a estas benditas questões eternas: por que sofrer, por que morrer, como salvar-nos, que fazer para ter a vida. Estamos convencidos de que Ele é a resposta que todos buscam, a razão pela qual vale a pena lutar. Não, nossos olhos não são ditosos. Nem sequer vemos o mal mortal que nos causamos com nossas próprias mãos. Está escrito que não é com a dialética que Deus quer salvar o homem. Posso fazer o mais belo discurso religioso, mas se não tenho fé não me ajuda em nada. Mais ainda, se não tenho nem fé, nem amor, tampouco serve de nada: dado que o amor é o sinal supremo da fé, o sinal verdadeiro no qual creio (D.M. Turoldo, Anche Dios é infelice).
SEXTA-FEIRA, 24 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
Mateus 13,18-23 (Explicação da parábola do semeador) – Após um pedido de seus discípulos, Jesus lhes dá a interpretação da parábola do semeador. A exegese vê também na explicação de Jesus uma experiência da vida cristã e da pregação da Palavra de Deus com os distintos resultados que obtém. Alguns exegetas defendem que esta explicação seria, sobretudo, fruto da experiência da comunidade primitiva. Nós preferimos ver nela o ensinamento do próprio Jesus, acompanhada, não obstante, da prática da Igreja, que tem podido dar certo colorido ao texto atual do evangelho. A parábola fala, fundamentalmente, da acolhida que brinda à Palavra o terreno no qual cai a semente. Há quatro respostas: três negativas e uma positiva. As negativas enumeram as dificuldades, os obstáculos, os perigos em que se debatem os que escutam a Palavra de Deus. Não basta escutar, e tampouco basta acolher de maneira gozosa o que se ouve. Requer-se uma acolhida elaborada a base de uma profunda compreensão. Então é quando a semente da Palavra pode dar seu fruto. Nesta explicação ressalta a liberdade do homem frente à Palavra de Deus, com toda sua capacidade de recusá-la ou decidir-se por outras opções. Também se põe de relevo a fecundidade da semente quando encontra um terreno bom e aberto. Cada semente da muito fruto, com uma porcentagem que pode ser cem, sessenta ou trinta, uma produção diferente, ainda que se trate em todos estes casos de terra boa. Esta parábola, como a dos talentos (Mateus 25 e a das minas Lucas 19), tem como objetivo suscitar em nós uma abertura de coração que nos permita a acolhida gozosa da Palavra e da alegria da colheita, sempre abundante quando a terra é boa.
Êx 20, 1-17 (O Decálogo) – A leitura do livro do Êxodo nos apresenta hoje a primeira formulação dos dez mandamentos. No Antigo Testamento encontramos diversas formulações do decálogo, em função das escolas teológicas que as redigiram ou do tempo em que foram escritas. Estas formulações variam no fato de por o acento em um ou outro mandamento, porém, em essência, todas as listas falam de «dez mandamentos», conhecidos assim na Bíblia e na tradição judia e cristã. Na lista dos mandamentos do livro do Êxodo se dedica uma extensão notável a falar dos preceitos que têm que ver com Deus e com seu culto. Foi a escola sacerdotal a que redigiu esta lista: nela imprimiu sua marca, sempre atenta a por de relevo o primado de Deus e de seu culto, para o qual utiliza uma linguagem lacônica, sacral, à hora de apresentar os outros preceitos. Os dez mandamentos fazem parte da bagagem moral inscrita no coração de todos os homens, a chamada “lei natural” experimentada e admitida por todas as morais. É Deus mesmo que pôs no coração humano estes princípios, estas tendências e este sentido do bem e do mal com respeito a nossas relações com Deus e com o próximo. A denominação «dez mandamentos» é uma expressão aceita praticamente por todas as culturas que possuam um verdadeiro sentido de Deus e do homem. Este consenso universal mostra a consciência do homem como um reflexo da Lei de Deus. Israel teve o privilégio de ser instruído por Deus mesmo nestes mandamentos, revelados na teofania do Sinai: um privilégio, um ato de predileção de Deus por seu povo, mas que supõe também uma maior responsabilidade e fidelidade na hora de cumprir-los.
Sl 18/19B (Yavheh, sol da justiça) – Este Salmo é extenso e canta a necessidade de termos líderes honestos, retos, que não se deixam corromper pela maldade e pela riqueza. A corrupção não é uma invenção moderna, sempre esteve presente na humanidade e seu “bacilo” está escondido no coração humano. Por isso, devemos permanecer vigilantes em todos os momentos de nossas vidas para não cairmos nas armadilhas dos maldosos.
Senhor, ajuda-me a conservar o meu amor por Ti e pelos teus servos. Que nunca me deixe cair nas armadilhas dos malvados e dos injustos, que prometem mares e montes e nada cumprem. Precisamos de líderes que sejam orientados pela honestidade e pelo bem, tanto na política quanto na sociedade e na tua Igreja. Amém.
MEDITATIO: O livro do Êxodo nos fala hoje dos dez mandamentos. Para nosso tempo, talvez seja esta página bíblica a mais necessária, visto que nos mostra o que devemos fazer e as prioridades com as quais devemos proceder, quer dizer, dar o devido peso e a devida importância aos três primeiros mandamentos, que são os que estão mais expostos à crítica e aos ataques do mundo e os mais fáceis de abandonar, descuidando-os e inclusive, esquecendo-os, para acentuar qualquer outro dos preceitos divinos. O retorno a Deus, à verdadeira fé, à oração, à relação com Deus, é hoje muito mais necessário que em outros tempos. O mundo paganizado se esquece de Deus e de seu serviço: nós devemos reviver estas grandes verdades de nossa fé, recordadas hoje pelos mandamentos de Deus. Escutemos alguns dos pensamentos do papa João Pablo II expressados em sua alocução pronunciada no mosteiro de Santa Catarina do Sinai em 2000: “Os dez mandamentos não são uma imposição arbitrária de um Senhor tirano. Foram escritos na pedra, porém antes foram escritos no coração do homem como lei moral universal, válida em todo tempo e em todo lugar. Hoje como sempre, as dez palavras da Lei proporcionam a única base autêntica para a vida dos indivíduos, das sociedades e das nações. Hoje como sempre, elas são o único futuro da família humana. Salvam o homem da força destruidora do egoísmo, do ódio e da mentira. Põem de manifesto todas as falsas divindades que o reduzem a escravidão: o amor a si mesmo até a exclusão de Deus, a avidez de poder e de prazer que subverte a ordem da justiça r degrada nossa dignidade humana e a de nosso próximo […j. Observar os mandamentos significa ser fiéis a Deus, porém significa também ser fiéis a nós mesmos, a nossa autêntica natureza e a nossas aspirações mais profundas. O vento que ainda sopra do Sinaí nos recorda que Deus deseja ser honrado em suas criaturas e em seu crescimento: Glória Dei vivens horno…”.
ORATIO: Ó Senhor e Pai nosso, que nos revelaste teu nome no Sinai e nos deste tua Lei como lâmpada para nossos passos, escuta a oração que te dirigimos e faz que nós, como Moisés e o povo de Israel, reunidos ante ti, possamos acolher tua Palavra eterna, que se centra hoje nos dez mandamentos, lei de vida, de liberdade e de respeito a todos os homens. Faz que na observância destes mandamentos possamos dar aos três mandamentos que nos falam que vive nosso mundo incrédulo os ignora e tenta aniquilá-los. Concede-nos um grande sentido de ti, como Deus onipotente e Pai misericordioso; uma vontade espontânea de adorar-te, de servir-te, de manter-nos fieis a tua lei e a teus desígnios de salvação. Concede-nos também, ó Senhor, a graça de converter-nos em terra boa, sem pedras e sem cardos, que possa acolher a Palavra divina de teu Filho, Jesus, novo Moisés, que instituiu uma aliança nova e nos deu uma lei nova, essa que se encerra em um só mandamento: amar-nos uns aos outros e amar a ti. Tu, ó Pai, nos disseste, falando de teu Filho, Jesus: «Escutai-o!». Sim, que possamos escutá-lo com fé viva, com um amor crescente, com uma esperança segura: porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.
CONTEMPLATIO: A Lei de Moisés é uma recopilação de preceitos diversos, importantes, uma arte de viver universal, uma imitação simbólica dos costumes celestes, uma chama, um fogo, uma tocha, um reflexo das claridades do céu. A Lei de Moisés é o modelo da piedade, a regra de uma vida ordenada, a trava posta ao primeiro pecado, a antevisão da verdade que vêm. A Lei de Moisés é o suplício de um Egito cego, inscrito pelo «dedo» de Deus (seu braço soberbo esperava algo melhor). A Lei de Moisés é direção para a piedade, guia para a justiça, luz para os cegos, razão para os insensatos, mestre para os pequenos, barreira para os imprudentes, rédea para as cerviz duras e jugo de contenção para os rebeldes. A Lei de Moisés é a mensageira de Cristo, o primeiro sinal de Jesus, o arauto e o profeta do grande Rei, a escola sábia, o ginásio útil, o ensinamento universal, o preceito justo de uma época, a figura de um dia. A Lei de Moisés é o resumo simbólico e misterioso da graça futura; através de suas imagens anuncia a plenitude da verdade futura, através de seus sacrifícios a vítima, através de seu sangre o sangue, através de seu cordeiro o Cordeiro, através de sua pomba a Pomba, através de seu altar o sumo sacerdote, através de seu templo a morada da divindade e através do fogo do altar a plena luz que desce sobre o mundo (Pseudo-Hipólito)
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo teu coração,
com toda tua alma e com toda tua mente” Mt 22,37
PARA A LEITURA ESPIRITUAL
1º mandamento.Tu és o único que desejo, Senhor: que nenhum ídolo se interponha entre Tu e eu: nem o ídolo de meu eu, surdo e cego, nem o ídolo da riqueza e do prestígio, mas que reconheça a ti, e só a ti, como verdadeiramente digno de ser servido, amado, adorado.
2º mandamento. Purifica, Senhor, meu coração e meus lábios, para que eu nunca chegue a pronunciar teu nome sem respeito e veneração. Que nunca desonre, com uma conduta indigna de um filho, teu santo nome de Pai, que teu Filho unigênito revelou e glorificou com a obediência até a cruz.
3º mandamento. Teu és o tempo, ó eterno Criador: que toda minha existência decorra no único dia que Cristo, ao ressuscitar da morte, abriu sobre a cabeça do gênero humano. E que a recordação de teus benefícios constitua a doce festa de toda minha vida.
4º mandamento. Toda paternidade e toda maternidade procedem de ti, ó Deus, fonte e plenitude da vida: infunde em mim uma profunda veneração e gratidão para com todo o que, com santo temor e humildade, participa do poder gerador de teu amor.
5º mandamento. Que nenhum motivo de violência, Senhor, se insinue em meus pensamentos, em meus sentimentos, em minhas ações dirigidas aos homens meus irmãos. Faz que, vendo neles tua própria imagem, os trate com suma reverência, seja qual for sua cor e sua condição. Se os matasse, ainda que fosse só em mru coração com o desprezo ou com a indiferença, o grito de sua angústia chegará a teu rosto e infligirá uma infinita dor ao teu coração de Pai, que me verá mais morto que aqueles a quem eu haja matado, uma infinita dor pela enormidade de meu pecado.
6º mandamento. «Não cometerás atos impuros». Este mandamento nos surpreende hoje: Por que não deixar a nossa natureza desafogar-se livremente? Não podemos esquecer que a malícia corrompeu o coração humano, que o amor degenerou-se em concupiscência, a gratuidade em egoísmo possessivo.
7º mandamento. Senhor, que eu não roube tua glória jactando-me do que não é mérito meu; que não subtraia a meus irmãos o que os tem concedido para a vida física e moral: a estima, a liberdade, o pão, a saude… Que goze eu com seu bem mais que com o meu, porque, tendo a ti, nada me falta.
8º mandamento. Que toda a minha conduta vital seja reflexo de tua justiça e de tus misericórdia, Senhor. Que a mentira ou a ambigüidade nunca obscureçam o espelho de minha consciência.
9º mandamento. Que meu coração seja simples e puro, a fim de que também meu olhar pouse sobre todas as criaturas sem contaminá-las. Que tudo eu veja tua luz, Senhor, com o virginal candor de tua beleza.
10º mandamento. Preserva-me, Senhor, da cobiça, da ânsia de possuir e de gozar, da inveja pelos bens de meu próximo. Que meu coração se encontre de verdade ali onde está meu tesouro: Tu, sumo bem, nossa eterna bem aventurança.
(A. M. Cánopi, Obbedire a la Parola)
SÁBADO, 25 DE JULHO DE 2020- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A
Mateus 20,20-28
Mateus nos apresenta nesta página de seu Evangelho, talvez com uma sutil ironia, o pedido que a mãe dos Zebedeu, João e Tiago, fez a Jesus. Estamos dispostos a concordar com esta mãe? Se estamos, certamente, será um pouco menos que os dois irmãos que, com uma excessiva rapidez se declaram dispostos a partilhar com Jesus o cálice que Ele terá de beber. Ainda bem que Jesus sabe transformar em algo bom o que, humanamente falando, poderia parecer fruto da intemperança e da precipitação. O discurso assume um tom profético: Jesus predisse a morte que Tiago padecerá por sua fidelidade radical ao Mestre e ao Evangelho. E não só isto, deste diálogo, que, por outro lado, deixa os outros apóstolos irritados, tira Jesus, também, uma lição de humildade para todos os que queiram segui-lo nos caminhos do Evangelho. A grandeza dos discípulos de Jesus pode e deve ser valorizada com unidades de medidas bastante diferentes das que conhece o mundo. Na escola de Jesus se aprende a inverter nossa escala de valores e a considerar válido só que o é aos olhos de Deus, segundo o exemplo que nos deixou Jesus: sendo rico se fez pobre; sendo Senhor se fez servo-escravo, sendo mestre, aprendeu a obedecer ao Pai, sendo sacerdote, se fez vítima por amor.
2 Cor 4, 7-15 (Tribulações e esperanças do ministério) – A mensagem desta leitura poderíamos resumir deste modo: “Por todas as partes vamos levando no corpo a morte de Jesus” (v.10ª). O que Paulo disse por experiência própria, o aplica a liturgia, literalmente, ao apóstolo, cuja solenidade nós celebramos hoje: de Jesus a Paulo e de Paulo a Tiago e, assim sucessivamente, vai se criando, ao longo da história, a cadeia dos testemunhos, ou melhor, dos mártires. Pode dizer que leva a morte de Jesus em seu próprio corpo não só quem recebe a graça excepcional de derramar o sangue por Cristo e os irmãos, mas também, quem, dia a dia, vive com seriedade e serenidade a radicalidade evangélica. Quem realiza esta experiência pode falar em nome de Jesus, pode dizer que é servo do Evangelho pelo que anuncia, mas, sobretudo pelo que faz e como vive “Acreditei e, por isso, falei” (v.13). A Palavra dos testemunhos não só é significativa, é também eficaz pelo sangue derramado e pela eloquência da experiência de vida.
Salmo 125/126 (A volta do exilio) – Muitos são os motivos pela alegria do coração de quem reza: a volta dos deportados do desterro, o fim da escravidão, a expectativa de uma nova vida. Para quem nunca sofreu o exílio e teve de abandonar o próprio país por motivos políticos ou religiosos, é difícil compreender o significado de voltar à própria pátria. Que o digam os nossos migrantes brasileiros, principalmente os nordestinos, que são forçados a deixar a própria terra em busca de um trabalho melhor que lhes garanta o sustento da família ou os cristãos perseguidos que tiveram de fugir para um local onde pudessem exercer sua fé. O salmista canta também a alegria de uma colheita feliz, que significa pão, vida e saúde para todos. Assim como não pode faltar o pão na mesa para o nosso sustento, não pode faltar a nossa liberdade, pois somos livres, pela graça de Deus, de todo tipo de escravidão. A vinda de Cristo é sementeira e colheita nova. “Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses, e aí vem a colheita!’? Pois eu vos digo: levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita! Aquele que colhe já recebe o salário; ele ajunta fruto para a vida eterna. Assim, o que semeia se alegra junto com o que colhe. Pois nisto está certo o provérbio ‘Um é que semeia e outro é que colhe’: eu vos enviei para colher o que não é fruto do vosso cansaço; outros se cansaram e vós entrastes no que lhes custou tanto cansaço” (Jo 4,35-38). Assim, semeamos o que os outros irão colher, recolhemos o que outros semearam. Sejamos semeadores da boa semente.
Senhor, não posso deixar de pensar na parábola do bom semeador (cf Mt 13,1-9) e te pedir: lança abundantemente a semente em nossos corações e não permitas que caia à beira da estrada nem em terreno pedregoso, nem entre espinhos, mas que em terra boa e possa produzir frutos abundantes. Dá-nos, Senhor, a coragem de caminhar rumo ao mundo novo que desde já construímos, no sofrimento e no suor, mas que um dia faremos a nossa colheita boa. Dá-nos a coragem de nunca desanimar, mesmo que encontremos dificuldades, e embora oprimidos, sejamos sinal de esperança para todos, como foram os mártires do campo de concentração nazista Edith Stein ou Maximiliano Kolbe e tantos outros mártires anônimos, que, diante de ti, foram semente corajosa caída em terra fértil. Que nunca me canse de fazer o bem. Amém.
MEDITAÇÃO: “O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de todos” (Mt 20,28). É mais que justo que nos perguntemos que psicologia brota de uma afirmação autobiográfica como esta, e a resposta não pode ser equívoca. Estamos diante de um grande dom que Jesus deu a seus discípulos, de ontem e de hoje, oferecendo-lhes a possibilidade de penetrar em seu coração de Filho imolado por amor, em sua espiritualidade de cordeiro imolado em resgate dos irmãos. Tudo isso é o que se expressa mediante a metáfora do “serviço”, termo que deve ser bem entendido: temos que resgatá-lo de todo tipo de servilismo e de toda abdicação passiva à própria liberdade e temos que inscrevê-lo no horizonte de uma total expropriação pessoal e de uma entrega completa de nós mesmo ao Pai. A luz desta afirmação de Jesus se difunde, obviamente, por todo o Evangelho. Jesus, sem dúvida, se apresenta, também, como servo “de muitos”, a saber, de todos os que o Pai os confiou como irmãos, oprimidos pelo pecado, mas abertos ao dom da libertação. O cálice da paixão, que Jesus aceita, livremente, das mãos do Pai, sempre espera ser saboreado, também, por aqueles, pelos quais o Mestre de Nazaré o bebeu até a última gota.
ORAÇÃO: Tua Lei, Senhor, é o sinal de tua realeza: Tu nos queres obedientes porque só através da obediência, como tu mesmo demonstrastes, se chega a rei. Teu exemplo, Senhor, manifesta tua profunda identidade de Filho: Filho de Deus Pai, que vive expressando sempre sua própria submissão em sua plena disponibilidade. Tua Palavra, Senhor, ilumina nosso caminho: o que Tu nos mostra não vale só para Ti, mas também para todos os que, livremente, Te elegeram como Mestre e Te seguem com alegria pelo caminho do Evangelho. Teu martírio, Senhor, o fostes vivendo em cada momento de Tua vida: quem aprendeu a conhecer-Te através das páginas evangélicas, sabe que, para Ti, ser servo é viver o todo para Deus e o todo para os irmãos. Esta é a “lei real” de que fala São Tiago em sua carta.
CONTEMPLAÇÃO: O objetivo dos dois apóstolos, João e Tiago, é obter o primado sobre os outros apóstolos. Percebes como todos os apóstolos são ainda imperfeitos? Tanto os dois que querem elevar-se sobre os dez, como os dez que têm inveja deles? Agora, fixemo-nos em como se comportam depois e os veremos isentos de todas essas paixões. São Tiago não viverá muito tempo. Com efeito, pouco depois da descida do Espírito Santo, chegará seu fervor a tal extremo que, deixando de lado todo interesse terreno, chegará a uma virtude tão elevada que morrerá imediatamente, sendo o primeiro dos Doze a sofrer o martírio. (São Crisóstomo).
AÇÃO: Repita com frequência e vive hoje a Palavra:
“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL – As festas dos santos propõem exemplos oportunos à imitação dos fieis. A esta função de exemplaridade quis unir, sempre, a Igreja, o reconhecimento da intercessão dos santos em favor de seus irmãos, os homens. Este é o motivo pelo qual, desde sempre, aceitou e fomentou com gosto a designação de determinados santos como patronos para os diversos povos. A liturgia da missa de São Tiago, patrono de Espanha, não faz senão corroborar esta mesma ideia. São Tiago, que «bebeu o cálice do Senhor e se fez amigo de Deus», foi sempre, junto com seu irmão João e com Pedro, um dos apóstolos que gozou das maiores intimidades de Jesus. E mesmo que sua ação no Evangelho não adquire a relevância da dos outros dois prediletos, foi ele quem primeiro selou com seu próprio sangue a entrega ao Senhor e à pregação de sua doutrina. Esta mesma ação, após sua morte, é reconhecida por nós em favor «dos povos da Espanha», como resposta a sua eleição como patrono. Porém, ao mesmo tempo que reconhecemos com alegria sua ação no passado, pedimos de frente ao futuro que, assim como ele manteve sua entrega a Jesus até o sacrifício de sua própria vida, assim também, “pelo patrocínio de São Tiago, a Espanha se mantenha fiel a Cristo até o final dos tempos” (htt://sagradafamiliadevigo.net).
Autores: (Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)