LECTIO DIVINA NA 1ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO 2020

Neste ano Mariano para a Comunidade Paz e Bem, cujo

Tema é: “Eis aí tua mãe”, ao iniciarmos este tempo

Comum, deixemos que Maria nos ensine como viver

Bem nossa vocação Paz e Bem. Que ela mostre como

Seguir os passos de seu Filho e nosso Senhor Jesus

Cristo.

Vamos com Maria, é um breve escrito da Lucia Negreiros da Anuncíam-me, que desejo compartilhar com vocês:

 

Vamos com Maria.

Continuemos com ela depois do Advento e do Natal.

Se Maria vai conosco pelo caminho, que é Jesus, certo será que não nos desviaremos da meta, que é também Jesus.

 

Vamos com Maria.

Também neste novo tempo que se inicia, o Tempo Comum.

Que logo será interrompido quando entrar a Quaresma e o Tempo Pascal, o centro de todo o Ano Litúrgico.

 

Vamos com Maria.

Pois já é de novo tempo comum que segue por todo o ano, até chegar o Advento. Mas com ela sempre, sem desanimar, vamos nós, os filhos de Maria, aqueles que foram por ela recebidos aos pés da cruz.

 

Vamos com Maria.

De tantos nomes, de tantos rostos, de tantas aparições, de tantos títulos, mas é uma só: a mãe de Deus e mãe nossa,

a humilde Maria, a virgem de Nazaré.

 

Vamos com Maria.

Ela nos guiará com mãos maternas, nos oferecendo seu

colo sempre que vier a tormenta. Levando-nos dos braços sempre que cansados estivermos.

 

Vamos com Maria.

E quando o dia amanhecer e no céu aparecer a bela visão, ressurgiremos por crer nesta vida escondida na Eucaristia e que foi ela a que primeiro comungou.

FELIZ TEMPO COMUM, COM JESUS E MARIA!!!

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SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JANEIRO de 2020 – TEMPO COMUM ANO A (par)

Marcos 1,14-20 (Jesus inaugura sua pregação) Estes versículos mostram de modo concreto o que significa o chamado de Jesus: «Crede no Evangelho» (v.15). Mostram a atitude nova e radical do cristão.        As duas cenas de vocação estão estruturadas do mesmo modo. Assinalemos o dinamismo do chamado: o Jesus que chama está sempre em movimento. Trata-se, de fato, do chamado a um novo êxodo, no sentido de um caminho inaudito e novo do Evangelho: «Vinde após mim» (v.17). «Eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.» Todo este dinamismo se desprende do olhar e do chamado de Jesus. Não se trata de uma iniciativa do homem, não se trata de um caminho do homem, mas, sim, do caminho de Deus entre os homens.                A confiança e a entrega à pessoa de Jesus tornam possível o seguimento. Está claro que ir com Jesus é uma perspectiva que exige as opções indicadas aqui de modo vago com o verbo «deixar»: Trata-se de um deixar com o olhar posto em uma realização; de um deixar que não empobrece. É possível deixar? Sim, porque ele nos precede com um olhar penetrante que realiza e constrói uma identidade: é o olhar com o qual Jesus nos convida, criando uma relação pessoal com cada um. O Jesus que passa e vê, diz uma palavra neste momento presente, mas é uma palavra carregada com uma promessa futura, que se converte na estrutura de todo abandono e de todo seguimento. Jesus vai ao encontro do homem em sua vida cotidiana para mudar seu destino. Jesus projeta, mediante seu ver e seu fixar-se, uma espécie de energia. Trata-se de um olhar que elege, que transmite uma força, que revela uma identidade e a torna possível. Jesus não vê pescadores, mas sim pessoas que têm um nome e desenvolvem uma profissão; um olhar que os faz desapegar-se das areias movediças em que haviam caído.

 

1 Sm 1,1-8 (A peregrinação a Sião) Segundo alguns investigadores, os livros de Samuel são os mais modernos de toda a Biblia. Deus se faz presente no homem, e o homem é um homem «verdadeiro», um homem que é pecador, embora também generoso e com todas as contradições próprias do ser humano. Deus já não se manifesta.           Está presente na piedade de Davi, em sua generosidade, no arrependimento por seu pecado. O homem é o sacramento de Deus. O caráter próprio dos livros de Samuel é este humanismo, cuja figura mais prestigiosa é Davi. Entretanto, há uma multidão de personagens vivos que formam sua coroa: Samuel, Saul, Jonatan… O primeiro que devemos destacar é isto: dá a impressão de que Deus intervém quando parece que tudo chegou ao fim. E assim sucede em todo o desenrolar do livro: Israel está derrotado; parece excluída qualquer possibilidade de salvação; tudo parece acabado. Mas no oculto, em meio ao silêncio, prepara Deus a ressurreição da nação. A um menino, levado por sua mãe a servir no templo, vai confiar a mensagem da derrota, mas com esta mesma mensagem lhe concederá também o começo de uma nova era para o povo de Deus. Samuel será quem vai consagrar o primeiro rei de Israel. Ana concebe e dá à luz um filho. Por trás do pranto, a oração. Há um certo vínculo entre a oração e a concessão do que se pede. Samuel será uma das mais importantes «figuras» veterotestamentarias de Jesus, em quem se cumprirão as promessas de Deus.

 

Salmo 115/116 (Ação de graças) É uma dádiva de Deus caminharmos com os salmistas que milhares de anos antes de nós se encontraram constrangidos pelas dificuldades, sofreram perseguições por serem fieis ao Senhor, foram caluniados, alguns mortos, mas não voltaram atrás e não traíram a própria fé. Diante da vontade do Senhor, pronunciaram “amém”. O verbo hebraico ‘aman’ significa construir sobre uma rocha, escudo, fortaleza, pedra angular sobre a qual construímos e que nem o vento nem a tempestade poderão derrubar. Cantar a misericórdia de Deus é sentir-se vitorioso, sofrido, mas não derrotado. Perseguidos, mas não vencidos. Porque Ele, o pastor, nos acompanha sempre. Passado muito tempo, morreu o rei do Egito. Os israelitas continuaram gemendo e clamando sob dura escravidão, e, do meio da escravidão, seu grito de socorro subiu até Deus. Deus ouviu seus lamentos e lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. Deus olhou para os israelitas e tomou conhecimento (Ex 2,23-25). Jesus conhecia este Salmo e o cantou na instituição da Eucaristia (cf. Mt 26,26-30). É preciso passar por muitas dificuldades para entrar no Reino dos Céus, pois só seremos vitoriosos se carregarmos a nossa cruz.

Senhor, sou pobre, desgraçado, infeliz, mas tenho fé. Quero construir sobre a pedra Cristo todo o meu futuro e não sobre as areias movediças que, à primeira enxurrada, destroem tudo. Mas às vezes, Senhor, vejo ao meu lado muitos sofrimentos e injustiças que tentam me afastar do teu caminho e do teu amor. Sei que a vida do cristão é marcada pela cruz, e esta nos fortalece quando amada e carregada por amor. Sei também que quando sofremos por amor, somos bem-aventurados: “Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mt,5 11-12). Senhor, na minha desgraça e pobreza que eu conserve a fé no teu amor. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO Ana conhece por própria experiência a dureza das relações humanas. É uma pessoa que, como outras muitas, junto com a dor aguda da própria pobreza pessoal, deve experimentar a aflição da humilhação que lhe infrigem os outros. E a isto se acrescenta algo a mais de tristeza o fato de que tudo isto lhe produza uma pessoa envolvida na prática religiosa. Isto mesmo pode passar também em nossos dias. Às normas cultuais, observadas de modo sereno, não lhes acompanha uma obrigada atenção para instaurar relações marcadas pela  fraternidade. O culto a Deus não se continua obrigada pela preocupação por nós mesmos, na escrupulosa atenção às paixões que se agitam em nós e podem causar feridas ao nosso irmão, mas sim desaparece com a explosão de sentimentos espontâneos que são vividos até alcançar uma brutalidade lacerante. Particularmente preciosa se apresenta a atitude benévola de Elcana, que põe todo seu empenho em consolar e pacificar à mulher amada. Mostra-se como um homem que, ao encontrar no templo a misericórdia e a ternura de Deus, é capaz de reproduzi-la no âmbito familiar. O tempo novo que se está gestando, inaugurado pelo Senhor, tem como característica dominante a criação de novas relações marcadas pela misericórdia.       Por outra parte, por havê-la manifestado de uma maneira radical em sua existência terrena, o Verbo que nos falou foi definido como «irradiação da glória de Deus e imagem de seu ser».

ORAÇÃO Invoco-te, Senhor de minha vida; a ti dirijo meus desejos e minhas palavras. Faz que eu escute tua voz. Ela me chama, desde o mar em que nos debatemos para não afogar-nos, a ti, margem pela qual suspiramos. Que tua Palavra nos encontre dispostos a deixar e cortar as redes das que tu nos libertas, redes que nos mantêm atados ao que está destinado a morrer. Faça que nosso olhar possa reconhecer-te nos acontecimentos cotidianos, que nosso coração volte a pensar en ti e que encontrem paz os pensamentos.     Que nosso afeto permaneça estreitamente ligado a ti e floresçam a amizade e a fraternidade em nossa terra. Que a justiça, a paz e a alegria voltem a reinar entre os homens.

CONTEMPLAÇÂO Não queiras buscar nenhuma coisa fora do Senhor; busca o Senhor e Ele te escutará; e enquanto ainda estejas falando, te dirá: «Estou aqui». Que significa «Estou aqui»? Estou presente. Que queres, que esperas de mim? Tudo o que posso dar-te é nada em comparação comigo. Toma a mim mesmo, goza de mim, acerca-te a mim. Ainda não podes fazê-lo plenamente, mas toca-me com fé e ficarás inseparavelmente unido a mim, e eu te livrarei de todos teus fardos para que possas aderir totalmente a mim (Santo Agostinho).

AÇÃO. Repete com freqüência e vive hoje a Palavra:

«Está chegando o Reino de Deus» (Mc 1,15)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Tu caminhas a meu lado. Tu caminhas a meu lado, Senhor. Não deixa marcas na terra tua passada. Não ti vejo: sinto e respiro tua presença em cada talo de erva, em cada átomo de ar que me nutre. Pela estreita vereda escura que atravessa os prados me levas a igreja da aldeia, enquanto arde o por do sol por trás do campanário. Tudo em minha vida ardeu e se consumiu como a fogueira que agora incendeia o poente e daqui a pouco será cinzas e sombra: só me resta salva esta pureza de infância que remonta, intacta, ao curso dos anos pela  alegria de voltar a encontrar-te. Não me abandones mais. Até que não chegue minha última noite – embora seja esta mesma—, preenche só contigo desde os rocios aos astros, e transforma-me em gota de rocio para tua sede e em luz de astro para tua gloria (A. Negri, Fons Amoris).

 

 

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TERÇA-FEIRA, 14 DE JANEIRO de 2020

Marcos 1,21b-28 (Jesus ensina em Cafarnaum e cura um endemoninhado) Neste fragmento de Marcos encontramos dois temas entrelaçados: o ensino de Jesus, repleto de autoridade, e seu poder de expulsar os demônios. O evangelista quer mostrar, em primeiro lugar, que o ensino de Jesus possui uma eficácia extraordinária. Sua autoridade consiste em realizar o que diz, em fazer-se obedecer e libertar do mal. Jesus não ensina como os mestres da Lei, mas, sim, como alguém que está investido do Espírito (Mc 1,9-11).    A Marcos agrada por o acento na figura de Jesus como Mestre: desde o começo de seu evangelho, em nosso fragmento, aparece Jesus como alguém que ensina. A Palavra de Jesus nos põe frente à frente com o poder mesmo de Deus. Tem lugar, em continuação, o choque com o«espírito imundo». No grito do homem possuído ressoa a citação de uma frase da Escritura: «Que tens contra mi, homem de Deus? Vieste…?» (1 Re 17,18). Esta frase do livro dos Reis está dirigida ao profeta Elias por uma mulher cujo filho se encontra enfermo grave e ao qual cura o profeta cura. Mudando «homem de Deus» por «Jesus de Nazaré»,  Marcos nos apresenta Jesus como o verdadeiro profeta que cura. Jesus é o Santo de Deus, suas palavras estão dotadas do poder divino.     A Palavra de Jesus é uma palavra que renova, transforma e refaz o homem.

 

1 Sm 1,9-20  (A oração de Ana; Nascimento de Samuel) Ana reza para que o Senhor lhe conceda o dom dos filhos. Sua oração é pessoal. Não a faz em voz alta, pois Deus está no mais íntimo do homem e o escuta, conhece seus sentimentos mais secretos, mais escondidos. Eli se equivoca ao julgar a mulher. Vê que ela move os lábios, mas não ouve nenhuma voz. Pensa que está alcoolizada, mas Ana reza com intensidade sua oração manifesta uma oração do coração. Ana vive nesta oração uma autêntica relação com Deus; não vê a Eli, tudo se torna estranho, se esquece do mundo que lhe rodeia, fala ao Senhor, só se abre a ele. A oração verdadeira é a oração na que o homem se encontra com Deus na intimidade de seu coração. Assim foi a oração de Ana. Isto nos diz que, na oração, o coração do homem deve unir-se ao coração de Deus. Eli parece não compreender a oração de Ana;em sua oração silenciosa, esta mulher fala com Deus, está em comunhão com ele e Deus a escuta. Diz o texto que Ana, ante a palavra do sacerdote, muda o rosto: antes estava triste, amargurada, chorava; agora se serena ao acolher o desejo de Eli como uma promessa de Deus. Para Ana, a palavra do sacerdote é eficaz, como se Deus houvesse escutado sua oração: «Vai em paz e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste». Ana já está segura; ainda não se uniu com seu esposo, mas lhe bastou a palavra de Eli para estar segura de que Deus escutara sua oração. Deus prepara os acontecimentos mais importantes da história da salvação com meios muito pobres, escondido e com humildade. Quando Deus cala, é sinal de que atua no mais fundo, mas o homem não se dá conta; e isso que, em realidade, o que Deus preparou se realiza para a salvação do homem.

1 Sm 2, 1.4-8 (Cântico de Ana) E Ana consagra, por toda a vida, o menino Samuel a Deus em seu Santuário.        Aí crescerá e viverá, dormindo incluso perto da Arca de Deus. E Ana prorrompe em um cântico de vitória e louvor ao Senhor. Deus, o Deus grande e misericordioso, se pôs de sua parte e se dignou apagar o opróbrio de sua serva.    Agora sim pode já responder a seus opositores, pois é Deus que a protege e que a ajuda. Deus, o dono de tudo, é quem, conforme seus desígnios, engrandeceu a sua serva e a levantou da morte. Dando-lhe um filho apagou seu opróbrio para sempre. Oxalá e sempre estejamos dispostos a louvar a Deus por seus benefícios; e que o façamos não só com nossos lábios, mas sim com um coração agradecido e com uma vida cheia sempre de boas obras, conforme os mandatos, ensino e exemplos do Senhor. Deus seja bendito para sempre!

MEDITAÇÃO Jesus experimentou a morte «pela graça de Deus».Isso nos diz de modo paradoxal o autor da Carta aos Hebreus. De nossa parte, não nos sentimos inclinados a unir a graça com o sofrimento. Costumamos considerar como uma graça que nos livre dele, enquanto interpretamos a dor como um sinal da privação da graça. Bem, dado que esta última é, mais que um dom, Deus mesmo que se acerca a nós com benevolência, interpretamos a suposta falta da graça como ausência ou morte de Deus. Entretanto, o caso de Ana parece confirmar esta convicção: esta mulher considera como um dom de Deus a libertação da aflição de sua esterilidade. Também o homem que é libertado da escravidão do diabo no evangelho recebe a cura e o dom de uma vida serena. Tudo isto nos recorda que o fim último do projeto de Deus consiste em libertar o homem de todo mal. A nova criação, levada a cabo por Deus mesmo, não prevê a presença da dor. Entretanto, na situação presente, dado que o homem não se encontra ainda na realidade ideal do mundo futuro, mas sim que deve participar na dramática luta contra o mal, e não algumas vezes ou em certas circunstâncias excepcionais, mas sim como uma situação ordinária, o amor que se atribui a Deus como puro dom gratuito não somente suporta, não só aceita, mas também deseja a travessia do deserto da dor. Isto não vale para esboçar características de uma filosofia universal da dor (cf. Hb 2,9). Vale para compreender a qualidade do amor de Cristo pelos homens e, por conseguinte, o amor de Deus. Não apresenta argumentos indiscutíveis para a «defesa de Deus», mas pode por em marcha ao crente para reviver a mesma graça. Bastará com esta convicção para criar a resignação ou o consolo? No fundo, o elemento decisivo não consiste neste bom resultado de caráter psicológico. A quem ama lhe basta com saber amar e com saber que Deus pode apreciar como acontecimento providencial precisamente a «estupidez» de meu incompreensível sofrimento.

ORAÇÃO Ó Deus, te invoco ao por do sol: ajuda-me a orar e centrar em ti meus pensamentos, pois por mim mesmo não sei fazê-lo. Há escuridão em mim, mas junto a ti há luz; estou só, mas sei que Tu não me abandonas; estou assustado, mas junto a ti há ajuda; estou inquieto, mas junto a ti há paz; em mim há amargura, mas junto a ti há doçura; não compreendo teus caminhos, mas Tu conheces o meu (D. Bonhoeffer).

CONTEMPLAÇÃO Teu desejo é tua oração; si teu desejo é contínuo, contínua será tua oração. Não em vão disse o apóstolo: «Orai sem cessar». Acaso dobramos os joelhos, prostramos o corpo ou levantamos as mãos sem interrupção para que possa afirmar: Orai sem cessar? Se dizemos que só podemos orar assim, creio que não podemos orar sem cessar. Bem, há outra oração interior e contínua, e é o desejo. Faças o que faças, se desejas aquele repouso sabático, não interrompas nunca a oração. Se não queres deixar de orar, não interrompas o desejo. Teu contínuo desejo será tua voz, quer dizer, tua oração contínua. Calarás se deixas de amar. […] A frieza na caridade é silêncio do coração; o fervor da caridade é o clamor do coração. Se a caridade permanece constante, clamarás sempre; se clamas sempre, sempre desejarás (Santo Agostinho).

AÇÃO Repete com freqüência e vive hoje a Palavra:

«Ana se apresentou ao Senhor e elevou a ele sua oração» (cf. 1 Sm 1,9ss)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A modo de imagem, vou partilhar a experiência de certos monges dos primeiros tempos da Igreja, lá pelos Ios séculos III e IV. De noite se mantinham de pé, em posição de espera. Erguiam-se ali, ao ar livre, eretos como árvores, com as mãos levantadas ao céu, voltados ao horizonte onde deveria surgir o sol da manhã. Seu corpo, habitado pelo desejo, esperava durante toda a noite a chegada do dia. Essa era sua oração.      Não pronunciavam palavras. Que necessidade havia delas? A Palavra era seu próprio corpo em atitude de serviço e espera. Este trabalho do desejo era sua oração silenciosa. Estavam ali, nada mais. E quando surgiam de manhã os primeiros raios do sol as palmas de suas mãos, podiam deter-se e repousar. Havia chegado o sol. Esta espera, da que é impossível dizer se é mais corporal ou espiritual, se é mais específicamente conceitual ou afetiva, se encontra na experiência espiritual. Sempre será para nós uma tentação constante pretender identificar Deus com algo de ordem afetiva ou de ordem racional, de ordem física ou de ordem cerebral. A espera afeta a todo nosso ser. E o que nos chega , precisamente, é o raio que, iluminando as palmas de nossas mãos e mudando pouco a pouco a paisagem, nos anuncia que vem o sol, diferente do que a noite nos permite conhecer (M.de Certeau, Mai senza I’altra).

 

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QUARTA-FEIRA, 15 DE JANEIRO de 2020

Marcos 1,29-39 (Cura da sogra de Pedro; Diversas curas) Este texto conclui Marcos a primeira jornada messiânica de Jesus. Esta representa um pouco a atividade da jornada típica seguida por seus discípulos e pelos que lêem o evangelho com tal surpresa e admiração que os faz perguntar-se: «Quem é este?». O primeiro milagre que o evangelho nos oferece parece  tão simplório que corre o risco de passar despercebido: o milagre segue sendo um sinal que remete a outra coisa; assim, a simples cura de uma febre, que certamente não chama atenção, leva em si um significado fundamental. A sogra de Pedro volta a estar em condições de “servir”). Este «servir», que cerra este primeiro milagre, encerra o programa messiânico de Jesus, que está entre nós «como o que serve» (Lc 22,27). Essa é a característica fundamental deixada por Jesus em herança os seus discípulos antes de morrer; neste sentido, a sogra de Pedro se converte no protótipo do crente libertado que pode oferecer seu serviço aos irmãos. Igualmente significativa é a saída noturna de Jesus a orar em um lugar deserto, colocada ao término de uma dura jornada de evangelização. Podemos considerar esta oração de Jesus como seu êxodo da fadiga cotidiana para encontrar-se com o Pai. E graças a esta oração poderá responder a Pedro: «Vamos a outra parte», superando a fácil tentação que supõe um fácil messianismo ligado a «todos te buscam». Toda a população está reunida na praça, todos o buscam, mas Jesus não volta atrás e se vai a «outra parte», para que chegue ali também sua salvação.

1 Sm 3,1-10.19-20 (Deus chama Samuel) Samuel, ainda menino, havia sido entregue ao Senhor para o serviço do templo. Aí no templo permaneceu durante anos em silêncio, conhecido só por Deus. Agora o Senhor o chama.     Para que o chama o Senhor? Na vocação de Samuel pode-se ver de imediato o modo do chamado de Deus. Chama cada um pelo nome: «Samuel, Samuel». Isto significa que seu chamado é sempre um chamado pessoal e não anônimo; que é uma chamada original dirigida a cada um; que quem nos chama nos conhece por meio de um verdadeiro conhecimento de amor. Entretanto, Samuel não está em condições de conhecer de imediato a voz de Deus. Se bem, por uma parte, afloram objetivamente dificuldades para reconhecer a voz de Deus (sua transcendência e seu caráter imprevisível), meditando a passagem podemos descobrir nele, não obstante, a paciente pedagogia de Deus encaminhada a inserir-se no coração do homem. Deus se adapta; chama de maneira gradual; dá tempo ao homem; renova seu chamado. Samuel recebe a chamada por primeira, por segunda, por terceira vez… neste ponto intervêm os intermediários que podem servir para ajudar a voz do Deus que chama; no caso de Samuel, é o ancião sacerdote Eli, que com sua sensatez o sugere como deve comportar-se (v.9). Isto nos faz ver que na chamada intervém, quase estruturalmente, a presença de mediações humanas; à miúdo resulta indispensável a ajuda de alguém para sair da dúvida, da insegurança. Mas isso não é tudo: temos de enfatizar a absoluta disponibilidade de Samuel: «Fala, Senhor, que teu servo escuta» (vv.9ss). Só uma atenta vigilância e disponibilidade para «não deixar escapar vazia nem uma só de suas palavras» pode levar o chamado, antes ou depois, a reconhecer a voz de Deus, a acolhê-la e a deixar-se guiar por ela.

Salmo 39/40 (Ação de graças; Pedido de socorro) A oração que mais admiro é a de ação de graças e louvor.    No entanto, é difícil agradecer e perceber a beleza ao nosso redor, e ter consciência de todas as graças que Deus nos tem dado ao longo de toda a nossa vida. Diante de Deus não temos nenhum direito, a não ser o de sermos amados. Ele tudo nos dá de graça, por isso é nosso dever cantar as suas maravilhas. O salmista, por ser pobre, faz a experiência do cuidado de Deus. Em meio a tanta pobreza material, só o Senhor vem em nossa ajuda, com pleno amor e gratuidade. Devemos dizer a todos, e de todas as formas, os benefícios recebidos por intermédio dele.

Senhor, desculpa-me se sou cego e insensível à tua graça e teu amor. Dá-me um coração pobre para acolher tudo como dom, desde a luz do sol até a saudade, os amigos e a família, o amor e o sofrimento. Que possa repetir com Santa Teresinha do Menino Jesus: “Tudo é graça… Não posso confiar em mim mesmo, mas devo pedir a todo o momento uma só coisa: o amor, Senhor, para que te possa amar e fazer-te amado”. Amém

MEDITAÇÃO As leituras de hoje pôem em relevo, em diferentes planos, o papel principal que deve exercer Deus na vida de todo crente. Jesus, ante os convites da gente de seu meio, elege dar prioridade à missão recebida do Pai; e Samuel, com a disponibilidade conquistada, mesmo com certo trabalho, se torna disponível para seguir a vontade de Deus em sua vida. Em todo caso, a propensão a abrir-nos à vontade de Deus e, a seguir, a atuação prática deste suscitam ao mesmo tempo a aquisição de dois estados de ânimo diferentes e complementários entre si. Ser eleitos por Deus como colaboradores seus suscita um sentimento de alegria desconcertante, de maravilha inesperada e de reverente apreensão. Afirmar, como Maria, «faça-se em mim segundo tua Palavra» não significa aprender a resignar-se, mas sim implica, primeiro em abrir-se, com uma admiração empapada de alegria, a um projeto sedutor. Mas, a correspondência a tanto dom exige atravessar e superar as provas. Isto não exige sempre a necessidade de assumir um compromisso doloroso (embora seja necessária a disponibilidade para o mesmo), mas sim requer, em todo caso, a capacidade de discernimento. Não respondemos a Deus com a verdade se a obediência vivida não nos habilita para adquirir certa sintonia com ele, de modo que advirtamos intuitivamente, mediante um sexto sentido espiritual, o que nos pede de vez em quando. Uma condição ulterior para esta correspondência natural cotidiana é a oração prolongada e perseverante, essa da que nos dá testemunho Jesus, disposto a buscar seu Deus até a chegada da aurora.

ORAÇÃO Que sou eu para ti, Senhor? Por que desejas ser amado por mim até o ponto de te inquietares se não o faço? Como se não fosse já uma grande desventura não amar-te…! Diz-me, te rogo, Senhor, Deus misericordioso, que és Tu para mim? Diz, para que eu ouça. Os ouvidos de meu coração, Senhor, estão ante ti; abre-os e diz à minha alma: «Sou tua salvação». Perseguirei esta voz e assim te alcançarei (Santo Agostinho).

CONTEMPLAÇÃO Tentamos entender a vocação com a qual nascem os eleitos: não foram eleitos por acreditar, mas sim foram eleitos para que cressem. O mesmo Senhor nos revela muito bem o sentido quando diz: «Não escolhestes a mim, mas eu vos escolhi». De fato, se tivessem sido eleitos por haver acreditado, evidentemente teriam sido eles os primeiros em elegê-lo ao crer nele, e por isso teriam merecido ser eleitos. Bem, o que diz: «Não me escolhestes vós a mim, mas eu é que vos escolhi», exclui por completo esta hipótese. Entretanto, está fora de dúvida que também eles lhe acolheram quando creram nele. Quando diz: «Não me escolhestes vós a mim, mas eu os escolhi», quer dar a entender isto: não foram eles quem lhe escolheram para poder ser eleitos, ou que foi ele quem lhes escolheu a fim de que o escolhessem (Santo Agostinho).

AÇÃO Repete com freqüência e vive hoje a Palavra:

«Fala, Senhor!» (cf1 Sm 3,9-10)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL O grande e inefável diálogo entre Deus  o homem que constitui nossa religião supõe, no homem mesmo, uma atitude receptiva particular. Se o homem busca e escuta a Palavra de Deus, a Verdade salvadora entra na alma e cria novas relações entre Deus e o homem: a fé, a vida sobrenatural.     Mas se o homem não escuta, Deus fala em vão; se abre um drama tremendo. Na Bíblia aparece esta alternativa decisiva. A escuta do homem é, por excelência, um ato racional e voluntário, pleno e consciente do obséquio tributado ao Deus que revela, mas supõe o amadurecimento interior, trabalhado pela graça, (…) para o encontro com Deus. Como idade da crise e idade da eleição, a juventude está mais exposta a padecer a influência arreligiosa e antirreligiosa de nosso tempo. Bem, enquanto idade do pensamento e idade do amor, a juventude está mais capacitada para compreender o valor religioso da vida e de dar a sua piedade um profundo significado pessoal, que adquire à miúdo uma dramática expressão moral, uma espécie de fidelidade imolada e total, plena de impulso apaixonado, se bem todavia pouco segura, como um vôo, embora esplêndida e generosa, precisamente como um vôo milagroso realizado nos céus do heroísmo e da poesia. Isto tem lugar quando o sentido religioso se pronuncia -como tormento, como atrativo, como alegria, pouco importa- de um modo tão vigoroso que constitui um jogo íntimo e sublime de liberdade e de obrigação, e se torna determinante desde o ponto de vista moral. É então, por general, quando a voz interior se revela, não já como própria, senão como eco de outra voz, longínqua e próxima, a de Deus (G. B. Montini, O sentido religioso).

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QUINTA-FEIRA, 16 DE JANEIRO de 2020

Marcos 1,40-45 (Cura de um leproso) Com este novo milagre instala Jesus uma autêntica revolução: não se distancia do leproso, como queria a Lei; não rejeita o contato com ele, não teme nenhuma ameaça. Sua proposta não consiste já em separar-se do imundo, mas na transformação pelo contágio vital que vai do puro ao imundo. Jesus encarna ao homem puro e sagrado que «contagia» e atrai a sua própria esfera o homem imundo e não sagrado. O leproso «se aproximou» (v.40): não se trata só de um movimento espacial, mas também de um movimento do espírito, porque lhe diz a Jesus: «Se queres, podes limpar-me» (v.40). Com a vinda de Jesus caiu o muro da Lei (cf. Ef 2,14ss), porque Deus, o Santo, o Justo, se fez em tudo solidário conosco, ensinando-nos o acesso a ele. O gesto de estender a mão indica o poder de Jesus, que se manifesta também por meio de sua Palavra imperiosa: «Quero, fica limpo» (v.41). A salvação não está já na separação e na marginalização, e sim na reintegração, porque com Jesus entrou no mundo o poder salvífico mesmo de Deus. No acontecimento histórico de Jesus se tornou«visível» o poder salvador de Deus, que se põe do lado dos pobres, dos últimos da sociedade dos homens. Jesus inaugura una sociedade nova, uma sociedade que não marginaliza ninguém, que não separa, que não exclui, e sim é consciente de possuir o poder mesmo de Deus que lhe foi dado por Jesus. Precisamente porque Jesus aboliu o sistema que separava o puro do imundo tal como se entendia no mundo judio, fica livre o cristão para Deus e para o próximo.

1 Sm 4,1-11 (Derrota dos israelitas e captura da Arca) A protagonista deste texto é a arca. Os hebreus a consideravam como «sinal» visível da presença invisível de Deus, com o qual alimentavam sua fé. Eis que os filisteus se preparam para a batalha contra Israel. Acontece uma grande derrota, e caem quatro mil mortos; Israel se torna escravo dos vencedores, mas antes de dar-se por vencido, Israel crê dispor ainda de uma arma invencível: a arca. Deus se ligou a Israel com o pacto da aliança, e Israel levará a arca santa ao campo de batalha. Agora os mesmos filisteus já não se sentem seguros da vitória. Inicia de novo a batalha e, desastre terrível para Israel, lhes arrebatam a própria arca de Deus. Capturada esta, Israel fica como abandonado de Deus; Israel fica sem seu Deus. Haver levado a arca de Deus ao campo de batalha supõe haver provocado ainda mais o castigo de Deus, que permite que a arca, sinal da aliança, seja arrebatada a Israel. É a derrota total. El, por meio de seus filhos derrota, cai no umbral do santuário e morre (4,13.18). É o final. Entretanto, não é assim: Deus chamou a Samuel, sua vocação é já o começo de uma nova história. Apesar de tudo, Deus permanece fiel à aliança. Samuel vive ainda à sombra do santuário, mas o Senhor lhe conhece. Em sua mesma vocação, Deus lhe faz partícipe de seu desígnio: desde esse mesmo momento se converte Samuel em alguém que representa agora o povo santo e leva consigo o destino da nação.

Salmo 43/44 (Elegia nacional) Nem sempre conseguimos sentir a presença de Deus perto de nós. Em alguns momentos temos a impressão de que Ele nos abandonou; ainda que façamos de tudo para lhe ser fieis, quando não vemos nenhuma luz, parece que estamos envoltos em forte neblina ou dentro de um túnel, ou ainda numa noite escura. Parece que o Senhor está dormindo… São nestes momentos de quietude que devemos acolher sem medo e ter em nós a certeza da nossa felicidade. Às vezes, Deus nos deixa sozinho para provar o nosso amor… Seu silêncio pesa, mas saibamos que é passageiro. Se não temermos a espera, Ele virá em nosso socorro.

Senhor, acorda, vem em minha ajuda! Não me deixes por muito tempo no deserto e nem na noite, faz-me ouvir a tua voz doce e forte, que me diz: “não tenhas medo, eu te amo!” Serão estas palavras que me darão coragem para caminhar na noite até a tua luz aparecer. Seja qual for a noite, quero amá-la. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO Hoje tornamos a propor a questão decisiva para a vida da fé: «¡Escutai o Senhor!». A Carta aos Hebreus a propõe como atitude válida para cada dia. Dizia um antigo eremita: «Uma voz invoca desde o fundo de teu coração: Converte-te hoje!». Ali onde não permanece com suficiente vigor este propósito, se abre caminho o risco do endurecimento do coração. Com efeito, a escuta obediente ou a rejeição desobediente não é uma simples questão de audição física, nem sequer uma questão de boa vontade. O crente deve desenvolver uma «sensibilidade» própria a esse respeito. Só com um empenho permanente se adquire a sensibilidade suficiente para perceber a voz do Senhor ou para dar-se conta de suas inspirações. Do contrário, se corre o perigo testemunhado pelo povo de Israel, tal como aparece na la leitura de hoje. Este tenta construir uma relação religiosa com Deus totalmente aparente, porque, apesar de todo o aparato cultual empregado e apesar das intenções declaradas, não tem nenhuma intenção séria de submeter-se à decisão de Deus nem de respeitar sua vontade, tal como se encontra expressa em seus mandamentos. Os textos bíblicos nos recordam assim uma verdade que é bastante obvia: o primeiro passo para uma relação autêntica com Deus consiste na recuperação de uma honestidade que aborreça todo fingimento. O Senhor, por sua parte, se compromete a destruir, embora aceitando o risco de desfigurar e de provocar uma crise de fé nos homens, todo aparato religioso que não parta dele e seja expressão de sua autêntica vontade. Às vezes, o dessacralizador mais radical é o mesmo Senhor. Frente a sua santidade não resiste nenhuma ambigüidade. Antes ou depois, fica o homem desnudo e deve escolher com autenticidade (ou bem rejeitar sem fingir).

ORAÇÃO Concede-me, Senhor Jesus, entrar contigo na vontade do Pai: que eu queira o que quer ele, que eu creia que ele quer sempre a salvação. Concede-me, com a força do Espírito, desejar e pedir a verdadeira cura.

CONTEMPLAÇÃO Os malvados levam a cabo muitas ações contra a vontade de Deus, mas este possui tanta sabedoria e poder que todos os acontecimentos que parecem contrários a sua vontade tendem aos objetivos e fins que ele mesmo previu como bons e justos. Por isso, quando se diz que Deus mudou de vontade, de sorte que se mostra, por exemplo, indignado com aqueles com quem se mostrava indulgente, são eles os que mudaram, não Ele, e em certo sentido o encontram mudado nas adversidades que padecem. Do mesmo modo muda o sol para os olhos enfermos e, de certo modo, se converte de pacífico em irritante, de agradável em inoportuno (Agustinho de Hipona, A cidade de Deus, XXII, 2). Em todo caso, por muito fortes que possam ser as vontades dos anjos ou dos homens, bons ou maus, favoráveis ou contrários ao que quer Deus, a vontade do Onipotente é sempre invencível; não pode ser nunca má, posto que, inclusive quando inflige males, é justa, e se é justa, seguramente, não é má. O Deus onipotente, seja por misericórdia experimente misericórdia por quem queira, seja pelo juízo endureça a quem queira, não leva a cabo injustiça alguma, não realiza nada contra sua própria vontade e tudo o que quer faz. (Agustinho de Hipona, Manual XXVI, 102).

AÇÃO Repete com freqüência e vive hoje a Palavra: Quero, fica limpo»(Mc1,41)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Não te peço que me cures: seria ofensiva a demanda que não podes escutar. O que peço é que me salves, que não me deixes para sempre submetido a esta morte cotidiana. Peço que o Nada não vença e não volte eu a necessitar acender-me de desejos, e viva infeliz ali como agora aqui,
sozinho e distante. (…). Eu, arrependendo-me, e tu, tendo piedade de mim, pois é necessidade para mim falhar e para ti continuar perdendo. Assim te penso: um Deus sempre exposto a loucuras, a contentar-se por como somos, a perder sempre: Ó Luz incandescente e piedosa. (D. M. Turoldo, Canti ultimi, Milán 1991).

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SEXTA-FEIRA, 17 DE JANEIRO de 2020

Marcos 2,1-12 (Cura de um paralitico) Com o texto de hoje inicia uma série de controvérsias sobre a Lei (2,1-3,6). Estas conduzem a Jesus, desde o início de sua atividade, ao choque com o poder religioso e civil. No presente texto aparece a narração de um milagre. O ponto focal se encontra no v.10, onde se declara o núcleo da controvérsia e, junto com ele, o objetivo do milagre: «Pois vais ver que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar os pecados». O milagre mesmo não é mais que a demonstração deste poder de reconciliação com Deus que reivindica Jesus. A atenção se traslada de um mal físico a um mal mais profundo, o pecado, que mantém o homem «paralizado» em si mesmo e em umas formas rígidas, incapaz de «caminhar» e de avançar segundo o plano de Deus. O significado quebrantador de tal afirmação é captado de imediato pelos mestres da Lei; entretanto, estes não estão dispostos a aceitar a «blasfêmia» que supõe que este homem possa perdoar os pecados, porque «quem pode perdoar pecados, senão Deus?» (v.7). Mas Jesus responde aumentando a dose sem equívocos: «Pois vais ver que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar os pecados. Então se voltou para o paralítico e disse: ‘Levanta-te, toma tua cama vai para tua casa» (vv.10-11). O milagre é, pois, sinal de seu poder de reconciliação com Deus, e isso implica a superação da lei que separa o homem de Deus. Este poder, reservado só a Deus, é dado agora ao homem no Filho do homem, Jesus Cristo. Essa é a blasfêmia do Evangelho que será motivo da condenação de Jesus. Quem acolhe, quer dizer, quem tem fé nesta «blasfêmia», pode levantar-se, como o paralítico, e pôr-se a caminhar. A multidão que esteve presente, e que percebeu algo do mistério de Jesus Cristo, expressa sua própria admiração e prorrompe em uma exclamação que é uma profundíssima entrada na fé: «Nunca vimos coisa igual» (v.12).

1 Sm 8,4-7.10-22a (O povo pede um rei; Os inconvenientes da realeza) Com este texto nos encontramos em um momento crucial da história da salvação: a instituição da monarquia. Como em todas as demais etapas desta história, a Bíblia situa em um primeiríssimo plano a causa primeira: Deus. O povo pede um rei. Que significa que Samuel não queira dar um rei ao povo? Deus mesmo parece de acordo com Samuel e não aceita a petição do povo. Deus quer que o homem se abandone a ele sem mais garantia que a fé. A garantia é ele mesmo, que permanece fiel a seu pacto. O que  falta a Israel é a fé. O homem não é capaz de abandonar-se nunca até o fundo. Por isso se adapta o Senhor e sai ao encontro da debilidade do homem. O povo de Israel deve confiar em Deus. O povo quer um rei como as outras nações, quer ter segurança, uma garantia humana mais clara y contínua. Pedir garantias é, no fundo, não confiar por completo em Deus. «Não te rejeitam; é a mim a quem rejeitam; não me querem como rei» (v.7), diz o Senhor. Samuel avisa ao povo: estais pedindo um rei, mas se o obterdes sereis seus servos, vossas cabeças serão propriedade sua,entretanto, pedis um rei. O povo insiste: só um chefe poderia levar a cabo a unidade das tribos.     Até Samuel, Israel não era uma nação; de vez em quando se reunia no santuário, mas a união entre as tribos era pobre. Ter um rei, acreditava Israel, era ter consciência a fim de ser uma nação. Para Samuel, era difícil aceitar a novidade, mas o povo está em condições de insistir: «Teus filhos não se comportam como tu» (v.5). Ao final intervém o próprio Deus e exorta a Samuel a que dê um rei ao povo.

 

Sl 88/89 (Hino e prece ao Deus fiel) Este Salmo é uma oração que descreve os vários sentimentos do orante que quer cantar as maravilhas do amor do Senhor e, para isso, relembra seu passado e o do povo; fiéis ao Senhor, puderam contemplar a grandeza do Pai que não desampara seus filhos e sempre cumpre suas promessas. Paralelamente o salmista se vê circundado por inimigos que tentam sua incolumidade física e religiosa. Como reagir diante do avanço do mal? O segredo é um só: a fidelidade à Palavra de Deus é a única que garante a nossa vitória. Todos nós enfrentamos momentos difíceis e são nesses momentos que devemos aprender a ouvir o silêncio e procurar resposta na solidão. Há sofrimentos que, embora os outros nos ofereçam auxílio, devem ser absorvidos e saboreados por nós, na solidão de nosso coração. Neste Salmo, o salmista nos chama a renovar, diariamente, a nossa aliança com Deus: uma aliança que é sempre plena de felicidade, mas marcada com o sangue da cruz e o nosso.

Senhor, cantarei eternamente as tuas maravilhas. Quero olhar o que o Senhor fez no meu passado, quantas coisas boas, quantos amigos e amigas colocou no meu caminho que me ajudaram a chegar onde hoje eu estou com o exemplo, com uma palavra, com correção fraterna. Cantarei, Senhor, as maravilhas da minha fé. Combati mais ou menos o bom combate e conservei mais ou menos a minha fé. Sou feliz por ser carmelita e por ter todo dia a graça de viver com intensidade o meu apostolado. Agora, Senhor, os meus olhos podem ver com ternura o meu pôr-do-sol, que enuncia um porvir ainda melhor nas tuas moradas eternas. Renova, Senhor, comigo, apesar da minha infidelidade e do meu passado, a tua aliança santa, dá-me a consciência de que tanto minha santidade como o meu pecado pesam sobre meus ombros e sobre os ombros da Igreja, do Carmelo e da humanidade. Dá-me a certeza de que ninguém se salva sozinho. Senhor, quero levar comigo diante de ti toda a humanidade para cantar tuas maravilhas. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO Deus se adequa amiúde à imaturidade do homem e o acompanha através do vai-e-vêm dos desvios de sua caminhada. O Senhor não comunica de imediato sua vontade de maneira radical e plena, porque não somos capazes de recebê-la. A eleição que está levando a cabo Israel, a de querer um rei, é um desses desvios. O povo deverá esperar o fracasso de sua iniciativa para dar-se conta de que o único verdadeiro rei é o Senhor. Só então encontrará repouso. Entretanto, Deus mesmo tem paciência e acompanha o povo para que a complicação que eles mesmos buscaram não lhes resulte fatal. Não são, com efeito, as estruturas hierárquicas nem os expedientes os que salvam, e sim JAVÉ, única fonte de vida para o povo eleito: ele lhe propõe incessantemente sua vontade por meio dos profetas, e chama a todos para que voltem a por nele toda a confiança através de uma relação pessoal e vital. A esta mesma relação de confiança plena, cujos confinamentos são rebaixados cada vez pela Palavra eficaz de Jesus, nos chama o Evangelho: perdoar os pecados vai mais além do simples gesto «mecânico» e «utilitarista» da cura. O Nazareno, com sua atrevida afirmação, pede aos mestres da Lei que superem a imagem de Deus que criaram («Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?»: v. 7), para poder receber o anúncio da força libertadora do Reino. Também a nós nos é pedido hoje que não nos deixemos condicionar pela rigidez das estruturas mentais e das instituições humanas, e que sejamos capazes de dar-nos conta (…) da presença ativa de um Deus que, com gestos gratuitos e inesperados, se deixa encontrar em nossos limites.

ORAÇÃO Concede-nos, Pai, uma fé capaz de abrir os tetos, uma fé capaz de deslizar nossas macas – essas nas quais jazemos com o coração tolhido -, para deslizar-nos dentro, em plena vida, no coração da história; para que nos encontremos frente a Jesus. Uma vez perdoados e curados por Ele, – das mil pretensões sobre a vida e sobre a história-, poderemos voltar a nossa casa e com nossos seres queridos, já sarados e agradecidos. Como quem sabe que tudo se recebe como dom: o ser no mundo, guiados através dos acontecimentos do mundo.

CONTEMPLAÇÃO Pode acontecer que um homem se diga a si mesmo: «As Escrituras nos enganam», e todos seus membros desistam de fazer o bem; e que, entregando por dentro até os membros do homem interior -o que constitui uma coisa muito grave- deixe de fazer o bem e se diga a si mesmo: «De que serve fazer o bem?». Podemos, irmãos, levantar ao que pensa assim  tenha perdido a faculdade de fazer obras boas em todos seus membros interiores, como se fosse paralítico, abrir o teto desta Escritura e apresentá-lo ao Senhor? Vede, com efeito, que estas palavras são obscuras, estão encobertas; e eu entrevejo a alguém com a alma paralítica. Vejo este teto, e sob o teto vejo a Cristo escondido. Farei, no que possa, o que se louva naqueles que, uma vez aberto o teto, apresentaram o paralítico a Cristo, a fim de que este lhe dissesse: «Filho, teus pecados te são perdoados». Porque deste modo salvou ao homem interior das paralisias, perdoando-lhe os pecados  reforçando sua fé. Mas havia ali homens que não dispunham de olhos capazes de ver que o paralítico interior estava já curado, e creram que o Médico que o curava blasfemava. Esse Médico realizou então algo também no corpo do paralítico, algo que servisse para curar a paralisia interior dos que haviam dito tais coisas. Realizou coisas que eles puderam ver, ditas no seu jeito de crer. Quem quer que sejas, tão enfermo e débil de coração que queiras renunciar às obras boas, e estás preso por uma paralisia interior, faz força para ver se, uma vez aberto este teto, possamos apresentar-te ao Senhor (Santo Agostinho).

AÇÃO Repete com freqüência e vive hoje a Palavra:

«Levantaram o teto e desceram o leito em que jazia o paralítico» (Mc 2,4)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Que pedem estes homens, hoje, na presente «maturidade» histórica?        Que pedem neste ponto tão elevado – apesar de tudo – do processo histórico da civilização humana? Tudo está posto em tela de juízo: as bases de todo o edifício humano -bases econômicas, bases sociais, bases políticas, bases culturais, bases religiosas- estão ou bem quebrantadas ou bem sacudidas; todos os valores estão submetidos a crítica e a revisão, como se todas as coisas, todas as idéias, todas as normas, tivessem que ser introduzidas outra vez em um crisol novo para ser recuperadas, para ser submetidas a uma nova forma e a uma nova medida. Então? Nos retiraremos desanimados da «contemplação», certamente não consoladora, do espetáculo do mundo presente? Esta «invasão das águas» que rompeu os diques mais firmes, que pôs tudo em tela de juizo, que misturou tudo, que rompeu todos os moldes precisos do corpo social, acabará assustando-nos ou apagará em nós, ou debilitará ao menos, a ousadia construtiva da esperança? Bem, ao contrário, a esperança verdadeira –a esperança teologal– floresce louçã precisamente nos momentos mais críticos da «fratura»: quando tudo está destroçado, quando tudo parece acabado, quando os limites da ruptura mais áspera foram alcançados, então nasce, de improviso, como por milagre, o arco-íris da esperança. Quando o inverno se encontra no ponto mais alto de seus rigores, já está firmemente construída a primavera: termina a neve e a prudência com a estupidez, a grandeza com o opróbrio (G. La Pira, Lettere alle claustrali VII).

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SÁBADO, 18 DE JANEIRO de 2020

Marcos 2,13-17 (Chamado de Levi; Refeição com os pecadores) Na passagem de hoje se entende a fé como seguimento de Cristo. Conta-se que Jesus «ao passar viu  Levi, o filho de Alfeo, que estava sentado em sua oficina de impostos, e lhe disse: Segue-me. Ele se levantou e lhe seguiu» (v. 14). Levi se encontra com Jesus e se torna cristão em pleno exercício de sua profissão «mundana». Em todas as profissões se pode «seguir» Jesus, fazer o que ele faz. Não pensavam assim os fariseus, que reprovaram Jesus que comia «com publicanos e pecadores» (v.16). Para os fariseus, certas profissões eram incompatíveis com a religiosidade judia, porque impediam de observar o sábado e outras leis. Para Jesus, em troca, não há profissões que excluam do discipulado cristão. O que impede ser discípulo de Cristo é crer-se «justo» e «salvo», isto é, não sentir-se necessitado de salvação. «Não necessitam médico os sãos, e sim os enfermos. Eu não vim chamar a justos, e sim a pecadores» (v.17). A cura que lhes aplica é estar com eles, não excluí-los, não condená-los, não julgá-los. Essa é a cura do mal interior do homem. Esta paciência, esta misericórdia, esta longanimidade, é o que constitui sua cura. É bonito contemplar esta imagem de Jesus como médico; sua terapia pode durar toda uma vida, quer dizer, não pode ser excluída nunca, porque a terapia é sua presença, seu estar conosco.           O Senhor parece querer dizer-nos que a conversão mais difícil é a do justo ou a dos que se consideram tais.

 

 

1 Sm 9,1-4.17-19;10,1a (Saul e as jumentas de seu pai; Saul encontra Samuel; A sagração de Saul) No centro do fragmento de hoje encontramos Saul. Com ele o capítulo 9 começa para Israel uma nova história.          A história da monarquia começa com a aparição de Saul, filho de Quis. Por que se apresenta sua genealogia?          Que pode significar? Por que tantos nomes que nada nos dizem? Que importância pode ter a genealogia de Saul?      No entanto, as genealogias têm sempre uma grande importância nos livros do Antigo Testamento. O personagem de que nos fala o livro é o término de toda uma história, que, embora seja privada, é sempre história de Israel. A história começa com a busca das jumentas perdidas. Quis, o pai de Saul, perdeu suas jumentas, e seu filho vai buscá-las. Assim atua o Senhor. Os começos da história são de uma humanidade que desconcerta, embora nos pareça que não dizem nada. Deus converte a vida do homem em uma contínua surpresa. Saul vai em busca das jumentas e regressa sendo rei de Israel. Não tem nada que levar ao vidente. Saul vai à casa do vidente para saber se alguém encontrara as jumentas. Encontra Samuel e este lhe consagra rei. Assim atua Deus. Sua vida tem a dimensão do amor gratuito de Deus. Saul viverá a tragédia de ter que viver uma realeza que o povo de Deus não estava preparado para receber, apesar de havê-la reclamado. O povo quererá voltar atrás, mas não poderá fazê-lo. Deus deve realizar seu plano contra a vontade dos que agora lhe resistem. Abandonar-se à vontade de Deus não é fácil. Queremos que Deus atue, mas quando o faz e nos pede submissão e obediência, nos rebelamos; pretendemos que Deus siga nossa vontade, não que nós sigamos a sua.

 

Salmo 20/21 (Liturgia de coroação) Há quem pense que a Igreja prega a revolta contra todos os políticos ou que apóia somente aqueles que são marxistas e socialistas. Não há nada mais errôneo do que isto. A Igreja está acima de toda política e acredita que todo político deve colocar-se a serviço dos valores do Evangelho e dos pobres.       Ninguém pode escolher a política por interesses próprios ou a fim de se enriquecer pelo caminho da corrupção.      Todo político que vive segundo o Evangelho e que coloca todo seu empenho na defesa da vida, da justiça, do amor e a serviço do povo, encontrará a benção de Deus.

Senhor, abençoa os nossos políticos. Que eles sejam transparentes e coloquem o próprio poder a vosso serviço.      Que não dominem, mas que sirvam a todos, sem distinção. Que a política seja um ministério, um serviço abençoado por ti e que ela esteja sempre na defesa dos direitos humanos. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO A Palavra do Senhor atua de modo eficaz. Penetra em nosso coração, o põe desnudo, o julga. Esta Palavra corresponde, entretanto, ao Filho, que é capaz de compadecer-se de nossas debilidades e quer apresentar-se como nosso intercessor. A eficácia e a misericórdia aparecem no obrar de Deus na vida de Saul. O texto põe em relevo o projeto gratuito de Deus, que precede a toda iniciativa por parte de Saul. Põe de manifesto como se desenvolve sua ação utilizando situações normais, quase triviais, na vida das pessoas.      Saul não recebe um cargo honorífico, mas sim a habilitação para um serviço. A graça só nos faz sentir sua ação em nós quando nos habilita concretamente para algum ministério. Tudo tem lugar no escondido, sem clamor algum. A eficácia da Palavra não tem nada que ver com o clamor mundano. Isto mesmo aparece com mais força ainda no episódio narrado pelo evangelho. O chamado de Levi anuncia a força da Palavra. Também neste caso se destaca a total gratuidade do amor divino que chama: não há nenhum mérito, nenhuma preparação por parte do eleito. Também ele se encontra imerso no trabalho diário, uma atividade marcada, ademais, pela negatividade. Esta vez, não obstante, é o sinal da misericórdia suscita clamor. Este tipo de fama não ajuda ao Senhor, que deve dar contas de sua misericórdia.

ORAÇÃO Dai-me, Senhor, um coração atento e límpido; um coração desejoso de encontrar-te ali onde me encontre, e de seguir-te, quer dizer, de imitar-te, desde o lugar no qual me encontre. Um coração atento para poder reconhecer teus passos em minha história; na pequena, na de todos os dias, na grande, a que leva as cores fortes da alegria ou da dor, da esperança que nos faz voar ou do desespero que nos arrasa. Um coração límpido, porque só o olhar de quem é profundamente puro e livre é capaz de ver…, de ver-te. Um coração desejoso de encontrar-te, porque esse é o caminho seguro para descobrir-te já presente… Um coração que queira seguir-te, porque só o caminho do Evangelho, que és tu, conduz à vida plena e verdadeira.

CONTEMPLAÇÃO Passa o Senhor… Em que sentido passa Jesus? Jesus realiza ações temporais. Em que sentido passa Jesus? Jesus realiza ações transitórias. Considerai com muita atenção quantas ações suas têm passado. Nasceu da Virgem Maria, mas acaso nasce continuamente? Foi amamentado quando era criança, mas acaso está sendo amamentado continuamente? Foi passando pelas distintas idades até a juventude, mas acaso continua crescendo fisicamente? Também os mesmos milagres por ele realizados passaram: nós os lemos e neles cremos. Tais fatos foram escritos para que possam ser lidos e, em conseqüência, passavam uma vez realizados. Por último, e para não nos deter-nos em muitos outros fatos, foi crucificado, mas acaso continua pendurado na cruz? Foi sepultado, ressuscitou, ascendeu ao céu; agora já não morre mais… sua divindade é permanente e a imortalidade de seu corpo já não terá fim. Entretanto, e apesar disso, todas as ações que levou a cabo Jesus no tempo passaram, mas foram escritas para ser lidas e são anunciadas para ser cridas.            Por conseguinte, Jesus passou através de todas essas ações… Jesus passa também agora… Explicar-me-ei: quando se lêem os fatos que levou a cabo o Senhor enquanto passava, sempre se nos apresenta a Jesus que passa… Compreendeis, irmãos, o que digo? Não sei, efetivamente, como expressar-me, mas, todavia, sei menos como calar. Pois bem, isto é o que digo, e o digo de maneira aberta. Porque temo não só ao Jesus que passa, mas também ao Jesus que permanece, por isso não posso calar (Santo Agostinho).

AÇÃO Repita com freqüência e viva hoje a Palavra:

«Senhor, o rei se alegra por tua força» (da liturgia)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Jesus «passa» no caráter opaco e ao mesmo tempo transparente. Passa na superposição das inspirações que iluminam o coração. Passa: na pobreza e no desespero. «Passa»: pela brecha do egoísmo. Passa: pelas coisas que se prometem e não se cumprem. Passa: na segurança do bem-estar e na fátua satisfação do chamado «novo rico». Passa e volta: como a lançadeira de um tear. Como o amante que não se resigna à renuncia de seu próprio amor. Passa quando menos esperas: assim atravessa o Senhor tua vida. Passa e se vai; passa e fica, ao mesmo tempo. De todos os modos, deixa marcas visíveis e sensíveis de sua passagem: a atração de um convite persistente, o clamor de uma Palavra que não é possível calar, o tormento de um desejo que renasce, a alegria de um compromisso que esgota as forças do homem… Jesus passa. É um dos muitos transeuntes com os quais nos cruzamos na rua. São incontáveis os que nos «passam» à direita e à esquerda, os que saltam, obstruem, cortam a rua, nos observam com uma perfeita indiferença. Muitos não se dão conta de nada. Passam e não vêem. Jesus passa e «vê»… Se dá conta de nós. De mim. Vê: no coração. Através dos desejos e aspirações profundas. Vê: não tanto os traços de nossa fisionomia e atitudes de nosso comportamento. Vê: a dimensão interior do homem: pensamentos, desejos, afetos, intenções, disponibilidade, propósitos. A pureza do coração vê e faz ver. Vê: a verdade inteira que há no homem. Vê a mim… Jesus necessita encontrar em nós o homem. Ao homem é que dirige sua Palavra (E.Berra, lo ho scelto).

 

 

 

 

 

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