LECTIO DIVINA NA 21ª SEMANA COMUM ANO A 2020

COMUNIDADE CATÓLICA PAZ E BEM – LECTIO DIVINA SEMANAL

21 SEMANA DO TEMPO COMUM ANO 2020

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SEGUNDA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2020 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

João 1,45-51 (Os primeiros discípulos) – O elogio de Natanael formulado por Jesus é claro e sem equívoco: “Este é um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade” (v.47). Do contexto imediato brota o significado mais amplo e mais profundo que possui esta afirmação de Jesus. Em Natanael não se exclui só a falsidade, mas se afirma, sobretudo, o amor à verdade. Deste modo, Jesus nos oferece, também, uma pista para compreender o fundo da alma deste apóstolo. Natanael se revela, antes de tudo, como um homem que busca: manifestar-se-á, também, assim, por ocasião da primeira aparição do Senhor ressuscitado. Da busca passa ao ato de fé. Sua inteligência se abre ao mistério que se desvela; seu ânimo se abre ao desabrochar de um bem maior, um bem que há tempo está buscando. Natanael se converte, assim, em imagem de todo verdadeiro crente que, à luz da Palavra, aguça sua capacidade interior e, por meio da fé, reconhece em Jesus seu único Salvador.

 

 

Ap 21,9b14 (A Jerusalém messiânica) – O livro do Apocalipse define a igreja como a cidade santa, como dom de Deus: nela se recolhem as doze tribos de Israel, isto é, o novo Israel de Deus. As muralhas desta cidade se apoiam sobre o alicerce dos doze apóstolos. Segundo o mesmo João, a Igreja pode ser chamada também “a noiva, a esposa do Cordeiro”, para indicar o vinculo de amor único e irrepetível que une Deus com a humanidade, Cristo com a igreja. O apóstolo, todo apóstolo, participa assim, deste amor e se converte em testemunho dele com seu ministério apostólico, porém, sobretudo, com a entrega de seu sangue. Essa é a razão de que ao final da leitura, se chame expressamente os Doze “apóstolos do Cordeiro”: se a Igreja é apostólica, o é não só pelo ministério confiado por Jesus aos doze, mas também e, sobretudo, pela participação dos Doze no mistério pascal de Jesus.

 

Salmo 144/145 (Louvor ao Rei Iahweh) – Quando se deseja rezar, já se está rezando. Por isso, o apóstolo Paulo, nos recorda sabiamente que quer você coma, beba, durma ou faça qualquer outra coisa, que tudo seja feito para honra e glória de Deus. Segundo São João da Cruz: “o amado sempre pensa na amada e a amada no amado”.

 

Deus quer que a nossa oração seja sincera, forte e corajosa, mesmo nas dificuldades. O orante do nosso Salmo sente-se sofrido, abandonado, mas também sente um grande desejo de louvar e bendizer a Deus por muitos motivos que surgem em seu coração. Rezar não significa sair da realidade, abandonar as nossas atividades e ficar o dia todo rezando ave-maria e pai-nosso. Há, sim, momentos de profunda oração, mas na maior parte do tempo devemos assumir atitudes orantes, isto é, fazer tudo com reta intenção e com amor profundo. Não esqueça, porém, de encontrar diariamente, como verdadeiro apaixonado e amante de Deus, momentos de silêncio e solidão para estar a “sós com o Só”, que é o Senhor.

 

Senhor, quero te rezar e louvar por tudo o que acontece na minha vida. Tu és força e refúgio. Quero a cada momento me lembrar de ti, da tua presença e do teu profundo amor. Que do meu coração subam louvores e ações de graça a todo o momento. Que a minha oração seja como o perfume agradável do incenso que sobe até a ti, que sejam rápidas orações, jaculatórias, pensamentos, flechadas de amor que lanço para o céu. Que todo o meu respiro seja louvor a ti. Que nada te ofenda em mim e nos outros. Temos contemplado a bondade de Deus em Jesus, nosso Senhor, que também viveu sempre em comunhão com o Pai. “E agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha, antes de ti, antes que o mundo existisse. Manifestei o teu amor aos homens que, do mundo, me deste. Eles eram teus e tu os deste a mim; e eles guardaram a tua palavra. Agora, eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles a acolheram; e reconheceram verdadeiramente que eu saí de junto de ti e creram que tu me enviaste” (Jo 17,5-8).

 

 

MEDITAÇÃO: Também Natanael chega até Jesus, não sem certa fadiga, como outros apóstolos antes dele. Em seu caso, deve superar, em primeiro lugar, a desvantagem de seu excessivo conhecimento do Antigo Testamento. É justamente verdade, como lemos em Eclesiastes, que o saber excessivo gera dor. Só quando alcança a simplicidade e a transparência do encontro pessoal, Natanael poderá reconhecer, em Jesus, o Filho de Deus. Em segundo lugar, Natanael deve superar, do mesmo modo, uma espécie de desconforto que provocou, nele, o seu primeiro encontro com Jesus, que demonstra conhece-lo muito bem. Mas Natanael tem necessidade de levar um diálogo com aquele que o surpreende e, ao mesmo tempo, o atrai. Só o diálogo pessoal é via segura para o conhecimento recíproco, o conhecimento que leva à experiência e entrega, de nós mesmos, no amor. Agora, eu diria que Natanael deve superar também a mediação do amigo Filipe, com respeito ao qual, de primeira, mostra certa descrença. Só quando toma a decisão de ir ao encontro do Nazareno, reconhecerá quem é Jesus verdadeiramente. A amizade pode ser, seguramente, uma grande ajuda para o descobrimento da verdade, mas, quando a verdade é Alguém, só o encontro pessoal pode satisfazer a busca.

 

ORAÇÃO: Senhor Jesus, Tu nascestes em Belém, “a menor das cidades da Judeia”. Aplaina, à minha frente, o caminho que conduz a Ti, pequeno entre os pequenos, verdadeiro homem entre os homens, Filho de Maria e de José. Senhor Jesus, cresceste em Nazaré, um povo do qual ninguém esperava nada bom. Ensina-me também, como revelastes aos teus discípulos, o segredo da espiritualidade de Nazaré, povo onde tu viveste durantes trinta anos, segredo onde se desprende a mensagem do silêncio, do amor, do trabalho. Senhor Jesus, Tu quisestes eleger Jerusalém como cidade de teu martírio e de tua páscoa: dai-me a coragem de subir contigo, e atrás de Ti, até a cidade santa, onde deve morrer os verdadeiros profetas, cidade amada por todos teus discípulos. Senhor Jesus, Tu percorrestes os caminhos da Palestina, país pequeno e insignificante aos olhos dos grandes, porém, eleito, amado e privilegiado por Ti. Ensina-me a valorizar as coisas segundo teus critérios, e teus projetos.

 

CONTEMPLAÇÃO: Vede como, segundo os preceitos do Evangelho, deveis comportar-vos com os apóstolos e profetas. Recebei em nome do Senhor os apóstolos que os visitarem, enquanto permanecerem um dia ou dois entre vós: o que ficar durante três dias, é um falso profeta. Ao sair o apostolo, deveis prover-lhe de pão para que possa ir à cidade onde se dirija: se pede dinheiro, é um falso profeta. Ao profeta que falares pelo espírito, não lhe julgareis, nem examinareis (…), porque Deus é seu juiz: o mesmo fizeram os antigos profetas. Velai por vossa vida; […] os que perseverem na fé serão salvos desta maldição. Então aparecerão os sinais da verdade. Primeiramente será despregado o sinal no Céu, depois a da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos segundo se disse: “O Senhor virá com todos seus santos”. Então o mundo verá o Senhor vindo nas nuvens do céu! (Didaché).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1,49)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – O cristão crê graças à Palavra de Deus, que o homem é imortal, que toda a humanidade está destinada à eterni­dade. O cristão crê na ressurreição de todos os mortos da humanidade, de todos os corpos. Crê na humanidade imortal. Porém crê em virtude da Palavra de Deus, não de uma espécie de predestinação mágica… e grotesca. Crê na prolongação dos mistérios da vida além da morte, na consumação da vida mediante a morte; crê que a própria morte tem uma razão de ser; crê que a morte segue sendo atroz, porém não que seja absurda. Como todo homem razoável, o cristão vê sua própria vida, desde o nascimento à morte, como um dever contínuo acompanhado de uma destruição continua. Sem dúvida, o cris­tão crê que neste, e pôr este dever, se consuma a germi­nação, o desenvolver do homem imortal que há, nele, que vai se fazendo, nele, a cada dia, e que permanecerá tal como haja chegado a ser, na eternidade, para a eternidade. Este homem imortal se faz em cada um através de suas opções. Aquilo pelo qual opta é o que fixa ao homem imor­tal em seu pleno vigor ou no pior da miséria humana. Na hora de sua morte, o homem se converterá em alguém que viverá com Deus para sempre ou em alguém que existirá distante de Deus para sempre (Madeleine Delbrêl).

 

 

TERÇA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2020 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 23,23-26 (Maldições contra os escribas e fariseus) – Continua a série dos «ais» do Evangelho de Mateus iniciado a meditar ontem. O discurso de Jesus entra hoje no específico de algumas prescrições particulares das quais só se encontra uma remota pegada no Antigo Testamento (cf. Nm 18,12; Dt 14,22; Lv 27,30), mas que conheciam muito bem os fariseus de estrita observância. O dízimo sobre as ervas era uma interpretação da Lei que indica um zelo mais que refinado, assim como a cuidadosa limpeza da vasilha para a comida comum era uma característica representativa da atenção profusa dedicada ao desenvolvimento das práticas mais cotidianas, com o espírito da pureza ritual prevista pela antiga aliança. Mas, o coração da Torá se encontra em outra parte: na regra de ouro ou no mandamento do amor a Deus e ao próximo (cf. Mt 7,12; 22,40), ou melhor no tríptico «justiça, misericórdia, fé» do v.23. Cada uma destas formulações não é mais que a possível expressão de um único e mesmo significado, que o autêntico conhecedor da Lei não podia ignorar. O que, entre os «mestres da Lei», ignora estas coisas não pode ser mais que de má fé, pois não anda em busca da verdade, mas de sua própria vanglória. Portanto, é um hipócrita e seu coração é como um cálice carregado de avidez e desejos egoístas («rapina e ambição»).

 

 

1 Ts 2,1-8 (Atitude Paulo durante sua estada em Tessalônica) – A primeira leitura, para os destinatários de Paulo, é uma autêntica lição sobre como transmitir o Evangelho. No tempo da primeira comunidade cristã eram muitos os que se apresentavam «em nome da verdade» para anunciar que o fim estava perto e propor um caminho de salvação: retóricos, filósofos ambulantes, falsos profetas, mestres de toda classe. O primeiro que deseja Paulo é demonstrar sua própria diferença radical com respeito a eles: seu comportamento não tem nada a ver com o de quem, em nome de uma reconhecida autoridade, adianta pretensões de todo tipo. Paulo inicia falando de seus interlocutores como de pessoas que o foram confiadas. Cuida delas como uma mãe (v.7) que sabe ser amorosa sem ter necessidade de pronunciar palavras de falsa adulação (v.5), sabendo a ciência certa que tudo o que diz e faz não está guiado por nenhum outro interesse que o bem de seus filhos, de seu crescimento em Cristo. A autoridade que Paulo faz valer aqui não é a autoridade de um simples ministério, ainda que fosse o mais nobre entre todos (cf. 1 Cor 12,28), mas a pretensão do amor. O apóstolo -parece dizer Paulo- é alguém que tem por modelo a Cristo crucificado, daí que não possa fazer outra coisa que dar-se a si mesmo com igualdade absoluta, sem ter nada para si. Qual é então esta pretensão? O amor pede ser reconhecido, mas não para «agradar aos homens» (v.4), e ser restituído, ainda que não a si mesmo. A diferença substancial consiste, de fato, em que o «remetente» não é o evangelizador: é um simples testemunho. A origem última de todo dom é Jesus, que morreu e ressuscitou por nós.

 

Sl 138/139 (Homenagem ao Deus onisciente) – Agradecer a Deus e louvar são dois verbos que soam suaves aos ouvidos de Deus. Eles expressam e manifestam o que há no interior do ser humano, que é constantemente enriquecido pela força do Senhor e salvo de tantos perigos por sua mão bondosa.

 

O salmista não agradece somente por sua vida, mas por todo o seu povo. O coração de quem reza e realmente conhece a Deus não é egocêntrico, mas pensa no bem comum. Os seus olhos são purificados: se vê o mal, é para amaldiçoa-los; se vê os maldosos, é para interceder a fim de que se convertam e renunciem aos ídolos e falsos deuses.

 

Devemos lutar diariamente para que não sejamos contaminados pelo mal que está ao nosso redor. Peçamos a Deus a mesma proteção do salmista, que se sente seguro quando também atravessa grandes perigos. Com o Senhor nenhum mal poderá nos atingir.

 

Senhor, sei que tudo fazes para mim, basta eu crer no teu amor e na tua fidelidade. Por que às vezes sou tão “cabeça dura”, orgulhoso, e acredito que a salvação vem do poder, do dinheiro dos fortes, dos amigos importantes? Por que me esqueço da tua fidelidade e misericórdia?

 

Senhor, não permitas que me afaste de Ti, mesmo que caminhe nos perigos, que seja circundado por idólatras; que eu nunca Te abandone. E se, por ventura, Te abandonar, coloca no meu caminho profetas corajosos que me encorajem e me façam voltar ao reto caminho. Que grave no meu coração as tuas palavras: “o Senhor fará tudo por mim” e que nunca me esqueça de Ti, da tua providência. Se cheguei até hoje, é porque o teu amor nunca me faltou, e sei que nunca me faltará. Amém.

 

 

MEDITATIO: Observar as menores prescrições da Lei pode ser mais simples que viver segundo o espírito do Evangelho. Por mais complexa que seja, a aplicação dos ditames do judaísmo farisaico responde a uma espécie de «geometria religiosa» que não exige a adesão incondicional do coração, a vigilância da consciência sobre cada palavra e ação realizadas em nome do Senhor. Isto é o que se exige ao por em prática o Evangelho: ser um testemunho, não um simples mestre. Ser testemunho implica acompanhar a mensagem proclamada com o exemplo de uma vida dada na entrega incondicional a Deus e ao próximo ou, melhor, a Deus através do próximo. «Ama e faz o que queiras», dizia santo Agostinho, dando a entender que o amor cristão – o autêntico – está de per si longe de todo caminho de mentira: é fazer-se pequeno com os pequenos, simples com ignorantes, compreensível e disponível para todos. Tudo contrário ao que fazem os que «fecham» o caminho ao Reino cortando a passagem com preceitos complicados e inúteis. O aviso da liturgia de hoje vai dirigido, sobretudo a esses poucos que carregam com a responsabilidade do caminho de muitos: a guias, pastores, catequistas, formadores, animadores, mestres e padres…, a fim de que não esqueçam que não há outro modo de anunciar o Evangelho que o inaugurado por Jesus. Percorrer de novo cada passo seu, seguindo a cruz, é garantia de um testemunho autêntico, o mais afastado possível de toda hipocrisia.

 

ORATIO: Senhor, para nós é fácil condenar a hipocrisia dos mestres da Lei e dos fariseus, e difícil ver se não estou caído nela. Indica-nos o caminho que nos mantém afastado de toda mentira. Com o apóstolo nos respondes: “… Sofrer. Padecer ultrajes. Anunciar o Evangelho em meio de muitas lutas… Sem nenhum tipo de engano, nem movidos por motivos pouco limpos, nem usando meios estranhos ao Evangelho. Não buscando agradar aos homens, mas a Deus. Sem recorrer à adulação, nem buscar recompensa alguma. Não por a glória humana, sem fazer pesar de nenhum modo a autoridade derivada de nosso ministério. Com o amor de uma mãe que se entrega a si mesma para alimentar e cuidar de seus filhos. Desejando acima de tudo dar a vida pelos próprios amigos.” Amém, assim seja.

 

CONTEMPLATIO: Eles [os escribas e fariseus] não reprovavam a si mesmo por ferir o mandamento de Deus, seguindo sua tradição e sua lei farisaica, por não cumprir o principal da Lei, ou seja, o amor a Deus. E como este é o primeiro e mais alto mandamento, e o segundo é o amor ao próximo, o Senhor ensinou que toda a Lei e os profetas dependem destes dois preceitos (Mt 22,37-40). Ele mesmo não nos deu outro preceito maior que este, mas o deu nova força, ao mandar seus discípulos que amassem de todo coração a Deus e ao próximo como a si mesmo. Em troca, se Ele houvesse vindo de outro Pai, jamais haveria tomado da Lei o primeiro e sumo mandamento, mas haveria pretendido apresentar outro maior que tivesse sua origem no Pai perfeito, que substituísse àquele que o Deus da Lei havia dado. Paulo acrescenta: «O amor é o cumprimento da Lei» (Rm 13,10). E disse que, uma vez acabado tudo o de mais ficará a fé, a esperança e a caridade, mas a maior destas e a caridade (1Cor 13,13). E nem o conhecimento, nem o amor a Deus valem nada, nem a compreensão dos mistérios, nem a fé nem a profecia, mas tudo é vazio e é inútil sem a caridade (1 Cor 13,2). A caridade constrói o homem perfeito. E o que ama a Deus é homem perfeito, tanto neste mundo como no futuro: pois jamais deixaremos de amar a Deus, mas, quanto mais o contemplemos, mais o amaremos (Santo Ireneu).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Falamos não como quem busca agradar aos homens, mas a Deus» (1 Ts 2,4)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Jesus disse: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Que como eu vos tenho amado, assim também vos ameis uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, em que vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34-35). E como nos ama Jesus? Ele disse: «Como meu Pai me amou, assim eu vos tenho amado» (Jo 15,9). O amor que Jesus nos tem é expressão perfeita do amor que Deus nos tem, porque Jesus e o Pai são um. “As palavras que vos digo – disse Jesus – não as digo por minha própria conta; o Pai, que está em mim, é o que realiza suas próprias obras. Crede em mim: eu estou no Pai e o Pai em mim” (Jo 14,10-11). Estas palavras podem parecer, a primeira vista, muito irreais e misteriosas, mas têm uma implicação direta e radical na maneira de viver nossas relações na realidade de cada dia. Jesus nos revela que Deus nos chama a sermos testemunhas vivas de seu amor. Fazemo-nos suas testemunhas seguindo a Jesus e amando-nos uns aos outros como Ele nos ama. Que quer dizer isto a respeito do matrimônio, a amizade e a comunidade? Quer dizer que a fonte do amor que sustenta estas relações não está, nos mesmos implicados, mas em Deus, que os chama a viver juntos. Amar-se mutuamente não significa aferrar-se uns aos outros para manter-se a salvo num mundo hostil, mas viver juntos de tal modo que todos nos reconheçam como pessoas que fazem visível ao mundo o amor de Deus. Não só toda paternidade e maternidade vem de Deus, mas também toda amizade, toda relação matrimonial e toda verdadeira intimidade e comunhão. Se vivemos como se as relações humanas fossem «obra do homem» e, portanto estivessem sujeitas às mudanças e vai e vens das regulações e costumes humanos, nada podemos esperar, mas a imensa fragmentação e alienação que caracteriza a nossa sociedade. Porém, quando afirmamos e reafirmamos constantemente que Deus é a fonte de todo amor, descobrimos o amor como um dom de Deus a seu povo (H. J. M. Nouwen, Aquí y ahora. Viviendo en el Espíritu).

 

 

QUARTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2020 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 23,27-32 (As maldições contra os escribas e fariseus)Os sepulcros dos quais fala o Evangelho de hoje eram na realidade os chamados «ossários», ou seja, os lugares onde se guardavam os restos mortais dos defuntos aproximadamente um ano depois de haverem sido enterrados; nessas «moradas» o homem havia perdido já por completo seus próprios traços: era só um amontado de ossos, sem forma. A imagem recorda de maneira poderosa a visão dos «ossos secos» do profeta Ezequiel (cf. Ez 37,1-14), com a diferença de que aqui os restos mortais estão ocultos à vista dentro dos sepulcros caiados. Do mesmo modo, o aspecto imponente dos monumentos levantados aos profetas tenta ocultar as injustiças e as abominações realizadas contra eles pelos antepassados. Sepulcros para esconder, monumentos para não recordar, para desviar a atenção de algo que, sem dúvida, pode ser ainda Palavra poderosa de Deus que chama à conversão, à palavra dos profetas.

 

1 Ts 2,9-13 (A atitude de Paulo durante a sua estada em Tessalônica) – Estas palavras do apóstolo Paulo manifestam claramente que a pregação do Evangelho entre os tessalonicenses se converteu agora em uma experiência comum de vida, em uma espécie de «livro aberto» capaz de falar aos crentes a linguagem de Deus. Paulo não tem necessidade de recorrer a argumentações refinadas, a demonstrações de tipo filosófico. Basta-lhe trazer à memória de seus irmãos em Cristo o que sofreu e trabalhou entre eles, seu ofício humilde (tecedor de tendas), porém digno, que o permitiu não ter necessidade do favor de ninguém, para estar livre de tudo e ao serviço do Evangelho. Do mesmo modo que os discípulos e as multidões haviam sido testemunhas dos «sinais» realizados por Jesus, assim também a própria vida do apóstolo se torna sinal que dá testemunho da missão que recebeu de Deus ante os homens de seu tempo. Como selo da autenticidade de tal missão, estão a gratidão e o louvor que brotam do coração de Paulo: ele contempla a obra do Senhor através de seu trabalho entre os homens, restituindo-os à dignidade de filhos de Deus. Esta é a recompensa para quem anuncia o Evangelho, a alegria das bodas de Caná, da água transformada em vinho, palavra de homem que o Espírito transforma, dentro dos corações, em Palavra que salva.

 

 

Salmo 138/139 (Homenagem ao Deus onisciente) – Agradecer a Deus e louvar são dois verbos que soam suaves aos ouvidos de Deus. Eles expressam e manifestam o que há no interior do ser humano, que é constantemente enriquecido pela força do Senhor e salvo de tantos perigos por sua mão bondosa.

 

O salmista não agradece somente por sua vida, mas por todo o seu povo. O coração de quem reza e realmente conhece a Deus não é egocêntrico, mas pensa no bem comum. Os seus olhos são purificados: se vê o mal, é para amaldiçoa-los; se vê os maldosos, é para interceder a fim de que se convertam e renunciem aos ídolos e falsos deuses.

 

Devemos lutar diariamente para que não sejamos contaminados pelo mal que está ao nosso redor. Peçamos a Deus a mesma proteção do salmista, que se sente seguro quando também atravessa grandes perigos. Com o Senhor nenhum mal poderá nos atingir.

 

Senhor, sei que tudo fazes para mim, basta eu crer no teu amor e na tua fidelidade. Por que às vezes sou tão “cabeça dura”, orgulhoso, e acredito que a salvação vem do poder, do dinheiro dos fortes, dos amigos importantes? Por que me esqueço da tua fidelidade e misericórdia?

 

Senhor, não permitas que me afaste de Ti, mesmo que caminhe nos perigos, que seja circundado por idólatras; que eu nunca Te abandone. E se, por ventura, Te abandonar, coloca no meu caminho profetas corajosos que me encorajem e me façam voltar ao reto caminho. Que grave no meu coração as tuas palavras: “o Senhor fará tudo por mim” e que nunca me esqueça de Ti, da tua providência. Se cheguei até hoje, é porque o teu amor nunca me faltou, e sei que nunca me faltará. Amém.

 

 

MEDITATIO: A Palavra de Deus vem a nós de modo débil na palavra de homem, um humilde tecedor de tendas, um profeta incompreendido, objeto de zombarias e perseguido por seus próprios irmãos, pelo seu povo. Uma palavra que interpela, mas que deixa livre para acolher a manifestação de Deus para nós. Quando alguém acolhe a palavra do profeta, esta age como o que verdadeiramente é: Palavra de Deus, capaz de fazer voltar à vida, de transformar os ossos secos em carne viva, de voltar a dar forma e dignidade ali onde o homem perdeu o sentido e a direção de sua própria existência. Assim é a palavra de Paulo para os cristãos de Tessalônica, e sua vida é testemunho de uma existência levada segundo o Evangelho. O fragmento de Mateus apresenta, em troca, a condição dos que se negam a deixar-se interrogar pela Palavra. Estes são como aqueles sepulcros: estão cerrados, perfeitamente selados e «em seu lugar», e até podem suscitar admiração com seu aspecto imponente. Deste modo, não exala a podridão, porém a um preço: de não deixar entrar a vida neles, para transformar, para mudar. São sepulcros e nada mais, «ossários» sem futuro, sem esperança.

 

ORATIO: Quantas vezes, Senhor, nos sentimos «em nosso lugar», nos entrincheiramos atrás de nossa fortaleza, encerramos nossas pobrezas, nossos sofrimentos e nossas desilusões numa fortaleza construída a base de êxitos, de autossuficiência, enquanto que se vão apagando em nós, aos poucos, a alegria de viver, a confiança no sentido das coisas que se passam conosco… Então te suplicamos: livra-nos, Senhor, da autossuficiência. Só se nos declaramos pobres, só se temos o valor de descobrir nossos ossos secos, só se deixamos de nos isolar dentro de nossos sepulcros poderemos reconhecer e acolher os mensageiros de tua Palavra, àqueles que vêm a nós sem suscitar clamor, às vezes desfigurados pela fadiga e pelo sofrimento, levando consigo a alegria e a paz de teu Evangelho. Que venham estes mensageiros soprar em nós teu Espírito, para que à luz de tua Palavra encontremos em nós mesmos a paixão pela vida, a coragem de esperar, a certeza de que tudo está em tuas mãos. Nós mesmos seremos transformados então em mensageiros e em testemunhas da plenitude de vida que tu dás à humanidade que está em expectativa.

 

CONTEMPLATIO: Em nossos dias, há muitos que se parecem àqueles [os escribas e os fariseus hipócritas], bem adornados por fora, porém por dentro cheios de iniquidade. Em verdade também agora há quem se atarefe e põe grande empenho em limpar e embelezar o exterior, enquanto que se esquece de purificar sua alma. Se fosse possível abrir a consciência de cada um, quantos vermes, quanta podridão e que inimaginável fedor encontraríamos ali dentro. Desejos desonestos e perversos, mais sujos que os próprios vermes (Juan Crisóstomo).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Não endureçais o coração» (cf. Sl 94,9)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Há lugares em que és completamente impotente. Só queres curar a ti mesmo, combater tuas tentações e seguir sendo dono de ti. Mas não podes fazê-lo só. Cada vez que tentas te sentes mais desanimado. Te vês obrigado a reconhecer tua impotência. A disponibilidade para abandonar o desejo de dominar tua vida revela uma certa confiança. Quanto mais abandones tua obstinada necessidade de conservar o poder, mais entrarás em contato com Aquele que tem o poder de curar-te e de guiar-te. E quanto mais entres em contato com esse poder divino, mais fácil te resultará confessar aos outros e a ti mesmo tua fundamental impotência. Pensa em ti mesmo como se fosses uma pequena semente plantada em um solo fértil. Todo o que tens que fazer é permanecer ali e confiar que o terreno contenha tudo que necessitas para crescer. Este crescimento se produz também quando não o notas. Fica tranquilo, reconhece tua impotência e tem fé que um dia te darás conta de tudo o que hás recebido (H. J. M. Nouwen, La voz interior del amor).

 

QUINTA-FEIRA, 27 DE AGOSTO DE 2015 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 24,42-51 (Vigiar para não ser surpreendido; Parábola mordomo) – O tema da parábola contida no c.24 de Mateus é o da vigilância, tema particularmen­te familiar ao primeiro evangelho, posto que a comu­nidade de Mateus adverte com preocupação a questão do atraso da parusia. Como ocorre com os cristãos de Paulo, a expectativa de uma vinda iminente de Cristo glorioso está em contradição pelo discorrer do tempo, marcado pelos acontecimentos dolorosos aos quais, à Igreja ainda tem que fazer frente. Daí que a comunidade pós-pascal elabore uma série de mo­tivos e tópicos (dos quais as parábolas dos capítulos 24 e 25 de Mateus constituem um exemplo) úteis para comunicar o sentido do tempo que discorre entre a ressurreição e a vinda do Cristo glorioso. A parábola se dirige em particular ao que tem sido nomeado substituto por seu amo durante o tempo em que esteja ausente. É um tempo de prova na relação entre o criado e seu Senhor. A parábola apresenta em mo­mentos sucessivos os dois desenlaces opostos, ambos possíveis e separados por um limite sutilíssimo. O criado fiel é qualificado também de «sensato» (v.45); em suma, não parece impulsionado por motivos morais particulares e não se fia de proceder como se o amo não estivesse, mas que obra como se este tivesse que voltar de um momento a outro. Sem dúvida, é superficial o comportamento de quem pensa que poderá contar com um tempo a sua própria disposição, no qual poderá dispor dos bens para seu próprio proveito. O momento no qual deverá prestar contas virá, antes ou depois, para cada um (v.50), e então terá lugar a recompensa ou o castigo, sem términos meios e sem possibilidade de apelação: bem-a­venturança para uns, que serão admitidos para o papel de administradores de todos os bens (v.47), e deses­pero para os outros, a quem o amo lhes tirará para sempre tudo o que criam possuir (v.51).

 

 

1 Ts 3,7-13 (Ação de graças pelas noticias recebidas) – Por fim, ao regresso de Tito da «visita pastoral» aos cristãos de Tessalônica, Paulo consegue ter a confirmação do progresso realizado por estes no caminho da fé. Só então as nuvens que obscureciam seu ânimo com pressentimentos angustiosos dão lugar ao conso­lo, o mesmo que pode experimentar o coração de um pai ao saber que seus filhos estão bem. Há, contudo, um desejo no coração de Paulo que espera ainda escutar: não estará em paz até que tenha podido ver de novo em pessoa à comunidade, retomando o fio do diálogo que certas circuns­tâncias dolorosas interromperam (provavelmente foi à causa da hostilidade dos judeus) ao obrigar aos mi­ssionários a deixar a cidade. O amor que o anúncio do Evangelho há suscitado no coração do apóstolo é como uma espada que o traspassa dia e noite: sua mente, seus sen­timentos, sua memória, estão habitados por uma inquietude irreprimível pelo bem daqueles a quem a Palavra gerou em um tempo à vida da graça. Agora põe tudo nas mãos de Deus, dando-lhe graças e interce­dendo entre lágrimas, posto que é o Senhor de tudo. Dado que tal amor não procede do homem, mas é a presença mesma do Senhor na terra, a medida de sua santidade entre os homens, Paulo convida aos cris­tãos de Tessalônica a que se convertam em imitadores seus, como ele é de Cristo: em sua caridade todos serão transformados a sua imagem, de dia em dia, até que venha o Senhor.

 

Salmo 89/90 (Fragilidade do homem) Com uma meditação cheia de realismo, o salmista olha ao seu redor e percebe que muitos amigos já partiram; diante desta constatação, realiza uma súplica, motivado pela brevidade da vida. O medo da morte penetra em nossos corações quando percebemos que, com o passar dos anos, tornamo-nos mais fracos e sem forças. Que fazer diante dessa dura realidade? O desespero apenas nos bloqueia e nos faz perder a esperança e a vida. Acreditar que não morreremos seria um otimismo vazio e inútil, é necessário encarar a realidade e perceber que diante de Deus não há tempo; mil anos são como um dia e um dia como mil anos. O que vale é viver a vida que nos foi dada com amor e generosidade, sendo em tudo atentos aos apelos do Senhor.

 

Deus eterno não nos abandona nem por um minuto e sacia a cada manhã o nosso coração com seu amor. Por isso, mesmo diante da brevidade da vida, nos resta agradecer ao Senhor e cantar suas maravilhas e seu amor. Assim como esse salmo, que é um cântico de louvor e de ação de graças embora seja por breve tempo nesta terra.

 

Senhor, quando penso na morte como fim de tudo, o meu coração se entristece e perco o ânimo. Sinto-me como uma frágil folha levada pelo vento ou uma flor que de manhã é bonita, mas à noite está seca, murcha e é jogada fora. Mas quando penso na morte como porta que se abre para me introduzir na verdadeira vida, os meus sentimentos se transformam e sinto-me uma criatura nova no amor e na generosidade. Senhor, não deixe que o meu coração se abata, mas que seja sempre um coração cheio de esperança e de vida. Em cada momento da vida quero expressar a minha alegria, louvando-te e bendizendo-te, porque tu és o Deus da vida e do amor. Senhor, deixe que hoje e sempre te agradeça, porque um dia me criaste para conhecer-te, amar-te e servir-te aqui na terra e louvar-te depois para sempre no Céu. Muito obrigado, Senhor, pelo dom da vida. Quer eu viva noventa ou cem anos, quer eu viva 24 anos, como Santa Teresa do Menino Jesus, nada muda, o que importa é o amor com que vivo. Amém.

 

 

MEDITATIO: Desde o dia em que Paulo se pôs ao ser­viço do Evangelho, sua vida se converteu em puro dom para aqueles que lhe haviam sido confiados: ele lhes perte­nce e eles pertencem a ele. Este é o «amor de uns para outros e para todos», no qual também estão convidados a entrar os tessalonicenses. Não há nenhuma outra via para a salvação, não há nenhum outro caminho para levar a sua consumação o caminho empreendido após as pegadas de Jesus Cristo: só deixando-nos transformar pelo ágape poderemos estar seguros um dia de que o Senhor, a sua vinda entre os santos, nos reconhecerá como seus. A parábola de Mateus tem seu paralelo lucano no tema do administrador infiel (Lc 12,42ss). Precisamen­te, esta comparação nos permite pôr de manifesto o vocabulário próprio de Mateus, que fala simplesmen­te de «servo fiel/infiel», sublinhando assim que todos os protagonistas da história dependem de um único amo, que está acima de todos, tenham ou não responsabili­dades particulares. Se a tarefa de cada dûlos (“criado») não pode ser mais que a de servir e esperar a que volte o proprietário dos bens que lhe foram confiados – e confiados só de uma maneira temporal -, o Senhor tem, ao contrário, a faculdade e o direito de voltar aos seus, a sua casa, em qualquer momento. Por isso é preciso que nós, os criados, estejamos «sempre preparados».

 

ORATIO: Obrigado, Senhor, por ter nos chamado ao teu serviço. Entregaste-nos os bens desta terra e o cuidado de nossos irmãos menores; confiaste em nós. Este tempo é para nós um tempo de prova: administrar em teu lugar não é tarefa fácil. Que pedes de nós, Pai? Pede-nos que olhemos para teu Filho Jesus, para sua misericór­dia e seu sacrifício, recordando suas palavras: “O servo não é mais que seu Senhor… Vos tenho dado exemplo para que, como tenho feito, façais também vós” (Jo 13,15ss), e viver nesta solicitude fraterna o tempo presente como algo que não nos pertence, até tua volta a casa.

 

CONTEMPLATIO: Passarão as coisas visíveis e virão as que espera­mos, mais belas que as atuais. Sem dúvida, que ninguém indague com curiosidade o momento: «Não corresponde a vós», disse o Senhor, «saber os tempos e os momentos que o Pai estabeleceu por sua própria auto­ridade» (At 1,7). E não há que ter o atrevimento de dormir com indolente negligência. Disse ainda, de fato: «Vigiai, porque o Filho do homem vem em uma hora em que não esperais» (Mt 24,42.44). Agora bem, dado que convinha que conhecessem os sinais do fim, e a fim de que esperassem o Cristo, movidos por um impulso divino, os apóstolos vão ao Mestre de uma maneira providencial e lhe pergun­tam: «Diz-nos quando ocorrerá isto e qual será o sinal de tua vinda e do fim deste mundo» (Mt 24,3). Esperamos de novo que venhas. Assegura-nos, portanto, a fim de que não adoremos a alguém em teu lugar, dizem. Abrindo sua divina e bem-aventurada boca, lhes respondeu: «Cuidai de que ninguém vos engane» (Mt 24,4). Não se trata, portanto, de uma história de acontecimentos passados, mas que é uma profecia dos futuros, que certamente acontecerão. Nós não profetizamos, porque não somos dignos disso, porém apresentamos as profecias escritas e indicamos os sinais que as indicam. Olha tu quais são as que já se hão cumprido e quais restam ainda por cumprir-se. E man­têm-te em guarda (Cirilo de Jerusalém).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Ensina-nos, Senhor, a contar nossos dias» (Sl 89,12).

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Nossa vida é uma breve oportunidade de dizer «sim» ao amor de Deus. A morte é a definitiva ida a casa, a esse amor. De­sejamos realmente ir a casa? Parece como se, a maior parte de nossos esforços, estivessem encaminhados a adiar tanto quanto possível esta ida a casa. Escrevendo aos cristãos de Filipos, o apóstolo Paulo mos­tra uma atitude radicalmente diferente. Disse: «Desejaria ter partido e estar já com Cristo; este é, há muito, meu maior desejo; não obstante, por vós, o que mais urge é seguir vivo, neste corpo». O desejo mais profundo de Paulo é estar completamente unido a Deus pôr meio de Cristo, e este desejo lhe faz olhar a morte como uma «vontade». Seu outro desejo, sem dúvida, é seguir vivo em seu corpo e levar adiante sua mi­ssão. Isto lhe oferece uma oportunidade para fazer um trabalho fru­tífero (H. J. M. Nouwen, Aquí y ahora. Vivendo en el Espíritu).

 

SEXTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2020 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 25,1-13 (Parábola das dez virgens) – Também esta parábola gira em torno ao tema da vigilância, como confirma o convite final: «Assim, pois, vigiai, pois não sabeis nem o dia nem a hora» (v.13). Sem dúvida, esta passagem, em seu procedimento narrativo, contém certas particularidades que a fazem única. Em primeiro lugar, o cenário nupcial: a festa por ex­celência, no Antigo Oriente, é a que se celebra com ocasião das bodas. Nela tudo deve concorrer a co­municar a linguagem da alegria e da vida. O ban­quete, as luzes, os trajes, a música, as danças e, não em último lugar, o cortejo nupcial que acompanha ao esposo ao longo do caminho: tudo está a serviço dos esposos, tudo se faz em sua honra. Sabe­mos pelo Evangelho que a falta de vinho (cf. o episódio das bodas de Caná: Jo 2,1ss) podia representar um grave motivo de vergonha e de vitupério para a família recém constituída, pois era como dizer que não estava em condições de ocupar o posto que se lhe havia designado na comunidade. Não era anormal que o esposo atrasasse bastante; tal como ocorrem às coisas no Oriente, não é possível prever com certeza nestas ocasiões um tempo para sua chegada, e por isso era justificável o adormecimento depois de horas e horas de espera no caminho. Porém a luz das lâmpadas devia permanecer acesa para sair ao encontro do esposo no momento em que se anunciasse sua presença. Só as jovens sensatas estarão preparadas no momento oportuno, enquanto que as outras, ao ver enfraquecer a luz de suas lâmpadas, não po­derão fazer outra coisa que ir em busca de azeite, em um úl­timo intento desesperado… ainda que inútil. Chega o esposo, se forma o cortejo, entra no ban­quete, se fecha a porta. O pranto das excluídas ob­tém como resposta um, «vos asseguro que não vos conheço» (v.12), expressão que sublinha a distância, a interrupção das relações, a não comunhão entre elas e o esposo.

 

 

1 Ts 4,1-8 (Recomendações: santidade de vida e amor)Depois de ter recordado o passado, agradecendo a Deus tudo o que operou para o bem da comuni­dade, Paulo olha agora para o futuro. Para isso recorre, sobretudo, a linguagem da exortação. A «santificação» (haghiasmós) da qual se fala neste fragmento da carta, consiste precisamente no processo que tem como resultado final a haghiosyne, ou seja, a «santificação» autêntica. Encontramo-nos na definição de uma atividade que ainda está em pleno desenvolvimento, na qual concorrem, por um lado, o com­promisso e a livre adesão do crente e, por outro, a obra do Espírito Santo, que intervém, configurando a criatura a imagem de Deus. Tudo isto tem lugar no «corpo» do homem, está inscrito em sua carne e fala à linguagem que lhe corresponde desde a criação. O santo, portanto, não é alguém que viva fo­ra da realidade terrena, em uma dimensão imaterial. É mais alguém que toma sobre si, dia a dia, a vontade de Deus, fazendo que toda sua vida se adira a ela. O tema se refere a tudo o que tem que ver com as paixões carnais no âmbito sexual; se trata, portanto, de algo muito concreto no qual o cristão está chamado a praticar uma opção que vá a contracorrente, segundo a mentalidade do tempo, e a custodiar seu corpo como um dom recebido de Deus, preparando-o já, desde agora, para receber, em plenitude, o Espírito Santo na vida eterna.

 

Sl 96/97 (Iahweh triunfante) – O salmista nos fala do Deus que é forte, corajoso e poderoso, e põe à prova todos os homens que dele se afastam por medo ou para buscar outros ídolos. O Deus vivo e verdadeiro é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó que, perpassando pela História, chega até Jesus e os apóstolos. É este mesmo Deus que nos convida ao amor e nos impele a oferecer-lhe um culto de adoração. Devemos adorá-lo porque é grande, forte como nenhum outro ídolo e é o verdadeiro Senhor.

 

Não restam dúvidas de que vivemos em um mundo idólatra. Muitos se refugiam nos falsos ídolos em busca da resolução de um problema ou carência. Devemos batalhar constantemente pelo fim da idolatria em nossas vidas, pois tudo isso é vão. Só há um caminho para a verdadeira alegria, que está no Nosso Senhor. Libertar-se dos ídolos é o grande esforço de toda pessoa que ama de verdade ao Deus vivo.

 

Senhor, não tenho medo nem vergonha de reconhecer que não raramente me sinto idólatra; amo os ídolos, procuro-os e deixo de lado a ti, verdadeiro Deus da vida e do amor. Perdoa-me, Senhor, por este meu pecado. Às vezes, pressionado pela dor, pela necessidade, consulto horóscopo, cartomante, videntes e assim me distraio e me afasto do Senhor. Quero voltar a ti com todo o meu amor e me doar totalmente. Não permitas que me refugie nos ídolos, sejas tu o meu único refúgio e amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: O que está em jogo em uma cerimônia nupcial é, em certo modo, o equilíbrio de toda uma sociedade, a so­ciedade tradicional, com sua divisão e respeito dos pa­peis designados desde sempre. Essa é a razão de que as jovens do cortejo nupcial que se esqueceram do azei­te de reserva para as lâmpadas sejam chamadas «néscias»: hão esquecido o que está em jogo, hão desprezado o sentido do estar juntos. Também aos cristãos lhes espreita fortemente o risco de perder de vista a meta, o fim do caminho: a busca afanosa do êxito, a posse de coisas, a satisfação das paixões, tudo o que atrai a “nossa car­ne» nos distrai e induz a um sono profundo na alma. Temos esquecido que a vida é expectativa, que deve­mos vigiar nossas lâmpadas, porque o que está em jogo é a salvação definitiva. Esquecê-lo significa des­prezar a Deus mesmo (cf 1 Ts 4,8). Com o espírito estamos chamados a determinar a meta: Jesus. Com a mente, a prever o necessário para a espera a  todas as virtudes cristãs. Com o corpo, a atualizar a vigilância no presente, através da re­núncia a gestos, palavras e imagens que nos façam esquecer quem somos, por onde estamos andando. A santidade consiste em viver o momento presente como se fosse o último, o instante em que chegará o esposo. É sair-lhe ao encontro em uma carreira que dura toda a vida.

 

ORATIO: Quando ouvir o grito: «Já está aí o esposo, saí ao seu encontro», queremos estar preparados, Senhor. Como jovens que esperam participar na festa de sua vida, a esperada e imaginada desde faz muito tempo, não queremos faltar à intimação. Hoje te prometemos, solenemente, que estaremos ali. Ali nos encontrarás, ao longo de teu caminho, e se­remos teu cortejo de honra… Agora bem, velar é fatigo­so, estar preparados no momento oportuno requer uma atenção constante, disciplina do corpo e da mente. Nossa debilidade é grande; tu conheces a fragilidade de nossa carne. Envia, pois, teu Espírito para que vele sobre nós e que não seja em vão nossa espera do dia glorioso de teu Filho.

 

CONTEMPLATIO: «Chamai e se vos abrirá», disse o Senhor justamente (M t 7,7c). O Senhor nos ordena que chamemos à por­ta da vida e aos batentes do Reino dos Céus. Pois se, ao pedir o que é santo, o recebemos e, buscando o que é celestial, o encontramos, facilmente – se nos precedem os méritos da fé – também quando chamemos se abrirá a porta do Reino dos Céus. Não se abre a todos, mas só àqueles que estão recomendados por justos méritos e por uma vida ador­nada por uma conduta íntegra. Não por casualidade temos lido que as bem conhecidas virgens néscias e negligentes chamaram também para entrar. Disseram: «Senhor, Senhor, abre-nos» (Mt 25,11). Porém este lhes respondeu: «Afastai-vos de mim. Vos asseguro que não vos conheço» (Mt 25,12). Assim, pois, a fim de que o Senhor, quando chamemos à porta, se digne abrir-nos, te­mos de abrir-lhe antes nós mesmos nosso coração a Ele, que nos chama. O próprio Senhor disse assim no Apocalipse: “Olha que estou chamando à porta. Se alguém ouve minha voz e abre a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo» (Ap 3,20). Portanto, se abrimos com fidelidade nossos corações ao Senhor que chama, não cabe dúvida de que também Ele, quando sejamos nós quem chamemos, se dignará abrir-nos os ba­tentes do Reino dos Céus (Cromacio de Aquileya).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Assim, pois, vigiai» (Mt 25,13)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Uma vez mais, se nos apresenta a meta de olhar nossa vida desde o alto. Quando Jesus veio oferecer plena co­munhão com Deus, fazendo-nos partícipes de sua morte e ressurreição, que mais podemos desejar, senão deixar nossos corpos mortais para alcançar a meta final de nossa existência? A única razão que pode haver para permanecer neste vale de lágrimas é continuar a missão de Jesus, que nos há enviado ao mundo como seu Pai O enviou ao mundo. Olhada desde o alto, esta vida é uma missão curta e, com frequência, doloro­sa, cheia de ocasiões de trabalhar em favor do Reino de Deus, e a morte é a porta aberta que nos conduz à sala do banquete, onde o próprio rei nos servirá. Isto parece que é viver pondo tudo ao contrário. Mas é o caminho de Jesus o caminho que temos que seguir. Não há nada mórbido nisto. Ao contrário, é uma visão ale­gre da vida e da morte. Enquanto estivermos em nosso cor­po, ocupemo-nos do corpo, de maneira que possamos levar a paz e a alegria do Reino de Deus àqueles com quem nos encontramos ao longo da viagem. Porém quando chegue o momen­to de nossa morte, alegremo-nos de poder entrar em casa e unir-nos ao que nos chama «amados» (H.M. Nouwen).

 

 

SÁBADO, 29 DE AGOSTO DE 2020 – 21ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Marcos 6,17-29 (Execução de João Batista) – O relato evangélico do martírio de João Batista se situa no caminho de Jesus para Jerusalém como uma etapa fundamental. Com ele não só se conclui o ciclo da vida de João Batista, mas também é prelúdio do martírio de Jesus. Não devemos nos impressionar só pelos detalhes muito sugestivos que nos apresenta este texto. Ao Evangelho não interessa manifestar nem o vício de Herodes nem a malícia de Herodíades e a cupidez de sua filha. Sua intenção é dar o devido relevo à figura de João Batista, que “gerou” o nazareno, poderíamos dizer assim, na mente e no coração dos que a ele acorreram, e mostrar como este grande profeta põe um ponto final em sua vida do mesmo modo e pelos mesmos motivos que Jesus morrerá. Este é o pequeno “mistério pascal” de João Batista, o qual, após ter conhecido a adversidade dos inimigos do Evangelho, conhece agora o silêncio do sepulcro na espera da ressurreição…

 

 

Jr 1,17-19 (Vocação de Jeremias) – Se a figura de João Batista nos ajuda a entender a missão de Jesus, o acontecimento histórico do profeta Jeremias nos ajuda, a entender a missão de João Batista. Neste ponto seria preciso recordar toda peripécia histórica de Jeremias: só então poderíamos entender o valor destas duas “vidas paralelas”. Mas, esta primeira leitura nos apresenta algumas particularidades que vale destacar: a parresia, ou seja, a “coragem” de dizer tudo; a fortaleza, ou seja, a “atitude” de opor resistência aos prepotentes; a fé, quer dizer, a “certeza” de poder vencer no nome do Senhor. A parresia é característica do autêntico profeta: não pode calar o que lhe foi revelado com o propósito de dar a conhecer a outros. E será, precisamente, esta coragem de “dizer tudo” que abrirá ao profeta o caminho do martírio. A atitude de opor resistência aos prepotentes, tanto com Jeremias como em João, é sinal de uma coragem inexplicável do ponto de vista humano: é uma franqueza que só Deus pode dar a quem se lhe submete e aceita a missão que lhe é dada. Em última instância, a certeza da vitória, a “vê” o profeta por revelação no começo de sua missão: “Eu estou contigo para libertar-te”, uma certeza que não lhe abandonará nunca mais.

 

Sl 70/71 (Súplica de um ancião) – O Salmo aborda um tema já muito conhecido: lamentações. Nele percebemos o abandono e a busca do salmista por alguém em quem possa confiar e desabafar. E esse alguém é o Senhor, pois somente em Deus podemos depositar nossa total confiança e confidenciar os nossos “segredos” com a certeza de que não os contará a ninguém.

 

A Bíblia insiste, em vários momentos que aquele que encontra um amigo encontra um tesouro verdadeiro. Encontrar um tesouro não é algo corriqueiro, que acontece a todo momento. É raro. Olhando para nossas vidas, muitas são as pessoas que temos conhecido e poucos os amigos que têm sido presença em todos os momentos, especialmente nos duros e difíceis. O amigo verdadeiro se prova nas horas de dor, solidão e angústia. O salmista se dirige a Deus e suplica-lhe que na velhice não o abandone, porque desde a infância tem mostrado para Ele o seu amor e fidelidade.

 

Senhor, hoje, para te louvar e bendizer, quero recorrer ao salmista, que me convoca para crer no teu amor para sempre; tenho certeza que na minha velhice tu estarás comigo. “Tu me instruíste, ó Deus, desde a minha juventude e ainda hoje proclamo os teus prodígios. E agora, na velhice, de cabelos brancos, Deus, não me abandones, até que eu anuncie teu poder, as tuas maravilhas a todas as gerações que virão. A tua justiça, ó Deus, é alta como o céu, fizeste grandes coisas: quem é como tu, ó Deus? Fizeste-me provar muitas angústias e desventuras; tornarás a dar-me vida, me farás subir de novo dos abismos da terra. Aumentarás minha grandeza e outra vez me consolarás. Então te darei graças com a harpa, pela tua fidelidade a Deus, vou te cantar com a cítara, ó santo de Israel. Cantando os teus louvores, exultando meus lábios e a minha vida, que resgataste” (Sl 71, 17-23).

 

 

MEDITAÇÃO: Os relatos bíblicos referentes a João Batista nos convidam a meditar sobre o dom da profecia, em particular a figura do profeta. Qual é exatamente sua função no povo de Deus? Quais as opções que lhe qualificam claramente como profeta, de que modo se situa ante seus contemporâneos como sinal de uma presença superior e porta voz de uma Palavra divina? O profeta manifesta, como tal, por seu modo de falar, pelo estilo que caracteriza sua pregação. A palavra não é tudo, é capaz de manifestar o sentido de uma presença incomoda… O profeta se manifesta como tal, também e, sobretudo, com as opções de vida que realiza. Assim demonstra ter percebido que o tempo no qual vive é precisamente aquele no qual Deus chama a ser-para-os-outros. Não se pode subtrair este chamado, (deveríamos ler Jr 17) sob pena de ser infiel à sua missão. Por fim, o profeta manifesta a autenticidade de sua missão com o valor de dar a vida por aquele que lhe chamou e por aqueles a quem foi enviado. Ou se é profeta com a vida, com a entrega por amor, ou não se é profeta em absoluto.

 

ORAÇÃO: “Levante-te e lhes dirás tudo o que eu te ordenar”. “Não tenhas medo: ponho-te como cidade fortificada”. “Eu estou contigo para salvar-te”. “Este é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. “Não te é licito ter a mulher de teu irmão”. “Raça de víboras! Quem vos ensinou a escapar do juízo eminente?” “Daí frutos que provem vossa conversão”. “O amigo do esposo exulta de alegria à voz do esposo”. “Agora minha alegria está completa”. “Ele deve crescer; eu, ao contrário, diminuir”.

 

CONTEMPLAÇÃO: Tudo que João Batista disse deu testemunho da verdade ou serviu de reprovação aos que lhe opunham; suas obras de justiça às respeitavam, inclusive os que não o amavam. Acaso o modo de vida dos homens o fez desviar, sequer, um pouco? Ele, que levou uma vida solitária desde criança, na via da virtude? E, sem dúvida, esse homem findou sua vida derramando seu sangue, após passar longo tormento no cárcere. Pregava a liberdade da pátria celestial e foi preso pelos ímpios; havia vindo dar testemunho da luz, havia merecido que lhe chamassem lâmpada ardente e resplandecente precisamente da luz que é Cristo, e foi encerrado na escuridão do cárcere; ninguém entre os nascidos de mulher havia sido maior que ele, e foi decapitado a pedido de uma mulher sumamente perversa, e foi batizado com seu próprio sangue aquele a quem havia dado batizar o Salvador do mundo, escuta a voz do pai sobre ele, vê a graça do Espírito Santo que descia sobre ele (Beda, el Venerable).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Eu estou contigo para salvar-te” (Jr 1,19)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – «Vos estais obrigado, acrescentou o arcebispo de Canterbury, a depor a dúvida de vossa insegura consciência que recusa o juramento, e a tomar partido seguro de obedecer a vosso príncipe, e jurar». Então, ainda que eu fosse da opinião de que este argumento não podia adaptar-se a meu caso, se me apresentou, não obstante, de improviso tão sutil e, sobretudo, sustentado por tanta autoridade, ao vir da boca de um tão nobre prelado, que não pode replicar nada, a não ser que estava intimamente seguro de que assim não teria agido bem, porque em minha consciência era este um desses casos em que meu dever era não obedecer a meu príncipe, seja qual fosse à opinião dos outros (cuja consciência e doutrina não haveria condenado nem aceitado julgar) a este respeito: em minha consciência a verdade se apresentou diferente. Então o abade de Westminster me disse que, de qualquer modo que a questão aparecera em minha mente, tinha motivos para temer que minha mente estivesse no erro, com só que considerara que o Parlamento do reino se pronunciava em sentido oposto, e que, portanto, devia mudar a posição de minha consciência. A isto respondi que si só fosse, eu que sustentava minha tese e todo o Parlamento sustentasse a outra, verdadeiramente teria medo de apoiar-me em meu pare­cer, eu só contra tantos. Mas, por outra parte, sucede que para alguns dos motivos pelos que me nego a jurar tenho eu de minha parte, como confio ter, um conselho igualmente grande, e inclusive maior, e então não estou já obrigado a mudar minha consciência e conformá-la ao conselho de um reino, contra o conselho da cristandade (Tomás Moro).

 

 

 

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