LECTIO DIVINA NA 3ª SEMANA DO TC ANO B 2021

LECTIO DIVINA

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SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JANEIRO

Marcos 16,15-18 (Aparições de Jesus ressuscitado) A liturgia aplica também a Paulo o mandato mi­ssionário que Jesus ressuscitado dirigiu aos onze. Ainda que Paulo não pertença aos doze, é verdadeiro e autêntico apóstolo de Jesus: estas palavras também se dirigem a ele. O Jesus ressuscitado anuncia, em primeiro lugar, um manda­to: «Ide por todo o mundo e proclamai a Boa Noticia a toda criatura» (v.15). A ordem não dá lugar a nenhuma duvida. Pede submissão e espera obediência. Deus quis salvar a humanidade por meio de colaboradores e Jesus tem necessidade de missionários­ testemunhos. O acontecimento da salvação, este é o segundo dado, é fruto da pregação e se leva a cabo median­te o ato de fé do que escuta: «O que crê e for batizado será salvo» (v.16a). Sem a escuta da fé não há nen­huma possibilidade de salvar-se (v.16b). Deus, que nos criou sem nosso consentimento, não quer salvar-nos sem nós. As ultimas palavras do Ressuscitado con­tém, por último, uma promessa formulada em futuro (vv.17ss): os benefícios que receberão os crentes, múltiples e extraordinários, serão os sinais, através dos quais cada ser humano poderá reconhecer a presença consoladora de Deus em meio de nós.

 

 

At 22,3-16 (Discurso de Paulo aos judeus de Jerusalém) Estamos ante um dos três relatos da conversão de Paulo (cf At 9.26) com os quais Lu­cas adorna a história da primitiva comunidade cristã. Em seu caráter extraordinário, o acontecimento de Damasco se articula em três momentos. Primeiro, o diálogo entre o Senhor ressuscitado e Saulo de Tarso. Ambos comunicam sua identidade e se reconhecem reciprocamente. É um primeiro passo para o acordo posterior. Vem após o fato extraordinário da conversão, que Lucas resume, sim­plesmente, em uma pergunta: «Que devo fazer, Senhor?» (v.10). Saulo está agora subjugado pelo poder de Jesus, seu salvador e mestre. E só deseja configurar por com­pleto sua vida segundo a vontade e o projeto do Ressusci­tado. Ao final, se encontra a missão: o que conheceu a vontade de Deus e viu o Justo percebendo a pa­lavra de sua própria boca, se torna, agora, testemunho das coisas que viu e ouviu ante todos os homens, ser missionário é agora o único modo de viver para São Paulo.

 

Salmo 116/117 (Convite ao louvor) Este pequeno Salmo confirma o ditado popular: “os melhores perfumes estão nos menores frascos”. Podemos dizer que nesta oração, que manifesta a alegria do homem de fé, está a síntese de toda a Escritura. Nossa vida foi feita para louvar a misericórdia, a fidelidade e a misericórdia de Deus. Tais palavras devem estar sempre presentes na nossa oração. Nunca devemos nos esquecer que Deus é misericórdia e verdade. Hoje há quem faça confusão com relação a isso; não é possível ter um coração grande que encobre a injustiça e o pecado. A misericórdia nunca esconde a verdade. Este Salmo de aleluia era cantado na ceia pascal e manifesta a necessidade da Igreja de missionar. Nenhum povo ou indivíduo é excluído do anúncio da verdade e do Evangelho.

Senhor, quero poder cantar este Salmo de cor, rezá-lo cotidianamente para me lembrar que tu és misericórdia e verdade e que nos envias para sermos teus missionários, para anunciar que o teu amor não pode permanecer escondido, mas deve ser revelado a todos. Amém.

 

MEDITATIO: Não acabamos nunca de aprofundar no conhecimento de Saulo-Paulo, mesmo após meditar sobre as páginas que falam dele e as que ele próprio escreveu. Sem dúvida, há algo que logo aparece com grande evidência: seu itinerário de fé que é símbolo do nosso. Crer implica, sobretudo, encontrar realmente uma pessoa: Deus feito homem, Jesus de Nazaré. Não se crê em uma doutrina, uma fórmula ou um sis­tema, mas em uma pessoa, a única digna de ser crida. A fé é um encontro que não se esgota em um momento determinado de nossa vida, mas continua sempre até a morte. Quem encontra Jesus se dá conta de que já não pode viver sem Ele e deve aprofundar em seu conhecimento. Do encontro se passa ao diálogo: a fé é um encontro entre pessoas inteligentes e livres. Por um lado, Deus se dá a conhecer no que é, revela sua vontade, seus projetos. Assim, trava o diálogo com todo o que está disposto a escutar e a reagir. Por outro, o crente, na medida que faz uma escuta sincera e autêntica da Palavra de Deus, se sente implicado em um diálogo que não se desenvolve só em torno a conceitos e verdades, mas que se entrelaça com experiências, confidências, comunhão de vida. Trata-se de um diálogo vital que implica dois seres vivos e chega a uma forma cada vez mais elevada. Mas a fé cristã é também obediência, submissão, abandono total da criatura ao seu Criador, do pecador ao Justo. Para o crente, obedecer não significa em absoluto abdicar de sua liberdade, nem de seus direitos; significa captar a infinita distância que há entre Ele e seu próprio interlocutor e, ao mesmo tempo, intuir que a adesão à vontade deste conduz à plena e mais satisfatória realização de si mesmo. Semelhante ato de abandono está sustentado por uma promessa que não deixa nenhum espaço para duvida: quando Deus promete, se compromete por completo em beneficio de seu interlocutor, enche-lhe o coração de certezas sobrenaturais e abre ante ele horizontes ilimitados. Por último, a fé cristã se traduz em missão: o exemplo de Paulo é claro e decisivo. Não pode privatizar-se um bem que, por sua própria natureza, é comunitário. Quem recebeu o dom da salvação em Cristo sente-se impulsionado, intimamente, a dá-lo aos outros.

 

ORATIO: Ó Pai, Deus de infinita bondade e misericórdia, concede-nos caminhar fielmente, a exemplo de são Paulo, pelo caminho que nos abriste em Cristo Jesus. Faz, ó Deus, que nossos caminhos, como o de Saulo, se cruzem com o teu, o que nos indicaste em Cristo, teu Filho, e no cristianismo. Que, como o apóstolo Paulo, queiramos caminhar com Jesus e seguir seus passos até que cheguemos a ti, meta última de nossa vida, meta suspirada e esperada. Concede-nos, ó Pai, andar juntos por este caminho abençoado por ti, a fim de que nenhum de nós se perca e nossa comunhão eclesial possa ser, no tempo, sinal manifesto daquela comunhão que gozaremos junto a ti na eternidade bem-aventurada.

 

CONTEMPLATIO: Chamou-me por sua graça” (Gl 1,15). Deus quer dizer: chamou-o por sua virtude. Dizia o Senhor a Ananias: «Este é um instrumento eleito…” (At 9, 15), ou seja, é idôneo para exercer o ministério e para manifestar uma obra grande. O Senhor indica este motivo para o chamado, enquanto que o apóstolo afirma por todos os lugares que tudo deriva da graça e da inefável bondade divina, expressando-se nestes termos:      «E se encontrei misericórdia (não por ser digno e a merecesse) foi para que em mim primeiro manifestasse Jesus toda sua paciência e servisse de exemplo aos que haviam de crer nele para obter vida eterna” (1 Tm 1,16). Fixa-te em sua imensa humildade! Por isso, disse, obteve mise­ricórdia, a fim de que ninguém desesperasse, dado que o pior entre todos os homens obteve beneficio da bondade divina (São João Crisóstomo).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Para mim, a vida é Cristo e o morrer um lucro(Fl 1,21).

 

Leitura Espiritual O edifício espiritual construído por Paulo, com sua profundidade profética e suas escarpadas subidas, emerge alto sobre o plano de nossa tranquila piedade cristã. Quem foi este grande, que operou à sombra de Um imensamente maior que ele? Quem foi este atrevido pioneiro, este “errante entre dois mundos”? Duas cidades exerceram uma influência decisiva no ciclo de sua formação: Tarso e Jerusalém. “Sou um judeu de Tarso…”: assim se qualificou Paulo ante o comandante romano quando foi encarcerado. Duas correntes da antiga civilização afluíam, pois, e se fundiam nele: a educação judia em família e a formação grega que absorvia na capital de sua província natal, dotada de universalidade. Está escrito, certamente, nos desígnios da Providencia que este homem, destinado a que em sua vida atuaria como missionário em meio dos pagãos, deveria receber sua primeira educação em um centro mundial do paganismo. Aquele para quem já não deveria existir diferença alguma entre judeus e pagãos, gregos e bárbaros, livres e escravos (cf. Cl 3,11; 1 Cor 12,13), não devia nascer entre as idílicas colinas da Galiléia, mas no tumultuo de um rico pólo comercial onde afluíam e se mesclavam gentes de todas as nações submetidas ao império romano. “Sou de Tarso, uma cidade próspera de Cilícia”. Parece que se reflete nesta resposta um sentimento de genuíno orgulho grego por sua própria cidade de nascimento. Tarso competia, em efeito, com Alexandria e Atenas pela conquista do primado no campo da cultura. Nela se elegiam os mestres para os príncipes imperiais de Roma, e é natural que um centro de cultura tão eminente influísse na formação da personalidade do futuro apostolo… Em Tarso dominavam a espiritualidade e a língua grega junto às leis romanas e à austeridade da sinagoga judia (J. Holzner, San Pablo).

 

 

 

TERÇA-FEIRA, 26 DE JANEIRO

Lucas 10,1-9 (Missão dos 72 discípulos) O “sim” total do coração a Cristo, da parte de quem o segue, irradia e se converte na força da missão. Em Lc 9,1-6 vimos que Jesus encarregava os discípulos de fazer o mesmo que ele havia feito: expulsar os demônios e curar os enfermos (cf. Lc 8,25-26). A Igreja não tem outra missão senão continuar a obra daquele que a enviou. Os doze apóstolos são o fundamento da missão da Igreja. Mas, junto com eles Jesus elegeu muitos outros. A messe é grande, mas os operários são poucos. O fragmento do evangelho de hoje se refere aos setenta e dois discípulos que anunciam a mensagem do Reino. O número “doze” recorda as doze tribos de Israel. O número “setenta e dois” remete, ao invés, aos “setenta e dois” povos enumerados em Gn 10. A missão dos discípulos tem, pois, um aspecto universal, estende-se a toda a terra. Estes setenta e dois discípulos constituem o sinal de todos aqueles que o dono da messe chama a levar o Evangelho. Não se trata, na realidade, de uma empresa humana, de algo que dependa de nossa capacidade; trata-se do Reino de Deus. Os obreiros do Reino não são tanto aqueles que o anunciam, mas o Cristo mesmo, em pessoa. Ele mais o Espírito Santo. É Ele que envia, que batiza e o Espírito Santo toma a palavra e que atua. Trata-se de deixar o Espírito Santo fazer, mais que de fazermos nós mesmos. O importante é entregar-se confiante a Ele, adotar seu estilo, com seu acontecer e seus frutos e, graças a isso, com sua alegria.

 

 

2 Tm 1,1-8 (Endereço e ação de graças; As graças recebidas por Timóteo) Esta Carta, que pode ter sido escrita no final do século I e pertence à escola paulina, se caracteriza como o testamento espiritual do apóstolo nas vésperas do martírio. O autor conhece bem, tanto as autenticas cartas de Paulo como as chamadas «deute­ropaulinas». E nós podemos sentir o eco das mesmas desde a saudação inicial (v.1) até a repetição de motivos queridos ao apostolo, como, por exemplo: primeiro, o «espírito de temor» (v.7) recorda o “espírito de escravos» de Rm 8,15; segundo, exorta a Timóteo a não envergonhar-se de dar testemunho do Senhor (v.8), do mesmo modo que Paulo não se envergonha do Evangelho (Rm 1,16). A carta começa com expressões de afeto e de estima, porém, sobretudo, de gratidão ao Senhor. Paulo reivin­dica para si o título de «apóstolo», que é consciente de merecê-lo, porque se fez anunciador do Evangelho e porque foi fiel desde sempre ao serviço de Deus «segundo me ensinaram meus superiores» (v.3), sublinhando a continuidade entre o seguimento de Jesus e a fidelidade à Lei judia. O exemplo é a mesma continuidade assinalada e aprovada com vigor na experiência de Timóteo, encaminhado à fé por sua avó e sua mãe judias, antes de ser cristão. Também é característico das cartas pastorais pôr o acento no carisma do pastor de almas, personificado idealmente por Timóteo e transmitido pelo após­tolo através da imposição das mãos (v.6). Domina sobre o conjunto o tema do testemunho dado por Paulo nas tribulações e no cárcere até o martírio e confiado ao discípulo Timóteo para que continue o serviço «com a confiança posta no poder de Deus» (v.8).

 

Salmo 95/96 (Invitatório) O salmista convoca solenemente todos os povos e os que têm fé para que, juntos, elevem um grande hino de glória, louvor e ação de graças ao Senhor, o Deus que está acima de todos os deuses e tem o poder de destruí-los. O centro deste é a grandeza de Deus, o Senhor dos exércitos. Ofereçamos a Ele toda a nossa admiração!

Senhor, muitas vezes se faz difícil o louvor; reconheço a existência de resistência dentro de mim, na minha família, na minha comunidade. As pessoas não querem me escutar e há momentos em que me consideram fanático pelas minhas idéias e minha insistência, mas o teu convite é amor. Senhor, ajuda-me a convidar a todos para reconhecer a tua grandeza, a tua força, a ser anunciador corajoso diante de todos, a não ter medo e a ser sempre um profeta destemido e corajoso. Amém.

 

 

MEDITATIO: Muitas passagens dos evangelhos nos mostram os discípulos, inclusive em vésperas da paixão e até depois da ressurreição de Jesus, ainda incapazes de compreender sua mensagem. Sem dúvida, Jesus se mos­tra muito tolerante com eles e lhes repreende de uma maneira suave. A inadequação não dá lugar ao desalento, mas que, ao contrário, acentua a confiança na ajuda do Senhor (cf. 2 Tm 1,7ss). A sede de poder e o orgulho das posições de pres­tigio são uma das tentações mais fortes para a humanidade, e não é casualidade que fosse uma das três às quais foi submetido Jesus no deserto. Ao longo da historia, tem sido com frequência causa de pecado e tem provocado graves desgarros na Igreja. Também nós caímos facilmente nela, porque ninguém está imune por completo à pretensão de ser melhor que os outros. A perícope evangélica nos mostra a resposta de Jesus a esta cobiça de sobressair: existe verdadeiramente um primado que devemos ambicionar, e é o primado no serviço; existe uma grandeza que deve fascinar-nos, e é a grandeza dos pequenos. Os discípulos estão predestinados à mesa do Reino e lhes está reservado o poder de «julgar as doze tribos de Israel».         Sem dúvida, a autoridade na Igreja procede da graça do Senhor, não da capacidade humana. O que habilita a exercê-la é ter «perseverado comigo em minhas provas» (Lc 22,28), ter sofrido com o apóstolo pelo Evangelho «com a confiança posta no poder de Deus» (2 Tm 1,8).

ORATIO: Senhor, sabemos que somos servos inúteis, incapazes de corresponder ao teu amor por nós. Sem dúvida, deixamo-nos arrastar por nosso orgulho, pretendemos julgar os outros, jactamo-nos como se fosse nosso mérito, e não por tua misericórdia, termos sido chamados a fazer parte de tua Igreja. Nossa solicitude pelos irmãos cede, com excessiva frequência, ao desejo de sobressair: até quando estamos comprometidos em uma atividade pastoral, em vez de compartilhar com simplicidade e alegria as responsabilidades, queremos impor nossas decisões e nossos pontos de vista. Confiamos demais em nossa habilidade, como se tivéssemos que fazer propaganda de um produto comercial, e por isso é tímido nosso testemunho. Senhor, abranda nosso coração e ajuda-nos a pôr no centro teu Evangelho e não nossas convicções. Põe ordem e claridade nas motivações de nosso agir, para que, graças a ti, possamos reconhecer e vencer o orgulho, até quando se disfarça entre «boas intenções». Faz-nos confiantes e abertos como as crianças, que não se envergonham de pedir ajuda. Concede-nos a alegria de reconhecer-nos «pequenos». Seja Tu nossa única força e nada poderá amedrontar-nos.

 

CONTEMPLATIO: O que, morrendo a todas as paixões da carne, vive agora espiritualmente deve ser conduzido de todas os modos a converter-se em exemplo de vida; depôs em todo o êxito mundano; não teme nenhuma ad­versidade; só deseja os bens interiores. Plenamente conforme com sua íntima disposição, não lhe resiste nem o corpo, com sua debilidade; nem o espírito, com seu or­gulho. Não se vê arrastado a desejar os bens alheios, mas se mostra generoso com os seus. Às suas en­tranhas de misericórdia se dobra prontamente ao perdão, mas não se desvia da mais alta retidão, considerando as coisas com mais indulgencia do que convém. Não faz nada ilícito, mas chora como próprio o mal cometido por outros. Compadece-se da debilidade alheia com todo o afeto do coração, goza com o bem do próximo como se fosse êxito seu. Em tudo o que faz se mostra imitável aos outros, de sorte que não tem que envergonhar-se, nem sequer por feitos passados. Procura viver de tal modo que esteja em condições de irrigar, com as águas da doutrina, o árido coração do próxi­mo. Aprendeu por própria experiência, através da prática da oração, que pode obter de Deus o que pedir, pois dele disse de modo especial a palavra profética: «Enquanto ainda estejas falando, direi: eis-me aqui…» (Gregório Magno).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Deus não nos deu um espírito de temor,

mas de fortaleza de amor e ponderação»(2Tm 1,7)

                                       

Leitura Espiritual Os bispos devem dedicar-se ao trabalho apostólico como testemunhas de Cristo diante dos homens, interessando-se, não só pelos que já seguem ao Príncipe dos pastores, mas consagrando-se, totalmente, aos que, de alguma maneira, perderam o caminho da verdade ou desconhecem o evangelho e a misericórdia salvadora de Cristo; para que todos caminhem “em toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5,9) Christus Dominus, decreto do Concilio Vaticano II sobre o ministério pastoral dos bispos, nº 11. Na edificação da Igreja, os presbíteros devem viver com todos com extrema delicadeza, a exemplo do Senhor. Devem comportar-se não segundo o beneplácito dos homens, mas conforme às exigências da doutrina e da vida cristã, ensinando-lhes e admoestando-lhes como a filhos amados, segundo as palavras do apostolo: “Insiste oportuna e inoportunamente, argüi, ensina, exorta com toda longanimidade e doutrina” (2 Tm 4,2). Pelo qual corresponde aos sacerdotes, enquanto educadores na fé, procurar pessoalmente, ou por meio de outros, que cada um dos fiéis seja conduzido no Espírito Santo a cultivar sua própria vocação, segundo o Evangelho, à caridade sincera e diligente e à liberdade com que Cristo nos libertou (Presbyterorum ordinis).

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO

Marcos 4,1-20 (Parábola do Semeador; Por que Jesus fala em parábolas; Explicação da parábola do Semeador) Este texto inaugura a seção das «parábolas do Reino». O auditório é muito amplo, até o ponto de Jesus subir numa barca para que todos o vejam. Os judeus estavam acostumados às parábolas, pois também as ouviam dos rabinos. Eram relatos simples, ainda que com um elemento de surpresa ou conclusão inesperada que induzem a buscar um significado ulterior por trás do imediato. A parábola se orienta sem demora à figura do semeador (v.3), porém a atenção se transfere de imediato à semente (v.4). Do semeador fica só o gesto generoso e amplo com que a espalha sem ter cuidado e de forma abundante. Aqui já vemos uma coisa estranha. Segue, os diversos tipos dos terrenos nos quais cai a semente, até o exagero evidente da colheita no terreno bom (v.8): temos aqui o ponto culminante, o ponto no qual a prodigalidade fora do comum do semeador é recompensada por um rendimento desproporcional. A imagem da colheita remete ao fim dos tempos: o significado original da parábola, reconduzível ao próprio Jesus e compreensível a seus ouvintes, diz que a vinda do Messias está próxima e descreve a abundância de graça do Reino messiânico. Vem, depois, um breve diálogo em torno da compreensão das parábolas. É provável que esta parte seja mais tardia; aparece, de fato, de repente, uma antítese entre os membros da comunidade e os demais: «vós» e «os de fora» (v.11), com uma citação de Isaías. É provável que Marcos queira sublinhar aqui um tema que é acaba sendo estranho: o «segredo messiânico». A explicação (vv.14-20), em chave alegórica, se ressente da experiência da comunidade primitiva na pregação do Evangelho. A semente se identifica claramente com a Palavra, e os terrenos correspondem às diferentes reações suscitadas pela pregação dos discípulos. A antítese que para com a Palavra.

2 Sm 7, 4-17 (Profecia de Natã) A profecia de Natã, um dos textos fundamentais do messianismo real, derruba por completo o projeto de Davi. Pretendia este construir um templo que fosse digno da arca de Deus na cidade santa (2 Sm 7,1-3). O oráculo se abre com uma pergunta retórica, «És tu que me vai construir uma casa para que viva nela?» (v 5), que remete à afirmação antitética do v.11: «Ademais, o Senhor te anuncia que te dará uma casa». Vem, a seguir, a referência ao êxodo, como ocorre cada vez que se faz menção à aliança, insistindo na tenda e nas peregrinações do deserto: a presença do Senhor não pode ficar presa a um lugar ou edifício. À menção do Êxodo vai unido a recordação das ações em favor do rei. O poder de Davi depende unicamente da intervenção de Deus: Ele o tomou dos pastos, deu-lhe vitória («paz com todos teus inimigos», se repete três vezes), dará estabilidade ao povo na Terra e engrandecerá o nome do rei. Não será ele que constrói o templo, mas é o Senhor que o dará uma casa: a contraposição fica sublinhada com a repetição do termo, «casa», para designar tanto o templo como à dinastia davídica. Só após a morte de Davi, suscitará, o Senhor, sua linhagem (cf v.12). Como sucede com frequência nos oráculos proféticos, há dois possíveis níveis de leitura: a referência imediata iria dirigida a Salomão, que será quem construirá o templo; em segunda instância, a profecia se refere ao Messias futuro. O Messias construirá «uma casa» ao Nome de Deus, seu reino durará para sempre, e é a ele que se aplica a fórmula de adoção: «Serei para ele um pai e ele será para mim um filho» (v.14).

Salmo 88/89 (Hino e prece ao Deus fiel) Este Salmo é uma oração que descreve os vários sentimentos do orante. O salmista quer cantar as maravilhas do amor do Senhor e, para isso, relembra o seu passado e o passado do povo; fieis ao Senhor, puderam contemplar a grandeza do Pai, que não desampara seus filhos e sempre cumpre suas promessas. Paralelamente a isso, o salmista se vê rodeado por inimigos que tentam sua incolumidade física e religiosa. Como reagir ante o avanço do mal? O segredo é a fidelidade à Palavra de Deus, a única que garante nossa vitória. Todos nós enfrentamos momentos difíceis e são nesses momentos que devemos aprender a ouvir o silêncio e procurar resposta na solidão. Há sofrimentos que, embora os outros nos ofereçam auxílio, devem ser absorvidos e saboreados por cada um de nós, na solidão de nosso coração. Neste Salmo, o salmista nos chama a renovar diariamente a nossa aliança com Deus: uma aliança que é sempre plena de felicidade, mas marcada com o sangue da cruz e o nosso.

Senhor, cantarei eternamente as tuas maravilhas. Quero olhar o que o Senhor fez no meu passado, quantas coisas boas, quantos amigos e amigas colocou no meu caminho que me ajudaram a chegar onde hoje eu estou com o exemplo, com uma palavra, com correção fraterna. Cantarei, Senhor, as maravilhas da minha fé. Combati mais ou menos o bom combate e conservei mais ou menos a minha fé. Sou feliz por ser carmelita e por ter todo dia a graça de viver com intensidade o meu apostolado. Agora, Senhor, os meus olhos podem ver com ternura o meu pôr-do-sol, que enuncia um porvir ainda melhor nas tuas moradas eternas. Renova, Senhor, comigo, apesar da minha infidelidade e do meu passado, a tua aliança santa, dá-me a consciência de que tanto a minha santidade como o meu pecado pesam sobre os meus ombros e sobre os ombros da Igreja, do Carmelo e da humanidade. Dá-me a certeza de que ninguém se salva sozinho. Senhor, quero levar comigo diante de ti toda a humanidade para cantar as tuas maravilhas. Amém.

MEDITATIO Estamos acostumados a raciocinar segundo nossos esquemas, a calcular por antecipação os resultados de nosso trabalho, a projetar nossa atividade. Os critérios de juízo do Evangelho são, sem dúvida, muito distintos e, com frequência, o Senhor subverte nossos planos de maneira inesperada, às vezes difícil de compreender e aceitar. Como Davi, pensamos fazer bem projetando atrevidas construções, e quando saímos aos campos para «semear» (uma metáfora que se aplica muito bem ao compromisso eclesial) não estamos, seguramente, tão distraídos que lancemos semente no caminho e entre pedras. O próprio profeta, num primeiro momento, aprova a intenção de Davi (2 Sm 7,3), e inclusive os apóstolos têm dificuldades para compreender a lógica de uma semeadura tão estranha (Mc 4,13). Devemos nos acostumar a voltar atrás em nossa mentalidade, a mudar radicalmente de direção: esse é o primeiro significado da palavra conversão. Não tenhamos a ilusão de que cumprimos nosso dever só porque «construímos» algo visível, inclusive grandioso aos olhos dos homens. Não pretendamos que o fruto de nossa «semeadura» dependa exclusivamente da prudência de nossos programas. Tudo o que façamos está nas mãos do Senhor: Ele será o que dá estabilidade a nossa «casa» e torna fértil nosso «terreno». Confiemo-nos com humildade e simplicidade à sua guia, sem desviar-nos por trás de tantas preocupações, talvez secundárias: como Davi ,«descansaremos com nossos antepassados» (2 Sm 7,12) e o Senhor guiará seu povo na paz.

ORATIO Perdoa, Senhor, nossa superficialidade: somos, com frequência, o terreno pedregoso no qual tua Palavra não pode lançar raízes. Perdoa, Senhor, nossa inconstância, que seca logo em nosso coração o entusiasmo suscitado por tua Palavra. Perdoa, Senhor, nossa fragilidade, as preocupações cotidianas nos distraem e corremos atrás de muitas coisas supérfluas. Perdoa, Senhor, nossa presunção: cremos poder predispor tudo e fazer tudo com nossas forças. Ajuda-nos a confiar-nos, com a segurança de um menino, a tua guia: só Tu podes fazer estável nossa fé para sempre. Converte nosso coração e mantém-nos próximo de ti até o momento no qual, como a Davi, nos leves pela mão a «descansar com nossos antepassados».

CONTEMPLATIO Quando os perus reais acasalam em lugares muito brancos, também os filhotes são totalmente brancos; assim, quando nossas ações se encontram no amor de Deus, se projetamos alguma obra boa ou tomamos alguma iniciativa, todas as ações que daí se seguem tomam o valor e levam a nobreza do amor de onde tiveram sua origem: de fato, quem não ver que as ações próprias de sua vocação ou necessárias para a realização de seu projeto dependem da primeira opção e da primeira decisão que tomou? Mas Teótimo, não temos que deter-nos neste ponto; mais ainda, para realizar um excelente progresso na devoção, é preciso orientar toda nossa vida e todas nossas ações a Deus não só no início de nossa conversão e, depois, de aao em ano, mas temos de oferecê-las também todos os dias; […] de fato, na renovação diária de nossa oferenda, ponhamos em nossas ações a energia e a virtude da dileção, mediante uma renovada aplicação do coração à glória divina, por cujo meio se vê santificado cada vez mais (Francisco de Sales, Tratado del amor de Dios).

ACTIO Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Os que ouvem a mensagem, a acolhem e dão fruto» (Mc 4,20)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Entremos na simples e cotidiana realidade do viver de cada pessoa. Há sempre um projeto, uma expectativa, um compromisso e está aí o desejo de alcançar certa posição social, de realizar alguns sonhos cultivados largamente na adolescência e na primeira juventude; há um conjunto de ideais que formam quase a plataforma das opções mais imediatas. Olhando por todas as partes, escutando todas as vozes, deixando que desde dentro de si irrompa o grito espontâneo, pode dizer-se que tudo vai se repetindo: «A vida e tua!». A vida é a bela invenção que cada dia brota da mente e dos sentimentos do homem, é a formosa aventura que cada homem realiza de modo pessoal, é a incógnita que cada dia é decifrada e explorada para nossa própria felicidade. A vida é tua. Mas se olhas ao redor, te darás conta que a vida não está para nada em tuas mãos: não podes fazer com ela o que queiras. A vida te foi dada: não a pediste tu, não a programaste, não a desenhaste como um projeto que deves seguir. A vida me foi dada para que possa gozá-la de um modo tão pleno que esgote o projeto de Deus, de sorte que possa convertê-la em um momento, em uma passagem, em um elemento palpitante de todo o universo, em um ponto importante no caminho da civilização humana. Desde esta perspectiva, todo homem tem ante si campos ilimitados de ação, modos inesgotáveis de eleição, possibilidades contínuas para «inventar sua própria vida», para administrar esta imensa riqueza e fazer dele mesmo e de toda a humanidade uma aventura nunca acabada e cada vez mais fascinante. A primeira regra para inventar a vida, para dar consistência garantia de crescimento de solidez a nossa personalidade, é a de lançar raízes. Lançar raízes significa aderir a uma realidade concreta, pertencer a um território, a uma experiência, a um contexto: tudo isso equivale a reconhecer uma realidade que nos precede e a declarar de maneira positiva nosso caráter concreto. Equivale a aceitar o ambiente no qual estamos, sentir que pertencemos a esse pedaço de terra, a esse segmento da sociedade, ao círculo de pessoas com as quais, queiramos ou não, vivemos: equivale a aceitar como própria a realidade cotidiana. Lançar raízes supõe sempre uma atitude livre e responsável que compromete a uma presença inteligente e convida à fantasia a encontrar novas possibilidades e novas soluções destinadas a mudar e melhorar tudo o que encontramos (G. Basadonna, Inventare la vita).

 

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 28 DE JANEIRO

Marcos 4,21-25(Como receber e transmitir o ensinamento de Jesus) Após a parábola do semeador vem, quase como um comentário, duas partes de sentenças breves. Parecem afirmações contraditórias e, inclusive, em contraste com o que foi dito antes: falam de manifestar e de esconder, de dar e tirar; estão conectadas no centro por um duplo convite a estar atentos (vv.23ss). Na primeira caso a imagem da lâmpada que deve estar posta no candeeiro está desenvolvida por duas antíteses paralelas: o que está oculto será descoberto, o secreto será posto às claras. Portanto, se o Reino, de momento, é anunciado através do véu das parábolas, logo sairá à luz em sua glória e tema do anúncio ao exterior à condição interna vivida na comunidade. A imagem da medida remete à humildade e à proibição de julgar aos demais; a segunda imagem, mais paradoxal, se refere de um modo mais aberto à parábola do semeador. «O que tenha» corresponde, de fato, ao terreno bom, ao que acolhe com fé a Palavra e se compromete a pô-la em prática.

2 Sm 7,18-19.24-29 (Oração de Davi) Depois de haver escutado o oráculo, Davi pronuncia ante a arca uma simples oração de louvor. Os motivos pelos quais Deus recusa, ao menos de momento, a construção do templo não estão totalmente claros; sem dúvida, Davi os aceita de bom grado. Seus planos têm sido anulados pela vontade do Senhor, porém isso não é negativo aos olhos de Davi; mas ainda, é uma demonstração de benevolência: o Senhor sabe o que é bom para o homem (v.19). A confiança de Davi se apóia na memória de tudo o que tem feito Deus na história em favor de seu povo: o texto, seguindo o estilo do Deuteronômio, recorda que Deus vinha preparando desde sempre seu povo, resgatando-o da escravidão de Egito (vv.23ss). A súplica de Davi está em sintonia com a Palavra do Senhor, pedindo-o que atue: mantém firme para sempre a promessa que hás feito (v.25). A grandeza do Senhor se revela plenamente na demonstração de sua fidelidade: a estabilidade da descendência de Deus é importante não por vanglória humana, mas porque corresponde à promessa de Deus (cf.v.27). Assim, a fidelidade do Senhor, a verdade de sua Palavra, a estabilidade de sua vontade, correspondem à bênção que desce para sempre sobre a casa de Davi (vv. 28ss).

Salmo 131/132 (Para o aniversário da trasladação da Arca) Esta é uma oração muito querida pelo povo nômade, que mantém seus pensamentos na arca da Aliança, sinal da presença viva de Deus. Por meio desse cântico, somos convidados a refletir sobre o amor de Deus por nós. Ele nos amou a ponto de entregar o seu Filho, que se fez carne, por nós. O povo de Israel reza continuamente para que a tenda de Javé nunca se afaste do caminho do povo e que os sacerdotes se vistam a caráter em festa para celebrar a presença do Senhor. Infelizmente, nem sempre conseguimos enxergar santidade na vida dos sacerdotes. Os escândalos, a frieza, a falta de amor pelo povo, etc., afastam o homem da presença de Deus. Sacerdotes saibam: em breve, será pedido a nós conta da fé das pessoas que nos foram confiadas. Sabemos como devemos comportar-nos e, por isso, somos responsáveis por toda a comunidade.

Senhor, quero te oferecer todos os que recebem o sacerdócio de Cristo para que sirvam a comunidade, sejam guias do povo, santifiquem o povo, ofereçam o sacrifício da Eucaristia e dêem o perdão dos pecados. Reaviva, Senhor, o coração de todos os sacerdotes para que sejam dignos de serem ministros do altar. Dá ao povo a sabedoria para rezar pelos sacerdotes, para compreendê-los em suas faltas e quedas, para serem mãos estendidas, e ajuda-os a viver com fidelidade o próprio sacerdócio. Construir a casa do Senhor não é construir igrejas de pedra e tijolos, mas corações dispostos a receber a Palavra e serem templos vivos do Espírito. A primeira igreja a ser construída é no nosso coração, santificá-lo e consagrá-lo como habitação à Santíssima Trindade. Chama de volta, Senhor, todos os sacerdotes que, por qualquer causa, se afastaram de ti e da Igreja. Que a sua Igreja mãe acolha, corrija, perdoe e ame para que sejam santos, porque és santo. Amém.

 

 

MEDITATIO A estabilidade no tempo é fruto da benção e objeto da promessa feita pelo Senhor à casa de Davi. Manter-se estável para sempre não significa a glória terrena ou o êxito político da dinastia reinante; indica mais ainda a firmeza na fé e a correspondência ao desígnio de Deus sobre o destino de seu povo, e isso é fruto da graça. O povo de Israel e o rei, que é por sua vez seu representante e seu guia, não são mais que um instrumento nas mãos do Senhor; sem dúvida, o Senhor faz deste humilde instrumento o canal da salvação para todos os seres humanos. Esta será a missão confiada ao Messias, descendente de Davi: cumprir a promessa feita já ao patriarca Abraão: «Por ti serão benditas todas as nações da terra» (Gn 12,3). «Farei que teu nome seja como o dos grandes da terra» (2 Sm 7,9), disse o Senhor a Israel, seu servo, que se torna assim «luz para iluminar às nações», lâmpada que não é colocada debaixo de uma vasilha de barro, mas no candeeiro, para iluminar a todas as nações da terra.

ORATIO Ajuda-nos, Senhor, a esperar tudo de ti. Ajuda-nos a não ter a presunção de ser os únicos artífices de nosso destino ou de atribuir todo o mérito do êxito de nossas boas ações. Dá-nos ânimo para que não sejamos tímidos anunciadores de tua Palavra, para que nossas preocupações não façam sombra à luz, para que nossa preguiça não nos leve a manter escondido o anúncio de salvação que nos tens confiado. Faz-nos confiantes, porque por em ti nossa esperança nos liberta da ânsia de fazer tudo e da angústia de não estar à altura. Senhor, faz que reconheçamos a grandeza de teu nome sem nos orgulharmos pelas bênçãos que nos tens concedido.

CONTEMPLATIO Deus é autor de todos os bens, por isso devemos dizer: «Tu dás êxito, ó Senhor, a todas nossas empresas» (Is 26,12). E assim é, verdadeiramente. Por isso, deves atribuir a Ele todo bem e nada a ti, considerando que não é «teu a fortaleza ou o vigor de tuas mãos» (Dt 8,17) ou que tens construído o que tens, porque é o Senhor que nos tem feito para nós e não nós mesmo (cf. Sl 99,3). Uma consideração como esta destrói a soberba de todos os que dizem: «Somos nós os que temos vencido, não é o Senhor o que há feito tudo isto» (Dt 32,17). […] Disse o bemaventurado Bernardo: «Atrevo-me a dizer que, sem humildade, nem sequer a virgindade de Maria haveria agradado a Deus; por isso é uma virtude grande, sem cuja adquisição não há virtude; mais ainda, se acaba na soberba» (Buenaventura de Bagnoregio, Obras de san Buenaventura).

ACTIO Repite con frecuencia y vive hoy la Palabra:

«Digna-te bendizer sua dinastia para que permaneça sempre em tua presença» (2 Sm 7,29)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Conhecerás, atento leitor, que o coração de nosso pai, o stárets Isidoro, tinha em si um sentido de grande modéstia de profunda submissão. Falava raras vezes de seus atos consagrados à causa divina, e se o fazia era só para a edificação; em geral, tendia a mantê-los escondidos. Não se punha nunca como exemplo, não falava nunca de si mesmo de modo que se pusesse por cima de seu interlocutor. Ocultava sua bondade não só aos outros, mas também a si mesmo: fazia o bem e era como se não se recordasse disso. Em verdade, segundo as palavras do Senhor Jesus Cristo nosso Salvador, sua mão direita não sabia o que fazia a esquerda. Por isso não se tinha nunca em nenhuma consideração; mais ainda, se considerava uma nulidade e estava convencido, com toda sinceridade, de que não havia um homem pior que ele. Às vezes, o interlocutor de Isidoro, quando estava com ele, sentia que se o dilatava o coração de alegria ao contemplar esta beleza celestial sob uns pobres despojos corpóreos; e ocorria, às vezes, que escapava do coração e dos lábios do interlocutor esta exclamação: «Batiuska, que belo és!». Porém, o stárets com ar embaraçado negava: «Como belo? Sou feio, o último dos homens». Isidoro não alimentava nenhum sentimento de orgullo. Podia suplicar ante qualquer um, podia, inclusive, estar de joelhos ante qualquer um, a todo o mundo podia beijar a mão, se isto servia para medicar o espírito. Submetia-se sem esforço, nem constrangimento. […] Para Isidoro, não havia homem algum ante o qual pudesse se orgulhar, por muito insignificante que fosse, vil e pecador que fosse. Do mesmo modo, pelo contrário, não havia para ele homem algum que pudesse induzi-lo a mudar, por mais influente ou de poder que este fosse. Dizia tudo o que pensava ante todos os padres , sobretudo, ante os homens importantes. Conhecerás, além do mais, leitor, que Isidoro não temia a ninguém, não buscava fazer-se com os favores de ninguém nem nunca esquecia com ninguém sua dignidade de homem; se sentia sempre dono de si, livre, submetendo-se unicamente à vontade divina (P.A. Florenskij, II sale della terra. Vita dello starec Isodoro).

 

 

SEXTA-FEIRA, 29 DE JANEIRO

Marcos 4,26-34 (Parábola da semente que germina por si só; Parábola do grão de mostarda; Conclusão sobre as parábolas) A passagem inclui duas comparações destinadas a ilustrar a idéia do Reino.      A primeira (vv.26-29), que recorda a parábola do semeador, compara o Reino com o camponês que, após a semeadura, espera inativo o crescimento da semente até o momento da colheita. Dois são ao menos os níveis de leitura desta breve parábola. A semeadura pode representar a pregação do Evangelho, uma pregação confiada aos discípulos: Jesus os convida a que tenham paciência, porque a semente da Palavra atua por sua própria virtude e dá fruto segundo modos e tempos que o homem não pode conhecer nem acelerar a seu gosto.             A semente se desenvolve sem que o camponês saiba como, e a terra produz por si mesma o grão: só «quando o fruto está no ponto» (v.29), isto é, quando o Reino haja se manifestado em sua glória, será necessário voltar a agir. Mas, podemos ver também no semeador a ação de Deus: enviou ao mundo sua Palavra, agora espera que dê fruto (cf. Is 55,10ss), e, no tempo da colheita, metáfora do juízo final, empunhará a foice. A segunda comparação (vv.30-32) representa o Reino como o grão de mostarda do qual nasce uma grande árvore. Também aqui se trata de uma mensagem de confiança, uma mensagem importante para a comunidade primitiva, que poderia ter caído no desânimo. Não importa que seus membros sejam poucos e pequenos; é mais, a Palavra de Deus dará frutos incomensuráveis, não por nossos méritos, mas pela graça. A conclusão (vv.33ss) retorna o tema da dupla linguagem de Jesus: parábolas para o grande público, explicação privada só para os discípulos.

2 Sm 11,1-4a.5-10a.13-17 (Segunda campanha amonita; O pecado de Davi) O fragmento narra o famoso episódio do pecado de Davi: a primeira parte relata o adultério (v.2-5); a segunda (vv.6ss), o homicídio. A introdução (v.1), que nos mostra o contexto da guerra contra os amonitas, sublinha que, enquanto o exército cerca a cidade inimiga, Davi fica ocioso em Jerusalém: é possível que se encontre neste relaxamento a raiz do pecado? Na segunda parte, o pecado vai se apoderando cada vez mais do coração do rei e o arrasta com um ritmo crescente de perfídia. Davi tenta primeiro enganar Urias e ocultar o adultério (v.8), porém não tem êxito em sua tentativa. De fato, Urias, cumprindo as leis de pureza que impediam as relações conjugais no curso das ações de guerra, não vai para casa (vv.9. 13). Agora ao adultério do rei se acrescenta o delito: após ser enviado à primeira linha, Urias perde a vida nas mãos dos inimigos (v.15-17). O relato, em sua simplicidade, é preciso e não mostra nenhuma reticência à hora de acusar o rei; o livro das Crônicas, que se mostra mais obsequioso com David, não narra o episódio.

Salmo 50/51(Miserere) Este Salmo é um capítulo do livro de nossa história. Todos nós, assim como aconteceu a Davi, passamos por três fases em nossa vida, dominadas por sentimentos contrários: bondade, pecado e conversão.     A história de Davi é belíssima: quando jovem era puro e bom. Deus, então, pousou sobre ele seu olhar, escolhendo-o como rei e profeta. Mas o pecado e o poder o depravaram e, apaixonado, mandou matar Urias, o hitita, a fim de roubar-lhe a mulher. Deus suscitou o profeta Natã para abrir-lhe os olhos, mostrando o pecado cometido. Arrependido, Davi se converte e escreve esse belo Salmo, cheio de emoção, esperança e confiança. Quando nos arrependemos de nossos erros, Deus nos lava, purifica e dá um coração novo e puro. Ele nos convida a cantar cantos de festa e alegria. Este Salmo deve ser lido muitas vezes e considerado como um projeto de vida para todos nós. Ele ajudará a abrir nosso coração à conversão, conscientizando-nos de nosso pecado, não pelo desespero ou do medo, mas pela confiança de que nosso Deus é misericordioso. Em nosso coração, teremos a certeza de que Ele não quer sacrifícios inúteis, vazios, mas sim aqueles carregados de amor. Quando os laços do pecado nos agridem e tentam nos afastar da misericórdia do Senhor, devemos novamente meditar este Salmo. Assim, venceremos o medo e nos lançaremos na misericórdia do amor. Por que temer o amor de Deus? Por que temer confessar o nosso pecado? Por que a vergonha dos erros cometidos, se não podemos voltar atrás? A pedagogia do pecado é que nos ensina a pecar mais.

Senhor, confesso e reconheço que sou pecador. Minha natureza é maldosa e pecaminosa, por isso necessito de tua graça e do teu amor para superar o mal que está em mim. Sinto na minha carne as mesmas tentações que Davi sentia. A tentação de querer ser maior que os outros, de buscar o poder como forma de auto afirmação e fazer do poder um meio nem sempre lícito para dominar e espezinhar os outros. O poder me corrompe e me faz acreditar que tenho regalias e que me é lícito fazer o que quero. A tentação da carne, da sensualidade e da sexualidade, nem sempre orientada, é forte e não é canalizada para fazer o bem, mas sim instrumento de prazer e de condescendência aos instintos que tentam dominar e me levar para longe do projeto de amor. A tentação me faz querer tudo: coisas e pessoas. No entanto, Senhor, percebo que dentro de mim há algo de bom, um desejo de infinito, uma luta para vencer o mal e a vontade para fazer o bem. Quero entrar no meu coração para escutar tua Palavra, colocar-me a teus pés na atitude de discípulo. Envia-me profetas corajosos como Natã, que me aponte meu pecado para que eu possa me converter. Todos necessitamos de conversão, do mais santo ao mais pecador, do grande ao menor. Senhor, é o que te peço, afasta de mim meu pecado para que evite outros pecados. E faz que ensine, com a minha experiência e as quedas, o caminho certo, e que outros não cometam os mesmos erros meus. Amém.

MEDITATIO O Senhor realiza seu desígnio de salvação, e os homens são simples instrumentos em suas mãos. Não corresponde a nós decidir quando e em que medida dará fruto a semente: o crescimento tem lugar em segredo, enquanto nós nos ocupamos de outras coisas, e é um crescimento desproporcional em comparação com nossas expectativas. Não podemos influir de nenhuma maneira: nem de modo positivo, acelerando os tempos; nem de modo negativo, freando com nosso pecado a eficácia da Palavra. Sem dúvida, isto não deve desanimar-nos, nem diminuir nosso compromisso. Em realidade, as leituras de hoje nos trazem uma grande mensagem de esperança e de confiança: nos foi confiada uma tarefa para a qual somos inadequados, sendo que, apesar de tudo, nossa colaboração é importante. Só devemos evitar a inquietação da ansiedade pela expectativa do resultado: este não se encontra em nossas mãos, não corresponde a nós medir o efeito, e, talvez, não vejamos nunca resultados. Só ao final de nossa vida veremos o fruto de nosso trabalho, e a colheita será uma festa alegre se temos sabido esperar com serenidade, confiados na obra do Pai. Confiar nele, esperar nele: esse é o segredo: sem fugir das responsabilidades e sem maquinar enganos para encobrir nossas culpas. Davi acreditou haver agido com astúcia e haver mascarado a traição, mas o Senhor vê no segredo dos corações e saberá intervir.

ORATIO Faz-nos pacientes, Senhor, confiados em tua Palavra. Para nós é difícil esperar que chegue o tempo da colheita: queremos ver logo o resultado de nossas ações, programamos tudo de maneira detalhada e cremos ter sob nosso controle todo o processo. Mas só tu sabes o momento em que tua Palavra mostrará seu poder. Só tu sabes quando chegará o momento. A semente cresce, não por nossos méritos, mas só por tua graça. Faz-nos dóceis, Senhor, respeitosos com os tempos de crescimento e amadurecimento, respeitosos com os irmãos a quem falamos em teu Nome. Quiséramos que todos nos seguissem quando falamos de ti: talvez confundamos o testemunho em favor do Evangelho com o êxito de nossas iniciativas. Faz-nos capazes de esperar tua vinda, ainda que em ocasiões nos pareça que está muito distante. Atrai-nos a ti: estamos ansiosos de participar da grande festa da colheita em teu Reino.

CONTEMPLATIO “«Semear» significa evangelizar e atrair à fé; «regar» significa batizar[…] Se Deus dá, de fato, à salvação, não há nisso glória alguma para o homem. […] «Nem o que planta nem o que rega são nada; Deus, que faz crescer, é o que conta» (1 Cor 3,7). Ou seja, a plantação pode morrer, ou melhor, o que foi regado costuma, às vezes, a não chegar à fecundidade se Deus não o concede uma vida santa. Em consequência, ao que se refere à honra divina, nada corresponde ao homem. Sem dúvida, no que se refere ao ministério, é preciso que receba a honra como servo, não como se esperasse algo, causando ofensa a Deus” (Ambrosiaster).

ACTIO Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Nem o que planta nem o que rega são nada; Deus, que faz crescer, é o que conta» (1 Cor 3,7)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Acontecia uma violenta perseguição contra todas as religiões na China. Tive noticias de que muitos bispos, sacerdotes, irmãs e simples fiéis estavam no cárcere ou campos de trabalhos forçados. Haviam sido condenados por sua fé em Cristo. Recordo as santas missas que celebrei na habitação de meu albergue. Só o chefe da delegação da qual fazia parte conhecia minha identidade sacerdotal. Ai de mim se os chineses a houvessem descoberto! Este me havia trazido de Hong Kong uma botelita de vinho, hóstias e algumas folhas de papel com as partes da missa. Levantava-me às duas ou às três da noite e celebrava a missa na habitação do albergue, com o mínimo de luz, para não levantar suspeitas. Oferecia eu o divino sacrifício por todos os irmãos cristãos chineses que sabia que estavam no cárcere, em campos de trabalhos forçados ou na clandestinidade. Aquelas missas noturnas me comoviam. Estava realizando um gesto missionário na China. Diz o Concílio que a Eucaristia é «a fonte e o cume da evangelização» (PO 5). É Deus, com efeito, que evangeliza e converte os corações, através da obra do missionário, ainda que também de modos misteriosos que só Ele conhece. Que gesto missionário mais autêntico pode haver, portanto, que celebrar a missa na China da «revolução cultural», quando era proibido qualquer ato público de culto? (P. Gheddo,11 Vangelo delle).

 

SÁBADO, 30 DE JANEIRO

Marcos 4,35-41 (A tempestade acalmada) Vem logo após o discurso sobre as parábolas (Mc 4,1-34) e inaugura uma seção que inclui quatro milagres (4,35—5,43). O arranque (vv.35ss) insere o episódio na situação espaço-temporal precedente: é o mesmo dia e estamos ainda no lago. A iniciativa parte de Jesus, que decide «passar para a outra margem». Sem dúvida ,os discípulos são sujeitos ativos: estes «o levaram na barca» e ficaram depois só lutando contra a tempestade, enquanto Jesus dormia. A primeira parte do relato (vv.35-37) contempla um ritmo crescente dos acontecimentos até o drama. O v.38 é central, e sublinha o contraste entre a serenidade de Jesus e a ânsia dos discípulos. Quase se inverteram as relações: Jesus se confia, tranquilo, à perícia dos marinheiros, porém os angustiados discípulos não confiam na presença de Jesus, inclusive o fazem reprovações: «Não te importa que pereçamos?» (v.38). Na segunda parte (vv.39ss), a decidida intervenção de Jesus resolve o drama. Basta uma ordem e calam tanto o fragor da tempestade como o clamor aterrorizado dos discípulos: a pergunta de Jesus (v.40) fica sem resposta. O medo que se apoderou dos discípulos é síntoma de falta de fe. A manifestação do poder de Jesus sobre os elementos transforma o medo em temor de Deus: os discípulos não têm ainda claro quem é Jesus e só intuem que há nele algo que os enche de espanto.

2 Sm 12,1-7.10-17 (Natã repreende Davi; O arrependimento de Davi; A morte do filho de Betsabeia) Após haver levado Urias à morte, David tomou a Betsabé como mulher. Porém o Senhor não deixa impune o delito e envia o profeta Natã para que mova o coração do rei à conversão. Natã lhe conta a célebre parábola do homem rico que toma para si a única ovelhinha do vizinho (vv.1-4). Davi é um rei justo e pronuncia com indignação a imediata condenação do homem: deve morrer (v.5). Porém se produz, então, o giro dramático do relato: Natã não se demora mais em relatos simbólicos, mas agora fala com dura clareza: «Esse homem és tu!» (v.7). A palavra do profeta obtêm o efeito para o qual fora pronunciada: Davi reconhece seu pecado e a oração de arrependimento que brota de seu coração encontra sua expressão no salmo 50. Contudo, o drama não fora concluído. Davi não é rejeitado pelo Senhor, que se mantém fiel à promessa de não afastar-se dele como havia se afastado de Saul; sem dúvida, chega a punição, uma punição terrível que Davi padece impotente e prostrado a dor: o menino, fruto do adultério, adoece e morre.

Salmo 50/51 (Ver dia anterior)

 

 

MEDITATIO A pergunta sobre a identidade de Jesus é uma constante no evangelho de Marcos (cf. Mc 1,27).      A familiaridade com Ele não facilita muito as coisas aos discípulos; mais ainda, habituar-se a tê-lo como companheiro de caminho, tomá-lo com eles em sua própria barca, pode gerar a ilusão de haver-se apoderado dele. Porém, a inesperada tempestade supõe para eles um brusco despertar, um despertar que põe em crise a confiança no Mestre, e quase ouvimos a decepção em suas vozes: «Não te importa que pereçamos?». Quantas vezes nos sentimos tranquilos, ao amparo de nossas comunidades bem organizadas, protegidas pela assiduidade aos ritos e tranquilizados por leituras edificantes. Inclusive quando nos aventuramos a sair ao exterior, cremos seguir tendo conosco o Senhor, ainda que, na realidade, não nos fiamos totalmente nele: à primeira adversidade, aos primeiros fracassos, o reprovamos acusando de haver nos abandonado. A fragilidade, a incerteza, a dúvida, nos parece que são só dos outros: nós conhecemos bem o catecismo, que saída! Sem dúvida, também trememos apenas se levanta o vento: somos nós os discípulos desconcertados e temerosos, somos nós Davi o pecador. «Esse homem és tu!», diz também a nós o profeta.

ORATIO Socorre nossa fragilidade, Senhor, e humilha nosso orgulho. Abre os nossos olhos para que reconheçamos o nosso pecado. Jactamo-nos ante os outros, como se o dom de fazer parte de teu rebanho fosse uma garantia e não uma graça imerecida. Ajuda-nos a compreender que o conhecimento de teu Evangelho é um dom que devemos comunicar aos outros, e não uma possessão que devemos guardar zelosamente. Sustenta-nos nas provas, para que não caiamos na tentação de considerar o mal como uma negação de tua bondade. Acusamos com frequência de estar longe, de não ver nem ouvír nossos lamentos; merecemos tuas reprovações muito mais que teus discípulos: «Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?». Não és Tu que dorme, Senhor. Somos nós que não conseguimos ver-te. Perdoa-nos e tende piedade de nossa pouca fé.

CONTEMPLATIO È bom não cair, ou melhor, cair e voltar a levantar-se. E se chegamos a cair, é bom não desesperar-se e não nos tornarmos estranhos ao amor que tem o Soberano pelo homem. Se quer, pode ter, com efeito, misericórdia de nossa debilidade Tão só temos de limitar-nos a não distanciar-nos dele, a não sentir-nos angustiados se nos sentimos forçados pelos mandamentos, e não temos de sentir-nos abatidos se não chegamos a nada. […] Não devemos ter presa nem retirar-nos, mas voltar a começar sempre de novo. […] Espera nele, e Ele terá misericórdia de ti, vem com a conversão, vem com provas, vem com qualquer outra providência que ignoras (Pedro Damasceno, La filocalia de la oración de Jesús, Sígueme).


ACTIO Repite con frecuencia y vive hoy la Palabra:

«Davi disse: “Pequei contra o Senhor» (2 Sm 12,13)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL [A história de Davi] cheia de sensatez, não é distante para nós, porque Davi é um grande modelo para todos os tempos. Nos ensina como, a partir de pequenas desatenções pode entrar o homem em graves dificuldades, e se não mantêm o olhar fixo em Deus cai em erros cada vez maiores para cobrir os precedentes. Deus, sem dúvida, é rico em misericórdia e intervêm para ajudar-nos a voltar a encontrar o melhor de nós, a voltar a encontrar o que o Espírito tem posto como dom em nosso coração: o amor à verdade, à justiça, à lealdade. Reconhecemos em Davi porque em cada um de nós está o coração malvado do que procede a desordem. Por isso nos convidam o Salmo 50 e o relato do segundo livro de Samuel a refletir seriamente nisto: não podemos presumir de estar isentos da culpa só porque não somos reis ou não temos o poder de Davi. É nossa condição humana a que se encontra em um destino de desordem e, por isso, corre o risco de converter-nos, ao menos nas pequenas circunstâncias, em prisioneiros de nós mesmos, incapazes de reconhecer-nos e de confessar-nos pecadores. Só a graça de Deus, continuamente invocada e acolhida, volta a pôr-nos cada dia na verdade. [Reflitamos] sobre todo o contexto da história de Betsabéia e de Urias, perguntando-nos na nossa oração por que os livros sagrados quiseram contar tais acontecimentos e dar tanto espaço à descrição deste pecado de Davi e tanta importância à sucessão (cf. 1 Rs). Só assim nos será possível compreender a figura de Davi em todo seu significado e, em consequência, compreender a história da salvação, compreender que no rosto de Cristo resplandecem a luz de Deus e a esperança dos homens (C. M. Martini, David, pecador y creyente, Editorial Sal Terrae, Santander).

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Autores: Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

 

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