Lectio Divina na 5ª Semana da Páscoa, ano 2020

COMUNIDADE CATÓLICA PAZ E BEM – LECTIO DIVINA DE 10 A 16 DE MAIO DE 2020

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DOMINGO, 10 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 14,1-12 (A despedida) – Trata-se de um texto tomado dos «discursos de despedida» que Jesus Cristo dirigiu aos seus discípulos durante a última ceia; palavras que, agora, se dirigem à Igreja. O clima está carregado de dolorosa surpresa pelo anúncio da traição de um dos apóstolos e da tríplice negação de Simão Pedro e, ao mesmo tempo, invadido por um atormentado afeto por causa da iminente separação. Daí que Jesus Cristo console os seus discípulos convidando-os a que tenham uma fé maior (v.1), não só em Deus, mas, também, nele, que é o Filho amado de Deus. O seu «êxodo», Ele tem de passar, certamente, através da morte e da descida aos infernos, porém, terá como meta a «casa do Pai». E, precisamente, nela, Jesus se detém, agora. Também é possível fazer frente ao caminho da paixão com o olhar fixo no céu. Ele «se vai», porém sua partida não é definitiva; vai para preparar «um lugar» para eles (v.2). Desta maneira explica o sentido de sua morte de cruz e anuncia, ao mesmo tempo, seu retorno, aludin­do: tanto à ressurreição que, para os crentes, já é, desde agora, antecipação da vida eterna; como à paru­sia, ou seja, o retorno glorioso ao final dos tempos. Contudo, o discurso de Cristo continua obscuro para os discípulos, e suas perguntas iniciam um diálogo que nos oferece revelações significativas, da parte de Jesus. No v.7, por exemplo, Jesus afirma sua unidade perfeita com o Pai, até o ponto de que: ver a Jesus é ver a Deus. Foi Deus quem o enviou e Jesus lhe obedece em tudo (v.10b), o que lhe permite revelá-lo de um modo completamente transparente. Suas «obras» dão testemunho disso (v.11). Da mesma maneira, quem crer nele participará de seu mesmo poder divino e, assim, se tornará manifesta a plena reconciliação acontecida entre o céu e a terra.

 

 

At 6,1-7 (Instituição dos sete) – O quadro ideal da primeira comunidade cristã apresentado por Lucas, no livro dos Atos, dá a impressão que ficou manchado por tintas mais obscuras, devido o episódio de Ananias e Safira (5,1-11) e o dissabor dos helenistas devido certo descuido na distribuição de bens aos pobres. Mas, estes fatos nos ajudam a compreender a verdadeira natureza da Igreja, de ontem e de hoje, que nem está livre das penas nem se compõe de santos. A comunhão que se busca, nela, de modo constante; e o bem, ao qual ten­de; são resultado de um caminho não isento de problemas e dificuldades, enfrentados e superados mediante uma co­laboração cotidiana e paciente, deixando-se guiar pelo Espírito Santo, que conduz a todos para a unidade perfeita através da multiplicidade dos carismas e dos mi­nistérios (çf. Ef 4,11-13). No texto que nos apresenta a liturgia de hoje se pode perceber o resultado da atenção outorgada pelos doze às questões expostas por um grupo de discípulos. O fato tem uma importância fundamen­tal: não só para que a dificuldade não se torne motivo de desencontro e de divisão, mas que leva os cristãos a tomar uma maior consciência de seu próprio papel na sociedade e a encontrar soluções novas para poder fazer-se «tudo com todos». Pondo-se à humilde es­cuta do Espírito Santo recebem luz para estabelecer uma pri­meira diferenciação nos serviços eclesiais. Os doze examinam o problema, convocam todos os discípulos e propõem uma solução (vv.2-4), que é aprovada e entra em vigor. Com tudo isso, se manifesta que a Igreja é uma realidade viva, em contínuo crescimento. Nesta nova situação, os apóstolos sabem discernir qual deve ser sua tarefa insubstituível: presidir a oração, transmitir, com fidelidade, os ensinamentos de Jesus, orien­tar à comunidade para que eleja, de maneira responsável, em seu seio, homens adequados (“de boa re­putação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”), para exercer um serviço caritativo, que não exclua a ninguém e difunda, por todas as partes, o bom perfume de Cristo. O versículo com o qual conclui a passagem quase parece sua coroação: a sábia articulação dos serviços no interior da Igreja tem como resultado a difusão da Palavra de Deus e o incremento massivo da comu­nidade cristã com novas e inesperadas conversões.

 

1 Pe 2,4-9 (O novo sacerdócio) – O tema da santidade, vocação própria de todos, compromisso irrevogável do batizado, é tema central na 1ª car­ta de Pedro. Após ter tratado o assunto desde o pon­to de vista espiritual (1,13-21) e prático (1,22-2,1), o apóstolo fixa, agora, sua atenção no ponto fundamental. Santidade não é sinônimo de «boa conduta», nem tampouco, simplesmente, de «luta contra o pecado», mas, de vida em Jesus Cristo, fonte da «perfeição», caminho que conduz a ela. O autor, para explicar seu pensamento, se serve de numerosas referências bíblicas e, em particular, se refere à imagem da «pedra angular», que aparece com diferentes matizes de significado em ls 28,16 e 8,14s, assim como no Sl 118, 22. Jesus Cristo ressuscitado é a pedra viva, preciosa, sobre a qual todos os que aderem a Ele são edificados como outras tantas pedras vivas, para formar um único templo espiritual, no qual mora Deus. Assim é como se constitui a no­va comunidade do novo e autêntico êxodo (v.5b; Ex 19,5s). Esta, em seu conjunto, se apresenta como um organismo sacerdotal, no qual cada membro está chamado a ofere­cer a Deus sacrifícios espirituais, graças à mediação de Jesus Cristo, sacerdote eterno, que imolou a si mesmo para a salvação do homem. Unido a Ele, o povo dos crentes, adquirido a um preço elevado, não só leva uma vida que tem como horizonte o céu, mas se converte, por sua vez, em cooperador da sal­vação «para anunciar as grandezas» anunciadas por Jesus Cristo. Por Jesus Cristo, que exerce seu sacerdócio, quer seja como serviço cultual na liturgia de louvor a Deus, quer seja como serviço da Palavra, anúncio do Evangelho, apoiado pelo testemunho eficaz de uma vida arrancada das trevas do pecado, para tornar-se radiante, pela admirável luz de Deus.

 

Salmo 32/33 (Hino à providência) – A grande diferença entre o nosso Deus vivo de Israel e os outros “deuses” é que o nosso vê, contempla e sente-se envolvido no processo de sua libertação. O Senhor viu o sofrimento e ouvi os gritos do seu povo, por isso decidiu libertá-los. Não é um Deus estranho ou que se esconde, sendo oposto aos “deuses”, que não estão preocupados conosco e brigam entre eles para ter a primazia e o poder. Como é bom saber que Deus nos vê, nos contempla e participa tanto de nossa história a ponto de enviar o seu único Filho para morrer por nós.

Senhor, olha em cada momento para mim a fim de que a tua graça e a tua força me sustentem, e que eu nunca me deixe seduzir pelas riquezas, pelo poder, pela violência, mas em cada momento viva o dom do seu amor sob o teu olhar misericordioso. Amém.

 

 

MEDITATIO: Jesus se manifesta como “caminho, verdade e vida” e se entrega a nós, a fim de que possamos alcançar a verdadeira e plena liberdade, oferecida, aos filhos de Deus, para entrar na herança eterna. Dirige-se, a nós, interro­gando-nos sobre a profundidade de nossa relação com Ele. É possível, com efeito, ser cristão, comungar, parti­cipar em todas as peregrinações e em todas as inicia­tivas e, entretanto, não chegar nunca a conhecer a Jesus, permanecendo, sempre, na superfície. Conhecer a Jesus significa, bem mais, experimentá-lo interiormente, reconhecer que Ele é o Filho enviado pelo Pai para salvar-nos, a expressão do amor infinito de Deus por nós. Tudo isso só é possível mediante a fé. Crer é confiar. Não é compreender racionalmente; é acolher, dar crédito, encontrar-se com o Senhor e considerá-lo, em verdade, como aquele que move as fibras de nossa vida e dispõe o desenvolvimento de todos os acon­tecimentos. Até que não cheguemos a esta experiência de comunhão, quer dizer, de abandono, de nós mes­mos, naquele que nos incorporou a si mesmo no Batismo, não poderemos dizer que conhecemos, plena­mente, a Jesus e, nele, ao Pai. Mas, para isto, nos foi dado o Espírito Santo. Ele nos permite ca­minhar pela trilha de Deus, seguros de que Ele dispõe tudo para o nosso bem.

 

ORATIO: Senhor Jesus, bom Mestre. Nosso coração se mos­tra frequentemente inquieto, por todo o mal que há no mundo e por nossas próprias debilidades, pelas traições e negações que nos consideramos capazes. Aumenta nossa fé em ti, e no Pai que nos revelaste. Tu és o caminho: faz que te sigamos. Tu és a verdade: faz que te conheçamos. Tu és a vida: faz que vivamos em ti para ver ao Pai e glorificar teu santo nome ante todos os homens.

 

CONTEMPLATIO: Nós te seguimos, ó Senhor; porém, és tu que nos chama para que possamos seguir-te. Ninguém pode subir sem ti. Tu és o caminho, a verdade, a vida, a possibilidade, a fé, o prêmio. Acolhe aos teus: tu és o caminho. Confirma-os: tu és a verdade. Reaviva-os: tu és a vida. Admite-os àquele bem que desejava ver Davi, ha­bitando na casa do Pai, quando se perguntava: «Quem nos mostrará o bem?», e dizia: «Creio que verei os bens do Senhor no país da vida». Os bens se encontram ali onde está vida eterna, a vida sem culpa. Abre-nos o coração ao verdadeiro bem, a teu bem divino, “no qual existimos, vivemos e nos movemos». Movemo-nos se andamos pelo caminho; existimos se permanecemos na verdade; vivemos se estamos na vida. Mostra-nos o bem inalterável, único, imutável, no qual possamos ser eternos e conhecer todo bem: nesse bem se encontra a paz serena, a luz imortal, a graça perene, a santa herança das almas, a tranquili­dade sem inquietude, não destinada a perecer, mas que foi subtraída à morte: ali onde não há lágrimas nem mora o pranto (pode haver pranto onde não há pecado?); ali onde são libertados, teus santos, dos erros e das inquietudes, do temor e da ânsia, das cobiças, de toda a mesquinhez e de todo afã corporal; ali onde se estende a terra dos vivos (Santo Ambrosio, De bono mortis).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Não se inquiete vosso coração” (Jo 14,1)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Faz alguns anos, um homem de Deus que me guiava então me enviou uma mensagem que me assustou muito: “Seja sempre fiel a Deus na observação de suas promessas e não se preocupe das zombarias dos insípidos. Saiba que os santos sempre foram alvos da zombaria do mundo e dos mundanos e têm sido pisoteados pelo mundo e suas máximas. O campo da luta entre Deus e Satanás é a alma humana, onde se desenvolve esta luta em todos os momentos da vida. Para vencer a inimigos tão poderosos, é preciso que a alma dê livre acesso ao Senhor e seja fortalecida por Ele com toda sorte de armas, que sua luz a irradie para combater contra as trevas do erro, que se revista de Cristo, de sua verdade e justiça, do escudo da fé, da Palavra de Deus. Para revestir-nos de Cristo é preciso que morramos a nós mesmos. Estou seguro de que nossa Mãe celestial o acompanhará passo a passo”. Estava eu confuso, minha mente dava voltas, fixava-me nestes pensamentos sem chegar a nenhuma conclusão. Passou depois outro trecho de vida e compreendi que morrer a nós mesmos é fazer-nos viver a nós mesmos. Caio em conta de que os momentos da vida plena são aqueles em que sinto a tentação de fazer viver em mim a Deus e sua vontade. Ao final tenho compreendido que abandonar-me a Deus não significa haver superado todos os meus problemas, mas querer, verdadeiramente, com todo o meu ser, que Ele possa operar em mim e possa encontrar em mim uma plena colaboração. Ao ler agora de novo esta carta, cada palavra toma um valor diferente e, contrariamente há alguns anos, me animo a continuar por este caminho (E. Olivero).

 

 

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 14,21-26 (A despedida) – O centro de interesse deste texto é a auto revelação de Jesus, devido a pergunta de Judas, irmão de Tiago. O Mestre havia anunciado, anteriormente, aos discípulos, que já se havia manifestado a eles, ainda que de um modo espiritual. Entretanto, essas palavras não haviam sido compreendidas pelos seus, que pensavam em uma manifestação gloriosa e messiânica diante de todos. Jesus se serve da pergunta do apóstolo (v.22) para expor de novo o tema da presença de Deus na vida do crente (v.23). Só quem ama está em condições de observar a Palavra de Jesus e de acolher sua manifestação espiritual e interior. E quem observa esta Palavra (=mandamentos) será amado por Ele e pelo Pai. Mais ainda, quem mostre amor a Jesus receberá em sua própria intimidade a presença do mesmo: Jesus habitará em seu coração, junto com o Pai e o Espírito. Esta manifestação do Senhor é espiritual, identifica-se com a presença de Cristo na alma de quem vive de modo conforme a sua Palavra. Esta presença interior de Jesus constitui a “escatologia realizada” entre Deus e os homens. A permanência da Trindade no crente está, pois, condicionada, não tanto por Deus como por nós mesmos: amar a Jesus e observar sua Palavra. Em troca, quem não ama nem pratica os mandamentos não pode fazer parte desta vida de Deus (v.24). Neste ponto do colóquio, Jesus, lançando um olhar retrospectivo a toda a sua missão de revelador, estabelece uma distinção entre seu ensinamento e o do Espírito (vv.25s): o tempo de Cristo leva, em si, a verdade, porque Jesus é “a verdade” (14,6); o tempo do Espírito a ilumina e a faz penetrar no coração dos crentes, porque “o Espírito é a verdade” (1Jo 5,6).

 

 

At 14,5-18 (Evangelização em Icônio; A cura de um aleijado) – Estamos, de novo, ante um episódio de cura, que continua o paralelismo entre os “atos de Pedro” e os de Paulo (a referência à cura do paralítico na porta “Formosa” é evidente). Lucas usa aqui, como em outros lugares, o verbo “salvar” no sentido de “curar”, tal como recolhe a tradução que apresentamos. A reação do público, em troca, é nova. Enquanto a reação normal a um milagre entre os judeus era de dar glória a Deus (cf. 4,21), aqui, entre os pagãos, se dá glória aos homens. Havia uma antiga lenda, bem popular, em um povoado, não muito distante de Listra, referente a Filemón e a Baucis, dois agricultores que, segundo a lenda, deram hospitalidade a Zeus e Hermes. Registrada por Ovídio, devia ser muito conhecida na região. As honras tributadas aos dois diziam ser, também, pela preocupação de não cair no duro castigo que impuseram os deuses, aos que não os acolhessem. Hermes era venerado, além do mais, como deus da saúde; e Paulo havia curado o paralítico. Havia, portanto, mais que um motivo para honrar, como é devido, aos dois extraordinários personagens. O discurso que segue, a seguir, reflete uma situação de emergência e desconcerto. Porém, é importante, porque se trata do primeiro discurso dirigido aos pagãos. Não se citam as Escrituras, porém, sim, aparece um convite explícito a abandonar os ídolos e converter-se ao Deus vivo e verdadeiro, criador de tudo. É provável que se trate da argumentação típica empregada pelos evangelizadores com respeito aos pagãos, uma argumentação que já havia feito muitos prosélitos entre eles. Estamos diante de um exemplo de aculturação e de adaptação à situação. O fato de que Barnabé e Paulo rasguem suas vestes e reajam com espanto pode servir de reflexão para os que não desprezam as fáceis honras e os falsos reconhecimentos por méritos apostólicos.

 

Salmo 113B/115 (O único Deus verdadeiro) – Este Salmo é importantíssimo para a nossa vida cotidiana, pessoal e litúrgica. É com ele que se inicia o pequeno grupo de Salmos chamado hallet, isto é, “louvai Javé” (Sl 113-118). A palavra aleluia, que expressa toda a nossa alegria ao louvar o Senhor, aparece com destaque nesses Salmos, que eram cantados durante e após a Páscoa. A palavra-chave para este momento não é “pedir”, mas sim “louvar”. Todos nós somos convidados a louvar o Senhor, mesmo que seja no silêncio de nosso coração. Jesus cantará a sua aleluia na ceia pascal e firmará com seu sangue a nova e eterna aliança indestrutível. Hoje, na nova aliança, sobe a Deus um louvor novo, que é a Eucaristia.

Senhor, quero cantar a minha aleluia silenciosamente, sem rumor, no fundo do meu coração. Às vezes não sei como expressar a minha alegria por viver e por ser teu para sempre, marcado pela força do sacramento do batismo, inserido em Cristo, videira e purificado, podado pela tua mão sábia, para que possa produzir frutos abundantes. Vejo-me às vezes como uma árvore decorativa, mas que não dá fruto. Quero, Senhor, hoje contemplar o Cristo, eterno sacerdote que celebra a nova Páscoa, que se entrega por nós e nos dá o mandamento novo do amor. Que eu possa amar cada vez mais a Eucaristia. Páscoa nova e, alimentando-me de Cristo, possa ser capaz de produzir os frutos abundantes do teu amor na tua Igreja, na comunidade, na família, onde eu estiver. Arranca de mim a esterilidade apostólica e torna-me fecundo pastoralmente, capaz de anunciar o Evangelho vivo a todos que encontro na minha vida. Que o meu coração não exclua ninguém do meu amor e do teu amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: Em tempos não remotos, a permanência da Trindade em nós era um tema bastante cativante aos cristãos mais atentos às realidades da fé. Hoje, ao menos assim o parece, o é um pouco menos. Sem dúvida, uma vida “habitada por Deus” é muito distinta de uma vida deserta, abandonada a si mesma, condenada a esgotar-se nos limites da criatura. Minha vida foi visitada por Deus, Ele habita em meu interior mais profundo. Ele é o doce hóspede de minha alma: “Viremos a Ele e viveremos nele”. Como é possível viver uma vida trivial tendo como hóspede a Trindade? Como é possível não assombrar-se com esta verdade, com esta extraordinária realidade que nos arrebata da solidão, exalta a dignidade da existência, enche de estupor; dá luz à tonalidade envelhecida de nossa vida cotidiana, submerge no mundo divino, faz familiar a existência com Deus, não cessa de assombrar e de maravilhar, desloca o centro de interesse de toda a aventura terrena, colore de sentido toda ação? Como não ficar sobressaltado de alegria frente a este ser mortal feito templo da Trindade imortal, frente a este corpo corruptível feito santo e incorruptível pela intimidade com seu Criador?

 

ORATIO: Como é possível que, no geral, viva eu como se estivesse distante? Como é possível que te busque fora de mim, que me esqueça de que estais comigo, dentro de mim. Ó Senhor, perdoai minha cegueira e distração. Perdoa meu pouco amor, que impede buscar-te ali onde tu queres ser encontrado. Perdoa-me, porque encho, em ocasiões, meu coração, de pessoas, ou coisas, que não deixam lugar para ti. Perdoa-me todas as vezes que me lamento por minha solidão, como se houvesses me deixado só. Ó Senhor, faz-me voltar, como tu sabes fazê-lo, à interioridade, a tua presença dentro de mim. Ajuda-me a afastar o que ocupa o lugar que tu reservaste para ti no mais intimo de mim. Purifica meu coração, para que possa ver-te presente em minha vida, operante, tranquilizador, indispensável. Reforça, ó Senhor, meu coração, para que possa ver-te e sentir-te, para que possa travar contigo um diálogo de amor, e viver contigo uma história de amor destinada a não acabar nunca.

 

CONTEMPLATIO: Ó Deus meu, Trindade que eu adoro, ajuda-me a esquecer-me de mim por completo para estabelecer-me em ti, imóvel e aprazível, como se minha alma já estivesse na eternidade; que nada possa turbar minha paz, nem fazer-me sair de ti, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundidade de teu mistério. Pacifica minha alma, faz nela teu céu, tua morada amada e lugar de teu repouso; que eu não te deixe, nela, nunca, só; que eu esteja em ti, inteiramente. Desperta em mim toda a fé, toda adoração, entregue, por completo, a tua ação criadora. (Elizabeth da Trindade).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Viremos para Ele e viveremos nele» (Jo 14,23)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Ó Verbo eterno, Palavra de meu Deus, quero passar toda a minha vida escutando-te, quero converter-me, totalmente, em desejo de saber, para aprender tudo de ti; e, depois, apesar de todas as noites, de todos os vazios, e de todas as impotências, quero fitar-te sempre e permanecer sob tua grande luz. Ó meu Astro amado, fascina-me, para que eu já não possa sair de teu resplendor. Ó Fogo que consome, ó Espírito de amor, vem a mim, para que se produza em minha alma, como uma encarnação do Verbo; que eu seja uma humanidade incorporada, na qual Ele renove todo seu mistério. E Tu, Pai, inclina-te sobre tua pobre e pequena criatura, cobre-a com tua sombra, não vejas, nela, mais que ao Bem amado, no qual Tu puseste todas tuas complacências. Ó meus “Três”, meu Tudo, meu Bem-aventurado, Solidão infinita, Imensidão em que me perco; entrego-me a ti como uma presa. Encerra-te em mim para que eu me encerre em ti, enquanto espero ir a contemplar, em tua luz, o abismo de tua grandeza (Elizabeth da Trindade).

 

TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 14,27-31a (A despedida) – Esta passagem que conclui o primeiro colóquio de Jesus com os seus, é um texto composto, e contém palavras de despedida e de consolo por parte do Mestre, que deixa sua comunidade e volta ao Pai. Jesus, ao despedir-se dos seus, lhes deseja a «paz», o shalom, que é o conjunto dos bens messiânicos, um dom que vem de Deus e que Jesus possui. O motivo do consolo deve prevalecer sobre o temor e a inquietude: Ele, Jesus, é a paz. Por isso Jesus acrescenta uma exortação à alegria. Ainda que estejam tristes pelo afastamento e o temor de ficarem sozinhos, a separação dos discípulos com respeito a Jesus é o passo para um bem melhor. Jesus vai ao Pai “‘porque o Pai é maior» que Ele, é a plenitude de sua glória (v.28). Mas a volta do Filho ao Pai está unida de maneira inseparável ao escândalo da cruz. Je­sus, com as pregações que tem feito sobre sua morte próxima, não só pretende sustentar a fé dos discípulos no momento da paixão, mas quer mostrar que os fatos que vão acontecer fazem parte do projeto de Deus. Em consequência, os seus não deverão desanimar: a fé será sua força e seu único consolo. O tempo terreno do Mestre está agora a ponto de concluir, restam poucos momentos para conversar ainda com seus discípulos, «porque se aproxima o príncipe deste mundo» (v.30). Ainda que se aproxime Satanás, não tem nenhum poder sobre Jesus. Este não tem pecado e Satanás não tem possibilidade de atacar-lhe. A vida de Jesus está sob o sinal da vontade do Pai e se entrega livremente à morte na cruz para que o homem conheça a verdade.

 

 

At 14,19-28 (Fim da missão) – Após outro perigosíssimo episódio de intolerância, resolvido sem tragédia, pois «seus discípu­los o rodearam», Paulo, agora protagonista, com Barnabé, toma o caminho de volta e visita as comu­nidades recém-fundadas. Trata-se de uma «visita pastoral», onde ambos confortam os fieis e põem as bases de uma organização eclesiástica. Continuidade garantida pela con­sciência do elevado valor do Reino de Deus: para entrar no Reino «temos» que passar por muitas tribulações. Uma continuidade garantida pela pre­sença de responsáveis que creem no Senhor e foram confiados a Ele. Os evangelizadores passam; o Evan­gelho deve ser levado continuamente adiante por novos evangelizadores e pastores. Esta preocupação pelo futuro da comunidade não pode diminuir nun­ca na Igreja, tampouco em nossos dias. A viagem de volta está traçada com rápidas pinceladas. Chegados à igreja de onde haviam partido, narraram os abundantes frutos da mis­são, sobretudo a confirmação de que Deus «havia aberto, aos pagãos, a porta da fé” (v.27). O ca­minho aos pagãos parece agora irreversível, e em Antioquia, cidade aberta à missão universal, é algo que parece óbvio e pacífico. Mas não acontece assim em to­dos os lugares. A parte menos dinâmica da Igreja mãe não pensa do mesmo modo. Este dado anuncia novas nuvens carregadas, mas também de clarificações decisivas.

 

Salmo 144/145 (Louvor ao Rei Yahweh) Quando se deseja rezar, já se está rezando. Por isso, o apóstolo Paulo, nos recorda sabiamente que quer você coma, beba, durma ou faça qualquer outra coisa, que tudo seja feito para honra e glória de Deus. Segundo São João da Cruz: “o amado sempre pensa na amada e a amada no amado”. Deus quer que a nossa oração seja sincera, forte e corajosa, mesmo nas dificuldades. O orante do nosso Salmo sente-se sofrido, abandonado, mas também sente um grande desejo de louvar e bendizer a Deus por muitos motivos que surgem em seu coração. Rezar não significa sair da realidade, abandonar as nossas atividades e ficar o dia todo rezando ave-maria e pai-nosso. Há, sim, momentos de profunda oração, mas na maior parte do tempo devemos assumir atitudes orantes, isto é, fazer tudo com reta intenção e com amor profundo. Não esqueça, porém, de encontrar diariamente, como verdadeiro apaixonado e amante de Deus, momentos de silêncio e solidão para estar a “sós com o Só”, que é o Senhor.

Senhor, quero te rezar e louvar por tudo o que acontece na minha vida. Tu és força e refúgio. Quero a cada momento me lembrar de ti, da tua presença e do teu profundo amor. Que do meu coração subam louvores e ações de graça a todo o momento. Que a minha oração seja como o perfume agradável do incenso que sobe até a ti, que sejam rápidas orações, jaculatórias, pensamentos, flechadas de amor que lanço para o céu. Que todo o meu respiro seja louvor a ti. Que nada te ofenda em mim e nos outros. Temos contemplado a bondade de Deus em Jesus, nosso Senhor, que também viveu sempre em comunhão com o Pai. “E agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha, antes de ti, antes que o mundo existisse. Manifestei o teu amor aos homens que, do mundo, me deste. Eles eram teus e tu os deste a mim; e eles guardaram a tua palavra. Agora, eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles a acolheram; e reconheceram verdadeiramente que eu saí de junto de ti e creram que tu me enviaste”. (Jo 17,5-8).

 

 

MEDITATIO: O Senhor derramou a paz em teu coração: Ele está presente dentro de ti, com o Pai e o Espírito Santo. Isso não pode mais que dar-te um sentido de segurança e força: Se Deus está contigo, quem estará contra ti? Sem dúvida, com frequência estás inquieto e atemoriza­do: o mundo se mostra ameaçante, as paixões não dão trégua, tudo parece desenrolar-se «como se Deus não existisse», e Deus cala dentro de ti, brinca de esconder-se, não responde. Então teu coração se espanta, te assalta a dúvida e tua paz fica assediada, quando não se esvai. Agora é quando deves recordar que Deus está pre­sente na luz obscura da fé, que tens de exercitar a fé nestes momentos para ouvir aquilo que não ouves, para ver aquilo que não vês, para aferrar-te a um amparo que tens de buscar no nevoeiro. É, de fato, a fé o que está na base da paz, que, de fato procede da comunhão com Deus. Fé no Deus já presente, mas não possuído ainda em plenitude; fé que amadurece no tempo da ausência do Esposo; fé que se aperfeiçoa na busca do Esposo; fé que se purifica através dos acontecimentos mais duros e atrozes. A paz procede de um olhar de fé sobre a realidade de um Deus presente, ainda que buscado por um coração ferido pelo sentimento de sua ausência. A paz vem quando se compreende e se aceita o misté­rio da ausência de Deus também em sua presença, em seu silêncio, no sofrimento e no mistério da cruz como momento mais elevado do amor de Deus e do testemunho de teu amor por Ele.

 

ORATIO: Como busco a paz, Senhor, e quantas vezes a busco! Sem dúvida, devo admitir que nem sempre a busco onde se encontra. Também eu busco, em suma, a paz como o mundo a busca: longe da cruz, fugindo de quem me perturba, evitando os que me fazem perder a paciência, esqui­vando as moléstias e fechando os olhos antes os sofri­mentos dos outros. Como vou poder viver em paz se não me defendo um pouco dos outros? E como vou vi­ver em paz se não me concedo alguma satisfação? Como se pode viver em paz estando sempre submetido à pre­ssão? Tudo são tentações, o sabes, ó Senhor. Tentações que desviam meu olhar de ti, fonte de minha paz; que me fazem esquecer tuas palavras construtoras de uma paz sólida e tenaz. Vence, Senhor, estas minhas tentações! Faz ouvir tua voz no meu coração perturbado e ensina-me teus caminhos, que con­duzem à tua paz, a minha paz…

 

CONTEMPLATIO: Quando o Senhor afirma: «Vos dou minha paz, não como a dá o mundo», que devemos entender, senão que Ele não nos dá a paz do mesmo modo como dão os que amam o mundo? Esses, de fato, se põem de acordo para fazer a paz entre eles, com o fim de gozar, não de Deus, mas dos prazeres que o mundo dá a seus amigos, apesar de todo conflito e de toda guerra. E se também concedem paz aos justos, no sentido de que deixam de persegui-los, não se trata ainda da verdadeira paz, enquanto não é uma concórdia real, porque estão desunidos os corações. Do mesmo modo que se disse com sorte a quem une sua sorte à tua, só quando os corações estão unidos se pode falar de concórdia (Santo Agostinho, Co­mentaria ai evangelio de Juan, 77,5).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Deixo-vos a minha paz; que não se inquiete o vosso coração» (cf. Jo 14,27)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Encontra-te sempre ante a alternativa de deixar falar a Deus ou deixar gritar o teu “eu” ferido. Ainda que deva haver um lugar onde possas deixar que a parte ferida de ti obtenha a atenção que necessita, tua vocação é falar do lugar onde Deus habita em ti. Quando permites que teu “eu” ferido se expresse, em forma de justificações, disputas ou lamentos, só consegues frustrar-te ainda mais e te sentirás cada vez mais rejeitado. Reclama a Deus em ti e deixa que Deus pronuncie palavras de perdão, de cura e de reconciliação, palavras que chamem à obediência, ao compromisso radical e ao serviço. Muito tempo se requer, e muita paciência, para distinguir entre a voz de Deus, na medida em que vai sendo mais fiel a tua vocação se tornará mais fácil. Não se desespere: hás de preparar-te para uma missão que será difícil, porém fecunda (H. J. M. Nouwen, La você dell’amore, Brescia, 1997,113s).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 15,1-8 (A verdadeira figueira) – São Mateus começa o relato dos «atos» da vida terrena de Jesus como um dos habitantes de Nazaré: “De onde lhe vem essa Sabedoria e esses poderes milagrosos?” (v.54b). Acaso não é só «o filho do carpinteiro» (v.55a)? A palavra «carpinteiro» (itektón) aparece unicamente em Mc 6,3 e Mt 13,55, em todo o Novo Testamento. No texto de Marcos o termo se aplica a Jesus: é a única passagem bíblica na qual se menciona o ofício exercido por Jesus. No segundo texto, o de Mateus – que é o que nos propõe hoje a liturgia para nossa meditação – o termo se aplica a José. Em Mc 6,3, os atônitos judeus presentes na sinagoga de Nazaré reagem com uma pergunta retórica: «Não é este o carpinteiro?». Mateus, por sua vez, talvez por sua veneração a Jesus convertido quase em objeto de escárnio com esta pergunta irreverente, muda a mesma pergunta por esta outra: «Não é este o filho do carpinteiro?», transferindo o ofício à figura de José.

 

 

Gn 1,26–2,3 (A criação do homem) – Qual é a missão que Deus confia ao homem? O relato do Gênesis apresenta a criação do homem como o ponto culminante de toda a criação. Este possui uma característica singular e única: é o único ser criado «a imagem de Deus». O Deus invisível se reflete no rosto frágil do homem. Homem e mulher são imagens de Deus, como sugere o texto claramente: “A imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou” (1,27). Do mesmo modo que Deus é Mistério de comunhão pessoal de amor, assim o homem é amor, é capacidade de relação, de comunhão interpessoal. Além disto, segundo o autor sagrado, o homem é sobretudo «imagem de Deus» por sua autoridade sobre o universo, por sua inteligência criadora, à semelhança da inteligência divina, com a qual foi capacitado para dominar a natureza, desenvolvê-la e transformá-la. Este é o ponto que melhor justifica o tema da jornada de hoje: o homem como operário de Deus por meio de sua inteligência, chamado a continuar o que Ele começou com suas próprias mãos.

 

Sl 89/90 (Fragilidade do homem) – Com uma meditação cheia de realismo, o salmista olha ao seu redor e percebe que muitos amigos já partiram; diante desta constatação, realiza uma súplica, motivado pela brevidade da vida. O medo da morte penetra em nossos corações quando percebemos que, com o passar dos anos, tornamo-nos mais fracos e sem forças. Que fazer diante dessa dura realidade? O desespero apenas nos bloqueia e nos faz perder a esperança e a vida. Acreditar que não morreremos seria um otimismo vazio e inútil, é necessário encarar a realidade e perceber que diante de Deus não há tempo; mil anos são como um dia e um dia como mil anos. O que vale é viver a vida que nos foi dada com amor e generosidade, sendo em tudo atentos aos apelos do Senhor. Deus eterno não nos abandona nem por um minuto e sacia a cada manhã o nosso coração com seu amor. Por isso, mesmo diante da brevidade da vida, nos resta agradecer ao Senhor e cantar suas maravilhas e seu amor. Assim como esse salmo, que é um cântico de louvor e de ação de graças embora seja por breve tempo nesta terra. Senhor, quando penso na morte como fim de tudo, o meu coração se entristece e perco o ânimo. Sinto-me como uma frágil folha levada pelo vento ou uma flor que de manhã é bonita, mas à noite está seca, murcha e é jogada fora. Mas quando penso na morte como porta que se abre para me introduzir na verdadeira vida, os meus sentimentos se transformam e sinto-me uma criatura nova no amor e na generosidade. Senhor, não deixe que o meu coração se abata, mas que seja sempre um coração cheio de esperança e de vida. Em cada momento da vida quero expressar a minha alegria, louvando-te e bendizendo-te, porque tu és o Deus da vida e do amor. Senhor, deixe que hoje e sempre te agradeça, porque um dia me criaste para conhecer-te, amar-te e servir-te aqui na terra e louvar-te depois para sempre no Céu. Muito obrigado, Senhor, pelo dom da vida. Quer eu viva noventa ou cem anos, quer eu viva 24 anos, como Santa Teresa do Menino Jesus, nada muda, o que importa é o amor com que vivo. Amém.

 

 

MEDITATIO: Expressão cotidiana deste amor na vida da família de Nazaré é o trabalho. O texto evangélico aponta o tipo de trabalho com o qual José assegurava a manutenção da família: carpinteiro. Esta simples palavra abarca toda a vida de José. Para Jesus estes são os anos da vida escondida, da qual fala o evangelista, após o episódio ocorrido no templo: «Desceu com eles e veio a Nazaré, e vivia sujeito a eles» (Lc 2,51). Esta «submissão» quer dizer a obediência de Jesus na casa de Nazaré e também como participação no trabalho de José. O que era chamado o «filho do carpinteiro» havia aprendido o trabalho de seu «pai» putativo. Se a família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas e, também, analogamente, o trabalho de Jesus ao lado de José, o carpinteiro. Em nossa época, a Igreja pôs também isto de relevo com a festa litúrgica de São José Operário. O trabalho humano e, em particular, o trabalho manual, têm no Evangelho um significado especial. Junto com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho fez parte do mistério da encarnação, e também foi redimido de modo particular. Graças ao seu banco de trabalho, sobre o qual exercia sua profissão com Jesus, José uniu o trabalho humano ao mistério da redenção. No crescimento humano de Jesus «em sabedoria, idade e graça» representou um ponto notável a virtude da laboriosidade, ao ser «o trabalho um bem do homem» que «transforma a natureza» e faz do homem «em certo sentido mais homem». A importância do trabalho na vida do homem requer que se conheça e assimilem aqueles conteúdos «que ajudem a todos os homens a acercar-se através dele a Deus Criador e Redentor, a participar em seus planos salvíficos com respeito ao homem e ao mundo e aprofundar em suas vidas a amizade com Cristo, assumindo mediante a fé uma viva participação em sua tríplice missão de sacerdote, profeta e rei» (João Pablo II, Redemptoris custos).

 

ORATIO: Ó, São José, guardião de Jesus, esposo castíssimo de Maria, que passastes a vida no cumprimento perfeito do dever, sustentando com o trabalho de tuas mãos à sagrada família de Nazaré, protege àqueles que, confiados, se dirigem a ti. Tu conheces suas aspirações, suas angústias, suas esperanças, e eles recorrem a ti porque sabem que encontrarão em ti quem os compreenda e proteja. Também tu experimentaste a prova, a fadiga, o cansaço, mas teu ânimo, cumulado da paz mais profunda, exultou de alegria inenarrável pela intimidade com o Filho de Deus, a ti confiado, e com Maria, sua dulcíssima Mãe. Faz que também teus protegidos compreendam que não estão só sem seu trabalho, faz que saibam descobrir Jesus junto a eles, acolhe-lo com sua graça, entregar-se fielmente, com o fizeste Tu. E obtém que em cada família, em cada oficina, em todo lugar de trabalho, ali onde trabalhe um cristão, tudo seja santificado na caridade, na paciência, na justiça, na busca do bem fazer, a fim de que descendam abundantes os dons da celeste predileção (Juan XXIII, Discorsi, 1961).

 

CONTEMPLATIO: Nosso olho, nossa devoção, se detém hoje em São José, o carpinteiro silencioso          e trabalhador, que deu a Jesus não a origem, mas o estado civil, a categoria social, e a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar, a educação humana. Será preciso observar bem esta relação entre São José e Jesus, porque pode nos fazer compreender muitas coisas do desígnio de Deus, que vêm a este mundo para viver entre os homens, mas, ao mesmo tempo, como seu Mestre e seu Salvador. Em primeiro lugar, é certo e evidente, que São José assume uma grande importância, pois, verdadeiramente, o Filho de Deus feito homem escolheu, precisamente, a ele, para revestir-se, a si mesmo, de sua aparente filiação: Jesus era considerado o «Filius fabri» (Mt 13,55), filho do carpinteiro, e o carpinteiro era José. Jesus, o Messias, quis assumir a qualificação humana e social deste obreiro, deste trabalhador, que era certamente um bom homem, a tal ponto que o evangelho o chama «justo» (Mt 1,19), quer dizer, bom, ótimo, irreprovável e que, portanto, se eleva ante nós à altura do tipo perfeito, do modelo de toda virtude, do santo. Porém há mais: a missão que realiza São José na cena evangélica não é só a de uma figura pessoalmente exemplar e ideal; é uma missão que ele a exerce junto, melhor ainda, sobre Jesus: será considerado como pai de Jesus (Lc 3,23), será seu protetor, seu defensor. Por isso a Igreja, que não é outra coisa senão o corpo místico de Cristo, declarou a São José seu próprio protetor, e como tal o venera hoje, e como tal o apresenta ao nosso culto e a nossa meditação (Insegnamenti di Paolo VI, Ciudad Del Vaticano 1964).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Faz prósperas, Senhor, as obras de nossas mãos» (do salmo responsorial)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Deus criou o homem não para viver isoladamente, mas para formar sociedade. Da mesma maneira, Deus «quis santificar e salvar aos homens, não isoladamente, sem conexão alguma de uns com outros, mas constituindo um povo que o confessará em verdade e o servirá santamente».

Desde o começo da história da salvação, Deus elegeu aos homens não somente enquanto indivíduos, mas também enquanto membros de uma determinada comunidade. Aos que elegeu Deus, manifestando seu propósito, denominou povo seu (Ex 3,7-12), com o qual, além do mais estabeleceu um pacto no monte Sinai. Esta índole comunitária se aperfeiçoa e se consuma na obra de Jesus Cristo. O próprio Verbo encarnado quis participar da vida social humana. Assistiu às bodas de Cana, desceu à casa de Zaqueu, comeu com publicanos e pecadores. Revelou o amor do Pai e a excelsa vocação do homem evocando as relações mais comuns da vida social e servindo-se da linguagem e imagens da vida diária corrente. Submetendo-se, voluntariamente, às leis de sua pátria, santificou os vínculos humanos, sobretudo os da família, fonte da vida social. Elegeu a vida própria de um trabalhador de seu tempo e de sua terra. Sabemos que, com a oblação de seu trabalho a Deus, os homens se associam à própria obra redentora de Jesus Cristo, que deu ao trabalho uma dignidade supereminente laborando com suas próprias mãos em Nazaré. Daqui se deriva para todo homem o dever de trabalhar fielmente, assim como também no direito ao trabalho. E é dever da sociedade, por sua parte, ajudar, segundo suas próprias circunstâncias, aos cidadãos para que possam encontrar a oportunidade de um trabalho suficiente. Por último, a remuneração do trabalho deve ser tal que permita ao homem e a sua família uma vida digna no plano material, social, cultural e espiritual, tendo presente o posto de trabalho e a produtividade de cada um, assim como as condições da empresa e o bem comum (Gaudium et Spes).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 15,9-11 (A verdadeira videira) – Qual é o fundamento do amor de Jesus pelos seus? O texto responde a esta pergunta. Tudo tem sua origem no amor que se move entre o Pai e o Filho. A esta comunhão temos de reconduzir todas as iniciativas que Deus tem realizado em seu desígnio de salvação para a humanidade: «Como o Pai me ama, assim eu vos amo. Permanecei em meu amor» (v.9). Mas o amor que Jesus alimenta pelos seus requer uma pronta e generosa resposta. Esta se verifica na observação dos mandamentos de Jesus, na permanência em seu amor, e tem como modelo seu exemplo de vida, na obediên­cia radical ao Pai até o sacrifício supremo. As palavras de Jesus seguem uma lógica simples: o Pai ama ao Filho, e este, ao vir aos homens, “permanece unido com Ele no amor, por meio da atitude constante de um «sim» generoso e obediente ao Pai”. O mesmo tem de ter lugar na relação entre Jesus e os discípulos. Estes são chamados a pra­ticar, com fidelidade, o que Jesus tem realizado ao longo de sua vida. Sua resposta deve ser o testemunho sincero do amor de Jesus pelos seus, permanecendo pro­fundamente unidos em seu amor. O Senhor pede aos seus não tanto que lhe amem, mas que se deixem amar e aceitem o amor que do Pai, através de Jesus, desce sobre eles. Pede-lhes que lhe amem deixando a ele a iniciativa, sem pôr obstáculos a sua vinda. Pede-lhes que acolham seu dom, que é plenitude de vida. Para permanecer em seu amor é preciso cumprir uma condi­ção: observar os mandamentos segundo o modelo que têm em Jesus.

 

 

Atos 15,7-21 (Discurso de Pedro) – Na assembleia de Jerusalém estão presentes duas preocupações: salvaguardar a universalidade do Evan­gelho e, ao mesmo tempo, manter a unidade da Igreja. A abertura ao mundo pagão, quer dizer, à tomada de consciência da universalidade do Evangelho, não dá ori­gem a duas Igrejas, mas a uma única Igreja com conotações pluralistas. Corresponde a Pedro a tarefa de de­fender a opção de Antioquia. E o faz partindo de sua própria experiência, apoiando plenamente a linha de Paulo, usando, inclusive, sua típica linguagem teológica: «Cremos que nos salvamos pela graça» (v.11). Em consequência, não se fala de impor o peso da circuncisão ou qualquer outro fardo insuportável. O problema da convivência das duas culturas, formas, mentalidades, tradições, foi exposto por Tiago, portador das instâncias da tradição. Não se opõe a Pedro, porém sugere algumas observâncias ri­tuais importantes para os judeus, que permitirão uma convivência que não ofenda a sensibilidade dos que procedem do judaísmo. Trata-se de normas de pureza legal tomadas do Levítico. Para Tiago, as comunidades dos cristãos, judeus e pagãos, são diferentes, porém devem viver sem alteração: por isso é preciso dar nor­mas prudentes. Entre o discurso de Pedro, o último em Atos dos Apóstolos, e o de Tiago tem se intercalado o testemunho dos atos da parte de Barnabé e Paulo. E todo o conjunto vem depois de «uma longa discus­são» (v.7). Estes poderiam ser considerados como conclusão e resumo de um paciente «processo de discernimento comunitário» no qual foram expostos, escutados e discutidos, a fundo, todos os fatos e todos os argumentos. Deste modo, fica salva a liberdade do Evangelho e também a unidade da Igreja. É um método que se considera cada vez mais como exemplar e que se anuncia como o normal nas distintas decisões eclesiais.

 

Salmo 95/96 (Yahweh, rei e juiz) O salmista convoca solenemente todos os povos e todos que têm fé para que, juntos, levem um grande hino de glória, louvor e ação de graças ao Senhor, o Deus que está acima de todos os deuses e tem o poder de destruí-los. O centro deste é a grandeza de Deus, o Senhor dos exércitos. Ofereçamos a Ele toda a nossa admiração!

Senhor, muitas vezes se faz difícil o louvor; reconheço a existência de resistência dentro de mim, na minha família, na minha comunidade. As pessoas não querem me escutar e há momentos em que me consideram fanático pelas minhas ideias e minha insistência, mas o teu convite é amor. Senhor, ajuda-me a convidar a todos para reconhecer a tua grandeza, a tua força, a ser anunciador corajoso diante de todos, a não ter medo e a ser sempre um profeta destemido e corajoso. Amém.

 

 

MEDITATIO: “Tenho dito tudo isto para que participeis em meu gozo e vosso gozo seja completo» (v.11): todos, e cada um dos discípulos, estão convidados a deixar-se possuir pela alegria de Jesus, após ter-se deixado possuir pelo amor de Deus. Minha existência como discípulo consis­te em deixar lugar a este amor divino, que é um amor “descendente», um amor que move o Pai a «entre­gar a seu Filho único» (Jo 3,16), um amor que move o Filho a entregar-se a si mesmo, um amor que move os discípulos a fazer outro tanto, um amor que garante a «felicidade» do discípulo. Quando Jesus fala das mais que exigentes condições deste amor, disse claramente que são possíveis porque este novo modo de amar procede de Deus. É o amor mesmo de Deus o que opera em mim, em ti, em todos os discípulos. E não só isso, mas que receberemos de Jesus «sua» felicidade, a alegria que procede de ter amado como Deus ama, através do impulso e da imitação de Jesus. Trata-se de algo que nada tem que ver com o moralismo: aqui nos encontramos no alto da mística, da mística da ação, que implica a entrega de si mesmo e inclui ser possuído de todo pelo amor de Deus.

 

ORATIO: Senhor Jesus, ajuda-me a olhar para o alto para ter a coragem de olhar para baixo. Ajuda-me a olhar a ti, no esplendor dos santos; a ti, completamente voltado ao Pai, que é uma só coisa com ele desde a eternidade. Fixa meu olhar em ti para que também eu seja capaz de descer e fazer o que tu tens feito. E é que servir um pouco pode resultar fácil, porém converter toda a vida em um serviço é bastante difícil. Servir aos que não o merecem, aos que não são agradecidos, aos que te rejeitam, é, ainda mais árduo. Rogo-te que infunda em meu coração esse amor teu sedutor, esse teu amor concreto, humilde, que recebeste do Pai e que plasmou tua vida, para que também eu possa fazer o que tu me dizes que é preciso para ser discípulo teu. Meu serviço não será assim um arrastar-se de maneira penosa; minha perseverança em um serviço isento de gratificações será fonte de felicidades, porque estarei possuído pela felicidade que vem de ti.

 

CONTEMPLATIO: Não teria aprendido eu a amar ao Senhor se ele não me tivesse amado. Quem pode compreender o amor, senão quem é amado? Eu amo ao Amado, a Ele ama minha alma: ali onde está seu repouso, ali estou eu também. E não serei um estranho, porque não há inveja junto ao Senhor altíssimo, porque quem se une ao imortal também será imortal, e quem se compraz na vida vivente será. Que permaneça tua paz comigo, Senhor, nos frutos de teu amor. Ensina-me o canto de tua verdade, de sorte que venha a mim como fruto o louvor, abre em mim a cítara de teu Espírito Santo para que eu te louve Senhor, com toda melodia. “Prorrompo em um hino ao Senhor porque sou seu e cantarei a canção consagrada a ele porque meu coração está cheio dele” (das Odes de Salomón).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Permanecei em meu amor» (Jo 15,9b)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Um dos mais célebres músicos do mundo, que tocava o alaúde com perfeição, ficou, em pouco tempo tão gravemente surdo que perdeu o ouvido por completo; sem dúvida, continuou cantando e manejando seu alaúde com uma maravilhosa delicadeza. Mas, como não podia experimentar prazer algum com seu canto e seu som, visto que, pela falta de ouvido, não percebia sua doçura e sua beleza, cantava e tocava unicamente para contentar a um príncipe, a quem tinha grande desejo de agradar, porque lhe era muito agradecido, já que havia sido criado em sua casa até a juventude. Por isso sentia uma inexpressável alegria ao agradá-lo, e quando o príncipe fazia sinais de que o agradava seu canto, a alegria o deixava eufórico. Porém sucedia, em ocasiões, que o príncipe, para por a prova o amor de seu amável músico, o ordenava cantar e se ia de imediato a caçar, deixando-o só; mas o desejo de obedecer aos desejos de seu senhor o fazia continuar o canto com toda a atenção, como se seu príncipe estivesse presente, ainda que, verdadeiramente, não lhe desse nenhum gosto cantar, já que não experimentava o prazer da melodia, da qual o privava a surdez, nem podia gozar da doçura das composições por ele executadas: “Meu coração está pronto, ó Senhor, meu coração está pronto; quero cantar e entoar hinos. Desperta, minha alma; desperta, cítara e harpa, quero despertar a aurora” (Francisco de Sales).

 

 

SEXTA-FEIRA , 15 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020                                                              

João 15,12-17 (A verdadeira videira) – As relações entre Jesus e os discípulos assu­mem uma intensidade particular neste breve texto onde se afronta o tema do mandamento do amor fraterno: «Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado» (v. 12). Os mandamentos que deve observar a comunidade messiânica estão compendiados no amor fraterno. Este preceito do Senhor glorifica ao Pai. Supõe viver como verdadeiros discípulos e dar como fruto o testemunho. Mas a qualidade e a norma do amor ao irmão são uma só: o amor que Jesus tem pelos seus, um amor que tem chegado a seu cume na cruz (v.13). A cruz é o exemplo da entrega de Jesus até o extremo por seus discípulos: tem entregado sua própria vida por aqueles aos quais ama. A riqueza do amor que une Jesus com os seus, e os discípulos entre eles é, em suma, total e de uma grande qua­lidade. O modelo do amor de Jesus por seus discípulos não tem que ver só com o sacrifício de sua vida, mas contém também outras prerrogativas: é relação de intimidade entre amigos e dom gratuito (vv.14s). O sinal maior da amizade entre dois amigos consis­te em se revelar os segredos de seus corações. O amor de amizade, do qual nos fala Jesus, não se impõe; é resposta de adesão no seio da fidelidade. O Mestre, ao fazer partícipes, seus discípulos, dos segredos de sua vida, tem feito amadurecer neles o segui­mento, lhes tem feito compreender que a amizade é um dom gratuito que procede do alto. A verdadeira amizade se situa na ordem da salvação. Jesus já não é para eles o Senhor, mas o Pa­i e o confidente, e eles já não são servos, mas ami­gos. Converter-se em discípulo de Jesus é dom, graça, eleição e certeza de que nossas preces dirigidas ao Pai, em nome de Jesus, serão escutadas (vv.16s).

 

 

At 15,22-31 (A carta apostólica) – A assembleia conclui elegendo uma delegação com o envio de uma carta. Nela se desautoriza os rígidos, ou seja, os que haviam provocado à tensão, e se dá via livre à abertura aos pagãos, sem impor-lhes demasiadas cargas. É importante a consciência que tem a assembleia de ter tomado uma decisão sob a luz do Espírito: a Igreja experimentou, desde suas origens, a presença do Espírito e a transmitiu ao longo dos séculos. O discernimento praticado – no qual participou toda a Igreja – foi verdadeiramente «espiritual” quer dizer, foi guiado pelo Espírito. A delegação deve explicar os detalhes do conteúdo do texto, assim como, as cláusulas de Tiago, apresentadas como generosas; isto é, não como cargas pesadas. De fato, essas limitações cairão prontamente, em desuso frente à esmagadora presença dos numerosos cristãos procedentes do paganismo e a diminuição do componente judeu. O próprio Paulo, de sua parte, não fez nunca alusão a estas cláusulas. A linha de Antioquia tem agora via livre para seu estilo de evangelização: suas teses foram aceitas e avaliadas plenamente. Compreende-se que «sua leitura lhes enchera de alegria e lhes proporcionara um grande consolo”. Este consolo lhes animou a seguir pelo caminho empreendido. Antioquia se converte, agora, no novo centro de irradiação do Evangelho e no ponto de partida das novas empresas de Paulo. Reina um clima de alegria e serenidade em virtude do avanço do Evangelho, que lhes faz certificar da importância vital da difusão do caminho da salvação a todos os homens. Isto nos faz refletir sobre a escassa presença atual desta preocupação em nossas comunidades. Que está se passando?  Perdeu sua relevância, a nossos olhos, a causa do Evangelho? Ou será que diminuíram os homens que, como Paulo e Barnabé, «consagraram sua vida ao serviço de nosso Senhor Jesus Cristo»?

 

Sl 56/57 (No meio de “leões”) Deus, em sua bondade infinita, sabe doar as dificuldades e as alegrias da vida; não há um dia sem que exista uma sombra para nos refrescar, assim como um dia sem que o Sol brilhe alto na vida de cada um de nós. Cabe a nós aprender a viver com sabedoria, agradecendo ao Senhor por tudo. O que dá sabor e sentido à vida são os desafios, que surgem e nos obrigam a parar, prestar atenção e pensar em uma maneira de superá-los. Diariamente, somos provados para que se possa confirmar que o nosso coração está no Senhor. Quem não tem um ideal definido e não sabe que direção seguir, dificilmente encontrará a felicidade. O salmista vive em meio às tribulações, dificuldades e inimigos que tentam derrotá-lo. Mas seu coração está tranquilo, porque confia no Senhor e se esconde à sombra de suas asas, onde, como em um templo, encontra proteção, asilo, esperança e confiança. Por isso, quer ser um hino de louvor ao Senhor e despertar a aurora que dorme para cantar e bendizer. Em razão de sua bela experiência com o Senhor, o salmista declara que o amor de Deus é maior do que tudo, perdendo-se docemente em uma contemplação silenciosa e amorosa, rompida apenas pelos cânticos.

Senhor, não duvido que posso a qualquer momento esconder-me à sombra de tuas asas de amor e proteção, mas há ocasiões em que me sinto imensamente sozinho e sem apoio de ninguém, quase que perseguido por todos e abandonado nas minhas ilusões e tristezas. Fico abatido, triste, desanimado, mas é por pouco tempo, pois um novo vigor me toma por completo quando penso que posso me refugiar no templo. Qual templo? Não mais de Jerusalém nem na Igreja. Há em mim um templo novo que é meu coração, onde posso esconder-me de tudo e de todos, menos de ti e de mim mesmo, onde encontro força, coragem e abrigo. Gosto de cantar e recitar Salmos, manifestar assim quanto te sou agradecido por todos os bens recebidos por tua bondade e amor. Afaste de mim o demônio do desânimo e do pessimismo e doa-me a alegria da vida. Não te peço nada de grande, mas somente a paz do coração e coragem para anunciar-te em todos os lugares onde eu for. Tua fidelidade me comove porque tu és um amigo fiel para sempre; mesmo que eu te seja infiel, tu continuas a ser fiel e estar ao meu lado. O meu pecado não te afasta de mim, mas te aproxima ainda mais de mim. Com teu carinho, faz-me converter e voltar a ti, onde serei sempre acolhido. Amém.

 

 

MEDITATIO: «Meu mandamento», o que resume todos os outros, o que distingue um discípulo de Jesus de todos os demais, o que João chamará, também, «mandamento no­vo», o típico e inconfundível de Jesus, é simples e exigente: «Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado». Seguir a Jesus consiste em amar ao irmão, até dar a vida por ele, exatamente como fez Jesus, o Filho que desceu para dar a vida por mim. Dar a vida não significa só «morrer» pelos irmãos. Pode ser inclusive, formoso e desejado, em certos momentos em que sentimos em nós um particular impulso de generosidade. Dar a vida significa gastar nossa própria vida, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, para que sejam felizes os que vivem junto a mim. Significa que cada manhã eu devo pergun­tar-me como posso fazer para não ser uma carga para os que vivem comigo. Significa suportar seus silêncios e suas “más caras”, aceitar os limites de seu caráter, não estranhar suas contradições nem de seus peca­dos. Significa aceitar a meu próximo tal como é, e não tal como deveria ser.

 

ORATIO: Hoje me sinto obrigado, ó Senhor, a perguntar-me até que ponto eu levo a sério «teu» mandamento, esse que me distingue como teu discípulo, esse que Tu to­mas tão a peito. Se me examino bem, devo confessar que não é, de fato, o primeiro mandamento, o que tomo mais a sério. É que tenho posto adiante muitos outros valores que o mundo considera mais importantes ou que me gratificam mais e com maior fa­cilidade… Concede-me a íntima convicção de que é a prática deste mandamento o que faz novo o mundo, de que minha verdadeira contribuição como crente é a oferta de minha atitude fraterna. Ajuda-me a pôr no mais alto de minha escala de valo­res este mandamento, que é o mais antigo e o mais novo, que cada dia deverei aplicar a novas situações, para renovar a mim mesmo, minha existência e meu ambiente vital.­

 

CONTEMPLATIO: Ó santo Amor, quem não te conhece não pode gozar a suavidade de teus benefícios, que só a experiência nos revela. Mas, quem te conheceu, ou foi conhecido por ti, não pode conceber, já, nenhuma dúvida. Pois Tu és o cumprimento da lei; tu que me cumulas e acalentas; tu, que me inflamas e acendes meu coração com uma caridade imensa. És o Mestre dos profetas, o companheiro dos apóstolos, a força dos mártires, a inspiração dos pais e doutores, a perfeição de todos os santos. E preparas também a mim, Amor, para o verdadeiro serviço de Deus (Simeão, o novo Teólogo).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Eu Vos tenho destinado para que vás e deis fruto” (Jo 15,16)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Quando o Senhor mandou seu povo amar ao próximo como a si mesmo (cf. Lv 19,18), não havia vindo ainda a terra, de sorte que, sabendo até que ponto se ama a própria pessoa, não podia pedir às suas criaturas um maior amor ao próximo. Porém, quando Jesus deu aos seus apóstolos um mandamento novo, seu mandamento, não falou mais de amar ao próximo como a si mesmo, mas de amá-lo como Ele, Jesus, o amou e o amará até a consumação dos séculos. Senhor, eu sei que não nos manda nada impossível. Tu conheces melhor que eu minha debilidade, minha imperfeição, sabes que não poderei nunca amar a minhas irmãs como tu as amas, se não és ainda tu, Jesus meu, quem as ama em mim. Para conceder-me esta nova graça, deste um mandamento novo. Ó, quanto o amo, pois me dá a garantia de que tua vontade é amar. Sim, estou convencida disso; quando pratico a caridade, é só Jesus quem opera em mim. Quanto mais unida estou a Ele, tanto mais amo a minhas irmãs (Teresa de Lisieux).

 

 

SÁBADO, 16 DE MAIO DE 20205ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO A – 2020

João 15,18-21 (A videira verdadeira) – O texto contém uma advertência de Jesus dirigida a seus discípulos sobre o ódio e rejeição do mundo que terão à frente. Se a nota distintiva da comunidade cristã é o amor, agora o Mestre apresenta aos seus, o que caracteriza o mundo que lhes rejeita: o ódio (v.18). O Senhor adverte e explica esse ódio do mundo e emite um juízo sobre o mesmo. O ódio do mundo para a comunidade cristã é consequência lógica de uma opção de vida: os seguidores do Evangelho não pertencem ao mundo, e este não pode aceitar a quem se opõe a seus princípios e opções. Os crentes, em virtude de sua opção de vida a favor de Cristo, são considerados estranhos e inimigos. Sua vida é uma contínua acusação contra as obras perversas do mundo e uma desaprovação eloquente contra os malvados. Por isso é odiado e rejeitado o homem de fé. Mas como se manifesta este contra os discípulos? Pelas perseguições que padecerão os fiéis pelo nome de Cristo. Não são em verdade estas provas as que devem desanimar aos discípulos nem em seu caminho de fé nem em sua missão de evangelização. Também seu Senhor experimentou a incompreensão e a rejeição até a morte (v.20). É mais, a perseguição e o sofrimento é uma das condições da glória que toda a comunidade cristã deve compartilhar com seu Salvador. A sorte dos discípulos é idêntica à de Cristo: se este foi perseguido, também serão seus discípulos; se este foi escutado, também serão os seus (vv.20s).

 

 

At 16,1-10 (Na Licaônia, Paulo escolhe Timóteo) – Lucas passa, agora, a narrar os acontecimentos missionários de Paulo: ele será o protagonista da terceira parte dos Atos dos Apóstolos. O fragmento de hoje apresenta a segunda viagem missionária já avançada. Entretanto, houve a separação de Barnabé. A causa, segundo Lucas, foi uma diferente valorização da pessoa de João Marcos. Paulo elege como novo com­panheiro um discípulo seu, pelo qual sempre nutrirá grande carinho: Timóteo. Dando-lhe uma grande elasticidade pastoral, especialmente em vistas à ação entre os judeus, Paulo o fez circuncidar-se, ainda que não visse, para isso, nenhuma necessidade doutrinal. Paulo se faz, em verdade, «tudo para todos», pelo Evangelho. É significativo o fato do Espírito Santo se fazer, pra­ticamente, de guia, corrigindo a rota dos missionários. Lucas quer sublinhar que o protagonista e o diretor da evangelização é o Espírito Santo, que tem seus planos, com frequência, diferentes dos planos dos homens. É o Espírito quem impulsiona Paulo a passar à Europa, em vez de adentrar nas regiões da Ásia menor. Há um mistério no chamado aos povos e as nações, que foge por completo ao olhar humano. Basta uma simples reflexão: o diretor da evangelização é, com toda clareza, o Espírito Santo; não se trata de uma ação organizada pelos homens, ainda que estejam cheios de fé e de zelo. Na ação de Paulo não há muita organização, mas uma grande disponibilidade à ação do Espírito. Não é isto, hoje, atual e digno de atenção este dito, sem parecer só um slogan: «Menos organização e mais Espírito»?

 

Sl 99/100 (Convite ao louvor) Apesar de breve, este Salmo representa uma importante descrição da situação do povo e de cada um de nós. É um cântico de procissão e de peregrino. Nossa história é um constante êxodo: partimos do coração de Deus e seguimos em peregrinação por esta terra até nosso retorno para os braços do Pai, lugar da paz infinita. Que fique claro que isso não tem relação com teorias e ideologias acerca da reencarnação, que seria uma purificação dolorosa por aquilo que não foi cumprido. O nosso Deus é bem diferente disso: oferece-nos tempo, nos orienta com sua Palavra, nos convida à conversão para que possamos realizar nossa missão hoje. O mistério da ressurreição é algo belo e real, baseada na Palavra do Senhor, e não uma invenção humana.Viver é alegria, cântico e peregrinação; é caminho, encontro e amor.

Senhor, sei que estou a caminho, vim de Ti e voltarei a Ti com alegria. É neste meu lento, fatigoso e alegre caminhar que te convido, Senhor, a me abrir as portas para que eu possa entrar no novo tempo, na nova Jerusalém, na nova vida que é Jesus. Ele que veio para nos dizer que o Pai procura adoradores em espírito e verdade. Chama-me com força e com coragem para que eu nunca diga não a teu amor, purifica minha mente e coração, e que eu nunca deixe, de modo algum, influenciar por idéias que não sejam alicerçadas sobre a tua Palavra e o teu amor. Quero ter tua presença e celebrar a tua grandeza e cantar os teus louvores. Amém.

 

 

MEDITATIO: Se pretendes viver segundo tuas convicções de fé, não deves surpreender-te encontrar ao teu redor a indife­rença ou a hostilidade. Não deves deprimir-te que os meios de comunicação social riam, com frequência, de maneira sutil, do estilo de vida cristão, ou que, quando expresses tuas convicções, te vejam como um antiquado; ou que as pessoas te considerem como alguém que pertence a uma era passada, a uma época da qual já temos nos despedido. Que não te abata o desalento: isso é sinal de que és fiel a Cristo perseguido e a sua Palavra de cruz. Não deves entrar em crise para que muitos não dispensem nessa cruz como seguidores de Jesus. Uma das características da fé é seu perene cará­ter inadequado. Essa característica nós temos de buscá-la em sua dimensão oblativa, que consiste no chamado à cruz, ao sacrifício, ao saber amar, à justiça paga com a própria pele. Não deves, portanto, «diluir» teu tes­temunho, nem baixar o grau das exigências da Palavra, nem envolver, com o silêncio, o que é mais comprometedor e impopular. Há silêncios que parecem excessivamente prudentes, que são expressão de temor ante os contragolpes da opinião pública, que expressam preocupação pela hostilidade de quem pode fazer-nos dano.

 

ORATIO: Ajuda-me, ó Senhor, a viver como tu queres em meio das dificuldades originadas pela hostilidade do mun­do. Ajuda-me a não ter medo de ser teu testemunho, porém ajuda-me também a não ser um juiz severo com os que põem obstáculos em meu caminho. Ajuda-me, an­tes que nada, a compreender minhas culpas, os motivos que eu mesmo posso ter dado, minhas faltas de compromissos. A hostilidade pode vir também de meu compor­tamento inadequado. E isso é algo que devo ter em conta. Ajuda-me a enfrentar com coragem às reações que procedem do fato de dizer o que tu dirias, de fazer as coisas que tu farias. Ajuda-me a não ter nun­ca medo de fazer um sério exame de consciência, a não diluir tua mensagem e o testemunho que devo a teu santo nome.

 

CONTEMPLATIO: O mundo que Deus reconcilia com Ele na pessoa de Cristo, que tem sido salvo por meio de Cristo, e no qual foram perdoados todos os pecados pelos méri­tos de Cristo, tem sido eleito entre o mundo dos ini­migos, dos condenados, dos corruptos. Também os discípulos estavam no mundo e foram eleitos para que deixassem de fazer parte do mesmo. Foram eleitos não por seus méritos, porque não haviam feito antes nenhuma obra boa; tampouco por sua natureza, por­que esta em virtude do livre arbítrio havia sido con­taminada pelo pecado em sua própria origem; foram eleitos por uma concessão gratuita, quer dizer por uma autêntica graça. De fato, o que do mundo elegeu ao mundo não en­controu bons aos que elegeu, mas os fez bons ao elegê-los. Sim, isso é obra da graça, não das obras, pois, de outro modo, a graça já não seria graça (Rm 11,5s) (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Como perseguiram a mim, perseguirão a vós» (Jo 15,20)

 

PARA UMA LEITURA ESPIRITUAL – Uma das coisas que devemos a nosso Senhor é não ter nunca medo. Ter medo é fazer-lhe uma dupla injúria: em primeiro lugar, é esquecer que Ele está conosco, que nos ama e que é onipotente; em segundo, porque não nos configuramos com sua vontade: configuramos nossa vontade com a sua, tudo o que nos ocorra, dado que é querido e permitido por Ele, nos deixará alegres e nem teremos nem inquietudes nem temores. Tenhamos, pois, essa fé que expulsa todo medo; tenhamos ao nosso lado, frente a nós e em nós, a nosso Senhor Jesus Cristo, Deus nosso, que nos ama infinitamente, que é onipotente; que sabe o que é bom para nós; que nos diz que busquemos o Reino dos Céus e que o resto nos será dado por acréscimo. Caminhemos seguros com esta bendita e onipotente companhia pelo caminho do mais perfeito, e estejamos seguros de que não nos ocorrerá nada do que não possamos retirar o maior bem para sua glória, para nossa santificação e para a dos outros. E que tudo o que nos ocorra será querido e permitido por Ele e, em consequência, longe de toda sombra de temor, só temos que dizer: “Bendito seja Deus por tudo que nos ocorre”, e só temos de rogá-lo que ordene todas as coisas, não segundo nossas ideias, mas para sua maior glória (Charles de Foucauld).

AUTORES: (Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

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