Os Escolhidos (EFC)
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Lucas 6,12-19
ESCOLHA DOS DOZE
“Foi ao monte para orar e passou a noite na oração de Deus”
Na serie de passagens compreendidas entre Lucas 5,1 e 6,11, temos visto como Jesus vem formando, progressivamente, uma comunidade em torno dEle. Temos visto, também, qual é a experiência de fundo que caracteriza esta nova comunidade e em que se baseia esta.
O evangelho de Lucas começa agora, em 6,12, com uma nova seção, onde vemos como, a partir de um grupo eleito de doze, o Mestre conduz um itinerário particular de formação que tem duas finalidades: a aprendizagem da “palavra” de Jesus e a aprendizagem da “missão” de Jesus. Esta seção concluirá no capítulo 9, quando, os doze, vão, em missão, e, ao regressar, recebem a lição sobre a Cruz. Esta se percebe a partir desta passagem, quando os discípulos começam a ser chamados também “apóstolos” (6,13).
Notemos como em toda esta seção do evangelho os discípulos aparecem em segundo plano na missão de Jesus. São mencionados somente em momentos chave, porque o centro é Jesus, que, com suas palavras e obras de poder, revela o núcleo do evangelho.
Por enquanto, a tarefa dos discípulos é “ouvir” e “ver”. O primeiro passo que Jesus dá é a diferenciação do grupo dos doze da multidão e do resto dos discípulos. Prestemos muita atenção a algumas particularidades do comportamento de Jesus nesta cena vocacional:
- Jesus começa com uma vigília de oração: (6,12)
“Foi ao monte para orar e passou a noite na oração de Deus”. Este passar a noite inteira em oração é significativo e devia atrair-nos para uma amorosa contemplação deste momento. Todo o ministério de Jesus, até seu último instante na Cruz, tem como constante a oração. Isto se ver nos momentos decisivos de seu ministério e a eleição dos doze é um deles. Sabemos que o tema da oração é importante no evangelho de Lucas e que Jesus é o modelo do orante (ver 3,21; 5,16; 9,18.28.29; 10,21;11,1;2 2,29-46; 23,34.46).
Na oração de Jesus neste texto fica claro que:
- Deus Pai está na raiz de toda experiência vocacional: Ele está ali presente, com a mão na obra, guiando a historia da salvação, na qual se insere todo chamado particular;
- Jesus invoca a benção de Deus sobre o ato que está a ponto de realizar.
- A oração é um dos pontos mais importantes do discipulado; é o ponto de partida do itinerário dos doze, ao longo de sua vida, estes terão que voltar uma e outra vez a este primeiro momento.
- Jesus distingue os ‘doze’ do amplo grupo de discípulos (6,13)
…“a quem chamou também apóstolos”. Aos doze também os chamou “Apóstolos” (que significa “enviados”). Cristo escolheu os doze apóstolos para resgatar o sentido das doze tribos de Israel que Deus deveria reunir no fim dos tempos, conforme o que está dito nas Escrituras.
De fato, o número evoca a comunidade da primeira Aliança: as doze tribos de Israel. Estas, que, no momento do ministério de Jesus, já, praticamente, não existem como tais (só restavam duas tribos e meia); dai que o formar uma comunidade, precisamente com este número, é uma provocação profética de Jesus, uma forma concreta de chamar a todo o povo de Deus.
Desde o Antigo Testamento se vê como Deus tinha em seu projeto a formação de um povo que fosse modelo e convocasse a todos da terra ao serviço do único Deus. O chamado dos ‘doze’ nos coloca ante um aspecto fundamental do ministério de Jesus: a Aliança e a vocação fundamental do povo de Deus.
Estão se realizando as antigas profecias (ver Ez 39,23-39). Por outra parte, o título “Apóstolo” se refere explicitamente à futura missão que aguarda os escolhidos: eles continuarão a obra de Jesus no mundo. Segundo uma antiga disposição jurídica de Israel, “o enviado é como o que envia”. Os doze, então, serão os representantes de Jesus.
- Jesus escolhe seus apóstolos entre aqueles que já o haviam ouvido e visto em ação
Em passagem anterior, Lucas havia anotado que uma grande multidão “afluía para ouvir e ser curados” (5,15). Com esses mesmos termos se descreve a “grande multidão de discípulos seus… que haviam vindo para ouvir-lhe e ser curados” junto com a multidão (6,17-18).
Do meio deles foram tomados os doze. É belo o encontro de Jesus e os doze apóstolos com a imensa multidão que aguarda na planície. Quando os doze apóstolos descem com Jesus da montanha, o primeiro que encontram é o duro cenário de uma humanidade ferida e necessitada. Porém chama a atenção que toda esta multidão de pessoas vindas inclusive das regiões pagãs da costa marítima (Tiro e Sidônia; 6,17b), se sentem atraídas, fascinadas pelo Mestre de Nazaré, por Ele, que andava em sua missão “pela força do Espírito” (4,14).
Ao observar Jesus e vendo que “dele saía uma força que curava a todos” (6,19), os doze começam a compreender o sentido de sua vocação e para o quê o Mestre os quer capacitar. Por isso eles devem abrir-se aos dons do Mestre e, como se verá, deverão ser os primeiros ouvintes do discurso que segue.