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Mateus 10,34–11,1
Instruções acerca da família: a crise nos afetos do missionário (10,34-39)
Mateus nos apresenta de modo reformulado o lado da opção cristã para as habituais relações familiares, inspirando-se no profeta Miquéias: “Porque o filho insulta o pai, a filha levanta-se contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são as pessoas de sua casa” (7,6). A ruptura familiar, que é um dos fenômenos que caracteriza a tribulação ao final da pregação profética de Miqueias, aparece antecipada para a hora na qual se dá o passo da fé.
As difíceis frases de Mt 10,34-36, que se resumem na última: “Em suma: os inimigos do homem serão seus próprios familiares” (10,36), mostram o lado da radicalidade da opção. Com efeito, na vida familiar, assim como em muitos outros âmbitos de relação, se vivem situações que se aceitam como normais, porém, uma vez que se tem conhecido o evangelho de Jesus, estas já não podem ser toleradas.
Definitivamente, o evangelho é um acontecimento de vida que subverte e transforma toda estrutura, tanto a nível social, como familiar e pessoal. O encontro com Jesus, a principio, gera uma nova capacidade de amar. Porém, o verdadeiro amor é profético: não pode tolerar a injustiça, não pode acomodar-se ao que não é correto. A experiência viva com o chamado de Deus tem uma grande capacidade para revolver, para abalar, para fazer estremecer, as estruturas mais compactas, uma das quais, e, talvez, a mais visível, na sociedade patriarcal israelita, é a família.
Um segundo grupo de pensamentos que pronuncia Jesus, é mais forte que o primeiro. A hierarquia de valores começa a ser julgada aqui: este breve texto nos introduz na dinâmica do seguimento radical do Senhor, antes mesmo das prioridades afetivas do discípulo.
Jesus é o valor fundamental do discípulo. Ele está acima (“ama mais”) dos maiores amores que alguém pode ter na vida (pai, mãe, filho, a pessoa mesma), se não é assim, o discípulo-missionário “não é digno de mim” (repete três vezes nesta passagem). Desta forma, volta a apresentar a exigência de romper com toda classe de seguranças, enquanto que um novo horizonte se abre à vida do discípulo.
Tudo isso está simbolizado no gesto de “tomar a cruz e seguir atrás d’Ele” (10,38), mediante o qual se deixa de lado toda classe de interesses meramente pessoais para abraçar a Cruz, como expressão de uma vida toda entregue à causa de Jesus.
Instruções acerca da identificação de Jesus com seus missionários (10,40-42)
Na leitura que fizemos do Sermão da Montanha, vimos como toda a primeira parte deste sermão estava preocupada em mostrar que um verdadeiro filho de Deus se parece com seu Pai em seu agir (5,16). Agora, o mesmo é afirmado neste capítulo missionário, com relação a Jesus e seus discípulos: “Quem a vós recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe Àquele que me enviou” (10,40).
O discípulo plenamente identificado com Jesus recebe aqui três títulos:
- “profeta” (41ª): como já vimos antes, o missionário se apresenta como “profeta” de palavra exigente e clara, mas, também como animador da vida no Senhor para todos seus irmãos;
- “justo” (41b): porque, pela vivencia das bem-aventuranças, tem aprendido a justiça nova do Reino, a qual ensina a seus irmãos (ver 5,19);
- “pequeno” (42): em sua humildade se reconhece como pessoa sempre em crescimento, necessitada dos demais, consciente que não basta convidar a outros a entrar no Reino, mas ele deve entrar primeiro (18,4).