1º DOMINGO DO ADVENTO ANO – C (Estudo Bíblico)

Lucas 21,25-28.34-36

Introdução

Este domingo começa o tempo litúrgico do Advento. A palavra “advento” vem do latim “adventus” que significa “vinda”.

Nossa vida cristã pode ser definida como uma contínua espera de uma vinda, não de um personagem qualquer, mas de Deus mesmo. Se a intensidade de nossa espera houvesse decaído, o tempo do Advento tem como objetivo reavivá-la.

Três são as vindas de Deus mesmo à história humana e à vida de cada um. 

A primeira foi na humildade de nossa condição humana, quando o Filho de Deus se encarnou no seio puríssimo da Virgem Maria, nasceu pobre em um presépio em Belém, viveu entre nós comunicando ao mundo a mensagem de salvação e ofereceu sua vida em sacrifício para remissão dos pecados. 

A segunda vinda de Deus está acontecendo agora, em cada momento, e cada um pode dar acolhida em seu coração a Jesus mesmo que vem e se nos dá como alimento de vida eterna na Eucaristia. Com quanto amor devemos esperar esta vinda de Jesus aos domingos! Alguns têm a graça de recebê-lo com gozo a cada dia!

A terceira será gloriosa. Porá fim à história e todo ser humano a verá. Jesus a descreve assim: “Então verão vir o Filho do homem em uma nuvem com grande poder e gloria”.

A nuvem é símbolo da divindade; essa vinda será com “grande poder e glória” a diferença das outras duas vindas que foram – a primeira – na debilidade e humildade de nossa condição humana, e – a segunda, a de hoje – no extremo ocultamento da Hóstia santa.

O livro do Apocalipse assegura que nessa última vinda o verá todo ser humano: Vede, vem envolto de nuvens; todo olho o verá, até os que o traspassaram” (Ap 1,7). O Advento nos põe na atitude de espera. Em que consiste esta atitude? Disse Jesus: “Estai em vigília, pois, orando em todo tempo para que… possais manter-se em pé diante do Filho do homem”

Trata-se então de dedicar mais tempo à oração; é preciso chegar ao limite de “orar em todo tempo”, sem distrair-se nunca. Esta é a medida que indica Jesus. Cada um deve então examinar-se para ver quanto tempo dedica à oração cada dia e quanto dista da recomendação dada por Jesus.

Se essa é a atitude necessária a adotar, Jesus nos adverte também contra a atitude necessária a evitar: “Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados pela devassidão, pela embriaguez, pelas preocupações da vida, e não se abata repentinamente sobre vós aquele dia, como um laço, pois ele sobrevirá a todos os habitantes da face de toda a terra (vv.34-35)”.

Todos concordamos em que a libertinagem e a embriaguez são atitudes reunidas com a espera do Senhor; porém Jesus agrega também as “preocupações da vida” e as põe ao mesmo  nível. 

Há, então, que ressoar neste tempo a repreensão que faz Jesus a Marta, irmã de Lázaro: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 41-42). Maria estava aos pés de Jesus atenta à sua palavra. O Advento nos chama a atenção sobre essa única coisa necessária.

            + Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo de Santa María de Los Ángeles

  1. Texto

O texto do Evangelho deste domingo (Lc 21,25-28.34-36) é parte do chamado “discurso escatológico” (ensinamento bíblico a respeito do final dos tempos, em particular do período relacionado com a Parusia, ou, segunda vinda de Jesus Cristo, e os acontecimentos vinculados).

Este discurso está apresentado como resposta de Jesus a uma pergunta dos discípulos, ante a beleza e grandeza do templo de Jerusalém. Jesus fala de sinais, carregado de uma linguagem simbólica. Descrevem-se fenômenos cósmicos: sinais no sol, na lua e nas estrelas; bramidos de mar e violência de ondas; os astros se abalarão.

Isto parecerá ser terrível, já que se afirma que estes sinais provocarão angustia e medo nos homens e nos povos; sem dúvida, estes sinais indicam o início de um novo tempo, onde uma nova criação substituirá a existente.

Logo, se relata o sinal mais importante: a manifestação do Filho do Homem: Jesus. Esta é uma imagem tomada do livro de Daniel (cf. Dn 7,1-14), ali se relata que logo depois das desgraças causadas pelos reinos deste mundo, virá o Reino de Deus com o Filho do Homem, quer dizer, com aspecto humano porém, sendo, verdadeiramente, Deus, com todo o poder e gloria.

  • Estrutura do texto:

O texto que a liturgia de hoje nos aponta pode ser apresentado assim:

  •  As catástrofes cósmicas e a manifestação do Filho do Homem (vv.25-28);
  • Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas (vv.25-26);
  • O Filho do Homem virá sobre uma nuvem (v.27);
  • A esperança que renasce no coração (v.28);
  •  Vigiar para não ser surpreendido (vv.34-36)
  •  As catástrofes cósmicas e a manifestação do Filho do Homem (vv.25-28);
  •  Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas (vv.25-26);

Os transtornos cósmicos de que falam os vv.25-26, ensinam que, quando Deus deixa de sustentar o mundo, a ordem da criação se vê ameaçada e corre o risco de desabamento.

A desestabilização do mundo tem efeitos sobre a humanidade: gera uma grande angústia porque todo o mundo teme ser engolido pelo abismo.

  •  O Filho do Homem virá sobre uma nuvem (v.27);

Os abalos dos céus da passagem à aparição do Filho do homem (v.27): “E então verão vir o Filho do homem com grande poder e gloria”. É a vinda triunfal de Cristo, que vem, segundo a profecia de Daniel (7,13), a julgar o mundo.

  •  A esperança que renasce no coração (v.28);

E conclui: “Quando começarem a acontecer estas coisas, recobrai ânimo e levantai a cabeça porque se aproxima vossa libertação” (v.28). Chegou à redenção final da opressão e da aflição do Povo de Deus. É a hora da justiça que esperam, com alegria, todos os que sofreram na história.

O temor inicial há de transformar-se em esperança, o tempo novo inaugurado pelo Filho do Homem

é um tempo de libertação, de plenitude; por isso, a importância da nova criação. Tudo será restaurado e reunido em Jesus.

É um tempo que temos que esperar, porém, não de qualquer modo. É preciso estar atentos, vigilantes, em oração, com o espírito dos verdadeiros discípulos; porém, não se trata de uma atitude, unicamente espiritual, esta espera terá que se refletir na vida, com a ação de cada um. 

É um convite a centrar a vida e a vivê-la segundo evangelho; é prudência na vida, porém, também é compromisso com o Reino; viver ao modo de Jesus é, também, permitir que Ele reine, pois Jesus nos torna parte de seu reinado.

Tenhamos esta certeza no coração: em um mundo onde vemos tantas maldades e onde nos dói tanto o não conseguir perceber, com claridade, como está agindo a justiça de Deus, é, exatamente, neste mundo, que Jesus, nosso Senhor Ressuscitado, culminará sua obra de justiça e fará com que reine a fraternidade e a vida.

  •  Vigiar para não ser surpreendido (vv.34-36)

A conclusão do discurso escatológico de Jesus no Evangelho de Lucas situa, o discípulo, diante das atitudes concretas que deve tomar ante a vinda de Jesus.

Esta passagem, que repete três vezes o verbo “vir” (da parte de Jesus), tenta mover-nos, para que possamos ir ao encontro de Jesus, de modo ativo e não aguardemos o futuro de braços cruzados.

Apesar de todos os sinais descritos (ver de maneira especial 21,25-28), o dia do Senhor virá inesperadamente e colherá alguns de surpresa. Por isso Jesus, instrui a seus discípulos sobre a maneira de fazer a preparação: Primeiro, dá uma lição en negativo; e segundo, dá uma lição positiva.

  • Uma lição em negativo (21,34-35)

O imperativo é um convite ao discernimento dos acontecimentos da vida. É preciso estar pronto para reconhecer os sinais. Porém, há algo que pode entorpecer este discernimento: a prequiça espiritual (ver Sb 9,15) que Jesus descreve como “coração pesado”.

Este tem seus indicadores:

(a) a libertinagem, a perca dos valores, dos critérios no comportamento;

(b) a fuga da realidade pelo abuso do álcool; e

(c) Deixar-se absorver pelas ocupações e preocupações do mundo (o stress da vida).

Quando isto acontece, simplesmente perdemos a tensão espiritual, a atenção do coração para captar o rosto do Senhor que vem ao nosso encontro.

A advertência é clara: que não se dilua a atenção às coisas espirituais pelas questões terrenas. A exigência vale “para todos os que habitam a face da terra”. E o discípulo pode cair, se não está devidamente preparado.

  • Uma lição em positivo (21,36-37)

Na segunda parte da passagem de hoje, encontramos outra cara a moeda: uma exortação positiva para a fortaleza espiritual. Jesus não somente disse o “que”, mas, também, o “como”. Jesus pede que se assuma a atitude da vigilância e para isso indica o caminho da oração. 

A oração constante (“em todo tempo”) é o exercício da vigilância do coração, porque mantém a atenção fixa no essencial, porque faz passar pela presença de Deus todas as vivências e as submete a seu valor, porque antecipa a comunhão de amor definitiva que dá sentido a tudo o que fazemos e dirige cada passo na direção na qual a vida se plenifica e mantém sempre ardendo o coração.

E, que acontece com o coração que sempre vigia na oração?  Jesus ensina não só o “que” e o “como”, mas também o “para que”. 

Disse Jesus:

  • Para “ter força”: o cristão está chamado para amar e servir com vigor no mundo, Jesus o capacita para que gere transformação.
  • Para “escapar” da tentação de sair correndo ante os problemas. Unido ao anterior, se entende que, pela força da oração, o orante aprende a sair ileso dos conflitos
  • Para “estar de pé” diante de Jesus para por, continuamente, a vida a seu serviço, porém, também, quando chegue o momento final, para aguardar sem temor algum o veredito favorável sobre o caminho de vida.

Portanto, o tempo final não se prepara fazendo calendários sobre o momento em que se acabará o mundo, mas vigiando constantemente com o coração orante e retirando daí a retidão pessoal e a fortaleza para lutar para que o mundo tenha o rosto daquele que nos redimiu com seu sangue.

  • Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja 

“O Filho do homem virá buscar-nos consigo”

«Esse Jesus que, ao separar-se de vós, se elevou nos céus voltará um dia da mesma forma como o vistes subir» (At 1,11). Virá, dizem aqueles anjos, da mesma forma.

Virá então para nos buscar num cortejo único e universal, descerá precedido de todos os anjos e seguido de todos os homens para julgar os vivos e os mortos?

Sim, é bem certo que Ele virá, mas da mesma forma como subiu aos céus e não da forma como desceu da primeira vez. Na verdade, quando veio outrora para salvar as nossas almas, foi na humildade.

Quando vier a arrancar este cadáver ao sono da morte, para «tornar semelhante a Seu corpo glorioso» (Fl 3,21) e encher de honra este vaso que hoje é tão frágil, mostrar-se-á em todo Seu esplendor.

Então veremos em todo o Seu poder e majestade aquele que outrora estava escondido sob a fraqueza da nossa carne… Sendo Deus, Cristo não podia crescer, porque não há nada acima de Deus.

E, contudo, Ele achou um meio de crescer, descendo, vindo encarnar, sofrer, morrer para nos arrancar à morte eterna. «Foi por isso que Deus o exaltou» (Fl 2,9).

Ressuscitou-o, e Ele está sentado à direita de Deus. «Quem se exalta será humilhado; quem se humilha será exaltado» (Lc 14,11). Feliz, Senhor Jesus, será aquele que só Te tem a Ti por guia!

Possamos nós seguir-Te, nós que somos «o teu povo e as ovelhas do teu pasto» (Sl 78,13), possamos nós ir por Ti, para Ti, porque és «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6).

O caminho pelo exemplo, a verdade pelas Tuas promessas, a vida porque és Tu a nossa recompensa. «Tu tens palavras de vida eterna e nós sabemos e acreditamos que Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo» (Jo 6,69; Mt 16,16) e Tu próprio, Deus, mais alto que todas as coisas, bendito para sempre!

“Vigiai e orai continuamente”

Quem quer orar em paz não terá apenas em consideração o local, mas o tempo.

O momento do repouso é o mais favorável e assim que o sono da noite estabelece um silêncio profundo, a oração faz-se mais livre e mais pura (Lm 2,19).

Com que segurança a oração sobe na noite, quando só Deus é testemunha, com o anjo que a recebe para a ir apresentar ao altar celeste!

Ela é agradável e luminosa, pintada de pudor. Ela é calma, tranquila, já que nenhum barulho, nenhum grito a vem interromper. Ela é pura e sincera, quando o pó das preocupações terrenas não a podem sujar. Não há espectador que possa expô-la à tentação pelos seus elogios ou adulação.

É por isso que o Esposo (Cântico dos Cânticos) agiu com tanta prudência como pudor assim que ela escolheu a solidão noturna do seu quarto para rezar, quer dizer, para procurar o Verbo, pois tudo é um.

Tu rezas mal se ao rezar procuras outra coisa que não o Verbo, a Palavra de Deus, ou e tu não pedes que o assunto da tua oração seja relativo ao Verbo.

Porque tudo está nele: o remédio para as feridas, o socorro nas tuas necessidades, a melhoria dos teus defeitos, a fonte dos teus progressos, em resumo, tudo o que um homem pode e deve desejar.

Não há nenhuma razão para pedir ao Verbo outra coisa que não seja ele próprio, pois que ele é todas as coisas. Se, como é necessário, nós pedimos certos bens concretos, e se, como devemos, nós os desejamos pelo Verbo, são menos essas coisas em si mesmas que nós pedimos, que aquele que é a causa da nossa súplica.

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana:

Começamos o tempo forte do advento, o tempo da espera vigilante da vinda do Senhor.

  1. Que elementos encontro no evangelho de hoje para elaborar uma espiritualidade do advento?
  2. Qual vai ser meu programa espiritual para as próximas quatro semanas?
  3. Que decisões devo tomar com relação a meu estilo de vida e em minha agenda para que este programa seja possível?

autor : Pe. Fidel Oñoro, cjm – Centro Bíblico del CELAM

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