IMACULADA CONCEIÇÃO (Estudo Bíblico)

Lucas 1,26-38

Introdução

“A mil anos de distância da promessa, um rei e uma jovem virgem estão juntos em sua casa. A Palavra de Deus entra em sua casa… eles só com ela”. Estas palavras recolhem muito bem o itinerário interno que percorrem as leituras de hoje.

O saudoso Papa Bento XVI chamou Maria de “a Porta do Natal”, expressando, assim, o lugar que ela ocupa dentro do mistério que estamos a ponto de celebrar. No relato da anunciação, Maria abre a porta ao Senhor com seu “Fiat” e a entrega de sua vida inteira permite ao Filho de Deus fazer-se humano e chegar a toda a humanidade.

A vocação de Maria para ser a mãe do Messias é única, porém permanece como modelo para cada um de nós que estamos chamados a “encarnar o Verbo” neste Natal que se aproxima.

1. O texto

O relato de Lucas 1,26-38 começa situando-nos no tempo (seis meses depois da concepção de João) e no espaço (Nazaré, cidade da Galileia).

Logo nos apresenta o personagem central, Maria, e nos dá algumas informações sobre ela (seu casamento com José, da descendência de Davi, e sua virgindade).

Em relação à profecia de Natã compreendemos a importância da frase: “desposada com um homem chamado José, da casa de Davi”. O profeta Natan disse: “O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai”.

Desta forma, o relato de Lucas está enraizado na longa história de salvação que espera a vinda do Messias, o filho de Davi.

Com todos estes dados iniciais o relato se concentra na narração do chamado que Deus, por meio do Anjo Gabriel, faz a Maria, para cooperar no plano de Deus, gerar o Messias esperado, que é descendente de Davi, porém, sobretudo, “Filho de Deus”.

2. Aprofundemos

  • O anúncio do Anjo progride em três momentos:
  • A saudação (vv.28-29):
  •  “Alegra-te!”
  • “cheia de graça”
  • “o Senhor está contigo”
    • O anúncio do filho de Davi (vv.30-33);
    • O anúncio do Filho de Deus (vv.34-35).
  • Toda a mensagem se apóia em um único sinal:

Isabel que concebe um filho na velhice (vv.36-37);

  • Maria aceita a anunciação(v.38).

Enquanto lemos o relato não percamos de vista as três reações de Maria:

  • uma emoção: uma reação de “temor” (ante a saudação e não ante o anúncio);
  • uma pergunta;
  • um ato de obediência generosa.
  • O anúncio do Anjo progride em três momentos:
  •  A saudação (vv.28-29);

É a experiência de fundo sobre a qual se apóia o chamado que o Senhor faz a Maria. O primeiro que destaca o relato é que a vocação de Maria se apóia na ação de Deus.

Em cada uma das três palavras da saudação do Anjo ― “Alegra-te”, “cheia de graça”, “o Senhor está contigo”― fala-se de um conteúdo profundo no qual se delineia o que Deus faz nela (ver v.28):

  • “Alegra-te!”

A alegria:O Anjo antecipa a Maria que o anúncio será para ela motivo de imensa alegria, que a palavra do Senhor vai tocar o mais íntimo de seu ser e que sua reação ao final não poderá ser outra que a exultação.

É notório que a alegria de Maria não é imediata, mas que começa, a partir de agora, um caminho interior que culmina no canto feliz do “Magníficat”: “meu espírito exulta em Deus meu salvador” (v.47). Se poderia dizer que a alegria caracteriza uma autêntica vocação.

  • “Cheia és de graça!”

A plenitude da graça divina: Este é o motivo da alegria. Deus lhe faz conhecer a imensidão de seu amor predileto por ela, como tem posto seus olhos nela, cumulando-a de seu favor e de sua complacência. Seu amor é definitivo e irrevogável.

Esta afirmação é tão importante que o Anjo vai repeti-la em 1,30. A confiança que se necessita para poder responder ao Senhor quando nos chama vem da certeza de seu amor.

  • “O Senhor está contigo!”

A ajuda fiel de Deus: Porque Deus ama a Maria desde suas entranhas se põe ao seu lado e se compromete em ajudá-la de modo concreto em sua missão. Deus faz esta promessa também aos grandes vocacionados da Bíblia (Jacó, Moisés, Josué, Gedeão, Davi, Jeremias…).

O que se anuncia em Lucas 1,28 se realiza em 1,35, onde se disse como é que Deus ajuda a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com sua sombra” (1,35).

Com sua potência vivificante, criadora, Deus torna Maria capaz de colocar-se a serviço da existência de Jesus. A ação do Espírito nos remete a Gn 1,1. Portanto, Maria é o lugar onde se cumpre a ação poderosa do Deus criador, e Jesus é o novo começo, em quem se dará esta vida plena que vem de Deus e se realiza em Deus.

Com esta promessa Maria é interpelada: “não será impossível nenhuma palavra que provém de Deus” (1,37, que traduzimos literalmente) e um sinal disso é o que fez em Isabel, a mulher que não podia dar vida. Todo o anúncio do Anjo se apóia neste sinal de fecundidade da mulher anciã. O mesmo fará Deus com uma virgem.

  • O anúncio do filho de Davi (vv.30-33)

A missão concreta de Maria com a pessoa do Messias: a concepção e nascimento do filho de Davi.

Maria é chamada para colocar-se completamente a serviço de Jesus, dando-lhe existência humana a partir de sua capacidade natural de mulher: “Eis que conceberás no teu seio e darás a luz um filho.” (1,31). Porém sua missão não se limita só a isto, Deus lhe pede também que dê um “nome” ao menino, “e lhe porás o nome Jesus”.

Nesta frase Deus está lhe solicitando que se ocupe do desenvolvimento plenamente humano do Filho de Deus, que o eduque.  Assim o serviço de Maria implica entrega total no dom de todo seu ser, de todo seu tempo, de sua feminilidade, de seus interesses, de todas as suas capacidades, de seu projeto de vida a serviço de Deus.

  • O anúncio do Filho de Deus (vv.34-35)

A ação criadora do Espírito Santo no ventre de Maria: o Filho de Deus se forma.

Quando Maria pergunta ao Anjo: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” (v.34), ele responde com o anúncio da ação do Espírito Santo que fecunda seu ventre virginal (v.35).

Retomemos as palavras do Anjo:

  • “O Espírito Santo virá sobre ti…”

O profeta Isaías havia anunciado que o Espírito Santo devia “repousar” de maneira especial sobre o Messias (cf. 11,1-6; 61,1-3). A frase nos recorda a ação criadora de Deus em Gn 1,1-2: o Espírito de Deus gera vida.

  • “O poder do Altíssimo vai te cobrir com sua sombra”

Temos nesta frase tão importante a mensagem da novidade da virgindade fecunda. A ação eficaz de Deus põe Maria “embaixo de sua sombra”.  Esta frase nos remete a Êx 40,35, onde aparece a imagem bíblica da “shekiná”, que é a glória de Deus que desce para habitar em meio de seu povo na “Tenda do Encontro” ou “Tenda dos encontros divinos”.

Trata-se de uma imagem muito significativa: a nuvem que “cobre” a Tenda do Encontro significava a presença de Deus no meio de seu povo. Pois bem, agora o seio de Maria “coberto pela sombra” é o novo lugar da presença divina. Retomando o essencial destas duas expressões postas juntas, “o Espírito virá sobre ti” e “o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”, podemos dizer que a ação do Espírito em Maria é a expressão concreta:

  • Do auxilio de Deus na missão que deve cumprir: ser mãe do Salvador;
  • Do poder de Deus criador;
  • Do tipo de relação que Deus quer estabelecer com ela e com a humanidade: uma proximidade quase total, abraço amoroso que plenifica a sua existência ao submergi-la em sua própria glória.
  •  “Por isso o que há de nascer será santo e será chamado Filho de Deus”

Na Bíblia, a santidade é o atributo essencial de Deus. Na visão de Isaías, os serafins cantavam: “Santo, Santo, Santo, o Senhor, Deus do universo” (Is 6,3). A santidade fará de Jesus o “Filho de Deus” diferente dos reis de Israel que se consideravam “filhos adotivos de Deus” quando subiam ao trono.

O menino que vai nascer terá um ponto em comum com os reis de Israel: será rei. Porém, há também uma grande diferença: “reinará para sempre sobre à casa de Jacó”. Curiosamente seu reinado se exercerá na pobreza, na humildade e na misericórdia. Jesus estará revestido da santidade do Pai.

  • Toda a mensagem se apóia em um único sinal

Isabel que concebe um filho na velhice (vv.36-37)

O Anjo dá a Maria este sinal: “Olha, também Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é já o sexto mês daquela que se chamava estéril, porque nenhuma coisa é impossível para Deus” (vv.36-37).

 Neste ponto se cruzam as duas cenas de anunciação: a que recebeu Zacarias e a que recebeu Maria; anunciam-se nascimentos em circunstâncias praticamente impossíveis: um casal estéril e um casal que não tem tido relações conjugais não podem dar vida.

Portanto: “Nenhuma coisa é impossível para Deus”, disse o Anjo, citando as palavras de Deus a Abraão em Mambré, quando Sara riu ante o incrível anúncio do nascimento de Isaac (ver Gn 18,14).

O ancião Zacarias duvidou e pediu o sinal. Deus lhe concedeu um, talvez, não o que esperava: ficou mudo. O Anjo o repreendeu ante sua falta de fé. Maria, pelo contrário não tem dúvidas, ela não pede um sinal, simplesmente uma explicação. Contudo, sem que se haja pedido, Maria é remetida ao sinal do ventre fecundo da estéril.

Maria aceita a anunciação (v.38)

Tudo o que o Espírito faz em Maria está em função de Jesus: o Messias entra na história humana por meio da ação do Espírito criador de Deus em Maria. Desta maneira o relato da vocação de Maria ilumina nossa compreensão do mistério do Filho que se encarna na natureza humana. Tudo se faz possível graças ao “sim” de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (1,28).

Então Maria entra no projeto de Deus. Com suas próprias palavras dá a si o título mais belo do Evangelho: “servidora”.  Jesus, na última cena se fará chamar da mesma maneira: “Eu estou entre vós como o que serve” (22,27). Ao pôr-se a serviço de Deus com entrega total como a de uma escrava, Maria se converte em modelo dos discípulos e em modelo de toda a Igreja.

Acolherá o Senhor em seu seio, porém não o guardará para ela:

  • Primeiro o levará até a casa de Zacarias e Isabel;
  • Logo o apresentará aos pastores no dia do nascimento; ao fim, o ofertará a Deus e à humanidade, tanto no Templo como na Cruz.

Enfim… Hoje contemplamos em oração, guiados pela Palavra do Evangelho, o mistério desta vocação que mudou a história do mundo. A Palavra suscita em nós uma grande ação de graças e, ao mesmo tempo, a consciência profunda de que cada um de nós tem um chamado para participar ativamente na obra da salvação.

3. Releiamos o Evangelho com um Padre da Igreja

“Eu te saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!”

Aquele que existe antes de ti, hoje está contigo e dentro de pouco nascerá de ti: de um modo, na eternidade e, de outro, modo no tempo. O Anjo não se contentava com revelar simplesmente a alegre notícia sem anunciar que o próprio autor da alegria viria nascer da Virgem. Aquele, ‘o Senhor está contigo’, mostra claramente a presença do próprio Rei… ‘Eu te saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!’ Eu te saúdo, ó Templo magnífico da glória divina. Eu te saúdo, tálamo no qual Cristo desposou a natureza humana. Eu te saúdo, santa terra virginal na qual, com inefável arte divina, foi plasmado

o novo Adão, para recuperar o antigo Adão. Eu te saúdo, ó sagrado e perfeito fermento de Deus, com

o qual toda a massa do gênero humano foi ornada e recolhida depois, embaixo à forma de pães, em uma nova unidade no único corpo de Cristo (Santo André de Creta, Discurso 5).

 4. Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Como se relaciona a profecia de Natã com o relato da Anunciação?

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  • Que passos deu o Anjo na Anunciação?

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Como reage Maria?

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  • Como intervém Deus na vida de Maria para capacitá-la para sua missão?

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Como faz na minha?

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  • Por que Maria é a “Porta do Natal”?

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  • Que atitude me ensina Maria para estes últimos dias de preparação do Natal?

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