ESTUDO BÍBLICO NA QUINTA SEMANA DA QUARESMA ANO 2020

SEGUNDA-FEIRA

João 8,1-11

JESUS, IMAGEM VIVA DO PAI MISERICORDIOSO

“Também eu não te condeno. Vai, e de hoje em diante não peques mais”

 

Iniciamos, hoje, a quinta semana de Quaresma, acompanhados, ainda, pelo discípulo amado, porém, com um episódio que tem muito mais sabor Lucano: o da “mulher adúltera” (Jo 8,1-11).

 

Neste episódio, podemos ver Jesus como o Senhor da misericórdia e do perdão que recria e transforma nossa vida. Depois das fortes discussões com os escribas e fariseus, Jesus passa a noite em oração, porém de madrugada volta ao Templo e ali se põe a ensinar a todo o povo que vai a Ele (8,2).

 

O texto diz que “todo o povo acorria a Ele”, e Jesus, como verdadeiro Mestre se senta e se põe  a ensiná-los  (8,2). Tudo parece dizer-nos que o reconhecimento da “autoridade”  que tem  Jesus chegou ao ponto máximo.

 

  1. Uma emboscada para Jesus

 

Porém, os escribas e fariseus que não descansavam em sua perseguição contra Jesus, aproveitam esta situação para pô-lo a prova e desacreditá-lo ante seus ouvintes, e deste modo ter de que acusá-lo (ver v.6; O mesmo sucede em Lc 20,20; Mc 12,13).

 

Então “levam até Ele uma mulher surpreendida em adultério” (v.3). A Lei de Moisés considerava o adultério contrário à vontade de Deus. O castigo previsto é a pena de morte. O jurídico parece favorecer as perversas intenções dos acusadores.

 

Pedem a Jesus um pronunciamento: “Tu que dizes?” (v.5). É claro que “isto o diziam para tentá-lo, para ter de que acusá-lo” (v.6). Se Jesus ficasse a favor da aplicação estrita da pena de morte, perderia sua fama de homem compassivo e misericordioso; além do mais, lhe traria problemas com as autoridades romanas, ante as quais os fariseus haviam perdido o direito de aplicar a pena de morte. Por outra parte, se ficasse contra a aplicação da pena de morte, iria contra o prescrito na Lei. Neste caso, com que autoridade poderia apresentar-se ante o povo, como Mestre vindo de Deus?

 

  1. O gesto salvador de Jesus

 

Jesus responde realizando um gesto simbólico que repetirá em dois momentos: “Inclinando-se, se pôs a escrever com o dedo na terra” (vv.6.8). Não se sabe bem porque Jesus se pôs a escrever na terra. O certo é que nele não há  agressividade nem fanatismo. Jesus não se precipita a dar opiniões, mas, ao contrário, convida a uma serena reflexão.

 

Tratando de interpretar o gesto de Jesus, alguns autores fazem referência a Jr 17,13: Todos os que te abandonam serão escritos na terra porque esqueceram o Senhor, indicando que, talvez Jesus quisesse apontar, com este gesto, o pecado dos que acusam à mulher.

 

  1. A Palavra de Jesus faz entrar no próprio coração

 

Com o gesto de Jesus seus adversários se incomodam e seguem insistindo. Então, Jesus ergueu-se e lhes disse: “Aquele entre vós que estiver sem pecado, que atire a primeira  pedra” (v.7). E volta a inclinar-se como para dar-lhes tempo de examinarem-se a si mesmos.

 

A resposta de Jesus, em uma situação tão difícil,  não é somente grave, mas  “é um golpe de graça”, que obriga seus adversários a entrar em seus corações e reconhecer, humildemente, seu próprio pecado. De fato, ninguém se atreve a atirar uma pedra.

 

Jesus não os condenou, mas,  de certo modo os obrigou a tomar consciência de seu pecado: Quem pode estar livre de todo pecado? E, fazendo assim, também, a eles, oferece sua misericórdia. Os acusadores vão se retirando um após outro:começando pelos mais velhos(v.9).  Ao final, Jesus e a mulher ficam sós, um de frente ao outro (v.9). A mulher ainda está “no meio”, aguardando o juízo.

 

  1. A Palavra de Jesus perdoa, libera e ressuscita

 

Então, Jesus “erguendo-se”, dirige-se à mulher dizendo-lhe: “Mulher, onde estão? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor” (v.10). As perguntas de Jesus permitem, a esta mulher, expressar-se, e recobrar sua dignidade de pessoa, dando-o também a oportunidade de constatar por ela mesma, que o amor manifestado nos gestos e palavras de Jesus a salvaram da morte.

 

Por fim, se escuta o veredicto de Jesus: “Também eu não te condeno! Vai, e não peques mais” (v.11). Jesus não é acusador. Assim como o Pai misericordioso nunca condena ao pecador, Jesus, imagem viva de sua presença e de seu amor compassivo, não condena, mas levanta a quem está caído.

 

Finalmente, Jesus envia a mulher a uma vida nova: “Vai, e não peques mais” (v.11). O amor vai para a mão da justiça: daqui para frente à mulher deve retificar sua conduta. Jesus, não só livrou esta mulher da morte, mas também a liberou interiormente, infundindo nela a capacidade de viver dali em diante segundo a vontade de Deus.

 

Este relato adquire mais sentido quando o lemos tomando como pano de fundo a Paixão do Senhor: desarmado ante os demais, estamos chamados a abrir-nos à misericórdia que o Pai derrama sobre cada um, e sem medida, na Paixão e morte de seu Filho querido.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Como descobrimos na passagem da adúltera que a Palavra de Jesus perdoa, liberta e ressuscita?

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  • Quando alguém me faz um comentário negativo de uma pessoa, que atitude tenho?

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Condená-la, ou reconhecer o erro, se há, e tratar de salvar e ajudar?

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  • Recordo um momento de minha vida em que me tenha sentido perdoado/a por Deus. Por que posso afirmar que senti o perdão de Deus?

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Se o Senhor me pede aproximar-me ao sacramento da reconciliação, quando e como o farei?

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TERÇA-FEIRA

João 8,21-30

Na Morte e Ressurreição de Jesus participamos da plenitude de Deus.

“Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então saberão que Eu sou”

 

Ao aproximar-se a Semana Santa, somos empurrados, cada vez mais, pela Palavra do Mestre, a tomar posição e optar radicalmente por Ele, comprometer-nos com Ele até a morte, para não correr o risco de “morrer em nosso pecado” (8,21) da indiferença, mediocridade e falta de compromisso verdadeiro.

 

No Evangelho de hoje, em que continuamos lendo o ensinamento de Jesus no Templo, vemos como começa a falar de sua próxima partida: Eu me vou… (8,21). Jesus não fala diretamente de sua morte, mas de seu desaparecimento no meio de nós, como para apressar-nos a comprometer-nos com Ele. O tempo da convivência terrena com o Mestre vai acabar.

 

  1. A rejeição de Jesus leva à morte

 

Este texto não é propriamente um discurso, nem um diálogo propriamente dito, é mais uma confrontação de duas partes, que estão em níveis tão diferentes que parece quase impossível a compreensão. A contraposição “Eu–vocês”, coloca em evidência este distanciamento. A partida de Jesus tem graves consequências: “Eu me vou e vocês me buscarão e morrerão em seu pecado” (8,21).

 

Começa então a se escutar diversas interpretações. A primeira vez que falou de sua partida (ver 7,35), seus adversários pensaram que ia para fora do país; desta vez, pensam que vai suicidar-se (8,22a).      A razão desta segunda interpretação é que acrescentou: Aonde eu vou, vós não podeis ir (8,22b).

 

Em ambos os casos trata-se de uma incompreensão radical. Esta incompreensão perdurará até que se reconheça e aceite a origem divina de Jesus. Porém, a origem e o destino de Jesus, estão envolto em mistério. Um mistério que requer contemplação e adoração.

  1. Origem divina de Jesus

 

Jesus expressa então sua origem divina usando uma linguagem que descreve espaços diametralmente opostos (de baixo, do alto): Vocês são daqui de baixo, eu sou do alto. Vocês são deste mundo, eu não sou deste mundo (8,23). O “do alto” faz referência ao mundo próprio de Deus. A atitude de incredulidade ante Jesus exclui os judeus deste “mundo do alto”. Por isso, seguem pertencendo ao “mundo de baixo” onde vence a morte.

 

Jesus veio transformar esta situação. Sua vinda ao “mundo de baixo” é libertadora. No mundo de Deus se penetra mediante a fé em Jesus: “Eu lhes tenho dito que morrerão em seu pecado, porque se não crêem que Eu Sou morrerão em seu pecado” (8,24).

 

O termo “morte” aqui soa forte. Porém, refere-se à realidade: morrerão em seu pecado de incredulidade, por sua intenção de matá-lo, pela dureza de seu coração. Morrerão porque não crêem em Jesus, ao contrário os que creem viverão: Tanto amou Deus ao mundo que entregou seu Filho, para que todo o que creia nele, tenha vida eterna (V.16; ver 6,50; 8,51). A pergunta que os fariseus voltam a fazer a Jesus – “Quem és tu? (8,25) -, ratifica uma vez mais sua incredulidade e sua falta de disposição para escutá-lo e acolhê-lo.

 

  1. A Morte gloriosa de Jesus revela sua divindade

 

Ante a obstinação de seus adversários Jesus apela novamente ao testemunho do Pai, que é veraz (8,26). Porém, como seus ouvintes nem sequer entendem que Ele está falando do Pai, Jesus os remete a seu último sinal: sua morte gloriosa.

 

Disse Jesus: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então saberão que Eu sou, e que não faço nada por minha própria conta, mas o que o Pai me tem ensinado, isso é o que faço e falo” (8,28). Jesus está falando aqui de sua glorificação pela morte na cruz (ver 12,32).

 

Este é o ponto mais alto da auto-revelação de Jesus, que tem como pano de fundo a revelação de Deus a Moisés com o “Eu Sou” (ver Êx 3,14-15). Jesus está revelando o mistério de sua comunhão absoluta com Deus: Jesus é um com o Pai, vive uma relação única com Ele, sua existência é o Pai mesmo. Jesus não faz nada por sua conta (8,28), depende totalmente da vontade do Pai. Por sua parte, o Pai está sempre com Ele, nunca o deixa, nem o deixará só, porque faz sempre o que agrada ao Pai (8,29).

 

Notemos o que acontece ao final: quando Jesus terminou de falar muitas pessoas creram n’Ele (8,30). Esta é a provocação que Jesus faz a seus ouvintes. Crer é entrar decididamente em seu Mistério para participar n’Ele da mesma plenitude de Deus.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

Jesus nos fala de sua origem divina usando duas expressões “de baixo”, “do alto”:

 

  • Que quer dizer com elas?

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  • Minha relação, nossa relação com Jesus, conduz ao Pai?

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  • Como o constatamos?

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QUARTA-FEIRA

João 8,31-42

Jesus alcançamos a verdadeira liberdade.

“Se, pois o Filho lhes dá liberdade, serão realmente livres”

 

Depois da revelação do “Eu sou”, que nos tem mostrado a união íntima de Jesus com o Pai, fazendo-nos descobrir n’Ele o Deus libertador (Êx 3,15), hoje se revela como o “Filho que nos dá a liberdade”.

 

Em outras palavras, o evangelho de hoje nos faz entrar decididamente na “filiação divina” de Jesus para que possamos ser verdadeiramente livres.

 

Observemos o texto. Está construído a partir de quatro frases que chamamos condicionais (do tipo: “se tal coisa… então tal outra”). As duas primeiras partem de uma afirmação que convida a fazer ou a deixar de fazer algo; se esta é aceita a consequência é a realização de uma promessa.

 

Se, se mantém fieis a minha Palavra (então) serão meus discípulos, conhecerão a verdade e a verdade os fará livres” (8,31), e Se o Filho lhes dá a liberdade, (então) serão realmente livres” (8,36). Aqui se conectam estreitamente duas realidades: ser discípulos” e “ser livres.

 

Nas outras duas há uma urgência de Jesus pra que os judeus assumam as consequências do ser descendentes do Patriarca Abraão e Filhos de Deus: “Se são filhos de Abraão, façam as obras de Abraão” (8,39), e Se Deus fosse seu Pai, me amariam” (8,42).

 

A conexão entre as duas primeiras afirmações e as outras está na palavra “Filho”. O discípulo vive a liberdade do Filho. Os israelitas vivem a filiação de Abraão, porém em última instância seu verdadeiro Pai é Deus, aquele a quem Abraão sempre se remeteu. Daqui se derivam novas conexões e consequências. Aprofundemos em alguns aspectos significativos da passagem.

 

  1. Permanecer na Palavra para ser discípulos

 

Para ser discípulo de Jesus não basta só segui-lo (v.12) e confiar nele (v.31). É preciso Permanecer em sua Palavra (v.31), quer dizer, deixar-se habitar por ela, acolhê-la, assimilá-la, viver da Palavra, reconhecendo que por meio da Palavra assimilamos o “Verbo”: Deus conosco e em nós.

 

Neste discipulado podemos chegar ao conhecimento da “Verdade” (v.32), quer dizer, da íntima natureza e da fidelidade do Pai e do Filho. O Filho, que vive em uma relação íntima com o Pai, é a “Verdade” personificada (ver 1,14; 14,6).

 

  1. O pecado nos faz escravos

 

Os judeus se rebelam ante a proposta de liberdade que Jesus lhes faz porque, sendo filhos de Abraão, se consideram já um povo livre.

 

Deus já os libertou da escravidão para que o servissem em liberdade, por isso, ainda que estejam sob dominação romana, sustentam que não são escravos de ninguém.

 

Jesus está falando de uma liberdade mais profunda: “Todo o que comete pecado é um escravo” (8,34). Quem se faz escravo do pecado já não é filho, não goza da liberdade própria do Filho.

 

O Filho é o que está em relação íntima com Deus e, assim, permanece na família divina. O escravo não fica em casa para sempre (v.35), pois o pecado o afasta do amor e da família do Pai (como bem ilustra Lucas na parábola do Pai misericordioso: Lc 15,11-16).

O pecado de que Jesus fala aqui é a rejeição à sua Palavra. Rejeitar Jesus é rejeitar a luz (3,19), rejeitar o amor de Deus revelado em Jesus.

 

  1. Ser realmente filhos livres

 

É no Filho que chegamos a ser realmente livres (ver 8,36). A liberdade para Jesus se vive no interior de uma relação viva com Deus, como fruto da verdade plenamente acolhida, e está intimamente relacionada com a filiação: Se o Filho lhes dá a liberdade, serão verdadeiramente livres (v.36).

 

A Palavra de Deus ao longo de toda esta quaresma segue progressivamente realizando nosso processo de libertação interior, verdadeiro caminho pascal, atraindo-nos cada vez com maior força para viver como filhos de Deus, deixando-nos conformar com os sentimentos e atitudes do Filho enviado do Pai.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que o fato de sermos discípulos de Jesus nos dá liberdade?

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  • Que quer dizer permanecer na Palavra?

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Como vivo em minha família, comunidade ou grupo?

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  • Em que faço consistir em minha vida, de cada dia, o fato de ser e sentir-me filho/a de Deus?

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QUINTA-FEIRA

João 8,51-59

CHAMADOS À VIDA EM ABUNDÂNCIA

“Se alguém guarda minha Palavra, jamais verá a morte”

 

No Evangelho de ontem fomos convidados a “sermos discípulos” e a “sermos livres” mediante a permanência na Palavra do Filho. Este Filho, a verdade mesma, nos libera da escravidão do pecado e nos faz filhos do Pai.

 

Neste clima de filiação e discipulado vamos aproximando-nos da Páscoa com viva consciência de que na medida em que  acolhemos o mistério de Jesus, sua morte e sua ressurreição, somos conduzidos para a plena liberdade.

 

Sigamos lendo a última parte do capítulo 8 do evangelho de João, no qual encontramos novas revelações de Jesus, revelações que – como vemos na anotação final do evangelista – provocam uma forte rejeição por parte do auditório: “Então tomaram pedras para atirar nele” (8,59).

 

  1. Quem crê em Jesus tem a Vida

 

A primeira afirmação é contundente: “Asseguro-lhes: se alguém guarda minha Palavra, não verá a morte jamais” (v.51).

 

Anteriormente, Jesus havia afirmado que, quem se mantém em sua Palavra, se converte em discípulo, agora, já muito mais além, afirma: o que permanece em sua Palavra não verá jamais a morte. E esta promessa está respaldada por seu comportamento: Jesus mesmo “guarda a Palavra” do Pai (v.55).

 

Jesus disse a seus discípulos que não verão a morte, ou seja, quem crer n’Ele terá a vida. Assim prometeu à  Samaritana (4,14), aos judeus de Jerusalém (5,24), a todo o que crer n’Ele (6,40). Nesta passagem a promessa da vida implica que “não verá a morte”.

 

Diante de semelhante afirmação aparece, novamente, à incompreensão de seus ouvintes, que por ser de “baixo”, interpretam suas palavras em sentido literal e não no sentido pleno que Jesus lhe dá (ver 11,25). Por isso o acusam de estar endemoninhado (8,52).

 

Seu anúncio de submissão à morte é tão grande, que o coloca acima de Abraão e dos profetas. Assim, nos fazem ver claramente as objeções de seus ouvintes (8,52-53).

 

  1. O Pai glorifica a Jesus fazendo-lhe realizar suas próprias obras

 

Jesus, como costumava fazer, quase sempre, não responde às objeções de seus adversários, explicando o significado de suas palavras, mas apelando  a sua relação única com o Pai, onde está o verdadeiro fundamento de suas afirmações.

 

Jesus os convida a avançar na reflexão: “Se eu glorificasse a mim mesmo, minha glória não valeria nada; é meu Pai quem me glorifica…” (8,54).

 

Em outra ocasião Jesus afirmou que Ele não buscava sua glória, se bem há quem a busca (8,50). É o Pai quem o glorifica nas obras que realiza, e o glorificará plenamente quando for levantado no alto (ver 13,31;12,28). A relação que Jesus mantém com o Pai está dinamizada pela obediência: “Porém eu lhe conheço e guardo sua Palavra” (8,55).

O cumprimento da Palavra tem como ponto de partida o conhecimento: Jesus conhece o Pai, tem experiência direta com Ele, está no Pai e o Pai está n’Ele. Nos discursos de revelação que temos lido nestes dias, Jesus o tem expressado de vários modos:o que vejo fazer o Pai”, “o que o Pai me mostra (5,19-20).

 

Este conhecimento que tem do Pai é pleno e é o Pai quem o faz falar e agir: O que Jesus busca, é que o Pai seja reconhecido em suas obras.

 

  1. Quem conhece a Jesus, conhece a Deus

 

Para concluir, Jesus pronuncia a palavra mais forte e decisiva sobre si mesmo: “Em verdade, em verdade lhes digo antes que nascesse Abraão, Eu sou” (v.58). Esta expressão é uma clara afirmação da preexistência de Jesus explicitada por João no prólogo (1,15).

 

Antes havia dito que não era deste mundo (v.23), que todas as escrituras falavam d’Ele (5,39), porém aqui se coloca acima do tempo e fora dele: “antes que nascesse Abraão, Eu sou” (v.58). Contudo, o que Jesus nos tem revelado até agora, podemos compreender como uma afirmação de sua divindade, baseada na comunhão absoluta que vive com Deus Pai.

 

A Pessoa de Jesus é um mistério de comunhão com o Pai. Esta comunhão é tão radical, tão íntima e tão absoluta que podemos concluir afirmando que Jesus é Deus. Sua transparência é tão grande, que, quem conhece Jesus, conhece ao Pai.

 

Podemos crer nele, porque nos transmite, unicamente, o que ouviu e viu no Pai. O “Eu sou”, proclama fortemente a sua relação de Filho com Deus. A experiência de Jesus é a de uma relação perfeita e absoluta com o Pai, uma mútua imanência.

 

Jesus é plenamente consciente de sua condição de Filho. Na medida em que nós, seus discípulos, estando em Jesus, e vivendo uma relação filial com o Pai, participamos de seu mistério.

 

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que podemos afirmar que quem crer em Jesus não morre jamais?

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  • Nesta quaresma que está terminando que momento eu tenho dedicado para confrontar minha vida com a Palavra de Deus?

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Que proveito tenho tirado dela?

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  • Podemos ir formulando como família um compromisso concreto relativo à leitura e aprofundamento, se possível diária ou ao menos semanal, da Palavra de Deus?

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SEXTA-FEIRA

João 10,31-42

Jesus nos convida a que creiamos n’Ele para dar-nos a vida.

“Creiam pelas obras e assim saberão e conhecerão que o Pai está em mim e Eu no Pai”

 

O Evangelho de São João, que tem nos acompanhado nestas últimas duas semanas de quaresma, nos faz participar de algum modo, na paixão interior de Jesus.

 

Na medida em que Jesus avança na revelação de seu mistério – sua origem, sua missão, sua relação, única e absoluta com o Pai – cresce, também, a incompreensão, a oposição, a rejeição e a ameaça de morte, pois Jesus Cristo se apresenta como o enviado, o Filho de Deus, e os judeus o consideram blasfemo e tentam matá-lo.

 

Em nosso texto de hoje, enquanto os adversários pegam pedras para atirar-lhe (10,31), Jesus lhes disse: “Tenho lhes mostrado muitas boas obras que vêm do Pai, por qual delas querem apedrejar-me?” (10,34).

 

Eles respondem encarando-lhe a suposta blasfêmia: “Tu sendo homem, fazes a ti mesmo de Deus” (10,33).

 

  1. Jesus é um com o Pai

 

Jesus se defende dos ataques dos judeus fazendo referência à Escritura que eles conhecem muito bem: “Não está escrito em sua lei: Eu disse: sois deuses? (10,34; Sl 82,6).

 

Se, segundo a Escritura, a divindade pode ser atribuída a quem escuta a Palavra de Deus, quanto mais àquele que é a própria Palavra de Deus.

  1. Jesus é realmente o Filho de Deus

 

Com esta alusão à Escritura, Jesus introduz sua última afirmação sobre sua condição absoluta de Filho de Deus: Como dizem vocês que aquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo blasfema por ter dito: Eu sou Filho de Deus?(8,36).

 

Jesus mantém firme sua posição. Realmente é o Filho de Deus, o Pai o consagrou para realizar sua obra, sobre Ele repousa o Espírito de Deus (ver 6,27; também em Lc 4,18). O Pai o elegeu e o enviou para devolver ao mundo a luz e a vida que habitam n’Ele.

 

  1. Nas obras de Jesus reconhecemos o Filho do Pai

 

Jesus realizou as obras de Deus. A vida que devolveu ao filho do funcionário real (cf. 4,50), a cura do enfermo da piscina (cf. 5,8-10) e do cego de nascimento (cf. 9,6-5), demonstram que Ele é o Filho, e o enviado de Deus ao mundo (cf. 5,36).

 

Todos o têm visto e podem constatá-lo. Talvez possam rejeitar suas palavras, porém não podem negar suas obras. Elas, por si mesmas, seguem gritando que Jesus é o Filho, o caminho que leva ao verdadeiro conhecimento de Deus.

 

  1. Jesus nos suplica que creiamos n’Ele para dar-nos a vida

 

Por isso Jesus, lhes replica com força: “Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim, porém se as faço, creiam pelas obras” (10,37-38). O que Jesus suplica, no fundo, é a fé em sua profunda unidade com o Pai.

 

Só um olhar de fé pode levar-nos a descobrir nas obras de Jesus sua relação no Pai: “O Pai está em mim e eu estou n’Ele”. Toda esta auto revelação de Jesus quer levar-nos a esta certeza de fé: o Pai e Jesus estão um no outro (ver 14,10-11; 17,21).

 

Nosso itinerário quaresmal está quase no final. Na escuta do Mestre temos aprendido a viver como pessoas novas, como filhos de Deus e como irmãos.

 

Temos, também, aprendido, contemplando a Jesus, que a força de Deus e o poder de seu Espírito são mais fortes que todas as dificuldades, perseguições e sofrimentos. “Não tenham medo, eu venci ao mundo”, nos dirá mais adiante (16,33).

 

O memorial da Páscoa, que nos dispomos a viver, confirma nosso itinerário de conversão, e nos reveste da vida nova do Filho de Deus, que nos amou e se entregou por nós” (ver Gl 2,20).

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que podemos afirmar que a mão de Deus Pai se reconhece nas obras de Jesus?

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  • Que ação particular de Deus encontro em minha vida, que tenha se tornado proclamação aos demais de sua obra salvadora?

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  • Que gesto concreto de solidariedade temos feito nesta quaresma, como família, como comunidade, que revele o agir de Deus?

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SÁBADO

João 11,45-56

REJEIÇÃO DE JESUS E LUZ SOBRE A CRUZ: PARA QUE SUA FORÇA NÃO ARRASTE O MUNDO INTEIRO?

“Para reunir em um os filhos de Deus que estavam dispersos”

 

A hostilidade mortal contra Jesus chega hoje a seu ponto de maior tensão. Tal como se pode notar nas passagens evangélicas de todos estes dias, tem tido uma acentuada ordem crescente de ameaças e tentativas de captura e assassinato de Jesus.

 

O ponto final está registrado em Jo 11,53: Desde este dia, decidiram matá-lo”.

 

A ressurreição de Lázaro foi o ato final do ministério público de Jesus, o último de seus 7 (sete) sinais reveladores.  Libertando seu amigo da morte, Jesus confirmou solenemente sua própria identidade de Ressurreição e Vida (v.25).

 

Porém, este sinal importante faz também eclodir a oposição final contra Jesus e lhe abre as portas ao complô que o levará à morte.

 

Os chefes, frustrados e temerosos, reúnem o Conselho Supremo para ver o que fazer: “Que fazemos? Porque este homem realiza muitos sinais (v.47).

 

Desde seu ponto de vista, eles fazem uma avaliação das consequências: deixá-lo continuar, é expor-se a um dano irreparável para a nação inteira (ver 11,48).

 

Então o sumo sacerdote Caifás se levanta e faz sua profética declaração: Vós não sabeis nada, nem percebeis que convém que morra um só pelo povo e não pereça toda a nação” (vv.49-50).

 

A verdade irônica desta declaração é de tal forma irresistível que o evangelista não quer que escape ao leitor a ironia: Isto não o disse por sua própria conta, mas como era Sumo Sacerdote aquele ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação – e não só pela nação, mas para reunir em um, os filhos de Deus que estavam dispersos” (v.51).

 

Eis aqui a ironia: o Sumo Sacerdote e o Conselho condenam Jesus para salvar o povo, porém, ao mesmo tempo, o povo, a nação, a lei e o templo, ficam desqualificados pela rejeição a Jesus, porque desta rejeição surge uma nova realidade, um novo povo em torno a Jesus.

 

A cena acaba com a decisão de matar a Jesus (v.53) e com a notícia de que Jesus se refugia em Efraim com seus discípulos (v.54). Jesus toma precauções e se torna escorregadio, não se deixa capturar.

 

A paixão não é, simplesmente, a confluência de forças adversas que pousam sua mão sobre Ele, também, e, sobretudo, é um ato de livre vontade: Ninguém me tira (a vida), eu a dou voluntariamente (v.18). Jesus determinará a hora.

 

O cenário está pronto para a Paixão. Outra Páscoa se aproxima (v.55). A peregrinação de judeus de todos os lugares do país à Cidade Santa dá motivo para que se fale de uma busca constante de Jesus (v.56). A pressão aumenta e o ambiente se põe mais tenso. Uns buscam a Jesus para admirar suas obras, e outros, as autoridades judias, para capturá-lo (v.57).

 

Porém, já desde o anúncio profético de Caifás, de maneira irônica tem se mostrado que as forças que se lançam contra Jesus serão vencidas. Deus reverte às más intenções dos adversários.

 

Enquanto eles creem que matando Jesus o tirarão de cena, o que conseguem é dirigi-lo para o momento no qual seu amor tenaz pelos amigos, sinal do amor de Deus pelo mundo, será demonstrado com maior força: Jesus reunirá em torno d’Ele o novo povo de Deus, isto é, a Aliança será renovada.

 

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

 

  • A rejeição de Jesus no evangelho de João alcança seu ponto mais álgido a propósito da ressurreição de Lázaro. Qual é a mensagem?

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  • Por que decidem matar a Jesus?

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  • Como entender esta frase que declara o sentido da morte de Jesus: “para reunir em um aos filhos de Deus que estavam dispersos”?

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  • Que nos diz hoje?

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Que poderíamos esperar da Semana Santa que começa amanhã?

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