3ª Semana da Páscoa (Estudos Bíblicos)

ESTUDO BÍBLICO NA 3ª SEMANA DA PÁSCOA

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

João 6,22-29

O PÃO DE VIDA (III): QUEREMOS MAIS!

“Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece para vida eterna”

A terceira semana do tempo pascal é uma semana eucarística, segundo sacramento pascal.

A mensagem que se aprofunda, seguindo o fio do discurso sobre o “Pão da vida”, é que Jesus nos dá vida a partir de sua própria vida.

Por isso, Ele não somente dá pão, mas Ele mesmo é o pão que se deve buscar, apreciar e encarnar.     É assim como vivemos a vida nova do Ressuscitado. A Eucaristia é sacramento pascal por excelência!

No relato da multiplicação dos pães vimos como Jesus não ficou indiferente ante um povo necessitado do básico para manter a vida, mas alimentou a todos sem exceção até a saciedade. O evento não terminou bem: a multidão não entendeu o alcance real do gesto de Jesus, ou seja, não viu como sinal.

Iniciou o desentendimento quanto ao verdadeiro sentido de sua missão. Começa, então, o processo de clarificação do que a multidão busca e de oferecimento dos dons de Jesus que devem ser buscados:

  1. Em busca de Jesus (6,22-25)

A multidão havia ficado, depois da multiplicação dos Pães, na verde relva à beira do Mar de Tiberíades (6,22a). Notaram que os discípulos de Jesus haviam ido sozinhos no único barco disponível e chegaram a pensar que Jesus, todavia estava ali (6,22b).

Só no dia seguinte pela manhã caem em conta que Jesus não estava. Começa então a busca do Mestre (6,24).

Pensando que Jesus havia se unido aos discípulos em alguma parte do caminho, a multidão correu para os barcos que chegaram pela manhã a beira do lago, provavelmente os barcos que haviam chegado durante a noite fugindo da tempestade (6,23). 

Nesses barcos vão para Cafarnaúm e encontram Jesus à orla do mar (6,25a). Os discípulos perguntam: “Rabi, quando chegastes aqui?” (6,25b). A pergunta, na realidade, não só significa “quando”, mas “como”, a forma misteriosa como chegou até esse lugar.

  • As motivações para buscar a Jesus: Por que me buscam? (6,26-27)

Frente à curiosidade da multidão, Jesus parece responder com certa frieza.

Suas palavras não respondem à pergunta da multidão, antes centram a conversa no essencial: não se deve buscá-lo só pelos benefícios que possa oferecer-lhes, porque essa seria uma atitude egoísta e interesseira, que consistiria em buscar mais a si mesmos; Jesus simplesmente seria “manipulado”.

Para isso, responde à pergunta que Ele mesmo faz de forma implícita: “Por que me estão buscando?”. Diz: “Vós me procurais… porque comestes dos pães e vos saciastes” (6,26). 

Ele capta as reais motivações da multidão (2,24-25), o “ter comida sem esforço”, e o convite a fazer a busca por uma nova rota: o “crer” autêntico que traça o caminho entre o coração do homem e o de Deus, a partir dos pontos firmes que o identificam como o Messias enviado de Deus.

  • Onde há o esforço: Crede! (6,27-29)

Jesus começa a falar de um trabalho que, em última instância é um dom.

Três pontos se acentuam:

  • Jesus lhes diz: “Trabalhem não pelo alimento que se acaba” (6,27a). Não esforçar-se simplesmente por sobreviver senão para viver plenamente;
  • Jesus afirma que o alimento que dura até a vida eterna é “o que dará o Filho do homem…” (6,27b). Sim a vida, que sempre é um dom, porque ninguém gera a si mesmo senão, que sempre a recebe, muito mais a vida em plenitude é um dom que vem do alto e que recebemos pela mão de Jesus: “a quem Deus confirmou com sua autoridade… selou com selo”, que é o Espírito Santo, Espírito de vida que Ele possui sem medida (ver 3,34).
  • Jesus declara: “A obra de Deus é que creiais em quem Ele há enviado” (6,29). Com isto responde à pergunta da multidão: “Que temos que fazer para trabalhar no que Deus quer?” (6,28). Em termos nossos poderíamos dizer: Que devemos fazer para que nossa vida esteja em sintonia com o projeto criador do Pai? A resposta é o “crer” em Jesus. 

É na comunhão com Jesus (em seu seguimento) que a vida eterna começa a ser uma só realidade. Só em sintonia com Jesus se vive a vontade de Deus: fazemos as obras de Deus como Ele fez. Desta maneira nossa vida se converterá em um instrumento de Deus no mundo.

Enfim, a conclusão da primeira parte do diálogo de Jesus com a multidão que quer mais pão é: Jesus é o único que pode satisfazer a fome de eternidade que está impressa no coração de todo homem.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Quando busco a Jesus em oração estou mais preocupado pelo que creio que Ele deve fazer em minha vida ou em entender o que Ele quer fazer em minha vida?

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Qual minha motivação para orar?

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  • Para que estou trabalhando?

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Que sentido tem todos meus esforços cotidianos?

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  • Que se entende aqui por “crer”?

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Declaro-me um verdadeiro “crente”?

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TERÇA-FEIRA S. Marcos Evangelista

(Marcos 16, 15-20)

De acordo com a doutrina católica [1], o segundo evangelho é obra de S. Marcos e como tal é reconhecido e venerado desde os primeiros séculos do cristianismo. Nos livros do Novo Testamento, se menciona com frequência um certo discípulo dos Apóstolos, chamado ora João (cf. At 13, 5.13), ora João Marcos (cf. At 12, 12.25; 15, 37ss), ora simplesmente Marcos (cf. At 15, 39; Col 4, 10; Fil 24; 2Tm 4, 11), o qual também é descrito como amigo e companheiro de Paulo em suas viagens apostólicas. A Tradição, sobretudo por boca de Papias (cf. Eusébio de Cesaréia, HistEcl. III 39, 15), a ele se refere e permite identificá-lo com o “filho” cujas saudações transmite S. Pedro, já em Roma, a várias comunidades cristãs (cf. 1Pd 5, 13). É sentença comum que todas essas passagens se referem a uma única pessoa, designada com um dúplice nome, hebraico e latino: Yohanan Markos. Na época de Cristo, com efeito, o prenome romano Marcus já se havia vulgarizado em seu equivalente grego, Μάρκος, e é bastante provável que o evangelista cuja festa celebramos hoje fosse de cultura helênico-judaica.

Do pouco que a seu respeito nos chegou dos tempos apostólicos, sabemos que S. Marcos era filho de certa Maria, a cuja casa Pedro se dirigiu após escapar do cárcere e na qual muitos fiéis costumavam reunir-se para rezar (cf. At 12, 12). Parece, portanto, ter nascido em uma família de posses, o que lhe permitiu ser instruído em grego desde pequeno. Além disso, era primo do levita Barnabé (cf. Col 4, 10; At 4, 36) e, a julgar por alguns escritos do séc. IV, talvez ele mesmo tenha exercido o levirato. Seja como for, é certo que Marcos acompanhou S. Paulo de Jerusalém a Antioquia (cf. At 12, 25), onde lhe serviu de auxiliar (cf. At 13, 5b). No entanto, por algum motivo que os Atos silenciam, não quis seguir o Apóstolo até Perge, na Panfília, senão que decidiu retornar a Jerusalém (cf. At 13, 13), razão por que Paulo não o admitiu mais como companheiro de ministério (cf. At 15, 38). Por volta dos anos 49 ou 50, viajou com Barnabé a Chipre e, pouco tempo depois da primeira prisão de Paulo, reconciliou-se com o Apóstolo e voltou a ajudá-lo a pregar o Evangelho (cf. Col 4, 10; 2Tm 4, 11).

Também o vemos ao lado de S. Pedro, príncipe dos Apóstolos, em cuja epístola aos cristãos do Ponto, da Galícia e de outras regiões lemos o seguinte: “A igreja escolhida de Babilônia” (ou seja, de Roma) “saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho” (lt. filius meus, gr. ὁ υἱός μου), isto é, “aquele a quem muito quero”, “meu auxiliar no apostolado” ou “que foi batizado por mim”. Estas palavras de Pedro parecem confirmar o constante testemunho da Tradição de que Marcos foi discípulo, intérprete e tradutor do primeiro Papa, cuja doutrina tratou de compilar e transmitir o mais fielmente possível a todos os que haviam de ler o seu evangelho, escrito em cores tão vivas e reais que apenas uma testemunha ocular e apaixonada como S. Pedro seria capaz de descrever. De fato, uma das características mais chamativas do segundo evangelho são as descrições psicológicas de Cristo, tão humanas e ao mesmo tempo tão divinas: sua tristeza, sua alegria, sua angústia, sua compaixão etc. — Recorramos hoje à intercessão deste santo evangelista e peçamos-lhe que nos alcance de Cristo, a quem tanto serviu com obras, palavras e escritos, a graça de sermos também nós fiéis transmissores da fé católica e apostólica.


QUARTA-FEIRA

João 6,35-40

PÃO DA VIDA (V): UMA EXTRAORDINÁRIA REVELAÇÃO

Quem vem a mim não passará fome, quem crer em mim nunca terá sede”

Jesus nos vai conduzindo à nova mesa do banquete e do amor na qual a mediação para alcançar a vida é um novo pão, do qual, aquele da montanha, era apenas um sinal do grande dom que estava por vir. 

Retomemos hoje a frase que terminou o Evangelho de ontem e começa o de hoje, tida entre as mais belas de toda a Bíblia, e aprofundemos cada um de seus termos e captemos sua proposta.

“Eu sou o pão que dá a vida: quem vem a mim não passará fome: aqui, pela primeira vez, nos encontramos com uma expressão em que Jesus, tomando como ponto de partida uma realidade terrena de necessidade vital, explica a importância, o valor que Ele tem para nós.

Este é o primeiro “Eu Sou” de uma série que contemplamos no Evangelho de João:

  • a luz do mundo” (8,12);
  • “…o bom pastor” (10,11);
  • “…o caminho, a verdade e a vida” (14,6);
  • “…a videira e vós os ramos” (15,1).
  • Eu Sou

No monte Horeb, Deus revelou seu nome: “Eu Sou o que sou” (Ex 3,14). Na revelação de seu nome a Moisés, Deus se definiu essencialmente pelo fato de estar presente no meio de seu povo.  Com a definição que dá de si mesmo, Jesus disse que Deus está presente n’Ele em função de nós, os homens e que se interessa por nós, por nossa vida.

Portanto, Jesus em pessoa é a nova e definitiva forma da presença poderosa e ativa de Deus, dirigida não somente a ser proteção e guia, senão a ser comunhão pessoal de vida. Jesus não quer dar-nos somente pão, mas também a eterna comunhão pessoal de vida com Deus.

  • … o pão que dá a vida

Podemos compreender melhor o sentido desta e das outras expressões que começam com “Eu Sou”, se, se determina com clareza de que tipo é nossa relação com as realidades terrenas assinaladas e se conseguimos captar a pretensão que elas contêm. 

Por isso perguntemo-nos: Por que Jesus se compara ao pão?  Porque o pão (que é uma maneira de referir-se ao alimento em geral) é imprescindível para viver. A relação que uma pessoa tem com o alimento não é opcional nem acessória.

Efetivamente, nossa relação com o pão – e com o alimento em geral – está caracterizada pelo fato de que devemos recorrer a ele necessariamente. Ninguém pode dar-se o luxo de dizer que vai viver neste mundo sem alimentar-se. Dependemos do pão não como algo ao que se possa renunciar, senão como à base de nossa existência, para nossa vida.

Vejamos:

A vida necessita do alimento

 Sem as forças que nos vem do pão, não podemos viver. Por natureza devemos recorrer ao pão. O pão tem uma maravilhosa capacidade de manter a vida. Quem não tem o que comer ou não quer comer, morre. Isto não depende de nossa vontade, simplesmente é assim.

O alimento – e, portanto, a vida – é dado

Com relação ao manter a vida não somos independentes; o que o pão nos dá não podemos nos dar por nós mesmos, de nenhum modo, nem com os pensamentos mais claros nem com as decisões mais firmes que tenhamos. Não há um princípio intrínseco que mantenha constantemente a vida por si mesma, mas ela se mantém por estímulos externos (que são todas as formas de alimentação: oxigênio, luz, água, proteínas e todas as formas de nutrição).

A vida é limitada

O pão tem relação direta com a vida e com a morte.  Se trata, porém da capacidade ser limitada, porque para cada homem, irremediavelmente chega o momento no qual inclusive o melhor  alimento do mundo já não pode mantê-lo.  Por vários anos o alimento nos tem evitado a morte, porém ao final, por mais que comamos igualmente morremos.

De maneira que, em um primeiro nível de compreensão, Jesus nos está dizendo que Ele é “causa” de vida, onde Ele está brota vida. E assim como o alimento é necessário para a vida, Ele é necessário para nós. Há que buscar a Jesus com a mesma motivação com que buscamos a comida todos os dias.

Jesus deve ser para nós uma necessidade vital! Mas, tem mais. Jesus disse que “dá a vida” (é mais claro dizer “pão que dá a vida” que simplesmente “pão da vida”). E, que é a vida?

A reflexão profunda que provoca Jesus nesta passagem do Evangelho deixa claro: é muito mais que a mera existência física. E qual o sentido espiritual da vida? Também já vimos antes: a vida verdadeira é a nova relação com Deus: essa relação de amor e confiança que se realiza na amizade com Jesus.

Esta comunhão de amor é a verdadeira vida, a existência plena. Dai que sem Jesus pode haver existência, porém vida não. Agora podemos entender melhor por que a Jesus podemos chamar “o pão que dá a vida”.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

Não há só fome material (do alimento, o vestir, a casa, a profissão, etc.), também há outras “fomes”, como: Há fome da verdade (e não esqueçamos que só em Jesus se encontra a verdade de Deus); Há fome de vida (e não esqueçamos que só em Jesus há vida em abundância); Há fome de amor (só em Jesus se encontra o amor que supera as feridas do pecado e a separação final da morte). Só Jesus pode satisfazer essa fome mais profunda que nos mantém constantemente insatisfeitos.

  1. De que tenho fome?

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  • Que faço para saciar essa fome?

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QUINTA-FEIRA

João 6,44-51

O PÃO DE VIDA (VI): UMA SÍNTESE DO EVANGELHO.

“Quem come deste pão viverá para sempre”

Já na noite da vigília Pascal vimos como tudo convergia para o altar. Depois do fogo, a Palavra, a água e, enfim, chegou à mesa do pão como ponto alto da celebração pascal. Por isso é tão importante que aprofundemos, neste tempo pascal, a frase “Eu sou o pão que dá a vida”.

Ontem abordamos a primeira parte da frase de João 6,35, “Eu sou o pão da vida”. Consideramos oportuno seguir hoje com esta mesma frase, em sua segunda parte: “O que vem a mim, não terá fome e o que crer em mim nunca mais terá sede”.

Ainda que não explique nesta ocasião os vv.44-41, o que refletiremos em seguida nos ajudará a entender melhor a ênfase no tema da vida, característico dos versículos citados (observe bem o texto).

  1. Não passará fome… nunca mais terá sede

Jesus utiliza duas imagens cotidianas e, ao mesmo, tempo fortes, para expressar o que acontece no encontro vivo com Ele. 

Em Jesus a vida encontra uma nova satisfação porque Ele é a resposta ao que está no fundo de todas as buscas. A fome acaba quando conhecemos a Jesus e, por Ele, a Deus. Nele o coração inquieto encontra seu repouso, o coração faminto é saciado em seus mais profundos desejos.

A vida deixa de ser um “sobreviver”, e ainda mais, um mero vegetar, ou um campo de batalha indesejável onde nos derrotam as solidões e frustrações, para converter-se em aventura cheia, ao mesmo tempo, de emoção e paz.

Na comunhão com Jesus, nossa vida está segura para além da morte. O último dia, quando chegarmos ao porto, quando o presente termine, não cairemos no vazio porque a morte não é carência (fome-sede) de vida, mas plenitude dela, porque – em última instância– a vida está em Deus (ver Jo 1,4).

A frase sobre a fome e a sede que são saciados definitivamente, nos mostra, além do mais, o toque de eternidade que tem cada presente. Cada instante de nossa existência é verdadeiramente vida se está cheio de Deus.

  • O que vem a mim… o que crer em mim

A última expressão é para reafirmar que o dom de Deus supõe uma ação de nossa parte: o crer.          O Evangelho deixou claro que a comunhão com Deus só é possível por meio de Jesus e, por isso, Ele é “pão” imprescindível para a vida em Deus.

Sem Ele nunca haveria sido possível e fora dele segue sendo impossível. Daí que temos que entrar em relação com Jesus, porém não qualquer tipo de relação.

Vir” a Jesus é o mesmo que “crer” em Jesus. Com estes termos se está descrevendo a fé como uma dinâmica relacional, como um acorrer a Ele mediante sucessivas aproximações.

A Jesus, o vemos cara a cara, na Santa Escritura, na Eucaristia, nos irmãos, porém o “crer” é mais que vê-lo: é preciso acercar-se a ele, é preciso dar o passo da fé, isto é, tomá-lo como amigo, estreitar as relações como em uma grande ceia com Ele, porque “vir a Ele” é aceitar seu convite.

A dinâmica da fé é similar à da busca do alimento. Se conectamos a imagem do “vir” com o da “fome-sede”, que acabamos de ler, vamos notar que é como se estivesse dizendo: O que é que alguém faz quando tem fome? Vai à mesa e come, se alguém come regularmente nunca terá fome.

O que é que alguém faz quando tem sede? O mesmo: bebe, e se alguém mantem-se bebendo água regularmente nunca vai ter sede.   Assim é a dinâmica da fé: é um profundo impulso interno e não ato racional e frio.

Mas, atenção!, é a busca duma pessoa, não coisas. Não se deve olhar para Jesus à distância, é preciso aproximar-se dele como alguém acessível, como amigo que nos acolhe no aconchego de sua morada.

Então, nossa vida se fundamenta nele, nosso ser ressurge e cresce em um impulso de liberdade, e nos sentimos à vontade com Deus e com a vida. A vida que Jesus oferece é diretamente proporcional a esta relação. Os horizontes do coração se abrem à medida que se aprofunda a intimidade com o Senhor.

Enfim… Nossa vida se fortalece na vida dele, fazendo caminho da fé, para que no espaço da relação com Ele, brote em nós sua vida. É assim que recebemos o dom do pão do céu, vida que sem dúvida é verdadeira vida.

Anotação sobre João 6,44-51

Jesus acaba de se apresentar como o “Pão da Vida” (6,35) e também diz, claramente, que sua tarefa de “dar vida”, vem do Pai (“baixei do céu não para fazer minha vontade, mas a vontade do que me enviou”,6,38), logo Ele é o “Pão que desceu do Céu” (enunciado em 6,33 e explanado em 6,41.51ª).

O evangelista faz notar que os ouvintes da catequese não compreendem que o termo “pão” é sinônimo de “Palavra” identificada com Jesus, da qual a “escuta” se converte em convite à ceia, em assimilação, em nutrição em vida e ressurreição.

Assim, em Jo 6,41-51, a belíssima expressão “Pão da Vida”, significa, sobretudo, “Palavra que temos que acolher (crer) e encarnar (comer)”, seu verdadeiro sentido é “Pão de vida = Palavra feita carne”.

Os termos desta passagem nos mostram que a Eucaristia –“Pão vivo descido do céu”- acolhida no hoje de nossa fé, nos coloca de maneira permanente frente à grande riqueza da pessoa de Jesus e da totalidade de sua obra no mundo.  E sendo assim, a Eucaristia é uma síntese do Evangelho.

O texto de Jo 6,41-51 está composto por:

  • Uma objeção a Jesus, na qual se nota uma recusa ao mistério da encarnação (nos vv.41-42),  e;
  • Uma revelação acerca de Jesus, que contém duas partes:
  • Jesus é o dom do Pão-Palavra que baixa do céu (6,43-47); e
  • Jesus é o dom do Pão-Carne que se nos dá em alimento (6,48-51).

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Jesus é uma necessidade vital para mim?

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  • Em minha vida de fé atual, sinto Jesus como gerador de vida em mim?

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  • Como se pode conseguir o “verdadeiro pão” que vem do Pai e que Jesus oferece?

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SEXTA-FEIRA

João 6,52-59

O PÃO DE VIDA (VII): VIVER NO, COM, POR E DE JESUS.

“O que come minha carne e bebe meu sangue, tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”

Quando alguém trata de determinar o fio condutor do discurso de Jesus neste capítulo, se encontra com sérias dificuldades, já que há muitas repetições e temas que se sobrepõem. Porém, no meio de tudo há uma ordem de ideias.

O certo é que necessita uma leitura amorosa e paciente para que apareça seu sentido mais profundo. A catequese sobre o “Pão da Vida” nos coloca ante uma cascata de sentimentos, de imagens, de afirmações cristológicas que se tem que saborear uma por uma, para logo fazer a síntese no coração.

O capítulo 6 de João está construído de tal modo que nos envolve na conversa que o atravessa do início ao fim, provocando também, em nós, um colóquio sério e profundo com Jesus. Este é um texto em que a passagem à meditação e à oração é quase imediata.

Na lectio deste capítulo não só conta a captação mental dos temas, mas ainda o movimento do coração. Nisto têm um papel importante as perguntas, habilmente dispostas ao longo do mesmo. As partes do capítulo são ligadas por sete perguntas e duas afirmações fortes, que são uma confissão de fé:

  • Rabi, quando chegaste aqui?” (6,25). Uma pergunta quase banal, circunstancial: o povo estranha encontrar Jesus em Cafarnaum, quando acreditava que estava no outro lado do lago (não sabe que caminhou sobre as águas). Esta liga a multiplicação dos pães com o começo da catequese na sinagoga de Cafarnaum.
  • Que temos de fazer para operar as obras de Deus?” (6,28). Notemos como se vai subindo o tom da conversa e se inicia uma busca profunda. Indaga-se pelo ‘como’ viver em sintonia com a vontade de Deus.
  • Que sinal fazes para que vendo creiamos em ti? Que obra realizas?” (6,30). Da conversa pacífica logo se passa à polêmica: um desafio é posto ao Mestre, que o leva a fazer sua proposta claramente. Chegando neste ponto, faz-se uma pausa para expressar abertura da fé: Senhor, dá-nos sempre desse pão (6,34). Pedido que se parece ao da samaritana quando pede a água viva (ver 4,15). O auditório já foi posto na rota correta para compreender Jesus, porém a revelação mais importante ainda não foi feita.
  • Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como pode dizer agora ‘tenho descido do céu’?” (6,42). Ante a revelação sobre a origem de sua vida e de sua obra, começam uma série de perguntas contestadoras, qualificadas pelo evangelista de “murmurações” (termo técnico da Bíblia para expressar as resistências para crer).
  • Como pode este dar-nos a comer sua carne?” (6,52). Jesus é mal interpretado, o que dá pé para sua máxima revelação. Chega-se, assim, ao coração do mistério.
  • É duro esta linguagem, Quem pode escutá-lo?” (6,60). O discurso termina. Agora aparece no relato o rosto dos discípulos. Eles expressam sua resistência para seguir sendo discípulos e viver a fundo a proposta do Mestre. Manifesta-se a dificuldade do seguimento.
  • Senhor, a quem iremos?” (6,68ª). O verdadeiro discípulo, o que “crer”, é o que segue Jesus pelo caminho revelado por Ele. Ao fim, um grupo de discípulos presidido por Pedro dá o salto da fé. Faz eco ao ponto de partida de todo este capítulo, a pergunta que saiu da boca de Jesus: de onde sai o pão que alimenta à humanidade (ver 6,5).

E assim chegamos ao ponto final, que é a confissão de fé, própria do que se faz discípulo: “Tu tens palavra de vida eterna, e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus” (6,68b-69).

O fundamental da quinta pergunta (6,52-59)

Como dissemos, na quinta pergunta se chega ao coração do mistério. A Palavra (=Verbo) se faz carne e a carne se oferece como o pão, e é assim que Deus atua desde o céu para vivificar o mundo.

Na Eucaristia há um duplo movimento:

  • O da oblação sacrifical de Jesus que abre caminho para o Pai, e nessa entrega põe o homem na direção da comunhão de vida (eterna) com Deus;
  • O dom do Pai que, por meio do Filho, oferece o que lhe é mais querido, para salvar o mundo (“para que tenham vida”).

Frente a esta “revelação” conta muito a resposta ativa do homem. Dai a insistência na passagem de hoje nos verbos “comer” e “beber”: requer “comungá-la”.

Como entender esta “comunhão”, este “comer sua carne”? De fato, o texto de hoje parte dessa pergunta (6,52). Jesus a responde com sete afirmações nas quais realça sempre a mesma ideia (sugerimos observá-las bem, no texto).

O resumo de todas elas é esta ideia central que estruturamos assim:

  • Jesus é o verdadeiro pão, o pão que dá a vida, a vida eterna;
  • Porém, o pão tem que ser comido;
  • Comê-lo significa não só assimilá-lo como Palavra e como exemplo, mas como vítima oferecida em sacrifício, com a qual tem-se que entrar em uma misteriosa comunhão.

É assim que, na Eucaristia, nos unimos ao caminho que Jesus fez, passando pela morte. Foi por este caminho que o “Verbo feito Carne” compartilhou conosco a sua própria vida: deu-nos a vida dando-nos a sua própria vida.

A comunhão na Páscoa tem um valor muito especial: é uma apropriação da vida do Ressuscitado para viver a vida do Crucificado que amou o mundo dando-se completamente a si mesmo.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Como esta passagem ilumina minha compreensão e vivencia do sacramento da Eucaristia?

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  • Como se entra em comunhão com a vida de Jesus?

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  • Que implica para a praxis diária de um discípulo a comunhão com o Crucificado-Ressuscitado?

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SÁBADO

João 6,60-69

PÃO DA VIDA (VIII): FICAREMOS CONTIGO, SENHOR.

“Senhor, aonde iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna”

É de notar que, exceto três dias, o evangelho de João ocupa nossa atenção nas leituras deste mês. 

O “Amém” ao discurso do “Pão que dá a Vida

O evangelho de hoje, nos apresenta a cena conclusiva do capítulo 6 de João. 

Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, de ajudar aos discípulos a passar o mar na noite e de fazer uma maravilhosa revelação do “Pão que dá a Vida”, o auditório de Jesus reage. 

A primeira reação é um escândalo: “É dura esta linguagem” (6,60a).

Os discípulos manifestam sentir-se chocados pela proposta de “comungar” Jesus, de considerar que o fazer-se eles mesmos pão que vivifica aos demais – a partir da identificação sacramental com Cristo Crucificado – excede qualquer possibilidade humana razoável: “Quem pode escutá-lo?” (6,60c). 

Em poucas palavras os discípulos expressam que não pode levar a serio a proposta de Jesus. Jesus responde amavelmente com quatro frases.

Duas perguntas e duas afirmações:

  • “Isto vos escandaliza?” (6,61). Convida-os a examinar sua reação.
  • “E quando vires o Filho do homem subir aonde estava antes?” (6,62). Convida-os a olhar o caminho do Crucificado: o que Jesus pede, Ele o tem vivido primeiro.
  • “O espírito é o que dá vida, a carne não serve para nada” (6,63a). Convida-os a tomar consciência de que isto não se realiza pelas próprias forças, senão pelo dom vivificador do Espírito.
    • “As palavras que vos tenho dito são espírito e são vida” (6,63b). Convida-os a acolher a proposta como um dom: Jesus não nos pede nada que não possamos viver, por isso em cada “palavra” sua o sopro do “Espírito” nos ajuda a encarná-la.

Vem então a segunda reação: o auditório se divide em dois. Um grupo de discípulos se vai: “Desde então muitos de seus discípulos voltaram atrás e já não andavam com Ele” (6,66);  outro grupo, encabeçado por Pedro, fica com Jesus e faz uma belíssima confissão de fé (6,67-70).

Há três afirmações importantes na declaração de Pedro:

  • Uma reflexão de desencanto: “Senhor, aonde iremos?” (6,68a).

A reflexão põe em vigilância sobre as decisões precipitadas, movidas pelo impulso do sentimento.  Para tomar decisões primeiro devemos refletir se não há possibilidades melhores. Segundo Pedro não há.

  • Uma referencia às palavras de Jesus: “Tu tens palavras de vida eterna” (6,68b).

Pedro se apóia na promessa que acaba de fazer Jesus: “As palavras que vos tenho dito são espírito e são vida” (6,63b). Compreende que o decisivo de Jesus é a vida e que Ele está em capacidade de dá-la. Pedro mostra interesse por este dom.

  • Um reconhecimento da pessoa de Jesus “Cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”

A confiança em Jesus é total: “cremos e sabemos”. O plural comunitário indica uma fé eclesial. Reconhece em Jesus uma relação especial com o Pai “Santo” quer dizer que pertence a Deus e está unido a Deus de maneira total.

Pedro se apóia no elemento decisivo e fundamental da fé: a relação de Jesus com Deus, a pertença de Jesus a Deus.  Em Jesus está o dom da “vida plena”, por isso é que é preferível ficar com Jesus, que afastar-se de forma insensata.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Quem é Jesus para mim?

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Por que ainda sigo caminhando com Jesus?

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  • Qual foi a proposta de Jesus que escandalizou a um bom grupo de discípulos?

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Algum ensino de Jesus me escandaliza e me parece impossível de viver?

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  • Que ajuda oferece Jesus para poder encarnar sua Palavra?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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