Igreja reconhece sua culpa: “nós ocasionamos violência em crianças”
“nós ocasionamos violência em crianças”
A Sala Régia do Palácio Apostólico do Vaticano acolheu na tarde do sábado 23 de fevereiro uma liturgia penitencial presidida pelo Papa Francisco à qual compareceram os Cardeais, Bispos, Superiores de ordens religiosas e demais participantes no Encontro sobre o Amparo de Menores que terminou hoje, domingo, 24, após uma celebração presidida pelo Santo Padre.
Durante liturgia houve um momento de confissão das faltas da parte da Igreja, uma das partes centrais da liturgia, e ali reconheceu-se a culpa de muitos membros da Igreja nos abusos e se pediu perdão aos abusados.
“Confessamos que bispos, sacerdotes, diáconos e religiosos na Igreja ocasionamos violência em crianças e jovens, e que não protegemos a quem mais necessitava de nossa ajuda”.
Também se confessou “que protegemos os culpados e silenciamos os que sofreram o mal”.
“Confessamos que não reconhecemos o sofrimento de muitas vítimas, nem oferecemos ajuda quando a necessitavam”, reconheceram Cardeais, Bispos e demais participantes na liturgia penitencial.
O Arcebispo de Tamale, Gana, Dom Philip Naameh, pronunciou a homilia na que recordou que “o Senhor nos confiou a gestão dos bens da salvação e confia em que cumpriremos esta missão, que proclamaremos a Boa Nova e ajudaremos a estabelecer o reino de Deus”.
Entretanto, perguntou: “Fazemos justiça aos bens que nos confiou? Sem dúvida, não poderemos responder a esta pergunta com um sim sincero”, reconheceu.
“Com muita frequência calamos, olhamos para o outro lado, evitamos os conflitos, fomos demasiado petulantes como para confrontar cantos escuros da nossa Igreja”.
Deste modo, “esbanjamos a confiança depositada em nós, especialmente no que se refere aos abusos no âmbito da responsabilidade da Igreja, que é acima de tudo nossa responsabilidade. Não brindamos às pessoas o amparo ao que têm direito, destruímos as esperanças e as pessoas foram vexadas massivamente tanto no corpo como na alma”.
Em sua homilia, recorreu à leitura evangélica do filho pródigo. Neste sentido, recordou que “o filho pródigo no Evangelho perde tudo, não só sua herança, mas também seu status social, sua boa posição, sua reputação”.
“Não devemos nos surpreender se sofrermos um destino similar, se falarem mal de nós, se houver desconfiança para conosco, se alguns nos ameaçarem a retirar seu apoio material. Não devemos nos queixar disso, e sim perguntarmo-nos o que devemos fazer diferente”.
“Ninguém pode eximir-se, ninguém pode dizer: ‘mas eu pessoalmente não tenho feito nada de mau’. Somos uma fraternidade, somos responsáveis não só de nós mesmos, mas também de todos outros membros de nossa fraternidade, e da fraternidade em seu conjunto”, concluiu.
Por outra parte, durante a reflexão prévia ao exame de consciência, o Papa Francisco tomou a palavra e afirmou que “a parábola do Pai misericordioso nos mostra que Deus oferece o perdão e a esperança. O filho que abandonou ao Pai, entretanto, não pode permanecer afastado, mas sim deve reconhecer sua culpa, arrepender-se e retornar ao Pai”.
“Durante três dias falamos entre nós e escutamos as vozes das vítimas sobreviventes sobre os crimes que crianças e jovens sofreram em nossa Igreja”.
“Perguntamo-nos: como atuar com responsabilidade e que passos devemos dar agora? Mas para confrontar o futuro com ânimo renovado, devemos dizer como o filho pródigo: ‘Pai, pequei’”.
O Santo Padre disse que “temos que examinar quais as ações concretas são necessárias para as Igrejas particulares, para os membros de nossas Conferências Episcopais, para nós mesmos. Isto requererá que olhemos com honestidade a situação em nossos países e também nossas próprias ações”, finalizou.