ESTUDO BÍBLICO NA 21ª SEMANA COMUM ANO B 2024

ESTUDO BÍBLICO NA 21ª SEMANA COMUM ANO B 2024

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Evangelho: Mateus 23, 13-22

Jesus prossegue as denúncias contra os escribas e fariseus. Embora fossem representantes oficiais da religiosidade, tinham-se convertido em sério obstáculo para a fé. Por isso, Aquele que se definiu como «manso e humilde de coração», que se comove diante do sofrimento dos outros, que é afável com os pecadores, terno com os pobres e pequenos, que chora pensando na destruição de Jerusalém, condena agora, em tom severo, a hipocrisia religiosa dos fariseus. Os «Ai de vós», na linguagem profética, exprimem uma ameaça de castigo e de juízo, mas também a dor de quem deve falar por causa do mal deplorável.
Um dos «Ai de vós» dirige-se aos escribas e fariseus que, recusando Jesus e a sua mensagem, também impedem outros de entrar no Reino. O segundo «Ai de vós» dirige-se contra o proselitismo dos judeus, que apenas visa subtrair pessoas à salvação, para as tornar fechadas, rígidas, fanáticas e perigosas como eles, e mais do que eles. O terceiro «Ai de vós» dirige-se aos «guias cegos» que, com as subtilezas da sua casuística, obscurecem o sentido profundo da lei. Invertem a hierarquia de valores: o ouro vale mais que o templo, e a oferta mais que o altar. Falta-lhes o discernimento e a interioridade.

Meditatio

O Apóstolo Paulo, quando era fariseu, tinha as atitudes e comportamentos que Jesus verbera no evangelho de hoje. Também ele fechava aos homens o Reino do céu (cf. 13). Mas, uma vez convertido, assumiu atitude e comportamento completamente diferentes: abriu a Igreja a todos os homens de boa vontade, pagãos ou hebreus. Em Tessalónica, converteu muitos pagãos e, nas suas cartas, dá graças a Deus pela fé, esperança e caridade que demonstram. O apóstolo agradece pelos dons da fé e da caridade, concedidos aos tessalonicenses: «Devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos… pois que a vossa fé cresce extraordinariamente e a caridade recíproca superabunda em cada um e em todos vós» (v. 3). E acrescenta uma intrigante frase: «Elas são o indício do justo juízo de Deus, para que sejais considerados dignos do reino de Deus pelo qual padeceis (v. 5). Que indício é esse? Qual é o sinal da benevolência de Deus? É a constância e a fé com que enfrentam as perseguições e tribulações. Sem a graça do Senhor, isso não seria possível. Com a graça, as perseguições e tribulações tornam-se ocasiões para crescer na fé e na caridade.
O evangelho ensina-nos que a evangelização é algo de bem diferente do proselitismo opressor. Quem anuncia o Evangelho, tem consciência de ser um vaso de barro, que leva um tesouro (cf. 2 Cor4, 7). Quem leva esse tesouro ao coração dos outros, há-de fazê-lo com a atitude com que Moisés se aproximou da sarça ardente. O coração humano é terreno sagrado. Antes de se aproximar dele, há que descalçar as sandálias, com receio de o profanar.
Deus confiou-nos o anúncio do seu Reino. Podemos entrar nele e ajudar os outros a entrar. Mas também podemos não entrar, e impedir que os outros entrem. Os outros não podem se tratados como se fossem “cópias” de nós mesmos. Não podemos impor-lhes a nossa imagem e semelhança. A evangelizaç&a
tilde;o não pode nem deve ser uma tentativa de “clonagem espiritual”. Infelizmente continua a haver «guias cegos» e também cegos que se deixam guiar, tornando-se pessoas sem rosto, enquadrados, nivelados, homologados aos ideais vigentes, sufocados por etiquetas. Onde está a libertação trazida pelo acolhimento da Boa Nova?

Oratio

Senhor, obrigado pela obra que realizas na vida dos teus fiéis. Que todos saibamos estar abertos e colaborar nas maravilhas que fazes em nós. Assim, poderemos também cooperar para que outros se abram ao dom do Reino e nele entrem. Que jamais façamos algo, mesmo inconscientemente, que os impeça de entrar.
Faz-nos testemunhas dignas de Ti e do teu Reino. Que as palavras do profeta Zacarias se tornem realidade para nós, cristãos de hoje: «Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: ‘Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco´» (Zc 8, 23). Que assim seja, Senhor! Amen!

Contemplatio

Vós, diz-nos Nosso Senhor, dareis testemunho de mim. O Espírito Santo dar-vos-á as luzes e as graças para cumprirdes a vossa missão de apóstolos do Sagrado Coração. Dar-vos-á a inteligência e o gosto dos mistérios do meu coração, do meu amor e da minha imolação. Dar-vos-á a força e o zelo para trabalhardes no cumprimento da vossa missão, expandindo esta vida de amor e de imolação segundo a vossa graça. Dar-vos-á a conhecer o caminho que eu segui, o caminho da cruz, do sacrifício e da imolação. Conduzir-vos-á seguindo os meus traços, fará de vós o que deveis ser, vítimas do meu coração.
Dareis testemunho de mim, se estiverdes unidos a mim e instruídos na minha ciência sagrada pela oração, se os vossos pensamentos forem os meus, se os vossos desejos, as vossas alegrias, as vossas tristezas forem conformes aos desejos, às alegrias, às dores do meu coração.
Dareis testemunho de mim em palavras, se a vossa conversação for sobrenatural, se falardes como homens de Deus, como padres, como religiosos consagrados ao meu coração.
Dareis testemunho de mim pelos vossos actos, se fizerdes a vontade de meu Pai e a minha, se agirdes como meus verdadeiros discípulos, como os amigos e as vítimas do meu Coração sagrado, na regularidade, na humildade, no sacrifício e na caridade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 431s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«O nosso Deus vos torne dignos da vocação» (2 Ts 1, 5).

| Fernando Fonseca, scj |

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TERÇA-FEIRA

Mateus 23,23-26

ABANDONASTES O QUE HÁ DE MAIS IMPORTANTE NA LEI:

A Justiça, a misericórdia e a fidelidade.

Ao recordar hoje Santo Agostinho, comecemos nossa Lectio orando junto com ele:

Tarde te amei, ó beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim, porém eu estava fora, e fora de mim te buscava; com meu espírito deformado, me precipitava sobre as coisas formosas que criaste. Estavas comigo e eu não estava contigo. Retinha-me longe de Ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti. Chamaste-me, chamaste-me e rompeste minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e dissipaste minha cegueira. Exalaste sobre mim teu perfume e o aspirei profundamente, e agora suspiro por Ti. Provei-te, e agora tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora desejo ardentemente tua paz.

O texto de hoje é parte de um discurso que Jesus faz contra os fariseus e os mestres da lei. Nesta confrontação o evangelista nos apresenta 7 (sete) “ais” com os quais Jesus quer mostrar o mal agir dos fariseus e dos mestres da lei. Dois desses “ais”, o quinto e o sexto, é o que se lê no texto de hoje.

O quinto ‘ai’ vai contra os que insistem na observância e esquecem a misericórdia, enquanto que o sexto vai contra os que limpam as coisas por fora e as sujam por dentro. Só observa plenamente a lei de Deus aquele que vai além da letra, até a raiz e arranca dentro de si “os maus desejos” que podem levar ao assassinato, ao adultério, etc…

A plenitude da lei se realiza na prática do amor de Deus e na fidelidade à Sagrada Escritura. Sem dúvida os termos mais relevantes nos ‘ais’ desta passagem são a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

São estes os preceitos de mais peso na lei.

  • A Justiça: Aqui quer contrastar com o comportamento legalista dos fariseus. Como vemos o uso deste termo aqui não nega, ou seja, não é que os fariseus deixem de lado o juízo, mas que são indiferentes aos direitos dos pobres. Assim, o uso específico no texto relaciona-se ao mau uso desse juízo, e esse mau juízo se evidência em sempre estar contra os pobres.
  • A misericórdia: é uma das ações divinas essenciais a favor da humanidade, e também uma atitude exigida do homem para com o outro, e que, de acordo com seu fundo veterotestamentário, é a “bondade”. É o que Deus exige que uma pessoa observe com outra.
  • A fé ou fidelidade: faz referência principalmente a esse depósito de confiança nas palavras e ações de Jesus, em especial nas ações milagrosas. Para o caso que nos ocupa, considerando o contexto da passagem, é fidelidade à vontade de Deus revelada na Escritura.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Orígenes (cerca de 185-253), presbítero e teólogo.

“Purifica primeiro o interior da taça”

Partamos para a guerra, como Josué; tomemos de assalto à cidade mais forte deste mundo – a malícia – e destruamos as muralhas orgulhosas do pecado…

Irias procurar à tua volta o caminho que é preciso tomar, o campo de batalha que tens de escolher? Sem dúvida, vais achar que as minhas palavras são estranhas; contudo, elas são verdadeiras: limita a tua procura a ti mesmo.

Está em ti o combate que vais travar, no interior de ti o edifício de malícia que tens de minar; o teu inimigo sai do fundo do teu coração.

Não sou eu quem o diz, mas Cristo; escuta-o: “É do coração que vêm os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as impurezas, os roubos, os falsos testemunhos, as palavras injuriosas”.

Percebes qual é o poder deste exército inimigo que avança contra ti a partir do fundo do teu coração?

Ei-los, os inimigos que temos de massacrar no primeiro combate, que temos de eliminar na primeira linha da batalha.

Se formos capazes de derrubar as suas muralhas e de exterminá-los até que não reste nenhum para ir contar, nenhum para recobrar o ânimo (Js 11,14), se não ficar um único para retomar vida e ressurgir nos nossos pensamentos, então Jesus dar-nos-á o grande repouso.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quais os dois motivos para receber uma crítica severa de parte de Jesus?
  • Qual dos dois predomina mais em mim?
  • Observância e gratuidade: qual das duas prevalece em mim?

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QUARTA-FEIRA

Mateus 23,27-32

CONTINUA A DENUNCIA CONTRA OS FARISEUS:

“Sois semelhantes aos sepulcros caiados…”

Continua a denúncia contra os fariseus. Mais duas acusações de Jesus, com as quais termina esta série. Aliás, todo este capitulo 23 do evangelho de São Mateus, é sombrio, desolador, trágico.

Os dois últimos “ais” (vv.27.29) desvelam a presença da morte na classe dos dirigentes farisaicos e, assim, culmina o lamento fúnebre de Jesus que brota da rejeição que sofre ao longo de seu caminho. “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados…” (v.27).

Assim segue Jesus fustigando o pecado da hipocrisia: parecer por fora o que não se é por dentro. Como havia condenado as árvores que só têm aparência e não dão fruto (lembrar o episódio da figueira amaldiçoada), aqui desabona as pessoas que cuidam de ter uma boa imagem ante os demais, porém, dentro estão cheios de malicia e de maldade.

Estas acusações não se constituíam somente em um eco dos conflitos enfrentados por Jesus, mas também os sofrimentos que estavam atravessando as comunidades cristãs primitivas. Com efeito, os fariseus não perseguiram só a Jesus, mas continuaram, de forma até mais acentuada, a perseguição contra os cristãos, na medida em que estes deixaram de ser uma seita do judaísmo e começaram a adquirir a sua própria identidade. De fato, dentro do judaísmo, havia muitas seitas e movimentos religiosos que propunham reformas e remendos às antigas instituições. Nenhuma, porém, no fundo, se atrevia a questionar a legitimidade destas, em si mesmas, como fez o cristianismo.

Os cristãos, ao proclamar que Jesus era o Messias enviado de Deus, punham em dúvida a validade de todas as instituições, inclusive das mais sagradas, como o templo. A pessoa e a palavra de Jesus eram uma alternativa nova e definitiva frente às antigas instituições.

A novidade de Jesus consistia numa valorização incondicional da vida da pessoa humana, sobretudo a sua identidade de filho muito amado de Deus, estava acima de leis e instituições. Para ele, absolutamente, ninguém tinha poder para tirar isso do outro. Pois no momento que alguém se achava neste direito, estava aberto o caminho para a crueldade. A dignidade humana se constituía como o fundamento da nova humanidade.

“Ai de vós escribas e fariseus que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos” (v.29). O evangelho nos convida a que lancemos novos “ais” contra os modernos “túmulos caiados” que encobrem violência e corrupção, e que denunciemos aos que fazem monumentos à suas vítimas para encobrir a impunidade que se perpetua na história.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Epístola dita de Barnabé (cerca de 130)

Afastar-se do caminho da hipocrisia e do mal

Há duas vias para o ensino e para a ação: a da luz e a das trevas. A distância entre estas duas vias é grande… A via das trevas é tortuosa e semeada de maldições. É o caminho da morte e do castigo eterno. Tudo o que pode arruinar uma vida está aí: idolatria, arrogância, orgulho do poder, hipocrisia, duplicidade de coração, adultério, assassínio, roubo, vaidade, desobediência, fraude, malícia, cupidez, desprezo de Deus. Por aí vão os que perseguem as pessoas de bem, os inimigos da verdade, os que são indiferentes à viúva e ao órfão…, sem atenção ao indigente e que esmagam o oprimido. Por isso, é justo instruir-se acerca das vontades do Senhor que estão escritas e caminhar junto delas. O que assim agir será glorificado no Reino de Deus. Mas todo aquele que escolher o outro caminho morrerá com as suas obras. Eis porque há uma ressurreição e uma retribuição. A vós, portanto, dirijo um pedido: estais rodeados de pessoas a quem fazer o bem; não deixeis de fazê-lo.

Cultivemos a semente da palavra na profundidade do coração

Hoje enfrentamos a muitas instituições que, em nome das mais diversas causas, inclusive das religiosas, se dão ao direito de dominar a vida do ser humano. Toda a realidade é reduzida a uma contradição, em benefício de seus interesses econômicos, políticos e sectários. Também convém que nos avaliemos no outro aspecto que Jesus denuncia:

  1. Somos dessas pessoas que, de palavra, se distanciam dos maus, como os fariseus de seus antepassados («nós não fizemos isso de nenhuma maneira»), porém, na realidade somos tão maus ou piores que eles, quando se nos apresenta a ocasião?
  • E se poderia dizer algo assim da Igreja, que denuncia, e com razão, os males da sociedade, porém que pode cair nas mesmas faltas, como a ambição, a violência ou o interesse pelo poder?
  • E também de cada um de nós, que nos consideramos os «bons», sempre tentados de crer-nos até como os melhores, os perfeitos, quando, na realidade, talvez sejamos, espiritualmente, mais pobres que os que temos tido por afastados ou não crentes?

QUINTA-FEIRA

Mc 6,17-29

MARTÍRIO DE JOÃO BATISTA

A festa da natividade de são João Batista ocorre no dia 24 de junho. Ela faz parte da tradição dos cristãos, assim como esta que celebramos hoje, do martírio de são João Batista. No calendário litúrgico da Igreja, esta comemoração iniciou na França, no século V, sendo introduzida em Roma no século seguinte. A origem da comemoração foi a construção de uma igreja em Sebaste, na Samaria, sobre o local indicado como o do túmulo de são João Batista.

João era primo de Jesus e foi quem melhor soube levar ao povo a palavra do Mestre. Jesus dedicou-lhe uma grande simpatia e respeito, como está escrito no evangelho de são Lucas: ‘Na verdade vos digo, dentre os nascidos de mulher, nenhum foi maior que João Batista’. João Batista foi o precursor do Messias. Foi ele que batizou Jesus no rio Jordão e preparou-lhe o caminho para a pregação entre o povo. Não teve medo e denunciou o adultério do rei Herodes Antipas, que vivia na imoralidade com sua cunhada Herodíades.

A ousadia do profeta despertou a ira do rei, que imediatamente mandou prendê-lo. João Batista permaneceu na prisão de Maqueronte, na margem oriental do mar Morto, por três meses. Até que, durante uma festa no palácio daquela cidade, a filha de Herodíades, Salomé, instigada pela ardilosa e perversa mãe, dançou para o rei e seus convidados. A bela moça era uma exímia dançarina e tinha a exuberância da juventude, o que proporcionou a todos um estonteante espetáculo.

No final, ainda entusiasmado, o rei Herodes disse que ela poderia pedir o que quisesse como pagamento, porque nada lhe seria negado. Por conselho da mãe, ela pediu a cabeça de João Batista numa bandeja. Assim, a palavra do rei foi mantida. Algum tempo depois, o carrasco trazia a cabeça do profeta em um prato, entregando-a para Salomé e para sua maldosa mãe. O martírio por decapitação de são João Batista, que nos chegou narrado através do evangelho de são Marcos, ocorreu no dia 29 de agosto, um ano antes da Paixão de Jesus.

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SEXTA-FEIRA

Mateus 25,1-13

EM MEIO DA NOITE: SABER ESPERAR COM AS LÂMPADAS ACESAS.

“A meia noite se ouviu uma voz”

Vamos chegando ao final de nossa leitura do Evangelho segundo Mateus. Seguindo o ritmo do Evangelho entramos na etapa das últimas instruções de Jesus a seus discípulos, justo aquelas, que são mais importantes para manter fidelidade ao seguimento.

O capítulo 24 de Mateus tem como tema central a vigilância: o discípulo que espera a vinda do Senhor não se lança a dormir, não deixa que a rotina o adormeça, mas está sempre atento ao que ocorre a seu redor, com uma grande capacidade de discernimento.

No começo do capítulo 25, com a parábola das dez virgens, Jesus educa nesta atitude que deve ser característica de todo discípulo, de todo aquele que vive uma relação estreita, de abandono total a Jesus (expressado na imagem das “virgens”).

Vigiar” significa propriamente abster-se do sonho. Isto é o que precisamente se ilustra no comportamento das virgens. Podemos tirar as seguintes lições:

  • A pertença ao Reino não se dá por si mesma, mas pressupõe comportamento intencional, as decisões. Assim como as virgens que se preparam ativamente para a vinda do noivo, é necessário agir sabiamente, com prudente previsão e coerência. O Reino de Deus se ganha com a sabedoria e se perde com a ignorância.
  • As dez virgens começam iguais, nas mesmas condições, porém logo cinco tomam vantagem às outras cinco. Jesus ensina que pessoas que começaram juntas e tiveram muitas coisas em comum podem chegar ao fim de modo distinto, segundo seu comportamento.
  • O ritmo da vida transcorre normal, o tempo passa e caímos na rotina. Jesus ensina a viver intensamente cada dia, tem que estar sempre preparados. Em nossa mente e em nosso coração deve estar sempre presente o Senhor e sua vontade, vivendo a vida como um “entrar” continuamente no Reino.
  • Só se estamos preparados, poderemos entrar no Reino dos céus, no senhorio pleno e bem aventurado de Deus e acolhido na comunhão definitiva com ele. Quem não está preparado se encontra com uma porta fechada devido sua irresponsabilidade.
  • O futuro se ganha no presente. Tem que tomar a sério o tempo presente. O céu começa na terra.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Em que aspectos de minha vida vejo que me descuidei ultimamente? Que se debilitou em mim?
  2. Que pode causar em mim – como no caso das cinco virgens insensatas – um adormecimento que leva à irresponsabilidade? (por exemplo, o uso indiscriminado da televisão).
  3. Que decisões vou tomar para pôr azeite novo em minha lâmpada?

SÁBADO

Mateus 25,14-30

SER RESPONSÁVEIS

 “És um empregado fiel e cumpridor”

Ao recordar hoje Santa Mônica, comecemos nossa Lectio orando com seu filho Agostinho:

“Tarde te amei, ó beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim, porém eu estava fora, e fora de mim te buscava; com meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criaste. Estavas comigo e eu não estava contigo. Retinha longe de Ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti. Chamaste-me, e rompeste minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e dissipaste minha cegueira. Exalaste sobre mim teu perfume; aspirei profundamente, e agora suspiro por Ti. Saboreei-te, e tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora desejo ardentemente a tua paz”.

A liturgia nos convida, hoje, a ler a parábola dos talentos, a qual nos faz a seguinte interrogação: Que fizeste com os talentos que te dei?

O texto nos dá algumas pistas para que possamos responder de modo ponderado e consciente:

  1. A parábola nos recorda que somos “servos” do Senhor. Ainda que sejamos livres nossa vida depende dele e está em função dele. Estamos vinculados ao Senhor de muitas formas e nossas capacidades vêm sempre dele.
  2. Cada um recebeu um dom segundo sua capacidade. Não devemos nos comparar com os outros, mas devemos valorizar o que temos recebido e sermos responsáveis por isso.
  3. Nossa tarefa, nosso ser “servos”, é dar fruto abundante.  O servo bom e fiel é o que trabalha pelos interesses de seu Senhor. O servo malvado e incapaz, recusa o serviço e não atua segundo a vontade de seu patrão.
  4. Quando se trabalha nas coisas do Senhor, no próprio coração e fora nos diversos compromissos com os irmãos, se vive no gozo do Senhor. Não esqueçamos que nos chamou para a plena felicidade.
  5. O tempo vale muito. Não podemos desperdiçar nossa vida, com todos os seus dons. O Senhor nos pedirá conta de tudo o que nos deu. Nossa tarefa é desenvolver nossas capacidades e todos os talentos que põe em nossas mãos em função do projeto para o qual fomos criados.

Não esqueçamos. A vida nos foi dada, não como absoluta propriedade, mas como um tesouro a administrar e do qual temos que dar conta ao Senhor.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

São Paulino de Nola (355-431), bispo 

“Que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co 4,7)

“Que tens tu que não tenhas recebido?”, diz-nos São Paulo (1 Cor, 4,7).

Não sejamos, pois, ávaros dos nossos bens como se eles nos pertencessem…

Confiaram-nos a sua responsabilidade; temos o uso de uma riqueza comum,

não a posse eterna de um bem que nos seja próprio.

Se reconheceres que esse bem só é teu cá em baixo por um tempo limitado, poderás adquirir no céu uma possessão que não terá fim.

Lembra-te daqueles servos que, no Evangelho, tinham recebido talentos do

seu patrão e do que o patrão, ao regressar, entregou a cada um deles; compreenderás então que depositar o seu dinheiro no banco do Senhor para

o fazer dar frutos é muito mais proveitoso do que conservá-lo com uma fidelidade estéril sem que renda nada para o credor e com grande prejuizo

para o servo inútil, cujo castigo será tanto mais pesado…

Apresentemos, pois, ao Senhor os bens que dEle recebemos.

Com efeito, não possuímos nada que não seja um dom do Senhor e só existimos porque Ele o quer.

Que poderíamos considerar como nosso, se nada nos pertence, devido a uma dívida enorme e privilegiada?

 Porque Deus criou-nos, mas também nos resgatou.

Rendamos-Lhe graças por isso: resgatados por grande preço, o preço do sangue do Senhor, nós não somos coisas sem valor…

Devolvamos ao Senhor o que Ele nos deu.

Devolvamos Àquele que recebe na pessoa de cada pobre.

Devolvamos com alegria, para receber dEle com júbilo, tal como nos prometeu.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Sou consciente dos talentos que o Senhor pôs em minhas mãos?
  2. Que estou fazendo para fazê-los crescer?
  3. Que fiz com a Palavra que o Senhor presenteou-me durante este mês, diariamente?

Com que frutos me apresento hoje diante do Senhor?

Jesus prossegue as denúncias contra os escribas e fariseus. Embora fossem representantes oficiais da religiosidade, tinham-se convertido em sério obstáculo para a fé. Por isso, Aquele que se definiu como «manso e humilde de coração», que se comove diante do sofrimento dos outros, que é afável com os pecadores, terno com os pobres e pequenos, que chora pensando na destruição de Jerusalém, condena agora, em tom severo, a hipocrisia religiosa dos fariseus. Os «Ai de vós», na linguagem profética, exprimem uma ameaça de castigo e de juízo, mas também a dor de quem deve falar por causa do mal deplorável.
Um dos «Ai de vós» dirige-se aos escribas e fariseus que, recusando Jesus e a sua mensagem, também impedem outros de entrar no Reino. O segundo «Ai de vós» dirige-se contra o proselitismo dos judeus, que apenas visa subtrair pessoas à salvação, para as tornar fechadas, rígidas, fanáticas e perigosas como eles, e mais do que eles. O terceiro «Ai de vós» dirige-se aos «guias cegos» que, com as subtilezas da sua casuística, obscurecem o sentido profundo da lei. Invertem a hierarquia de valores: o ouro vale mais que o templo, e a oferta mais que o altar. Falta-lhes o discernimento e a interioridade.

Meditatio

O Apóstolo Paulo, quando era fariseu, tinha as atitudes e comportamentos que Jesus verbera no evangelho de hoje. Também ele fechava aos homens o Reino do céu (cf. 13). Mas, uma vez convertido, assumiu atitude e comportamento completamente diferentes: abriu a Igreja a todos os homens de boa vontade, pagãos ou hebreus. Em Tessalónica, converteu muitos pagãos e, nas suas cartas, dá graças a Deus pela fé, esperança e caridade que demonstram. O apóstolo agradece pelos dons da fé e da caridade, concedidos aos tessalonicenses: «Devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos… pois que a vossa fé cresce extraordinariamente e a caridade recíproca superabunda em cada um e em todos vós» (v. 3). E acrescenta uma intrigante frase: «Elas são o indício do justo juízo de Deus, para que sejais considerados dignos do reino de Deus pelo qual padeceis (v. 5). Que indício é esse? Qual é o sinal da benevolência de Deus? É a constância e a fé com que enfrentam as perseguições e tribulações. Sem a graça do Senhor, isso não seria possível. Com a graça, as perseguições e tribulações tornam-se ocasiões para crescer na fé e na caridade.
O evangelho ensina-nos que a evangelização é algo de bem diferente do proselitismo opressor. Quem anuncia o Evangelho, tem consciência de ser um vaso de barro, que leva um tesouro (cf. 2 Cor4, 7). Quem leva esse tesouro ao coração dos outros, há-de fazê-lo com a atitude com que Moisés se aproximou da sarça ardente. O coração humano é terreno sagrado. Antes de se aproximar dele, há que descalçar as sandálias, com receio de o profanar.
Deus confiou-nos o anúncio do seu Reino. Podemos entrar nele e ajudar os outros a entrar. Mas também podemos não entrar, e impedir que os outros entrem. Os outros não podem se tratados como se fossem “cópias” de nós mesmos. Não podemos impor-lhes a nossa imagem e semelhança. A evangelizaç&a
tilde;o não pode nem deve ser uma tentativa de “clonagem espiritual”. Infelizmente continua a haver «guias cegos» e também cegos que se deixam guiar, tornando-se pessoas sem rosto, enquadrados, nivelados, homologados aos ideais vigentes, sufocados por etiquetas. Onde está a libertação trazida pelo acolhimento da Boa Nova?

Oratio

Senhor, obrigado pela obra que realizas na vida dos teus fiéis. Que todos saibamos estar abertos e colaborar nas maravilhas que fazes em nós. Assim, poderemos também cooperar para que outros se abram ao dom do Reino e nele entrem. Que jamais façamos algo, mesmo inconscientemente, que os impeça de entrar.
Faz-nos testemunhas dignas de Ti e do teu Reino. Que as palavras do profeta Zacarias se tornem realidade para nós, cristãos de hoje: «Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: ‘Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco´» (Zc 8, 23). Que assim seja, Senhor! Amen!

Contemplatio

Vós, diz-nos Nosso Senhor, dareis testemunho de mim. O Espírito Santo dar-vos-á as luzes e as graças para cumprirdes a vossa missão de apóstolos do Sagrado Coração. Dar-vos-á a inteligência e o gosto dos mistérios do meu coração, do meu amor e da minha imolação. Dar-vos-á a força e o zelo para trabalhardes no cumprimento da vossa missão, expandindo esta vida de amor e de imolação segundo a vossa graça. Dar-vos-á a conhecer o caminho que eu segui, o caminho da cruz, do sacrifício e da imolação. Conduzir-vos-á seguindo os meus traços, fará de vós o que deveis ser, vítimas do meu coração.
Dareis testemunho de mim, se estiverdes unidos a mim e instruídos na minha ciência sagrada pela oração, se os vossos pensamentos forem os meus, se os vossos desejos, as vossas alegrias, as vossas tristezas forem conformes aos desejos, às alegrias, às dores do meu coração.
Dareis testemunho de mim em palavras, se a vossa conversação for sobrenatural, se falardes como homens de Deus, como padres, como religiosos consagrados ao meu coração.
Dareis testemunho de mim pelos vossos actos, se fizerdes a vontade de meu Pai e a minha, se agirdes como meus verdadeiros discípulos, como os amigos e as vítimas do meu Coração sagrado, na regularidade, na humildade, no sacrifício e na caridade. (Leão Dehon, OSP 3, p. 431s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«O nosso Deus vos torne dignos da vocação» (2 Ts 1, 5).

| Fernando Fonseca, scj |

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