ADVENTO 2ª SEMANA (Estudos Bíblicos)

ESTUDO BÍBLICO NA SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO ANO C 2024

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Isaías 35,1-10 – Lucas 5,17-26

PROFECIA DO ADVENTO:

“Alegrar-se-á o deserto”

A profecia que escutamos hoje também poderia ser chamada “o Hino à Alegria”, entoado por Isaías.

É um hino para cantar como em uma marcha que atravessa os lugares de tristeza e de desolação, uma marcha que vai transformando tudo ao passar, uma marcha, na qual participam os homens redimidos pelo Senhor e que cantam emocionados por seu regresso para casa. “Abre-se passagem à perpetua alegria, o gozo transbordante os inunda, e ficam para trás o pesar e a tristeza (35,10).

Nos lugares onde, habitualmente, reina a melancolia, realiza-se uma profunda transformação: Alegrar-se-á o deserto, terra estéril, a estepe se encherá de flores e de júbilo. Florescerá, como florescem os narcisos, transbordarão de gozo e de alegria”. (35,1-2a).

Símbolo dessa alegria é o jardim cheio de flores, inundado de colorido e sabor dos aromas. A fertilidade das terras libanesas, a postura feminina do monte Carmelo e a prodigalidade das árvores frutíferas do Saron, se transportam para as terras antigamente assoladas pela seca e a aridez. Desta forma, nosso hino de alegria canta, em primeiro lugar, a beleza de Deus, de sua gloria é reflexo toda esta vegetação. “Pois ali se fará ver a glória do Senhor, a beleza de nosso Deus” (35,2b). A alegria brota da contemplação da beleza de Deus.

E o hino continua, redescobrindo uma beleza que não é menor; toda esta paisagem que está ante os olhos visionários do profeta é imagem da profunda transformação que acontece com quem faz a experiência de Deus.

Assim como a beleza dos antigos jardins se muda para o deserto, assim também a beleza de Deus se entranha sobre as deficiências e limitações humanas. A vinda de Deus ao homem lhe arranca sua debilidade e lhe faz expressar uma nova força que o tira de suas prostrações, de suas mutilações, de suas depressões: “Fortaleçam ao que vai com os braços caídos, robusteçam ao que tem encolhidas as pernas” (31,3).

Quando alguém tem problemas às vezes tende a acovardar-se, a diminuir-se ou retrair-se. Pois bem, o profeta fala diretamente ao homem e lhe dá alento anunciando-lhe a vinda em pessoa do Deus salvador: “Digam aos covardes: Coragem! Não tenham medo!: já chega seu Deus”(35,4).

Então o mundo fica cheio de um novo jardim vital, de uma nova beleza: a que irradiam os homens salvos pelo Senhor. A partir deles, uma corrente de alegria começa a atravessar e a vivificar o mundo: os mudos não só falam, mas cantam as canções, os surdos, não só ouvem, mas, agora, têm “ouvido de músico” e se divertem com elas e os paralíticos, não só caminham, mas bailam as canções (35,5-7a).

Esta festa da humanidade nova, que floresce no encontro com o Senhor, segue estendendo-se por todos os desertos do mundo, fazendo de tudo o que está seco um manancial de vida (35,6b-7). Finalmente, o hino da alegria, se canta em uníssono, como em um só coro de peregrinos que regressam a casa, deixando para trás suas antigas penas. A procissão se organiza de modo que a rota é como uma grande rodovia que o profeta chama “Via Sacra”, e quem abre o caminho é o proprio Deus (35,8-10).

Esta profecia se realiza na pessoa de Jesus (Lucas 5,17-26)

E Deus vem, em pessoa, na pessoa de JESUS, para salvar seu povo (Lc 5,17-26). Ele restaura a beleza perdida do homem, seja por suas deficiências físicas, seja por seu pecado. O paralítico do evangelho de hoje, se converte em outro cantante do hino da alegria. E não canta só, o acompanha o coro dos que glorificam a Deus. (vv.25.26). Se o hino de Isaías ressoava, poderosamente, muito acima ressoará o coro dos que com os seguidores de Jesus cantam: “Hoje temos visto coisas incríveis” (v.26).

Jesus torna Deus visível

Assim, a expressão comovida e comovedora da multidão, no evangelho de hoje, faz eco maravilhoso do anunciado pelo profeta. A saúde do paralítico gera este grito de admiração. O paralitico curado é “gloria” de Deus, e a palavra e o coração de Cristo são a fonte reveladora dessa gloria. O profeta dizia: Deus em pessoa vem salvar-nos, e isso experimenta o paralítico. Cristo, pois, é o Deus que vem e, assim, de fato, o chama o Apocalipse. Enquanto a besta que ali se descreve é a que “era e já não é” (Ap 17,8.11), Cristo é “o que era, que é e que há de vir” (Ap 1,4.8:4,8).

Cristo é “o que era, que é e que há de vir”. Não se deve ler essa expressão como uma fórmula abstrata ou com rodeios poéticos. É uma descrição, não tanto do “ser”, mas do “fazer” revelador de Cristo. Não é uma alusão, simplesmente, à sua eternidade, mas um louvor de seu atuar que nos revela a gloria de Deus, como aconteceu com o paralítico.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que pessoas conheço que estão tristes ou deprimidas às quais lhes poderia levar estas palavras de alento da profecia de hoje?
  2. Como está a força de meu canto, que me inspira, que transforma no caminho? Sou um contemplativo da beleza de Deus no mundo?
  3. Sou consciente da importância da “presença” e “ausência” de Deus no mundo? Qual é o sinal que traduz essa realidade histórica e escatológica ao mesmo tempo?

TERÇA-FEIRA

Isaías 40,1-11 – Mateus 18,12-14

É A HORA DA CONSOLAÇÃO:

“Consolai, consolai a meu povo, diz vosso Deus”

O Advento nos prepara para a vinda do Senhor e seu dom é a consolação. Na experiência bíblica, a consolação é muito mais forte e radical que a que costumamos oferecer entre nós. 

Por mais que alguém queira, por exemplo, ante a desgraça que vive um amigo ou ante um funeral, o mais que pode fazer é dar um pouco de alivio com a escuta, com a presença amiga, com uma expressão de solidariedade; porém, o amigo, ou os doentes, seguem com o problema. 

Hoje o profeta Isaías nos expõe com todas suas forças o anuncio do Advento: Consolai! Consolai! E anuncia mudanças maravilhosas que estão a ponto de acontecer. A consolação que oferece o Senhor é uma mudança que vive uma pessoa ou comunidade, passando de uma triste situação a outra de plena realização, graças à superação do fator que a originou. Não é ficar assomados aos problemas com paliativos passageiros, mas o inicio de uma nova etapa positiva.

Em virtude disso, qual é a espiritualidade da consolação que hoje nos convida a viver o profeta no advento do Messias? Seguindo o fio do texto, podemos hoje concentrar-nos em algumas pautas que serão muito úteis para nosso exercício espiritual:

  1. O Senhor interpela até o fundo, até o coração: “Falai ao coração de Jerusalém” (40,1-2)

Antes de tudo se recuperam os ânimos. Para explicar isto, o profeta apresenta Jerusalém como uma bela dama que é conquistada pela palavra penetrante e amorosa de sua amante.  Assim Deus quer reconquistar o amor de seu povo infiel. A boa noticia que o mensageiro põe no coração de Jerusalém é que se acabarão os motivos de tristeza, isto é, o fim de seu isolamento na experiência histórica do desterro. Na historia de Israel, o desterro veio como castigo por seu pecado. A consolação inicia com o dom do perdão. E como é provável que na situação de castigo, se chegue a sofrer um pouco mais da conta, o profeta anuncia que todo este sofrimento receberá sua recompensa.

  • O Senhor prepara o caminho: “No deserto, preparem o caminho do Senhor” (40,3-5)

Além da preparação interna, a boa disposição do coração, se empreende a preparação externa: o caminho de regresso à terra pelo deserto. O consolo não se dá de uma hora para outra. É um processo com suas respectivas etapas, como foi o andar de Israel pelo deserto no êxodo:todo vale seja elevado todo monte e colina rebaixado…”.

Neste espaço geográfico e espiritual do deserto árido e ressequido se realizam grandes transformações: a gloria do Senhor, a “shekiná”, que há tempo habitava no povo, reluzirá, como nunca, e seus raios surpreenderão a toda a humanidade: Revelar-se-á a gloria de Iahweh e toda criatura, de uma só vez, a verá.

  • Pausa de reflexão para tomar consciência de si mesmo ante à grandeza de Deus: “Todos os mortais são como a erva e a flor campestre…”  (40,6-8)

O anuncio da consolação tem como conteúdo a força da palavra de Deus, a qual é como um forte alento (como “Ruah”) que, se gera uma nova criação, por outra parte não sabemos se poderemos resisti-lo. É como acontece à débil erva da manhã nas estepes de Israel, apenas passe o vento cálido do deserto. Por isso, o profeta se permite um pequeno diálogo (talvez monólogo), no qual se interioriza esta realidade: ante a grandeza e a eternidade de Deus, quem sou eu?

  • A vinda do Senhor em pessoa realiza a salvação esperada: “Ai está vosso Deus” (40,9-11)

O profeta que falou amorosamente ao coração do povo, que deu ordens para que se prepare o caminho e provocou uma pausa de reflexão, converte-se, enfim, no alegre mensageiro que percorre, agitadamente, o último trecho do deserto, abrindo o caminho até chegar à terra. Ao chegar, sobe à montanha mais alta da região de Judá para que o escutem em todos os recantos: Sobe a um alto monte, alegre mensageira de Sião”.

O alegre mensageiro grita aos quatro ventos a iminência da chegada de Deus e sua salvação. Com estes três proclamas se desvelam, pouco a pouco, o cenário no momento em que aparece Deus: Olhai a vosso Deus; Olhai seu braço robusto (=poder); Olhai seu séquito na marcha da vitoria (=arrasta os vencidos, carga ou despojo de guerra). 

Este Deus, que se apresenta como salvador poderoso, tem o coração, a ternura e a delicadeza de um pastor, que o que mais deseja é a vida e o bem estar da comunidade da qual é responsável: Como pastor pastoreia seu rebanho: recolhe nos braços os cordeirinhos; no seio os leva; e trata com cuidado as ovelhas que amamentam.

E esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 18,12-14)

A parábola do pastor que busca em meio das montanhas a ovelha perdida anuncia que o Messias vem, precisamente, para realizar esta profecia da consolação. Seguindo a insinuação do evangelista, também nós somos convidados a participar na busca da ovelha e animar alegremente seu regresso a casa.

Deus é poderoso e é também piedoso. Isaías tira a lição a seu modo e Jesus a expõe a seu modo. Este pastor do evangelho de hoje não é um empresário das ovelhas, guiado pelos números e os lucros. A ovelha perdida vale tanto, ou mais, que as noventa e nove que não se perderam. Não é lógico nos números, porém funciona; dá vida.

Um dia eu fui ou serei essa ovelha, e então me convirá que a lógica fique calada para ouvir a canção de meu pastor. É maior a alegria que nasce do processo perder-recuperar, que a alegria de nunca perder.

É o que dizíamos sobre a lição que aprende o povo em seu processo “pecado-humilhação-lição”.

Ao final dessa volta o povo é qualitativamente diferente. Como o filho pródigo: volta à própria casa, porém não volta mais o mesmo. A volta pelo pecado não é tempo perdido. Pode ser o tempo mais importante da vida daquela ovelha ou daquele pecador.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que se entende por consolação na Bíblia? Como a viveu o povo de Israel no exílio da Babilônia?

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Neste Advento, em que necessitamos ser consolados (minha família e eu), pelo Senhor?

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  • Que qualidades se anunciam de Deus na profecia?

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É esse o rosto de Deus que quero experimentar?

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  • Que passos dá o Senhor para fazer efetiva a consolação?

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Que características têm o profeta que anuncia a consolação?

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  • De que tarefa me está encarregando o Senhor para este tempo forte do Advento e Natal?

QUARTA-FEIRA

Isaías 40,25-31 – Mateus 11,28-30

É A HORA DA FORTALEZA

“Deus, desde sempre, é Yahveh, criador dos confins da terra, que não se cansa

nem se fadiga e cuja inteligência é inescrutável”

Queremos viver intensamente, porém, no caminho começam a aparecer situações que nublam nossos horizontes. Então andamos com os braços caídos, sem entusiasmo para as iniciativas, com sentimentos negativos com relação ao futuro nosso e da sociedade.

Um dos inimigos da esperança é o cansaço:

  • cansar-se de esperar promessas que não se cumprem,
  • cansar-se de lutar na vida sem ver resultados,
  • cansar-se de Deus e de suas exigências,
  • cansar-se dos irmãos na fé e de carregar-se com seus cansaços,
  • cansar-se, inclusive de si mesmo. 

É, precisamente, frente a esta realidade que as crises humanas, ou espirituais, tocam fundo em nós. Diante de tanto cansaço e desilusão, o Advento renova nossa esperança. Hoje Isaias nos confronta e diz: os que confiam no Senhor renovam as suas forças e voam como águias, correm incansáveis e avançam sem fatigar-se (40,31).

Como é que se pode chegar a esta conclusão? O profeta Isaias nos propõe para isso um caminho espiritual que tem passos bem definidos.

1. Deus é poderoso

Partindo de uma pergunta, inicialmente, implícita “Que se passa com Deus, que não se faz sentir?”, o profeta inicia com uma vigorosa apresentação do Deus que não tem rival nem comparação. Para isso coloca o homem frente ao espetáculo de uma noite estrelada e o pergunta, como se estivesse na escola: “Quem criou tudo aquilo?” (40,26). 

O povo se dá um pouco de tempo para ver e entender. Então nota como o universo tem animação, uma animação que ajuda a entender a obra de Deus na terra. Trata-se de um movimento parecido ao que Deus realizava com o seu povo quando o tirava do Egito, como se fosse um exército ou ao que um pastor realiza quando chama as ovelhas por seu nome. A conclusão é que tudo isto sucede “graças a seu esforço e ao vigor de sua energia”.

2. Minha vida está sob o olhar de Deus

Com uma grande ênfase o profeta nos recorda, então, que Deus conhece bem cada homem e não se esquece de nenhum, que Deus não abandonou sua responsabilidade sobre a terra.

Quando o homem compreende o amor de Deus em sua vida, então, já não poderá mais seguir queixando-se que Deus se esqueceu dele, dizendo: “O Senhor não se dá conta do que se passa comigo”; literalmente: “Oculto está meu caminho a Yahveh e a Deus não interessa meu direito” (v.27).

Não se pode duvidar que Deus seja capaz de intervir na história humana para salvá-la: É tanta sua força e tal seu poder!― como diz o v.26. Portanto, não se pode nunca concluir que Deus tenha se cansado de alguém. Como se houvesse se fatigado de tanto insistir para salvar. 

Mas há motivos para pensar o contrário. Vejamos esta preciosa percepção do ser de Deus que aparece no coração de nossa profecia (v.28):

  • Ele é Deus eterno, ele tem, em suas mãos, o tempo e tem seus tempo;
  • Ele não se fadiga nem se cansa”, é um operário incansável;
  • Ele é inteligente”, (na máxima potencia), quer dizer, sabe o que está fazendo, se, se

                               demora, não há que preocupar-se, mas confiar nele.

3. O poder e o amor de Deus renovam, continuamente, minhas forças

E, ao final, aparece o mais belo, Deus partilha sua fortaleza com o homem: Ao cansado dá vigor e, ao que não tem forças, a energia o acrescenta(v.29).

Deus restabelece as forças do que está cansado e cura sua fragilidade. E ainda há mais: Deus dá forças ao homem para que não se canse. Supõe-se que os jovens se fadigam menos, visto que estão na etapa da plenitude da fortaleza física (40,30). Sem dúvida, isto não é nada, em comparação com a força interior que Deus dá a quem se abandona nele: aos que esperam em Yahveh, Ele lhe renovará o vigor (v.31).

Quem apóia sua vida em Deus nota, como emerge de dentro dele, uma continua e vigorosa juventude. Isto explica, a profecia, com o símbolo da águia. Na Bíblia, a águia é símbolo de potencia e longevidade; assim como aparece, por exemplo, em Dt 32,11 e em Sl 103,5b. A tradição hebréia põe muita atenção na águia real de Palestina, a qual, quando chega seu tempo, renova a formosura de sua plumagem. Por isso, é imagem da renovação da vida e da longa vida, como uma nova juventude. A águia, quanto mais velha, mais bela.

Com o passar dos anos nossa existência biológica vai desmoronando, porém, ao mesmo tempo, gana, em Deus, um valor extraordinário.  Desta maneira, conscientes de nossos limites, porem, também da proximidade de Deus, quando olhamos para o futuro, vemos que brilha uma luminosa esperança.

Esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 11,28-30)

Isaias disse que isto vive os que confiam no Senhor (v.31). No evangelho que hoje a Igreja serve na liturgia da Palavra, escutamos Jesus, que nos diz Venham a mim, para que apoiemos tudo na humildade e a mansidão de seu coração.  Nele se realiza a profecia.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que me inquieta interiormente? Que fadigas não me deixam avançar?  Onde tenho encontrado novas forças para retomar o caminho? Onde estão meus apoios?
  2. Tenho me sentido abandonado por Deus? Que imagem tenho dele? Que características tem Deus nesta profecia?
  3. Que me diz a frase: “Tudo acontece segundo o projeto de Deus, por isso, é preciso confiar nele? Que espero da vinda do Senhor?

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QUINTA-FEIRA

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Lucas 1,39-47:

Maria é sinal do rosto maternal e misericordioso de Deus

“Olhem, a virgem está grávida e dará a luz um filho e lhe porá por nome Emanuel, que significa Deus-conosco”

Uma manhã cedo do ano de 1531, na colina do Tepeyac (México), Maria apareceu a Juan Diego, hoje primeiro santo indígena na historia da Igreja. A ele se manifestou como a Mãe de Deus e a Mãe dos homens necessitados. Logo, ao mesmo tempo em que se derramavam rosas, sua formosa figura ficou impregnada no manto que hoje veneramos como Nossa Senhora de Guadalupe. 

Recordemos o diálogo da Virgem Maria com Juan Diego na primeira aparição:

“―Juanito, o menor de meus filhos, a onde vais?

―Senhora e criança minha, tenho que chegar a tua casa, a seguir as coisas divinas que nos dão e ensinam nossos sacerdotes, delegados de Nosso Senhor.

―Sabe e tem entendido, tu e menor de meus filhos, que eu a Sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive; do Criador em cujas mãos tudo estás, Senhor do Céu e da terra. Desejo vivamente que se levante aqui um templo para mostrar e dar nele todo meu amor, compaixão, auxilio e defesa, pois eu sou vossa piedosa Mãe, a ti, a todos vós juntos, os moradores desta terra e aos demais que me amam, me invocam e confiam em mim. Ali ouvirei seus lamentos e remediarei todas suas misérias, penas e dores. Tu és meu embaixador, muito digno de confiança”.

Assim, Maria se constituiu em sinal que nos fala, continuamente, da obra de Deus nos povos e culturas que habitam o continente americano. Deixando-nos guiar pela Palavra de Deus – particularmente a profecia de Isaías – permitamos que se abra ante nós o mistério.

No evangelho que proclamamos hoje, a maternidade de Maria é felicitada por Isabel: “Bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu seio”(Lc 1,42).O ventre de Maria é reconhecido, por estas palavras inspiradas, como a arca da aliança perfeita na qual o Senhor se faz presente de modo plena e definitivo.

3. Hoje Maria segue sendo o “grande sinal” da fidelidade e ternura de Deus em nosso continente e no mundo

Ao celebrar neste dia, a Maria, como a Mãe e evangelizadora da América, temos presente que neste meio milênio de historia cristã de nosso continente, o Evangelho foi pregado apresentando-a como o modelo perfeito do qual a Palavra nos convida a viver.  Como disse o Papa João Paulo II: “Desde as origens ―em sua invocação de Guadalupe― Maria constituiu o grande sinal, do rosto maternal e misericordioso, da proximidade do Pai e de Cristo, com quem ela nos convida a entrar em comunhão” (Igreja en América, 11).

Ao contemplá-la, a Santa Maria da esperança, ressoarão, em nós, palavras de confiança, que nos convidam a não perder o ritmo da espera: “Não temas, nem desmaye teu coração”. Que o rosto mestiço da Virgem Maria, a Virgem do Tepeyac, Santa Maria de Guadalupe, Mãe das Américas, que dá rosto ao evangelho com a cor de tantas raças, nos inspire todos os dias na impregnação e o arraigo do evangelho, para que renasça entre nós a cultura da paz e da vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Como anda minha fé e esperança, especialmente quando se apresentam as dificuldades da vida?
  2. Qual o sinal de Deus para os cristãos deste continente? Que ensina este sinal? Que relação tem com a cultura da vida que esperamos neste longo advento de nosso continente?
  3. Que evoca em mim o rosto terno, amoroso e preocupado por mim, da Mãe de meu Senhor?

SEXTA-FEIRA

Isaías 48,17-19 – Mateus 11,16-19

PROFECÍA DO ADVENTO

 “Eu sou o Senhor teu Deus, eu te ensino o que há de ser-te útil”

Por que será que nos custa tanto manter as relações?

Por que os grupos sociais e, algumas vezes, também, os eclesiais, se dividem com tanta facilidade?

Por que é tão complicado fazer comunidade?

A profecia de hoje indaga sobre estas perguntas e, para isso, se vai à fonte da vida comunitária na Bíblia: o caminhar pelo deserto. O deserto foi a grande escola de Israel. As etapas do longo caminhar foram as lições. O Mestre foi o próprio Deus.

Como bem sintetiza o livro do Deuteronômio, foi uma educação profunda: “Recorda-te de todo o caminho que Yahweh, teu Deus, te fez andar, durante estes quarenta anos, no deserto, para humilhar-te, provar-te e conhecer o que havia em teu coração: se irias, ou não, guardar os seus mandamentos… Dar-te conta, pois, de que Yahweh, teu Deus, te corrigia (=educava) como um pai corrige a seu filho”(8,2.5).

A capacidade, ou não, de viver na terra, para realizar, ali, o projeto de povo que Deus lhes propunha, dependia desta aprendizagem. Quer dizer, que não se pode fazer comunidade, não se pode ter uma autêntica sociedade, se não se faz o caminho educativo. Se não, cedo ou tarde, a mesquinhez, que habita o coração, sairá, e o sonho de um mundo justo e fraterno virá abaixo, de um momento a outro.

O profeta nos apresenta o rosto do Deus pedagogo e o faz falar assim: “Eu te ensino o que há de ser-te útil, te guio pelo caminho que tens que seguir”(48,17). Nesta frase, o caminhar pelo deserto, com todos os seus acontecimentos implicados, é a matéria do ensinamento.

Nós, os leitores desta profecia de hoje, compreendemos que nossa vida inteira é este caminhar pelo deserto e que, do dia a dia, temos que tirar suas lições. A Torá (Lei do Senhor), antes que um acúmulo de prescrições é este caminho histórico guiado pelo Senhor e sustentado pela fé, constante, nele.

Igualmente, este caminho da vida, não pode ser compreendido, senão à luz das Palavras que o Senhor nos prescreve em sua Lei. Quando a vida se une a Deus e se deixa guiar por Ele, as bênçãos se vêm vir.

A profecia assinala três: (1) a paz e a justiça; (2) a descendência; (3) a permanência na presença do Senhor. Às vezes há quem pensa que viver segundo a Palavra não serve para nada, porém ai está uma primeira lista de bênçãos.

Como se estivéssemos orando o Salmo 81,14, “Ah, se meu povo me escutasse, se Israel caminhasse em meus caminhos”, a profecia faz um clamoroso chamado para que ponhamos nossos passos nos caminhos de Deus fazendo de suas opções as nossas. Vale destacar a maneira como o faz: dando, ao filho rebelde, a beleza e o gozo de um novo abraço.

O mesmo tom profético o notamos nas palavras de Jesus (Mateus 11,16-19)

Notemos as palavras de Jesus que compara o auditório rebelde com as crianças malcriados e egoístas que gritam, uns a outros, em suas rodas recreativas nos bairros. Um grupo diz ao outro que dancem, porém, estes não dançam, então pedem que chore, porém, tampouco, estes o fazem (Mt 11,16-19).

Este é o drama que vive Jesus, o Mestre, na educação de seu povo. É verdade que não é fácil aderir ao evangelho e que sempre haverá desculpas para adiar a conversão. Causalmente as pessoas mais difíceis para pregar-lhes, nos que habitualmente há mais resistências, somos nós, os que já estamos (ou deveríamos estar) no caminho.

Se bem que é certo que não podemos sedimentar nossa vida espiritual em nada diferente da Palavra (a Escritura lida desde a vida e a vida relida desde a Palavra), também é certo que a Palavra não é verdadeiramente lida se não a levamos à prática. Não é fácil a conversão, contudo, o Senhor, que sabe de pedagogia, segue chamando.

Um problema de sintonia

Deus se queixa de seu povo. Não há sintonia. Chamou a penitencia por meio de João, e a resposta foi de rejeição; chamou a amizade por meio de Cristo, e de novo a rejeição.

A dureza do homem desconcerta ao próprio homem, se reflete um pouco sobre ela. Comove-nos a palavra de Isaías. Eis aqui um Deus que quase tem que dar explicações a seu povo. “Instruo-te por teu bem”, diz o Senhor, por si alguém não havia entendido.

O problema de novo é de sintonia: o bem que Deus quer não é bem que o povo quer. Ou talvez estes bens coincidam, no fundo, mas a obediência às regras, caminho para o bem, não encontra espaço no coração endurecido do povo.

Não podemos ficar contemplando o espetáculo da desobediência passada. É preciso que hoje creiamos na palavra do profeta: o que Deus nos ordena, é por nosso bem.

A grande mentira do demônio é: “Deus não te ama, não se ocupa de ti”; a grande verdade revelada por Cristo é: “Deus te quer; és importante para Ele”. E desse amor e importância que tens ante Ele, te ordena seus mandamentos.

O amigo de seus inimigos

A crítica contra Jesus, dita por ele mesmo no evangelho de hoje, é no fundo um elogio em sua parte final: “ai têm a um amigo de pecadores”. Frase que nasceu do desprezo e da inveja, e que sem dúvida descreve bem o mistério e o ministério de Jesus: é o amigo dos pecadores, o amigo de seus inimigos.

A lei de Moisés proibia juntar-se com o enfermo de lepra por temor ao contágio. Com uma lógica semelhante querem que se proíba o contato com os pecadores, por medo de contagiar-se. Não descobriram que Jesus não ficará sujo, mas que os limpará. Jesus é o lugar do “bem forte”, o bem que não se suja em contato com o mal, mas que o vence e o limpa. Ele é a luz que vence às trevas.

Se Jesus fosse inimigo de seus inimigos, poderia talvez ganhá-los, mas ao preço de dar uma vitória à inimizade e um novo impulso ao ódio. O amigo dos inimigos é o que perde, a primeira vista, mas ganha a batalha, porque vence não a um humano fraco, mas a um pecado forte. É verdade que não é fácil aderir ao evangelho e que sempre haverá desculpas para adiar a conversão. Causalmente as pessoas mais difíceis para pregar-lhes, nos quais habitualmente há mais resistências, somos nós, os que já estamos (ou deveríamos estar) no caminho.

Se bem que é certo que não podemos alicerçar nossa vida espiritual em nada distinto da Palavra (a Escritura lida desde a vida e a vida relida desde a Palavra), também é certo que a Palavra não é verdadeiramente lida se não a levamos á prática. Não é fácil a conversão, contudo, o Senhor, que de pedagogia sabe, segue chamando.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Para que levou Deus povo ao deserto? Como sai o povo do deserto?
  2. Que acontece quando orientamos nossos projetos de vida segundo o caminho do Senhor?
  3. De que maneira tiro proveito, para meu crescimento no Senhor, de minhas vivências cotidianas?

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SÁBADO

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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