Cristãos Perseguidos (EFC)
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Lucas 21,12-19
“Todos os odiarão por minha causa, porém nem um cabelo de sua cabeça perecerá”
A atitude que se espera não é de passividade dos que se surpreendem temerosamente ante as dificuldades, mas pôr a cara nos desafios. Temos que saber testemunhar Jesus em tempos difíceis!
Os primeiros cristãos não foram alheios à grande crise política e religiosa que surgiu na Palestina e que levou à guerra, entre os anos 66 e 70 dC, nem tampouco ao caos político e militar do império romano nos dois anos seguintes à morte de Nero, entre 68 e 70 dC.
Todas estas “guerras” e “revoluções” (v.9) eram, como vimos ontem, motivo de análise. Tampouco foram alheios aos desastres da natureza que geravam mortes massivas, como os “terremotos, peste e fome” (v.11). A realidade de morte que vinha ao seu redor e que golpeava também a eles não lhes era indiferente. Por isso buscavam uma explicação e tomavam uma atitude profética.
Mas, sofrimento e morte não só rondava na rua, também entrou na casa. Por sua vida nova no Senhor, “por causa do nome” (vv.12.17), as comunidades se viram incompreendidas e perseguidas.
Em matéria de perseguições os primeiros cristãos sabiam bem, eles aprenderam rapidamente a viver sua fé em meio da contestação que os líderes políticos e religiosos faziam à sua proclamação, a sua vida nova, a suas reuniões, a seus trabalhos em benefício dos demais. Assim havia vivido o Mestre, o grupo apostólico e as comunidades nascentes, frente aos mecanismos de poder de seu tempo.
Os cristãos aprendem esta lição: o tempo entre a primeira vinda de Jesus e o tempo final de sua vinda, em meio dos tempos difíceis da história, é o espaço para viver Jesus, dando testemunho da opção radical por Ele. O mesmo termo que o Evangelho aplica à paixão do Senhor se aplica também aos cristãos: “sereis entregues”. Há um “a quem” e um “por quem”:
- A quem: aos tribunais religiosos (sinagogas) e aos tribunais políticos (reis e governadores) (v.13).
- Por quem: pessoas mais próximas e isto é desconcertante (12,51-53), aquelas que não compreenderam sua nova vida (v.16). Ao final se generaliza: “sereis odiados por todos” (v.17).
A fé se vive em meio aos perigos. Não é para desesperar-se, Jesus diz com palavras contundentes que:
- Ele mesmo, como Senhor, ressuscitado estará sempre ao lado de seu discípulo perseguido colocando suas próprias palavras em seus lábios. Por isso: “proponho-vos, pois, em vosso coração não preparar a defesa” (v.14). Esta comunhão profunda com Jesus é decisiva.
- Um discípulo deve ter sempre presente esta promessa de seu Senhor: “não perecerá nenhum cabelo de vossa cabeça”(v.18). Quer dizer, passe o que passar o destino eterno do discípulo não será comprometido, posto que, está sempre nos braços amorosos e providentes de Deus. Junto à confiança na proteção de Deus, de cada discípulo se espera também uma contribuição: a perseverança (v.19).
A frase final “com vossa perseverança salvareis vossas almas” (v.19), nos convida à resistência e nos inculca que quem superar as provas das perseguições e o ódio até o final de sua vida na terra, certamente herdará a vida eterna. Não tem que baixar à guarda ante as dificuldades, mas fazer brilhar a força da fé.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Jean Tauler (vers 1300-1361), dominicano em Estrasburgo.
“Sereis detestados por causa do meu nome, mas nem um cabelo da vossa cabeça se perderá”
Jesus prometia sempre a paz aos seus discípulos, antes da sua morte e após a sua ressurreição, sempre a paz (Jo 14,27; Lc 24,36).
Os discípulos nunca obtiveram esta paz vinda do exterior, mas acolheram a paz na luta e no amor no sofrimento; e na morte encontraram a vida.
E encontraram sempre um jubiloso triunfo quando, antes dessa morte, os interrogavam, julgavam, condenavam. Eram verdadeiras testemunhas.
Sim, há muitos homens que estão totalmente cheios de mansidão no corpo e na alma, a ponto de estarem penetrados até à medula e até às veias, mas, quando chegam o sofrimento, as trevas, a dispersão interior, já não sabem para onde ir.
Param de repente e daí não lhes vem nada.
Quando chegarem os terríveis furacões, o deserto interior, a tentação exterior do mundo, da carne ou do inimigo, aquele que souber passar através disso encontrará a paz profunda que ninguém lhe poderá arrebatar.
Mas quem não tomar este caminho fica para trás e nunca saboreará a verdadeira paz.
Eis quais são as verdadeiras testemunhas de Cristo.