Dedicação da Basílica de Latrão (EFC)

João 2,13-22 

(A purificação do Templo) Este episódio reveste-se de uma importância singular no Evangelho de João: abre a pregação de Jesus; acontece ao acercar-se a “grande” festa: toda a vida de Jesus está marcada pelo calendário de festas antigas, e ele as encherá de um cumprimento pleno e definitivo ao revelar-se como “nossa Páscoa” (1 Cor 5,7). A Páscoa dos judeus devia celebrar-se no templo, com o sacrifício de vítimas, para comemorar as obras maravilhosas de Deus na libertação do povo da escravidão do Egito. No relato joanino, Jesus, entrando no templo, expulsa não só os vendedores, como narram os sinóticos, mas também os cordeiros e os bois, declarando, assim, ser Ele a verdadeira vítima. Com seu gesto cumpre a profecia de Zacarias: “Naquele dia (o dia da revelação definitiva) não haverá mais traficantes no templo do Senhor dos exércitos” (14,21). Jesus dá cumprimento às Escrituras (v.17) e proclama, por sua vez, sua divindade, com poder de ressuscitar: “Destruirei este templo e, em três dias, o levantarei” (v.19). A narração chega aqui ao seu cume: em contraposição com o templo antigo e o antigo culto abandonado por Deus por causa da infidelidade e das profanações (cf. Ez 10,18ss), o corpo de Cristo ressuscitado se converterá no novo templo (v.1-21), para um novo culto “em espírito e em verdade” (cf. 4,23).

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Hoje, meus irmãos, celebramos uma grande festa; é a festa da casa do Senhor, do templo de Deus, da cidade do Rei eterno, da Esposa de Cristo… Perguntemo-nos, então, o que pode ser a casa de Deus, o seu templo, a sua cidade, a sua Esposa. Tenho de o dizer com temor e respeito: somos nós. Sim, nós somos tudo isso, mas no coração de Deus. Somo-lo pela sua graça e não pelos nossos méritos… A humilde confissão das nossas penas provoca a sua compaixão. Esta confissão dispõe Deus a vir em socorro da nossa fome como um pai de família e a fazer-nos encontrar junto d’Ele pão em abundância. Somos, portanto, a sua casa onde nunca falta o alimento da vida… “Sede santos, está escrito, porque eu, o vosso Senhor, sou santo” (Lv 11,44). E o apóstolo Paulo diz-nos: “Não sabeis que os vossos corpos são o templo do Espírito Santo e que o Espírito Santo tem em vós a sua morada?” Mas bastará à própria santidade? Segundo o apóstolo, é necessária também a paz: “Procurai, diz ele, viver em paz com toda a gente e também a santidade, sem a qual ninguém verá a Deus” (Hb 12,14). É esta paz que nos faz viver juntos, unidos como irmãos, é ela que constrói para o nosso Rei uma cidade toda nova chamada Jerusalém, o que quer dizer: visão da paz… Por fim, é o próprio Deus quem nos diz: “Desposei-te na fé, desposei-te no julgamento e na justiça” (a dele, não a nossa), “desposei-te na ternura e na misericórdia” (Os 2,22.21). Não é verdade que ele se comportou como um esposo? Não vos amou como um esposo, com o ciúme dum esposo? Então, como poderíeis não vos considerar como a esposa? Assim, meus irmãos, uma vez que temos a prova de que somos a casa do Pai de família, por causa da abundância dos bens que recebemos o templo de Deus por causa da nossa santificação, a cidade do grande Rei por causa da nossa comunhão de vida, a esposa do Esposo imortal por causa do amor, parece-me que posso afirmar sem receio: esta festa é a nossa festa! (São Bernardo)

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