Estudo Bíblico na 31ª Semana Comum ano A 2023

ESTUDO BÍBLICO NA 31ª SEMANA COMUM ANO A 2023

Comunidade Paz e Bem

DOMINGO – Festa de todos os Santos

Mateus 5,1-12a

PARTILHAR A SANTIDADE DE DEUS

Bem-aventurados os de coração puro porque verão a Deus”

Começamos este mês de novembro com o olhar posto na meta. O livro do Apocalipse nos abre o horizonte e apresenta um belíssimo panorama: a imensa multidão dos santos que gozam vitoriosos no louvor do céu (ver Ap 7,9). Dentro deste formoso quadro contemplamos surpresos a fascinante santidade da Igreja, que por meio do seguimento de Jesus, já tem coroado a meta.

Nessa multidão descobrimos santos com todos os rostos: mães e pais de família; jovens, crianças, adultos e anciãos; sacerdotes, bispos e religiosas. Muitos deles bem conhecidos por seu brilhante testemunho de entrega ao Senhor de múltiplas formas, especialmente na oração e na caridade; por isso agora seu bom exemplo nos anima para seguir o mesmo caminho.

Mas a maioria deles, viveu ocultamente a radicalidade de sua fé, vencendo o mal com a força de bem, com gestos simples e cotidianos de amor, aceitando as provas da vida com o olhar fixo em Jesus. Santo Agostinho teve a ousadia de falar de outros santos, que são os “ocultos”, os “latentes”, ou melhor, os “santos escondidos”, aqueles que viveram além dos limites históricos e geográficos da Igreja. Todos eles oram por nós, participam em nossos sofrimentos, partilham nossas alegrias e nos esperam no céu.

E, hoje, não só olhamos os rostos desta multidão imensa, mas, também, nos deixamos guiar pelas leituras bíblicas do dia, descobrimos o segredo que habitou seus corações. A primeira carta de João nos ensina que o segredo da santidade não está no esforço humano, mas na iniciativa gratuita de amor com que Deus nos chama a ser seus Filhos. Em outras palavras, Deus nos quer tanto, que deseja que sejamos como Ele: “Olhai com que amor nos amou o Pai para nos chamar de Filhos de Deus, e, de fato, nós o somos!” (1 Jo 3,1).

Deus entra em nossa história imprimido em nosso ser a sua mesma santidade e fazendo, assim, de nossa vida uma benção para o mundo. Neste ponto se concentra o evangelho das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), o qual nos coloca diante do rosto do santo que Deus quer que sejamos: seu Filho Jesus Cristo. A santidade é um dom, mas também és uma conquista de nossa parte. Se, de nossa parte, vivemos as oito bem-aventuranças, seremos filhos no Filho, ou seja, santos no Santo por excelência:

  1. Não seremos soberbos nem orgulhosos, mas reconheceremos, sem lamentação, nossa vulnerabilidade (“Bem-Aventurados os pobres de espírito”; 5,3).
  2. Não tentaremos nos impor aos outros, mas respeitaremos e reconheceremos cada homem como nosso irmão, com o mesmo valor nosso, e o amaremos como a nós mesmos (“Bem-Aventurados os mansos”; 5,4).
  3. Não dispersaremos no atual “vale de lágrimas”, mas encontraremos sentido no sofrimento, seguindo àquele que por este caminho chegou à ressurreição (“Bem-Aventurados os que choram”; 5,5).
  4. Não estaremos preocupados ansiosamente por nossa vida, mas, com uma grande confiança na paternidade de Deus, orientaremos nossa fome e toda nossa sede em realizar a vontade de Deus (“Bem-Aventurados os que tem fome e sede de justiça”; 5,6).
  5. Não exigiremos o pagamento de nossos devedores irresponsáveis, mas, baseados naquele que nos perdoou sem medida, exercitaremos a misericórdia e o perdão em todos os sentidos com aqueles que “nos devem” (“Bem-Aventurados os misericordiosos”; 5,7).
  6. Não olharemos para os outros com preconceitos, mas com um coração livre dos males e pecados que rotulamos, purificados pelo sangue do que deu sua vida por nós na Cruz (“Bem-Aventurados os limpos de coração”; 5,8).
  7. Não faremos nada que produza desunião, mas, ao invés, nos comprometeremos com a paz e a vida, de maneira que contribuamos para a construção de uma comunidade que seja a imagem do Deus Trindade (“Bem-Aventurados os pacificadores”; 5,9).
  8. Não nos acovardaremos ante a perseguição e a rejeição, mas permaneceremos fiéis à nossa opção por Jesus e seu caminho (“Bem-Aventurados os perseguidos por causa da justiça”; 5,10).

Viver a santidade neste mundo é também uma missão. Por isso notamos como as bem-aventuranças são atitudes que curam a humanidade e isso tem um valor ainda maior nestes momentos tão difíceis que vivemos na história. É assim que as bem-aventuranças…

  1. Mostram-nos que com a pobreza, a mansidão e a misericórdia, poderemos reverter os conflitos, reduzir a violência, curar as feridas que ela deixa, transformar o ódio em amor e em serviço.
  2. ensinam-nos que, se temos um coração puro, então poderemos fazer resplandecer a luz da esperança na noite escura do mundo.
  3. Impulsionam-nos a participar ativamente na transformação da nossa dramática realidade sendo construtores da paz com palavras e atos de bondade.

Então, a cruz será superada na ressurreição, sobre as lágrimas virá a consolação, a fome e a sede serão saciadas. O caminho desta transformação seguirá sendo sempre a cruz vivida no hoje da perseguição, da incompreensão e rejeição. Não nos esqueçamos: os santos sempre, assim como Jesus, foram profetas para seu contexto e, por isso também compreenderam, amaram e viveram a cruz.

Este é o desafio com o qual iniciamos os “ouvintes da Palavra” neste mês de novembro deste ano. Não aspiramos o pouco. Temos uma meta clara. Para ela, esperamos e lutamos profeticamente. A santidade é o “mais alto grau da vida cristã ordinária” (NMI, 31).

Cultivemos a semente da Palavra na profundidade do nosso coração.

  1. O que é ser “santo”? É possível ser santo hoje?
  2. Como a santidade é alcançada? Qual é o caminho traçado pelas bem-aventuranças?
  3. Eu estou disposto a fazer da busca da santidade a prioridade em minha vida? Que medidas concretas vou tomar para alcançá-la?

SEGUNDA-FEIRA
Lucas 14,12-14

AS LIÇÕES DA MESA (I)

 “Não convides teus amigos, mas aos pobres e estropiados”

Como já viemos notando ao longo de nossa leitura do Evangelho de Lucas, Jesus sabia fazer de toda circunstância uma ocasião para transmitir um ensinamento. Estando Jesus em uma ceia na casa de um dos líderes dos fariseus, consegue tirar deste mundo dos banquetes, quatro lições importantes para a vida de seus discípulos.

A primeira lição a encontramos em Lucas 14,1-6, ali, através da cura de um dos comensais, um enfermo de hidropisia, que Jesus tem, justamente, bem à sua frente, ensina que a salvação é inadiável, não importa que seja um sábado.

A segunda lição, que se encontra na passagem seguinte, em Lucas 14,7-11, a propósito do cumprimento das regras de etiqueta sobre os postos reservados para as pessoas de alta dignidade, Jesus se dirige aos convidados para ensiná-los que se deve evitar a autopromoção e buscar mais atuar desde a humildade, quer dizer, que sejam os outros os que te promovam.

O ensinamento tem que ver, naturalmente, com a relação com Deus: o verdadeiro lugar do homem é o que ocupa diante de Deus e não o que se pode ganhar esforçando-se em sua própria promoção.

Hoje nos deteremos na terceira lição (Lc 14,12-14) que também parte de um detalhe que não se pode esquecer nas comidas importantes: fazer a lista dos convidados. Jesus agora se dirige ao anfitrião da comida, que como já se disse, é um fariseu.

Jesus faz um paralelo entre duas maneiras de selecionar os convidados, para assinalar aí qual deve ser o comportamento distintivo de um seguidor seu. Observemos com atenção o texto:

  • A primeira coluna indica o que “não” se deve fazer (“quando deres uma comida ou uma ceia, não tomes a iniciativa de convidar a…”, v.12), a segunda indica o comportamento desejável (“quando deres um banquete, toma a iniciativa de convidar a…”, vv.13ss);
  • Na primeira situação a lista compreende: os amigos, os irmãos, os parentes e os vizinhos ricos.  São aqueles que, muito provavelmente, também te oferecerão um banquete. Na segunda lista, a que propõe Jesus, os convidados são todas as pessoas que não têm como corresponder com outro convite: pobres e estropiados, coxos e cegos;
  • Neste paralelo se destaca o fato da recompensa ou pagamento de favor. No primeiro caso, a recompensa é imediata (na terra), e no segundo, esta aguarda o tempo da ressurreição (v.14).

Ao enfatizar a novidade do comportamento de não trazer à mesa somente os que estão em condições de devolver o convite, Jesus lança uma nova maneira de entender as relações humanas. Segundo esta, as relações humanas, habitualmente fundamentadas na reciprocidade, na troca de favores, se baseiam, ao contrário, em um amor unilateral, assim como é o amor de Deus por cada homem: Deus nos ama, apesar de que não queiramos ou não estejamos em condições de responder à altura de seu amor.

Assim se entende por que convidar a um pobre. Porém Jesus colocou na lista também uma pequena lista de enfermos: “estropiados, coxos e cegos”. Quando alguém ler 2 Sm 5,8 nota que os cegos e os enfermos não eram hóspedes agradáveis para Davi. Em Qumrán (ver a “Regra da Comunidade”), os essênios excluíam, também, os enfermos, os coxos e os cegos. Como foi a reação do anfitrião quando Jesus disse quem era que devia convidar à sua mesa?

É necessário vencer o exclusivismo, derrubando os muros e círculos fechados nas relações humanas. O coração deve expandir-se, para dar espaço a todos, especialmente aos desfavorecidos, aos abandonados, aos que sofrem, e acolher-lhes com amor, fazendo deles parte de nossa própria vida. Para isso é preciso vencer a repugnância e os medos dos prejuízos, como o fez Jesus.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Quando foi a última vez que organizei uma festa ou convidei alguém para comer?

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Com que critério eu seleciono meus convidados?

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  • Por que a Igreja (e eu junto com ela) opta preferencial e profeticamente pelos pobres?

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  • Os fariseus baseavam sua espiritualidade na lógica da recompensa. Isto é correto?

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Que devemos ter na relação com Deus e com os demais?

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Que relação tem o ensinamento de Jesus neste dia com a lição da Cruz?

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TERÇA-FEIRA

Lucas 14,15-24

As lições da mesa (II).

Sai pelos caminhos e trilhas e insisti-lhes até que entrem e se encha a casa”

Assim como “na mesa se conhece o cavalheiro”, igualmente na mesa se conhece um verdadeiro discípulo de Jesus. Isto é o que vimos nas últimas passagens do Evangelho de Lucas que temos lido. Hoje aprendemos uma quarta lição de Jesus relacionada com o mundo dos banquetes (14,15-24). O assunto não está somente em fazer a lista, mas também o que os convidados respondem.

O texto começa assim: um dos comensais que escutou a lição que vimos ontem coloca o seu olhar no banquete definitivo do céu e exclama: “Felizes os que poderem comer a refeição no Reino de Deus!” (v.15). E ele tem toda razão, é uma felicidade, porém, esta felicidade é uma ocasião que muitos deixam perder-se.

Jesus aprofunda nesta realidade com a ajuda de uma parábola. Trata-se de um grande banquete. O texto diz “grande ceia” e “muitos convidados” (v.16). Além do mais, na preparação se toma um considerável período de tempo. O drama está em que o anfitrião deve fazer três tentativas para conseguir encher sua casa, para que todos aproveitem a ceia:

  • Na primeira tentativa nos inteiramos que os convidados dão preferência as suas próprias ocupações: questões de negócios (campo e bois) ou da vida privada (matrimônio). Trata-se de pessoas ricas que têm satisfeitas suas próprias necessidades;
  • Na segunda tentativa se chama os “pobres e estropiados, cegos e coxos”. Mas ainda há espaço;
  • Então, numa terceira tentativa, é mandado chamar a todas as pessoas que estiverem “nos caminhos e trilhas”.

Os três momentos do chamado dos comensais nos descrevem três círculos concêntricos que vão do centro até a periferia. Em cada chamado – entendemos que se trata do chamado a aceitar o caminho do Evangelho – o círculo vai se abrindo mais, de maneira que a mesa vai se estendendo até abarcar aos mais pobres (miseráveis) e os gentios.

Assim se ilustra o campo de ação do ministério de Jesus e da evangelização que realizarão os apóstolos mediante ações contínuas que os levarão a chegar cada vez mais dentro da realidade dos abandonados da sociedade e dos afastados. Vale anotar que no texto não se diz propriamente “chamar” para o segundo e terceiro momento, mas “fazer entrar”. Isto é significativo porque provavelmente se trata de pessoas que são bem conscientes de sua indignidade (a uma ceia se chega limpo e bem vestido).

É preciso observar bem o texto, para que não justifiquemos com ele conversações “forçadas” (como aconteceu em algum momento da história). A felicidade da salvação se pode perder ao fazer caso omisso do chamado de Deus pela boca de seus servidores. E é tal a perda, que na parábola, Jesus alude a um belo costume que se tinha com os que não podiam ir a uma festa, isto é, se mandava a casa algo da comida (Ne 8,10-12); pois bem, deles agora se diz: nenhum daqueles convidados provará minha ceia” (14,24).

Aprofundando com os nossos pais na fé

Santo Ambrósio (c.340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

 “Obriga-os a entrar, para que a Minha casa se encha”. Os convidados desculpam-se, mas o Reino só está fechado a quem dele se excluir pela sua própria palavra. Na sua clemência, o Senhor a todos convida; é a nossa cobardia, é o nosso descaminho, que dele nos afastam. Aquele queprefere comprar uma propriedade é estranho ao Reino; no tempo de Noé, compradores e vendedores foram engolidos pelo dilúvio (Lc 17,28)[…] O mesmo acorre àquele que se desculpa porque se casou, pois está escrito: “Se alguém vem ter comigo e não aborrece a seu pai, mãe, esposa[…], não pode ser Meu discípulo” (Lc 14,26). Assim, após receber o desdém orgulhoso dos ricos, Cristo voltou-Se para os pagãos; chama bons e maus, para fazer crescer os bons, para melhorar as disposições dos maus.[…] Convida os pobres, os doentes, os cegos, o que mostraque nenhuma enfermidade física afasta ninguém do Reino, e que a enfermidade dos pecados é sarada pela misericórdia do Senhor. […] Manda, pois, procurá-los aos caminhos, porque “a Sabedoria clama nas ruas” (Prov 1,20). Manda procurá-los às praças, dizendo aos pecadores que abandonem as vias espaçosas e tomem o caminho estreito que conduz à vida (Mt 7,13). Manda buscá-los às estradas e aos valados, porque os mais capazes de chegar ao Reino dos Céus são aqueles que, sem se deixarem deter pelos bens presentes, se apressam a ir atrás dos futuros, tendo tomado a via da boa vontade[…], opondo a muralha da fé às tentações do pecado.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Quando descubro que o Senhor está me “chamando”, que desculpa eu dou para não responder-lhe?

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  • Até qual âmbito de nossa sociedade, devemos chegar com nossa ação evangelizadora?

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  • A salvação está representada na parábola como um banquete, por que esta comparação?

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    Por que o Evangelho de Lucas a tem enfatizando tanto?

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QUARTA-FEIRA

Lucas 14,25-33:

O discipulado tEM uM cUsto.

“O que não renuncia a todos seus bens não pode ser meu discípulo”

Nossa leitura do evangelho de Lucas, ao ritmo da liturgia da Igreja, nos vai levando cada vez mais fundo neste caminho de configuração com Jesus de Nazaré, a propósito de que “todo o que estiver bem formado, será como seu mestre” (6,40) e de que a “maturidade” do ouvinte da Palavra se constata em sua capacidade de “dar fruto com perseverança” (8,15).

O itinerário lucano nos leva hoje a dar um novo passo na formação do discípulo, mediante a assimilação de um conjunto de ensinos bem exigentes que encontramos entre 14,25 e 17,10 (compreende seis lições no total, porém por razões de ordem litúrgica só veremos cinco).

O fio condutor de todos estes ensinos é a conversão do discípulo que se dá segundo o modelo do coração misericordioso do Pai. O primeiro passo no discipulado é a resposta ao chamado. Neste vemos conexão com o texto de ontem. A lição: dar “sim” a Jesus implica estar de acordo com suas exigências. Notemos no texto os dois ensinos fundamentais na boca de Jesus:

  • A vocação tem exigências concretas (Lc 14,25-27).
  • Se tais são as exigências, então há que adotar uma atitude que corresponda a elas (14,28-33).

Jesus nos disse que para “poder ser discípulos” seus as exigências são duas:

  • A primeira exigência nos apresenta que quando uma pessoa tem um encontro vivo com Jesus, os grandes amores da vida se retraça: o papai, a mamãe, a esposa, os filhos, os irmãos e as irmãs, a própria vida (v.26); logo se agrega que também a atitude vale para os bens (v.33).
  • A segunda exigência nos assinala que a nova maneira de amar se aprende em uma grande identificação com o crucificado (v.27).

Como entender isto?Devemos ter o cuidado de não mal interpretar as palavras do Senhor como se tratara de um descuido ou um esquecer da família. O que Jesus propõe é uma inversão no ponto de vista na abordagem das relações. Isto quer dizer, que não se trata de amar a Jesus com o amor com que se querem os grandes amores que estão em nosso coração (os inesquecíveis papai e mamãe, a esposa, os filhos, etc.). É como quando, para educar uma criança no amor a Deus, lhe perguntamos primeiro quem é a pessoa que mais gosta no mundo, e ele responde naturalmente que é sua mãe e seu pai, para logo dizer que maior deve ser o amor a Deus.

Para o novo discípulo Jesus ensina o caminho inverso: amá-los com o amor de Jesus, que é um amor total, purificado, melhor dizendo: amá-los desde a cruz, onde a entrega não tem limites e salva ao ser amado. Não é entregar-se a Jesus com a paixão com que se quer à pessoa mais amada deste planeta, mas entregar-se à pessoa amada com a paixão de Jesus.

Por isso é necessária uma tomada de distância: aquele que começa sério uma vida de discipulado redefine suas relações colocando no centro de tudo Jesus. Logo, desde o Senhor, tece uma relação de maior entrega, fidelidade, responsabilidade com as pessoas que amamos. Em outras palavras, as relações se cristificam e, portanto se curam e se potencializam. Jesus não é um amor ao lado dos outros, é o centro de todos eles.

Este caminho não é fácil, de fato é uma verdadeira conversão (giro na vida). Por isso, no caminho do discipulado é preciso pensar, refletir, discernir antes de comprometer-se. Esta é a lição das duas parábolas do construtor da torre e do rei que vai à guerra (Lc 14,28-33).

Aprofundando com os nossos pais na fé

Filoxeno de Mabboug (? – c.523), bispo na Síria

Ser seu discípulo. Escuta a voz de Deus que te impele a sair de ti para seguires a Cristo e serás um discípulo perfeito: “Quem não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo”. Que tens tu a dizer? Que podes responder a isto? Todas as tuas hesitações e as tuas questões caem diante desta única palavra; a palavra da verdade é a senda sublime por onde avançarás. Jesus disse ainda: “Quem não renunciar a todos os seus bens e não tomar a sua cruz para caminhar após mim, não pode ser meu discípulo”. E, para nos ensinar a renunciar não apenas aos nossos bens, para o glorificarmos, e ao mundo, para o confessarmos diante dos homens, mas também à nossa vida, acrescentou: “Se alguém não renunciar a si mesmo, não pode ser meu discípulo”… Noutro lugar disse: “Quem perder a sua vida neste mundo, guarda-a para a vida eterna. Se alguém me servir, o Pai honrá-lo-á” (Jo 12,25ss). E disse ainda aos seus: “Levantai-vos. Partamos daqui” (Jo 14,31). Por esta palavra mostrou que, tanto o seu lugar como o dos discípulos, não é aqui em baixo.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Quanto às exigências para ser discípulo de Jesus: Que se deixa e que se toma?

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  • Como se relacionam estas duas?

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  • A comunidade de Lucas parece estar preocupada ante algumas deserções na comunidade: Como ilustram as duas parábolas. O que há que fazer?

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Quinta-feira – dedicação da basílica de s joão de latrão

João 2,13-22 (A purificação do Templo) Este episódio reveste-se de uma importância singular no Evangelho de João: abre a pregação de Jesus; acontece ao acercar-se a “grande” festa: toda a vida de Jesus está marcada pelo calendário de festas antigas, e ele as encherá de um cumprimento pleno e definitivo ao revelar-se como “nossa Páscoa” (1 Cor 5,7). A Páscoa dos judeus devia celebrar-se no templo, com o sacrifício de vítimas, para comemorar as obras maravilhosas de Deus na libertação do povo da escravidão do Egito. No relato joanino, Jesus, entrando no templo, expulsa não só os vendedores, como narram os sinóticos, mas também os cordeiros e os bois, declarando, assim, ser Ele a verdadeira vítima. Com seu gesto cumpre a profecia de Zacarias: “Naquele dia (o dia da revelação definitiva) não haverá mais traficantes no templo do Senhor dos exércitos” (14,21). Jesus dá cumprimento às Escrituras (v.17) e proclama, por sua vez, sua divindade, com poder de ressuscitar: “Destruirei este templo e, em três dias, o levantarei” (v.19). A narração chega aqui ao seu cume: em contraposição com o templo antigo e o antigo culto abandonado por Deus por causa da infidelidade e das profanações (cf. Ez 10,18ss), o corpo de Cristo ressuscitado se converterá no novo templo (v.1-21), para um novo culto “em espírito e em verdade” (cf. 4,23).

 

Ez 47,1-2.8-9.12 (A fonte do Templo) Devido o clima árido da Palestina, as fontes são, com frequência, símbolos do poder vivifica­dor de Deus. Por isso, às vezes, próximo a uma fonte se erigia um santuário. Na visão de Eze­quiel, este poder de vida nova emana do saguão do próprio templo e flui para o oriente, por onde regre­ssou a glória do Senhor para morar em meio do povo que voltou do desterro. De início é um pequeno arro­io de água, insignificante, se comparado aos grandes rios mesopotâmicos, mas vai crescendo, cada vez mais, até converter-se em um rio navegável. É sugestivo o contraste entre a medida exata e calculada, sempre igual, do anjo, e o crescer sem medida da água, cujo poder experimenta o profeta em seu corpo (vv.3b.4b). Revela a ex­traordinária fecundidade e eficácia da fonte: enche de vegetação o território, cura o mar Morto, faz que abundem os peixes e prosperem os povos (vv.7-10); as árvores frutíferas dão colheitas extraordinárias: a água que vem de Deus cura e fecunda a terra onde per­corre. O Novo Testamento recolherá e levará à plenitude a simbologia: Jesus é o verdadeiro templo do qual bro­ta a água viva do Espírito Santo (Jo 7,38;19,34), por meio da regeneração desta água vivificante e medicinal (Jo 3,5).

1 Cor 3, 9c-11.16-17 (Vós sois o templo de Deus)Se extraordinária é a visão de Ezequiel, não é menos original a teologia do “templo” que nos oferece Paulo nestes versículos de sua primeira carta aos Coríntios. Porém, que diferença! Agora não há templo, nem altar, mas o “corpo” e o “espírito”. Sobre estes símbolos bem significativos recai todo o peso de uma teologia cristã que é uma revelação sem precedentes. Em todo caso seria uma dedução de que o ser humano foi criado à imagem de Deus. O homem, a pessoa, é “um corpo”, material e espiritual ao mesmo tempo. O corpo nos identifica e personaliza, porém também nos leva à morte se é um corpo “sem espírito”. Que podemos inferir da leitura? Que a presença de Deus no mundo se realiza, sobretudo e antes de tudo, por nós, por nosso corpo, por nossa história. Somos nós, segundo esta teologia – sem cair em panteísmo algum –, presença viva do Deus vivo. E como Paulo está falando em sentido plural, da comunidade que não é outra que a de Corinto, podemos fazer a mesma aplicação à Igreja. Os coríntios estão chamados, depois da “edificação” que fez o Apóstolo, pondo como fundamento a Cristo, para ser o templo, o santuário da presença de Deus por meio de seu Espírito. O edifício, a comunidade, é o que é, porque está fundamentada em Cristo. Porém são pessoas as que tornam possível este santuário de presença divina. Não obstante, a comunidade sem o Espírito de Deus seria nada.

Sl 45/46 (Confiança na adversidade) – Para o coração do salmista não há nada mais amável que a cidade santa, Jerusalém, onde todos se reúnem para adorar a majestade de Deus. Mas há uma nova Jerusalém, que é a Igreja, e uma nova cidade santa, que é o nosso coração. Santa Teresa contemplou numa visão uma pedra preciosa que tinha a forma de um castelo. Esta, dirá Teresa, é a alma humana onde mora o Rei, sua Majestade. Se não encontramos Deus dentro de nós, também não o encontraremos nos santuários de pedras. Este é o caminho que nos é oferecido: ser a cidade santa e a nova Jerusalém, morada santa de Deus.

Senhor, ensina-me a reconstruir a tua cidade santa dentro de mim e nos outros. Que eu possa defender em cada momento a vida e estar sempre do lado do ser humano. Que eu possa ser capaz de te amar no coração do irmão, especialmente naqueles que têm os templos destruídos pelo pecado, pela droga, pelo mal. Senhor, quero te amar e te enxergar lá nos “ex-seres humanos”, aqueles que foram destituídos de sua dignidade. Neles quero te amar e te adorar. Amém.

MEDITAÇÃO: “A liturgia renovada sublinha de um modo mais claro o significado da “Igreja-edifício” como sinal visível do único e verdadeiro templo que é o corpo pessoal de Cristo e seu corpo místico, isto é, a Igreja, esposa e mãe, a qual celebra, em um determinado lugar, o culto em espírito e em verdade (cf. Jo 4,23; At 2,46ss). Acima da sacralização do espírito material, se nos estimula a captar, no Cristo homem-Deus, a verdadeira sacralidade que d’Ele se comunica a todo o povo santo e sacerdotal, batizado e confirmado no Espírito Santo, unido na única oblação ao sumo e eterno sacerdote (Hb 10,14). A casa do povo de Deus, no que se refere à estrutura, o decoro e a funcionalidade, é algo que devem tornar muito a peito, todos os crentes, pois nela renascemos à vida divina e nela seremos abençoados em nosso último êxodo pascal à pátria celeste. É a casa de todos e como tal deve ser cuidada e protegida, com amor, também em seu aspecto exterior, que é sinal de nossa pureza interior” (Conferência Episcopal Italiana, Rito della dedicazione di uma chiesa). “O Templo é o sinal visível do mistério da Igreja santificada pelo sangue de Cristo, escolhida por Ele como esposa, virgem pela integridade e pureza da fé, mãe sempre fecunda pelo poder do Espírito. Igreja santa vinha eleita do Senhor; Igreja bem-aventurada, morada de Deus entre os homens; Igreja sublime, cidade elevada sobre o monte, clara a todos, por seu fulgor, onde resplandece como lâmpada perene o Cordeiro e se eleva festivo o coro dos bem-aventurados. Agora, Pai, envolve de tua santidade esta Igreja, a fim de que seja lugar santo para todos” (Da oração da dedicação de uma Igreja).

ORAÇÃO: ÓJesus, penetra hoje, em nosso coração, como no santuário de teu Pai e nosso. Pousa teu olhar em nossos esconderijos mais secretos, onde ocultamos nossas maiores preocupações e afãs mais dolorosos, esses que tantas vezes nos roubam a serenidade e a paz; esses que tantas vezes nos fazem vacilar na fé e nos levam a olhar para outro lado, longe de Ti. Ilumina, discerne, purifica e liberta-nos de tudo quanto não queremos deixar e ainda nos escravizam. Que este pobre coração seja casa de louvor, de canto e de súplica. Que se inunde de luz, que esteja aberto à escuta, que se enriqueça só de Ti, para o louvor do Pai. Visita, Jesus, nossa comunidade e extirpa toda aparência, todo assomo de inveja, rivalidade, e enfrentamento. Que tua presença traga mansidão, compaixão; dá-nos, sobretudo, a silenciosa capacidade de sacrificar-nos uns pelos outros.

CONTEMPLAÇÃO: O mistério da Igreja remonta para além da história. São muitos os textos que falam disso: “Ele nos elegeu em Cristo antes da criação do mundo, para que fossemos seu povo e nos mantivéssemos sem mancha sem sua presença (…), misterioso plano, escondido desde o princípio dos séculos em Deus” (Ef 1,4;3,9). Sua preexistência na sabedoria de Deus indica a natureza sobrenatural da Igreja. As formas de vida social são contingentes, podem existir ou não em função da evolução histórica, porém, a Igreja não depende da história; a Igreja irrompe no mundo, porque sua origem está em outro lugar. A Igreja, “escondida desde toda eternidade” em Deus, pré-iniciada no paraíso, prefigurada em Israel, descendo do céu nas línguas de fogo, entra na história em Jerusalém, no dia de Pentecostes. É a manifestação gradual do que está escondido e se dirige para a “plenitude do que enche totalmente o universo” (Ef 1,23). Todas as criaturas na terra, sob a terra e nos céus dobram os joelhos e convergem na plenitude do Cristo total (P. Evidokmov, l’Ortodoxia).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1 Cor 3,17)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Hoje, meus irmãos, celebramos uma grande festa; é a festa da casa do Senhor, do templo de Deus, da cidade do Rei eterno, da Esposa de Cristo… Perguntemo-nos, então, o que pode ser a casa de Deus, o seu templo, a sua cidade, a sua Esposa. Tenho de o dizer com temor e respeito: somos nós. Sim, nós somos tudo isso, mas no coração de Deus. Somo-lo pela sua graça e não pelos nossos méritos… A humilde confissão das nossas penas provoca a sua compaixão. Esta confissão dispõe Deus a vir em socorro da nossa fome como um pai de família e a fazer-nos encontrar junto d’Ele pão em abundância. Somos, portanto, a sua casa onde nunca falta o alimento da vida… “Sede santos, está escrito, porque eu, o vosso Senhor, sou santo” (Lv 11,44). E o apóstolo Paulo diz-nos: “Não sabeis que os vossos corpos são o templo do Espírito Santo e que o Espírito Santo tem em vós a sua morada?” Mas bastará à própria santidade? Segundo o apóstolo, é necessária também a paz: “Procurai, diz ele, viver em paz com toda a gente e também a santidade, sem a qual ninguém verá a Deus” (Hb 12,14). É esta paz que nos faz viver juntos, unidos como irmãos, é ela que constrói para o nosso Rei uma cidade toda nova chamada Jerusalém, o que quer dizer: visão da paz… Por fim, é o próprio Deus quem nos diz: “Desposei-te na fé, desposei-te no julgamento e na justiça” (a dele, não a nossa), “desposei-te na ternura e na misericórdia” (Os 2,22.21). Não é verdade que ele se comportou como um esposo? Não vos amou como um esposo, com o ciúme dum esposo? Então, como poderíeis não vos considerar como a esposa? Assim, meus irmãos, uma vez que temos a prova de que somos a casa do Pai de família, por causa da abundância dos bens que recebemos o templo de Deus por causa da nossa santificação, a cidade do grande Rei por causa da nossa comunhão de vida, a esposa do Esposo imortal por causa do amor, parece-me que posso afirmar sem receio: esta festa é a nossa festa! (São Bernardo)

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SEXTA-FEIRA

Lucas 16,1-8:

O discípulo é um bom administrador

“Os filhos deste mundo são mais astutos com sua gente que os filhos da luz”

Um bom discípulo deve ser também um bom administrador, esta é a lição de hoje. No perfil que no Evangelho se traça de um discípulo de Jesus, um traço importante de seu novo estilo de vida no seguimento de Jesus é sua capacidade de administrar os bens da terra.

Destes bens, em primeiro lugar tomou distância (Lc 5,11;12,15.33;14,33), porém agora, desde o desprendimento e o coração puro que o caracteriza (comentário de Lc 11,41), tem uma nova administração do dinheiro e dos bens da terra que passam por suas mãos.

Na parábola do “administrador astuto” (16,1-7), nos encontramos com a história de um “ecônomo” negligente (não desonesto, mas incompetente para fazer produzir os bens de seu patrão), que é removido do cargo por seu chefe.

Ante a eventualidade, ele reflete astutamente e se arranja para assegurar a vida quando ficar desempregado. Enquanto fecha as contas, beneficia-se das amizades propondo a dois devedores respectivos descontos sobre suas dívidas (ou talvez sobre os lucros): ao primeiro desconta cinquenta por cento sobre a dívida do azeite e ao segundo vinte por cento sobre a dívida do grão de trigo.

No v.8, nos surpreende a reação de Jesus ante a parábola. Jesus felicita a este homem por seu comportamento: O Senhor elogiou ao administrador injusto porque havia agido astutamente.

Por que o felicita Jesus? Por que o põe de modelo?

  • Porque tirou proveito do breve período de tempo que lhe restava, em função de seu futuro. Foi previdente: não administrou para o presente, mas para o futuro.
  • Porque o ecônomo, ao final, supõe reagir e demonstrar que sabia administrar, já que encontrou saída para sua emergência. O administrador mudou de conduta ante o chamado iminente que deixaria sua vida na ruína.
  • Porque supôs discernir: Descartou duas opções razoáveis, porém que ele não poderia levar (ver ensino de Lc 14,28-32) e; Escolheu uma opção, com dupla gestão, relacionada com a solidariedade que gerava o perdão da dívida. Este gesto tinha sua lógica: era maior o prejuízo causado com a má administração dos bens de seu patrão que o registro de uma pequena perda (para o patrão ou ao melhor para ele mesmo) em dois negócios. O administrador astuto supõe ver um valor maior.

Em poucas palavras, Jesus o felicita porque é genioso, porque é recursivo. Note-se que, mesmo parecendo absurdo, o comportamento do ecônomo está direcionado por valores: o perdão, a ajuda ao pobre, à solidariedade. Não é que o fim justifique os meios, mas que supõe gerenciar seu “quarto de hora” de maneira brilhante, pondo os recursos que lhe restavam a serviço de uma vida decente; e, todavia mais, como disse Jesus, levando o ensino mais longe, na aplicação da parábola: “para que o recebam nas eternas moradas” (16,9).

É preciso saber viver. Não está bem desperdiçar a prata (cf. Lc 15,13) nem o tempo (que tem um valor incalculável), não somos patrões autônomos, mas servidores e, portanto administradores inteligentes dos bens que estão ao nosso cargo. Não devemos retirá-lo do próximo, mas empregá-los em seu favor. Eles devem levar-nos a gerar boas relações baseadas na solidariedade, relações que começam na terra, porém apontam para uma relação de comunhão mais profunda, a comunhão com Deus na eternidade.

Aprofundando com os nossos pais na fé

Sta. Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja, Manuscrito autobiográfico

O bom uso das riquezas. Ó Jesus, sei que o amor só se paga com amor. Procurei, pois, e encontrei o meio de consolar meu coração, dando-Te Amor por Amor. «Usai as riquezas que vos causam iniquidade para fazerdes amigos que vos recebam nas tendas eternas» (Lc 16,9). Eis, Senhor, o conselho que dás a teus discípulos depois de lhes teres dito que «os filhos das trevas são mais hábeis em seus assuntos que os filhos da luz». Filha da luz, compreendi que meus desejos de ser tudo, de abraçar todas as vocações, eram riquezas que bem poderiam tornar-me injusta, então servi-me delas para fazer amigos. Recordando a prece de Eliseu, quando este decidiu pedir-lhe o dobro do seu espírito (2 Re 2,9), apresentei-me ante os anjos e os santos, e disse-lhes: «Sou a mais pequena das criaturas, reconheço a minha miséria e a minha fraqueza, mas sei também como os corações nobres e generosos gostam de fazer o bem, suplico-vos, pois, ó bem-aventurados habitantes do Céu, suplico-vos que me a dopteis como filha. Só para vós será a glória que me fizerdes adquirir, mas dignai-vos atender a minha prece; ela é temerária, eu sei-o, mas atrevo-me a pedir-vos que me concedeis o dobro do vosso Amor.»

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Em que consiste a “astúcia” do administrador que foi felicitado por Jesus?

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  • Como é nossa relação com os bens que temos? Para que os empregamos?

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  • Que critérios devem determinar nossa relação com os bens?

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Que significado tem Deus, o próximo e nosso futuro?

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SÁBADO

Lucas 16,9-15:

POR O DINHEIRO A FAVOR DO PRÓXIMO

 “Nenhum criado pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

No Evangelho de hoje Jesus faz a aplicação da parábola do “administrador astuto” que lemos ontem (Lc 16,1-8; o que desde a lógica do patrão era um “administrador incompetente”).

Jesus tira as consequências práticas tanto para seus discípulos (“Eu vos digo”;16,9ª) como para os fariseus (“E lhes disse”;16,15ª). Aos primeiros lhes dá três ensinamentos positivos e aos segundos faz uma denúncia profética. O núcleo do ensino é o como alcançar a comunhão com Deus (“as moradas eternas”, “o muito”, “o verdadeiro”, “o vosso”), e o da denúncia é o fato de “dar-se por justos”.

O ensinamento para os discípulos: “fazer amigos” (16,9-11)

Jesus diz: “Fazei-vos amigos com o dinheiro injusto (16,9ª). O qualificativo “injusto” para o dinheiro não quer dizer que por si só o dinheiro seja mal, mas que, com ele, se cometem muitas injustiças; vale dizer que Jesus deixa entender que o dinheiro, em última instância, não é de alguém (“alheio” disse o v.12).

Ainda assim a frase soa estranha, porém a compreendemos melhor se olharmos a passagem seguinte na qual se conta que o rico não fez –em vida- amizade com o mendigo Lázaro e depois não foi recebido no céu (16,19-31). Jesus havia anunciado na segunda parte da frase: “para que quando chegue a faltar, vos recebam nas moradas eternas” (16,19b).

Desta maneira Jesus convida a fazer uso correto do dinheiro. Um discípulo de Jesus vai se distinguir pelo exercício da “Fidelidade” (16,10-12; note a repetição três vezes do termo) que nos faz dignos de receber o bem maior, que nos pertence e que permanece definitivamente, que é a comunhão com todos nossos irmãos na eternidade de Deus. Ali onde já não há ambiguidades nem brechas, onde crescemos: não em nossas fortunas, mas em desenvolvimento de todas as potencialidades de nosso ser.

A advertência para os fariseus “amigos do dinheiro” (16,14-15)

Por sua parte os fariseus, que crêem terem ganhado o céu e assim se apresentam ao povo (“se dão por justos”), ridicularizam as palavras de Jesus. Porém a Palavra de Jesus os faz aparecerem nus ante Deus: “Deus conhece vossos corações”. Ante Deus não podem acomodar-se pensando que já receberam o prêmio de Deus e prova disso é a “benção” da riqueza; não, eles devem partilhar (é o esforço de que fala o v.16 deste capítulo). Além do mais, o apego ao dinheiro se converte em uma forma de idolatria que nega sua confissão de fé no único Senhor. É Deus que declara quem é justo e por qual caminho se alcança justiça (vv.17.29-31).

O maior valor é o serviço a Deus e seu projeto (16,13)

Ao longo de toda a passagem –por meio de alusões- se fala da relação com Deus, no v.13 é explícita e é o eixo de toda esta passagem: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. O coração deve pertencer a Deus, Ele deve ser o Senhor ao qual amamos e para o qual orientamos nossa vida. Só a partir de nossa entrega completa a Ele, é possível estabelecer uma relação com os bens terrenos “justos” e capazes de assegurar o futuro.

Quem reconhece a Deus como Senhor, O reconhece também como Senhor dos bens materiais e sabe que não é patrão absoluto deles, mas apenas um administrador e que esta administração deve exercer com fidelidade e confiabilidade.Ao contrário, quem “serve” ao dinheiro, o faz seu deus, se apega a ele, espera dele a realização da vida, dai que não pode empregar livremente em função de outras pessoas, e ao final se leva uma tremenda frustração.

Entendemos melhor agora por que o ser “amigo do dinheiro” põe em risco o senhorio de Deus na própria vida. Portanto não pode haver meios termos: só a atitude do verdadeiro discípulo, para que o dinheiro – com relação a si mesmo – é o mínimo, alheio, relativo, e – com relação aos demais – o põe ao serviço da geração de comunhão e não de brechas, é a atitude correta porque submete tudo ao senhorio e ao projeto de Deus.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Sinto-me apegado ao dinheiro? Que lugar ocupa o dinheiro dentro de minha escala de valores?

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Que faço com ele?

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  • Que atitudes me pede o Evangelho de hoje com relação a meus bens?

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Que deve caracterizar minha relação com o dinheiro?

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  • Que é “o verdadeiro”, segundo Jesus?

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Que importância tem para mim Deus, o próximo e o futuro?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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