Deus é o centro do amor conjugal (EFC)
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Mateus 19,3-12
(Resumo para referência)
Os fariseus perguntam a Jesus se é lícito ao homem divorciar-se por qualquer motivo. Jesus responde lembrando o projeto original de Deus no Gênesis: o homem e a mulher tornam-se “uma só carne” e o que Deus uniu, ninguém deve separar. Ele explica que Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza de coração, mas desde o princípio não era assim. Afirma que quem se divorcia e casa novamente, exceto por imoralidade sexual, comete adultério. Os discípulos reagem dizendo que talvez seja melhor não casar. Jesus então fala sobre o celibato por causa do Reino, afirmando que nem todos podem aceitar essa palavra.
2. Contexto bíblico e histórico
- Cenário: No tempo de Jesus, havia debates entre escolas rabínicas sobre o divórcio — alguns admitiam por qualquer motivo (Escola de Hillel), outros apenas por adultério (Escola de Shammai).
- Objetivo da pergunta: Os fariseus queriam testar Jesus, para expô-lo publicamente em uma questão polêmica.
- Resposta de Jesus: Ele não entra em debate de interpretação, mas remete ao projeto original de Deus (Gn 1–2).
- Chave hermenêutica: Para Jesus, o casamento é mais do que um contrato humano — é uma união criada por Deus.
3. Exposição verso a verso
v. 3
“É lícito ao homem despedir sua mulher por qualquer motivo?”
Os fariseus tentam reduzir o casamento a uma questão legal, mas Jesus vê como questão espiritual.
v. 4-6
Jesus cita Gn 1,27 e 2,24.
- Deus criou homem e mulher para se completarem.
- No casamento, há união física, emocional e espiritual (“uma só carne”).
- É Deus quem une, e não deve ser separado por vontade humana.
Princípio: O casamento é divino em origem e propósito.
v. 7-8
Moisés permitiu o divórcio “por causa da dureza de coração” — não porque fosse ideal, mas como concessão provisória para lidar com o pecado humano.
Princípio: Quando Deus não é o centro, o amor conjugal se desgasta e se rompe.
v. 9
Jesus reafirma a indissolubilidade, permitindo exceção apenas em caso de “porneia” (imoralidade sexual grave).
Princípio: O compromisso conjugal exige fidelidade radical.
v. 10-12
Os discípulos percebem a seriedade do compromisso. Jesus fala sobre aqueles que escolhem o celibato por causa do Reino, mostrando que tanto casamento quanto celibato devem ser vividos para Deus.
4. Princípios teológicos
- Deus é o autor do casamento — Ele não é um mero espectador, mas o agente que une.
- O amor conjugal é reflexo do amor de Deus — Fiel, sacrificial e permanente.
- Sem Deus no centro, o casamento se torna frágil — O egoísmo e a dureza de coração corroem a união.
- Casamento é vocação, não apenas escolha — É chamado para viver o amor como Deus ama.
5. Aplicações práticas para o casal cristão
- Cultivar a presença de Deus no lar: oração juntos, leitura bíblica, comunhão na igreja.
- Praticar perdão e reconciliação: o amor conjugal requer a graça que recebemos de Deus.
- Viver o amor como pacto, não como contrato: pacto é baseado em compromisso e entrega.
- Lembrar que “uma só carne” significa parceria total: nos sonhos, nas lutas e na missão.
6. Conclusão e desafio espiritual
O amor conjugal só floresce de forma plena quando Deus está no centro.
- Ele é o fundamento (o Criador do vínculo).
- Ele é o modelo (ama com fidelidade e graça).
- Ele é a força (sustenta o casal diante das crises).
Desafio: Casais cristãos devem decidir diariamente colocar Deus como prioridade número um — acima de orgulho, ressentimento ou interesses pessoais. O casamento é mais que convivência: é um ministério a dois.
São Pedro Crísólogo (c.406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
«É grande este mistério» (Ef 5,32)
Ante o Senhor, a mulher é inseparável do homem e vice-versa, diz o apóstolo Paulo (1 Cor 11,11).
Através do Evangelho, o homem e a mulher caminham em conjunto para o Reino.
Cristo chama conjuntamente, sem os separar, homem e mulher, que Deus une e a natureza junta, fazendo-os, por uma admirável conformidade, partilhar os mesmos gestos e mesmas funções.
Pelo laço do matrimónio, Deus faz com que dois seres não sejam senão um, e que um só ser seja dois, de modo que assim descubra um outro de si, sem perder a sua personalidade, nem se confundir no casal.
Mas, por que nas imagens que nos dá do Seu Reino, Deus faz intervir deste modo o homem e a mulher?
Porque sugere Ele tanta grandeza através de exemplos que podem parecer fracos e despropositados?
Irmãos, um mistério precioso esconde-se debaixo desta pobreza.
Segundo a palavra de São Paulo, «É grande este mistério, pois que é o de Cristo e Sua Igreja» (Ef 5,32).
Isto evoca o maior projeto da humanidade. O homem e a mulher puseram fim ao processo do mundo, um processo que se arrastava há séculos.
Adão, o primeiro homem, e Eva, a primeira mulher, são conduzidos da árvore do conhecimento do bem e do mal para o fogo do fermento da Boa Nova.
Esses olhos que a árvore da tentação fechara à verdade, abrindo-os à ilusão do mal, a luz da Boa Nova abre-os fechando-os. Essas bocas tornadas doentes pelo fruto da árvore envenenada são salvas pelo sabor…