ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: Exaltação da Santa Cruz.
Podcast: Play in new window | Download
Subscribe: Google Podcasts | RSS
João 3,13-17 – Exaltação da Santa Cruz
A MORTE DE JESUS É FONTE DE VIDA
“Assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer tenha n’Ele vida eterna”
Na conversa com Nicodemos, Jesus convida a olhar para o alto, ali onde emana a fonte de vida que nos faz nascer de novo. A fonte de vida é a gloriosa Cruz de Jesus (passagem de hoje: Jo 3,13-17).
Por outro lado, o Evangelho de João assinala, de modo particular, que do peito traspassado do Senhor crucificado por amor, brota o Espírito como água purificadora e geradora de vida (19,34; ver 7,37-39). Do dom da vida de Jesus nasce a nova humanidade.
Estas duas passagens se juntam nesta festa, na qual contemplamos o lenho da Cruz, agora florescido pela Ressurreição.
As palavras de Jesus a Nicodemos, depois que este último pergunta, pela segunda vez, como se nasce de novo (3,9), vão se remontando, vertiginosamente, até as alturas insondáveis.
Jesus se volta, assinalando a exaltação da Cruz, até o caminhar do povo de Israel pelo deserto (3,14) e finalmente até as profundidades mesmas do amor de Deus (3,16), de onde tudo provém.
Os verbos do texto evangélico selecionado para nós, hoje, descrevem um duplo movimento que vai até os extremos.
São estes:
- “Subir” – “Descer”: os referentes são o “céu” e a “terra”. Jesus vem das altas profundidades do
céu e para ele remonta com sua ressurreição;
- “Dar” – “Crer”: Deus se dá a si mesmo de maneira radical em seu próprio Filho, o homem neste
dom também sai de si mesmo no radical impulso da fé;
- “Perecer” – “Salvar”: o futuro da vida se vê ameaçado com a morte, porém por meio da pessoa de
Jesus se dá a possibilidade de viver eternamente.
Todos estes movimentos passam pela Cruz, entrelaçando-se em um único movimento que o recolhe todo:
“E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna” (3,14-15).
O mais profundo de Deus vem ao encontro do homem e a dor humana é assumida por Ele curando o veneno paralisante do absurdo. Na Cruz, Ele dá esta intimação salvadora ao homem: a Cruz reconcilia.
A contemplação da Cruz nos envolve nesta dinâmica de reconciliação. É preciso. Normalmente esquivamos o olhar e fugimos dela como se foge de uma serpente. Do mesmo modo temos dificuldade em pôr o olhar em nossos sofrimentos, preferimos pensar em outra coisa, buscar atenuantes.
Hoje a enfermidade e a morte, esta última elevada à categoria de show pelos meios de comunicação, tendem a ser mascaradas e atenuadas em sua cruel realidade, para que não nos ponham em crise.
Porém, é preciso levantar o olhar e enfrentá-la. A Cruz de Jesus nos ensina a fazer isso. Não a olhamos para desesperar-nos, mas para ler nela a resposta ao enigma fundamental que assalta a mente humana: de dentro da Cruz provem a Ressurreição, emana a vida.
E se contemplamos o amor que há dentro da Cruz – a vida que há no absurdo da morte, a incrível entrega que há, ali, nessa mesquinha expressão do sofrimento humano – compreenderemos que, se “cremos” em Jesus, se acolhemos esse dom de amor (o mais profundo), todas as dores, associadas ao mistério da morte, são portas abertas à esperança.
Então, atrás de cada cruz que se encontra em nossos caminhos, descobriremos sinais de ressurreição.
Curiosamente na frase central do Evangelho de hoje se substitui o termo “olhar” (que seria o lógico em uma frase do tipo: “assim tem que ser levantado”) por “crer”, ficando: “para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna”.
Portanto se trata do contemplar “crendo”, quer dizer, assumindo. Dai que a mensagem que brota da Cruz é clara e exigente: é preciso ver em profundidade a vida.
Quem penetra profundamente na morte de Jesus, mistério de amor, e não só de dor, mistério de entrega, e não só de rejeição, verá também como em suas cruzes deixa-se ver o casulo de uma vida que florescerá um dia, quando estiver exaltada com Jesus na Ressurreição.
Eis o ponto de partida de uma espiritualidade da esperança em meio dos absurdos humanos da guerra e todas as formas de negação do outro e da vida.