ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: Jesus ressuscita o filho da viúva.

Lucas 7,11-17

A PROCISSÃO DA MORTE E A PROCISSÃO DA VIDA

“Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela”

O relato da ressurreição do filho da viúva de Naim nos apresenta um dos encontros mais belos de Jesus com o mundo da dor e da morte. O efeito da narração se sente desde as duas primeiras linhas onde, na porta da cidade, o evangelista descreve o encontro de duas procissões:

  • A procissão da vida

Encabeçada por Jesus e seguida pelos discípulos e uma grande multidão (7,11).  Esta procissão festiva está a ponto de entrar na cidade com a boa nova da vida;

  • A procissão da morte

Encabeçada por um jovem morto, seguida por sua mãe e logo por outra multidão da cidade que se solidarizou com a mãe. Esta procissão triste esta saindo da cidade (7,12).

Vejamos o que acontece.

O ponto de partida

A procissão da vida começou em Cafarnaum, onde o criado de um centurião foi curado de sua febre mortal pelo poder da Palavra de Jesus. Por outro lado, a procissão da morte se inicia no coração da cidade de Naim; porém, na realidade, começa em um lugar existencial mais profundo: na vitória da morte, depois do sofrimento extremo, inexplicável e suscita perguntas profundas sobre a razão de viver:

O Evangelho não vacila ao colocar-nos frente à cruel realidade:A morte de uma pessoa jovem: uma história encerrada no momento de maior vitalidade; e a desolação total de uma mãe: que já era viúva e, agora, perde o único que lhe ficara na vida para seu apoio afetivo e, ainda, econômico.

O encontro com o Senhor da Vida

Porém, a perda do filho querido é transformada pela boa nova de Jesus, que o oferece, como dom, à sua mãe: “E o deu a sua mãe” (7,15). Os que acompanhavam à viúva no funeral não podiam dar-lhe nada mais que um sentido pêsame. Em troca, Jesus a devolve vivo, o seu filho. Lucas enfatiza: “Teve compaixão” (71,3a).

Vemos como o Senhor muda a procissão da morte em uma procissão da vida desde a força de sua misericórdia, a qual se torna ação:

  • À mãe, disse de imediato: “Não chores” (71,3b), o que nos recorda: “Bem-aventurados vos que chorais agora, porque rireis” (6,21b);
  • Ao jovem defunto, o levanta do féretro com a força ressuscitadora de sua Palavra: “Jovem, a ti te digo: Levanta-te!” (7,14).

Uma vez mais comprovamos o poder da palavra de Jesus e vemos qual é seu conteúdo. A diferença dos profetas do Antigo Testamento, os que pediam a Deus que devolvesse a vida aos mortos (ver a ação do profeta Eliseu em 1 Reis 4), Jesus pronuncia, Ele mesmo, o mandato dirigido ao morto. E sua palavra poderosa se realiza pontualmente (7,15a).

3. Uma grande festa de louvor

E se pôs a falar” (7,15b).

O jovem não só é devolvido à vida, mas, também reintegrado ao mundo das relações, que é onde está a essência da vida. A capacidade comunicativa do jovem é o primeiro sinal de sua ressurreição. Porém, a comunicação alcança seu nível mais alto quando esta se torna oração.

E, uma vez mais, o Evangelho faz eco aos coros de louvor do povo que têm sido testemunhas da obra de Jesus com poder (como se tem visto em Lucas 2,20 e 5,26). Nas bênçãos festivas do povo, Jesus é reconhecido como o que proclama a Palavra de Deus como nenhum (5,1.3.5), quer dizer, como “um grande profeta” superior a Elias e a Eliseu: “Um grande profeta se levantou entre nós” (7,16ª).

E mais ainda, como presença viva de Deus no meio de seu povo: “Deus visitou a seu povo” (7,16). E este acontecimento se torna “Palavra” de evangelização (“E o que se dizia dele se propagou”; 7,17) que chega até nós, hoje.

É o Evangelho que nos convida para que nos abramos à mesma experiência da misericórdia de Jesus com o jovem, a mãe viúva e todos os sofredores de nossos dias, aos quais à vida foi negada, para que nos unamos, também, à procissão da vida que Jesus segue encabeçando, discretamente, pelos caminhos de nossa história.

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