Não tenham medo (EFC)
Podcast: Play in new window | Download
Subscribe: Google Podcasts | RSS
Ao enfrentarmos os ventos contrários precisamos de muita paciência e fé para atravessarmos o mar da vida. Jesus sempre caminha conosco.
Marcos 6,45-52
Deixar-nos assombrar por Jesus
“Ficaram em seu interior completamente apavorados”
Sentia-se ainda no ar o cheiro a pão fresco multiplicado.
A multidão, uma vez que ficou saciada, se dispunha a regressar a casa. Todos queriam despedir-se pessoalmente de Jesus e dos apóstolos para agradecer-lhes.
Jesus, talvez conhecendo o risco que os ares de êxito poderiam trazer sobre os corações de seus apóstolos os ‘obriga’ a subir à barca e ir a Betzaida, quer dizer, passar à outra margem.
Ele, entretanto, despedia a multidão. Logo, sobe a orar ao monte, o lugar predileto dos diálogos com seu Pai.
A tarde caía rapidamente e o vento forte golpeava a frágil embarcação que se sacudia no mar. Os apóstolos ‘se fatigavam remando’ contra um vento que, como diz o texto, lhes era contrário.
É interessante constatar como Jesus vendo ao entardecer a barca no mar sacudida pelas ondas, não vai imediatamente a onde estão eles.
Só o faz à ‘quarta vigília da noite’, quer dizer, quase ao clarear do novo dia. Talvez toda a noite em tempestade era o símbolo da pouca fé e da pouca capacidade que tinham os apóstolos para crer no poder de Deus.
Há outro detalhe bem interessante. Jesus, diz o texto, “queria passar-lhes adiante deles” (v.48). Isto fez com que os apóstolos sentissem medo e, crendo ver um fantasma, se puseram a gritar.
Eles que haviam passado longos momentos com Jesus não o reconheceram. Jesus os tranquiliza. “Ânimo, não temam, sou eu”.
Um ‘Sou eu’ que tem atravessado e continua atravessando a historia dos homens. Em seguida sobe à barca e o mar embravecido se acalma. Faz-se um grande silencio e novamente a frágil fé dos apóstolos se vê questionada.
É que uma fé que não supera as tormentas da vida bem pouco tem de ser uma verdadeira fé robusta e pronta a resistir tudo.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja
Cartas (a partir da trad. de Lemaire, Beauchesne 1963; cf AELF)
«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!»
Todas as embarcações têm uma bússola marítima, cuja agulha magnética aponta sempre a direção
da estrela polar e, ainda que a barca parta do sul, a sua bússola nunca deixa de indicar o norte.
Que, do mesmo modo, o fino ponteiro do espírito indique sempre a direção de Deus, que é seu norte […]. Ides para o mar alto deste mundo; para tal não mudeis de mestre, nem de mastro, nem de vela, âncora ou vento. Tende sempre Cristo por mestre, sua cruz por árvore, nela pondo vossas resoluções, como quem as estende numa vela; que vossa âncora seja uma profunda confiança n’Ele, e ide, sim,
em boa hora. Queira o vento propício das inspirações celestes abrir as velas do vosso barco, mantendo-as sempre pandas, e fazer-vos chegar, em felicidade, ao porto da santa eternidade […].
Que no meio da desorientação tudo encontre o sentido certo, não digo apenas relativamente ao que está ao redor de nós, mas ao que está mesmo em nós, isto é, quer a nossa alma esteja triste ou alegre, em tranquilidade ou em amargura, em serenidade ou em tribulação, na claridade ou nas trevas, em tentação ou em repouso, em alegria ou em desgosto, em tibieza ou em ternura, quer o sol a queime, quer o orvalho a refresque; Ah, é preciso, porém, que o ponteiro de nosso coração, do nosso espírito, da nossa superior vontade, que é nossa bússola, vele sempre, e se guie, incessante e perpetuamente, pelo amor de Deus.