Perder para ganhar (São Lourenço – EFC)

“Se o grão de trigo não cai na terra e morre…”

 (João 12,24-26)

Hoje celebramos outro mártir dos primórdios da Igreja. Em Lourenço, diácono martirizado em Roma no ano 258 d.C, assado em uma fogueira – segundo uma piedosa lenda – no tempo do imperador Valeriano, encontramos um exemplo concreto da vivência do Evangelho: um homem livre ante a sociedade de seu tempo.

De fato, os testemunhos de sua perseguição narram que quando autoridades imperiais o pressionaram para que entregasse os supostos tesouros da Igreja que estariam sob sua responsabilidade, são Lourenço estendeu a mão para um grupo de pobres e mendigos que estavam próximo a ele e disse: “Eis aqui os tesouros da Igreja”.

O testemunho de Lourenço nos motiva, e, a Palavra de Deus, hoje no Evangelho de João, nos oferece razões para que demos o passo valente de Jesus ao tomar a cruz, isto é, de dar a vida com generosidade e amor.

As palavras de Jesus nos dão a chave interpretativa do mistério da paixão em três frases contundentes. Começa com uma comparação, daí se extrai a aplicação para a vida e finalmente se indica que tudo isso se vive junto com Jesus.

1. Plantar o grão de trigo (12,24)

Se nós somos dos que pensam que é absurdo perder algo na vida, nos vem bem à comparação do grão de trigo: “se morre dá muito fruto”.

Segundo esta lógica para ganhar há que perder. Por certo, ninguém disse que a morte da semente, ao plantá-la no frio e escuro da terra, para que logo brote a árvore, seja um absurdo.

Jesus ensina que a morte é um passo “necessário” e que de nenhuma maneira é um absurdo se a olhamos não desde o ângulo da perda, mas do ganhar.  O que há de mirar é a vida que brota e que se faz visível em seu máximo esplendor.

2. Dar a vida para ganhar a vida (12,25)

A absurda realidade do grão de trigo que, para dar vida à árvore, morre para si mesma, enquanto semente constata-se na vida de um discípulo de Jesus.

O seguimento de Jesus exige renúncias para optar pelo caminho da vida. Isto se compreende melhor dentro do horizonte indiscutível de todo o Evangelho que é a Cruz.

O reconhecimento, o aplauso do mundo, as imagens de felicidade as quais nos apresentam os meios de comunicação e as canções de moda, tem sua gratificação, “seus desejos”, porém na realidade dão em nada porque não dão a vida em plenitude.

A verdadeira realização está no sair de si mesmo (como o grão de trigo quando renasce dentro da terra). Não é vivendo para si mesmo que alcança a vida, mas seguindo o caminho de serviço de Jesus.

3. Estar com Jesus onde Ele está por mim (12,26)

Todo o anterior se faz possível no marco de uma relação profunda com Jesus e uma relação de “serviço” a Ele nos irmãos. Como disse Jesus, esta relação tem um pressuposto, o “seguimento”, e tem uma consequência, “o Pai o honrará”, quer dizer, o reconhecerá como seu filho na glória.

Neste versículo aparece a idéia central de toda esta experiência de Jesus: sou chamado a estar com Jesus ali onde Ele está por mim, ou seja, na cruz, envoltos nessa única vivência de amor na entrega aos demais para que todos tenham vida.

Aí está o sentido, o valor e a verdadeira realização de nossa vida.

o Lourenço, diácono

São Lourenço nasceu na Espanha na primeira metade do século II. Conta-nos a história que São Lourenço tinha grande amizade com o Papa Sisto II, o qual confiou-lhe a função de arquidiácono. Ele administrava os bens e as ofertas para ajudar os pobres, órfãos e viúvas.

Tesouros da Igreja 

No ano 258 d.C., foi publicado um decreto do imperador Valeriano, em que ordenava que todos os bispos, presbíteros e diáconos deveriam ser condenados à morte.

Lourenço, alguns diáconos e o Papa Sisto II foram presos. O Pontífice foi assassinado no dia 6 de agosto. O imperador poupou a vida de Lourenço pedindo que lhe entregasse os “tesouros da Igreja”. Ele reuniu órfãos, cegos, coxos, viúvas e idosos e apresentou ao imperador  dizendo: “Eis aqui os nossos tesouros, que nunca diminuem e podem ser encontrados em toda parte”.

Páscoa 

No dia 10 de agosto, São Lourenço também foi martirizado. Segundo uma antiga “Paixão”, coletada por Santo Ambrósio, ele foi queimado em uma grelha. Após a sua morte, o corpo de São Lourenço foi deposto em uma sepultura na Via Tiburtina. No lugar do seu martírio, foi construída uma igreja, dedicada a São Lourenço, em Panisperna.

Minha oração 

“São Lourenço, que nunca desanimastes na fé em Deus, dai-nos o desejo e a força de enfrentar as dificuldades enfrentadas por amar e seguir o Evangelho. Amém!”

São Lourenço, diácono amigo do Papa Sisto II, rogai por nós!

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