ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: Sagrado Coração de Jesus, que tanto nos amais!

Lucas 11,3-7

A solenidade que celebramos hoje nos atrai, particularmente, para a contemplação: Deus vem ao nosso encontro com a palavra “amor”, como primeira realidade que define seu relacionamento conosco.

Não um amor abstrato, mas um amor muito concreto na pessoa de Jesus: seu peito traspassado pela lança na Cruz (ver Jo 19,34) é a última de uma infinidade de imagens eloquentes que Ele quer convidar-nos a viver.

O simbolismo do “coração”, referindo-se a Deus, designa o amor em sua própria fonte: a interioridade divina.     O coração de Jesus é linguagem viva deste amor, a visibilidade do interior de onde viemos, declaração do interesse que Deus tem por nossa vida e convite para mergulhar nesse mesmo amor.

Por isso, para evitar mal-entendidos, deve ficar claro que não celebramos um aspecto ou um órgão de Jesus, mas a totalidade de sua pessoa e o núcleo do seu ser, que é o amor: “Em Jesus Deus mesmo nos ama com um coração de homem”(Pe. Paul Milcent).

As leituras bíblicas desta solenidade têm como tema o amor de Deus pela humanidade. O amor de Deus, que vem ao nosso encontro na pessoa de Jesus, está bem apresentado nas deslumbrantes parábolas de misericórdia de Lucas 15.

Continuamos o caminho para Jerusalém. Estamos no capitulo 15 de Lucas, núcleo da Boa Nova de Jesus e da revelação dos surpreendentes sentimentos de Deus.

Escutamos o Mestre pronunciar a parábola da ovelha perdida (4-7). Os primeiros três versículos do capítulo nos apresentam o contexto, como necessária chave de leitura que leva Jesus a pronunciar estas belas lições sobre a misericórdia de Deus (15,1-3).

A finalidade da passagem de hoje é aprofundar no tema do Amor de Deus, demonstrado no ministério salvífico de Jesus, com os excluídos e os pobres, particularmente com um grupo de excluídos que está em todos os níveis sociais: os “pecadores”.

APROFUNDANDO A PARÁBOLA:

Na parábola notamos que a dinâmica dos verbos permite distinguir momentos bem marcados: Ter (cem ovelhas); Perder (uma delas); Deixar (as 99 no deserto); Buscar (a ovelha perdida); Encontrar (-la); Pô-la (sobre os ombros), Convocar (amigos e vizinhos) e dizer (-lhes). Destaquemos a ideia central de cada ação:

  • Ter: o pastor possui um rebanho de cem ovelhas, quantidade normal para um pequeno fazendeiro;
  • Perder: a imagem é a de um pastor que ao final do dia se põe a contar as ovelhas de seu rebanho e descobre que o número está incompleto.
  • Deixar: as noventa e nove no deserto. Acentua-se aqui a loucura da ação do pastor, que se esquece da elementar precaução, deixando o rebanho desprotegido em pleno deserto (onde podem perder-se todas) enquanto se precipita na busca da ovelha perdida. Porém, ao narrador lhe parece normal que isso se faça: “Quem de vós não faria isto?”, disse Jesus ao começar a parábola. Claro que é provável que as ovelhas tenham ficado sob a responsabilidade de um zelador (ver Jo 10,3). O destaque de uma entre noventa e nove não significa que esta ovelha seja mais importante que as outras, trata-se, sobretudo, de uma formulação paradoxal que põe de relevo a alegria de encontrar o que se perdera;
  • Buscar: a busca não pára até que alcance o alvo: “até que…”. Não há repouso. O zelo é total;
  • Encontrar: a alegria do encontro se manifesta na convocação dos amigos. Este é um traço do amor de Deus, porém o essencial é o que vem: a alegria que provém da nova situação no Reino de Deus;
  • Pôr: sobre os ombros. O pastor regressa com ar triunfante. O trato da ovelha encontrada é de terna solicitude, a ternura do pastor, que carrega a ovelha (tema amado pela iconografia), assistindo-a em sua delicada situação, nos recorda Is 40,11: Como pastor pastoreia seu rebanho: leva nos braços os cordeirinhos, no seio os leva, e trata com cuidado as paridas. Ela é preciosa, delicada, de muito valor;
  • “Convocar”: o pastor organiza uma reunião festiva, está cheio de alegria pelo êxito de sua busca. Uma alegria destas não se vive só, mas se compartilha com os amigos.
  1. A aplicação da parábola

Aplicando a parábola à ação de Deus, podemos reconhecer no zelo do Pastor a realização da profecia de Ezequiel: “Como um pastor vela por seu rebanho quando se encontra em meio de suas ovelhas dispersas, assim eu velarei por minhas ovelhas”(34,12); e também o anúncio da missão do Messias: “Eu suscitarei para ir a frente um só pastor que as apascentará…” (34,23-24).

Mas a insistência de Jesus está na descrição da alegria de Deus pelo pecador que se converte (15,7). O motivo da festa do céu é a conversão de um só pecador (um que ouviu o chamado de Jesus, 5,32). Em contraste com o pensamento fariseu, Jesus convida a descobrir que a felicidade de Deus é, precisamente, o contrário: sua salvação. Jesus fala de “mais alegria”: o céu multiplica a alegria. Alguém se sente muito contente quando se reconcilia com Deus, mas a alegria que Deus sente por este mesmo acontecido é muito maior. Não quer dizer que Deus não esteja contente com os que estão salvos, os “noventa e nove justos que não necessitam de conversão”, mas sua alegria pelo pecador que se deixou encontrar pelo amor misericordioso é superior.

4. Conclusão

Esta solenidade do Coração de Jesus pretende incentivar um caminho de conversão em nossa maneira de ver a Deus em nós: não é o Deus duro e rígido como pregavam os fariseus, mas o Deus amor, o Pai de Jesus Cristo, que está sempre apreensivo em busca de seus pequenos. É o Deus: que se comove até as lágrimas; que faz festa porque nos encontra; para o qual somos valiosos e importantes.

Corresponde, agora, a nós, apropriar-nos da sensibilidade de Deus e amar com seu mesmo amor: fazê-lo o coração de nosso coração.

São João Eudes, proclamado pelos papas Pio X e Pio XI como o “Pai, Doutor e Apóstolo do culto litúrgico aos Sagrado Corações de Jesus e Maria” criou, promoveu e sistematizou a teologia desta festa desde 1672, na França, antes que se popularizasse a partir das revelações de Santa Margarida Maria Alacoque. Ele dizia: “O coração admirável de Jesus é uma fogueira de amor a seu Pai, a sua Mãe, a sua Igreja e a cada um de nós”.

Através do culto ao sagrado coração de Jesus, nós abraçamos, portanto, a pessoa inteira de Jesus e somos guiados à compreensão do Evangelho e de sua obra redentora: “Tirareis água com alegria das fontes da salvação” (Is 12,3).

Hoje, contemplando Jesus, maravilhamo-nos do quanto engloba, o seu amor, as nossas vidas: o seu amor está na raiz da nossa existência e nesse amor seremos consumados. Relendo o Salmo diremos: “Todos ali nascemos” (87,4). Adoremo-lo e demos-lhe graças!

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