ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: “Vinde a Mim”

Mateus 11,28-30:

«Vinde a Mim todos os que estais fatigados»

Percorríamos o itinerário desta vida na ignorância e na incerteza.

Nossa viagem pelo mundo tinha nos sobrecarregado com considerável fardo de negligência pecadora…

De repente, avistamos do lado do Oriente uma inesperada fonte de água viva.

Enquanto nos apressávamos para ela, a voz de Deus fez-se ouvir gritando a nós: “Vós, que tendes sede, vinde às águas!” (Is 51,1).

Vendo que nos aproximávamos carregados de pesadas bagagens disse: “Vinde a Mim todos vós que estais fatigados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei”.

Então nós, ao ouvirmos essa voz cheia de bondade, lançamos por terra nossas bagagens.

Atormentados pela sede, estendemo-nos no solo a fim de beber avidamente da fonte; e tendo bebido longamente, levantámo-nos restabelecidos.

Após termo-nos erguido, permanecemos ali, absolutamente estupefatos, no excesso da nossa alegria.

Olhávamos o jugo que tínhamos carregado penosamente ao longo do caminho, e as bagagens que nos haviam fatigado até à morte com seu peso…

Enquanto estávamos absortos em nossas considerações, ouvimos de novo a voz que saia da fonte que nos restituíra à vida: “Tomai sobre vós meu jugo e entrai para minha escola, pois sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas. Pois meu jugo é suave e minha carga leve”.

E nós, a estas palavras, dissemos uns aos outros: “Não voltemos atrás depois de termos reencontrado a vida, graças a tal fonte…

Não retomemos a bagagem dos nossos.”

REFLETINDO O TEXTO BÍBLICO:

“Meu jugo é suave e meu fardo leve”

O olhar em oração ao Pai dos “pequenos” do Reino se converte, agora, em olhar misericordioso para os sofridos da terra. “Venham a mim…” (11,28a).

Nestas palavras, Jesus faz um convite direto a todos os seus ouvintes para que se façam seus discípulos. Estes são os que “estão fatigados e sobrecarregados” e assim repousarão: “… e eu lhes darei descanso”.

Os termos que Jesus utiliza não são como as típicas “frases de gavetas” ou os lemas publicitários, que dizem belas frases para captar incautos seguidores que, cedo ou tarde, terminarão desiludidos com promessas de felicidade que nunca virão cumprir-se.

Não, o convite é que todo homem, desde as agitações internas de sua busca de sentido, dos sonhos e anseio de esperança que o Criador, desde o princípio gravou em seu coração, converta-se em um verdadeiro discípulo da sabedoria. Na literatura sapiencial bíblica (Eclo) lemos: Venham a mim (24,19;51,23), Tomem meu jugo (6,24-25;51,26), Encontrarão descanso” (6,28).

Entre os fariseus do tempo do ministério de Jesus (e ainda um pouco depois), se falava de “tomar o jugo da Lei” como um modo de descrever a decisão de assumir a Palavra de Deus como norma de vida.

O “jugo”, como no caso dos bois, faz inclinar a cabeça e dá docilidade. Dadas às complicações em que havia caído o estudo da Palavra de Deus, convertida em matéria de retórica jurídica, o “jugo” da Lei do Senhor havia se convertido em um forte e esmagante peso para o povo que se sentia fatigado e sobrecarregado por ela.

“Tomai sobre vós meu jugo” (11,29a).

O Evangelho de Jesus revelado aos pequenos é o novo “jugo” que não oprime, mas que liberta. O Evangelho está feito, não para esmagar, mas para levantar. Curiosamente, ao reter um termo que já começava a soar pejorativo para o povo, o de “jugo”, Jesus exprime o melhor de seus sentidos: Jesus não sobrecarrega, mas troca conosco sua carga: Ele toma nossos fardos pesados da vida sobre seus ombros e nos dá seu coração manso e humilde (11,29b).

Jesus toma nossas preocupações e dificuldades. Porém, também toma os mesmos caminhos que temos para ascender a Ele, e os faz possível com a força de seu Espírito Santo. Entrega-nos logo a “carga” da missão, do anúncio da Boa Nova do Reino, as tarefas que provêm da vontade amorosa do Pai sobre o mundo, para que lhe ajudemos a concretizá-la na história que, dia a dia, construímos e amassar, assim, o pão com o fermento do Reino (ver 13,33).

Uma vez mais Jesus nos convida a acolhê-lo com simplicidade e, desta vez, com uma bela novidade: Ele nos acolhe primeiro com tudo o que temos e nos submerge na doçura de seu coração.

É assim que viveremos sempre unidos a Ele, tendo-o como apoio que dá “repouso” a nosso coração inquieto e como modelo (“aprendei de mim”) que inspira nossa vida.

Meditemos, agora, o texto do Evangelho e tomemos consciência, mediante a acolhida repousada da Palavra, sobre a forma como estamos vivendo e acolhendo à revelação de Deus na pessoa de Jesus: que efeitos têm, em nós, a escuta diária da Palavra, a celebração eucarística, os diversos compromissos que temos com Deus e com os irmãos, no nome de Jesus, e que nos põe em contacto diário com sua presença sacramental em nosso meio.

Não caiamos na atitude dos fariseus, que pretendendo cumprir um montão de preceitos e normas, para conhecer, verdadeiramente, a Deus, esqueciam que a forma mais simples e humilde era a mais eficaz: o saber-nos amados em nossa miséria e compreendidos em nossas crises, porém, sobretudo, acolhidos, no amor de seu adorável Coração.

É na transparência de seu sagrado coração onde lemos o Evangelho e recebemos o “jugo” que dá sabedoria a nossas vidas.

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