16º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B (Estudo Bíblico)
Marcos 6,30-34
“Sentiu compaixão deles, pois estavam como ovelhas que não
tem pastor, e se pôs a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 30,34)
Introdução
Domingo passado lemos o envio dos discípulos à missão, hoje consideramos seu regresso. Sem dúvida, o texto que lemos já muito mais além de uma simples noticia de missionário e da anedota de que não puderam descansar. Hoje estamos ante um texto maravilhoso que desenha um precioso quadro que retrata Jesus como Pastor de sua comunidade de discípulos-apóstolos e de todo o povo de Israel.
Hoje no centro de nossa atenção está a pessoa de Jesus, dele contemplamos sua pressa, sua capacidade de convocação, sua liderança, sua resposta acertada a cada um dos desafios que vão aparecendo em seu caminho missionário. Tudo e todos convergem na pessoa de Jesus, fora d’Ele não há caminho, nem projeto.
Em torno ao Mestre-Pastor se congregam dois círculos concêntricos, dois espaços comunitários que tendem a ser um (veremos próximo domingo), aos quais lhes oferece a atenção particular que requer: (1) a comunidade estreita dos “apóstolos” (os doze) que “está” permanentemente com Jesus e regressa de sua primeira experiência missionária; e (2) um amplo grupo de pessoas, “vindas de todas as cidades”, as quais são resgatadas de sua “dispersão” e se convertem em comunidade na escuta unânime da Palavra.
Os primeiros estão em uma etapa mais avançada de vida comunitária, é a “comunidade modelo” no evangelho, e sua tarefa será continuando as ações e o estilo do Mestre ajudar os segundos a viverem plenamente seu discipulado formando uma só comunidade no projeto comum de Jesus.
O texto é breve, porém em cada frase se vai dando uma pincelada que descreve com uma grande força e profundidade o rosto de Jesus Pastor que forma entorno a Ele uma comunidade que é vivificada por seus dons. Neste domingo se põe de relevo o dom de sua “Palavra” (a que dirige a seus discípulos-apóstolos e à multidão na grande liturgia da Palavra a beira domar da Galiléia), o próximo domingo se porá em primeiro plano o dom do “Pão” (no relato da multiplicação dos pães).
Porém não o percamos de vista: a comunidade começa com a escuta da Palavra. Guiar e formar é a primeira resposta de Jesus às necessidades de sua comunidade. Vemos realizadas assim as palavras do Salmo 23,2b-3: “Pelos prados de ervas frescas me apascenta. Para as águas de repouso me conduz. Restaura minhas forças. Guia-me por sendas de justiça, por graça de seu nome”.
1. O texto
Leiamos atentamente Marcos 6,30-34.
Com as pistas dadas inicialmente e observando os grupos de personagens que aparecem no texto, podemos distinguir duas partes no texto:
(a) vv.30-31: A comunidade apostólica em torno a Jesus Pastor
(b) vv.32-34: As multidões vindas das cidades em torno a Jesus Pastor
2. A comunidade apostólica em torno a Jesus Pastor (vv.30-31)
Os apóstolos regressam da missão e, por causa do fluxo de gente, Jesus lhes propõe que se detenham a repousar em um lugar apartado.
Notemos que o centro da cena é Jesus:
(1) entorno a Ele se reúnem os missionários;
(2) a Ele lhe reportam tudo o que hão falado e feito; e
(3) Ele toma a iniciativa de leva-los a aparte a descansar.
Os apóstolos não deixam de ser discípulos, o Mestre segue conduzindo-os para indicar-lhes não só a forma de fazer a missão, mas o que fazer também depois dela.
2.1. O regresso dos apóstolos (v.30)
Como já anotamos, Jesus é o centro da comunidade apostólica. Os discípulos, que regressam fatigados da missão, se congregam em torno ao Mestre e lhe contam os detalhes da missão vivida.
Com relação ao “congregar-se”, no texto grego se nota uma verdadeira reunião, um “estar juntos”, uma experiência comunitária á qual se lhe dá valor.
A comunidade missionária corre o risco de dispersar-se nas diversas tarefas apostólicas e perde seu centro, seu núcleo, o que hoje poderíamos chamar o “calor do lar”.
Para que se veja a importância disto, se vai mais adiante, em Mc 6,45, ao final da multiplicação dos pães, como com a simples porém precisa anotação “obrigou a seus discípulos a subir na barca”, Jesus pressiona aos discípulos para que evitem uma das tentações apostólicas mais freqüentes: é mais fácil ficar com o povo recebendo os aplausos, que estar na comunidade fraterna, onde eventualmente se vivem confrontos.
E o ambiente da reunião que menciona Marcos devia ser gozoso. Em Lc 10,17, fala explicitamente de uma reunião festiva. Porém Marcos prefere acentuar o fato de que o conteúdo da reunião com Jesus foi a narração das vivencias na missão “tudo o que haviam feito e o que haviam ensinado”.
“Tudo” é tudo. Supõe que nada se oculta a Jesus, tudo se converte em tema de oração, o coração se abre sem dissimulação. Além do mais, este “informe” –realizado no diálogo fraterno- é uma expressão da “responsabilidade” do missionário com aquele que o enviou.
Os dois verbos que descrevem a missão apostólica, “fazer” e “ensinar”, recorda que a missão não consiste somente em “palavras”, mas, também, em “ações” transformadoras que realizam o que anuncia a pregação. Recorda-se também que o ensinamento dos apóstolos tem sua raiz na vida de Jesus e que sua ação corresponde pontualmente ao encargo recebido de “pregar a conversão”(6,12) e de fazer ações libertadoras do mal e de restauração das pessoas (“exorcismos e curas”,6,13) [Ver evangelho do domingo passado.
Nesta primeira parte, Jesus simplesmente escuta, acolhe o que os discípulos lhe apresentam. Porém vem em seguida sua reação.
2.2. O convite a descansar (v.31)
Neste evangelho, Jesus não se pronuncia (fazendo algum tipo de valorização) sobre a noticia dos discípulos, já que se tem dado por certo que entre o Mestre e os discípulos há uma estreita comunhão. Neste evangelho Jesus dá um passo adiante, inédito com relação aos outros evangelistas, para indicar-lhes o que devem “fazer” imediatamente depois da missão. A palavra de ordem agora é “descansar”.
“Para descansar um pouco”. Trata-se do repouso da fatiga da missão. Recordemos que o Jesus de que descreve o evangelho de Marcos é um missionário que conhece poucos repousos, razão pelo qual alguns o tem qualificado de “hiperativo”; e ao mesmo ritmo vão os discípulos. Este retrato de Jesus e comunidade reflete a intensidade com que a Igreja, desde suas origens, assumiu a missão. Porém, atenção! Jesus também disse uma palavra sobre o descanso.
Sua palavra sobre o descanso faz eco a uma frase do Salmo 23 onde domina a atmosfera do repouso: “por prados de fresca erva me apascenta” (v.2). Para quem peregrina na geografia palestinense, na paisagem caracterizada pelo calor e a aridez dos campos queimados pelo sol inclemente, esta frase é forte.
Neste caminho se encontra um pouco de água que mata a sede, de alimento que restaura a força, de fresca brisa que reconforta. Tudo isto está contido no “descansar” e é a esta deliciosa experiência que Jesus convida a seus discípulos.
Jesus então está se mostrando como bom pastor de seus discípulos. O pastor “competente” é o que conhece os lugares secretos e as rotas seguras para levar seu rebanho ali onde há frescura, erva abundante e água pura. Ali o rebanho se recosta satisfeito e sereno, sob o olhar amoroso do pastor. Não é este o conteúdo do convite de Jesus a seus discípulos?
Se isto é assim, então, as palavras de Jesus vão muito mais além da proposta de uma escala técnica em meio da missão. Más, se trata de um profundo ensinamento sobre o ritmo de vida do missionário. Poderíamos dizer que este consiste em um entrar constantemente na presença de Deus desde a presença da sociedade e sair da presença de Deus à presença dos semelhantes. Vamos a explicar-nos.
Não é por casualidade que Marcos tem colocado a motivação principal do descanso: “Pois os que iam e vinham eram muitos, e não lhes ficava tempo nem para comer” (v.31b). Daí podemos tirar duas lições sobre a vida do missionário, uma em positivo e outra em negativo:
- Em positivo: o fato de os discípulos não terem tempo “nem para comer”, em meio da multiplicidade de suas tarefas, deveria ser um motivo de orgulho (no bom sentido), já que assim lhe acontecia também ao Mestre (3,20: “Voltar a casa. Se aglomera outra vez a multidão de modo que não podiam comer”). Dai que o sentir-se fatigado pelas tarefas apostólica indique um bom nível de sintonia com Jesus.
- Em negativo: e como já se anotou antes, não é bom deixar-se absorver pelo “corre corre” apostólico. No equilíbrio de vida há que vencer duas tendências erradas:
- Perder nossos espaços.
Como assumir as cargas da vida se não temos contato com o Senhor da Vida e se não temos espaços pessoais para fazer uma apropriação do projeto que Ele tem para nós? Como fazer a obra de Deus se as forças não se tornam do próprio Deus?
- Retirar-nos demais.
Que fazer para que a oração não seja o entrar em um espaço cômodo que nos afasta dos conflitos com os demais? Que fazer para que a comunhão com Deus não seja um evitar a comunhão com os demais, mas um preparar-nos para ela? A verdadeira oração sempre deve desembocar na ação comprometida com os irmãos!
As duas tendências que acabamos de mencionar se pode superar se também “seguimos” a Jesus em seu modo de enfrentá-las e vencê-las. Jesus tinha Deus sempre no centro de seu ministério, o encontrava na oração e também no campo de suas atividades.
Desde seu primeiro dia de “seguimento” os discípulos receberam do Mestre uma lição sobre o equilíbrio de vida do missionário:
- após um dia intenso de trabalho “de madrugada, quando ainda estava muito escuro, se levantou, saiu e foi a um lugar solitário e ali se pôs em oração” (1,35;1,45), e
- depois disso disse “Vamos a outra parte… a fim de pregar também ali” (1,38).
Jesus não pede aos discípulos nada que Ele não tenha feito primeiro. Por isso, o comportamento de Jesus ao final desse mesmo dia, depois da multiplicação dos pães, realiza o que havia proposto quando os convidou a estar “a sós”: “Depois de despedir-se deles, foi ao monte a orar” (6,46).
Jesus é o modelo. Ele sabe estar na presença de Deus e na presença da sociedade, sem perder o centro nem a força. Por este caminho de missão e oração, de expansão e concentração, de trabalho e descanso, o seguem seus discípulos.
3. As multidões vindas das cidades entorno a Jesus Pastor (vv.32-34)
Jesus e seus discípulos marcham com o propósito de realizar o plano proposto no v.31. E em seguida notamos uma dupla correria:
(1) a da comunidade apostólica, na barca; e
(2) a das multidões, a pé, pela beira do mar.
O povo, que capta o propósito de Jesus (“muitos se deram conta”), se antecipa ao Mestre para que prolongue ainda um pouco mais – antes do descanso e da oração – sua missão em meio deles. A tomada de distância termina em tudo ao contrário: uma monumental jornada missionária.
3.1. A viagem de Jesus e dos apóstolos (vv.32-33)
Encontramo-nos ao norte do lago da Galiléia. Nesta parte (onde está Magdala, Genesaré, Cafarnaum e Betsaida), o lago tem uns 6 kms –se o atravessamos em barca em linha reta- e uns 15 kms –se o atravessamos por terra seguindo as bordas. Esta desproporção se explica pelo fato de que a costa norte do lago está cheia de enseadas profundas, cujas entradas e saídas triplicam sua longitude. O curioso é que, quando não há brisa favorável as proporciones se invertem e o caminho terrestre torna-se mais curto, e isto poderia explicar por que as multidões chegam primeiro que Jesus ao lugar onde iam descansar (que, pelo visto, não era secreto; até nisso Jesus era conhecido).
Enquanto o evangelista Marcos se limita a dizer de maneira vaga que se foram “aparte, a um lugar solitário”, tanto Lucas (“a Betsaida”,Lc 9.10) e João (“ao outro lado do mar”, Jo 6,1) são mais precisos.
A amplitude de Marcos permite que se destaque que o essencial é estar a sós com o Mestre, o mapa do discípulo é o caminhar de Jesus, o ponto de referencia é Ele mesmo, o demais (o onde) é secundário.
O fato de ir juntos na mesma barca, no espaço apertado e em meio do calor humano que esta provoca, isto é, o estar juntos (como nos espaços comunitários na barca em 5,21.24.27.30.31) é o que conta.
O recolhimento é “juntos”. O retiro não é um afastamento da comunidade, mas apenas uma tomada de distancia da atividade missionária. Frente à comunidade, já compacta, dos doze, se coloca agora o quadro de uma multidão que começa a fluir de “todas as cidades”.
Chama a atenção a ênfase no urbano, que é o espaço onde o tecido social soa ser mais forte. Porém estas “cidades” não parecem ser “comunidade”, já que Jesus os vê “como ovelhas que não tem pastor” (v.34).
Porém aqui não só há uma lição sobre a solidão e a dispersão que se vive no mundo urbano, mas que se aponta ao fato de que a missão de Jesus é universal (como se mostra também em 3,7-8 y 6,53-56): todos os homens e sua realidade toda são o centro de atenção da obra de Jesus, nada nem ninguém está fora de seu agir salvífico.
Toda esta multidão de gente que “corre” ao encontro de Jesus porque amava o que Ele lhes podia dar, logra seu propósito: chega primeiro que a barca; e assim, o lugar “solitário” se converte no lugar das pessoas “sós” (“como ovelhas que não tem pastor”) que necessitam ser congregadas.
3.3. O encontro de Jesus com as multidões (v.34)
Jesus desce da barca e se encontra com a multidão. Notemos que Jesus não se incomoda pelo fato de ver invadida sua intimidade, mas que se comove e os convida, os faz parte da comunidade.
Ponhamos atenção às ações de Jesus
(1) os “vê”,
(2) “sentiu compaixão deles”, e
(3) “se pôs a ensinar”.
Há um movimento interno na pessoa de Jesus, que é exemplar para o discípulo e missionário:
(1) captar a realidade;
(2) apropriar-se; e
(3) responder a ela.
O que Jesus vê e se apropria se sintetiza na frase “estavam como ovelhas que não tem pastor”. Que acontece a uma ovelha sem pastor? Vai lhe acontecer uma destas três coisas:
- Não pode encontrar o caminho. É claro que sozinhos nos perdemos na vida. Como escreveu uma vez Dante: “Despertei no meio do bosque, e estava escuro, e não se via nenhum caminho”.
- Não pode encontrar pastos nem água. É claro que enquanto estamos nesta vida, temos que buscar constantemente o sustento para recuperar as forças. O problema é que buscamos onde não é, e, por isso, andamos insatisfeitos, com o espírito em jejuns, com o coração inquieto.
- Não tem defesa ante os perigos que a espreitam. Uma ovelha sem pastor está perdida ante os ladrões, as feras. É claro que tampouco nos bastamos a nós mesmos frente aos perigos da vida, necessitamos dos outros e deste Outro em particular que é Deus.
Esta frase, “como ovelhas sem pastor”, vem duma essência espiritual muito mais profunda que parece a primeira vista. É uma evocação de outra já conhecida na Bíblia. Vejamos completa para que captemos o contexto: “Falou Moisés a Yahweh e lhe disse: ‘Que Yahweh, Deus dos espíritos de toda carne, ponha um homem a frente desta comunidade, alguém que saia e entre diante deles e que os faça sair e entrar, para que não fique a comunidade de Yahweh como rebanho sem pastor’” (Nm 27,15-17; e ecos desta frase vemos em 1 Reis 22,17; 2 Crón 18,16; Jd 11,19; Ez 34,5-6).
Moisés pedia a Yahweh um sucessor, um como ele, capaz de conduzir o povo até a terra, alguém capaz de congregar o povo entre si e com Deus, um homem com coração de povo e com coração de Deus, um homem de aliança. Por isso, Marcos nos está deixando entender que Jesus é essa pessoa que o povo estava esperando, aquele que encarnaria a pressa pastoral de Deus com seu povo de Israel (como o descreve belamente: Gêneses 48,15; Isaías 40,11; Jeremias 31,10 e o Salmo 23).
Moisés e Davi foram os pastores “fieis” do povo de Israel, porém Jesus supera a todos eles porque é o pastor dos tempos definitivos (ver Jr 23,4), que forma realmente o povo de Deus, que gera a fundo a comunhão entre os homens e com Deus (ver Mc 14,27-28 e 16,7), fim último de toda a historia da salvação e destino da história.
O pastoreio de Jesus tem sua raiz na “misericórdia”: “Sentiu compaixão deles”. Jesus está convidando totalmente desde o fundo de seu ser na missão (ver traços da misericórdia de Jesus no evangelho de Mc em 8,2 e 9,22). Ele encarna o pastor descrito no Salmo 23, do qual se dizia: “Bondade e amor me acompanharão todos os dias de minha vida” (v.6).
O termo que acabamos de traduzir por “amor” corresponde ao hebraico “Hésed”, que significa “fidelidade amorosa”, o qual pertence ao vocabulário da misericórdia na bíblia hebréia. Encarnado na pessoa de Jesus, que interpreta esta “fidelidade amorosa” do Deus companheiro e amigo de seu povo, nos permite compreender a grandeza do amor de Deus: Ele caminha solidariamente ao lado dos seus, compartilha suas alegrias e seus contratempos, seu amor não para nunca e acompanha a todo homem no arco inteiro de sua existência. Esta é a “compaixão” do pastor, que em realidade é sua “fidelidade”.
E foi assim como Jesus “se pôs a ensinar-lhes muitas coisas”. Em contraste com os mestres de Israel, que fracassaram em sua tarefa (ao final o povo seguia dispersa e desorientada), Jesus é o verdadeiro Mestre de Israel que conduz eficazmente ao povo no projeto de Deus. O Salmo 23 segue sendo interpretado por Jesus, ainda neste aspecto, pelo Pastor é um Mestre (Salmo 23,3: “me guias”).
Porém, por que Jesus responde precisamente com a “formação”? Jesus lhe põe remédio à dramática situação de um povo que percebe “como ovelhas sem pastor” com seu ensinamento, porque ele trata da conversão, de um novo estilo de vida (1,14-15). Não se trata de palavras vazias.
Jesus quer ajudar ao povo com uma instrução sólida, que lhes de critérios de vida fortes e um projeto comum. Precisamente a falta de critérios, de valores e de projetos comuns destrói a unidade e a comunhão de um povo e o reduz a uma massa de homens e mulheres privados de orientação, em luta de interesses entre si e, portanto, vítimas fáceis dos falsos pastores e de suas promessas enganadoras. Por isso, o primeiro dom, o primeiro serviço, que Jesus oferece ao povo sem pastor é seu ensinamento.
Concluamos recordando que o interesse principal do pastor é a vida de suas ovelhas, e para isso tarefa ineludível é a nutrição. Jesus é o novo Moisés que nutre o povo com o pão do ensinamento (8,14-21) e em seguida fará –veremos nos próximos domingos- com a Eucaristia, com sua própria vida (Palavra feita carne).
4. Releiamos o Evangelho com um Padre da Igreja
“Com toda razão, sendo pastor, Cristo exclamava: Eu sou o bom pastor (Jo 10,11).
Eu mesmo irei à ovelha ferida e cuidarei da enferma, irei em busca da ovelha perdida e reconduzirei ao redil à extraviada (Ez 34,16).
Vi o rebanho dos israelitas acuados pelo mal, acabar na morada dos demônios, dilacerado por estes como por lobos.
E não fiquei indiferente ante o que vi.
Sou Eu, em efeito, o bom pastor: não os fariseus que tem inveja das ovelhas;
não aqueles que contam como dano próprio os benefícios conferidos ao rebanho; não aqueles que se afligem porque os outros são libertados dos males ou que se desgostam pelas doenças curadas.
O morto ressuscita, e o fariseu chora; o paralítico é curado e os escribas se lamentam; ao cego se restitui a vista e os sacerdotes ficam indignados; o leproso
é purificado e os sacerdotes contestam.
Ó pastores soberbos do mísero rebanho, que se regozijam com suas desgraças!
„Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas‟”.
São Basílio de Seleucida, Homilia 26,2)
5. Cultivemos a semente da Palavra na vida
- Quais as ações de Jesus neste evangelho?
- Que faz Jesus de particular com seus discípulos e com as multidões? Para onde aponta todo o seu agir?
- Quais os traços de Jesus Pastor mais destacados?
- Como integrar equilibradamente missão e oração, trabalho e descanso, serviço aos de fora e vida comunitária com os dentro?
- Que nos ensinam as ações de Jesus frente à multidão? Como aplicá-las no trabalho pastoral? Qual é o conteúdo teológico, espiritual e pastoral da “misericórdia” de Jesus nesta passagem do evangelho? Que papel tem o ensinamento na formação de uma verdadeira comunidade?
Pe. Fidel Oñoro, cjm