ESTUDO BÍBLICO NA 2ª SEMANA DA PÁSCOA ANO B 2024

ESTUDO BÍBLICO NA 2ª SEMANA DA PÁSCOA ANO B

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA – Anunciação do Senhor

Lucas 1,26-38

MARIA É CHAMADA PARA SER A MÃE DO SENHOR

O anjo lhe disse: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus; Eis que conceberás e darás a luz um filho, a quem porás por nome Jesus”

O personagem central do relato de hoje é Maria. Sua vocação para ser a mãe do Messias é única, mas permanece como o modelo para cada um de nós que estamos chamados a “encarnar o Verbo” neste Natal que se v em.

O relato inicia situando-nos no tempo (seis meses após da concepção de João) e no espaço (Nazaré, cidade da Galileia). Logo nos apresenta o personagem central, Maria, e nos dá algumas informações sobre ela (seu casamento com José, da descendência de Davi, e sua virgindade). Com todos estes dados iniciais, o relato se concentra na narração do chamado que Deus, por meio do Anjo Gabriel, faz a Maria para cooperar no plano de Deus:

  1. Experiência de fundo sobre a qual se apóia o chamado que o Senhor faz a Maria (1,28-29)

O primeiro que destaca o relato é que a vocação de Maria se apóia na ação de Deus. Em cada uma das três palavras da saudação do Anjo (“Alegra-te”, “cheia de graça”, “o Senhor está contigo”) encontramos um conteúdo profundo no qual se delineia o que Deus faz nela (ver 1,28):

  • A alegria: “Alegra-te!”- O anjo antecipa a Maria: (a) que o anúncio será para ela motivo de imensa alegria; (b) que a palavra do Senhor vai tocar o mais íntimo de seu ser; e (c) que sua reação, ao final, não poderá ser outra que a exultação. É de notar que a alegria de Maria não é imediata, mas que inicia, a partir de agora, um caminho interior que culmina no canto feliz do “Magníficat”: “meu espírito se alegra em Deus meu salvador” (1,47). Pode-se dizer que a alegria caracteriza uma autêntica vocação.
  • A plenitude da graça divina: “És plena de graça!”: Este é o motivo da alegria, Deus lhe faz conhecer a imensidade de seu amor predileto por ela, como tem posto seus olhos nela, cumulando-a de seu favor e de sua complacência. Seu amor é definitivo e irrevogável. Esta afirmação é tão importante que e anjo a vai a repetir em 1,30. A confiança que se necessita para poder responder ao Senhor quando nos chama vem da certeza de seu amor.
  • A ajuda fiel de Deus: “O Senhor está contigo!”: Porque Deus ama intimamente a Maria, se põe a seu lado e se compromete a ajudá-la de modo concreto em sua missão. Deus fez esta promessa também aos grandes vocacionados da Bíblia (Jacó, Moisés, Josué, Gedeão, Davi, Jeremias…).

O que se anuncia em Lc 1,28 se realiza em 1,35, onde se diz como Deus socorre Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”. Com sua potência vivificante, criadora, Deus faz Maria capaz de colocar-se a serviço da existência de Jesus. A ação do Espírito nos remete a Gn 1,1.

Maria é o lugar onde se cumpre a ação poderosa do Deus criador, e Jesus é o novo começo onde se oferecerá esta vida plena, que vem de Deus e nele se realiza. Com esta promessa Maria é interpelada: “não será impossível nenhuma palavra que provêm de Deus” (1,37, que traduzimos literalmente) e um sinal disso é o que tem feito em Isabel, a mulher que não podia dar vida.

  • A missão concreta de Maria com a pessoa do Messias (1,30-33)

Maria é chamada para colocar-se totalmente a serviço de Jesus dando-lhe existência humana a partir de sua capacidade natural de mulher: “Vais conceber e dar a luz um filho” (1,31). Mas sua missão não se limita só a isto, Deus lhe pede ainda que dê um “nome” ao menino, “porás o nome de Jesus”.

Nesta frase Deus lhe está solicitando que se ocupe do desenvolvimento plenamente humano do Filho de Deus, que o eduque. Assim, o serviço de Maria implica entrega total no dom de todo seu ser, de todo seu tempo, de sua feminilidade, de seus interesses, de todas as suas capacidades, de todo seu projeto de vida a serviço de Deus.

  • A ação criadora do Espírito Santo no ventre de Maria (Lc 1,34-35)

Quando Maria pergunta ao Anjo: “Como será isto, visto que não conheço varão?” (1,34), o Anjo lhe responde com o anúncio da ação do Espírito Santo que fecunda seu ventre virginal (1,35).

Retomemos as palavras do Anjo:

  • “O Espírito Santo virá sobre ti…” – O profeta Isaías fala anunciado que o Espírito Santo devia “repousar” de maneira especial sobre o Messias (cf. Is 11,1-6; 61,1-3;). A frase nos recorda a ação criadora de Deus em Gn 1,1-2: o Espírito de Deus gera vida.
  • O poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra – A ação eficaz de Deus põe Maria “sob sua sombra”. Esta frase nos remete ao Êxodo 40,35, onde aparece a imagem bíblica da “shekiná”, que é a glória de Deus que desce para habitar no meio de seu povo na “tenda do encontro” ou “tenda das citas divinas”.  Trata-se de uma imagem muito significativa.

Retomando o essencial podemos dizer que a ação do Espírito em Maria é a expressão concreta:

  • Do auxílio de Deus na missão que deve cumprir: ser mãe do Salvador;
  • Do poder de Deus criador;
  • Do tipo de relação que Deus quer estabelecer com ela e a humanidade: uma proximidade quase total, um abraço amoroso que dá plenitude a sua existência ao mergulhá-la em sua própria glória.

Em conclusão

Tudo o que o Espírito faz em Maria está em função de Jesus: o Messias entra na história humana por meio da ação do Espírito criador de Deus em Maria. Desta maneira o relato da vocação de Maria ilumina nossa compreensão do mistério do Filho que toma carne na natureza humana. Tudo se faz possível graças ao “sim” de Maria.

Hoje contemplamos em oração, guiados pela Palavra do Evangelho, o mistério desta vocação que mudou a história do mundo. A Palavra suscita em nós uma grande ação de graças e ao mesmo tempo a consciência profunda de que cada um de nós tem um chamado para participar ativamente na obra da salvação. O que se espera é que nossa resposta seja tão clara e decidida como a de Maria (ver Evangelho do 8 de dezembro).

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

São João Paulo II, Papa

“Rejubila, cheia de graça!”. A alegria é uma componente fundamental do tempo sagrado que começa. O Advento é um tempo de vigilância, de oração, de conversão, para além de uma espera fervorosa e alegre. O motivo é claro: «O Senhor está próximo» (Fl 4,5). A primeira palavra dirigida a Maria no Novo Testamento é um convite jubiloso: “Exulta, rejubila!” (Lc 1,28 grego). Tal saudação está ligada à vinda do Salvador. Maria é a primeira a quem é anunciada uma alegria que, em seguida, será proclamada a todo o povo; Maria participa nela de uma forma e numa medida extraordinária. Em Maria, a alegria do antigo Israel concentra-se e encontra a sua plenitude; nela, a felicidade dos tempos messiânicos manifesta-se irrevogavelmente. A alegria da Virgem Maria é, de modo particular, a do «pequeno resto» de Israel (Is 10,20s), dos pobres que esperam a salvação de Deus e que experimentam a sua fidelidade. Para participarmos também nesta festa, é necessário esperarmos com humildade e acolhermos o Salvador com confiança. «Todos os fiéis que, pela liturgia, vivem o espírito do Advento, considerando o amor inefável com que a Virgem Maria esperava o Filho, serão levados a tomá-la como modelo e a preparar-se para ir ao encontro do Senhor que vem, ‘vigilantes na oração e cheios de alegria’» (Paulo VI, Marialis cultus, 4; Missal Romano).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Releiamos em oração o relato bíblico. Sintamos a força de cada palavra. Coloquemo-nos dentro dos personagens. Escutemos e respondamos como eles.

  1. Quais são as características que deve ter uma pessoa que se coloca a serviço de Jesus?

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  • Em que se parece o caminho de discernimento de Maria ao meu?

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Que me ensina?

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  • Como interveio Deus na vida de Maria para capacitá-la para sua missão?

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Como o faz na minha?

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TERÇA-FEIRA

João 3,7b-15

DEIXAR-NOS ILUMINAR PELA PÁSCOA (II):

SOB O INFLUXO VIVIFICANTE DO CRUCIFICADO EXALTADO

“Quando for levantado o Filho do homem, que todo o que crer tenha por Ele vida eterna”

Continuando nossa leitura do diálogo de Jesus com Nicodemos, notamos como Jesus põe de relevo o caráter misterioso da realização do novo nascimento pela água e o Espírito Santo.  

Sua obra vai muito além de uma plena intelecção humana. A imagem do vento, também figura do Espírito (ruah), que é, em categorias humanas, “O vento sopra onde quer e ouves sua voz, porém não sabes de onde vem nem a onde vai” (v.8a). 

Esta plena liberdade, docilidade e abertura para o futuro é a grande característica do homem novo: “Assim é todo o que nasce do Espírito” (v.8b). A última expressão de Jesus nos convida a deixar-nos impactar, e não simplesmente admirar-nos pela obra de Deus.

A frase “Como não sabes como vem o espírito aos ossos no ventre da mulher em gestação, assim tão pouco sabes a obra de Deus que tudo faz” (cf. Ecl 11,5) revela qual é a atitude que nos corresponde: a gratidão a Deus por sua obra em nós e a humildade e abandono total nele para que a leve à plenitude. 

A nova pergunta de Nicodemos não obtém resposta. No começo ele havia reconhecido Jesus como Mestre vindo de Deus (v.2). Agora Jesus exige ser reconhecido verdadeiramente sua autoridade e que se aceite seu testemunho.

Não há nenhuma outra razão para manter suas afirmações, senão a qualidade de seu testemunho (v.11).  Ele desceu do céu: sabe, sim, porque é testemunha ocular (v12). Conhece as coisas de Deus. Portanto, é preciso que confiar em sua palavra. 

Do diálogo de Jesus com Nicodemos aprendemos que:

  • Para poder participar do Reino de Deus é necessário um começo completamente novo;
  • Não podemos dar a nós mesmos este inicio de uma nova vida, o qual só nos é dado no Batismo do poder criador de Deus;
  • Neste novo começo não somos passivos: este exige da nossa parte a fé no Filho de Deus. 

Porém, nem a fé é algo de ordem humana. Jesus mostra que a fé se fundamenta na prova de amor que Deus nos deu enviando seu Filho. 

O novo nascimento de Deus e a fé no Filho de Deus nos conduzem ao sentido e à plenitude de nosso ser, à verdadeira vida que não passa. Sem este nascimento e esta fé arruinamos nossa vida. 

Como evitar um fim absurdo, uma morte sem sentido e miserável? Como manter e assegurar nossa vida? Israel se fazia estas perguntas quando, no caminho do deserto, foi ameaçado por serpentes venenosas (Nm 21,4-9).

Então Deus veio em auxilio de seu povo. Encarregou Moisés de fazer uma serpente de bronze e a suspendesse no madeiro. Quem era mordido pela serpente e olhava a serpente seguia com vida.   

Assim se aclara o significado do Filho do homem exaltado sobre a Cruz: o crucificado é símbolo de salvação, fonte de vida (3,4-5). Devemos fixar o olhar d’Ele e tratar de ouvi-lo.

Devemos levantar nosso olhar para ele e reconhecê-lo como nosso salvador. Não há outro caminho para a vida, nem outra possibilidade de superar a morte se não n’Ele.  

Concluindo, a união com Jesus dá a vida. E esta união a obtemos crendo n’Ele, que é o Crucificado, abandonando-nos e confiando completamente n’Ele. Confiando no Crucificado, reconhecemos o amor sem medida de Deus e nos entramos na esfera de ação de sua potencia vivificante.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Por que se utiliza aqui a imagem do vento?

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  • Que tipo de Mestre é Jesus?

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De onde provem seu ensinamento?

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  • De onde se tira a imagem da serpente suspensa na haste?

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Que relação tem com a crucifixão de Jesus?

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QUARTA-FEIRA

João 3,16-21

DEIXAR-SE ILUMINAR PELA (III): ANTE LUMINOSA REVELAÇÃO DO AMOR DE DEUS NO CRUCIFICADO

“Tanto amou Deus o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça,…”

O diálogo de Jesus com Nicodemos dá um giro importante: a contemplação do amor de Deus na Cruz do Filho. Afirma-se, claramente, que detrás do Crucificado está o mesmíssimo Deus, que este Deus o ofereceu e enviou por amor à humanidade inteira, preocupando-se por sua salvação.

A Cruz de Jesus é, desde um ponto de vista externo, um sinal de como Ele foi despojado de todo poder, de como Deus o havia abandonado, e de como a crueldade humana havia triunfado sobre suas reivindicações e sobre suas obras. Porém, na Páscoa fica claro que o Crucificado foi o enviado de Deus e n’Ele estabeleceu quais eram seus caminhos de salvação.

Então a Cruz permanece como símbolo do amor de Deus sem medida. Ela demonstra quão longe é capaz de ir Deus e quão longe é capaz de ir Jesus ao jogar-se pela humanidade.

No Crucificado Deus responde nossas interrogações: Será que Deus me ama? Meu destino interessa a Deus? Fomos criados, e logo abandonados à impassibilidade das leis da natureza e ao mesquinho jogo de poder humano? O Crucificado nos diz que Deus ama o mundo e quer sua salvação. Seu amor tem intensidade e medida tal, que se fosse possível, se deveria dizer: “Deus ama o mundo, a nós, mais que seu próprio Filho”.

Deus não abandonou o mundo. Antes, se compromete de tal forma que é capaz de desprender-se do mais querido e dar seu próprio Filho como dom. E mais ainda, o expõe aos perigos desta missão, que caia nas mãos dos maus feitores, que seja vítima da cegueira e crueldade destes, que seja crucificado.

Quanto nós valemos, aos olhos de Deus! O que Deus quer é que nossa vida não se arruíne e que alcancemos a plenitude de nossa vida. Para isto nos dá a seu Filho. Após a criação (Jo 1,2), a Lei (Jo 1,17), unida aos profetas e a tantas outras formas de sua solicitude por nós, o Filho é a última palavra, o dom mais valioso que Deus fez à humanidade. No Filho, Deus se ocupa pessoalmente de nós, nos abre o caminho da salvação e nos atrai à comunhão com Ele e à vida eterna.

Porém, Deus não busca nossa salvação sem contar conosco, nem tampouco contra nossa vontade. Requer que nos abramos a seu amor incrível e que creiamos em seu Filho crucificado.

Só se reconhecemos que o Crucificado é o único e predileto Filho de Deus, a potência deste amor de Deus pode invadir-nos e realizar, eficazmente, dentro de nós. Nossa vida, então, resplandece sob sua luz e seu calor. Nossa vida depende de nossa fé.

Como acolher a luz resplandecente deste amor, para encher-nos de sua força doadora de vida? A ele se opõe o estranho fenômeno segundo o qual os homens preferem mais as trevas à luz (cf. 3,19).

Há razões para fugir desta luz e para buscar a sombra das trevas, razões que residem no comportamento humano. Quem faz o mal evita, instintivamente, a luz. Quem faz o bem enfrenta a luz e não a evita, porque não tem nada que esconder.

Nosso agir concreto tem uma grande relação com nossa fé:

  • O “bem”: que fazemos segundo Deus (3,21), escutando-o, buscando sinceramente pôr em prática sua vontade;
  • O “mal” quando não agimos segundo estes critérios, quando não buscamos a Deus, mas que perseguimos em egoística autoafirmação nossos planos e nossos desejos, ainda contra a vontade de Deus (3,20).

Quem busca só a si mesmo, se fecha a Deus e corre o perigo de permanecer fechado ante a luminosa revelação de seu amor. Se não levamos a sério a vontade de Deus, como vamos crer em seu amor? 

Este amor o afasta de seu próprio egoísmo e lhe faria sentir ainda mais sua própria dependência de Deus. Quem busca sempre a comunhão de Deus através das obras, está aberto à luz de seu amor.

Portanto, Jesus, o Crucificado, não é um pensamento, ou uma teoria, uma hipótese, ou uma fantasia, mas uma autêntica realidade histórica. Tão real é o amor de Deus!

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Faço idéia do amor de Deus sem medida? Para mim esse amor é decisivo?

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  • Dou-me conta de que na mensagem de Jesus tudo se fundamenta em Deus e na fé?

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  • Quem pode declarar-se sustentado pelo amor de Deus e por sua vontade de salvação?

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QUINTA-FEIRA

João 3,31-36

DEIXAR-NOS ILUMINAR PELA PÁSCOA (IV): O ESPÍRITO DADO SEM MEDIDA

 “O que crer no Filho tem vida eterna”

O texto de hoje fala da validade e autoridade que tem o ensinamento de Jesus a Nicodemos. Trata-se, pois, de um convite à obediência às Palavras de Jesus: Crer no Filho para que tenha vida eterna (3,36).

A validade e autoridade de Jesus para falar de Deus se fundamentam em três realidades:

  1. Vem do céu: O que vem do alto está acima de todos” (v.31).

Jesus procede da comunhão eterna no seio do Pai e veio ao mundo para “contar-nos” o que tem vivido nessa amorosa intimidade (1,18). Por esta razão é um testemunho direto do que ensina.

Ele não é como os demais mestres da terra que transmitem o que, por sua vez, receberam por meios escolares. Por vir do céu, Jesus “dá testemunho do que tem visto e ouvido” (v.32).

  • Deus o tem autenticado com a unção do Espírito Santo:

O que aceita seu testemunho certifica que Deus é veraz; porque aquele a quem Deus enviou fala as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida” (v.33-34; 1,33)

  • Deus colocou em seu Filho esta responsabilidade: O Pai ama ao Filho e colocou tudo em sua mão” (3,35).

Por trás do amor do Pai ao Filho está, também, o amor à humanidade. Portanto, é preciso aceitar a mensagem-testemunho de Jesus. Não há desculpas para não fazê-lo.

O ensinamento de Jesus tem validade, uma validade que se constata por demais em sua eficácia: “O que aceita seu testemunho certifica que Deus é veraz” (3,33).

Jesus é a “verdade” encarnada de Deus (termo que em João traduz o hebreu “emet”, que descreve a fidelidade de Deus com seu povo).

A responsabilidade do homem é grande: aceitar Jesus é entrar, em seguida, nas relações com Deus que lhe levam à participação plena de sua vida. Não fazer isto é se autojulgar e se excluir da vida.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

O Filho revela o Pai

Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer” 

Desde o começo, é o Filho quem revela o Pai, porque Ele está junto do Pai desde o começo.

No tempo fixado, foi Ele quem deu a conhecer aos homens, para proveito destes, as visões proféticas, a diversidade das graças, os ministérios e a glorificação do Pai, tudo como uma melodia bem composta e harmoniosa.

Com efeito, onde há composição, há melodia; onde há melodia, há tempo fixado; onde há tempo fixado, há proveito. Foi por isso que, para proveito dos homens, o Verbo Se fez dispensador da graça do Pai, segundo os Seus desígnios.

Ele mostra Deus aos homens e apresenta o homem a Deus, preservando a invisibilidade do Pai, com receio de que os homens venham a desprezar a Deus e para que eles tenham sempre progressos a fazer, ao mesmo tempo que torna Deus visível aos homens de numerosas formas, com receio de que, totalmente privados de Deus, eles acabem por se esquecer da Sua existência.

Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus.

Se a revelação de Deus pela criação já dá a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo dá a vida aos que vêem a Deus!

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Jesus é revelador. De que?

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  • Em que se baseia a autoridade de Jesus?

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  • A que faz referência à imensa generosidade de Jesus, que “dá o Espírito sem medida”?

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SEXTA-FEIRA

João 6,1-15

PÃO DE VIDA (I): O SINAL DO PÃO EM ABUNDANCIA.

“Encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães de cevada que sobraram”

Jesus ressuscitado nos comunica sua vida no Batismo, porém, também na Eucaristia. É por esta razão que agora começamos a ler o capítulo 6 de João.

O capítulo 6 do Evangelho de João tem um desenvolvimento linear que vale observar desde já:

  • Começa com o sinal da multiplicação dos pães e dos peixes (6,1-15);
  • Narra, a seguir, a travessia noturna do lago pelos discípulos em meio da tempestade (6,16-21);
  • Prolonga-se logo no discurso do “Pão da Vida” que clarifica o sentido do sinal (6,22-59);
  • E a este se responde com a decisão de “deixar” (6,66) ou de “seguir” a Jesus (6,68-69).

Entre o começo e o final deste capítulo, notamos um forte contraste. No começo o número dos seguidores de Jesus alcança seu número mais alto (5.000 homens; ver 6,10).

Depois do discurso do Pão Vivo descido do Céu, ficam somente doze como seguidores de Jesus (6,67). Com isto aprendemos que o critério que marca a ação de Jesus não é o proselitismo, mas, sobretudo e, em primeiro lugar, a missão que Deus Pai lhe confiou, sem fazer concessões às expectativas populares.

É assim como o relato da multiplicação dos pães, o relato introdutório da catequese sobre o “Pão Vivo descido do Céu” é uma catequese que pedirá, ao final, uma clara opção por Jesus. É, portanto, a porta de entrada de um itinerário de purificação-maduração da fé.

Para apropriar-nos melhor de seu rico conteúdo, vamos observar o desenvolvimento da ação no texto:

  • A introdução (vv.1-4) Aparecem os personagens: Jesus, sentado na montanha; os discípulos que o rodeiam; e uma grande multidão que se aproxima deles. Acrescenta-se, além do mais, que “estava próxima a Páscoa”. O fato de que a multiplicação dos pães se situa neste contexto festivo de vida e liberdade, assinala a rota pela qual temos que compreender o sinal que vai realizar-se: o dom pascal da vida de Jesus Cristo na Cruz.
  • O diálogo de Jesus com os discípulos (vv.5-9) À pergunta de Jesus sobre “onde” comprar pães para alimentar à multidão, dão duas respostas. Primeiro a de Filipe, que vê a intenção de Jesus como absurda. Logo a de André que, apesar de confessar a incapacidade, apresenta a Jesus um menino portador de cinco pães e dois peixes. Ao final das contas os pães são dados.
  • Jesus serve a mesa (vv.10-11) O pouco que se coloca nas mãos de Jesus se multiplica. Notemos três ações chaves de Jesus: (manda que o povo sente-se (Jesus organiza, pois a ideia de fundo é formar comunidade); ora ao Pai; e reparte os pães e os peixes, isto é, serve a mesa.
  • Jesus manda recolher as sobras (vv.12-13) O núcleo do relato está aqui. O povo ficou satisfeito. A “abundância” de pão é expressão da generosidade de Deus e da plenitude para a qual Ele quer conduzir a cada ser humano. Há pão para os presentes e também para os ausentes, há abundância, mas não há exclusão nem desperdício (“que nada se perca”).
  • As Reações da multidão e de Jesus (vv.14-15) O milagre supera todas as expectativas. Faz-se um primeiro reconhecimento do significado do acontecimento proclamando Jesus como “o profeta que devia vir ao mundo” (Dt 18,15-19), como Moisés (que dá pão-maná no deserto).

Porém, Jesus se dá conta que o querem fazer rei à força e foge. Jesus não se deixa impor nenhuma etiqueta que o prenda às pretensões populares, sacrificando o sentido de sua missão.

O povo não entendeu plenamente o sinal. O relato termina com a fuga de Jesus. No centro deste acontecimento o evangelista insiste em colocar a pessoa de Jesus.

Com a multiplicação de pães e peixes demonstra que tudo começa n’Ele e provém d’Ele, que tem capacidade para dar pão-vida a todos, e em abundância:

  • Tudo começa em Jesus

Ele atua por si mesmo, sem necessidade de que lhe dêem ordens, o realiza segundo o encargo que lhe deu seu Pai. Notemos como cada passo que se dá no relato está previsto e decidido por Jesus. Todo é uma expressão de sua missão.

  • Tudo provém de Jesus

Mesmo que os discípulos tivessem comprado pão, não seria suficiente para todos. Os cinco pães e os dois peixes do jovem, também não são suficientes. O pão abundante, em última instância, provém de Jesus.

  • Onde está Jesus, ai há abundância

A capacidade de ajudar, própria de Jesus, não está limitada a algumas pessoas ou a pequenos grupos. Não há limites para seu poder. Seu poder para dar vida o faz sem exclusões: há suficiente para todos.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Por que Jesus multiplica os pães e os peixes?

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Que quer ensinar com isso?

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  • Como vivemos hoje na comunidade, família, paróquia, pastoral, o desafio que Jesus pôs a Filipe?

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Também nós hoje podemos multiplicar pães?

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  • Como entender o gesto do “jovem” que oferece seus pães e peixes?

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Por que seu gesto é um sinal pascal?

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Que diz este gesto à sociedade neoliberal, competitiva e marginalizadora?

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Desde onde se constrói uma comunidade fraterna e solidária?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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