ESTUDO BÍBLICO NA 34ª SEMANA COMUM ANO B 2024
ESTUDO BÍBLICO NA 34ª SEMANA COMUM ANO B 2024
Comunidade Paz e Bem
SEGUNDA-FEIRA
Lucas 21,1-4
Valorizar o pequeno
“Viu uma viúva que lançava duas moedinhas”
Para ir mais a fundo no relato de hoje, é necessário que tenhamos claro que se trata da outra cara da moeda da cena anterior onde Jesus instruiu os discípulos sobre comportamentos que devem evitar: o querer chamar a atenção dos demais (Lc 20,45-47).
Ao final dessa instrução Jesus denuncia os escribas: eles “devoram a oferta das viúvas” (20,47). Agora Jesus se detém no Templo para observar e fazer observar uma viúva que chega ao recinto.
A passagem do “óbolo da viúva” tem duas partes:
- Jesus observa o movimento do povo que lançava seus donativos na arca do Tesouro do Templo e repara no gesto de uns ricos e o de uma viúva pobre (21,1-2);
- Jesus analisa o que tem observado e faz um pronunciamento (21,3-4).
Sublinhemos o essencial do texto. Notemos que se destaca duas vezes o verbo “ver”, cujo sujeito é Jesus: “Viu uns ricos” (21,1); e “Viu uma viúva pobre” (21,2).
Não é estranho que dê importância o olhar de Jesus. Segundo Lucas o olhar do Senhor:
- Descobre as intenções mais profundas do coração (Lc 6,8); (2) elege (5,27);
- Convida seus discípulos à alegria das bem-aventuranças (6,20);
- Capta a fé dos que carregam o paralítico (5,20);
- Nota a dor da viúva de Naim (7,13);
- Leva a ver o que Ele viu primeiro: o amor da mulher pecadora (7,44);
- Recorda a Pedro seu pecado (22,61).
Pois bem, Jesus vê – por suposto – a oferenda farta dos ricos, porém também vê o que os outros não vêem: que a viúva não entrega somente a oferenda que estava ao seu alcance, mas que sua doação era ela mesma.
A frase “tudo quanto tinha para viver” (21,4), mostra que a viúva entregou aquilo do qual dependia sua existência. Desta maneira Jesus nos ensina: Que devemos valorizar o pequeno. Valorizar os pequenos esforços de conversão que fazem nossos irmãos. Valorizar as pequenas contribuições que fazem de coração. Valorizar os pequenos gestos de amor que nutrem a amizade:
- Que a mulher viúva é um autêntico modelo de discípulo do Senhor, porque o discípulo é o que –como seu Mestre- aprende a esvaziar-se de si mesmo na doação de sua vida no cotidiano.
- Que no passar do “dar do que nos sobra” (doação que não afeta) ao “dar de nós mesmos” (ao perder algo fundamental de nossa vida), abandonamos toda nossa vida em Deus como fez Jesus na Cruz.
A fonte e o cume da vida cristã não é só o celebrar, mas chegar a ser “Eucaristia” viva. A mulher pôs toda sua vida em Deus. Oxalá, pudéssemos viver este radical abandono nos braços de Deus!
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santa Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
«Foi a mim que o fizestes». Se mostramos tanto amor para com os pobres é porque neles encontramos hoje Jesus, Ele que é a Palavra de Deus feita carne. Quanto mais estivermos unidos a Deus, mais crescerá o nosso amor pelos pobres e a nossa disponibilidade para os servir do fundo do nosso coração… Não procureis Deus nos países distantes; Ele está bem perto de vós; está convosco. Tende sempre as vossas lâmpadas acesas (Mt 25,1s) e descobri-lo-eis constantemente. Vigiai e rezai
(Lc 21,36). Jesus oferece a sua amizade duradoura, fiável, pessoal, a cada um de nós; exprime-a com
ternura e amor. Uniu-nos a Ele para sempre. E agora, com o nosso trabalho, pomos esse amor em prática. Jesus veio ao mundo fazendo o bem e nós tentamos agora imitá-lo, porque creio que Deus ama o mundo através de nós. Vejo tantas pessoas na rua, pessoas que ninguém quer, de quem ninguém se ocupa, pessoas ávidas de amor. Elas são Jesus.
Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:
- Muitas vezes esperamos mudanças grandes na vida das pessoas que nos rodeiam mas valorizamos os pequenos passos?
- Minha oração de louvor se baseia somente nas grandes e notáveis ações de Deus em minha vida
ou se nutre cada dia do pequeno e humilde?
- Em minha entrega ao Senhor e aos demais: dou do que me sobra ou me dou com todo meu ser?
Sou uma Eucaristia viva?
TERÇA-FEIRA
Lucas 21,5-11
Aprender a viver a esperança (I)
“Não ficará pedra sobre pedra”
O ponto mais alto do ensino de Jesus no Templo de Jerusalém constitui o chamado “discurso escatológico” (Lc 21,5-38), que quer dizer “ensino sobre a culminação da história”.
Este tema nos cai bem agora, quando culminando o ano, fazemos conclusões, balanços, informes e, neste contexto, nos perguntamos pela direção de nosso projeto de vida.
Visto que o mundo em que vivemos e sua história é uma dinâmica evolutiva contínua que aponta para um fim, a experiência da fé igualmente aponta para uma meta.
O Evangelho ensina que o cume da história é Jesus morto e ressuscitado, plenitude do homem que alcança seu destino na comunhão definitiva com Deus na eternidade.
Desde esta fé podemos vislumbrar que a história como tal não é um caos, mas que tem um sentido e que no seguimento de Jesus este sentido será possível.
Partindo da observação que alguns acompanhantes de Jesus fazem sobre os elementos de construção do Templo de Jerusalém (v.5), o Senhor anuncia a chegada do fim (v.6).
Isto suscita a pergunta sobre o tempo e os sinais deste acontecimento (v.7) e começa, então, um ensinamento que se desenvolve assim:
- Primeiro é preciso despojar-se de alguns equívocos que há no pensamento religioso popular que associa os desastres com o fim do mundo, mas, também é preciso observar os sinais (vv.8-11).
- Logo, é preciso tomar consciência que nos conflitos históricos o fiel é chamado a dar testemunho de sua fé e que é com essa atitude que prepara o tempo definitivo da salvação (v12-19).
- A ruína de Jerusalém, lugar onde culmina a história da salvação, é o anúncio do Juízo (vv.20-24).
- Anuncia-se a vinda do Filho do homem e se disse com que atitude há que recebê-lo (vv.25-28).
- A observação do ciclo da natureza dá pistas para saber discernir o tempo do fim (vv.29-33).
- Frente a essa realidade, Jesus tira as consequências para a vida de discipulado no meio da história (vv.34-36). O lugar do ensino de Jesus, como vimos, é o Templo de Jerusalém (v.5a).
Jesus e seu auditório estão dentro dele. O edifício parece ser mais belo por dentro que por fora. Dentro dele se nota:
- A formosura dos materiais de construção, finos e bem selecionados para a casa de Deus, as chamadas “belas pedras” (v.5b);
- As oferendas votivas, os objetos artísticos que os peregrinos deixavam para cumprir promessa, que lhe davam magnificência à decoração (v.5c).
Apenas Jesus anuncia, profeticamente, que tudo o que estão vendo virá abaixo, lhe expõe duas perguntas: o quando e os sinais que permitirão discernir que isso está a ponto de ocorrer.
Jesus começa respondendo a segunda pergunta e deixa para o final de seu discurso a resposta à primeira. É bem provável que esteja pensando não só na destruição do Templo, mas no cumprimento de todas as profecias (21,32-33).
Nos períodos de maior tensão na história sempre hão surgido líderes religiosos que hão associado às catástrofes com o fim do mundo.
Apresentam-se então falsos profetas e falsos messias que arrastam seguidores ingênuos e os formam segundo fantasiosas ideias. Ante isto Jesus convida ao exercício da crítica: “não lhes sigais” (v.8).
O medo da morte, a confusão porque não se sabe o que vai passar nos tempos de guerra, leva muita gente a precipitar-se e a buscar refúgio para seus medos em experiências religiosas que dão segurança interior, porém que não transformam. As pessoas assim, Jesus diz: “não vos atemorizeis… o fim não é imediato” (v.9).
Sem dúvida, os conflitos históricos devem ser motivo de reflexão para todo crente (v.11). Efetivamente haverá um fim, porém não há que tirar conclusões apressadas frente às aparências. Ante as notícias de todos os dias, e à luz da fé, há que assumir uma postura interpretativa.
Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:
- Quais as situações difíceis que suscitam medo, ansiedade e insegurança atualmente?
- Detectamos falsos profetas e falsos messias próximo a nós que se aproveitam do medo do povo para ganhar adeptos?
- Como ressoam as palavras de Jesus: “não lhes sigais”, “não vos atemorizeis”?
QUARTA-FEIRA
Lucas 21,12-19
Aprender a viver a esperança (II)
“Todos os odiarão por minha causa, porém nem um cabelo de sua cabeça perecerá”
A atitude que se espera não é de passividade dos que se surpreendem temerosamente ante as dificuldades, mas pôr a cara nos desafios. Temos que saber testemunhar Jesus em tempos difíceis!
Os primeiros cristãos não foram alheios à grande crise política e religiosa que surgiu na Palestina e que levou à guerra, entre os anos 66 e 70 dC, nem tampouco ao caos político e militar do império romano nos dois anos seguintes à morte de Nero, entre 68 e 70 dC.
Todas estas “guerras” e “revoluções” (v.9) eram, como vimos ontem, motivo de análise. Tampouco foram alheios aos desastres da natureza que geravam mortes massivas, como os “terremotos, peste e fome” (v.11). A realidade de morte que vinha ao seu redor e que golpeava também a eles não lhes era indiferente. Por isso buscavam uma explicação e tomavam uma atitude profética.
Mas, sofrimento e morte não só rondava na rua, também entrou na casa. Por sua vida nova no Senhor, “por causa do nome” (vv.12.17), as comunidades se viram incompreendidas e perseguidas.
Em matéria de perseguições os primeiros cristãos sabiam bem, eles aprenderam rapidamente a viver sua fé em meio da contestação que os líderes políticos e religiosos faziam à sua proclamação, a sua vida nova, a suas reuniões, a seus trabalhos em benefício dos demais. Assim havia vivido o Mestre, o grupo apostólico e as comunidades nascentes, frente aos mecanismos de poder de seu tempo.
Os cristãos aprendem esta lição: o tempo que vai entre a primeira vinda de Jesus e o tempo final de sua vinda, em meio dos tempos difíceis da história, é o espaço para viver a Jesus, dando testemunho da opção radical por Ele.
O mesmo termo que o Evangelho aplica à paixão do Senhor se aplica também aos cristãos: “sereis entregues”. Há um “a quem” e um “por quem”:
- A quem: aos tribunais religiosos (sinagogas) e aos tribunais políticos (reis e governadores) (v.13).
- Por quem: pessoas mais próximas e isto é desconcertante (12,51-53), aquelas que não compreenderam sua nova vida (v.16). Ao final se generaliza: “sereis odiados por todos” (v.17).
A fé se vive em meio aos perigos. Não é para desesperar-se, Jesus diz com palavras contundentes que:
- Ele mesmo, como Senhor, ressuscitado estará sempre ao lado de seu discípulo perseguido colocando suas próprias palavras em seus lábios. Por isso: “proponho-vos, pois, em vosso coração não preparar a defesa” (v.14). Esta comunhão profunda com Jesus é decisiva.
- Um discípulo deve ter sempre presente esta promessa de seu Senhor: “não perecerá nenhum cabelo de vossa cabeça”(v.18). Quer dizer, passe o que passar o destino eterno do discípulo não será comprometido, posto que, está sempre nos braços amorosos e providentes de Deus.
- Junto à confiança na proteção de Deus, de cada discípulo se espera também uma contribuição: a perseverança (v.19).
A frase final “com vossa perseverança salvareis vossas almas” (v.19), nos convida à resistência e nos inculca que quem superar as provas das perseguições e o ódio até o final de sua vida na terra, certamente herdará a vida eterna. Não tem que baixar à guarda ante as dificuldades, mas fazer brilhar a força da fé.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Jean Tauler (vers 1300-1361), dominicano em Estrasburgo.
“Sereis detestados por causa do meu nome, mas nem um cabelo da vossa cabeça se perderá”
Jesus prometia sempre a paz aos seus discípulos, antes da sua morte e após a sua ressurreição, sempre a paz (Jo 14,27; Lc 24,36). Os discípulos nunca obtiveram esta paz vinda do exterior, mas acolheram a paz na luta e o amor no sofrimento; e na morte encontraram a vida. E encontraram sempre um jubiloso triunfo quando, antes dessa morte, os interrogavam, julgavam, condenavam. Eram verdadeiras testemunhas. Sim, há muitos homens que estão totalmente cheios de mansidão no corpo e na alma, a ponto de estarem penetrados até à medula e até às veias, mas, quando chegam o sofrimento, as trevas, a dispersão interior, já não sabem para onde ir. Param de repente e daí não lhes vem nada. Quando chegarem os terríveis furacões, o deserto interior, a tentação exterior do mundo, da carne ou do Inimigo, aquele que souber passar através disso encontrará a paz profunda que ninguém lhe poderá arrebatar. Mas quem não tomar este caminho fica para trás e nunca saboreará a verdadeira paz. Eis quais são as verdadeiras testemunhas de Cristo.
Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:
- Tenho tido que enfrentar algum conflito “pelo nome de Jesus”?
- Habitualmente como manejo meus problemas?
- Que lições me dá Jesus para que, desde minha vida de discípulo, possa superá-los?
QUINTA-FEIRA
Lucas 21,20-28
Aprender a viver a esperança (IIi)
“Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que chegue aos gentios à sua hora”
O texto hoje nos põe ante ao evento culminante da história. Mas, atenção! Não se trata duma descrição exata sobre como vai se acabar o mundo, isso nunca o saberemos e Jesus nos ensinou que devemos viver o tempo presente interpretando, continuamente, os acontecimentos e perseverando na fé.
Quando a comunidade de Lucas escuta a frase “quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabereis, então, que se aproxima sua desolação” (21,20), isto já havia acontecido.
Ademais, se esperava que se falasse da destruição do Templo e se fala mais da ruína da Cidade Santa, que, para o Evangelho de Lucas é o lugar onde se cumprem as profecias. A ruína de Jerusalém não é o fim do mundo, mas uma prefiguração do juízo universal. Já, há seiscentos anos antes, Jerusalém havia vivido uma calamidade similar, nos tempos dos babilônios e esse fato havia sido interpretado pelos profetas como um juízo de Deus sobre o povo. A “fuga” de que fala o v.21, já a havíamos explicado como um desapego total dos bens terrenos ante a chegada imprevista do dia do Filho do homem.
Há uma frase que soa estranha: “são dias de castigo e se cumprirá tudo que está escrito” (v.22). Devemos prestar bem atenção em sua interpretação: com o vocabulário de “castigo” ou “vingança” se indica o juízo salvífico de Deus, que é, exatamente, o propósito do processo de revelação de Deus na história de salvação, o qual está testemunhado na santa Escritura.
O “ai” pelas mulheres grávidas (v.23) é um indício da gravidade deste tempo em que é urgente a conversão. E seguindo o vocabulário que usavam os profetas, Jesus se refere à queda de Jerusalém com termos como: “calamidade” ou “grande miséria”, “cólera”, “morte a espada”, “cativeiro entre as nações” e “Jerusalém será pisoteada” pelo pé de uma nação estrangeira (vv.23b-24).
A referência ao “tempo dos pagãos” é, provavelmente, uma alusão ao período no qual o Evangelho se prega a todas as nações ou, talvez, ao próprio juízo divino.
Os transtornos cósmicos de que falam os vv. 25.26, ensinam que, quando Deus deixa de sustentar o mundo, a ordem da criação se vê ameaçada e corre o risco de desabamento. A desestabilização do mundo tem efeitos sobre a humanidade: gera uma grande angústia porque todo o mundo teme ser engolido pelo abismo.
A sacudida dos céus da passagem à aparição do Filho do homem (v.27): “E então verão vir o Filho do homem com grande poder e glória”. É a vinda triunfal de Cristo, que vem, segundo a profecia de Daniel (7,13), a julgar o mundo. E conclui: “Quando começarem a acontecer estas coisas, dobrai o ânimo e levantai a cabeça porque se aproxima vossa libertação” (v.28).
Chegou a redenção final da opressão e da aflição do Povo de Deus. É a hora da justiça que esperam com alegria todos aqueles que hão sofrido na história.
Tenhamos esta certeza no coração: em um mundo onde vemos tantas maldades e onde nos dói tanto o não conseguir perceber com claridade como está agindo a justiça de Deus, é, exatamente, neste mundo, que Jesus, nosso Senhor Ressuscitado, culminará sua obra de justiça e fará com que reine a fraternidade e a vida.
Aprofundando com os nossos pais na fé
Jean Tauler (vers 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
“Sereis detestados por causa do meu nome mas nem um cabelo da vossa cabeça se perderá”. Jesus prometia sempre a paz aos seus discípulos, antes da sua morte e após a sua ressurreição, sempre a paz (Jo 14,27; Lc 24,36). Os discípulosnunca obtiveram esta paz vinda do exterior mas acolheram a paz na luta e o amor no sofrimento; e na morte encontraram a vida. E encontraram sempre um jubiloso triunfo quando, antes dessa morte, os interrogavam, julgavam, condenavam. Eram verdadeiras testemunhas. Sim, há muitos homens que estão totalmente cheios de mansidão no corpo e na alma, a ponto de estarem penetrados dela até à medula e até às veias, mas, quando chegam o sofrimento, as trevas, a dispersão interior, jánão sabem para onde ir. Param de repente e daí não lhes vem nada. Quando chegarem os terríveis furacões, o deserto interior, a tentação exterior do mundo, da carne ou do Inimigo, aquele que souber passar através disso encontrará a paz profunda que ninguém lhe poderá arrebatar. Mas quem não tomar este caminho fica para trás e nunca saboreará a verdadeira paz.Eis quais são as verdadeiras testemunhas de Cristo.
Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana:
- Que sentido têm os sinais da destruição de Jerusalém e a sacudida dos céus?
- Para que e como vem o Filho do homem?
- Como viver hoje o ensinamento de Jesus: “recobrai o ânimo e levantai a cabeça porque se aproxima vossa libertação”?
SEXTA-FEIRA
Lucas 21,29-33
Aprender a viver a esperança (IV)
“Quando virem acontecer estas coisas, saibam que está próximo o Reino de Deus”
Á noite segue-se o dia, ao inverno segue-se a primavera e o verão, à crise segue-se a maturidade e o sofrimento, a alegria da vitória.
O ensinamento de Jesus sobre a maneira de viver os tempos difíceis da história chega hoje a um ponto feliz. Descobrimos que só conhecemos um ponto de vista, porém, não a totalidade do rumo que toma a história sob as mãos de Deus.
Por trás de todos os acontecimentos, sem que consigamos percebê-lo, está surgindo um novo broto de vida. Assim acontece no inverno: a aparência das árvores é de morte e destruição, sem dúvida, por dentro está brotando a vida e com a chegada da primavera ressurge a força escondida da vida.
É importante que não fiquemos vendo o negativo. É verdade que o mal se nota mais que o bem. Pois o mesmo acontece quando chega primavera, os rebentos nas árvores são ainda pequenos, porém já podem ser vistos. É preciso aguçar a visão para destacar sempre o bom, sem ignorar o mal, porque ai está à obra de Deus.
Quiséramos ver as coisas de outra maneira, porém isto não é possível. A lógica do Reino é a lógica da semente, isto é, do crescimento progressivo. A lógica do escondimento não é a da ausência de Deus, mas a de sua definitiva e segura intervenção.
Os falsos profetas (de 21,8) pregavam que o “tempo está próximo”, parodiando o kerigma de Jesus. Agora é Jesus mesmo quem diz: “Quando vires que acontece isto saiba que o Reino de Deus está próximo” (21,31).
Esperamos que aconteçam mudanças radicais para o bem do mundo, porém não se deve confundi-las com a destruição, que é o que acentuam os falsos profetas, mas com a vida que Jesus está fazendo brotar no meio de todos os acontecimentos negativos da história.
A obra da salvação é tirar o bem do mal, não destruir o mal para reiniciar tudo com uns privilegiados. A obra da salvação é um dom de Deus e ao mesmo tempo de todos aqueles que com seu esforço, se mantém no seguimento de Jesus, vencem todos os dias seus pequenos combates pela autenticidade da vida. É tão claro que é no “hoje”, em nosso cotidiano, que começa a surgir o mundo novo, que Jesus disse: “Asseguro-vos que não passará esta geração até que tudo isto aconteça” (21,32).
Enfim, a promessa de Jesus Cristo (“minhas palavras …”), que é anúncio da salvação, será cumprida (“… não passarão”, 21,33), é questão de saber vê-la. Vale a pena seguir caminhando na esperança do Senhor Jesus!
Aprofundando com os nossos pais na fé
São Clemente de Roma, papa entre 90 e 100, aprox.
“Sabei que o reino de Deus está próximo.” Fixemos o olhar no Pai e Criador do mundo; liguemo-nos aos seus dons de paz e aos seus benefícios, que são magníficos, incomparáveis. Contemplemo-lo por meio do pensamento e consideremos com os olhos da alma a longa paciência dos seus desígnios; reflitamos na mansidão com que trata a criação inteira.[…] Pois distribui seus benefícios por toda a criação, mas prodiga-no-los de modo super abundante quando recorremos à sua misericórdia.[…] Tende porém, cautela, bem amados, não vão esses benefícios numerosos transformar-se em condenação para nós, se não vivermos de maneira digna dele.[…] Consideremos quão próximo se encontra de nós, não lhe escapando nenhum pensamento nosso, nenhuma deliberação interior. É justo, pois, que não abandonemos o nosso lugar contra a sua vontade.[…] Que ela não seja para nós a palavra que diz: “Infelizes daqueles cuja alma se encontra dividida, daqueles que duvidam em seu coração, daqueles que dizem: ‘Já ouvimos dizer isto no tempo dos nossos pais; mas eis que envelhecemos e nada nos aconteceu.’ Ó insensatos! Comparai-vos a uma árvore; tomai um cepo de videira. Começa por perder as folhas, depois nasce um rebento, depois uma folha, depois uma flor e depois a uva verde, e em seguida ali está a uva madura.” Vede como, em pouco tempo, o fruto da árvore atinge a maturidade. Na verdade, será rápido e súbito o cumprimento dos seus desígnios! Também a Escritura o testemunha: “A sua hora está para chegar, os seus dias já estão contados” (Is 13, 22); bem como: “Imediatamente entrará no seu santuário o Senhor que vós procurais” (Ml 3.1).
Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:
- Qual é a lição da figueira?
- Analisando minha forma habitual de reagir ante os fatos de todos os dias, a quem dou mais importância, ao negativo ou ao positivo?
- Minha fé é forte na fidelidade e no poder da Palavra de meu Senhor?
Ponho nela minha esperança?
Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM