ESTUDO BÍBLICO NA 5ª SEMANA DA PÁSCOA ANO B 2024

ESTUDO BÍBLICO NA 5ª SEMANA DA PÁSCOA ANO B 2024

Um apoio para a Lectio Divina 5ª Semana da Pascoa – Ano A


SEGUNDA-FEIRA

João 14,21-26

A GLORIOSA HABITAÇÃO DE DEUS NO CORAÇÃO DO CRENTE.

“Viremos a Ele e faremos, nele, morada”

Seguimos com o capítulo 14 do Evangelho de João, que começamos a ler sexta-feira passada. Aqui nos apresenta a primeira parte do discurso de despedida de Jesus.

O ambiente, já o descrevemos, é o da tristeza.  Jesus, em uma conversa tranquila e prolongada com seus discípulos sentados na mesa da última refeição com os seus -que se converteu em uma ceia de despedida- está consolando seus corações e mostrando-lhes como viverão as relações de discipulado com Ele a partir da experiência da ressurreição.

Na conversa interage Jesus com seus discípulos a partir das perguntas ou as solicitudes que eles lhe fazem. Podemos distinguir três perguntas:

  • A de Tomé: “Senhor, não sabemos aonde vais, como podemos saber o caminho?” (14,5);
  • A de Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e nos basta” (14,8);
  • A de Judas (Tadeu): “Senhor, por que te manifestas nós e não ao mundo?” (14,22).

A passagem de hoje é a resposta da terceira pergunta.  Nela, Jesus mostra a seus discípulos (e a nós) de que maneira sua glorificação não é um abandono de sua comunidade, como se criara uma distância entre o céu e a terra.

Jesus disse contundentemente que seus discípulos não ficariam como órfãos do Mestre, mas pelo contrário: completamente assistidos, resguardados e bem conduzidos.

Os ensinamentos de Jesus que vão aparecendo um atrás do outro, em uma significativa sequência, mostram que o Senhor ressuscitado é a máxima proximidade de Deus, que o Mestre há ficado morando, não junto com, ao lado de, senão em, dentro dos discípulos.

Nós hoje podemos dizer que somos mais afortunados que os primeiros discípulos de Jesus, que o conheceram fisicamente, ao contrário nós o levamos dentro de nós.

Que é que faz possível esta experiência grandiosa?  É a obra do Espírito Santo em nós, o Espírito a quem Jesus chamou o “outro Paráclito”, o “Consolador”, o “Auxiliador”. A apresentação de cada uma das partes, desta magnífica passagem, o faremos no próximo domingo.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

S. Gregório Magno (cerca de 540-604), Papa, doutor da Igreja

“O Espírito Santo vos ensinará tudo; ele vos recordará tudo o que Eu vos disse”

É o Espírito Santo que vos ensinará tudo. Porque, se o Espírito não tocar o coração dos que escutam,

é vã a palavra dos que os ensinam.

Que ninguém atribua a um mestre humano a compreensão que tem do seu ensinamento. Se o Mestre interior não agir, a língua do mestre exterior que fala trabalhará no vazio. Vós todos, que aqui estais, entendeis a minha voz da mesma maneira; e contudo não captais de igual forma o que ouvis.

A palavra do pregador é inútil se não for capaz de acender o fogo do amor nos corações.

Aqueles que diziam: “Não estava o nosso coração a arder enquanto Ele nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32) tinham recebido esse Fogo, da boca da própria Verdade.

Quando se ouve uma homilia, nosso coração anima-se e o espírito começa a desejar os bens do Reino dos Céus. O amor autêntico que o enche chega a arrancar-lhe lágrimas, mas este ardor enche-o também de alegria.

Como é bom ouvir este ensinamento que vem do alto e se torna em nós como um facho que arde, que nos inspira palavras inflamadas! É o Espírito Santo o grande artífice destas transformações em nós.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. A casa de Jesus (a comunidade) não fica desprotegida. Contudo, os discípulos expõem três inquietações profundas. Quais são as minhas?

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  • O evangelista João dá importância às preposições para explicar a mudança que opera a Ressurreição de Jesus sobre a relação com os discípulos. Que diferença há entre o “junto com” (Jesus) e o “em” (Jesus)?

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Que implica para o seguimento de Jesus?

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  • Como garante Jesus, sua “permanência” com a comunidade no tempo em que já não está “visível”, precisamente, pela Ressurreição?

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TERÇA-FEIRA

João 14,27-31a

UM NOVO PONTO DE VISTA SOBRE A CRUZ.

“O mundo há de saber que amo o Pai”

Ao longo do capítulo 14, a partir das três perguntas dos discípulos, Jesus corrige um a um os maus entendidos que estes têm sobre sua partida. A resposta de Jesus os leva a reconhecer sua morte como regresso ao Pai e como o começo de uma nova forma de presença.

Sua partida traz novas bênçãos e promessas que haverá que acolher com atenção e amor.  O “ser discípulo”, no tempo pascal, supõe basicamente observar estes ensinamentos com uma confiança total.

Porém a todo o fato (ver João 14,22-29; as “pistas” a encontramos no próximo domingo), Jesus agrega qual é seu ponto de vista sobre o mistério da Cruz.

  •   Uma aparente derrota

“Chega o Príncipe deste mundo. Sobre mim não tem nenhum poder” (14,30b).

A morte de Jesus (e não é senão ver todos os detalhes externos do relato da Paixão) poderia parecer à vitória do príncipe deste mundo e das potências das trevas, o triunfo de seus adversários que se fecharam a Ele; matando-o, na prática realizam a obra do demônio (8,40-41).

Mas Jesus não é abatido por estes poderes contra sua própria vontade. Ele assume voluntariamente sua própria morte, porque sabe que é o caminho que o Pai estabeleceu para Ele (10,18).

  • Um sublime amor

“o mundo tem de saber que amo o Pai e que faço segundo o que o Pai  me ordenou” (14,31)

Sua morte é um sinal de seu amor pelo Pai, que se manifesta na obediência a seu querer.  Se o mundo deve dar-se conta disto, muito mais os discípulos. Crendo, eles devem compreender que a morte de Jesus, que tanto lhes inquieta, é seu retorno ao Pai e a perfeita expressão de seu amor por Ele.

  •  Uma enorme segurança

Com a evocação da Cruz, Jesus tem falado a seus discípulos do que passará antes que o Espírito Santo venha. Falou de si mesmo, porém, também disse como os discípulos devem assumir a eventualidade.

Duas pontuações:

Primeiro Jesus deve ir ao Pai antes que o Espírito venha

Isto fará que os discípulos se alegrem: “Se me amais vos alegrareis de que Eu vá ao Pai, porque o Pai é maior que Eu” (14,28). Em outras palavras: “Se me amais, vos alegrareis, porque o que estou fazendo é para libertá-los da agonia, das angústias, das debilidades que assombram suas vidas”.

Quando morre um ser querido alguém deve pensar que morreu para entrar na glória. Porém nos esquecemos de entrar no gozo e na paz do Senhor e começamos a sentir pesar de nós mesmos.

Porém Jesus disse: “Se me amais, vos alegrareis de que me vá ao Pai, porque pela a ressurreição eu lhes darei forças para superar todas as vossas limitações”. Por isso o regresso ao Pai deve ocorrer antes que o Espírito venha.

Segundo, o Espírito Santo virá depois que o demônio (o príncipe deste mundo) for vencido. 

O resultado é “Contra mim ele nada pode” (14,30b).  A vitória é absolutamente certa, dai que os discípulos devem enfrentar a morte com confiança. Nisto há uma lição para os discípulos “medrosos”. O Mestre disse: “Eu faço segundo o Pai me tem ordenado” (14,31ª). Aqui há um exemplo do amor obediente, com o qual Jesus quer que o sigamos.

Venceremos quando colocarmos todos os nossos combates dentro do caminho de obediência ao Pai como Jesus e em Jesus.  É aí aonde vem o Espírito Santo, para fazer real a presença de Jesus, para explicar-nos as palavras de Jesus, para conceder-nos a paz de Jesus.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Com base Jesus assegura que a Cruz será a derrota do Mal?

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Em que me apoio para derrotá-lo?

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  • De que maneira concreta Jesus expressa seu apaixonado amor pelo Pai?

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Como eu expresso?

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  • Com que atitude nós deveríamos enfrentar a morte: dos seres queridos e a nossa?

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QUARTA-FEIRA – São José Operário

Mt 13,54-58

 “Não é ele o filho do carpinteiro?” ( Mt 13, 55)

                    Esta é a pergunta que nós ouvimos no Evangelho referente a Jesus. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. O filho de Deus se fez homem e quis em tudo, até mesmo no trabalho, assemelhar-se conosco, menos no pecado. Do Cristo trabalhador, operário de Nazaré, brota a santificação e dignidade do trabalho!

Prezados irmãos e irmãs, Povo de Deus aqui reunido para celebrar a alegria de nossa fé; prezados padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, amigos e amigas, trabalhadores e trabalhadoras. Prezado Sr. Orlando Morando, Prefeito Municipal de São Bernardo do Campo, senhores vereadores e demais autoridades aqui presentes.

  1. Hoje, a nossa Igreja nos chama para contemplar Jesus que trabalha na oficina de Nazaré como simples operário. Isto nos faz refletir sobre o trabalho humano, sua dignidade e valor. O trabalho é um dever de todos. Para o cristianismo, este dever se funda num dupla vocação que o homem recebe de Deus:
    a) A vocação de completar e prolongar, pelo trabalho, a obra da criação: “Assim nunca se acabam as obras de Deus” (Ec 38,8).
    b) A vocação de realizar a sua própria plenitude, pelo desenvolvimento de suas energias físicas e espirituais.

A Bíblia nos ensina que o trabalho pode ser penoso, mas nos faz crescer em experiência e purifica nossa vida. Além disso, o trabalho é também um direito, conforme a Declaração dos Direitos Humanos aceita pelos membros das Nações Unidas e firmado em 1948. É obrigação social dos governantes assegurar trabalho para todos. Na visão cristão trabalho não é somente ter um emprego para ganhar dinheiro, mas o trabalho é a atividade do ser humano que o faz sentir-se vivo, sentir-se útil e realizado.

  • Nós hoje nos recordamos de São José que era carpinteiro, conforme o testemunho dos Evangelhos. E como na época de Jesus, o filho herdava a profissão do pai é certo que Jesus foi carpinteiro em algum momento. O fato de Jesus ter trabalhado nos mostra que o trabalho não é maldição, mas a maldição é não poder trabalhar ou trabalhar de forma indigna sem receber o que precisa para viver com dignidade. Em 1955 o Papa Pio XII proclamou São José patrono dos operários e instituiu a festa que hoje celebramos.

Em São José vemos brilhar as virtudes do homem justo que ora e trabalha. Seu trabalho é expressão do amor a sua família. Com o trabalho de suas mãos José provou seu amor a Maria sua esposa e a Jesus seu filho adotivo. José provou também que o homem não é escravo porque deve trabalhar, mas se torna escravo por ser obrigado a trabalhar sem esperança e sem recompensa. José trabalhou e com seu trabalho sustentou aquele que nos dá toda esperança: Jesus. Ele também pode nos dar a recompensa absoluta: a vida eterna. O trabalho é lei de Deus, direito da sociedade e dever que honra à pessoa. O sistema econômico que nos rege se esquece que ao roubar o trabalhador, ao roubar o valor do seu produto que é a mão de obra, mata-o pouco a pouco (cf. Eclo 34,22). O homem é trabalhador, mas é também uma pessoa e deve poder viver a fraternidade através do seu trabalho.

3.Estamos vivendo um momento dramático em nosso país, no que diz respeito ao trabalho. É importante repetir isso diante do desemprego que vivemos e que atinge 14% da população ativa do país. Vivemos uma tragédia: o desemprego Numa crise sem precedentes aumenta cada dia o sofrimento de nosso povo, em especial os mais pobres. Deus cobrará certamente, cobrará como cobrou de Caim ao perguntar-lhe: “Onde está seu irmão?” (Gn 4,9).

É preciso com muita coragem perguntar sobre a responsabilidade de cada um de nós em tudo o que está acontecendo. Será que não nos omitimos em muitos momentos? Será que não exigimos somente direitos sem se importar de cumprir nossos deveres? Será que o famoso “jeitinho brasileiro” não acaba alimentando a corrupção em todos os níveis? Será que o individualismo em tempos de bonança, e o querer levar vantagem em tudo, não acaba atrapalhando nossa maturidade social e gerando alienação.

4.No entanto é preciso não desanimar, não perder a esperança. Jesus, o filho do carpinteiro, está conosco. Nós somos convidados a ouvir sua Palavra que nos ajudará a encontrar a luz no fim do túnel. Longe da Palavra de Deus e da fé, não iremos a lugar nenhum. Mas com a Palavra de Deus ouvida, meditada e praticada, poderemos reerguer nossa sociedade descortinando um mundo de solidariedade e paz para todos. Este é o mundo que Deus quer e que nós queremos como fruto da justiça.

Estamos também com a Reforma Trabalhista para ser votada definitivamente no Congresso. É evidente que toda lei de tempo em tempo precisa ser atualizada. As Leis Trabalhistas do Brasil também precisam ser atualizadas para poderem servir e fazer progredir a relação entre trabalho, trabalhadores e empregadores. Porém, toda reforma deve ser feita dialogando com a sociedade. Uma reforma desta envergadura não pode ser imposta. Nem pode ser feita sem cortar privilégios e desperdícios, em uma cultura que propõe como objetivo é levar vantagem em tudo e não o trabalho pelo bem comum! Como um pai de família, antes de cortar qualquer direito dos mais pobres (filhos), deve também começar a cortar na própria carne, os altos salários e privilégios, mordomias.

A Palavra de Deus nos convida a bendizer a Deus em tudo o que fizermos. Fazer e trabalhar em primeiro lugar para Deus que é o Senhor de tudo porque Deus recompensará a cada um como seus “herdeiros” e servidores de Jesus Cristo (Cl 3, 22-25). A palavra de Deus nos adverte também que: quem faz injustiça receberá de volta a injustiça (cf. Cl 3,25).

Que esta nossa celebração nos comprometa a levar á sociedade o fermento cristão da justiça do Reino de Deus que está no Evangelho. Não podemos excluir Deus de nossa sociedade porque do contrário ela não terá futuro. Trabalhemos pelos direitos de Deus e pelos direitos dos pobres. AMÉM

Dom Pedro Carlos Cipollini

Bispo de Santo André-SP

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QUINTA-FEIRA

João 15,9-11

PERMANECER EM CRISTO (II): UMA UNIÃO NO AMOR.

“Permanecei em meu amor”

Ontem começamos a abordar a obra que o Pai está fazendo em nós para que geremos vida. O Senhor quer nossa integridade de vida, nossa santidade, que não há tristeza nem decepção senão serenidade, amor e alegria.

Já em 15,4 se diz a palavra chave: “Permanecer”. Os vv.4-5 dizem: “Permanecei em mim, como Eu em vós… porque separados de mim não podeis fazer nada”.  Isto quer dizer que a chave está no “permanecer” em Cristo, eis ai o núcleo da obra do Pai em nós.

Ao passar a seção de Jo 15,9-11, se dá um passo adiante: a dinâmica do amor aparece com todos seus protagonistas, em seu duplo movimento de ser amado e amar e com o resultado desta experiência:

  • O amor fundante ou “amor primeiro” (v.9a);
  • A resposta ao “amor primeiro”: “permanecei em meu amor” (vv.9b-10);
  • O resultado do amor: a plenitude da alegria (v.11).

Nesta passagem vamos ver a centralidade de Jesus: de que maneira Ele nos “pertence” e como se “pertence” a Jesus.

O certo é que se isto acontece, sua vida em nós começará a produzir o fruto do Espírito Santo em nossas vidas.

1. O amor fundante ou “amor primeiro”: Ser “amado”

O amor recebido é o que nos faz capazes de amar.  É assim como Jesus nos conta o segredo de sua vida, de sua alegria, de sua fecundidade missionária, Ele disse: “Sou amado”: “Como o Pai me amou, Eu também vos tenho amado” (v.9). 

Igualmente o discípulo que tem sido amado, também deve apresentar-se dizendo “Eu sou um que tem sido amado”.

Quando Jesus diz isto, está se referindo a três coisas:

  • origem do amor: há um rio de amor divino que vem do coração do Pai, que desce através do Filho e

                         chega aos discípulos. Todo amor autêntico vem de Deus.

  • modelo do amor: o amor do Pai pelo Filho é a fonte e modelo do amor de Jesus por seus discípulos.
  • intensidade do amor: o “assim como”, com o qual Jesus começa sua frase, implica também que

                                 o amor entranhável do Pai e do Filho, que é o mais estreito possível, que é

                                 perfeito e que vem da eternidade (João 1,1.18), é o amor que Jesus oferece a

                                 seu discípulo.

A primeira frase de Jesus é importante e poderíamos reler assim: “Não importa se as mediações do amor no mundo têm fracassado (teus pais, teu marido, teus superiores). O que importa é que a fonte do amor (que passa através dessas mediações) está aí te amando. Dar-te conta, tu, de quanto teu Pai Deus te ama em Jesus; tu lhe pertences; o Pai te ama, Jesus te ama; tu és precioso a seus olhos; a obra de Jesus em ti hoje é ajudar-te a descobrir tudo o que o Pai Deus tem feito por ti”...

2.  A resposta ao “amor primeiro”: “permanecei em meu amor” (vv.9b-10)

O amor pede reciprocidade. Para a amizade se necessita dois. Por isso, a frase seguinte de Jesus é um convite a responder ao amor. Refere-se a três decisões que deve tomar o discípulo em relação a Ele:

  • Primeira decisão: Deixar-se amar

Permanecer em seu amor é inserir-se n’Ele, é entrar em uma estreita comunhão de vida com Ele, acolhendo todos os sinais de seu amor, quer dizer, deixando-se amar tal como o tem querido fazer conosco.

A relação com Jesus não pode ser abstrata, supõe a tomada de consciência das formas concretas como nos tem amado e nos segue amando.

  • Segunda decisão: Atuar segundo o querer de Deus

Permanecer em seu amor é querer o que Ele quer. Ao amor “primeiro” se responde com obediência. “Obedecer” é saber responder. Isso significa que se tem captado a mensagem do amor e se entra em uma incrível sintonia. Ou seja, quando se ama a alguém sempre quer fazer o que lhe agrada, quer vê-lo feliz. Essa é a resposta esperada que Jesus expressa como “guardar seus mandamentos”.

  • Terceira decisão: Ser como Jesus

Permanecer em seu amor é dar solidez a toda nossas relações, dando-lhes a força interna do amor do Filho que permaneceu no amor do Pai, também Ele pela via concreta (e não sentimental) do “guardar seus mandamentos”.

O tipo de resposta que Jesus deu ao amor do Pai é o modelo da resposta dos discípulos ao amor de Jesus (há que ler todo o Evangelho para vê-lo em concreto). A Jesus se ama “insere n’Ele”- encarnando a maneira como Ele costumava responder ao Pai: com sua práxis do Reino.

Estas três decisões do discípulo frente ao amor recebido, não são momentos pontuais, mas ações constantes é o modo como se cultiva a “responsabilidade” (isto é a resposta ao amor). O amor se baseia na responsabilidade.

Com alguma freqüência, constatamos, hoje, dois problemas que têm relação com o que Jesus está ensinando:

  • a inconstância no amor;  
  • a irresponsabilidade.

Com relação à primeira, notamos que as relações (de casal, de amizade, os votos) se tem tornado descartáveis, trazendo imensa dor às partes e deixando sequelas que se arrastam por toda a vida, deteriorando tudo em volta. As relações são frágeis e em muitos casos praticamente “insustentáveis”.

Com relação à segunda, notamos também que o sentimento prima sobre o compromisso.

Frente a isto Jesus disse: “permanecei”, ou seja:“Tu sofres porque teu verdadeiro interesse tem sido o de amar de verdade, sofres porque teu coração de ouro tem sido lastimado; hoje te digo que, sim, é possível construir relações sólidas, estáveis; não és o objeto da carência de alguém que te usou para satisfazer-se e logo descarta; não és mais a vítima de uma imaturidade tua ou de teu amigo, que te levou a tomar decisões equivocadas; te convido a experimentar a solidez, a intensidade, a constância, a satisfação, a felicidade que caracteriza minha relação com Pai; o verdadeiro amor tem sabor de eternidade e isto é o que Eu te ofereço”.

3. O resultado do amor: a plenitude da alegria (v.11)

Vos tenho dito isto, para que minha alegria esteja em vós, e  vosso gozo seja pleno” (v.11).

O objetivo do Evangelho é encher-nos de alegria o coração.

Como podemos caracterizar esta alegria?

Se olharmos bem o texto notaremos um tríplice movimento que vai desenvolvendo o tema:

  • É a alegria de Jesus: “minha alegria”. Parte d’Ele a alegria.
  • Jesus compartilha sua alegria a seus discípulos: “para que esteja em vós”.
  • Então a alegria do discípulo começa a crescer: “para que vosso gozo seja pleno”.

A vida cristã é uma vida de alegria que tem sua raiz na certeza de ser plenamente amados, muito mais do que podemos imaginar ou esperar, e no abandono da vida –por nossa parte- nos braços de Deus.

Brota então um grande sentido de confiança, de segurança, de plenitude e fortaleza interior. É a alegria de Jesus na nossa, como está sua vida na nossa, como está seu amor em nosso amor.

Quando se olha o panorama, se descobre com grande satisfação que, apesar de todas as circunstâncias que vivemos, no mundo há pessoas que tem entendido que a maior alegria da vida está em causar alegria aos demais, elas têm descoberto o lugar justo para realizar sua vocação de amor e de serviço, fazendo de sua vida algo bom para os demais.

Esta alegria dá entusiasmo, gera criatividade e valentia para realizar novos projetos. De repente somos capazes de renúncias que para outros são humanamente inexplicáveis.

Porque sabemos ser muito amados por Deus, nos sentimos impulsionados a amar muito mais, muitos temores se desvanecem e a vida então se enche de sentido no gastar-se pelos demais. Em tudo o que fazemos, o fogo do entusiasmo arde por dentro!

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Como é uma vida em comunhão com o Senhor?

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Como se relaciona o “permanecei em mim e eu em vós” com a Eucaristia?

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  • Minhas relações duram?

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Tenho vivido alguma ruptura dolorosa?

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Que me disse Jesus a respeito?

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  • Considero-me uma pessoa feliz?

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De onde provém a alegria que oferece Jesus?

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SEXTA-FEIRA

João 14,6-14 – São Felipe e São Tiago apóstolos

Como S. Pedro e S. André, Filipe era natural de Betsaida. O seu nome grego deixa supor que pertencia à comunidade helenista. Foi dos primeiros discípulos a ouvir o chamamento do Senhor: “Segue-me”. Pôs-se imediatamente ao serviço do Senhor e, bem depressa, começou a dedicar-se à missão. Segundo a tradição, S. Filipe evangelizou a Turquia, onde morreu mártir.

S. Tiago, o Menor, filho de Alfeu, era primo de Jesus e escreveu a Carta de Tiago. Foi testemunha privilegiada da ressurreição do Senhor (cf. 1 Cor 17, 7), ocupando um lugar proeminente na comunidade de Jerusalém. Depois da dispersão dos Apóstolos, nos anos 36-37, aparece como chefe da igreja-mãe (At 21, 18-26). Morreu mártir por volta do ano 62, sendo precipitado pelos Judeus do Templo e lapidado como Estêvão. Na sua carta, deixou-nos o testemunho da prática da Unção dos Enfermos já nos tempos apostólicos.

O evangelho transmite-nos o diálogo entre Jesus e Filipe, precedido da auto revelação de Jesus a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (v. 6), para chegar ao Pai. Jesus também fala a Filipe do Pai. Por meio de Jesus, podemos conhecer o Pai, desde já, podemos “vê-lo” e assim acreditar na total comunhão que une Jesus a Deus Pai. As palavras de Jesus revelam-nos a comunhão que o liga ao Pai. Acolhê-las é aplanar a estrada para chegar ao Pai. O mesmo se diga das obras de Jesus. Acolhidas na fé, também são caminho para compreender a identidade de Jesus, a sua relação com o Pai e a nossa relação com ambos.

MEDITAÇÃO

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim.” (v. 6). Atraindo-nos para Jesus – “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair” (Jo 6, 44) – o Pai revela-nos que, para ir para Ele, é preciso passar pelo Filho, porque o Filho é o caminho, Aquele que revela o Pai, comunica a vida do Pai e conduz até Ele.

No evangelho, Jesus revela-nos o seu coração, o desejo ardente de nos fazer conhecer o Pai, e a consciência que tem de ser o verdadeiro revelador do mesmo Pai: “Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, ‘mostra-nos o Pai’? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?” (vv. 9-10).

Em todo o homem há um desejo vivo de ver a Deus. Os salmos fazem eco desse anseio profundo: “Quando poderei contemplar a face de Deus?” (Sl 42, 3); “Quero contemplar-te… para ver o teu poder e a tua glória.” (Sl 63, 3). Conhecer alguém por ouvir dizer, é pouco. Encontrar-se com uma pessoa, vê-la, dá um conhecento mais profundo da mesma. Lemos no seu rosto os seus sentimentos, o seu amor, a sua bondade, tudo o que há de vivo nela. É a partir desta experiência humana que nasce em nós o anseio profundo de ver a Deus.

O Novo Testamento diz-nos que a visão de Deus, que nos permite contemplar o invisível, o inacessível e continuar vivos, é possível vendo Jesus, o Filho de Deus feito homem, imagem do Deus invisível, rosto humano de Deus. Jesus é o revelador do Pai. É este o seu mistério mais profundo. O Pai está em Jesus e Jesus está no Pai. O Pai manifesta em Jesus, não só na sua presença no meio de nós, mas também, e sobretudo, na sua morte e ressurreição. A primeira leitura sugere esta aproximação. Jesus ressuscitado manifestou-se, apareceu: “Cristo ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez… apareceu a Tiago. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a
um aborto.” (vv. 4-8). Jesus ressuscitado mostrou-se e mostrou o Pai. Ele é a mais completa visão de Deus: “Quem me vê, vê o Pai” (v. 9). É claro que, para nós, Jesus ressuscitado não é uma pessoa que se veja como outra qualquer. A nós, aplica-se a frase com que João encerra o seu evangelho: “Felizes os que crêem sem terem visto!” (Jo 20, 29). A nossa visão de Jesus não é uma visão sensível, mas de fé. Contemplar as imagens de Jesus pode ajudar-nos. Mas são os olhos do coração que O alcançam. A visão de Deus é uma visão do coração. Só se pode vê-lo com o coração, o Coração de Jesus!

 ORAÇÃO 

Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto e seremos salvos! Queremos acolher a salvação contemplando o vosso rosto, paterno e materno, cheio de misericórdia. Contemplando-o, queremos penetrar na ternura do vosso coração. Procuro o vosso rosto, Senhor! Mostrai-me o vosso rosto. A vossa glória, Senhor, refulge no rosto do vosso Cristo, que tem um rosto humano, semelhante ao meu, semelhante ao dos meus irmãos. Que eu saiba contemplar o vosso rosto também no rosto dos meus irmãos e irmãs, dos que vivem comigo, trabalham comigo, daqueles para quem eu vivo e trabalho. Ámen.

  CONTEMPLAÇÃO: 

S. Tiago deixou-nos a sua bela epístola dirigida a todas as Igrejas. Nela descreve, de um modo luminoso, a vida cristã, tal como a praticava diariamente. Estabeleceu a necessidade das boas obras, recomenda a constância nas provações, a caridade para com o próximo, o bom uso da língua. Fala do sacramento da Santa Unção, que se dá aos doentes. Resume toda a vida cristã sob o nome de sabedoria que vem do alto, como S. Paulo a resumiu sob o nome de caridade. «A sabedoria é casta, diz, é modesta, pacífica, dócil aos sábios conselhos, cheia de misericórdia, dedicada às boas obras. Evita os juízos temerários, as mentiras, a duplicidade. É sobretudo amiga da paz interior e do recolhimento que são a condição para escutar a voz de Deus e para praticar a justiça na pureza de intenção». Sim, é na paz interior, na união com o Sagrado Coração, que poderei praticar a vida de amor e de reparação que Nosso Senhor espera de mim. (Leão Dehon, OSP 3, p. 506).

AÇÃO 

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:

“Quem me vê, vê o Pai!” (Jo 14, 9).


SÁBADO

João 15,18-21

COMO AMAR EM SITUAÇÃO ADVERSA (I): AS ATITUDES.

Se o mundo vos odeia, sabei que a mim odiou antes que a vós

A primeira parte do capítulo 15 de João vai pregando progressivamente o tema do amor.  Agora, em Jo 15,18-20, nos encontramos com a outra cara da moeda: o ódio. Enquanto o amor diz “sim” ao outro e está feliz porque o outro existe, o “ódio diz não” e se esforça por eliminá-lo.

Precisamente quanto a evangelização (“vos tenho destinado para irdes e que deis fruto” 15,16), que será exposta pelo discípulo em meio de grandes dificuldades: oposições, pressão de todo tipo, perseguições, resistências da parte dos destinatários, entre outras.

Dai que tenha que aprender uma nova lição: como lidar com as pessoas e com as situações adversas. O comum é que uma pessoa que começa seriamente um caminho de fé em Jesus, rapidamente encontre resistências em sua própria família, entre seus amigos, nos círculos em que vive. 

No passado, quando eles compartilhavam suas alegrias reagiam positivamente, mas, apenas lhes falam de Cristo o rejeitam. Isto é o que se chama hostilidade do mundo e causa muito desânimo nos recém-convertidos. Na passagem de hoje Jesus nos ajuda a afrontar a hostilidade do mundo. Para isso, três coisas básicas nós devemos ter presentes:

1. Contemplar a rejeição do Crucificado (15,18)

O primeiro que há que fazer é compreender que não se trata de nada pessoal. Jesus disse: Se o mundo vos odeia, sabei que a mim tem odiado antes que…(15,18). Jesus também  viveu a rejeição e n’Ele não havia culpa. Não há que reagir com agressividade. É útil recordar que Jesus viveu a mesma experiência.

2. Tomar consciência de que se é um homem novo (15,19)

Logo Jesus disse que isto acontece porque o discípulo é agora uma pessoa diferente do que era antes. Por isso disse: “Se fosses do mundo, o mundo vos amaria; porém, como não sois do mundo, porque Eu os elegi e vos tenho tirado do mundo, por isso o mundo vos odeia (15,19).

O mundo não gosta do que é diferente. A sociedade sempre pressiona a que se configure segundo ela, para que se molde e ande igual à maioria. 

Não é demais recordar que quando a pessoa que inventou o guarda-chuva saiu pelas ruas de Londres ao final do século XIX, lhe atiraram pedras e tomates porque era diferente. O mesmo passou a primitiva Igreja (1 Pe 4,3-4).

Quando um discípulo se une a Jesus, tanto mais se afasta dos critérios de vida de mundo, tanto mais é visto como uma pessoa estranha. Tenhamos presente que com o termo “mundo” não se está falando da humanidade que não pertence ao grupo dos discípulos e à qual hão sido enviados.

O “mundo” são as pessoas que se fecham em si mesmas e não estão interessadas em saber nada de Deus como um Pai nem de seu Filho Jesus, não lhes diz nada sua mensagem de amor nem seus ensinamentos.  Os discípulos têm que saber que se encontram pessoas assim em seu caminho e que não devem deixar-se pôr em crises pelo fato de que elas os rejeitam, lhes critiquem e os ataquem.

3. Olhar adiante, desde a perspectiva do seguimento (15,20)

A perseguição não pode ser evitada, porém pode ser manejada com uma atitude cristã distinta. Ainda nisto o comportamento de um discípulo deve ser diferente ao de uma pessoa do mundo. Por isso Jesus chama a atenção em seguida sobre o seguimento d’Ele: “Recordai-vos da palavra que vos tenho dito: O servo não é mais que seu Senhor” (15,20ª).

O discípulo compartilha o destino de seu Mestre: Se a mim perseguiram, também perseguiram a vós; se guardaram minha Palavra, também guardarão a vossa (15,20b).  Precisamente esta é uma consequência de estar unidos a Jesus, como os ramos da videira: quanto mais se une um discípulo à graça de seu Senhor, tanto mais experimenta sua Cruz.

Todo este ódio do mundo há que vê-lo desde a raiz mais profunda: é continuação da cruz de Jesus. 

Não se pode eliminar a perseguição, ao menos da maneira como quisera. Porém também há boas notícias. Este último ponto é importante: “Se guardaram minha Palavra, também guardarão a vossa” (15,20).  Não se pode esquecer que muitas coisas boas passarão: haverá quem escute e mude.

O problema maior: a rejeição de Deus (15,21)

Jesus identifica a causa da rejeição: o problema é a rejeição da revelação de Deus feita por Jesus, “porque não conhecem ao que me enviou” (15,21b).A maior parte das perseguições acontece por isto, porque crêem que conhecem a Deus, porém na realidade não o conhecem.

O ponto aqui é importante, porque em Jesus tem havido uma revelação inédita do rosto de Deus. Manifesta-se assim um novo tipo de pecado. 

Com a revelação do Pai e de seu amor, realizado em suas palavras e obras de Jesus, faz possível um novo reconhecimento ou rejeição, um “sim” ou um “não” de qualidade até agora desconhecido.

Visto que Deus até o momento não era conhecido como Pai de Jesus, Ele não podia ser rejeitado como Pai. Mas, agora que foi revelada como Pai de Jesus, a rejeição desta revelação constituirá uma rejeição ainda mais profunda de Deus que era apenas conhecido genericamente (ver o v.24).

Nos versículos seguintes (vv.22-25), Jesus disse que seus detratores não têm desculpa porque ouviram suas palavras e viram suas obras. Então a condenação é dupla.

Ao rejeitar as obras de Jesus, rejeitaram o Pai. Disse então que foi para que se cumprisse a profecia: “odiaram-me sem motivo” (Sl 35,19; 69,4).

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Como se conectam entre si a união com Jesus e a rejeição do “mundo”?

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Em que aspectos tenho conflitos com o “mundo”?

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  • Qual minha reação quando alguém me despreza por minha opção por Jesus?

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  • Por que a revelação que Jesus faz do Pai faz possível um novo tipo de pecado?

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Que me disse isto?

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