ESTUDO BÍBLICO NA 7ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 7ª SEMANA DA PÁSCOA ANO C 2022

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

João 16,29-33

JESUS FORMA A COMUNIDADE (VI): UMA INCRÍVEL FIDELIDADE

“… Coragem: Eu venci o mundo!”

Com o epílogo do discurso de despedida de Jesus aos seus discípulos, chegamos a quinta e última lição de Jesus sobre a formação da comunidade pascal.

  1. Jesus resume sua obra

Jesus faz o resumo de sua obra no mundo a partir da descrição do duplo movimento de “vinda” e “regresso” ao Pai (16,28). Em um só olhar Jesus abraça seu caminho inteiro. É a partir deste horizonte que temos que entendê-lo.

Jesus se vai porque sua pátria é o Pai.  Sua estadia no mundo é passageira e sua amizade com os discípulos é apenas o começo de uma relação que se prolongará além da morte. 

O sentido de sua vinda ao mundo é o Pai: dar a conhecer seu rosto amoroso, abrindo ao mundo o caminho de acesso a este amor transformador que sacia o coração.

Jesus regressa ao Pai, porém não regressa sozinho. Todos os que o amam e creem n’Ele, serão acolhidos pelo  Pai em sua casa.

2. Jesus adverte sobre a frágil fidelidade dos discípulos

Justo no momento em que os discípulos fazem sua confissão de fé, (16,30), dispara o alarme. Os discípulos aparecem muitos seguros de si mesmos neste momento, porém dentro de pouco abandonarão o Mestre.

Jesus os adverte: (16,32a). Apesar da segurança externa neste momento em que se sentem animados pelos ensinos de Jesus, este deixa claro que a fidelidade e a firmeza interior deles não são completas. Os discípulos não devem confiar em suas emoções. Falta algo.

Só quando Jesus empreende o caminho da Cruz, no qual eles não o seguirão, entenderão o por quê.

De fato, Jesus percorre o caminho da Cruz sem seus discípulos, mas isto não quer dizer que vá só, com Ele irá o Pai (16,32b). Ainda na Paixão o Pai mostrará sua inesgotável fidelidade. Jesus tem confiança nisto. Na hora essencial o apoio virá do Pai e não dos discípulos.

  • Jesus promete sua fidelidade

Os discípulos dizem que amam Jesus, porém o abandonam. Ao contrário, a atitude de Jesus para com os discípulos é completamente diferente. A eles também esperam tempos difíceis, pois o caminho para o Pai terá muitos obstáculos (16,33b). Porém Jesus não os abandonará.

Jesus não se limitará a estar ao lado, mas estará salvando, fazendo presente neles sua vitória pascal. Tudo o que faz deste mundo, um “vale de lágrimas”, foi superado vitoriosamente, por Jesus: o ódio, as perseguições, a dor, a debilidade e a morte. Tudo.

Jesus faz sentir, agora, sua voz, poderosa, de Senhor ressuscitado, que diz: “Coragem!” (16,33c). Não diz que os discípulos serão preservados das tribulações, mas que ao pôr o olhar em Cristo Pascal, a vitória está assegurada. Na opressão, os discípulos terão paz e, na dificuldade, confiança. (16,33ª).

O olhar não pode se desviar de Cristo. Por isso, terá que seguir adiante no Evangelho: contemplando, com o discípulo amado, o caminho da Paixão gloriosa de Jesus e fazendo, com a comunidade o caminho da fé Pascal no dia da ressurreição. 

O discurso acaba aqui, porém não o caminho.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Qual o sentido da “vinda” ao mundo e do “regresso” de Jesus ao Pai? Que implica para nós?

2. Que disse Jesus aos seus discípulos no momento que começa a cantar a vitória antecipada?

3. Com que atitude nós temos que seguir no caminho do discipulado ao longo de toda a vida?

TERÇA-FEIRA

Lucas 17,39-56

Ao longo do ano, a Igreja celebra com alegria as festas em honra da Santíssima Virgem. O mês de maio é dedicado a Maria, a Mãe de DEUS. Nesse mês devemos reforçar a nossa devoção a Nossa Senhora honrando-A de modo especial: venerando Suas imagens e adornando Seus altares com flores, visitando Seus santuários, usando vestes de cores azuis e brancas durante todo o mês, rezando o terço meditado, enfim, a cada dia podemos ter um detalhe de amor a Nossa Senhora.

De acordo com a Exortação Apostólica Marialis Cultus do Santo Padre Paulo VI para a reta Ordenação e Desenvolvimento do Culto à Bem-Aventurada Virgem Maria:

 “Na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e dependente d’Ele: foi em vista d’Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, A escolheu Mãe toda Santa e A plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos. A genuína piedade cristã, certamente, nunca deixou de pôr em realce essa ligação indissolúvel e a essencial referência da Virgem Maria ao Divino Salvador . … Isto concorrerá, sem dúvida, para tornar mais sólida a piedade para com a Mãe de Jesus e fazer Dela um instrumento eficaz para que alcancemos todos “o pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem perfeito, a medida da plena estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13).

No dia 31 de maio comemoramos a Festa da Visitação de Nossa Senhora, o segundo mistério gozoso do Rosário. Iniciada por São Boaventura entre os franciscanos, em 1263 d.C., tornou-se uma festa universal em 1389, durante o pontificado de Urbano VI para promover, com a intercessão de Maria, a paz e a unidade dos cristãos divididos pelo grande cisma do Ocidente.

Nessa data, comemora-se a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel, quando soube, no momento da Anunciação do Arcanjo Gabriel que Isabel estava grávida:

 “Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril porque a Deus nenhuma coisa é impossível. (Lc 1,36-37)
Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela. (Lc 1,38)]


Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 39-45)

“…a visita da Virgem Maria a Isabel teve por objetivo não apenas santificar João Batista por meio do Verbo encarnado – Jesus – que Maria trazia em Seu ventre, mas também, demonstrar Sua atitude em servir.”

Em Lc 1,38, podemos notar que Maria, ao se declarar serva do Senhor, aceita sua missão de co-redentora da humanidade, pois se coloca à disposição da ação de DEUS e por isso canta o seu Magnificat. Cabe ressaltar, que a visita da Virgem Maria a Isabel teve por objetivo não apenas santificar João Batista por meio do Verbo encarnado – Jesus – que Maria trazia em Seu ventre, mas também, demonstrar Sua atitude em servir. Maria, modelo de caridade que todos nós devemos imitar. Nessa passagem, fica bem claro que Nossa Senhora está atenta às nossas necessidades e vem sempre ao nosso encontro. Como Mãe caridosa, está sempre disponível, basta que A clamemos:

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres, bendito é o fruto em Vosso ventre, Jesus. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.”

Nas palavras de São João Paulo II, conforme sua homilia na missa no dia da Visitação de Maria em 31 de maio de 2001:

Onde está Maria, está Cristo; e onde está Cristo, está seu Espírito Santo, que procede do Pai e Dele no mistério sacrossanto da vida trinitária.

Tudo em Maria é dom de DEUS. Portanto, podemos concluir que a Visitação representa um preâmbulo de Pentecostes, uma apresentação sucinta do projeto salvífico de Deus.

Peçamos a Maria, Templo da Santíssima Trindade, que nos ensine a levar a Boa Nova do Seu filho Jesus às outras pessoas e a servir ao próximo.

Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

QUARTA-FEIRA

João 17,11b-19

A ORAÇÃO DO BOM PASTOR (II).

“Cuidar em teu nome os que me tens dado”

  1. O contexto da oração de Jesus

É noite, véspera da Páscoa, que é a festa da lua cheia, de maneira que o rosto de Jesus se vê resplandecer, sob a luz intensa da lua, no momento de sua oração. Pelo tom de suas palavras notamos sua ternura e sua pressa de bom pastor.

E esse amor profundo e o sentido de responsabilidade, que em diversas ocasiões manifestou por seus discípulos (Jo 10,27-30), o notamos também agora em sua oração com o olhar cravado no Pai que é a fonte de sua vida, de sua missão, de seu amor capaz de ir até a entrega extrema.

Jesus ora em voz alta, que também o escutem seus discípulos, lhes dá permissão para que conheçam seu coração orante, para que compartilhem sua intensa relação com o Pai e para que saibam o que quer deles.

Jesus ora em voz alta, para que sua oração se prolongue em nossa própria oração. Por esta razão, a oração de Jesus em Jo 17 é uma verdadeira escola de oração que, além de “oração sacerdotal”, também podemos chamar: “a oração do Bom Pastor”.

As ovelhas “escutam sua voz” e o seguem em sintonia com seu coração, fazendo eco na história à voz, às atitudes e compromissos revelados em sua oração.

  • Como Jesus ora

A oração de Jesus em  Jo 17, se desenvolve em três círculos, que são relacionais: primeiro se centra na pessoa e na missão de Jesus com relação ao Pai, logo depois na relação de Jesus com os onze discípulos que ficam – sob a luz do amor do Pai -, e finalmente na relação de Jesus e sua comunidade com os discípulos que ingressarão à comunidade nos tempos futuro, entrando na família do Pai.

Em cada etapa da oração vai entrando novos personagens, temas e súplicas que -cumulativamente- confluem e se inter-relacionam até criar um conjunto único e tridimensional no qual o mundo inteiro é relido desde o telão de fundo da obra salvífica de Deus. E aí dentro, cada um de nós ocupa um lugar.

Observemos os três movimentos da oração de Jesus:

  • Jo 17,1-5: Jesus ora por sua própria glorificação, de maneira que possa cumprir a obra que iniciou com seus discípulos;
  • Jo 17,6-19: Jesus ora pela comunidade que tem formado. Os vv.6-10: Faz memória a tarefa realizada até esse momento, e o fato de ter sido acolhido por seus discípulos, vv.11-19: Pede ao Pai que proteja, em seu nome, os discípulos e que os santifique na verdade;
  • Jo 17, 20-26: Jesus ora pelo futuro da evangelização, por todos os que acreditarão na pregação apostólica e, finalmente, pelas futuras comunidades, cuja plenitude será sua comunhão de vida com o Pai.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

«Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo.» Escutai todos, juízes e gentios…; escutai, todos os reinos da terra! Eu não impeço o vosso domínio sobre este mundo, «o meu Reino não é deste mundo» (Jn 18,36). Não temais, pois, com esse temor insensato que se apoderou de Herodes quando lhe anunciaram o meu nascimento… Não, diz o Salvador, «o meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a um Reino que não é deste mundo»; vinde a ele pela fé; que o temor não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de Deus falando de Seu Pai diz: «Por Ele, fui estabelecido rei sobre Sião, sua montanha sagrada» (Sl. 2,6). Mas esta Sião e esta montanha não são deste mundo. O que é, portanto, o seu Reino? São aqueles que crêem n’Ele, aqueles a quem Ele diz: «Vós não sois do mundo, como Eu não sou do mundo ». E, contudo, Ele quer que estejam no mundo e ora a seu Pai: «Eu não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal», pois Ele não disse: «O meu Reino não está neste mundo», mas sim: «Ele não é deste mundo; se ele fos se deste mundo, os meus vassalos viriam combater para que eu não fosse preso» (Jo 18,36). De fato, o seu Reino está verdadeiramente aqui na terra até ao fim do mundo; até à ceifa o joio está misturado com o bom grão (Mt 13, 24)… O seu Reino não é daqui, porque Ele écomo um peregrino neste mundo. Àqueles sobre quem reina, diz: «Vós não sois do mundo, porque eu vos escolhi do meio do mundo» (Jo 15,19). Portanto, eles eram deste mundo quando ainda não eram o Seu Reino e pertenciam ao príncipe deste mundo (Jo 12,13)… Todos aqueles que são da raça de Adão pecador, pertencem a este mundo. «Deus arrancou-nos verdadeiramente do poder das trevas e transferiu-nos para o Reino de Seu Filho muito amado» (Col l, l3)         

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

Sugerimos fazer uma primeira leitura de todo o capítulo, sublinhando os imperativos, os termos carregados de sentido, as insistências, as pessoas que estão no passado, no presente e no futuro, e finalmente a ordem – ou “momentos”- em que se desenvolve a oração; além do mais, procurar “sentir” o texto, a força de suas palavras e seus impulsos

QUINTA-FEIRA

João 17,20-26:

A ORAÇÃO DO BOM PASTOR (III).

“Quero que onde Eu esteja também estejam comigo”

Na última seção de sua oração, Jesus ora em palavras que alcançam à totalidade da Igreja e abraça a todos os crentes de todos os tempos, incluindo a nós. Esta parte da oração de Jesus está centrada em três petições. Jesus ora para que os discípulos: (a) gozem a unidade e esta unidade evangelize o mundo (17,20-23); (b) possam chegar à contemplação da glória de Jesus na amizade eterna (17,24); (c)vivam habitados pelo amor de Jesus e seja transparência dele no mundo (17,25-26).

O amor sempre pede união e esta união pede eternidade. Por isso quando dois amantes declaram o amor geralmente se dizem “para sempre”. Isto é o que Jesus ora na segunda parte de sua oração por todos os discípulos da história. Ora ao futuro do amor, o futuro da relação de discipulado. Que profundidade, que alcance tem os temas que Jesus vai expondo nesta magnífica oração! Aqui Jesus disse que seus discípulos, não sozinhos, mas em comunidade, estarão sempre com Ele.

Recordemos o capítulo 14 de João, o que deu origem aos últimos ensinos de Jesus, foi precisamente o fato iminente da separação, o “Eu me vou” de Jesus. Em Filipenses 4,17, Paulo anunciou a sua comunidade seu destino final: “assim estaremos  com o Senhor para sempre”. Estar com o Senhor, aqui na palidez do tempo presente e logo no Céu, é nossa meta. A razão de ser disto, disse Jesus em sua oração, é “para que contemplem minha glória”.

Há um texto de 1Jo 3,2 que nos ajuda a interpretar isto da contemplação da glória: “Quando o virmos, seremos semelhantes a Ele”. Isto é contemplar a glória: ser como Ele. E esta glória que contemplamos é algo que nós atualmente experimentamos. 

Em Jo 1,14 se disse que “o Verbo se fez carne… e contemplamos sua glória”. Contemplamos a glória no Verbo encarnado, no rosto humano de Jesus, que não é outra coisa que o rosto divino que nós estamos chamados a ter. Deixemos que a força da oração de Jesus ilumine nosso coração com esta esperança: “Pai os que tu tens me dado, quero que, onde Eu esteja, estejam também, para que contemplem minha glória”.  Não há nada mais belo que estar junto com Jesus.

Esta promessa nos tem acompanhando ao longo de todo este tempo pascal, com a leitura de João (12,26). Também foi essa a convicção com que começou o capítulo 14, onde Jesus propôs a imagem da casa (14,3). Com estas palavras luminosas, começa e também termina o grande adeus do Mestre.

Deixemos que a oração de Jesus impregne a nossa: “Senhor, hoje sinto desejo de estar contigo e de ver-Te. Sei que um dia meu coração Te contemplará para sempre. Estará sempre em Tua presença e Te amará apaixonadamente em todas as coisas. Chegará um tempo em que não respirarei, não pensarei e não me moverei, porém eu sei que respirarei, pensarei e sentirei teu amor”. Amém.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São João Paulo II, Ut unum sint

“Que eles sejam um para que o mundo creia que Tu me enviaste”. Não podemos esquecer que o Senhor pediu ao Pai a unidade dos seus discípulos a fim de que ela desse testemunho da sua missão e que o mundo pudesse acreditar que o Pai o tinha enviado. Pode-se dizer que o movimento ecumênico se iniciou, num certo sentido, a partir da experiência negativa daqueles que, anunciando um único Evangelho, pertenciam cada um à sua própria Igreja ou à sua Comunidade eclesial. Uma tal contradição não podia passar despercebida àqueles que escutavam a mensagem da salvação e que viam ali um obstáculo ao acolhimento do anúncio evangélico. Infelizmente, esta grave dificuldade ainda não foi ultrapassada; é verdade que ainda não estamos em plena comunhão. E, contudo, apesar das nossas divisões, estamos todos a percorrer o caminho da unidade plena, da unidade que caracterizava a Igreja apostólica nos seus alvores e que nós procuramos com sinceridade: guiada pela fé, a nossa oração em comum é a prova disso. Na oração, reunimo-nos em nome de Cristo que é Um. Ele é a nossa Unidade.         

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

1. Que me inspira a oração de Jesus? Que sentimentos provocam em mim?

2. Qual é o maior desejo de duas pessoas que se amam? Qual é o desejo de Jesus para seus discípulos?

3. Que pediu para minha família, para minha comunidade, para meus amigos?

SEXTA-FEIRA

João 21,15-19

A CONFISSÃO DE AMOR:

“Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo”

Todo o itinerário bíblico da Páscoa vem oscilando entre a confissão de fé e a confissão de amor. Esta confissão é fruto da Páscoa em nós. Hoje chegamos ao último capítulo do Evangelho de João e nos encontramos com a tríplice confissão de amor de Pedro (“Tu sabes que te amo”), depois do milagre da pesca abundante no lago e o convite –por parte de Jesus- para partilhar o pão e o peixe.

Justo nesta hora começa um diálogo entre Jesus e Pedro. Três perguntas: “Me amas?”; três respostas: “Tu sabes que te amo”; três mandatos por parte de Jesus: “Apascenta minhas ovelhas”. É importante notar que não há repetições, as perguntas e respostas não são sempre idênticas. Por exemplo, o vocabulário do amor: “amar”, “querer”. Com suas perguntas, Jesus quer saber de Pedro: “Ainda estás disposto a dar tua vida por mim?”, “Todavia queres ser meu amigo?”.

1. Jesus dá uma nova oportunidade a Pedro

O que surpreende é que Jesus permanece fiel a Pedro. E isto, apesar de Pedro ter sido infiel à promessa que fez ao Mestre de não traí-lo nunca, ainda que a fidelidade lhe custasse à vida.

Com a tríplice pergunta, Jesus dá Pedro à possibilidade de reparar sua tríplice negação durante a paixão. Deus dá a todos, sempre uma segunda oportunidade. Inclusive nos dá uma terceira, uma quarta e até infinitas possibilidades. O Senhor não apaga alguém de seu coração com o primeiro erro. Será que nós somos assim com os demais?

2. Pedro surge como um homem novo

Mas, que acontece no íntimo deste diálogo em que Jesus e Pedro se reconciliam, e isto é o ponto de partida do pastoreio amoroso de Pedro na Igreja? confiança e o perdão do Mestre fazem de Pedro uma pessoa nova, forte, fiel até a morte. 

A fortaleza interior de Pedro, expressada em sua confissão de amor, o capacitam para ser Pastor da Igreja. O que virá em seguida para Pedro não será fácil: deverá pastorear a grei de Jesus nos momentos difíceis (todo início é difícil). Tocará a Pedro, acompanhar o caminhar de uma Igreja da Palestina a uma Igreja das nações, e enfrentar as resistências que acontecem ao interior da comunidade para que aconteça a abertura desejada pelo Espírito Santo.

O que segue na vida de Pedro não é nada fácil, porém a confissão de amor daquela manhã depois de estar com o Ressuscitado, esse “tu sabes que te amo” agora se manterá em pé, a fidelidade será possível, e com esta atitude chegará até o final de sua vida: até o momento glorioso de dar sua vida por Cristo.

O amor do Crucificado, infundido pela presença do Ressuscitado em seu coração, dará a Pedro a capacidade de cumprir sua promessa de dar a vida por Jesus (21,19).

Se aprendêssemos a lição contida nisto que Jesus fez por Pedro, se nos interessássemos por voltar a confiar em alguém que tem se equivocado, que nos fez algo feio, que nos tem traído, que não se fez presente quando mais necessitávamos, nossa convivência familiar e comunitária seria mais feliz.

3. Um amor que “apascenta” responsavelmente:

O diálogo entre Jesus e Pedro tem a ver com a vida de cada um de nós. Santo Agostinho, comentando este texto diz: “Interrogando Pedro, Jesus também interroga cada um de nós. A pergunta: “Amas-me? ”dirige-se a todo discípulo. O cristianismo não é um conjunto de doutrinas e práticas; é uma realidade muito íntima e profunda. É uma relação de amizade com a pessoa de Jesus. Muitas vezes durante sua vida terrena, Jesus perguntava as pessoas: Tens fé? Mas nunca até então havia perguntado a ninguém: “Amas-me?”. Jesus só o faz agora, depois de sua paixão e morte, nos tem dado a prova do quanto nos tem amado. Porém, tenhamos cuidado: Jesus pede que o amor por Ele se concretize no serviço aos demais. Amar consiste em servir. “Amas-me? Então, apascenta minhas ovelhas”. Amas a teu esposo(a)? Então ocupa-te dele (a). Amas teus irmãos de comunidade de fé? Então começa servir-lhes. É bonito ver como Jesus não quer ser o único em receber os frutos do amor de Pedro, mas quer que se beneficiem suas ovelhas. Jesus é o destinatário do amor de Pedro, mas não é o beneficiário. É como se dissesse: “Considero como algo feito a mim, tudo que faças pelo rebanho”.

Nosso amor por Jesus não deve ficar em um feito intimista e sentimental, deve se expressar no serviço aos outros, no fazer o bem ao próximo. Madre Teresa de Calcutá dizia: “O fruto do amor é o serviço desinteressado e o fruto de um serviço assim é a paz”.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Que tamanho é meu amor por Jesus? Que estaria disposto a fazer por Ele?
  2. Pedro pode fazer esta confissão de amor só depois da morte de Jesus, quando foi, plenamente

amado. Que pode manter minha fidelidade no amor?

  • É verdadeiro amor ocupar-se das ovelhas. Quem eu tenho esquecido? De quem ocupar-me mais?

SÁBADO

João 15,9-17

PERMANECER EM CRISTO (III): AS EXPRESSÕES DO AMOR.

“Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida por seus amigos”

Depois de colocar os fundamentos do amor (cf.15,9-11), Jesus explica quais são suas expressões, os frutos que brotam dessa seiva, e qual é o motivo da imensa alegria dos discípulos (cf. vv.12-17). Esta passagem, sem as anteriores, careceria de apoio, e as anteriores sem esta, se converteria em um discurso abstrato sobre o amor, um a mais entre tantos. No centro de tudo está o amor de Jesus: é tal, que é capaz de redefinir, completamente, o modo como compreendemos nossas relações com os demais.

1. O mandamento do amor (15,12.17)

Notemos três elementos que compõem a frase de Jesus: (1) Jesus começa com um imperativo: “Amai-vos” (2) Jesus lhe dá uma identidade própria, o chama: “meu mandamento” (3) Jesus mesmo é o conteúdo do amor: “Como eu vos amei”

Para Jesus não há ambiguidades. O coração do mandamento do amor é o “Como eu vos tenho amado”. O comportamento de Jesus para com seus discípulos define a “substancia” do verdadeiro amor. Daí que não é um mandamento geral, mas específico, que se circunscreve ao “ser como ele”. Como foi o amor de Jesus com seus discípulos?  É o que se responde, em seguida, nos vv.13-16.

2. As características do amor de Jesus (cf. 15, 13-16)

O conteúdo dos vv.13-16 é a explanação do “Como eu vos amei”. Se olharmos as grandes ações de Jesus, com relação aos discípulos, notaremos que são, sobretudo, três: Deu sua vida por eles; Fez deles seus amigos e não, simplesmente, seus servidores;  e confiou-lhes a missão. Sem dúvida, podemos desdobrar a segunda em duas ações: chama-os a seu serviço, o qual não se descartou; e converte-os em seus amigos.

O mesmo acontece com a terceira: elege-os; envia-os à missão; e assegura-lhes o respaldo firme do Pai, em sua oração missionária. Dai que, as características distintivas do amor de Jesus por seus discípulos são: Deu sua vida por eles; Deu-lhes a honra de serem seus servidores; Levou-os até a intimidade com ele, revelando-lhes seus mistérios; Elegeu-os (=separou); Destinou-os para a missão; Assegura-lhes o respaldo firme do Pai na missão (a obra é d’Ele). O fim de todas estas ações é a formação da comunidade.

Podemos ler, então, Jo 15,13-16, assim: A comunidade para dentro: uma comunidade de “amigos” de Jesus (cf. vv.13-15). Nela se destacam três ações de Jesus, Senhor da Comunidade: (a) sua entrega na Cruz; (b) o chamado ao serviço; (c) a relação de amizade. A comunidade para fora: uma comunidade de “enviados” de Jesus (cf. v.16). Nela se destacam também três ações de Jesus, Senhor da Igreja, que a faz: (a) comunidade eleita; (b) comunidade enviada; E (c) comunidade respaldada. Vejamos:

(1) A comunidade para dentro: uma comunidade de “amigos” de Jesus (cf. vv.13-15)

O amor de Jesus constrói uma comunidade de “amigos”. De que maneira Jesus faz, dos discípulos, seus amigos?  Nas mesmas palavras de Jesus podemos notar: Que Ele toma a iniciativa, porém a amizade é “mutua”, por isso espera uma resposta concreta; Que os conduz por dois níveis de relação: a do servidor” e a do “amigo”; Que a amizade se concretiza no “querer juntos o mesmo” e, para isso, passam por duas etapas: a do “conhecer” e a do “fazer”.

Ainda que estas três idéias sejam transversais nos vv.13-15, vão se desenrolando, lentamente, de um a outro versículo. Para ser mais claro, é bom aprofundar nelas, seguindo a ordem dos versículos:

  • Jo 15,13-14: Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando. A disposição para o supremo sacrifício da vida pelo “amado”. Jesus se faz amigo por primeiro e espera que nos façamos seus amigos.
  • Jo 15,15ª: “Já não vos chamo servos”. A honra de estar a seu “serviço”.
  • Jo 15,15b: “… chamo amigos”. Jesus envolve seus amigos em seu projeto de vida: revela os segredos.

(2) A comunidade para fora: uma comunidade de “enviados” de Jesus (cf. v.16)

O amigo envolve o outro em sua vida. Jesus nos envolve, tanto em sua vida como em sua missão. E tudo isto para que? O fim de tudo é (note-se o “para que”) “dar fruto e um fruto que permaneça”.

Os discípulos, como Jesus, devem tomar a iniciativa no amor. Eles, como Jesus, devem compartilhar tudo o que são e têm, e abrir os corações com confiança para gerar verdadeira comunidade. Eles, como Jesus, devem viver e morrer pelos demais para continuar a obra de Jesus de “dar vida ao mundo”.

Quando a comunidade está bem sedimentada em amor e no projeto de Jesus, ela tem força missionária e transforma o mundo. Isto vemos nas três ideias fortes que aponta Jesus, segundo as quais a Igreja é comunidade: eleita (v.16ª), enviada (v.16b) e respaldada (v.16c).

A Igreja está no mundo para “trazer à luz” frutos da vida do Ressuscitado, que caminha na historia. Neste esforço, pede ao Pai pelas necessidades do povo –as realidades que necessitam da mão do vinhateiro- para que o plano salvífico-amoroso de Deus comece a atuar na vida de todos. Tudo o que iniciou com o amor do Pai: “Como o Pai me amou” (15,9), culmina com a resposta dos discípulos que, vivendo em Jesus, seguem abertos a esse amor e o imploram para o mundo inteiro.

Temos lido, nos últimos três dias, três maravilhosas passagens do Evangelho. Resta-nos, agora, um desafio: amar desde a comunhão com Jesus. Aceitar o espaço em que vivemos como um desafio para transformá-lo a fundo, desde nossos frutos de vida cristã. Assumi-lo como um espaço de oração que implora a manifestação da providencia divina sobre as limitações humanas.

Dar-se, desta forma, no compromisso e na oração, isto é, “amar-nos uns aos outros”. Este é o verdadeiro amor, o amor crucificado com Cristo na Cruz. Seu amor comprometido, seu amor orante, capaz de transformar tudo o que lhe rodeia e ser luz em meio da treva, dignidade em meio da humilhação, ressurreição em meio da morte.  Isto, sim, que é amor.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

  1. Que características tem o amor de Jesus? Quais tem o meu? Que me diz a frase: “Já não vos chamo servos mas amigos”?
  2. Qual é a tarefa missionária da Igreja à luz da passagem de hoje?]
  3. Minha vida é uma contemplação contínua da Cruz onde sou amado, um deixar-me escolher pelo Senhor para dar seus frutos, um escutar, amorosamente, seus “segredos”, na leitura da Bíblia e responder-lhe com opções vitais livres e valentes?

____________________________________________________________________________

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: