ESTUDO BÍBLICO NA SEMANA DA EPIFANIA

ESTUDO BÍBLICO 03 A 08 DE JAN 2021

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 4,12-17.23-25

NOVA PREGAÇÃO

“Convertei-vos porque o Reino dos céus chegou”

O texto de hoje começa situando-nos no contexto da Galileia, e mais exatamente, em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia.

É interessante ver que Mateus sublinha que Jesus se dirigiu para ali depois de inteirar-se que João havia sido entregue. É como se quisesse, não só recordar-nos a figura de João Batista, mas convidar-nos a tê-la presente enquanto lemos este texto e a compará-la com a própria figura e ação de Jesus. Isso é o que vamos tratar de fazer.

Encontramos ao menos seis elementos para uma confrontação entre as duas figuras:

  • João desenvolve sua atividade no deserto. Uma terra árida, incapaz de produzir fruto. Com ausência de vida. Jesus se dirige a Galileia, região muito fértil, cheia de vida e se situa, precisamente, às margens do assim chamado mar de Galileia.
  • Embora haja uma frase idêntica que pronunciam os dois, é bem diverso não só o contexto mas o significado que esta frase tem na boca de cada um deles. A frase é: “Convertei-vos porque o Reino dos céus chegou”. Nos lábios de João a frase soa a ascese, purificação, morte. Nos lábios de Jesus a frase soa a cura, proximidade, esperança, vida.
  • João pregava no deserto, mais ainda, vivia ali. Jesus “percorria toda a Galileia ensinando”.
  • O discurso de João era duro, de ameaças, de destruição. Jesus proclamava a boa nova do Reino.
  • João nos disse que ele batizava com água enquanto Jesus batizará com o Espírito Santo e fogo.
  • A pregação de João terminava ali. A de Jesus suscitava em muitos o seguimento.

Concluindo, no texto de hoje Jesus se nos apresenta como aquela luz nova que brilha ante os homens (cf. v.16). Uma luz que dissipou as trevas e que fez que sobre os povos desponte um novo dia. Essa luz que dura até nossos dias, e que, diariamente, nos está convidando a descobri-la e a segui-la com radicalidade.

Aprofundemos com os nossos país na fé

São Romano, o Melódio(? – cerca de 560), compositor de hinos 

Hinos para a Epifania 

”Os que habitavam no país da sombra e da morte viram uma grande luz”

Tu te manifestaste hoje ao universo. Tua luz, Senhor, nos apareceu. Por isso, te cantamos: “Tu vieste, te manifestaste, Tu, luz inacessível!…” Na Galileia das nações, na terra de Zabulão, na terra de Neftali, tal com diz o profeta: Cristo, a grande luz, resplandeceu (Is 8,23;9,1). Para aqueles que andavam nas trevas brilhou um grande clarão que brotou de Belém: o Senhor, nascido de Maria, Sol da justiça, envia seus raios para o universo inteiro (Ml 3,20). Venhamos todos nós, os filhos de Adão, que estamos nus, revistamo-nos dele para nos aquecermos. Foi para vestir os que estão nus, para iluminar os que estão nas trevas, que te manifestaste, Tu, a luz inacessível. Deus não desprezou aquele que, no paraíso, foi despojado de suas vestes por astúcia e perdeu a túnica tecida pelas mãos de Deus. Volta a ele e chama o desobediente com sua voz santa: “Adão, onde estás?(Gn 3,9). Deixa de te esconder. Por mais nu, por mais pobre que estejas, quero ver-te. Não tenhas medo, fiz-me semelhante a ti. Desejavas tornar-te deus e não conseguiste. Agora, porque quis, fiz-me carne. Avança, reconhece-me e diz: Tu vieste, te manifestaste, Tu, a luz inacessível” … Canta, Adão; adora o que vem a ti. Quando tu te afastavas, Ele se manifestou a ti para se fazer ver, tocar, acolher. Aquele que temeste quando foste enganado pelo demônio, por ti fez-se semelhante a ti. Desceu à terra para te levar ao céu; tornou-se mortal para que te torne Deus e recupere tua primitiva beleza. Querendo abrir-te as portas do Éden, habitou em Nazaré. Por tudo isso, ó homem, canta e louva com teus cânticos ao que se manifestou e iluminou o universo.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Qual é o aspecto do paralelo entre Jesus e João que mais me chamou a atenção e por que?

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  • Faço um exame de consciência sobre aqueles aspectos de minha vida que estão mais pelo caminho da pregação de João e aqueles que vão mais pela pregação e ação de Jesus?

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Que sinto que me pede o senhor o respeito?

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  • Como projeto eu e como ajudo a que minha família ou minha comunidade projete nos demais o ensinamento e o atuar de Jesus?

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TERÇA-FEIRA

Marcos 6,34-44

IMPLICAR-NOS NA MISSÃO

“Dai-lhes vós de comer”

O evangelho de hoje é um dos mais belos exemplos do que significa fazer as coisas ‘lado a lado’ com Jesus. Ele e seus discípulos iam em busca de um lugar solitário para descansar. Ao chegar a tal lugar, ó surpresa, o povo, em grande número, já estava ali, esperando-os.

O texto nos diz que Jesus “sentiu compaixão deles, pois estavam como ovelhas sem pastor” (v.34) e então Ele se põe a ensinar-lhes muitas coisas. Jesus neste preciso momento não evade da situação. Tampouco diz aos apóstolos ser melhor desembarcar em outro lado.

Os apóstolos, calculando bem as circunstancias, depois da multidão ter estado longo tempo escutando, sugerem a Jesus que despeça à multidão porque, além de serem muitos, não há próximo lugares onde eles possam comprar alimento.

É então quando Jesus pede a implicação dos apóstolos e lhes lança uma frase que confunde um pouco seus cálculos matemático-financeiros. “Dai-lhes vós de comer” (v.36). Os apóstolos olham uns aos outros com estranheza e esclarecem a Jesus que é tanta gente que com duzentos denários, uma soma exorbitante, não alcançaria para comprar pão para tanta gente.

Jesus faz uma pergunta mais absurda ainda: Quantos pães tens? (v.38), e os manda irem ver. Não permite que digam que mais ou menos têm tantos. Eles vão averiguar e como toda segurança asseguram que há cinco pães e acrescentam que também há dois peixes.

Para os apóstolos deve ter sido muito estranho o proceder de Jesus. Talvez pensaram que ao ver o pouquíssimo que tinha Jesus ia ceder e despedir a multidão. Mas não. Jesus faz o contrario. Manda sentar “a todos por grupos sobre a verde erva” (v.39), como acrescenta poeticamente o texto..

Imaginemo-nos no quadro. O texto continua dizendo que eram grupos de “cem e de cinquenta” (v.40). Se, como nos diz o texto, os que comeram eram uns cinco mil, a cena não podia ser mais sugestiva.

Porém voltemos o olhar os apóstolos. Não acabavam de entender. Jesus tinha em suas mãos cinco pães e dois peixes e uma multidão faminta esperava o alimento. Com gesto solene Jesus olha ao céu, fala, agradece a seu Pai e imediatamente dá aos apóstolos o pão e os peixes para que os repartam.

Jesus mesmo havia podido, ao menos, começar a repartir, porém quis compartilhar com seus apóstolos a ação de repartir o pão à multidão.

Jesus nos ensina claramente que quando vamos com ele, sempre haverá para alimentar em muitos sentidos a multidões e até pode sobrar, como aconteceu com os pães e os peixes no relato.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santa Catarina de Sena (1347-1380), doutora da Igreja, co-patrona da Europa 

O Diálogo 

«Ele partiu os pães… dividiu também os dois peixes por todos. E todos ficaram saciados.»

Jesus dizia a Santa Catarina: «É toda a essência divina que recebeis neste dulcíssimo sacramento,

sob esta brancura do pão. Assim como o sol é indivisível, assim Deus está inteiro e o homem inteiro

na brancura da hóstia. Dividíssemos nós a hóstia em mil migalhas, se fosse possível, e eu continuaria

a estar em cada uma delas, Deus inteiro e homem inteiro, como te disse… Suponhamos que havia várias pessoas que vinham buscar luz com velas. Uma traz uma vela de uma onça, outra de duas onças, uma terceira de três onças, esta de uma libra, aquela de mais ainda. Todas se aproximam da

luz e cada uma acende a sua vela. Em cada vela acesa, seja qual for o seu volume, vê-se desde agora

a luz inteira, a sua cor, o seu calor, o seu brilho… O mesmo ocorre àqueles que se aproximam deste sacramento. Cada um traz sua vela, quer dizer o santo desejo com que recebe e toma este sacramento. A vela está apagada e acende-se logo que se recebe o sacramento. Eu digo que está apagada porque, por vós mesmos, nada sois. É verdade que vos dei a matéria com a qual podeis receber e conservar em vós esta luz. Esta matéria é o amor, pois criei-vos por amor; por isso não podeis viver sem amor». 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Qual é a atitude de Jesus que mais gostas do texto de hoje?

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  • Que há em tua vida que tenha se multiplicado pela ação de Jesus, para o bem dos demais?

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  • Que se pode multiplicar de agora em diante em tua vida e em tua família para o bem dos demais?

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QUARTA-FEIRA

Marcos 6,45-52

Deixar-nos assombrar por Jesus

 “Ficaram em seu interior completamente apavorados”

Sentia-se ainda no ar o cheiro a pão fresco multiplicado.

A multidão, uma vez que ficou saciada, se dispunha a regressar a casa. Todos queriam despedir-se pessoalmente de Jesus e dos apóstolos para agradecer-lhes.

Jesus, talvez conhecendo o risco que os ares de êxito poderiam trazer sobre os corações de seus apóstolos os ‘obriga’ a subir à barca e ir a Betzaida, quer dizer, passar à outra margem.

Ele, entretanto, despedia a multidão. Logo, sobe a orar ao monte, o lugar predileto dos diálogos com seu Pai.

A tarde caía rapidamente e o vento forte golpeava a frágil embarcação que se sacudia no mar. Os apóstolos ‘se fatigavam remando’ contra um vento que, como diz o texto, lhes era contrário.

É interessante constatar como Jesus vendo ao entardecer a barca no mar sacudida pelas ondas, não vai imediatamente a onde estão eles.

Só o faz à ‘quarta vigília da noite’, quer dizer, quase ao clarear do novo dia. Talvez toda a noite em tempestade era o símbolo da pouca fé e da pouca capacidade que tinham os apóstolos para crer no poder de Deus.

Há outro detalhe bem interessante. Jesus, diz o texto, “queria passar-lhes adiante deles” (v.48). Isto fez com que os apóstolos sentissem medo e, crendo ver um fantasma, se puseram a gritar.

Eles que haviam passado longos momentos com Jesus não o reconheceram. Jesus os tranquiliza. “Ânimo, não temam, sou eu”.

Um ‘Sou eu’ que tem atravessado e continua atravessando a historia dos homens. Em seguida sobe à barca e o mar embravecido se acalma. Faz-se um grande silencio e novamente a frágil fé dos apóstolos se vê questionada.

É que uma fé que não supera as tormentas da vida bem pouco tem de ser uma verdadeira fé robusta e pronta a resistir tudo.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja 

Cartas (a partir da trad. de Lemaire, Beauchesne 1963; cf AELF) 

«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!»

Todas as embarcações têm uma bússola marítima, cuja agulha magnética aponta sempre a direção

da estrela polar e, ainda que a barca parta do sul, a sua bússola nunca deixa de indicar o norte.

Que, do mesmo modo, o fino ponteiro do espírito indique sempre a direção de Deus, que é seu norte […]. Ides para o mar alto deste mundo; para tal não mudeis de mestre, nem de mastro, nem de vela, âncora ou vento. Tende sempre Cristo por mestre, sua cruz por árvore, nela pondo vossas resoluções, como quem as estende numa vela; que vossa âncora seja uma profunda confiança n’Ele, e ide, sim,

em boa hora. Queira o vento propício das inspirações celestes abrir as velas do vosso barco, mantendo-as sempre pandas, e fazer-vos chegar, em felicidade, ao porto da santa eternidade […].

Que no meio da desorientação tudo encontre o sentido certo, não digo apenas relativamente ao que está ao redor de nós, mas ao que está mesmo em nós, isto é, quer a nossa alma esteja triste ou alegre, em tranquilidade ou em amargura, em serenidade ou em tribulação, na claridade ou nas trevas, em tentação ou em repouso, em alegria ou em desgosto, em tibieza ou em ternura, quer o sol a queime, quer o orvalho a refresque; Ah, é preciso, porém, que o ponteiro de nosso coração, do nosso espírito, da nossa superior vontade, que é nossa bússola, vele sempre, e se guie, incessante e perpetuamente, pelo amor de Deus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Que significado tem na vida de Jesus os espaços de oração e no relato de hoje como o viveu?

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  • Quais foram as principais tormentas ou dificuldades de minha vida que fizeram vacilar minha fé?

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  • Fala-se de uma fé pessoal, mas, também, de uma fé comunitária. Como sentimos nossa fé familiar?

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QUINTA-FEIRA

Lc 4,14-22a

Missão cumprida

 “Esta escritura que acabais de ouvir se cumpriu”

A frase inicial que nos apresenta o texto de hoje é básica para compreender a profundidade e a transcendência do mesmo: Jesus, que opera, sempre, impulsionado ‘pela força do Espírito’. Este é o núcleo gerador de sua atividade e Ele mesmo o tem reconhecido em varias ocasiões.

É interessante ver também como o texto que apresentam a Jesus, para que leia, começa assegurando que o Espírito Santo está sobre Ele.

Outra característica de Jesus que nos é apresentado ao inicio do texto é a fama de Jesus que se estendia ante os olhos de todos. O texto diz que “sua fama se estendia por toda a região” (v.14) e ao ensinar era glorificado por todos.

Para Jesus era habitual ir cada sábado à sinagoga. Nesse sábado Ele faria a leitura. Lê um belo texto do profeta Isaías. É um texto que afirma:

1. Que o Espírito está sobre o profeta (v.28);

2. Que o Espírito o ungiu (v.18); 

3. Que o Espírito o enviou (v.18).

Tudo dito em um só versículo. Jesus, depois de ler, acrescenta uma frase: “Esta escritura que acabais de ouvir se cumpriu hoje” (v.21).

O texto no diz que Jesus explicar a frase, porém se sublinha que “todos davam testemunho dele e estavam admirados das palavras cheias de graça que saiam de sua boca (22a). É interessante constatar que não é Jesus mesmo quem dá testemunho e confirma a validez destas palavras, mas que todos os que estavam reunidos o faziam com admiração.

Porém, qual foi a profecia ou, como diz Jesus, a escritura que se cumpriu? Anteriormente assinalávamos três elementos bem importantes. Dentro deles há umas atitudes novas de Isaías para seu povo que Jesus retoma:

  • Anunciar aos pobres a boa nova;
  • Proclamar a liberdade aos cativos;
  • Devolver a vista aos cegos;
  • Dar liberdade aos oprimidos;
  • Proclamar um ano de graça do Senhor.

À luz deste texto e em especial destas atitudes façamos nossa confrontação com a Palavra de Deus.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Orígenes (v.185-253), sacerdote e teólogo 

«Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nEle»

Quando lês que Jesus «ensinava nas sinagogas e todos O elogiavam», guarda-te de achar felizes os

que então ouviram Cristo, considerando-te como que privado de ensinamento. Porque, se a Escritura

é verídica, o Senhor não falou só antigamente, nas assembléias dos judeus, mas fala também hoje,

na nossa, e não apenas aqui e agora, mas nas audiências do mundo inteiro. […] Hoje Jesus é ainda mais elogiado por todos que no tempo em que só era conhecido numa região […] «Ele ungiu-me», diz Ele, «para anunciar a Boa-Nova aos pobres», significando que os pobres são os pagãos; de fato, eram pobres por não terem nada: nem Deus, nem Lei, nem profetas, nem justiça, nem força alguma.

Por que foi que Deus O enviou como mensageiro aos pobres? Para «proclamar a libertação aos cativos» que éramos nós: prisioneiros acorrentados há muito, sujeitos ao poder de Satanás. E para anunciar «aos cegos a recuperação da vista», porque sua palavra devolve a visão aos cegos.[…] Jesus «enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nEle». Também agora, se quereis, aqui, na nossa igreja, podeis fixar os olhos no Salvador. Quando diriges o olhar mais profundo do teu coração para a contemplação da Sabedoria e da Verdade, do Filho único de Deus, tens os olhos fixos em Jesus. Bem aventurada é a assembléia de quem a Escritura diz: «Todos tinham os olhos fixos nele»! Como quereria que a nossa merecesse este mesmo testemunho e que os olhos de todos, catecúmenos e fiéis, mulheres, homens e crianças, vissem Jesus com os olhos da alma! Pois, mal O tenhais contemplado, vossa face e vosso olhar serão iluminados pela Sua luz e podereis dizer: «Levantai sobre nós, Senhor, a luz da Vossa face!» (Sl 4,7).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Como o texto nos apresenta a figura do Espírito Santo?

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  • Das atitudes novas que Jesus retoma de Isaías, qual é a que mais me chama a atenção?

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Como posso vivê-la no ambiente no qual me encontro?

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  • Como podemos viver em nossa família e com os demais estas novas atitudes?

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SEXTA-FEIRA

Lucas 5,12-16

RESPALDAR-NOS NA VONTADE DE DEUS

 “Senhor, se queres, podes purificar-me”.

O texto de hoje é de uma simplicidade e essencialidade impressionantes. Um leproso chega até onde está Jesus, se prostra por terra e pede a Jesus a cura com uma frase bem interessante e profunda. O leproso não diz simplesmente: “Senhor, cura-me”, como seria o normal.

Sua expressão é ainda mais profunda: “Senhor, se queres, podes purificar-me” (v.12). Esse ‘se queres’ reflete uma adesão e respeito muito grandes à vontade de Deus e ao mesmo tempo uma abertura total para aceitar um sim ou um não. Não pressiona. Simplesmente, como diz o salmo: “Expõe sua causa e fica aguardando” (Sl 5,4).

Jesus não se detém em explicações nem reconhecimentos. Simplesmente, estende a mão, toca ao leproso e acrescenta: “Quero, ficar limpo” (v.13). É como se o leproso tivesse tocado a Jesus a fibra mais débil de seu coração; a fibra da compaixão e a misericórdia e o tivesse feito agir em seu favor. O efeito foi imediato.

O texto diz que a lepra lhe desapareceu ao instante. Jesus lhe pede não contar a ninguém o acontecido nele; porém estas coisas se contam por si, sem palavras. Além do mais, Jesus lhe recomenda ir ao sacerdote apresentando a oferenda por sua purificação, para ratificar, se, se pode dizer, a cura.

É muito grande a disponibilidade do leproso. Está disposto a aceitar o que Jesus queira, ainda com o risco de continuar sendo um leproso que caminha pelas ruas. Porém, dentro de seu coração, algo diz que Jesus, como nos recordava o texto de ontem, havia vindo a dar liberdade aos oprimidos.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano do século XIII, Doutor da Igreja 

«Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado»».

Ó, como admiro esta mão! Esta mão do meu amado, de ouro engastado de rubis (Ct 5,14). Esta mão cujo contato solta a língua do mudo, ressuscita a filha de Jairo e purifica o leproso. Esta mão da qual o profeta Isaías nos diz: «Todas estas coisas fez a Minha mão» (66,2). Estender a mão é dar um presente. Ó Senhor, estende a Tua mão – essa mão que o carrasco estenderá sobre a cruz. Toca o leproso e concede-lhe essa graça. Tudo aquilo em que a Tua mão tocar será purificado e curado. «E tocando na orelha do servo», diz São Lucas, «curou-o» (22,51). Estende a mão para conceder ao leproso o dom da saúde. Ele diz: «Quero, sê purificado» e imediatamente a lepra sai; «faz tudo o que Lhe apraz» (Sl 113B,3). NEle nada separa o querer do realizar. Ora, esta cura instantânea opera-a Deus cada dia na alma do pecador pelo ministério do sacerdote. Este tem um triplo ofício: estender a mão, quer dizer, rezar pelo pecador e ter piedade dele; tocar-lhe, consolá-lo, prometer-lhe o perdão; querer esse perdão e dar-lho através da absolvição. Tal é o triplo ministério pastoral que o Senhor confiou a Pedro, quando lhe disse por três vezes: «Apascenta as Minhas ovelhas» (Jo 21,15-17). 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Qual é a atitude do leproso ante Jesus?

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  • Como posso, no concreto do dia a dia, viver esta atitude?

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  • Em que momentos de nossa vida de família temos vivido ou podemos viver esta atitude?

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SÁBADO

João 3,22-30

Saber ser precursor

É necessário que ele cresça e que eu diminua

O evangelho de hoje nos apresenta Jesus e João que batizam no rio Jordão. Os dois aparecem rodeados por seus discípulos e a multidão que se aproxima a receber o batismo.

Em um certo momento os discípulos de João se dão conta que Jesus está batizando e arrasta atrás de si, muita gente e vão comentar ao próprio João.

A reação de João é confirmar que “o que está do outro lado do Jordão” (v.26) atua porque, como ele mesmo disse, “ninguém pode agir se não lhe foi dado do alto”.

E lhes recorda que já em outra ocasião ele havia deixado bem claro que ele não era o Cristo, mas era um que havia sido enviado diante dele. (cf.v.28).

É maravilhosa a consciência que tem João de ser um enviado a ir diante de Jesus, a indicar que sua vida e sua ação são a vida e a ação que o povo tem esperado durante séculos.

Aqui não cabem protagonismos e João Batista não vê, na ação de Jesus, rivalidade alguma, ao contrario, poderíamos dizer que João vê, no agir e na pessoa de Jesus, aquele que dá sentido a sua própria missão e a seu próprio agir.

É bem interessante, os discípulos de João lhe confirmam que ele tem dado testemunho de Jesus e que ele, João, tem estado com Jesus do outro lado do Jordão (v.26).

Ao mesmo tempo João Batista recorda aos seus discípulos que eles foram testemunhas das muitas vezes que afirmou não ser ele o Messias esperado, mas, que era apenas o que preparava o caminho. Ao chegar Jesus, o Messias, as coisas devem mudar de dimensão.

Se João era considerado grande, agora o que deve ser tido por maior é Jesus e isto fará que a figura de João diminua, não como aniquilação, mas como passo ao cumprimento da Escritura.

É o que o evangelista São João, ilustra com a maravilhosa figura do “amigo do noivo que se alegra com sua presença” (v.29).

A João não lhe dá medo e vê como a coisa mais natural que pouco a pouco sua figura e sua missão vão diminuindo para que apareça em sua plenitude a figura e a missão de Jesus. Isso o tem bem claro.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Agostinho(354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja 

«Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!»

Escutai, filhos da luz, vós que fostes adotados em vista do Reino de Deus; escutai, caríssimos irmãos; escutai e regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois «aos retos de coração pertence o louvor» (Sl 33,1).

Escutai o que já sabeis, meditai no que ouvistes, amai aquilo em que acreditais, proclamai aquilo que amais! […] Cristo nasceu, Deus por Seu Pai, homem por Sua mãe; Ele nasceu da imortalidade de Seu Pai e da virgindade de Sua mãe.

De Seu Pai, sem a participação de uma mãe; de Sua mãe, sem a de um pai.

De Seu Pai, sem o tempo ; de Sua mãe, sem a semente.

De Seu Pai, Ele é princípio de vida; de Sua mãe, o fim da morte.

De Seu Pai, nasceu para reger a ordem dos dias; de Sua mãe, para consagrar este dia.

À Sua frente enviou João Batista, que fez nascer quando os dias começam a diminuir, tendo Ele próprio nascido quando os dias começam a aumentar, prefigurando deste modo as palavras desse mesmo João: «Ele é que deve crescer e eu diminuir».

De fato, a vida humana deve enfraquecer em si mesma e aumentar em Jesus Cristo, «para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que neles morreu e ressuscitou» (2 Cor 5,15). E para que todos nós possamos repetir estas palavras do Apóstolo Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

  1. Segundo o texto, qual é a missão de João Batista?

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  • Segundo o texto de nossa vida, qual a missão de cada um dos membros da família da comunidade?

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  • De que forma eu posso preparar, no coração dos demais, a vinda de Jesus?

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Autor:Padre Fidel Oñoro, CJM

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