ESTUDO BÍBLICO SEMANAL NA 17ª SEMANA COMUM

PISTAS

Um apoio para a Lectio Divina 17ª Semana da Tempo Comum – Ano A

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 13,31-35

DE CARA AOS IMENSOS DESAFIOS DA EVANGELIZAÇÃO.

“Publicarei o que estava oculto desde a criação do mundo”

 

Como temos visto, as parábolas do Reino nos educam no discernimento cristão. Porém há que ter presente que tal discernimento não faz somente no campo individual, mas também comunitário. Efetivamente, a de Mateus, parece ser uma comunidade eclesial em estado de discernimento (um tema que vale a pena explorar amplamente).

 

Quando as parábolas são examinadas, vai se notando como ali, também, está contido um retrato da comunidade (ou comunidades) que as escutam. Estas comunidades necessitavam de animação:

  • para que a semente boa crescesse adequadamente e expressasse todo seu vigor;
  • para que as sementes nocivas também fossem detectadas a tempo e, adequadamente, trabalhadas.

 

Hoje nos encontramos com duas situações típicas da vida comunitária:

 

  • Crer no valor do pequeno (13,31-32): A imagem da semente de mostarda é útil para mostrar algo que parece insignificante. A pergunta lógica é: de uma coisa tão pequena pode brotar algo de calculável importância?  A primeira impressão parece negativa. Mas, o Reino é, precisamente, assim: sempre começa por ações pequenas. Muitas vezes, quase invisível e, portanto, sumamente frágeis. Uma comunidade em estado de discernimento deve saber detectar a força do pequeno que está brotando dentro dela. Trata-se de ações, de iniciativas, de pessoas concretas que deve-se valorizar.

 

  • Crer que se poderá transformar o mundo (13,33): Quando se fazem análises da realidade em função da pastoral, com alguma frequencia se escutam suspiros desconsolados deste tipo: porém, que vamos alcançar, frente a tamanhos desafios? E então o asceticismo, um dos pecados mais graves na pastoral, nos invade e muitas ações são paralisadas, a capacidade de criar e de arriscar-se.

 

A parábola do fermento retrata muito bem o sentimento desproporcional que se acaba de mencionar. Porém, a comunidade dos “pequenos” do Reino tem a força do evangelho que é suficiente para fermentar toda a massa. O Reino de Deus pode chegar com sua capacidade penetrante a todas as realidades humanas, mesmo as mais escondidas e difíceis, para realizar sua obra. É importante recordar que o Reino de Deus está ai para chegar a todos.

 

Aprofundando com os nossos pais na fé

 

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo

 

Cristo, grão de mostarda e fermento semeado pelo mundo. Cristo veio ao mundo para o submeter a Si próprio, reivindicar como Seu e afirmar seus direitos sobre ele como senhor, para o libertar do domínio do inimigo, para se manifestar a todos os homens, para se estabelecer nele. Jesus é o grão de mostarda que se desenvolverá silenciosamente, acabando por cobrir a terra inteira. Jesus é o fermento que abre secretamente caminho na massa dos homens, dos sistemas de pensamento e das instituições, até que tudo fique levedado. Até ai, céu e terra estavam separados; o projeto de graça de Jesus consiste em fazer de ambos um só mundo,tornando a terra paralela ao céu. Ele estava neste mundo desde o início, mas os homens adoraram outros deuses. Veio a este mundo na carne, «mas o mundo não o conheceu. Veio ao que era Seu e os Seus não o receberam» (Jo 1,10-11). Mas Ele veio para os levar a recebê-lo, conhecê-lo, adorá-lo. Para integrar este mundo em Si, a fim de que, tal como Ele próprio é luz, também este mundo seja luz. Quando veio, não tinha «onde reclinar a cabeça» (Lc 9,58), mas veio para constituir aqui um lugar para Si, para aqui constituir habitação, para aqui encontrar morada. Veio transformar o mundo inteiro na Sua morada de glória, este mundo que estava cativo das potências do mal. Veio na noite, nasceu numa gruta.[…] Foi aí que primeiro repousou a cabeça, mas não o fez para aí ficar para sempre.Não era sua intenção ficar escondido na obscuridade. […] Seu objetivo era mudar o mundo.[…] O universo inteiro tinha de ser renovado por Ele, mas Ele a nada recorreu que já existisse, tudo criou a partir do nada.[…] Era uma luz que brilhava nas trevas, até que, pelo Seu próprio poder, criou um Templo digno do Seu nome.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que desafios da realidade atual me parece que são os mais difíceis?

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Frente a que situações tenho chegado a sentir-me incapaz de fazer algo em nome do Reino?

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  • Qual é o ensinamento central das parábolas do grão de mostarda e do fermento?

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  • A comunidade em que vivo também necessita ser motivada, incentivada, animada para que não perca a confiança frente àquilo que parece desbordar suas capacidades de transformação?

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Que atitudes devem caracterizar uma comunidade missionária?

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TERÇA-FEIRA

Mateus 13,36-43

NÃO O JUÍZO, MAS A PEDAGOGIA DA CONVERSÃO

“Explica-nos a parábola do joio do campo”

 

A passagem, na qual Jesus explica a parábola do trigo e do joio, nos permite, nesta ocasião, colorir, mesmo que brevemente, seu contexto. Com esta parábola Jesus (e a comunidade de Mateus) estava dando uma resposta ao movimento fariseu de segregação.

 

Segundo os fariseus, somente os “puros” (ritualmente falando) poderiam constituir a comunidade da aliança com Deus. Jesus, ao contrário, como já temos visto, misturava-se com pecadores e admitia, em sua companhia, os publicanos.

 

O tema da “paciência de Deus” volta a aparecer neste contexto.

 

Os fariseus não empregavam pedagogias para acompanhar os processos de volta a casa “das ovelhas perdidas da casa de Israel” (10,6), simplesmente se faziam acenos de categorias de pessoas e se anunciava o castigo vidouro para quem perseverara na pérfida conduta.

 

Porém, a aceitação da evangelização é a paciência.

 

A explicação da parábola, de todas maneiras recorda que há um juizo de Deus. O faz de maneira total que deveria provocar no ouvinte uma atitude mais vigilante e cuidadosa no cumprimento da Palavra.

 

Porém é claro que a finalidade não é infundir terrorismo espiritual. Ao julgamento de Deus deve corresponder uma Igreja que não negocia os princípios do evangelho e que mantém o anuncio, ainda nas ocasiões nas quais não encontre a esperada resposta.

 

Sem dúvida, é mais importante a pedagogia da paciência que trabalha a fundo as realidades negativas que se opõem ao evangelho.

 

Para isso, o primeiro passo não pode ser o julgamento (“a arrancamos?), mas o respeito, não a intransigência, mas a misericórdia de quem sabe acercar-se com a prontidão de Jesus (assim o leproso, o centurião, os gadarenos, levi… não foram inicialmente dignos dele.

 

E não esqueçamos que, de todas as maneiras, o terreno é d’Ele.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

Gragório Palamas (1296-1359), monge, bispo e teólogo ortodoxo

 

“Então os justos resplandecerão no Reino de seu Pai”

 

Há uma ceifa para as espigas de trigo materiais e uma outra para as espigas dotadas de razão, quer dizer, para o género humano.. Esta efectua-se entre os infiéis e reune na fé os que acolhem o anúncio do Evangelho. Os trabalhadores desta ceifa são os apóstolos de Cristo, depois os seus sucessores, depois, ao longo do tempo, os doutores da Igreja. Cristo diz a seu respeito estas palavras: “O ceifeiro recebe o seu salário; recolhe o fruto para a vida eterna” (Jo 4, 36)… Mas há ainda outra ceifa: é a passagem desta vida para a vida futura que, para cada um de nós, se faz pela morte. Os trabalhadores dessa ceifa não são os apóstolos mas os anjos. Têm maior responsabilidade do que os apóstolos, porque fazem a triagem que se segue à ceifa e separam os bons dos maus, tal como se faz com o joio e a boa semente. Nós somos desde já “o povo escolhido de Deus, a geração santa” (1 Pe 2, 9), a Igreja do Deus vivo, escolhidos entre os ímpios e os infiéis. Possamos nós ser separados do joio deste mundo tal como no mundo que há-de vir e congregados à multidão dos que estão salvos em Cristo, nosso Senhor, que é bendito pelos séculos.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Qual minha atitude ante algumas situações de pecado que são evidentes na sociedade na qual vivo?

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  • Que é isso da pedagogia da paciência?

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  • Como se prega hoje o julgamento de Deus?

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O tema nos diz algo?

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QUARTA-FEIRA

Lucas 10,38-42 (evangelho do dia é Jo 11,19-27)

Uma escola de oração e vida na casa de Marta e Maria
“Uma só coisa é necessária”

 

O entretenimento e o repouso que nos inspira um Jesus que tem tempo para compartilhar com suas amigas, detendo-se em sua casa em meio da viagem, sugere uma nova atmosfera oracional para a Lectio de hoje. Momentos como este são importantes.

 

A Maria lhe parecia mentira que o Mestre estivesse ali em sua casa, tão próximo dela e falando só para ela. Agora podia escutar em silencio suas palavras de vida eterna. A vemos bem recolhida aos pés do Mestre, como costumavam fazer os discípulos nos tempos bíblicos.

 

Marta, a vemos no fundo. Passa de um lado para outro, bem atarefada. Os “muitos afazeres” (10,40) de que fala o evangelho são as tarefas domésticas, as quais se multiplicam quando há visita: limpeza, comida, ambientação, quarto de hospedes, etc. São muitas coisas ao mesmo tempo para atender, sobretudo a comida.

 

Nesse ir e vir nota-se que Marta está tensa, preocupada em agradar a Jesus. Até que se dirige a Jesus (para que ouça Maria): “Senhor, não te importa que minha irmã…” (10,40). A estima que Jesus sente também por Marta suporia que não lhe agradasse vê-la carregar, sozinha, todo o trabalho da casa. O “não te importa?” tem tom de ironia. Então Jesus a responde com uma frase carregada de sentido e que abre grandes horizontes: “Marta, Marta,…” (10,41-42).

 

Por que Jesus chama a atenção de Marta? É claro que não é pelo serviço, já que ele mesmo fala da importância do serviço (22,27). Na descrição de Marta foi dito que ela estava “atarefada por muitos afazeres” (10,40): corria de um lado para outro, fazia muitas pequenas coisas com o tempo bastante fragmentado. O problema é que em toda a agitação, a ocupação se tornou ansiedade, perdeu a paz.

 

O que Jesus desaprova não é a atividade de Marta, mas seu ativismo. No ativismo se perde de vista a meta, é difícil manter a concentração, se desgastam as motivações e acabamos fazendo as tarefas mal. Esta vida frenética – que também ocorre em alguns apostolados – é uma das características de nosso tempo, queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo: estudar e trabalhar, estar na casa e estar fora, falar por telefone e ver televisão, e assim muitas mais.

 

Ocupar-nos dos ofícios com o coração ansioso indica que perdemos o norte, que perdemos de vista o que era essencial, que terminamos escravos do trabalho. Isto prejudica tanto a qualidade de vida como a qualidade do serviço. Para resolver isto, Jesus nos disse que o melhor modo de ser Marta é ser Maria.

 

Quem cultiva o bom hábito da reflexão, do cultivo da vida interior na serenidade da oração e em atenta escuta da Palavra, logra a capacidade de ver tudo desde o ponto de vista da eternidade, purifica suas ações, capta as prioridades. Com Maria se aprende a inteligente calma que ajuda a fazer tudo bem e inclusive a fazer mais do que o esperado.

 

Mas não se pode separar as duas, pois são irmãs. A escuta contemplativa deve levar ao compromisso e a atividade deve partir da escuta atenta do querer do Senhor. Como disse o Cardeal Martini: “Para servir no Reino tem que servir primeiro ao Rei”. Senão faremos muitas coisas que consideramos “serviço” ao Senhor, porém, era isso o que Ele queria que fizéssemos?

 

Enfim, o melhor e mais seguro é ter as mãos de Marta, porém, o coração de Maria. É preciso encontrar tempo – e tempo de qualidade – para a escuta do Mestre, para reencontrar-nos com nosso centro, para considerar os motivos do que fazemos, para estar em contato com nosso ser profundo e com Deus que habita dentro de nós.

 

As palavras do Mestre serão nossa guia na viagem interior. Ainda que haja muitas coisas “urgentes” para fazer, isto é o verdadeiramente “necessário”.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Como me vêem os demais?

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Que espaço de meu tempo dedico a dialogar com Jesus, a escutá-lo? Poderia dedicar-lhe ainda más?

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  • Com as pessoas com as quais convivo, que momentos dedicamos para estar como Maria aos pés de Jesus escutando-o?

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Será que lhe dedicamos pouquíssimo tempo enquanto que para nossos afazeres dedicamos todo o dia ou quase todo o dia? Em que podemos melhorar?

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  • Uma só coisa é necessária”, disse Jesus. Qual é

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E para mim que é o único necessário: o trabalho, o dinheiro, a saúde, minha família, Deus…?

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Será que o Senhor me pede que mude minha escala de valores? Como o farei?

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QUINTA-FEIRA

Mateo 13,47-53

SER DISCÍPULOS DEL REINO

“Parece ao dono de casa que tira de seu tesouro coisas novas e velhas”

 

O Evangelho de hoje nos apresenta duas pequenas parábolas que nos ilustram muito bem em que consiste o reino dos céus: a rede e o escriba que se fez discípulo do Reino.

 

A parábola da rede se inicia com um olhar universal. A rede é “lançada no mar e apanha peixes de toda espécie” (47). É como se Jesus quisesse recordar-nos que o Reino dos Céus está aberto a todos. Não se trata aqui de uma rede seletiva, na qual só entram alguns peixes. Também nos recorda o fato de que a rede a puxam somente quando está cheia. Não se trata aqui de uma rede que tem o tempo certo para ser arrastada para fora: este tempo é o tempo de Deus.

 

Depois Mateus nos fala de pescadores e de seleção. Eles escolhem e apartam os bons dos maus. Os primeiros põem em cestas e os outros lançam fora.  Isto nos recorda a comparação de Jesus citada em Mateus 25,31-46 falando do juízo final quando coloca as ovelhas a sua direita e os cabritos a sua esquerda. A este ponto é importante recordar que o dom da salvação é oferecido a todos.

 

Jesus aplica esta parábola da rede àquilo que acontecerá no fim do mundo com os maus, que serão lançados ao fogo. Antes de findar seu discurso, Jesus, como que querendo captar a atenção de seus ouvintes, pergunta: “Entendestes todas estas coisas?” (51), e eles respondem que sim. Ante a resposta afirmativa destes, Jesus acrescenta o último ensinamento que nos aclara muitos aspectos.

 

Começa com uma afirmação bem interessante. Fala de um “dono de uma casa que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (52). É interessante ver como Jesus, neste ensinamento, já não fala de uma comparação com o Reino, mas com um letrado que se fez discípulo do reino. Se considerarmos esta expressão, tendo em conta às parábolas anteriores, poderíamos afirmar que discípulo do reino é:

  • Quem deixa que a semente da Palavra de Deus dê fruto em sua vida como em um terreno fértil e produza cem, sessenta e trinta por cento;
  • Quem, que crescendo junto ao joio, tem se mantido como bom trigo que, ao final, é levado, em feixes, aos celeiros do reino;
  • Quem deixa que em seu coração cresça a Palavra de Deus, se tem feito árvore tão frondosa que se torna casa de abrigo para outros;
  • Quem, como bom fermento, é capaz de fermentar a massa do povo onde se encontra;
  • Quem se desprende, com alegria, de tudo o que tem, para adquirir o verdadeiro tesouro escondido e a maior pérola fina;
  • Quem assim opera, será como o pescado bom escolhido e metido na cesta.

 

Que é que faz de particular quem tem se feito discípulo do reino? O texto nos diz que “se parece ao dono de uma casa que tira de seu tesouro coisas novas e velhas” (52). É interessante esta afirmação. Não só tira coisas ‘novas’, evitando o que, de algum modo, poderia chamar ‘velho’. É o equilíbrio de quem sabe aproveitar tudo sem aferrar-se às tradições antigas nem às novidades da hora. Sabe que tudo isto pode servir muito bem para fazer-se um ‘discípulo do reino’.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

“Na margem se junta o que for bom”

 

“Governará a terra com justiça e os povos na Sua fidelidade” (Sl 95,13). Que justiça e que fidelidade? Juntará em Seu redor os eleitos (Mc 13,27) e separará os outros, colocando aqueles à Sua direita e estes à Sua esquerda (Mt 25,33). Haverá coisa mais justa, mais fiel que essa? Os que não quiseram exercer misericórdia antes da chegada do juiz não poderão esperar dele misericórdia. Os que exerceram misericórdia serão julgados com misericórdia (Lc 6,37). Porque Ele dirá àqueles, que tiver colocado à Sua direita: “Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo”; e lhes atribui obras de misericórdia: “Tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber”, e por aí afora (Mt 25,31ss.). Porque tu és injusto, não deve o juiz ser justo? Porque te acontece mentir, não deve a verdade ser verídica? Se queres ter um juiz misericordioso, sê misericordioso antes que Ele chegue. Perdoa a quem te tiver ofendido; dá dos teus bens, se possuis em abundância. […] Dá o que dele recebes: “Que tens tu, que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7). Eis os sacrifícios que são muito agradáveis a Deus: a misericórdia, a humildade, o reconhecimento, a paz, a caridade. Se isso levarmos, esperaremos com segurança o advento do juiz, desse juiz que “governará a terra com justiça, e os povos na Sua fidelidade.” (Santo Agostinho, 354-430)

 

Cultivemos a semente da palavra na profundidade do coração

 

  • A que se refere Jesus, quando fala de peixes bons e maus?

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Que faz a cada um deles?

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  • Segundo meu modo de proceder, onde iria parar eu: na cesta dos peixes bons ou no fogo?

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  • Quais as tradições ou novidades, que nos aferramos ou desprezamos na família ou comunidade?

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SEXTA-FEIRA

Mateus 13,54-58

JESUS, MOTIVO DE ESCÂNDALO.

“E se escandalizavam por causa d’Ele”

 

Um discípulo de Jesus é caracterizado por sua experiência de fé, pela sua profundidade e a expressão concreta de sua relação com Jesus.

 

No evangelho de hoje deparamo-nos, justamente, com a antítese: a falta de fé em Jesus.  Seus próprios conterrâneos “escandalizavam-se por causa d’Ele” (13,57).

 

É interessante notar que na atitude da multidão acontece uma reviravolta radical: (1) maravilhavam-se em primeiro lugar (13,54), e (2) depois se escandalizavam (13,57).

 

Por outro lado, os que assumem esta mudança de atitude frente a Jesus não são as pessoas distantes, os pecadores, os pagãos, etc., mas, precisamente, aquelas pessoas que mais estavam familiarizadas com o Senhor: o conheciam desde menino na pequena aldeia de Nazaré, ali não estavam como nenhum estranho, inclusive se podia identificar bem a cada um dos de sua família.

 

Qual é o escândalo que fecha o coração à fé entre as pessoas mais próximas a Jesus? Está em não ver em Jesus nada mais que um homem, uma pessoa comum, e portanto um fabulador que oferece coisas que seria incapaz de realizar.

 

Por que acontece isto? É o que se poderia chamar o “escândalo da encarnação”: a humanidade plena de Jesus pode levar quem o trata a uma familiaridade tal com Ele de maneira que, como dizemos hoje, já não consegue penetrar o mistério de sua pessoa.

 

A familiaridade excessiva leva à rotina, a rotina à superficialidade no trato, a superficialidade às resistências ante o novo do outro e, então, a resistência fecha à fé.

 

É o mesmo que nos acontece com alguma freqüência nas relações humanas: fixamos às pessoas com “etiquetas” e lhes negamos a oportunidade de mostrar-nos algo mais de si mesmas.

 

Na vida espiritual isto é pior já que com Deus corremos o risco de cair na atitude das pessoas de Nazaré, isto é, cair na rotina espiritual, perder o encanto e o sabor dos assuntos do Senhor que é eternamente novidade, seu mistério é surpreendente.

 

A fé supõe fascinação do Outro que se descobre e se expressa na abertura à novidade que sempre está por revelar-se.

Si queremos conhecer a Jesus é necessário que nos deixemos surpreender e que a maravilha que nos causam suas palavras e suas obras seja a pista para descobrir sua verdadeira origem em Deus e o grande valor da obra que quer realizar entre nós permanentemente.

 

Esta abertura da fé é condição para que seu atuar tenha efeito em nós e entre nós. Digamos hoje a Jesus: “Que todo meu ser se abra mais a ti, Senhor, para que tu realizes mais em mim”.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

São Máximo, o Confessor (c.580-662), monge e teólogo

 

«Não é Ele o filho do carpinteiro?»

 

O Verbo de Deus nasceu uma vez para todos segundo a carne. Mas, por causa do seu amor pelos homens, Ele deseja nascer sem cessar pelo espírito para todos os que o desejam; Ele faz-se criança e forma-se neles ao mesmo tempo que as virtudes; manifesta-se na medida de que sabe ser capaz aquele que o recebe. Agindo desta forma, já não é por ciúme que atenua o brilho da sua própria grandeza, mas porque afere e mede a capacidade daqueles que desejam vê-Lo. Assim, o Verbo de Deus revela-se-nos sempre da maneira que nos convém e contudo permanece invisível para todos, por causa da imensidade do Seu mistério. Por isso, o Apóstolo por excelência, considerando a força deste mistério, diz com sabedoria: «Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje e por toda a Eternidade» (Hb 13,8); Ele comtemplava este mistério sempre novo que a inteligência nunca acabará de sondar… Só a fé consegue apreender este mistério, ela que está no fundo de tudo aquilo que ultrapassa a inteligência e desafia a expressão.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Sou das pessoas que se relacionam com os demais a partir de “etiquetas”, negando aos outros a oportunidade de revelar-nos algo novo de si mesmas?

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  • Estou sempre aberto a Jesus? Deixo-me surpreender e fascinar por Ele?

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Descubro a novidade de sua presença salvadora em minha historia e na historia dos outros?

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  • Que vou fazer para aprofundar no conhecimento de Jesus e abrir as portas de minha fé para que ele faça obras novas em mim?

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SÁBADO

Mateus 14,1-12

O PREÇO DE SER PROFETA

“Sua cabeça foi trazida em uma bandeja e entregue à moça.”

 

Ante a pessoa de Jesus sempre se toma alguma posição.

 

No texto de ontem vimos à reação das pessoas familiarizadas com Jesus desde pequeno, hoje vemos a reação de alguém que nem sequer o havia visto, alguém, por assim dizer, estranho a Jesus: o rei Herodes, rei (com título de Tetrarca) da região onde Jesus está evangelizando.

 

Com o rei Herodes como protagonista temos hoje o segundo quadro da galeria das experiências de fé.

Porém, de novo temos a negação da fé: um homem que não compreende a identidade de Jesus (disse: “Esse é João Batista, ele ressuscitou…”), que tira conclusões rápidas sobre Jesus (“… por isso atuam nele forças milagrosas”). Para Herodes a pessoa de Jesus é o fantasma de sua vítima.

 

No texto de hoje podemos ler a partir de três ângulos:

 

(1) A evangelização chega ao rei: O Evangelho não só chega aos ambientes populares, mas ressoa também no palácio do rei (“Inteirou o rei Herodes da fama de Jesus”). Eis a evangelização que toca as estruturas de poder, os centros de decisão. Também aqui, encontramos resistências para que o nome de Jesus seja aceito de maneira que todos se descubram amados, perdoados e salvos. O Evangelho chega ali onde podem incubar-se atitudes de submeter o outro para gerar um homem novo, não mais centrado em si mesmo, mas no serviço (ver Mt 20,25-26).

 

(2) A falsa idéia que o rei faz de Jesus: As “forças milagrosas” de Jesus têm sua explicação, segundo Herodes, numa eventual ressurreição de João Batista e não na novidade do Reino, da qual ele havia sido o precursor e o último de seus profetas (ver 11,13). O rei não é capaz de dar um passo adiante no itinerário histórico-salvífico de Jesus. A atitude de Herodes ante Jesus vai muito com o sentir popular que se verá adiante, quando Jesus pergunta que é o que o povo pensa dele (ver Mt 16,13-14).

 

(3) O pecado do rei: Quando Herodes ouve falar de Jesus o que vem em sua consciência é a história de seu pecado (“o que aconteceu é que…”,v.3): o assassinato de João, vítima de sua exortação para mudar sua vida de pecado (14,4), de seu medo à impopularidade (14,5) e de sua estupidez como governante (14,7.9).  O relato do martírio de João Batista, na realidade, faz um juízo do rei, pondo-se assim de relevo para nós leitores, como é um modo de pensar e atuar incompatível com o Evangelho.

 

Aprofundemos com os padres e doutores da Igreja:

 

A morte de João Batista

 

“Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”. E Deus permitiu-o, não lançou o raio do alto dos céus para devorar aquele rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele horroroso banquete. Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma magnífica consolação aos que, no futuro, viessem a serem vítimas de semelhantes injustiças. Escutemo-lo, pois, todos nós que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os malvados… O maior dos filhos nascidos de mulher (Lc 7,28) foi levado à morte pelo pedido de uma jovem impudica, de uma mulher perdida; e isso por ter defendido as leis divinas. Que estas considerações nos façam suportar  com coragem os nossos próprios sofrimentos… Mas repara no tom moderado do evangelista que, na medida do possível, procura circunstâncias atenuantes para este crime. A propósito de Herodes, ele nota que agiu “por causa do seu juramento e dos convivas” e que “ficou entristecido”; a propósito da jovem, nota que tinha sido “induzida pela mãe”… Também nós, não odiemos os malvados, não critiquemos as faltas do próximo, escondamo-las tão discretamente quanto possível; acolhamos a caridade na nossa alma. Porque, acerca desta mulher impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível… Tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadeza… Toda a diferença está na maneira de agir dos santos: ele chora pelos pecadores, em vez de os amaldiçoarem. Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam. Porque vemos hoje muitos banquetes do gênero do de Herodes; não se condena à morte o Precursor, mas destroem-se os membros de Cristo…

(São João Crisóstomo, doutor da Igreja, 345-407)

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que cobertura tem minha ação evangelizadora?

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Preocupo-me em levar a Palavra até os centros de decisão que existem hoje?

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  • Que é que Jesus quer transformar ali?

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Quem era Jesus para Herodes? Quem é Jesus para mim?

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Que me ensina a história do martírio de João Batista?

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  • Qual é meu pecado que me pode levar a fazer a outros, “vítimas” de meus erros?

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