Estudos Bíblicos na 15ª Semana Comum ano A 2023

ESTUDO BÍBLICO NA 15ª SEMANA COMUM ANO A 2023

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 10,3411,1

O DISCURSO DOS BONS OPERÁRIOS DO EVANGELHO (V): OS AFETOS DO MISSIONÁRIO

“Quem a vós recebe a mim recebe”

Chegamos ao final do “Discurso do missionário” no evangelho de Mateus. E o referido discurso se encerra com estas palavras conclusivas “Quando Jesus acabou de dar instruções a seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar na cidade deles” (Mt 11,1).

Em outras palavras, este ensino que Jesus preparou trata de sua própria atividade missionária. Assim, agora, Ele mesmo, é o primeiro a praticar o que prega. As últimas duas lições da formação dos missionários têm relação com os “afetos”:

Instruções acerca da família: a crise nos afetos do missionário (10,34-39)

Mateus nos apresenta de modo reformulado o lado da opção cristã para as habituais relações familiares, inspirando-se no profeta Miquéias: “Porque o filho insulta o pai, a filha levanta-se contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são as pessoas de sua casa” (7,6).  A ruptura familiar, que é um dos fenômenos que caracteriza a tribulação ao final da pregação profética de Miqueias, aparece antecipada para a hora na qual se dá o passo da fé.

As difíceis frases de Mt 10,34-36, que se resumem na última: “Em suma: os inimigos do homem serão seus próprios familiares” (10,36), mostram o lado da radicalidade da opção.  Com efeito, na vida familiar, assim como em muitos outros âmbitos de relação, se vivem situações que se aceitam como normais, porém, uma vez que se tem conhecido o evangelho de Jesus, estas já não podem ser toleradas.

Definitivamente, o evangelho é um acontecimento de vida que subverte e transforma toda estrutura, tanto a nível social, como familiar e pessoal. O encontro com Jesus, a principio, gera uma nova capacidade de amar. Porém, o verdadeiro amor é profético: não pode tolerar a injustiça, não pode acomodar-se ao que não é correto. A experiência viva com o chamado de Deus tem uma grande capacidade para revolver, para abalar, para fazer estremecer, as estruturas mais compactas, uma das quais, e, talvez, a mais visível, na sociedade patriarcal israelita, é a família.

Um segundo grupo de pensamentos que pronuncia Jesus, é mais forte que o primeiro. A hierarquia de valores começa a ser julgada aqui: este breve texto nos introduz na dinâmica do seguimento radical do Senhor, antes mesmo das prioridades afetivas do discípulo. 

Jesus é o valor fundamental do discípulo. Ele está acima (“ama mais”) dos maiores amores que alguém pode ter na vida (pai, mãe, filho, a pessoa mesma), se não é assim, o discípulo-missionário “não é digno de mim” (repete três vezes nesta passagem). Desta forma, volta a apresentar a exigência de romper com toda classe de seguranças, enquanto que um novo horizonte se abre à vida do discípulo.

Tudo isso está simbolizado no gesto de “tomar a cruz e seguir atrás d’Ele” (10,38), mediante o qual se deixa de lado toda classe de interesses meramente pessoais para abraçar a Cruz, como expressão de uma vida toda entregue à causa de Jesus.

Instruções acerca da identificação de Jesus com seus missionários (10,40-42)

Na leitura que fizemos do Sermão da Montanha, vimos como toda a primeira parte deste sermão estava preocupada em mostrar que um verdadeiro filho de Deus se parece com seu Pai em seu agir (5,16). Agora, o mesmo é afirmado neste capítulo missionário, com relação a Jesus e seus discípulos: “Quem a vós recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe Àquele que me enviou” (10,40).

O discípulo plenamente identificado com Jesus recebe aqui três títulos:

  • profeta” (41ª): como já vimos antes, o missionário se apresenta como “profeta” de palavra exigente

                            e clara, mas, também como animador da vida no Senhor para todos seus irmãos;

  • justo” (41b): porque, pela vivencia das bem-aventuranças, tem aprendido a justiça nova do Reino,

                      a qual ensina a seus irmãos (ver 5,19);

  • pequeno” (42): em sua humildade se reconhece como pessoa sempre em crescimento, necessitada

                          dos demais, consciente que não basta convidar a outros a entrar no Reino, mas ele

                          deve entrar primeiro (18,4).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

Como missionário que busca a vida e crescimento dos demais peçamos ao dono da messe que não se esqueça nunca quem somos ante Ele: seus pequenos, seus justos e seus profetas ao estilo de Jesus. Que o êxito não nos leve a crer-nos mais que os demais. Que não se dê nem um passo atrás na entrega ao Senhor do Reino.

  1. Que dissabores recordas da última experiência missionária que teve?
  2. Como deve ser a afetividade do missionário? O amor a Jesus e à pessoas mais queridas se contrapõem, se ordenam um a outro?
  3. Que implica a identificação total com Jesus para o crescimento pessoal e para nossa maneira de apresentar-nos ante os demais

TERÇA-FEIRA

Mateus 11,20-24

A OUTRA CARA DA MOEDA: A RESISTÊNCIA À CONVERSÃO

“Se em Tiro e em Sidônia se tivesse feito os milagres que se tem feito entre vós…”

Vejamos agora a outra cara da moeda do Evangelho que acabamos de abordar.

Voltando algumas páginas atrás, no Evangelho de Mateus, encontramo-nos, no capítulo 11, com as palavras duras de Jesus “às cidades onde havia realizado a maioria de seus milagres, porque não se haviam convertido” (11,20).

O ponto é que a “conversão” acaba sendo mais dura exatamente ali, onde Jesus e seus missionários mais milagres fizeram, onde mais sinais do amor de Deus e do poder de Reino se revelaram. Não será isto uma constante na história?

No Evangelho vemos que as cidades de Corazim e de Betsaida, cidades bem conhecidas na região geográfica da missão de Jesus na Galileia, personificam a reação adversa frente ao Evangelho. A indiferença dos que mais receberam é injustificável e, por isso, o julgamento aparece mais duro.

As cidades não judias de Tiro, Sidônia e Sodoma, cidades emblemáticas do paganismo e do pecado, pareceriam mais dispostas à conversão que o povo de Israel, que “se elevava” (11,23; em outros termos, acreditava ser “a maior”) pela convicção de ter, de sua parte, a graça salvadora de Deus.

Eis aqui um dos elementos que a mentalidade de Jesus promove no âmbito da transformação das estruturas sociais difíceis: a tomada de consciência da necessidade de salvação, a necessidade da misericórdia e do perdão.

Quem não sente necessidade de conversão não pode dar o menor passo para a entrada no Reino (ver a passagem que aparece no contexto anterior: 11,16-19).

Oremos para que, em nosso caminhar com Jesus, a advertência, aqui exposta pelo Evangelho, nos sacuda de nossa comodidade e, acolhendo agradecidamente as obras do Senhor em nossas vidas, seu amor nos conduza para níveis mais altos de compromisso com a proposta do Reino da vida, expressão patente de conversão evangélica.

Aprofundando com os nossos pais na fé

São Gregório Magno (c.540-604), papa, doutor da Igreja.

 “Jesus começou a fazer censuras às cidades que não se tinham convertido”

Gritemos com Davi; ouçamo-lo chorar e vertamos lágrimas com ele.

Vejamos como se corrige e alegremo-nos com ele: “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa misericórdia”.

Coloquemos diante dos olhos da nossa alma um homem gravemente ferido, quase prestes a exalar o seu último suspiro, que jaz nu sobre o pó do caminho.

No seu desejo de ver chegar um médico, geme e pede àquele que compreende

o estado em que se encontra que tenha piedade dele.

Ora, o pecado é um ferimento da alma.

Tu, que és esse ferido, compreende que o teu médico se encontra dentro de ti,

e descobre-lhe as chagas dos teus pecados.

Que Ele ouça os gemidos do teu coração, Ele que conhece todos os pensamentos secretos.

Que as tuas lágrimas o comovam e, se for preciso procurá-Lo com uma certa insistência, do fundo do teu coração, faz subir até Ele suspiros profundos.

Que a tua dor chegue até Ele e que também a ti te digam, como a Davi:            “O Senhor apagou o teu pecado”.

“Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa misericórdia”.

É pouca a misericórdia que atraem sobre si aqueles que fazem diminuir a sua falta porque não conhecem esta grande misericórdia.

Por mim, caí pesadamente, pequei com conhecimento de causa.

Mas Tu, médico todo-poderoso, Tu corriges aqueles que Te desprezam, instruis aqueles que ignoram a suafalta e perdoas àqueles que te são confessadas.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que quer dizer que para ser o “maior” tem que “fazer-se pequeno” como uma criança?
  2. A que conversão em minha vida pessoal me convida o texto do Evangelho de hoje?
  3. A comparação que Jesus faz entre as cidades pagãs e as hebreias levam-nos a um questionamento pessoal sobre nossa docilidade ou nossa dureza de coração para aceitar o Evangelho de Jesus. Considero-me uma pessoa que tem adormecido no título de “cristão” e necessita sacudir-se um pouco para entrar pelo caminho correto da conversão?

QUARTA-FEIRA

Mateus 11,25-27:

Uma reveladora oração de Jesus

“Ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequenos”

A primeira palavra do Evangelho de hoje é uma oração de louvor que leva o selo da experiência particular de Jesus. Esta oração vai dirigida ao “Pai”, que é “Senhor do céu e da terra” (11,25).

Novamente Jesus quer mostrar-nos a estreita vinculação que existe entre o Pai e Ele, junto com a possibilidade que nos dá de ascender, de nos elevar, a este mesmo estado.

Os seguidores de Jesus são pessoas que conhecem muito bem sua missão e o horizonte que possuem ao conhecer Jesus: onde está à origem e qual é a meta de sua existência.

Na raiz do discipulado está à relação do Pai e do Filho como realidade fundante da qual brota todo o conhecimento de Deus que se recebe e como paradigma do verdadeiro sentido do chamado recebido: participar desta comunhão.

Como deixa entender, Jesus, a boa comunicação com Deus e a constante relação com Ele, nos permite conhecer os mistérios e as verdades que estão no interior de nossa vocação e de nossa missão cristã.

Os “sábios e entendidos” são, no contexto deste Evangelho, os mestres da lei e os fariseus, que conhecem a Lei de Moisés, porém, rejeitam Jesus porque lhes parece insignificante. Rejeitam-no, não porque não compreendam suas palavras a nível intelectual, mas porque, captando bem o que tem ensinado, se negam, categoricamente, a aceitá-lo.

Eles não estão abertos à nova proposta de salvação e vida que provém do Reino, cuja irrupção definitiva anuncia Jesus. Ainda que, sendo grandes teólogos, eles preferem seguir atados à sua norma, a um sistema de vida rígido que os impede de ler os sinais vivos da presença de Deus em Jesus de Nazaré.

Ao contrário, os “pequenos” são os que, com simplicidade de coração, têm aberto, de par em par, as portas de seu coração, para receber a revelação de Jesus e a acolhido efetivamente.

Os “pequenos” são os que, não importa sua condição social, têm uma atitude diferente, que parte do reconhecimento de que “não sabem tudo” e, portanto, desejam, vivamente, aprender e viver mais ao lado do Mestre.

Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (11,27). Esta revelação que o Filho faz do Pai é a que o Pai tem manifestado aos simples: que todos nos façamos um com Ele e para Ele.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

«Vinde a Mim todos os que estais fatigados»

Percorríamos o itinerário desta vida na ignorância e na incerteza.

Nossa viagem pelo mundo tinha nos sobrecarregado com considerável fardo de negligência pecadora…

De repente, avistamos do lado do Oriente uma inesperada fonte de água viva.

Enquanto nos apressávamos para ela, a voz de Deus fez-se ouvir gritando a nós: “Vós, que tendes sede, vinde às águas!” (Is 51,1).

Vendo que nos aproximávamos carregados de pesadas bagagens disse: “Vinde a Mim todos vós que estais fatigados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei”.

Então nós, ao ouvirmos essa voz cheia de bondade, lançamos por terra nossas bagagens.

Atormentados pela sede, estendemo-nos no solo a fim de beber avidamente da fonte; e tendo bebido longamente, levantámo-nos restabelecidos.

Após termo-nos erguido, permanecemos ali, absolutamente estupefatos, no excesso da nossa alegria.

Olhávamos o jugo que tínhamos carregado penosamente ao longo do caminho, e as bagagens que nos haviam fatigado até à morte com seu peso…

Enquanto estávamos absortos em nossas considerações, ouvimos de novo a voz que saia da fonte que nos restituíra à vida: “Tomai sobre vós meu jugo e entrai para minha escola, pois sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas. Pois meu jugo é suave e minha carga leve”.

E nós, a estas palavras, dissemos uns aos outros: “Não voltemos atrás depois de termos reencontrado a vida, graças a tal fonte…

Não retomemos a bagagem dos nossos.”

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Segundo o Evangelho de hoje, quem são os “sábios e inteligentes”? Quem são os “pequenos”?
  2. Que relação tem a passagem de hoje com os textos que lemos ontem?  Como se conectam?  Que nova mensagem se agrega?
  3. Que espera Jesus de nós segundo o Evangelho? Que decisão eu tomo para minha vida espiritual?

QUINTA-FEIRA

Mateus 11,28-30:

Sob delicado jugo

“Meu jugo é suave e meu fardo leve”

O olhar em oração ao Pai dos “pequenos” do Reino se converte, agora, em olhar misericordioso para os sofridos da terra. “Venham a mim…” (11,28a).

Nestas palavras, Jesus faz um convite direto a todos os seus ouvintes para que se façam seus discípulos. Estes são os que “estão fatigados e sobrecarregados” e assim repousarão: “… e eu lhes darei descanso”.

Os termos que Jesus utiliza não são como as típicas “frases de gavetas” ou os lemas publicitários, que dizem belas frases para captar incautos seguidores que, cedo ou tarde, terminarão desiludidos com promessas de felicidade que nunca virão cumprir-se.

Não, o convite é que todo homem, desde as agitações internas de sua busca de sentido, dos sonhos e anseio de esperança que o Criador, desde o princípio gravou em seu coração, converta-se em um verdadeiro discípulo da sabedoria. Na literatura sapiencial bíblica (Eclo) lemos: Venham a mim (24,19;51,23), Tomem meu jugo (6,24-25;51,26), Encontrarão descanso” (6,28).

Entre os fariseus do tempo do ministério de Jesus (e ainda um pouco depois), se falava de “tomar o jugo da Lei” como um modo de descrever a decisão de assumir a Palavra de Deus como norma de vida.

O “jugo”, como no caso dos bois, faz inclinar a cabeça e dá docilidade. Dadas às complicações em que havia caído o estudo da Palavra de Deus, convertida em matéria de retórica jurídica, o “jugo” da Lei do Senhor havia se convertido em um forte e esmagante peso para o povo que se sentia fatigado e sobrecarregado por ela.

“Tomai sobre vós meu jugo” (11,29a).

O Evangelho de Jesus revelado aos pequenos é o novo “jugo” que não oprime, mas que liberta. O Evangelho está feito, não para esmagar, mas para levantar. Curiosamente, ao reter um termo que já começava a soar pejorativo para o povo, o de “jugo”, Jesus exprime o melhor de seus sentidos: Jesus não sobrecarrega, mas troca conosco sua carga: Ele toma nossos fardos pesados da vida sobre seus ombros e nos dá seu coração manso e humilde (11,29b).

Jesus toma nossas preocupações e dificuldades. Porém, também toma os mesmos caminhos que temos para ascender a Ele, e os faz possível com a força de seu Espírito Santo. Entrega-nos logo a “carga” da missão, do anúncio da Boa Nova do Reino, as tarefas que provêm da vontade amorosa do Pai sobre o mundo, para que lhe ajudemos a concretizá-la na história que, dia a dia, construímos e amassar, assim, o pão com o fermento do Reino (ver 13,33).

Uma vez mais Jesus nos convida a acolhê-lo com simplicidade e, desta vez, com uma bela novidade: Ele nos acolhe primeiro com tudo o que temos e nos submerge na doçura de seu coração.

É assim que viveremos sempre unidos a Ele, tendo-o como apoio que dá “repouso” a nosso coração inquieto e como modelo (“aprendei de mim”) que inspira nossa vida.

Meditemos, agora, o texto do Evangelho e tomemos consciência, mediante a acolhida repousada da Palavra, sobre a forma como estamos vivendo e acolhendo à revelação de Deus na pessoa de Jesus: que efeitos têm, em nós, a escuta diária da Palavra, a celebração eucarística, os diversos compromissos que temos com Deus e com os irmãos, no nome de Jesus, e que nos põe em contacto diário com sua presença sacramental em nosso meio.

Não caiamos na atitude dos fariseus, que pretendendo cumprir um montão de preceitos e normas, para conhecer, verdadeiramente, a Deus, esqueciam que a forma mais simples e humilde era a mais eficaz: o saber-nos amados em nossa miséria e compreendidos em nossas crises, porém, sobretudo, acolhidos, no amor de seu adorável Coração.

É na transparência de seu sagrado coração onde lemos o Evangelho e recebemos o “jugo” que dá sabedoria a nossas vidas.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que valor simbólico tem o “jugo” na Sagrada Escritura?
  2. Que “jugos” encontramos em nossa sociedade de hoje que esmagam, fatigam, desorientam, convertendo-se em cargas intoleráveis?
  3. Que intercâmbio nos propõe hoje Jesus? Como se realiza este intercâmbio?

SEXTA-FEIRA

Mateus 12,1-8

A NORMA DAS NORMAS: A MISERICÓRDIA ACIMA DE TUDO

Se tivesses compreendido… não condenarias os que não têm culpa”

Vejamos no texto de hoje como é que Jesus dá o verdadeiro “descanso” (o Shabat) e faz ligeira a carga da Lei. O texto nos apresenta a primeira controvérsia sobre o estrito cumprimento da lei do descanso “sabático” (cuja norma se encontra em Êxodo 20,8-11).

A cena acontece em meio ao campo. Os interlocutores são os fariseus.

Os fariseus reprovam Jesus que seus discípulos façam em dia de sábado algo que não é permitido pela lei: “Olha, teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em sábado” (12,2). Eles se referem expressamente ao “arrancar espigas e comê-las” (12,1; ofício proibido fazer em sábado).

Eles só se fixam na norma, não na fome dos discípulos (“sentiram fome”, v.1) nem na misericórdia de Jesus que lhes permite romper a norma para remediar a necessidade (“quero misericórdia…”, v.7).

Os fariseus esperavam que Jesus lhes fizesse caso e repreendesse seus discípulos, porém, não aconteceu assim. De fato, se os discípulos fizeram isto foi porque os incentivou seu Mestre.

A resposta de Jesus, seguindo o mesmo esquema dos debates dos fariseus, cita duas passagens bíblicas na qual o remédio de uma necessidade foi mais importante que a rigidez da norma:

  • Jesus lê 1Sm 21,2-7, onde o sacerdote Ajimélek permite a Davi comer o pão que havia sido destinado para o Templo e os sacerdotes (Ex 25,23-30), já que não havia pão profano para comer ( Mt 12,3-4);
  • Logo apela a um argumento jurídico tomado do mesmo livro da Lei: quando um sacerdote está no exercício de suas funções no Templo nem todas as estritas normas do descanso sabático aplicam (Mt 12,5-6 citando Nm 28,9-10). Do qual Jesus conclui: “Eu vos digo que aqui há alguém maior que o Templo” (12,6).

Isto quer dizer que se o Templo dispensa da Lei do descanso, Jesus pode dispensar seus discípulos eventualmente de uma norma que impedia a caridade.

Jesus, “Deus-conosco”, é “maior que o Templo” (12,6) e “Senhor do Sábado” (12,8). Estas afirmações são surpreendentes. Para os fariseus soam como blasfêmia inaceitável.

Para os discípulos de Jesus soaram como resposta à pergunta pela identidade de Jesus, o verdadeiro “Ungido” e “Templo” de Deus, e ponto de partida de uma nova atitude frente ao aparato legal hebreu.

Jesus deixa entender que nenhuma instituição pode estar acima da nova notícia da caridade do Reino que vem ao mundo por meio da pregação, os milagres e os gestos de misericórdia de Jesus.

A citação “Quero Misericórdia, não sacrifício” (Os 6,6), introduz uma nova crítica de Jesus à rigidez espiritual dos fariseus. Uma das “queixas” (11,28) do povo era o sentimento de culpa por haver tido que fazer algo urgente que remediara suas necessidades passando por cima das normas estabelecidas.

O verdadeiro culto a Deus não está nos ritos externos, mas no ter um coração como o dele, o qual era a finalidade primeira do culto externo, pregaram os profetas.

Quando isto não é claro, se pode cair em posturas condenatórias que, se bem são coerentes com a norma escrita, podem não coincidir com a prioridade de Deus que é a vida plena do homem.

Por isso Jesus disse onde está à verdadeira falta dos que creem que nunca cometem faltas: “Não condenarias os que não têm culpa” (12,7). A autêntica experiência religiosa aponta sempre para a comunhão com Deus.

O sacrifício do Templo tinha esta finalidade. Não se podia esquecer que o fundamental está no coração: “Pois não te agrada o sacrifício…. O sacrifício a Deus é um espírito contrito…” (Sl 51,18-19).

Segundo isso, qual é o verdadeiro rito que Deus espera de mim: o amor ou a norma? Se por acaso respondemos o segundo, poderíamos terminar, não sacrificando-nos para Deus, mas sacrificando seu amor e “aos que não tem culpa” (12,7).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Como enfoca Jesus a polêmica dos fariseus escandalizados porque os discípulos famintos quebraram a lei para satisfazer sua necessidade?
  2. Que afirmações acerca de Jesus se fazem nesta passagem do Evangelho?

Que nos dizem de “novo” acerca d’Ele?

  • Tenho “sacrificado” alguma pessoa pelo apego estrito a uma norma?

SÁBADO

João 20,1-2.11-18 – S. Maria Madalena

Celebramos no dia 22 de julho a festa litúrgica de Santa Maria Madalena, ela que foi a testemunha da ressurreição de Jesus, como relata os evangelhos, e cooperou com os discípulos na missão de anunciar a Palavra de Deus. O Papa Francisco transformou a antiga memória em grau de festa.

Maria Madalena é conhecida como aquela que Jesus expulsou os demônios e a libertou do pecado que a castigava. Desde então, Maria sentiu um carinho e uma gratidão enorme por Jesus e sentiu no coração o desejo de ser do grupo dos seguidores do mestre.

Maria Madalena, ao aproximar-se de Cristo, foi acolhida em sua misericórdia infinita. Ela descobriu a fonte do perdão e da vida verdadeira e, a partir do seu encontro com Cristo, não o abandonou mais.

Jesus, durante a sua vida pública, teve encontro com diversas pessoas. Algumas simplesmente passaram e nem voltaram para agradecer o milagre que Jesus fez na vida delas, enquanto outras ficaram tão agradecidas a Ele que, além de voltar para agradecer, se tornaram seus discípulos, como é o caso de Maria Madalena.

Maria Madalena acompanhou Jesus até o alto do calvário. No caminho da via dolorosa, Jesus se encontra com as mulheres de Jerusalém e, dentre essas mulheres, estava Maria Madalena. Deus foi tão misericordioso com Maria Madalena que permitiu que ela fosse a primeira testemunha da ressurreição.

Ao ver Jesus ressuscitado, Ele diz para ela: “Vai a meus irmãos e anunciai-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus”. Como verdadeira discípula, levou a notícia da ressurreição aos Apóstolos. Num primeiro momento, os discípulos desconfiam do que Maria disse, mas em seguida, Pedro e João vão ao túmulo e confirmam a ressurreição. Depois Jesus aparece aos discípulos outras vezes, antes de subir em definitivo para o Pai. E Maria Madalena continua com os discípulos anunciando o Reino de Deus e dando início a Igreja primitiva.

Jesus espera essa atitude de cada um de nós, que sejamos testemunhas d’Ele nos dias de hoje e que possamos levar o Evangelho da salvação para muitas pessoas. E, ainda, que sejamos agradecidos por tantos milagres que Jesus realiza em nossa vida.

“Os doze estavam com Ele, e também mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças. Maria, dita de Mágdala, da qual haviam saído sete demônios…” (Lc 8,1-2). Esse trecho relatado no Evangelho de Lucas, relata aqueles que sempre estavam com Jesus, os doze apóstolos e algumas mulheres que eram agradecidas a Jesus, pelo bem que Ele realizou na vida delas. O número “sete” na bíblia remete a perfeição e totalidade — de Maria saiu sete demônios, agora Ela estava pronta para servir a Jesus na totalidade e se entregar a Ele incondicionalmente.

Maria Madalena vê no serviço a Deus e aos irmãos uma forma de agradecer o milagre que Deus fez em sua vida por intermédio de Jesus. Por isso, Ela se junta ao número dos doze e os acompanha na missão de anunciar o Reino de Deus. Muitas pessoas hoje são alcançadas pela graça de Deus, mas não voltam para agradecer e nem na Igreja vão. Que possamos seguir o exemplo de Maria Madalena e, ao sermos alcançados pela graça de Deus, sirvamos o próximo, anunciando com alegria a Palavra de Deus.

João relata em seu Evangelho: “Então, Jesus falou: ‘Maria!’ Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabûni!’ (que quer dizer: Mestre)” (Jo 20,16). Esse foi o encontro de Maria com Jesus ressuscitado, ela se “espanta” de alegria ao ver Cristo Ressuscitado. Ela tinha intimidade com Jesus. Essa intimidade se dava por meio da oração. Foi com a oração que ela foi libertada dos sete demônios. Por isso, ela conhecia como o Mestre a chamava, pois quando Ela foi liberta do pecado, Ele a chamou para si e, desde então, Ela não o deixou mais.

Segundo uma tradição, Maria Madalena, juntamente com a Virgem Maria e o Apóstolo João, foram evangelizar em Éfeso, onde depois veio a falecer nessa cidade. Justamente após a crucificação de Jesus, João acolhe consigo Maria e cuida dela e Maria Madalena se torna amiga de Maria e de João e coopera com eles na missão. Posteriormente, Paulo evangelizou em Éfeso.

Celebremos com alegria a festa litúrgica de Maria Madalena e aprendamos a ser sempre gratos a Deus, por tudo aquilo que Ele realiza em nossa vida. Tenhamos em nós o ardor missionário e a coragem de anunciar a Palavra de Deus.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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