O SEMEADOR – Estudo Bíblico

15º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ESTUDO BÍBLICO DOMINICAL Ano A

Mateus 13,1-23

DISCURSO EM PARÁBOLAS

“Meu coração está preparado, ó Deus, para produzir

trinta, sessenta e cem por um!

Que seja mais ou menos, porém que seja sempre trigo!”

(Santo Agostinho)

“A vocês foi concedido conhecer os segredos do reino dos céus,

porém, a eles, não se lhes concede”

Comecemos orando:

“Senhor, tu que iluminas aos extraviados com a luz de teu Evangelho para que voltem ao caminho da verdade, concede a quantos nos chamamos cristãos imitar fielmente a Cristo e recusar tudo que possa afastar-nos dele” (Oração Coleta do Domingo)

Introdução

Começa uma nova seção do evangelho de Mateus. Trata-se do terceiro grande discurso formativo de Jesus a seus discípulos.

Todo esse discurso está formado de sete parábolas e abarca todo o capítulo 13 de evangelho de Mateus. Os dois primeiros, o Sermão da Montanha (cc.5-7) e o Manual da Missão (c.10) são como dois degraus no caminho de maturidade dos discípulos.

Este novo discurso se centra em um aspecto importante do discipulado: Jesus não só disse o que deve fazer, mas, tendo em vista a maturidade da fé dos seus, também os ensina a discernir a vontade de Deus em cada circunstancia da vida.

Para isto usa parábolas, as quais são verdadeiros exercícios de discernimento espiritual que tratam de captar o acontecer discreto do Reino em meio às diversas circunstancias da vida e motivam para fazer a eleição correta da vontade de Deus.  É assim como se descobre a natureza surpreendente do Reino.

O ensinamento de Jesus se desenvolve ao longo de sete parábolas bem ordenadas. Depois de uma breve introdução (13,1-2), começam as parábolas:

  • O semeador (13,1-9);
  • O joio e o trigo (13,24-30);
  • O grão de mostarda (13,31-32);
  • o fermento (13,33);
  • O tesouro escondido no campo;
  • A perola do mercador (13,45-46) e
  • a pesca na rede que apanha todo (13,47-50).

Finalmente encontramos outra breve conclusão (13,51-52).

As quatro primeiras parábolas, baseadas em vegetação, educam no discernimento propriamente dito; as outras três são para motivar a decisão.

É que é possível ter claro que fazer, mas nunca se chega a fazer. A última confirma que estas estão apresentadas em chave de discernimento: é como o pescador que a cada dia senta a beira do mar a recolher da rede o que lhe serve e devolver ao mar o que não serve ou ainda não está maduro.

Assim, a vida do discípulo, todos os dias e neste esforço continuo, deve perseverar para conduzir uma vida segundo a vontade do Deus do Reino.

Ao iniciarmos esta reflexão hoje sobre as parábolas de Jesus, recordemos que somos imensamente felizes por viver em um tempo em que podemos ver e ouvir o que antes estava oculto a respeito do Reino dos Céus (Mt 13,16-17).

Com efeito, o que vemos e ouvimos nas parábolas de Jesus são coisas que Abraão, Moisés, Davi, Isaías, Jeremias e muitos outros, quiseram ver e ouvir, mas não puderam, mas agora, por desígnio de Deus, são dadas a conhecer através da pregação do evangelho de Cristo.

Assim disse Paulo:

  • … é revelação de um mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos; agora, porém, manifestado e, pelos escritos proféticos e por disposição do Deus eterno, dado a conhecer a todos os gentios, para levá-los à obediência da fé…”;  (Rm 16,25-26);
  • «Falamos de una sabiduría de Dios, misteriosa, escondida, destinada por Dios desde antes dos séculos para gloria nossa, desconhecida de todos os príncipes deste mundo… anunciamos o que ni o ojo vio, ni o oído oyó, ni al corazón del hombre  llegó, lo que Dios preparó para os que o amam» (1 Cor 2,7.8.9).
  1. O texto: Mateus 13,1-23

Encontra-se dividido em quatro partes:

  • A introdução do discurso das parábolas (vv.1-3)
  • A parábola do semeador (vv.4-9);
  • A pergunta sobre a causa de Jesus falar em parábolas (vv.10-17);
  • A explicação da parábola do semeador (vv.18-23)
  • A introdução do discurso das parábolas do Reino (13,1-3)

Notemos a ambientação do discurso: “Àquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se a beira do mar” (v.1). Ele sai da casa onde estava e vai à beira-mar.

A multidão que se reúne ao redor é grande (v.2). Ele sentado em uma barca e a multidão em pé à beira-mar. Neste belo cenário começa o ensinamento.

Chama a atenção o fato de Jesus sentar-se duas vezes: primeiro, junto ao mar, e, logo, quando se reúne a multidão, na barca: “Em torno dele reuniu-se uma grande multidão. Por isso entrou em um barco e sentou-se” (v.2). Este era o modo mais solene de ensinar.

Disse Mateus, em seguida, e de uma forma muito breve, que, neste discurso, Jesus ensinou muitas coisas em parábolas (v.3), iniciando pela parábola do semeador.

  • A parábola do semeador (13,4-9)

A parábola do semeador é a primeira deste discurso e também do evangelho de Mateus. Está também está em Marcos e Lucas. A importância de seu significado é enfatizada pelo que diz Jesus em Marcos: “Se não compreendeis essa parábola, como podeis compreender todas as parábolas?” (4,13).

Para entrar no sentido desta parábola, tenhamos em conta a mesma e a explicação que vem adiante (que é muito mais que uma explicação, é quase outra parábola), na realidade é como as duas faces de uma medalha: a primeira enfatiza a “graça” de Deus e a segunda a “responsabilidade” humana.

O comportamento do semeador, um profissional na matéria, parece estranho ao deixar cair algumas sementes em terreno impróprio. Sem dúvida, isto corresponde à realidade do evangelho: mais que a qualidade da terra, o que vale é a qualidade da semente.

Assim fazia Jesus: lançava sua semente nos corações que os fariseus já haviam declarado fora da salvação. A imagem de um semeador lançando sementes nos três primeiros terrenos é um retrato da obra de Jesus que não veio “chamar justos, mas pecadores” (9,13).

Sobretudo se proclama a bondade de Deus que é misericórdia, que não tem limites para oferecer suas bênçãos (6,45), que não exclui ninguém, que sempre espera que de um momento para o outro tudo venha a mudar, porém isto implica, da parte de cada homem, o fazer de si mesmo “boa terra” para que a semente da Palavra possa crescer.

  • Por que Jesus fala em parábolas (13,10-17)

Jesus acabara de contar a parábola do semeador e uma multidão que havia se juntado na margem do lago disposta a escutar seu ensinamento. O texto o apresenta subindo a uma barca.

Terminado o relato, ou melhor, os relatos, porque, segundo diz o texto: “explicou-os muitas coisas em parábolas” (v.3), os discípulos se aproximaram e perguntaram-lhe por que falava em parábolas à multidão (v.10).

A resposta de Jesus é um pouco enigmática, e quase, diríamos, divide seus ouvintes em dois grupos:

  • Aqueles que fizeram um processo na compreensão, assimilação e vivencia da Palavra; e
  • Aqueles que, mesmo tendo-a escutado, não se empenharam em um caminho de conversão pessoal.

Jesus disse aos seus discípulos que não é por eles que fala em parábolas, pois já fizeram um caminho na compreensão dos ‘segredos do reino’. Passemos à resposta de Jesus (vv.11-17):

“A vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino dos céus, porém, a eles não” (v.11). Não podemos pensar que se trate de um privilegio ‘dado’ a alguns (os que compreendem), e ‘negado’ a outros (os que não compreendem).

O compreender ou não, é fruto de um caminho de conversão, de intimidade com Jesus, de abertura consciente à sua palavra, e requer esforço. Não é um simples ouvir a Palavra e deixar que esta resvale exteriormente, sem que toque a vida.

“Pois, àquele que tem lhe dado, e lhe será dado em abundância; mas o que não tem mesmo o que tem lhe será tirado” (v.12).

Para quem fez um caminho serio de abertura e confrontação com a Palavra de Deus, tudo o que acontece é ocasião de crescimento da riqueza interior: ser-lhe-á dado mais. Porém, para quem não percorreu este caminho, o pouco que poderia ter, o perde. Jesus é muito duro quando diz: “ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado”.

“É por isso que lhes falo em parábolas, porque vêem sem ver, e ouvem sem ouvir nem entender” (v.13).

Então, este tipo de pessoas se torna impermeável à ação de Deus e a todas as maneiras como Ele quer se aproximar a elas.

Jesus, neste momento, cita uma dura profecia de Isaias (vv.14-15): “É neles se cumpre a profecia de Isaias que diz: ‘Certamente haveis de ouvir e jamais entendereis. Certamente haveis de enxergar e jamais vereis “Olham, mas não vêem, escutam e não ouvem, nem compreendem. Porque o coração deste povo se tornou insensível. E eles ouviram de má vontade e fecharam os olhos, para não acontecer que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e assim eu os cure’.

A causa de tal fechamento é o coração endurecido que não deixa penetrar a ‘boa nova’ de Cristo. Mateus sublinha três partes do corpo: coração, olhos, ouvidos. O coração fechado impede ver e ouvir.

É dura a expressão de Isaías que cita Jesus: “Por mais que escutem não compreenderão. Por mais que olhem não verão”. É a surdez e a cegueira espirituais causadas pela também espiritual arterioscleroses do coração.

Jesus termina com uma bem aventurança para seus discípulos: “Mas felizes os vossos olhos porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, e ouvir o que ouvis, e não ouviram” (vv.16-17).

Não tanto porque têm olhos e ouvidos bons, mas porque seu coração é bom e reto e capta, sem dificuldade, a mensagem de Jesus.

  • Explicação da parábola do semeador (13,18-23)
  •  O semeador

Não se especifica, mas vejamos o que disse Jesus na explicação da parábola do trigo e do joio: “O que semeia a boa semente é o Filho do Homem”.

  • A semente

É a mensagem do Reino dos Céus, o qual se constitui o tema central da pregação de Jesus. Como já foi dito, mais que a qualidade da terra, o que vale é a qualidade da semente.

  • O que ouve a mensagem

Perceba como Jesus muda, rapidamente, a sua atenção, do ‘semeador’ para ‘o que é chamado a escutar e entender a mensagem do Reino’, confrontando-nos, assim, com a seriedade, ou não, dos que acolhem o dom da semente. É representado na parábola pelos distintos tipos de terra.

  • A primeira terra: o caminho (v.19b)

Este terreno é feito de terra trilhada, endurecida pelo vai e vêm os transeuntes. Representa o que ouve, mas não entende. Isto porque estes já endureceram o coração antes de ouvir o evangelho. O maligno arrebata dos corações que já estão endurecidos. 

É o caso de quem não compreende a Palavra do ReinoMateus enfatiza o termo “compreender”, que aqui é “fincar” ou “arraigar”, quer dizer, que lhe permitiu um espaço em sua vida e se deixou confrontar por ela.

Algumas experiências de escuta não têm o espaço suficiente para que ela faça seu efeito e então se perde rapidamente ao primeiro esforço. Há ouvintes distraídos que não se dão nem um espaço de oração para assimilar a Palavra ouvida (ou lida), ou, mais exatamente, para “compreendê-la”.

  • A segunda terra: pedregais (vv.20-21)

Tem uma fina camada de terra fofa, mas logo abaixo tudo é pedra. São os que recebem a palavra com grande gozo, mas não têm como aprofundar, quando vêm as dificuldades logo caem. É o caso de quem não cultiva processos.

Acontece quando se vive uma vida espiritual só de momentos. Isto é ruim, e muito mais quando se trata da experiência da Palavra: a semente necessita de sulco, espaço fundo na terra. A esta realidade se está aludindo quando se adverte que um dos fatores que provocam fracassos e desilusões é a “falta de raiz em si mesmo”, somada à “inconstância”.

Vive-se de emoções de momentos belos, mas passageiros. Muito mais quando se vive momentos duros de confrontação, “tribulação ou perseguição por causa da Palavra” (v.21). Aqui a pessoa “se escandaliza” pois só quer gloria e não cruz (precisamente aqui se está falando do “escândalo da cruz”, que provoca deserções).

  • A terceira terra: de espinheiros (v.22)

Este terreno é aquele tipo de terra ocupada por espinheiros que aí nasceram a ermo. É o caso de quem não se deixa tocar profundamente pela força transformadora da Palavra.

Há pessoas que realizaram um caminho de vida espiritual sério e prolongado, porém, elas descuidam-se da necessária “vigilância” espiritual.

Há dois fatores que se deve discernir sempre na vida espiritual para que o caminho de maturidade seja sempre ascendente e proveitoso:

  • as preocupações do mundo (que é o stress; 6,24-35); e
  • a sedução das riquezas (os apegos que distraem o coração do essencial).

Ambos já foram tratados no Sermão: temos aqui um sinal claro de uma Palavra que tendo sido ouvida e aceita com gosto, não purificou, verdadeiramente, o coração. Conforme Lucas (8,14), estas pessoas são sufocado pelas “preocupações do mundo”, pelo “engano das riquezas” e pelos “prazeres da vida”.

  • As “preocupações do mundo”

Buscam-na, aqueles que não estão vigilantes: “Estai alertas, não aconteça que vosso coração se carregue com dissipação e embriaguez e com as preocupações da vida, e aquele dia venha subitamente sobre vós como um laço; pois virá sobre todos os que habitam a face da terra. Mas velai…” (Lc 21,34-36).

O diabo se aproveita das preocupações e desvia nossa mente da verdade. “Portanto, não vos preocupeis, dizendo: “Que comeremos?”… Porque os gentios buscam ansiosamente estas coisas; vosso Pai celestial sabe do que necessitais. Porém buscai primeiro seu reino e sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,31-33).

  • “perigo das riquezas”

Diz São Paulo: “Porém os que querem enriquecer caem em tentação, laço e em muitos desejos néscios e danosos que levam os homens à ruína e perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro…” (1 Tm 6,9-10). O afã por melhores situações é também usado pelo diabo para desviar nossa atenção de Deus e fazer-nos sentir que não necessitamos dele. “Aos ricos neste mundo, ensina-lhes que não sejam altaneiros nem ponham sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, o qual nos dá abundantemente todas as coisas para que as desfrutemos” (1 Tm 6,17).

  • Os “prazeres da vida”

Envolvem desejos da carne e desviam nossa mente das coisas do espírito. “Pois o desejo da carne é contra o Espírito, e o do Espírito é contra a carne, pois estes se opõem um ao outro, de modo que não podeis fazer o que desejais” (Gl 5, 17).

Se semeamos na carne, será impossível colher as coisas do espírito. “Não vos deixeis enganar, de Deus não se zomba; pois tudo o que o homem semeia, isso também colherá. Pois o que semeia para sua própria carne, da carne colherá corrupção, porém o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6,7-8).

  • A quarta terra: a terra boa (v.23)

Este tipo de terreno reúne as condições ideais. É o caso do ouvinte ideal da Palavra.Representa o que ouve a palavra e a entende. Assim, ao final, no perfil do ouvinte ideal da Palavra, encontramos de novo o termo “compreender”.

Este conhecimento profundo, que foi assinalado em 13,14-15, supõe uma experiência vital da Palavra que, enquanto semente, germinou e está em condições de dar os frutos de vida do qual é portadora.

Porém há outra coisa a considerar: nem todos produzem a mesma quantidade de fruto. O farão de acordo com a habilidade que Deus lhes dê, conforme

  • Mt 25,15: “E a um lhe deu cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um conforme a sua capacidade; e se foi de viagem”;
  • 1 Pe 4,10-11: “Segundo cada um ha recebido um dom especial, use-o servindo-os uns aos

     outros como bons administradores da multiforme graça de Deus…”.  

  • Meditemos a Palavra com um Padre da Igreja

Por que uma parte da semente caiu no caminho, outra em terra pedregosa e outra entre espinhos?

Se o semeador temesse essas terras difíceis tampouco teria chegado à terra boa.

Olhemo-nos a nós para que não sejamos caminho, nem penhasco, nem matagal, mas terra boa.

Meu coração está preparado, ó Deus, para produzir trinta, sessenta e cem por um!

Que seja mais ou menos, porém que seja sempre trigo!

Não sejamos caminho onde o inimigo, como ave, arrebate a semente pisada pelos transeuntes.

Nem rocha onde a terra escassa depois faça germinar o que não resistirá ao sol.

Nem espinhos que são as cobiças do mundo e os cuidados de uma vida viciosa.

Que pode ser pior que os cuidados da vida, que impedem chegar à vida?

Que pode ser mais miserável que perder a vida preocupando-se com ela?

Que pode ser mais infeliz que cair na morte temendo a morte?

Que se arranquem os espinhos, que se prepare o campo, que se receba a semente; que se recolha a ceifa, que se deseje o celeiro e que não se tema ao fogo!

(Santo Agostinho,Sermão 101,3).

  • Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
  1. Em torno a que idéia fundamental gira a exposição das sete parábolas de Mateus 13?

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  • Qual é a mensagem da parábola do semeador?

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  • Como aparece retratado o ministério profético de Jesus nesta primeira parábola?

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Atrevo-me a fazer o mesmo em situações onde todos crêem que não há esperança de mudança?

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  • Segundo Jesus qual é a verdadeira causa de não ouvir, ver nem compreender sua Palavra?

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  • Que enfatiza a explicação de parábola do semeador?

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Que decisões eu devo tomar para tornar possível, no que a mim diz respeito, um caminho de maduração na fé, que seja sempre ascendente, e que dá à minha vida, a fecundidade prometida no evangelho do Reino?

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