Grupo de Oração: “Sobre nossas chagas derramou vinho”
Tema do Grupo de Oração da Paz e Bem desta segunda dia 15 de julho de 2019, na Igreja Matriz de Cascavel, foi dado o ensino sobre o Bom Samaritano em Lc 10, 30-35, na perspectiva de SÃO SEVERO DE ANTIOQUIA (séc. VI)
Sermão 89. Um olhar muito particular sobre esta rica parábola.
“Sobre nossas chagas derramou vinho”
Um homem descia de Jerusalém a Jericó. Cristo não disse: “alguém descia”, mas “um homem descia”, porque a passagem se refere à humanidade inteira. Esta, na sequência do pecado de Adão, abandonou o local elevado, repousante, magnífico e sem sofrimento que era o paraíso, chamado apropriadamente Jerusalém – nome que significa “a paz de Deus” – , e desceu para Jericó, local plano e escavado, onde o calor é sufocante. Jericó é a vida febril deste mundo, vida que separa de Deus… Assim, pois, uma vez que a humanidade se afastou do bom caminho para esta vida… os demônios selvagens vêm atacá-la como se fosse um bando de malfeitores. Despojam-na de suas vestes de perfeição, não lhe deixando qualquer vestígio de força de alma, de inocência, de justiça ou de prudência, ou de qualquer dos elementos que caracterizam a imagem divina; mas atingindo-a com golpes repetidos dos múltiplos pecados, a derrubam e a abandonam semimorta…
Passou por ali um samaritano… É propositadamente que Cristo dá a si mesmo o nome de samaritano, ele sobre quem tinham dito, para insultá-lo: Tu és um samaritano e estás possesso do demônio… O viajante samaritano que era Cristo – porque ele era realmente um viajante – viu a humanidade caída por terra. E não passou pelo outro lado, porque a razão pela qual empreendera essa viagem era visitar-nos, nós, por causa de quem ele desceu à terra e entre quem habitou. Porque ele fez a sua aparição na terra, onde permaneceu entre os homens…
Sobre nossas chagas derramou vinho, o vinho da Palavra, e, como a gravidade dos ferimentos não suportava a sua força, misturou-o com o óleo da sua ternura e do seu amor pelos homens. Em seguida, conduziu o homem à estalagem. Chama estalagem à Igreja, que se tornou o lugar de morada e de refúgio de todos os povos. Chegados à estalagem, o Bom Samaritano teve para com aquele que tinha salvo uma solicitude ainda maior; o próprio Cristo ficou na Igreja, concedendo-lhe todas as graças… E, ao partir, isto é, subir ao céu, deixou ao dono da estalagem – símbolo dos apóstolos, dos pastores e dos doutores que lhe sucederam – duas moedas de prata, para que ele cuidasse do enfermo.
Estas duas moedas são os dois testamentos, o Antigo e o Novo, o da Lei e dos profetas, e aquele que nos foi dado pelos evangelhos e pelos escritos dos apóstolos. Ambos provêm do mesmo Deus, exibindo ambos a imagem deste único Deus do Alto, tal como as moedas de prata exibem a imagem do rei, e imprimem em nossos corações a mesma imagem real por meio das santas palavras, visto que foi um só e mesmo Espírito que as pronunciou. Trata-se de duas moedas de um único rei, deixadas ao mesmo tempo e a título igual por Cristo ao dono da estalagem.
No último dia, os pastores das igrejas santas dirão ao Senhor que há de vir: Senhor, confiaste-me dois talentos, aqui estão outros dois que ganhei, através do quais fiz aumentar o rebanho. E o Senhor irá responder-lhes: Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muito te confiarei. Entra no gozo do teu Senhor.