“Juntai tesouros no céu” (EFC)

Mateus 6,19-23

O TESOURO ESCONDIDO ESTÁ DIANTE DOS MEUS OLHOS:

 “Que eu não me engane ajuntando tesouros em trevas”

O texto está no contexto do grande Sermão da Montanha, como já sabemos, e nos apresenta dois temas:

  • O verdadeiro tesouro (6, 19-21).

(v.19): “Não ajunteis para vós tesouros na terra…”.

            Trata-se de uma ordem de Deus, de um imperativo, tomado em sua forma negativa.

 (v.20): “… mas ajuntai para vós tesouros no céu…”.

            Aqui temos a mesma ordem de Deus apresentada em seu sentido positivo.

 (v.21): “pois onde está teu tesouro ai também está teu coração”.

            Aqui temos um princípio eterno, ou seja, uma verdade imutável.

Nos dois primeiros versículos, nos é transmitida a garantia de que existe um tesouro celeste, não sujeito à corrupção, mas, que são as boas obras, feitas de coração puro, que nos abrem os olhos para “ver”, tomar posse dele e fazer com que outros o conheçam. No contexto do Sermão da Montanha, onde se encontra o nosso texto de hoje, estas boas obras correspondem à prática das bem-aventuranças.

Proceder de outro modo seria, pois, viver nas mal aventuranças, ou seja, nas desventuras. O discípulo encontra, neste Sermão, a vontade do Pai, à qual estão reservadas as devidas bem-aventuranças ou bênçãos. Não é demais repetir: deixar-se guiar por outra direção, ou seja, por nossas próprias vontades é, pois, pura insensatez.

Seria seguir nas maldições que estão sutilmente unidas a toda cobiça, a todo apego humano aos tesouros terrenos – interiores e exteriores – em que somos envolvidos por meio da sedução do “príncipe deste mundo” e, que são fáceis de serem destruídos e roubados.

(2) O olho é a lâmpada do corpo (6,22-23):

(v.22): “A lâmpada do corpo é o olho. Portanto se teu olho…”.

             Aqui não se deve confundir lâmpada com luz. A lâmpada não é a luz, apenas a recebe e ilumina.

(v.23): “… mas se o teu olho estiver doente, todo teu corpo…”.

             Consideremos a lâmpada da sala de nossa casa, ela pode estar boa ou “queimada”.

Aqui não se trata de nosso olho de carne, que podemos até perdê-lo. Trata-se do olho interior. Assim, este dois versículos afirmam que todos nós temos um “olho interior”, além de nosso “olho de carne”.

Ora, se o nosso “olho de carne” recebe luz material para se vê tudo o que está ao nosso redor, o nosso olho interior recebe luz divina para vermos tudo o que o outro não pode ver, pois a nossa visão humana é limitada. Essa lâmpada interior, apesar de estar sempre dentro de nós e ter sido dada por Deus, ela pode ficar impedida de receber a luz de Deus, por causa do pecado.

E quando isso acontece, toda a nossa casa interior fica no escuro. Ninguém gosta de escuro. Sabe por quê? Porque somos filhos de Deus e “Deus é Luz e n’Ele não há nenhuma treva” (I Jo 1,5b). E é ai que se encontra o perigo. Exatamente porque o diabo sabe disso. E, quando isso acontece, depressa vem e nos oferece um “socorro infernal”, ou seja, uma falsa luz, que nos faz ver tudo de modo distorcido.

Uma luz perniciosa que é capaz de fazer com que mentiras se pareçam com a verdade e verdades se pareçam com a mentira. A verdadeira luz, que recebe a nossa lâmpada interior (nossa consciência), é o dom da Fé. Não uma fé que se deixa levar por qualquer vento de falsa doutrina. Até mesmo doutrinas declaradamente diabólicas como vemos tanto nos nossos dias. Não uma fé que só crer que Jesus é o Filho de Deus, contudo, não confia n’Ele e não entrega a sua vida a Ele!

Não esta fé. Mas a fé como dom de Deus, o tesouro divino. Esta foi confiada, por nosso Senhor Jesus à sua Igreja, por meio dos apóstolos, a fim de conservá-la pura, sem adulteração, para iluminar os filhos, de geração em geração, até o fim dos tempos. Por ela e por esta santa causa uma multidão de santos e de santas, a começar pelos apóstolos, já sofreram o martírio de sangue antes de nós e muitos estão dispostos a fazer o mesmo em todos os tempos, se isso lhes for pedido. Isso é o dom da fé verdadeira.

Esta fé como autêntico dom divino chega até nós através dos dois depósitos sagrados pertencentes à Igreja de Jesus Cristo: a Sagrada Escritura; e a Sagrada Tradição. E com a garantia de vitória sobre todo o mal e todas as perseguições: “Mas eu também te digo, que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela”(Mt 16,18).

Por isso é que São Paulo vai dizer: “sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11,6). Já dizia, também, São João Eudes: “o dom da fé é uma luz que nos faz ter uma participação antecipada da visão de Deus e, portanto, o primeiro fundamento da vida cristã”.

Mas, quando São Cura d’Ars conheceu um camponês analfabeto que todos os dias, ficava imóvel e calmo, por longo tempo, com os olhos fixos no altar da Eucaristia, perguntou-lhe, admirado, como era a sua oração. E muito mais admirado ficou ao ouvir dele esta resposta: “Eu olho para Ele e Ele olha para mim!” Este homem tinha, sem dúvida, o mais alto grau de “visão”, isto é, tinha nos olhos a visão encantadora de Deus.

Como também São Boaventura. Por causa de suas constantes lágrimas, veio a sofrer dos olhos, mas quando o médico disse que deveria parar de chorar para não perder a visão, disse que preferia per­der a visão dos olhos da carne a sufocar a ação do Espírito Santo, refreando as lá­grimas que limpam os olhos da alma e os tornam capazes de ver a Deus.

Ver Deus era o imenso desejo que ele expressava todos os dias ao rezar o Pai-nosso: “Venha a nós o vosso Reino… deixe-nos entrar no vosso reino, onde veremos, a vós mesmos, sem véu e sem sombras…”. Ele suspirava por essa felicidade e sempre repetia: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5,8)E assim conseguiu “ver”, constantemente, o grande objeto de seu desejo.

Todos os caminhos do Evangelho passam todos pelo coração do homem. Por isso, os tesouros terrenos não podem dominar o coração humano. O homem precisa purificar o seu interior, onde nasce à verdadeira “visão”, que dá o sentido autêntico de sua existência.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

Tu, o que és? Rico ou pobre?

Muitos dizem: eu sou pobre, e dizem a verdade.

Vejo pobres que possuem alguma coisa; vejo alguns que são completamente indigentes.

Mas (a cruz em suas mãos), aqui está um, em cuja casa abunda

o ouro e a prata; ó se ele soubesse como é pobre!

Reconhecê-lo-ia, se olhasse o pobre que está perto dele.

Aliás, seja qual for tua opulência, tu que és rico, não passas

de um mendigo à porta de Deus.

Eis a hora da oração…

Fazes os pedidos; o pedido não é uma confissão da tua pobreza?

De fato, dizes: “O pão-nosso de cada dia nos dai hoje”.

Então, tu que pedes o pão quotidiano, és rico ou pobre?

E, contudo, Cristo não tem medo de nos dizer: “Dá-me o que eu te dei.”

De fato, que é que trouxeste ao vir a este mundo?

Tudo o que encontraste na criação, fui Eu que o criei.

Tu não trouxeste nada, não levarás nada.

Porque não me dás o que é meu?

Tu estás na abundância e o pobre na necessidade, mas remonta

ao início da vossa existência: ambos nasceram completamente nus.

Mesmo tu, nasceste nu.

Em seguida tu encontraste aqui em baixo grandes bens;

mas trouxeste por acaso alguma coisa contigo?

Peço, pois, o que dei, dá e Eu restituir-te-ei

(Santo Agostinho)

Um comentário em ““Juntai tesouros no céu” (EFC)

  • 23 de junho de 2023 em 06:43
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    Uma abraço todos os dias e tomar um sorvete acalma tudo.

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