LECTIO DIVINA DE 25 DE NOVEMBRO À 01 DE DEZEMBRO DE 2018
Domingo, 25 – João 18,33b-37 (Jesus diante de Pilatos)
«Venha a nós, Senhor, teu Reino de luz»
A Igreja celebra hoje o dia da solenidade de Cristo, Rei do Universo, com a qual culmina o ano litúrgico. Na reforma litúrgica mandada pelo Concilio Vaticano II, esta festa foi posta como coroação do ano litúrgico porque ela recapitula o mistério de Cristo que se contempla em todos os seus aspectos durante o ano. Em sua vida terrena Jesus nunca reivindicou um reinado deste mundo, apesar de ser Ele o Messias prometido, o Filho de Davi, o rei de Israel por excelência. Foram os judeus que insistiram em atribuir-lhe esta condição. Quando chamou Natanael e insinuou que conhecia seus pensamentos, este exclamou: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel”. Quando no deserto multiplicou os pães para nutrir uma multidão, o Evangelho de João diz que “sabendo que viriam buscá-lo para fazê-lo rei, refugiou-se de novo sozinho na montanha”. E quando entrou em Jerusalém montando um jumento a multidão gritava: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!”. Jesus não incentiva tais expressões, pois é rei dum modo distinto como entendem
seus contemporâneos. E sem dúvida, esta foi à acusação que apresentaram as autoridades judias ante o procurador romano Pilatos: “Encontramos este homem subvertendo nossa nação, impedindo que se pague os impostos a César e pretendendo ser Cristo, o rei” . Assim se explica o diálogo entre Jesus e Pilatos que lemos no Evangelho de hoje. Pilatos pergunta: “És tu o rei dos judeus?”. Considerando que Jesus comparece ante Pilatos em uma atitude muito diferente dos reis deste mundo, é necessário indagar o sentido dessa pergunta: Respondeu Jesus: “Falas assim por ti mesmo, ou outros te disseram isso de mim?”. (+ Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo de Santa María de Los Ángeles).
Segunda-feira, 26 – Lucas 21,1-4 (A oferta da viúva)
“Lançou, do que necessitava, tudo o que tinha para viver” (Lc 21,4)
São Clemente I, Papa e Mártir (+Roma,97): Foi o terceiro sucessor de Pedro. Escreveu uma famosa carta aos cristãos de Corinto. É um documento de grande importância apologética, pois demonstra que, já naqueles tempos, se entendia que o Papa possuía verdadeira e efetiva autoridade sobre os demais bispos e suas dioceses, e não apenas uma posição honorífica de precedência. Segundo a tradição, sofreu o martírio na Criméia, para onde foi exilado e condenado a trabalhos forçados pelo imperador Domiciano.
São Columbano, monge (+615): Nasceu na Irlanda na primeira metade do século VI e estudou ciências sagradas e humanas. Tendo abraçado a vida monástica, partiu para a França, onde fundou muitos mosteiros os quais governou com austera disciplina. Obrigado a exilar-se foi para a Itália, onde fundou o mosteiro de Bobbio. Depois de ter exercido grande e intensa atividade para promover a vida cristã e religiosa de seu tempo, morreu no ano 615.
Terça-feira, 27 – Lucas 21,5-11 (Discurso sobre a ruína de Jerusalém; Sinais precursores)
“O Deus do céu fará surgir um Reino que jamais será destruído” (Dn 2,44)
Santos André Dung-Lac e companheiros mártires (+Vietnã, séc.XVI): A evangelização do Vietnã iniciou no séc.XVI. Perseguições sangrentas levam ao martírio milhares de cristãos. Um grupo de 117 destes mártires foi beatificado no ano jubilar de 1900 por Leão XIII. Dentre eles muito se destacou o padre dominicano André Dung-Lac. João Paulo II, em 1988, inscreveu-os no livro dos santos.
Quarta-feira, 28 – Lucas 21,12-19 (Os sinais precursores)
“Eu vos darei linguagem e sabedoria” (Lc 21,15)
Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir (+Egito, 305): Universalmente venerada. Conduzida diante do imperador, censurou-o por perseguir o Cristianismo. Não conseguindo discutir com ela, convocou os 50 filósofos mais cultos do Egito que, ao final, se declararam cristãos. O imperador, encolerizado, condenou à morte os 50 sábios e sua mestra, que teve o corpo dilacerado por rodas com lâminas cortantes
Quinta-feira, 29 – Lucas 21,20-28 (O cerco; A catástrofe e o tempo dos pagãos; Catástrofes cósmicas e manifestação gloriosa do Filho do Homem)
“Recobrai o ânimo e levantai a cabeça, porque se aproxima vossa libertação” (Lc 21,28)
Padre Tiago Alberione: Fundador da Família Paulina foi um dos mais carismáticos apóstolos do século XX. Conclui que o Senhor o convoca para uma nova missão: pregar o Evangelho a todos os povos, segundo o espírito do Apóstolo Paulo, usando os modernos meios da comunicação. Morreu no ano de 1971.
Sexta-feira, 30 – Lucas 21,29-33 (Parábola da figueira)
“Seu Reino jamais será destruído” (Dn 7,17)
Sábado, 01 – Lucas 21,34-36 (Vigiar para não ser surpreendido)
“Velai, pois, e orai em todo tempo” (Lc 21,36)
_LECTIO DA SEMANA_______________________________
DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
João 18,33b-37 (Jesus diante de Pilatos) O relato do processo de Jesus ante Pilatos tem uma grande importância no evangelho de João. A reflexão sobre o tema da realeza está presente em todo o episodio, inclusive na declaração de Pilatos: «Aqui tens a vosso rei!» (19,14). Mas, a «pretensão» de ser Filho de Deus (19,7) é elevada demais para os judeus; eles preferem que este Messias seja crucificado, e, agindo deste modo, o renegam, da historia de Israel e de suas próprias expectativas: «Não temos outro rei senão César» (19,15). Esta passagem representa o centro teológico do relato joanino. Confrontam-se, aqui, conceitos muito diferentes de realeza: Pilatos tinha o conceito político-militar dos romanos (v.37), porém, aparece, também, o teocrático-político dos judeus (vv.33ss); sem dúvida, a realeza de Jesus pertence a outra esfera:«não é deste mundo»; e, mais ainda, pode deixar-se esmagar por estes e sair, de todos modos, vencedor (v.36). Jesus é, verdadeiramente, rei, porém, não «daqui debaixo». Veio a este mundo trazer seu Reino sobrenatural sem impor sua absoluta superioridade, assumindo nossa condição («para isso nasci e para isso vim ao mundo») para iluminar com a luz da verdade e fazer o homem capaz de eleger o Reino de Deus em seu coração. A vinda de Cristo realiza, pois, uma divisão entre os que acolhem seu testemunho e os que o rejeitam. É um testemunho verdadeiro: sobre Deus (cujo rosto revela Jesus em si mesmo) e, ao mesmo tempo, sobre o homem, tal como é, segundo o designo do Pai («Eis o homem!», 19,5). Acolhê-lo significa entrar, desde já, em seu Reino e, ao contrário, o que o rejeita se submete ao príncipe deste mundo (12,31). Não é possível manter-se na indiferença, ficar neutro, como tentou fazer Pilatos (18,38). Quem reconhece Jesus como rei não se preocupa em triunfar neste mundo, mas, tão somente, em escutar a voz de seu Senhor e seguir-lhe (v.37b), para estender, aqui embaixo, seu Reino de verdade e de amor.
Dn 7,13-14 (Visão do ancião e do Filho do homem) O significado profundo deste texto aparece quando o consideramos no contexto do capítulo 7 de Daniel. Ao profeta foi revelado o mistério da historia. Vê a sucessão de diferentes reinos, representados, simbolicamente, por quatro feras espantosas, porém, sua prepotência está destinada a desaparecer. Enquanto os acontecimentos se sucedem no tempo dos homens, no tempo de Deus, na dimensão da eternidade (dimensão que transcorre ao lado do nosso tempo) a historia é julgada por Deus, tendo como base as ações dos homens (vv.9ss). As potencias deste mundo foram condenadas e algumas já sofrem a pena (v.11); outras, ao contrário, são toleradas «só até um determinado momento» (v.12). E eis que aparece, na transcendência divina, («sobre as nuvens»), «um filho de homem», a quem Deus lhe dá um poder eterno e um reino invencível, que abarcará a todos os povos. Isso significa que sua pessoa e seu senhorio são celestiais e terrenos, divinos e humanos ao mesmo tempo. Contra seu reino, que coincide com o Reino dos santos do Altíssimo (vv.17.32), se levantará ainda a violência dos poderosos deste mundo e parecerá vitoriosa (vv.24ss). Mas, quando o julgamento de Deus se fizer definitivo, o Reino do Filho do homem, ou melhor, dos santos do Altíssimo, triunfará para sempre (v.26). Para expressar de maneira eficaz esta realidade, São Paulo adotará a imagem do ‘corpo místico’, cuja cabeça é Cristo e os fiéis, seus membros. O Reino de Cristo é, portanto, também nosso; nós, também, estamos chamados a participar de sua realeza, vencendo o pecado que nos assedia. Submersos como estamos na historia, é preciso que julguemos os acontecimentos com o sentido da fé e que vivamos em conformidade com a lei fundamental do amor, para que todo homem possa entrar, por fim, no Reino de Deus.
Ap 1,5-8 (O Rei-Messias que reinará com o povo de Deus) Este é o tema mais importante de todo o Apocalipse. Nestes versículos se apresenta, essencialmente, a realeza de Jesus como a realeza do ‘Filho do homem’ («vem entre as nuvens»: v.7a). Aludindo à profecia de Daniel, o vidente pode afirmar, portanto, que Jesus é o revelador do Pai, digno de fé («testemunha fidedigna»), visto que procede de Deus mesmo. Enquanto Ressuscitado, é o modelo de uma nova estirpe destinada à vida eterna. Por último, é «soberano dos reis da terra», porque veio trazer, à terra, o Reino de Deus, ao qual, todos estarão submetidos, ao final. O Filho do homem, Jesus, é o Crucificado, «traspassado» pela incredulidade e pela violência de muitos. E, exatamente, deste modo, manifestou seu amor por nós e nos libertou dos pecados (v.5), dando-nos a possibilidade de que se cumpra a antiga promessa: «Si me obedeceis e guardais minha aliança, vós sereis o povo de minha propriedade entre todos os povos, porque toda a terra é minha; sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa» (Ex 19,6). Quando chegar a hora, sempre iminente, de sua vinda gloriosa, até os que lhe têm rejeitado, deverão reconhecer-lhe e compreender o mal que têm cometido. Mas, os que desde já acolhem o senhorio de Cristo em sua vida participam de sua função real e sacerdotal. Assim entram em comunhão com Deus, principio e fim de tudo o que existe, origem eterna do tempo. Jesus Cristo, sem dúvida, vem de novo à historia, para assumir o fardo de todas as criaturas e levá-las com o poder do seu amor à liberdade e à salvação (v.8).
Salmo 92/93 (O Deus Majestoso) Este pequeno Salmo sempre foi muito importante, mas, especialmente hoje, sua leitura se faz necessária e muito nos engrandece. O ser humano está enfermo de uma doença que se espalha rapidamente: a doença do poder e do orgulho. O homem não aceita estar abaixo de Deus e tenta a cada momento ser o próprio Deus. Não há mais limites para ele, que acredita ser capaz de enfrentar e vencer a tudo. Brinca de ser eterno e crê que um dia a ciência ressuscitará todos os mortos e encontrará a vida eterna. Esquece-se que uma pequeníssima picada de mosquito pode causar uma infecção incurável. Precisamos recuperar o sentido de nossa fragilidade e pobreza, esconder-nos na nossa humanidade e proclamar a toda voz que somente Deus é eterno, soberano e grande, e que somos pobres e pequenos.
Senhor, a minha oração de hoje é breve: liberta-me do orgulho, e que eu nunca, mas nunca mesmo, pense nem por um breve instante que sou mais poderoso do que tu. Que me prostre e te adore mesmo quando a minha inteligência se rebela e se recusa a te servir; que saiba só dizer: “quero te servir”. Amém.
MEDITAÇÃO A liturgia de hoje nos convida a reavivar o desejo de que Jesus reine verdadeiramente em nossa vida. Para que isto aconteça, é necessário renovar nossa adesão a Ele, que nos amou primeiro e enfrentou, por nós, a grande batalha, até deixar-se ferir de morte, em seu corpo cravado na cruz, para destruir nosso pecado. Cristo venceu assim. Seu triunfo é o triunfo do amor sobre o ódio, sobre o mal, sobre a ingratidão. Sua vitoria é, em aparência, uma derrota: o modo de vencer do amor é, de fato, deixar-se vencer. Cristo é um rei crucificado; sem dúvida, seu poder está, exatamente, na entrega de si mesmo até o extremo: é um rei coroado de espinhos, suspenso na cruz, e segue como tal para sempre, inclusive agora, que está na presença do Pai, a para onde voltou depois da ressurreição. Trata-se de uma realeza difícil de se entender do ponto de vista humano, a não ser que empreendamos o caminho do Espírito Santo, que se faz amor humilde, que se faz serviço e entrega. Empreendendo esse caminho, o mesmo Espírito nos fará capazes de configurar-nos com o humilde rei da glória, de quem todo cristão está chamado a ser discípulo apaixonado. Isto trará consigo, necessariamente, uma sombra de morte, de morte a todo um mundo de egoísmos, de paixões, de vãos desejos e de arrogâncias indevidas: uma morte que, sem dúvida, se traduz em liberdade para nós mesmos e em crescimento para os outros, em vida verdadeira e em plenitude de alegria. Nosso caminho na historia prossegue com seus fardos, porém nosso coração pode saborear, de maneira antecipada, a doçura deste Reino de luz infinita, no qual só se entra pela porta estreita da cruz.
ORAÇÃO: Senhor Jesus, Tu te escondeste aos olhos de todos, para orar ao Pai em segredo. Quando a multidão, maravilhada e admirada, pelos milagres que realizavas, te buscava para proclamar-te rei. Mas, na hora da paixão, quando todos te haviam abandonado e, o ser proclamado rei, já não era motivo de vaidade, mas, ao contrário, havia se tornado, para ti, causa de condenação, só então declaraste teu senhorio universal. Agindo deste modo, nos ensinaste com tua mesma morte que reinar é servir, amando até a entrega total de nós mesmos. Concede-nos, também, reconhecer tua realeza, não de palavra, mas deixando crescer e dilatar-se em nós teu Reino, para que sejamos, na historia, irradiação de tua presença de paz e motivo de consolo e esperança para todos os nossos irmãos.
CONTEMPLAÇÃO: Tu, ó Cristo, és o Reino dos Céus; a terra prometida aos humildes; Tu, os pastos do paraíso, o cenáculo para o banquete divino; Tu, a sala das núpcias inefáveis, a mesa suntuosamente preparada para todos. Ó Cristo, não me abandones em meio deste mundo, visto que só amo a ti, ainda que, ainda não te tenha conhecido; eu, que estou, completamente, a mercê das paixões; eu, que não te conheço, pois, acaso tem necessidade dos prazeres do mundo quem te há conhecido? Quem, que te tenha amado, irá em busca de qualquer outro prazer? Ou se sentirá impelido a ir em busca de qualquer outro amigo? Deus, criador do universo, que me deste o que tenho de bom, tem benévola compaixão de mim pobre alma; concede-me um correto discernimento para que me deixe atrair por teus bens eternos e só por eles. Amar-te-ei com todo o meu coração, perseguindo só tua gloria, sem preocupar-me, em absoluto, da gloria dos homens, a fim de chegar a ser um contigo, já agora e depois da morte, obtendo, assim, ó Cristo, reinar contigo, que aceitaste, por meu amor, a mais infamante das mortes. Então serei o mais feliz entre todos os homens. Amém, assim seja, ó Senhor, agora e sempre e por os séculos dos séculos (Simeón el Nuevo Teólogo).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«Venha a nós, Senhor, teu Reino de luz»
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Jesus, que está a ponto de subir ao patíbulo, sem que haja um só gesto, da terra ou do céu, para defendê-lo, este mesmo Jesus afirma com uma calma suprema: «Eu sou rei». Rei, quer dizer, não só livre (e está atado), mas também Senhor (e estão a ponto de matá-lo). Aquele instante exigia a fé suprema, porque era o momento da obscuridade mais profunda, era o momento que dava a impressão de que do Deus-homem já não havia mais nada de divino e, dentro de muito pouco, mais nada restaria também do homem. Não era difícil crer no poder de Jesus quando mandava sobre as enfermidades, sobre a tempestade, sobre a morte. Mas, para pensar como Rei e como Deus a alguém que foi vencido, derrotado, reduzido a nada, é preciso recorrer a uma lógica que inverta qualquer pensamento humano, é preciso deixar que se funda nossa própria inteligência nas trevas mais densas; em uma palavra, renunciar a qualquer outra luz que não seja a da confiança cega, própria do amor[…]. Naquele momento era urgente o amor mesmo de Deus para compreender que o despojo total poderia constituir a oferenda suprema do amor, para descobrir na aniquilação da cruz a manifestação mais sublime da onipotência de Deus. Jesus manifesta sua própria realeza e seu soberano senhorio servindo-se da má vontade dos homens para cumprir sua vontade de salvação, utilizando seu ódio para sua obra de amor. Crucificavam-o para retirá-lo do meio, e eis que o tornam a mergulhar na eternidade de onde havia vindo e que, com seu retorno, voltará a abri-la a todos os homens (1. Riviére, A chaque jour suffit sa joie, París).
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
Lucas 21,1-4 (A oferta da viúva) Quatro versículos simples: os dois primeiros são para mostrar dois comportamentos que contrastam, fortemente, entre si; os dois seguintes, para dar um ensinamento. Jesus “observava” e “via” duas atitudes diferentes ante ao cofre das ofertas do templo: a primeira é a dos que lançam, de modo habitual, suas ofertas, qualificada com um simples adjetivo que, em seu caráter genérico, implica um julgamento: “ricos”; a segunda é um gesto único e exemplar; a pessoa que o realiza é qualificada de imediato, com precisão: uma mulher, “viúva” e “pobre”. Os vv. 3-4 mostram que o “ver” de Jesus não fica nunca na superfície, mas que penetra nos corações até descobrir as motivações profundas do agir humano. Ao verbo “ver’ que se encontra no começo do v.1 e v.2 corresponde, ao começo do v.3, o verbo “dizer”, acompanhado do advérbio “em verdade”: o que Jesus vê, e revela, é a verdade do ânimo humano, que nem a hipocrisia dos ricos nem a humilde modéstia da viúva conseguem esconder. E este é o ensinamento: o valor do dom não há de ser medido com critérios contábeis, mas em função da generosidade e das condições que parte do doador. A medida é dar sem medida “Toda a vida que possui” (v.4).
Dn 1,1-6.8-20 (Os jovens hebreus na corte de Nabucodonosor) – O livro de Daniel, colocado entre os profetas, no Canon católico e, entre os “Escritos”, no Canon judeu, une narrações de tipo sapiencial e oráculos do gênero apocalíptico. O protagonista não é um personagem histórico, mas, uma figura simbólica, modelo de sabedoria e de fidelidade à Lei. A história, que está retratada no livro, de um modo que inclui, também, tradições anteriores, remonta ao século II, aproximadamente. O capitulo 1 situa os fatos no tempo da deportação de Nabucodonosor (vv.1ss)… Ao autor, só lhe interessa apresentar o quadro sobre o qual faz ressaltar a figura de Daniel. O rei ordena escolher alguns jovens israelitas, nobres e bem dotados, e instruí-los para que prestem serviço na corte. Entre eles está Daniel e outros três companheiros, todos da tribo de Judá (vv.3-6). Daniel mostra logo (v.8) sua personalidade e sua decisão de não transgredir a lei. No exílio, era essencial, para os judeus, manterem-se fieis aos poucos preceitos, que podiam ser observados e que os distinguiam dos pagãos fora da Terra Santa: a circuncisão, o sábado, as prescrições alimentares. O relato procede como uma história. O bom aspecto dos quatro jovens, isentos dos alimentos impuros, é um prodígio que lhes preserva de transgredir a lei. São apresentados como “sábios”, segundo a tradição bíblica (v.17), e entram ao serviço do rei, de quem se converteram nos principais conselheiros.
(Sl) Dn 3,52-56 (Cântico dos três jovens; primeira parte) (…) entoado por testemunhas corajosas da fé, que não quiseram ajoelhar-se para adorar a estátua do rei e preferiram enfrentar uma morte trágica, o martírio na fornalha ardente. São três jovens hebreus, situados pelo autor sagrado no contexto histórico do reinado de Nabuconodosor, o terrível rei da Babilônia que aniquilou a cidade santa de Jerusalém em 586 a.C. e deportou os Israelitas “para as margens dos rios da Babilônia” (cf. Sl 136). Mesmo no perigo extremo, quando as chamas já atingem seus corpos, eles encontram a força para “louvar, glorificar e bendizer a Deus” com a certeza de que o Senhor da criação e da história não os abandonará à morte e ao nada. O autor bíblico, que escreveu alguns séculos depois, recorda este heróico acontecimento para estimular seus contemporâneos a manter o estandarte da fé durante as perseguições dos reis sírio-helênicos do II séc. aC. É exatamente nessa época que se registra a firme reação dos Macabeus, combatentes pela liberdade da fé e tradição hebraica. O cântico, tradicionalmente chamado “dos três jovens”, assemelha-se a uma chama que ilumina a escuridão do tempo da opressão e perseguição, um tempo que se repetiu muitas vezes na história de Israel e na própria história do cristianismo. Sabemos que o perseguidor nem sempre assume o rosto violento e macabro do opressor, mas, com freqüência, apraz-se em instigar o justo com o engano e a ironia, perguntando sarcasticamente: “Onde está o teu Deus?” (Sl 41,4.11). (…) (São João Paulo II).
MEDITAÇÃO A adesão à lei não é nunca puro formalismo. Nós somos muito acomodados e nos parece excessiva a firme rejeição que Daniel e seus companheiros opõem à ordem de alimentar-se com alimentos impuros da mesa do rei. Não sabemos ler o valor simbólico das normas alimentares, que o povo consagrado ao Senhor põe a parte para dar testemunho da veracidade de sua Palavra: parecem-nos preceitos de escassa importância. Damos importância ao que se vê, não ao significado profundo e interior das coisas: para nós, vale mais a oferenda dos ricos, e depreciamos a modesta moeda da viúva pobre. Sem dúvida, Jesus e – antes que Ele – as Sagradas Escrituras de Israel nos ensinam a ler no interior dos corações e a considerar o sentido autêntico de cada gesto. Fazem-nos compreender que também é possível arriscar a vida para dar testemunho de fidelidade a um pequeno preceito que procede, não obstante, da boca do Senhor; nos fazem compreender que o importante é dar-nos a nós mesmos, dar nossa vida, e não, simplesmente, o dinheiro que nos sobra ou que não nos serve, ainda quando se trate de uma grande quantidade.
ORAÇÃO: Concede-me, ó Senhor, o discernimento necessário para reconhecer o verdadeiro valor das coisas. É muito forte a tentação de deixar-me levar pelas opiniões que correm, de seguir a moda do “é o que fazem todos”, de ceder ao viver tranqüilo. A responsabilidade de dar testemunho de tua Palavra me parece, com frequência, dura demais. Ajuda-me a ser–te fiel, Senhor. Também, eu, tenho medo de que o seguimento de teus mandatos me debilite aos olhos do mundo; também, eu, admiro e sigo aos ricos e não aos pobres. Perdoa minha fragilidade e minha incoerência!
CONTEMPLAÇÃO: Caríssimos: não nos mostremos avarentos com o que temos como se fosse nosso, mas façamos produzir como se nos tivesse sido dado em empréstimo. De fato, nos foi confiada a administração e o uso temporal dos bens comuns, não a posse eterna de uma coisa privada. Recordai os que, no Evangelho, haviam recebido os talentos do senhor e o que o pai de família, a sua volta, deu a cada um como recompensa: então vos dareis conta de que é mais vantajoso pôr na mesa do Senhor o dinheiro que nos dá, para que o façamos frutificar, que conservá-lo intacto. Recordemos daquela viúva que, esquecendo-se de si mesma por amor aos pobres, lançou tudo quanto tinha para viver, pensando só no futuro. Ofereceu tudo o que tinha para possuir os bens invisíveis. Aquela pobrezinha não desprezou as normas estabelecidas por Deus em ordem à conquista do prêmio futuro; por isso o mesmo legislador não se esqueceu dela; mas ainda, o juiz do mundo antecipou sua sentença e pré-anunciou no evangelho que seria coroada no dia do juízo. Façamos, pois, devedor a Deus com seus mesmos dons. Nada possuímos que Ele não nos tenha dado. E, sobretudo, como podemos pensar que temos algo nosso, nós, que não nos pertencemos a nós mesmos por termos contraído uma obrigação particular com Deus, não só porque temos sido criados por Ele, mas também redimidos? Alegremo-nos, porque temos sido comprados de novo, a um preço elevado (cf. 1 Cor 6,20), com o sangue do mesmo Senhor e, por isso, deixamos de ser pessoas vis, como escravos; de fato, querer ser independentes da lei divina é uma liberdade mais desprezível que a escravidão. Restituamos, portanto, ao Senhor, os dons que são seus; demos a Ele, que recebe na pessoa de cada pobre; demos-lhes com alegria, o repito, para receber dele na exultação, como ele mesmo disse (cf. SI 125,5) (Paulino de Nola).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Lançou, do que necessitava, tudo o que tinha para viver” (Lc 21,4)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Deus está inclinado sempre para nós; é, poderíamos dizer, alguém que entrega a si mesmo e se faz dom perfeito, total, eterno, e isso em trégua. Somos nós os destinatários do dom, os que estamos fechados, os que não o acolhemos, e por isso recebemos ou não recebemos em absoluto o que nunca cessa de se nos oferecer. Porém, Ele escuta todas as orações, realiza todos os milagres, consuma todos os mistérios da salvação. Somos nós que não estamos dispostos a acolhê-los. O dom de Deus é infinito, se oferece sempre, porém nós sempre podemos, por assim dizer, anulá-lo, restringi-lo, recusá-lo (…). Não há grandeza senão no amor, na entrega de si mesmo, e amor é, precisamente, esvaziar-nos de nós mesmos, fazer de nós mesmos um espaço no qual outro possa expandir sua própria vida. Mas, precisamente, porque nós nunca poderemos ser pobres como Deus, podemos encaminhar-nos para este despojo e aumentar cada dia nossa generosidade, porém nunca conseguiremos ser pobres como o é Deus. Por outra parte, se Deus nos chama à alegria da entrega total, o faz justamente porque quer nossa grandeza, e a leva a seu cume quando nos confia sua própria vida, quando põe em nossas mãos seu destino na história (M. Zundel, La Vie Spirituelle).
TERÇA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
Lucas 21,5-11 (Discurso sobre a ruína de Jerusalém; Sinais precursores) É o começo do “discurso escatológico” do evangelho de Lucas. Jesus se encontra no templo, onde ensina publicamente, tendo tido já algumas disputas com os mestres da Lei e com os saduceus. Seu discurso se apóia, precisamente, na admiração que causa a beleza do templo (v.5). A predição é drástica e fulminante: “Virá um dia…” (v.6), até tal ponto que provoca, em seus ouvintes, a imediata petição de sinais premonitores (v.7). Primeiramente, a resposta de Jesus põe em alerta contra os falsos sinais que podem induzir engano aos discípulos (vv.8-11) e, a seguir, prediz a perseguição como sinal inequívoco (vv.12-19). “Estai atentos, para que não vos enganem” (v.8): trata-se de um verbo típico da terminologia apocalíptica. São muitos, de fato, os que falarão em nome de Jesus, porém o farão falsamente; por isso as guerras e revoluções não deverão assustar aos discípulos (v.9). Lucas escreve em uma época, na qual o “atraso da parusia” já se constitui um problema para a comunidade, que padece perseguições e desgraças, mas não sabe quando virá o fim que se demora: daí que seja necessário reforçar a paciência e a esperança e tranqüilizar respeito ao cumprimento do futuro. Tudo isto, disse Jesus, deverá acontecer antes do fim, porém o fim não “virá imediatamente” (v.9). A descrição dos acontecimentos que precederão ao fim, inclusive detalhada (vv. 10ss), para fazer entrever a possibilidade de um tempo intermédio (tempo da Igreja) muito longo, no qual a comunidade deverá perseverar no testemunho.
Dn 2,31-45 (Intervenção de Daniel) Daniel, conselheiro do rei e interprete de sonhos, se oferece para explicar ao rei um sonho no qual havia fracassado todos os adivinhos do reino: Daniel sabe que a revelação do mistério virá de Deus (v.28). O rei põe a prova os sábios pedindo que adivinhem seu sonho antes de explicá-lo; nenhum o consegue, só Daniel. É a visão de uma estatua construída com materiais diversos: ouro, prata, bronze, ferro e argila. Se desloca uma pedra desde um monte e se precipita contra os pés da estatua, quebrando-o. A enorme estatua cai por terra e se despedaça, enquanto que a pedra se converte em um monte que enche a terra (vv.31-35). Segue a explicação do sonho, ou seja, a sucessão de quatro reinos depois de Nabucodonosor. Cada um deles suplantará ao anterior, em uma progressiva decadência até o ultimo formado pela amalgama imperfeita de ferro e argila (vv.36-43). Surgirá então, por obra de Deus, um reino eterno que aniquilará os outros, um reino simbolizado pela pedra. É possível que o autor pense na desagregação do império de Alexandre Magno nos reinos sucessores; afirma-se o senhorio eterno de Deus, que põe termo a todo domínio humano com a imagem escatológica da unificação mundial.
(Sl) Dn 3,57-61 (Cântico dos Três jovens) (…) Aqui, o cântico dos três jovens faz desfilar ante nossos olhos uma espécie de procissão cósmica, que parte do céu povoado de anjos, onde também brilham o sol, a lua e as estrelas. Lá de cima Deus derrama sobre a terra o dom das águas que estão acima dos céus (cf. v.60). (…) (João Paulo II).
MEDITAÇÃO: As visões apocalípticas têm, sempre, uma forte carga simbólica. É necessário ir mais além das imagens coloridas para captar seu sentido. Jesus nos convida a não ficamos nas aparências: por mais grandioso e esplêndido que seja o templo, não ficará pedra sobre pedra dele. A enorme estátua do sonho de Nabucodonosor se faz em pedaços, golpeada por uma pedra pequena. Nem sempre os sinais resultam de fácil leitura; também, sobre isto, nos põe em guarda Jesus. Queremos saber, sempre, por antecipação, o que nos espera, e nos sentimos aterrorizados pelos “profetas de mau agouro”, como os chamava o papa João XXIII. Jesus nos tranqüiliza, porém, sem permitir-nos que vivamos na ilusão: haverá, é certo, transtornos e desastres, porém o futuro está nas mãos do Senhor e devemos a Ele confiar-nos, com simplicidade. Também o livro de Daniel, com suas descrições de prodígios tremendos, torna-se tranqüilizador: a estatua cairá e com ela desaparecerão os reinos da terra; a pedra pequena simboliza o Reino de Deus, preparado desde sempre para os justos. Não há nenhum motivo para ter medo.
ORAÇÃO: Senhor, tenho medo. Gostaria de parecer desinibido e moderno e sorrir ante as terríveis previsões apocalípticas, como se fossem fábulas de outros tempos. Sem dúvida, tenho medo do amanhã, tenho medo do sofrimento, tenho medo do que não conheço. Também gostaria de perguntar-te quando acontecerá tudo isso, porém não me atrevo a fazê-lo. Concede-me, Senhor, olhos puros e um coração simples, para que saiba situar cada coisa sob o juízo da Palavra e para que saiba ler os sinais dos tempos. Gostaria de pedir-te que me livres das calamidades das quais falas. Gostaria de pedir-te que afastes da terra as guerras, as destruições, as carestias, as pestes. Faz-me compreender, Senhor, por que é necessário que tudo isto aconteça. Mantém-me, Senhor, para que a fé que me deste me ajude a vencer o medo.
CONTEMPLAÇÃO: Estende, ó Pai, uma vez mais, tuas mãos, para acolher ao pobre. Dilata teu seio para acolher, nele, a um número maior. Nós iremos junto aos que repousam no reino de Deus, junto com Abraão, Isaac e Jacó […]. Iremos ao lugar onde se encontra o paraíso das delicias, ali onde Adão, que tropeçou, já não tem nenhuma razão para chorar por suas feridas, ali onde o mesmo ladrão se alegra por ter entrado a tomar parte do Reino dos Céus, ali onde não há nuvens nem trovões nem relâmpagos, ali onde não há tempestades de ventos, nem trevas, nem sombras, onde nem o verão nem o inverno mudarão o curso das estações; ali onde não fará frio, nem granizo ou chuva, nem haverá necessidade deste sol ou desta lua, nem haverá globos das estrelas, mas que só brilhará o fulgor da glória de Deus, pois o Senhor será a luz de todos, e a luz verdadeira que ilumina a cada homem resplandecerá sobre todos. Iremos ao lugar onde o Senhor Jesus tem preparado, para seus servos, muitas moradas (Ambrosio de Milán).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“O Deus do céu fará surgir um Reino que jamais será destruído” (Dn 2,44)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Desde o único acontecimento do nascimento-vida-morte-ressurreição de Jesus até a parusia, todos os anos são iguais para nós os cristãos: nos encontramos, de fato, nos últimos tempos, entre um “já” ocorrido em Jesus Cristo, e um “ainda não” esperado por toda a humanidade. Estes “últimos tempos” não têm nada de ameaçador, nem de catastrófico para o homem nem para a criação: não são o “chronos” que devora a seus filhos, mas o “kairós”, o tempo propício iniciado pelo Cristo e que qualifica a todo o resto do tempo. Devem aparecer, portanto, como um tempo de graça, como o tempo favorável, como o dia da salvação no qual acolher a fé e viver dela. Assim é como o cristão conhece e vive o tempo: este é sempre um “hoje”, é sempre um “tempo favorável” (2 Cor 6,2), é sempre um tempo deixado por Deus para a conversão e para viver de um modo belo e bom em comunhão e solidariedade com todos os homens. Isso significa aproveitar o tempo e até, como escreve Paulo (cf. Ef 5,16), redimi, resgatar, salvar o tempo como homens providos de sabedoria. E nosso tempo, precisamente porque está marcado pelo hoje de Deus, é um tempo aberto à eternidade, à vida para sempre (…). Se Deus está no início de meu tempo, se o Deus-homem está na plenitude do tempo, como poderia não estar ao final de meu tempo? Se Cristo “é o mesmo ontem, hoje e sempre”, como poderíamos não estar com Ele para sempre, nós que o temos conhecido no tempo, hoje? Nossos dias têm um fim, porém têm também uma finalidade: o encontro com o Deus que vem, a vida eterna (E. Bianchi, Da Forestiero, Casale Monf, 1995)
QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
Lucas 21,12-19 (Os sinais precursores) O segundo dos “sinais premonitórios”, que precederá ao fim, é a perseguição: também esta é, já, uma realidade, quando Lucas escreve seu evangelho. Antes de tudo, antes dos cataclismas e das guerras, os discípulos serão detidos e levados a julgamento “por causa” do nome de Jesus (v.12). Isto lhes proporcionará, disse Jesus por meio de Lucas, a ocasião de dar testemunho (v.13): é uma leitura positiva da perseguição. Lucas dirige, aos discípulos desorientados, que não sabem como defender-se (v.14), uma mensagem de esperança; mais ainda, lhes transmite a certeza da vitória: Jesus mesmo lhes dará a linguagem e a sabedoria necessária para contradizer as acusações (v.15). O contraste entre o versículo 12 e o 15 é paralelo ao que se dá entre os versículos 16 a 18ss: apesar das traições, do ódio e do afastamento, “nem um cabelo de vossa cabeça se perderá”, e as “almas” (psychás, as “vidas”) dos discípulos se salvarão.
Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28 (O festim de Baltazar) Baltazar, apontado como filho e sucessor de Nabucodonosor, não é uma figura histórica. O relato tem o desenvolvimento de uma parábola. O rei dá um banquete e ordena a pôr na mesa os vasos sagrados que Nabucodonosor havia levado de Jerusalém a Babilônia. A profanação dos vasos sagrados, nos quais bebem o rei e os convidados, provoca um sinal que semeia o terror na sala do banquete: uma mão misteriosa escreve na parede umas palavras incompreensíveis (vv.1-6). Como acontecera com o sonho de Nabucodonosor, ninguém está em condições de explicar o prodígio até que a rainha sugere chamar Daniel. O rei reconhece a sabedoria do judeu deportado (vv.13ss) e lhe promete uma recompensa (v.16). Sem dúvida, Daniel não exerce seu poder de adivinhação, que lhe vem de Deus, por amor a recompensas (v.17). O sábio mostra as conseqüências da arrogância e do sacrilégio do qual o rei é culpável. O pecado de Baltazar consiste em ter-se oposto ao Senhor do céu e ter adorado aos ídolos (v.23). Por isso Deus há pronunciado seu julgamento, um juízo que Daniel interpreta deste modo: o senhorio de Baltazar acabará, seu poder já não tem peso, seu reino será dado a outros.
(Sl) Dn 3,62-67 (O cântico dos três jovens) – (…) isto é, as chuvas e a brisa matinal (cf.v.64). Contudo, eis que começam também a soprar os ventos, a explodir os relâmpagos (…) (JOÃO PAULO II).
MEDITAÇÃO: A linguagem imaginativa e fortemente evocadora dos textos apocalípticos infunde terror; mas, sem dúvida, sua mensagem é de esperança. As perseguições, os abandonos e as traições, não poderão nada contra quem se confia, com simplicidade, ao Senhor. Os dias do adversário estão contados, disse Daniel; eu vos darei linguagem e sabedoria, disse Jesus, para reanimar os corações desconcertados dos discípulos. A Escritura não guarda silêncio sobre as provas que porão em perigo a vida das testemunhas, não se mostra enganosa ou falsamente consoladora. Quanto mais vivo e realista é o quadro da catástrofe, tanto mais ressalta a firmeza da fé: empalidece de terror o arrogante Baltazar enquanto ressoam seguras as palavras de Daniel: “Deus tem contado os dias de teu reinado e tem assinalado um limite”.
ORAÇÃO: Senhor, faze com que não se perturbe meu coração, que não trema quando me pedires que dê conta de minha fé. Falta-me o valor, não sei falar, minha mente está confusa. Necessito conforto dos outros, não suporto estar abandonado e sozinho. Perdoa-me, Senhor, mas, também eu, estou atormentado pela dúvida: “Nenhum cabelo de vossa cabeça se perderá”, dize-me. Perdoa-me, Senhor, mas tenho medo de que seja só uma piedosa ilusão. Só tu podes dar-me força, Senhor. Só tu podes dar-me a fé, voltar a dar esperança a meu ânimo frágil. Só tu podes dar-me “linguagem de sabedoria” para resistir os ataques de teus adversários e dos meus. Obrigado, Senhor, por não ter deixado tudo sobre minhas frágeis costas. Obrigado porque, é, precisamente, minha fragilidade que prova que só em ti há vida e salvação.
CONTEMPLAÇÃO: Sede-me fieis. Não temais: mestres da Lei e fariseus, autoridades e poderosos serão vossos inimigos. Parecereis abandonados – na realidade, estareis seguros – Onde? No mais seguro que o Senhor tem oferecido: na Providência. Já vimos, uma vez, o que significa providência: não é a ordem da natureza, que se impõe por si, mas o que o Pai estabelece no homem, que lhe dá pela fé, sempre que o homem reconheça a Deus como seu Pai, se confie nele e tome a peito, como nenhuma outra coisa, o zelo por seu Reino. Deste modo, os apóstolos não se espantarão frente à perseguição, porque estarão protegidos, e ainda que tiverem que perecer, nem sequer, então, temerão, pois estarão convencidos de que, o que conta é invencível. Quem os matar matará só o corpo. Não podem prejudicar a alma, pois está recolhida na fé de Jesus. Também, à alma, lhe é chegada a hora de decidir entre a vida e a morte: ante Deus, no tribunal supremo. Deus a pode lançar à morte eterna. Isto é o único que devem temer os discípulos. Porém, se optaram por Jesus, estão vivos ante Deus e gozam da vida eterna. A decisão mediante a qual alguém se põe da parte de Jesus se realiza em um instante, porém funda a eternidade […]. Como deve comportar-se, então, o homem? Concentrando o espírito no que dura eternamente e deixando que as coisas caducas passem seu tempo. Em Deus, não no tempo, deve estar sua possessão. Mas, isto só é possível quando se tem fé em Cristo. Então o homem, vivendo desta fé, pode obter frutos de imortalidade nas próprias coisas terrenas (R. Guardini).
AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:
“Eu vos darei linguagem e sabedoria” (Lc 21,15)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Ante a perca do sentido, os crentes são chamados, sobretudo a por Cristo no centro, qualificando-se como discípulos seus, apaixonados por sua verdade, o único que liberta e salva. “Vem e segue-me” é o chamado que ressoa hoje mais que nunca aos crentes, porque hoje mais que nunca é urgente dizer com a vida que há razões para viver e para viver juntos, e que estas razões não estão em nós mesmos, mas nesse último horizonte que a fé nos faz reconhecer como revelado e dado em Jesus Cristo. Trata-se de redescrobrir o primado de Deus na fé e, portanto, o primado da dimensão contemplativa da vida, entendida como fiel união a Cristo em Deus, mantendo o coração atento ao horizonte último que se nos oferece nele. Temos necessidade de cristãos adultos, convencidos de sua fé, experimentados na vida no Espírito, dispostos a dar razão de sua esperança. Neste sentido, a caridade maior que se pede hoje aos discípulos do Crucificado-ressuscitado é ser, com sua vida, discípulos e testemunhas daquele que é o verdadeiro sentido que não defrauda, a verdade que salva. Em segundo lugar, os cristãos estão chamados, hoje mais que nunca, a fazer-se servo por amor, vivendo o êxodo de si mesmo sem retorno, seguindo o Abandonado, construindo o caminho em comunhão mostrando-se solidários especialmente com os mais débeis e os mais pobres de seus companheiros de caminho. Se Cristo está no centro de nossa vida e da vida de toda a Igreja, se Ele é aquele ao qual estamos unidos, atados por sua cruz, iluminados por sua ressurreição, então não podemos considerar-nos fora da história de sofrimento e lágrimas à qual Ele veio e aonde fincou sua cruz, para resplandecer nela o poder de sua vitória pascal. Os discípulos da verdade que salva não estão nunca sós; estão com Ele, a serviço do próximo, vivendo assim na companhia do Deus-conosco (B. Forte, Il laici nella Chiesa e nella societá civile, Casale Monf.).
QUINTA-FEIRA 29 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
Lucas 21,20-28 (O cerco; A catástrofe e o tempo dos pagãos; As catástrofes cósmicas e manifestação gloriosa do Filho do Homem) A queda de Jerusalém é uma clássica profecia “ex eventu”, quer dizer, que foi escrita depois de acontecida: com efeito, Lucas escreve depois do ano 70 dC, ano da destruição da mesma. A descrição, com fortes tons apocalíticos, recorre à linguagem dos profetas e apresenta um quadro terrível dos acontecimentos que se produzirão quando se cumpra o juízo sobre a cidade santa (“dias de vergonha”: v.22). A desolação golpeará, sobretudo ali onde se opõe aos sinais de vida (as mulheres grávidas, as crianças de peito); o destino de morte atravessará os próprias fronteiras do povo de Israel para golpear, também, aos gentios (v.24), “até que chegue o tempo assinalado”, isto é, o tempo da Igreja dos testemunhos e dos mártires (v.24). Os acontecimentos cósmicos se refletem na angustia de todas as nações (v.25) e no tempos do que está por chegar (v.26). A inspiração universal desta linguagem, que engloba a toda criação, afasta a determinação do tempo preciso no qual tudo isto acontecerá, e, deste modo, Lucas pode introduzir o acontecimento decisivo, cujo momento não pode ser conhecido: a vinda do Filho do homem, julgamento para alguns, libertação para os crentes (vv. 27ss).
Dn 6,12-28 (Oração de Daniel) – O célebre episódio da cova dos leões mostra, uma vez mais, a figura exemplar de Daniel, que apesar da proibição do rei, segue orando ao Senhor. Seus inimigos lhe espreitam e lhe denunciam ao rei (vv.12-14). O rei Dario fica entristecido, porém não pode salvar a Daniel, porque os decretos reais são irrevogáveis (e, precisamente com isto contavam os autores das denuncias, vv.15ss). Portanto, o herói é lançado, como nas lendas, na cova, que o próprio rei sela para evitar qualquer irregularidade, porém, desejando que o Deus de Daniel intervenha para salvar-lhe e, até orando com seu jejum (vv.17-19). Na manhã seguinte, o rei se mostra ansioso por conhecer o destino de Daniel e este lhe responde da cova (vv.20-23). A estória termina do modo mais tradicional, com a liberação do herói e o castigo de seus inimigos, que são comidos pelos leões (vv.24ss). O fato fica selado pelo novo decreto do rei, que proclama, por todo seu reino, o culto ao Deus de Daniel (vv.26-28). É o triunfo do monoteísmo de Israel sobre as nações pagãs, que acabam reconhecendo, por seus prodígios, ao Deus vivo.
(Sl) Dn 3, 68-74 (O cântico dos três jovens) (…) e a irromper as estações com o calor e com o gelo, com o fervor do verão, mas também com a geada, o gelo, a neve (cf. vv. 65-70.73). O poeta insere no cântico de louvor ao Criador também o ritmo do tempo, o dia e a noite, a luz e as trevas (cf. vv. 71-72). No final o olhar pousa, também, sobre a terra, partindo dos cumes dos montes, realidades que parecem unir terra e céu (cf. vv. 74-75). (…) (João Paulo II).
MEDITAÇÃO: Parece que os inimigos de Daniel vão triunfar sobre ele, pois provocam sua condenação, apesar da benevolência do rei. Jerusalém está destruída, e exterminada a população da Judeia, ainda que se trate da cidade santa. Sem dúvida, precisamente no profundo destas espantosas desventuras, se invertem as sortes: os leões que respeitaram a Daniel devoram seus adversários, e, enquanto os homens morrem de medo os discípulos de Jesus levantam a cabeça, porque está próxima a libertação. Observemos que, tanto o autor do livro de Daniel, como o evangelista Lucas, escreveram estas páginas em tempos de perseguição, em tempos nos quais a solução positiva e o fim das tribulações se apresentavam incertos e longe. Os vv.21 a 24 do capitulo 21 de Lucas não são frutos da fantasia, mas um artigo correspondente a uma guerra, que descreve o que acontece ante seus olhos. Deixaríamos de chorar por nós, por causa de nossas dificuldades cotidianas, se tivéssemos só uma fibra da fé atestada pelas leituras de hoje.
ORAÇÃO: Senhor, hoje, tua Palavra me faz temer. Estou entre os perseguidos que fogem aos montes, abandonando a cidade, aterrorizados pelos sinais celestes e pelo estrondo do mar. Fujo porque agora cai a “cidade santa” que me dava refugio: a piedade tradicional na qual cresci já não me basta, já não encontro respostas a minhas dúvidas. Ajuda-me, Senhor, a ler tua vontade, inclusive dentro destas calamidades. Ajuda-me a fazer-lhes frente com um coração sereno, como Daniel na cova dos leões: se tu estás comigo, não me esquartejarão. Ajuda-me a olhar além dos céus descompostos: se tu estás comigo, meus olhos verão o ir e vir o Filho do homem sobre as nuvens e me darás a força necessária para levantar a cabeça. Amém!
CONTEMPLAÇÃO: Em todo o mundo visível está inscrito o mistério da passagem. O mistério da morte. Ninguém dúvida de que as coisas aqui em baixo padecem a destruição e que, deste modo, passa o mundo visível. Ninguém duvida de que o homem morre neste mundo e, deste modo, passa o homem. Através do passar do mundo, através da morte do homem, se revela Deus, aquele que não passa. Ele não está submetido ao tempo. É eterno. É aquele que, ao mesmo tempo, “é o que é, o que era e o que vem” (cf. Ap 1,8). Aquele que é, totalmente, transcendente, com respeito ao mundo, como Espírito infinito, abarca, ao mesmo tempo, tudo o que foi criado e tudo o que respira: “Nele, de fato, vivemos, nos movemos e existimos’ (At 17,28). Portanto, não está só fora do mundo, não está só em sua inescrutável divindade. Está, ao mesmo, tempo no mundo. O mundo está penetrado por sua presença. E essa presença fala sempre de sua vinda. De seu vir. Assim, pois, Deus, como Criador e Senhor do mundo, vem, eternamente, a este mundo, ao qual chamou do nada à existência. Sempre vivemos em espera “do que deverá acontecer sobre a terra”, como disse Cristo no evangelho. Mas, Deus não está só “fora do mundo”. Entra no destino do homem sobre a terra. Os homens o verão como “Filho do homem” (Lc 21,27). “Redenção” significa, precisamente, a presença do Justo em meio dos pecadores. “Ergamo-nos e levantemos a cabeça”: de fato, nesta vinda do Justo se encerra “nossa salvação”. A história do homem sobre a terra não é só o transito para a morte; é, sobretudo, um contínuo amadurecimento para a vida em Deus (João Paulo II).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Recobrai o ânimo e levantai a cabeça, porque se aproxima vossa libertação” (Lc 21,28)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Esperar é muito mais que desejar, porém nós confundimos com frequência um com o outro. Esperar é aguardar o que a fé não dá a conhecer: trata-se, seguramente, de coisas obscuras, ainda que incomparavelmente mais plenas. Esperar é aguardar com uma confiança ilimitada o que não conhecemos, porém da parte daquele cujo amor, sim, conhecemos. Recebemos na mesma medida com a qual esperamos. Esperar assim é amar, amar com amor de caridade a Deus e aos outros, porque é fazer nossas as “idéias” de Deus sobre ele e sobre o que cada um deve receber dele. O esperar, o atuar, segundo as circunstâncias… Em ambos os casos nos pede o Senhor radicalismo, isto é, o esperar a fundo o atuar a fundo. Esperar o que não depende de nós é uma boa ocasião para por em Deus uma confiança sem fissura. Quando devemos intervir em algo que verdadeiramente supera nossas possibilidades, é preciso confiá-lo a Deus. E confiá-lo a Deus significa confiar nele. Para que esta confiança seja real, efetivamente boa, não devemos deixar em nós a inquietude. O que o Senhor nos pede é para crer que Ele é Deus, esperar nele, porque Ele é todo-poderoso. Esperar de bruços sobre a terra, imóveis. Porém, esperar com uma esperança vital, indestrutível (M. Delbrel, Indivisível amor, Casale Monf).
SEXTA-FEIRA 30 DE NOVEMBRO DE 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO B
Lucas 21,29-33 (Parábola da figueira) “Quando acontecerá tudo isto?”, perguntaram os discípulos (21,7). Jesus toma as coisas com calma, e quase parece querer evitar uma resposta direta; por f, proporciona um critério muito simples, tomado da experiência. Uma brevíssima comparação ou parábola, em três versículos, relaciona a sabedoria camponesa, que reconhece nos fenômenos naturais a chegada das estações (vv.29ss), com a vinda do Reino pré-anunciado pelos fenômenos cósmicos que acaba de descrever. O que conta para Lucas não é a previsão exata dos tempos, mas a proximidade do Reino (e da libertação: cf.v.28): o Reino está próximo, já está, inclusive, no meio de nós. A afirmação “vos asseguro que não passará esta geração antes que tudo isto aconteça” (v.32) refere-se, provavelmente, à queda de Jerusalém, da qual tanto Lucas, como sua comunidade, já viveram a experiência; sem dúvida, também, torna-se verdadeira, aplicada aos acontecimentos escatológicos, porque, a medida do tempo torna-se secundária diante do dever da vigilância e ao valor eterno da Palavra de Jesus (v.33). A preocupação por conhecer, de maneira antecipada, o que acontecerá e quando terá lugar fica vazia de sentido: responder ao chamado e aderir à Palavra introduz agora e de imediato o cristão na realidade nova do Reino.
Dn 7,2-14 (A visão das feras; Visão do Ancião e do Filho do Homem) A visão de Daniel faz parte do gênero literário apocalíptico. A revelação por meio de sonhos é freqüente tanto no Antigo Testamento como no Novo. Daniel descreve, com uma dramática vivacidade, o mar a agitado e as quatro bestas, monstros terríveis, que emergem dele. O mar tem aqui um valor negativo: simboliza o caos primordial ou o conjunto das forças que se opõem contra Deus e contra seus justos. Também as bestas (o quatro indica totalidade) representam as forças inimigas ou os reinos pagãos, que, apesar de sua arrogância, são simples instrumentos, dos quais se serve Deus, para realizar seus julgamentos. Nas bestas podemos identificar o Reino de Babilônia, o dos medos, e dos persas e, por ultimo, na quarta e mais terrível, o dos selêucidas da Siria. Siria se assimilava, antigamente, com Assiria, e aqui, na visão dos dez chifres (símbolo de poder) e do chifre menor, a mais arrogante, se superpõe na de Antioco IV, a imagem de Assur. A visão continua agora como uma teofania: aparece uma espécie de tribunal celestial presidido por um ancião com vestes brancas sobre um trono de fogo. A imagem do trono móvel previsto de rodas remete a Ezequiel. A multidão dos que servem ao ancião é inumerável, se abrem os livros do juízo e matam a quarta besta, enquanto que as outras se lhes deixa,misteriosamente, um tempo limitado de vida: o mal ameaça, ainda aos fieis, porém seu fim está marcado. A visão teofânica culmina com a aparição do Filho do homem, figura messiânica, a qual se entrega o senhorio eterno sobre todos os povos e as nações.
(Sl) Dn 3,75-81 (O cântico dos três jovens) (…) Eis que então se unem no louvor a Deus as criaturas vegetais que germinam na terra (cf.v.76), as nascentes que trazem vida e frescor, os mares e os rios com as suas águas abundantes e misteriosas. De fato, o cantor evoca também “os monstros marinhos” ao lado dos peixes (cf.v.79), como sinal do caos aquático primordial ao qual Deus impôs regras para serem observadas. Depois é a vez do grande e variado reino animal, que vive e se move nas águas, na terra e nos céus (cf. Dn 3,80-81). (…) (JOÃO PAULO II).
MEDITAÇÃO É simples compreender quando será o fim do mundo, nos disse Jesus com ironia. Basta observar quando germina a figueira para saber que o verão está próximo. É algo natural, algo que se repete todos os anos, algo pelo qual o camponês esperto não se deixa surpreender. Não passará esta geração sem que tudo aconteça: não se trata de fantasias milenaristas, mas se trata de viver, plenamente, nossa vida, que nos foi dada para isso. Não é preciso esperar o fim do mundo para convencer-nos que sua Palavra permanece para sempre e para optar, de uma vez por todas, por confiar-nos a Ele, antes que as potencias deste mundo, que parecem melhor dispostas, o façam. As aterradoras bestas do sonho de Daniel não resistem à visão do trono radiante sobre o qual se senta o ancião dos dias; Daniel, ao contrário, a resiste muito bem com os olhos puros da fé, e se lhe concede ver a conclusão positiva da visão. O poder das forças do mal está limitada no tempo e no espaço, a pesar de infundir terror. Os crentes elegeram outro poder, um poder que não tem limites: é inumerável o exercito dos que servem ao ancião dos dias, é eterno o reino entregue ao Filho do homem.
ORAÇÃO Senhor, cada vez Tu me surpreendes mais. Perco-me atrás de um monte de pensamentos emaranhados e não consigo compreender o sentido das coisas, enquanto tu me remetes aos pequenos sinais cotidianos e a antiga sabedoria camponesa. Senhor, faz-me capaz de ver os brotos nas ramas. Faz-me capaz de voltar a dar valor às coisas simples e grandes que preparastes para nós. Tu viestes a nós “semelhante a um filho de homem”: levastes em nossa própria carne o milagre sublime de tua presença entre nós. Faz-me capaz, Senhor, de olhar a cada “filho de homem”, a cada irmão, buscando, nele, tua imagem. Faz-me compreender, Senhor, que já estás aqui, em meio a nós: não sevem os prodígios extraordinários, sacia-nos com tua Palavra.
CONTEMPLAÇÃO Só uma vez ao ano, porém ao menos uma vez, o mundo, que vemos, deixa aparecer suas possibilidades escondidas, em certo sentido se manifesta. Brotam folhas, botões e flores nas arvores e nascem a erva e o trigo nos campos. É como uma irrupção, imprevista e violenta, da vida escondida que Deus introduziu no mundo material. Pois bem, tudo isto é como uma pequenina demonstração do que o mundo pode fazer a uma ordem de Deus quando Ele disse uma palavra. Do mesmo modo que agora explode esta terra em uma primavera de flores e botões, assim um dia se abrirá, transformando-se em um novo mundo de luz e de glória, e veremos ali aos santos e aos anjos que nele habitam. Assim será a chegada dessa primavera eterna que todos os cristãos esperam. Virá certamente, ainda que demore. Esperemos, porque “é seguro que virá e não tardará” (Hb 10,37). Por isso dizemos cada dia: “Venha a nós o teu Reino”. E isso significa: “Mostra-te, Senhor, manifesta-te”; “Desperta teu poder e vem salvar-nos” (Sl 79,3). A terra que está ante teus olhos não nos satisfaz: é só um começo, é só a promessa de algo que está mais além; inclusive, quando está em completa festa com suas flores, inclusive quando mostra de modo comovedor, toda a vida que vive escondida nela, nem sequer então nos basta. Sabemos que há muito mais do que podemos ver. Um mundo de santos e de anjos, um mundo cheio de glória, a morada de Deus, o monte do Deus dos exércitos, a Jerusalém celestial, o trono de Deus e de Cristo: todas essas maravilhas que nunca terão fim, tudo o que é precioso, misterioso, incompreensível e está oculto no que vemos. O que podemos ver não é mais que a envoltura de um Reino eterno, e para esse Reino se dirigem os olhos de nossa fé (J. H, Newman).
AÇÃO Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Seu Reino jamais será destruído” (Dn 7,17)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Há também algo mais neste mundo, neste tempo, nesta vida de vigília. Deus não tarda no último dia, mas vem já: existe um futuro e existe um presente, um futuro que é uma plenitude e uma riqueza de esperança, e um presente que possui já uma beleza, uma plenitude, uma felicidade única. Mas estes encontros, estes momentos de felicidade ou de facilidade são momentos de Deus; ali onde há beleza, riqueza, doçura, bemaventurança, tranqüilidade, sentido de vida, verdadeira claridade, ali há presença de Deus, porque Deus é tudo isso. Devemos administrar bem esses momentos, do mesmo modo que o viajante que caminhasse de noite e lamentasse a escuridão bendiria a centelha de um relâmpago. É um momento, porém a esse momento foi dado a certeza que dá a luz, a certeza de que o caminho pelo qual vai é o bom, de que não caminha em vão. Assim é a economia de Deus: o Senhor concede relâmpagos, resplendores, fulgores que orientam o coração e o dão uma advertência e uma orientação: é o toque de Deus, o “digitus Dei” que nos indica como devemos caminhar. E, depois, Deus volta a estar quase ausente, desaparece e cala. Este Amigo vigilante deixa de falar; está presente e cala. Não importa. E, se temos gozado bem dos bons momentos, não devemos temer as escuridões, pois não são perigosas. Não serão momentos de plenitude, mas de desejo, de felicidade, de amor não afetivo, mas efetivo; serão os documentos que provam que desejamos amar ao Senhor ainda que não nos dê seus dons. Queremos a Ele, não seus dons. Em um céu que não tem nome, em uma embriaguez que não tem limites, em uma luz que não tem comparação possível, o último dom é Ele mesmo (G. B. Montini, Meditazioni, Roma).
SÁBADO, 01 de DEZEMBRO de 2018 – 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM – AN0 B
Lucas 21,34-36 (Vigiar para não ser surpreendido) A exortação à vigilância que insistentemente aparece em todo o “discurso escatológico”, se torna explicita aqui, nos versículos finais. Jesus transforma a ânsia dos discípulos pelo “quando” em atenção constante: todo momento é bom, o julgamento chegará de improviso e é preciso estar sempre preparados para que seja um juízo de salvação e não de condenação. “Que vossos corações não fiquem pesados”, disse Jesus: trata-se de uma mensagem de libertação das travas que nos atam e nos distraem do que, verdadeiramente, conta. “Esse dia” será como um laço, uma armadilha, como o ladrão que tenta surpreender, à noite, o dono da casa (cf. Lc 12,39). Estas palavras de Jesus produzem calafrios; sem dúvida, não são ameaçadoras: o “velar” e a “oração” nos proporcionarão a força necessária para escapar do que vai acontecer, dos perigos que sempre nos espreitam – e não só ao fim do mundo-, e nos permitirão comparecer (stathênai, “estar seguros”, “resistir”) ante o Filho do homem. O significado global deste discurso de Jesus Cristo é uma exortação à confiança: aconteça o que acontecer, a vinda do Filho do homem a esperam, com saudade, quantos confiam nele, como o momento da libertação definitiva do mal.
Dn 7,15-27 (Interpretação da visão) – Prossegue a visão escatológica de Daniel, que, desta vez, não consegue compreender, por si só, seu sonho, e pede, a uma das figuras do tribunal celestial, que o explique. As quatro bestas são os quatro reinos que, apesar de seu poder, serão suplantados pelo Reino dos “fieis do Altíssimo”. A quarta besta, diferente das outras, aterroriza Daniel, que pede mais explicações ao anjo. O quarto reino devorará toda a terra; se sucederão dez reis e, por ultimo, outro rei – o corpo pequeno- mais feroz e blasfemo que os anteriores. Substituirá o culto a Deus pelo culto aos ídolos. Este rei terá mãos livres, porém, durante um tempo limitado. Depois, será julgado e aniquilado. O Reino eterno será entregue, ao final, aos fieis do Altíssimo, às potências angélicas, que representam o domínio de Deus. Podemos ver aqui uma alusão à insurreição macabéia contra Antioco IV: aos que combatem para salvaguardar a pureza da fé lhes está assegurado o consolo da previsão da vitória final.
(Sl) Dn 3,82-87 (O cântico dos três jovens) (…) O último ator da criação que entra na cena é o homem. Primeiro, o olhar alarga-se a todos os “filhos do homem” (cf. v.82); depois, a atenção concentra-se em Israel, o povo de Deus (cf.v.83); a seguir, é a vez de quantos se consagraram totalmente a Deus não só como sacerdotes (cf.v.84), mas também como testemunhas de fé, de justiça e de verdade. São os “servos do Senhor”, os “espíritos e as almas dos justos”, os “mansos e humildes de coração” e, entre eles, sobressaem os três jovens, Ananias, Azarias e Misael, que deram voz a todas as criaturas num louvor universal e perene (cf.vv.85-88). (…) (JOÃO PAULO II).
MEDITAÇÃO “Esse dia”, o dia do Senhor, é um tempo sem tempo, apenas é mais além do instante que estamos vivendo. É um tempo de julgamento e de salvação que vem quando menos o esperas e traz o que não sabes. Mas, não é um tempo desconhecido ou um tempo fora de nosso alcance: é hoje, esse hoje que vivemos dia a dia, o momento de nossa decisão, de todo encontro que tenhamos, de toda alegria que tenhamos recebido e de todo sofrimento com o qual sejamos medidos. Daniel se sente perturbado pela visão que teve, porém o anjo lhe proporciona uma explicação tranqüilizadora: se celebrará o juízo e ao chifre – o rei – que fala com altivez lhe retirará o poder. Velar para que esse dia não nos surpreenda não significa viver na angustia. Ao contrário, significa viver, em plenitude, cada instante, como se fosse o único, o mais significativo para nós. Temos de viver, inclusive, com alegria, recebendo, cada acontecimento, como um dom e como uma oportunidade. Viver com atenção, buscando , nos outros que passam a nosso lado, o rosto único e múltiplo daquele que nos chama. Velar e orar, a cada momento, significa encher de sentido nossa vida e a dos outros e, inclusive, gozá-la, transformando-a em canto de louvor. Deste modo, como disse Paulo, cada ato de nossa vida, inclusive os que parecem mais profanos e triviais, se converterá em oração. Assim, sua presença transbordará nossos corações e, nos acompanhará, até apresentar-nos, sem temor, ante o Filho do homem.
ORAÇÃO Quisera velar e orar enquanto espero-te, Senhor. Porém, meus olhos estão cheios de sono e me pesa o coração, fatigado pôr muitas ânsias. Não sou capaz de velar contigo nem uma hora, e Tu sabes disso, Senhor. Ensina-me a orar, Senhor. Como Daniel, sinto que desfalecem minhas forças e minha mente se sente perturbada, porque é duro o sentido de tuas palavras. Ensina-me a não esbanjar o tempo de vida que me dás; faz que saiba servir-me dele para preparar meu encontro contigo. Liberta-me do medo, Senhor. Faz que sinta com alegria o momento de comparecer ante o Filho do homem como o convite a um banquete de bodas.
CONTEMPLAÇÃO Os cristãos sempre hão esperado a Cristo, sempre hão recordado os sinais de seu retorno, porém, nunca hão pretendido que já tivesse voltado. Hão afirmado, simplesmente, que estava a ponto de chegar, que estava às portas. Seus verdadeiros discípulos não hão pretendido fixar nunca uma data para sua volta. Hão se contentado com o esperar. Assim, quando voltar, lhe poderão reconhecer […]. Não há nada de mau, nem ridiculo, efetivamente, em pensar que os acontecimentos do mundo se dirigem para uma meta. É o modo de interpretar tudo à luz da Escritura: ler o sentido de todas estas coisas, considerá-las como sinais e manifestações de Cristo, de sua providência, de sua vontade. Se poderia objetar que este mundo fala, com freqüência, uma linguagem adversa a Deus. Como poderia dizer, então, que leva nele sinais da presença de Cristo e, portanto, que se aproxima a ele? Sem dúvida, é assim. Apesar do caráter opaco deste mundo, Deus está presente nele, Deus nos fala através do mundo. Cristo está aqui, sussurra a nossos ouvidos e nos faz sinais. Mas, o rumor deste mundo é tão ensurdecedor, seus sinais seguem sendo tão misteriosos, o mundo se mostra tão agitado, que não sabemos reconhecer quando fala nem o que nos quer dizer (J. H. Newman).
AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:
“Velai, pois, e orai em todo tempo” (Lc 21,36)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Visto que Jesus está sempre a ponto de vir, a Igreja deve velar incessantemente. Ela mesma é vela, vigília. Ela mesma “aguarda com perseverança” (cf Rm 8,19.25), a esperar seu Senhor e Esposo. Em conseqüência, se impõe sempre a vigilância. O dia e a noite, a vela e o sono, constituem um ritmo cósmico que recebe em Jesus um novo significado. A noite designa a ausência dele, enquanto que a aurora e o dia anunciam sua vinda. A Igreja, que vive esperando a vinda de Jesus com a certeza de sua misteriosa presença, não pode “dormir”, mas vela. Em sua vigília, o cristão leva toda a ânsia da Igreja, que, no Espírito Santo, espera seu Senhor. A força do Espírito penetra em sua vigília a tal ponto que esta, de um modo misterioso, influirá agora no ritmo cósmico do tempo. Esta influência justifica a força da palavra de Pedro quando escreve que o cristão, velando e orando, apressa a chegada do dia do Senhor. Velar com Jesus é sempre velar em torno de sua Palavra. A única lâmpada da qual disporemos em nossas trevas é a Palavra de Deus. Na espera de que aponte o Dia, Jesus resplandece já, por meio de sua Palavra, no mais fundo de nosso coração; a vinda de Jesus ao fim dos tempos se antecipa em nossos corações quando velamos em torno de sua Palavra. Na noite dos tempos na qual seguimos vivendo hoje, a vigília de oração é um primeiro vislumbre, ainda que inseguro, que se eleva sobre o mundo: é o sinal de que Jesus está perto. A vigília, portanto, não pode cessar nunca, e a oração deve crescer sempre. A espera e a vigília nos arrancam de nós mesmos e nos deixam nas mãos de Deus, de quem depende toda consumação, e que terá lugar quando Ele queira, quando o mundo, a força de velar, esteja maduro para a colheita (A.Louf, Lo Spirito prega in noi, Magnano).