LECTIO DIVINA NA OITAVA DA PÁSCOA 2020

COMUNIDADE PAZ E BEM – LECTIO DIVINA

BAIXAR EM PDF LECTIO DIVINA SEMANA DA OITAVA DE PÁSCOA ANO A 2020

                      FELIZ PÁSCOA

      “ET RESURREXIT TERTIA DIE SECUNDUM SCRIPTURAS”

         “Ressuscitou no terceiro dia segundo as Escrituras”

TEMPO PASCAL: Cada domingo, com o Credo, renovamos a nossa profissão de fé na ressurreição de Cristo, acontecimento surpreendente que constitui a chave do cristianismo. Na Igreja tudo se compreende a partir deste grande mistério, que mudou o curso da história e que se torna atual em cada celebração eucarística. Mas existe um tempo litúrgico no qual esta realidade central da fé cristã, na sua riqueza doutrinal e inexaurível vitalidade, é proposta aos fiéis de modo mais intenso, para que mais fielmente a redescubram e a vivam:  é o tempo pascal. Cada ano, no “Santíssimo Tríduo de Cristo crucificado, morto e ressuscitado”, como diz Santo Agostinho, a Igreja retoma, num clima de oração e penitência, as etapas conclusivas da vida terrena de Jesus:  sua condenação à morte, a subida ao Calvário carregando a cruz, seu sacrifício pela nossa salvação, a sua deposição

no sepulcro. No “3º dia” a Igreja revive sua ressurreição: é a Páscoa, a passagem de Jesus da morte para a vida, na qual se cumprem em plenitude as antigas profecias. Toda a liturgia do tempo pascal canta a certeza e a alegria da ressurreição de Cristo. Queridos irmãos e irmãs, devemos sempre renovar a nossa adesão a Cristo morto e ressuscitado por nós:  a sua Páscoa é também a nossa Páscoa, porque em Cristo ressuscitado é-nos dada à certeza de nossa ressurreição. A notícia da sua ressurreição dos mortos não envelhece e Jesus está sempre vivo; e vivo é seu Evangelho (…) (Bento XVI).

DOMINGO, 12 DE ABRIL DE 2020DOMINGO DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – ANO A                                                                                              

João 20,1-9 (O sepulcro encontrado vazio) =Mt 28,1-8; Mc 16,1-8; Lc 24,1-11 Antes de encontrar o Ressusci­tado os discípulos passam pela dolorosa experiência do túmulo vazio. João sublinha, sobretudo, a dialética da “visão”-“fé”-“visão espiritual”, que percorre de modo crescente os capítulos 20-21, interpelando ao leitor e a todos os que crêem sem ter visto (20,29). Neste texto se expre­ssa mediante o uso de dois verbos diferentes: «ver-crer» (vv.1.5.7.8). Os relatos da ressurreição se abrem com dois marcos cronológicos: «domingo pela manhã» e «muito cedo antes de sair o sol».    O dia inicial de uma nova semana se tornará, assim, início de uma nova criação, em verdadeiro “dia do Senhor” (dies domini); no qual a fé amorosa, não iluminada ainda pela luz do Ressuscitado, caminha na obscuridade e vai além da morte. Mª. Madalena é modelo desta fidelidade. Ao chegar ao sepulcro «viu» (blépei, v.1) que a pedra fora rolada. Dominada pela realidade que vê, não se dá con­ta de nada mais, e corre logo a Pedro, cuja importância nos acon­tecimentos pascais é realçada por toda a tradição,­ e «ao outro discípulo a quem Jesus amava», prova­velmente o próprio João. Este último foi o primeiro a chegar ao sepulcro, mas não entrou logo; «viu» (blépei, v.5) as faixas mortuárias de linho. Chega Pedro, entra e «vê» (theorêi,v.6) também o sudá­rio que cobria o rosto, enrolado num lugar a parte, o que leva a crer que as faixas haviam ficado em seu lugar, afrouxadas por estar sem o corpo. João nos fornece notas preciosas. É significativa a diferença entre estes detalhes e os correspondentes à ressurreição de Lázaro (11,44). O lento exame do olhar de Pedro sobre cada detalhe cria um clima de grande silêncio, de expectante interrogação… Então entrou, também, o outro discípulo, “viu e creu» (v.8). O verbo usado aqui é êiden; para compreender seu signifi­cado basta pensar que dele procede nossa palavra «idéia». Agora, o discípulo, ao ver, intui o que aconteceu. Passa da realidade que tem ante os olhos a outra mais escondida, chega à fé, ainda que se trate de uma fé obscura, como mostra o v.9 e o resto do relato. Deste se desprende que a fé não é, para o homem, uma posse estável, mas início de um cami­nho de comunhão com o Senhor, que deve ser mantida viva e na qual temos de aprofundar mais e mais, para que chegue à plenitude de vida com Ele no reino da luz infinita.

 

 

Atos 10,34ª.37-43 (Discurso de Pedro em casa de Cornélio) – Pedro, cheio do Espírito Santo, resume num denso discurso todo o itinerário de Jesus. Por Pedro, que já superou às barreiras da estrita observância judia, chega, pela pri­meira vez, aos pagãos, o anúncio da salvação: o Kerigma. Muitos destes pagãos chegam à fé por­que seu coração está aberto. Ao relatar-nos este discurso Lucas relata algu­ns trechos autênticos do ministério da «primei­ra evangelização» da Igreja nascente. O tema da pregação é único: Jesus de Na­zaré, o Messias consagrado por Deus no Espírito San­to (v.28). Os apóstolos podem atestar que Ele, durante sua vida terrena, fez milagres, curou enfermos e libertou do maligno os que estavam no poder de Satanás. Contudo, a fé, o impulso missionário e a incontida alegria de seus discípulos procedem da ex­periência do mistério pascal, do encontro com Cris­to ressuscitado, que criam morto para sempre. E disso mesmo dão testemunho: aquele Jesus que morreu crucificado, «Deus o ressuscitou», confirmando, assim, a verdade de sua pregação. É importante assinalar que a ressurreição está atribuída, aqui, a Deus e não ao próprio poder de Cristo; isso é que atesta a antiguidade deste texto kerigmático. E Pedro insiste: não se trata de fábu­las ou sugestões, mas de uma realidade tão concreta que pode ser descrita com dois termos muito cotidianos: «Comemos e bebemos com Ele». Jesus manifestou-se «às testemunhas eleitas de antemão por Deus», mas esta eleição está orientada a uma abertura católica, univer­sal. Os apóstolos receberam o encargo de anunciar, pois todos devem saber que Deus constituiu juiz de vivos e mortos (cf. Dn 7,13; Mt 26,64) ao Crucifica­do-Ressuscitado, que, mediante seu próprio sacrifício, obteve a remissão dos pecados para todo o que crê n’Ele (vv.42s).

 

Colossenses 3,1-4 (A união com Cristo é o princípio da vida nova)- Na Carta aos Colossenses, uma das chamadas «cartas do cativeiro», a reflexão de Paulo, que parte, como sempre, do acontecimento pascal (cf. Cl 1,12-14), chega a captar as dimensões cósmicas do mistério de Cristo, denominado com alguns atributos fundamentais. É criador junto com o Pai (1,16), primogênito da criação e novo Adão (1,15), cabeça do corpo, a Igreja, e redentor do mundo (1,16-20). O cristão, pelo batismo, que o faz partícipe da mor­te e ressurreição do Senhor, por uma vida de fé, que leva a seu pleno desenvolvimento o germe batismal, se torna membro vivo de Cristo. Isto traz consigo, não só o compromisso de renunciar ao pecado, para cami­nhar numa vida nova, mas também uma orientação firme às realidades celestes, sustentada pela cons­ciência de nossa própria identidade de filhos de Deus, peregrinos à cidade eterna, para a qual, por um lado, tende, enquanto que, por outra, em Cristo ressuscitado, já se encontra. Dai a necessidade de eleger bem e buscar «as coisas do alto», de acordo com uma vida ressuscitada. Dai procede, do mesmo modo, o convite a prescindir de tudo que torne a vida exterior demais e vazia (3,3). O cristão morreu «às coisas da terra» e vive escondido nele. Quando Cristo se manifestar, então se revelará aos olhos de todos a beleza espiritual daqueles que, agindo pela fé em adesão a Cristo na vida diária, encontraram n’Ele a unidade e a plenitude (3,4).

 

Sl 117/118 (Cântico de alegria e de vitória) Trata-se dum grande cântico cantado na ceia pascal. Seria o salmista um rei que volta vitorioso da guerra? Alguém que superou uma grande enfermidade? Alguém que exerce uma influência no povo e que vê realizado o seu sucesso? Não importa quem seja ou o motivo que suscitou em seu coração esta oração; o que realmente importa é sempre agradar a Deus por tudo o que Dele recebemos. Este cântico era muito familiar à oração de Jesus. Ele deve tê-lo rezado muitas vezes no silêncio da noite, no monte e, quem sabe, com seus discípulos a fim de fazê-los compreender que Ele é a “porta” pela qual os justos devem entrar e encontrar a salvação. Tudo isso nos leva a rezar este Salmo com mais afinco.

Senhor, quero unir-me à voz de Cristo para cantar este Salmo e manifestar-te toda a minha gratidão pelas santas vitórias que tenho conseguido na minha vida, com a tua graça. As enfermidades superadas; as lutas, as injustiças sofridas que depois se clarearam; os desentendimentos familiares e comunitários que lentamente se iluminaram com a tua graça e presença. Louvo-te, Senhor, porque Cristo é minha pedra angular sobre a qual construo o meu futuro. Não tenho medo das rejeições nem das incompreensões, sei que isto faz parte do seguimento de Cristo. É doloroso, mas tão belo ver tua Igreja perseguida, porque isto nos garante que ela é fiel, não ao mundo, mas sim à tua Palavra. Que eu possa sempre meditar este Salmo, vivendo a Páscoa não só uma vez por ano, mas todos os dias da minha vida. Amém.

MEDITATIO: «Minha alegria, Cristo, ressuscitou!» Com estas palavras costumava saudar são Serafím de Sarov a quem o visitava. Com isso se convertia em mensageiro da alegria pascal em todo tempo. No dia de páscoa, e através do texto, o anúncio da ressurreição se dirige a todos os homens pelos próprios anjos e, após pelas piedosas mulheres ao voltar do sepulcro; pelos apóstolos e pelos cristãos das gerações passadas, agora vivas para sempre n’Ele que vive. Suas palavras são um convite, quase uma provocação. Estas fazem ressurgir em nossos corações a pergunta fundamental da vida: quem é Jesus para ti? Mas, esta pergunta ficaria para sempre como uma ferida dolorosamente aberta se não indicasse, ao mesmo tempo, o cami­nho para encontrar a resposta. Não temos de buscá-lo en­tre os mortos. Não O encontraremos nas páginas dos livros que O descrevem como um de tantos mestres de sabedoria da humanidade. Ele mesmo, livre das cadeias da morte, vem ao nosso encon­tro; ao longo do caminho da vida, nos concede en­contrar-nos com Ele, pois não se importa em fazer-se peregrino com o homem, ou mendigo, ou simples jardineiro. Ele, o Inacessível, se deixa en­contrar em sua Igreja, enviada a levar a boa notícia da ressurreição até os confins da terra. Em suma, só há uma questão importante de verdade: pôr-nos a caminho para a aurora, não demorar-nos mais, presos a preconceitos e temores, mas vencer as trevas com a esperança. Por que não haveria de, ainda hoje, encontrar o Senhor vivo? O modo e o lugar são distintos para cada um. O resulta­do, ao contrário, será único: a transformação radical. Encontraste alguém entregue por completo aos irmãos e absolutamente dedicado às coisas do céu? Podes estar seguro que encontraste Cris­to… Segue seus passos, vê sua intimidade e chegará, também, para ti, essa hora tão desejada.

 

ORATIO: Faz Senhor, que também nós nos sintamos cha­mados por ti, que és o Presente, e possamos descobrir, assim, o valor único de nossa vida no meio da imensa multidão. Dai-nos um coração humilde, aberto e disponível, para poder encontrar-te e permitir que nos marques com teu selo divino, que é como uma ferida profunda, como uma dor e uma alegria sem nome: a certeza de ser feitos para ti, de pertencer-te e de não poder desejar outra coisa que a comunhão de vida contigo. A ti queremos aproximar-nos nesta manhã de páscoa, com os pés descalços da esperança, para tocar-te com a mão vazia da pobreza, para olhar-te com os olhos puros do amor e escutar-te com os ouvidos abertos da fé.

 

CONTEMPLATIO: Estarás em condições de reconhecer que teu espírito ressuscitou plenamente em Cristo se pode dizer com íntima convicção: ”Sim Jesus vive, isso me basta!». Estas palavras expressam, de verdade, uma adesão profunda e digna dos amigos de Jesus. Quão puro é o afeto que pode dizer: «Sim Jesus vive, isso me basta!». Sim Ele vive, vivo eu, pois minha alma está dependente d’Ele; mais ainda, Ele é minha vida e tudo aquilo do que tenho necessidade. Que pode faltar-me, de fato, se Jesus vive? Ainda quando me faltar tudo, não me importa, contanto que viva Jesus… Inclusive se a Ele agradasse que eu me faltasse a mim mesmo, basta que Ele viva, contanto que seja para Ele mesmo. Só quando o amor de Cristo absorva deste modo tão total o coração do homem, até o ponto de que se abandone e se esqueça de si mesmo e só se mostre sensível a Cristo e a todo o relacionado com Ele. Só então será perfeita nele a caridade (Guerrico de Igny).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto» (Cl 3,1)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – No fluir confuso dos acontecimentos temos descoberto um centro, temos descoberto um ponto de apoio: Cristo ressuscitou! Existe uma só verdade: Cristo ressuscitou! Existe uma só verdade dirigida a todos: Cristo ressuscitou! Se o Deus-Homem não tivesse ressuscitado, então todo o mundo teria se tornado completamente absurdo e Pilatos teria tido razão quando perguntou com desdém: “Que é a verdade?”. Se o Deus-Homem não tivesse ressuscitado, todas as coisas mais preciosas teriam se tornado impreterivelmente cinzas. A beleza teria murchado de maneira irrevogável. Se o Deus-Homem não tivesse ressuscitado, a ponte entre a terra e o céu teria se fundido para sempre. E nós teríamos perdido uma e outro, porque não teríamos conhecido o céu, nem teríamos podido defender-nos da aniquilação da terra. Porém ressuscitou aquele ante o qual somos eternamente culpáveis, e Pilatos e Caifás se hão visto cobertos de infâmia. Um estremecimento de júbilo desconcerta à criatura, que exulta de pura alegria porque Cristo ressuscitou e chama junto a ele a sua Esposa: “Levanta-te, amiga minha, formosa minha e vem!”. Chega a seu cumprimento o grande mistério da salvação. Cresce a semente da vida e renova de maneira misteriosa o coração da criatura. A Esposa e o Espírito dizem ao Cordeiro: “Vem!”. A Esposa, gloriosa e esplendente de sua beleza primordial, encontrará ao Cordeiro (P. Florenskij, Il cuore cherubico, csale Monferrato 1999).

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 – TEMPO PASCAL/OITAVA DE PÁSCOA – ANO A

Mateus 28,8-15 (A aparição às santas mulheres)– O texto narra dois encontros: o primeiro, entre Jesus e as mulheres, quando iam levar a mensagem da ressurreição aos discípulos (vv.8-10); o segundo, entre os sumos sa­cerdotes e os guardas do sepulcro, que se dirigem aos chefes do povo para informar do ocorrido (vv.11-15). O fato central é o túmulo vazio, e, sobre este, Mateus nos oferece duas possíveis interpretações: ou Jesus ressuscitou, ou foi roubado pelos discípulos. Ao leitor cabe a eleição, que não é, certamente, a da mentira organizada pelos sumos sacerdotes, mas a do testemunho dado pelas mulheres. A elas disse Jesus: «Ide dizer a meus irmãos para irem a Galileia, ali me verão» (v.10). O acontecimento da ressurreição é um fato sobrenatural, e só a fé pode penetrá-lo, como é o caso das mulheres, discípulas e mensageiras do Ressuscitado. Não é difícil ver no texto o fundo de uma polê­mica entre os chefes do povo e os discípulos de Jesus em torno da ressurreição. Mateus escreveu seu Evangelho quando ainda estava vivo, o contraste entre a comunidade cristã do século I, que com a ressurreição vê inaugurados os tempos do mundo novo e o Reino de Deus baseado no amor, e as autoridades judias, que, uma vez mais, rejeitam Jesus como Messias, esperando outro salvador. A ressurreição será sempre um sinal de contradição para todos: para os que estão abertos à fé e ao amor, é fonte de vida e sal­vação; para os que a rejeitam, se torna motivo de juízo e condenação.

Atos 2,14.22-32 (Discurso de Pedro à multidão) – O discurso de Pedro em Pentecostes apresenta o kerigma, o anúncio fundamental: Jesus, homem acre­ditado por Deus em vida, com milagres de todo tipo, foi rejeitado pelos homens. Mas Deus confirmou a justiça de sua causa e lhe expressou sua aceitação exaltando-o com a ressurreição. O selo de Deus sobre Jesus, tanto em vida como na morte, está completo. E mais, tudo estava previsto no plano de Deus, como no Salmo 15, onde expressa Davi sua esperança de não ver-se abandonado à corrupção da morte. O que não se realizou em Davi, se realiza agora em Jesus, o qual Deus ressuscitou dos mor­tos. «E disso somos testemunhas todos nós». Pedro anuncia fatos reais, como a vida exemplar de Jesus; sua morte como obra conjunta dos presentes e dos pagãos; sua ressurreição; o testemunho dos apóstolos. Todo isso faz parte do plano de Deus desenhado nas Escrituras. A passagem oferece, portanto, um exemplo da primeira pregação apostólica, centrada em Jesus de Na­zaré, sobre seu extraordinário acontecimento humano, sobre a responsabilidade de quem lhe rejeitou, so­bre a absoluta presença de Deus em sua vida.

 

Sl 15/16 (O Senhor é minha herança) – Ninguém pode ficar sem Senhor. Ou seguimos ao Deus vivo e verdadeiro de Abraão, Isaac, Jacó, Jesus, Maria, dos apóstolos e também de todos nós, ou continuaremos a inventar “ídolos” fugazes que nada sabem: espiritismo, fitinhas, Nova Era, duendes … Não devemos vender nossa alma à idolatria, mas ser cada vez mais fiéis ao Deus vivo e verdadeiro. Idolatria e fé não combinam.

Senhor, liberta o meu coração da sedução dos ídolos. Que eu seja um adorador em espírito e verdade e que o meu coração seja o teu verdadeiro templo santo, onde possa te adorar em todos os dias da minha vida. Que eu nunca oferte nada aos ídolos, mas somente a ti, Deus vivo e amado. Amém.

 

 

MEDITATIO: «Vós o matastes, mas Deus O ressuscitou» é a primeira pregação apostólica. É e será a perene pregação da Igreja baseada nos apósto­los. Pedro e a Igreja existem para repetir, ao longo dos séculos, este anúncio. Um anúncio surpreendente, não de uma ideia, mas de um fato inimaginável, que contém toda a dimensão negativa da história e toda a dimensão positiva da vontade de Deus, que reassume todo o poder destrutivo da maldade humana e de reconstrução da bondade ilimitada de Deus. Sou apóstolo, na medida em que anuncio esta reali­dade. Sinto-me identificado com este anúncio, tenho o valor de descobrir e de repetir, nas mil formas dife­rentes da vida diária, que o mal foi vencido. Que o amor foi e será mais forte que o ódio, que não há trevas que não possam ser vencidas pelo poder de Deus, pois Cristo ressuscitou, «pois era impossível que a morte o retivesse em seu poder”. Sou apóstolo se anuncio a ressurreição de Cristo com minha boca, com minha vida, com o oti­mismo de quem sabe que o Pai quer libertar também a mim, a nós, «das ataduras da morte», da última e das penúltimas; de quem sabe que agora seu amor está em ação para levar tudo para a Vida. Pergunto-me hoje se sou apóstolo e se o sou como Pe­dro ou a meu modo, como anunciador inconsciente de mensagens, ideias e pensamentos mais periféricos com respeito ao fato fundamental da ressurreição.

 

ORATIO: Ao início desta Páscoa, tempo apos­tólico, quero rogar: «Maria, rainha dos apóstolos, destes Cristo ao mundo. Foste à primeira apóstola de teu Filho le­vando-o a Isabel e ao Batista, apresentando-o aos pastores, aos magos, a Simeão. Reunistes os apóstolos no Cenáculo, antes de sua disper­são pelo mundo, e lhes comunicastes teu ardor. Conce­de-me uma alma vibrante e generosa, combativa e acolhe­dora, que me leve a dar testemunho, em cada ocasião, de que Cristo, teu Filho, é luz do mundo, que só Ele tem palavras de vida e os homens encon­trarão paz na realização de seu Reino» (Pe. Lelotte).

 

CONTEMPLATIO: Nosso Redentor aceitou morrer para libertar-nos do medo da morte. Manifestou a ressurreição para sus­citar em nós a firme esperança de que também ressurgiremos. Quis que sua morte não durasse mais de três dias, pois se sua ressurreição tivesse demorado, poderíamos perder toda esperança na nossa. Dele disse bem o pro­feta: «Enquanto vai a caminho, bebe da torrente, por isso levantará a cabeça» (Sl 110,7). De fato, Ele se dignou beber da torrente de nosso sofrimento, mas não pa­rando, mas a caminho, pois conheceu a morte de passagem, durante três dias, e não ficou nesta, como estaremos, ao contrário, até o fim do mundo. Ressuscitando ao terceiro dia manifesta, pois, o que está reservado a seu Corpo, isto é, à Igreja. Com seu exemplo mostra, realmente, o que nos prometeu como prêmio, a fim de que os fiéis, ao reconhecer que Ele ressuscitou, cultivem neles mesmos a esperança de que, no fim do mundo, serão premiados com a ressurreição (Gregorio Magno).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Minha alma exulta no Senhor»(cf.1Sm 2,16)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Jesus foi condenado à morte pelos homens, mas foi ressuscitado por Deus […]. Jesus, como homem que confiava em Deus, se arriscou a tal ponto que não temia à morte, e começou a viver já durante sua vida. Quem compreendeu este fato: que a morte já não tem nenhum poder, que o medo não é um argumento, que os adiamentos não servem, mas se deve iniciar a viver hoje; quem compreendeu tudo isto verá o que é uma pessoa real e em que está oculta a dignidade do Messias Jesus. Aqui não existe já a morte, e a ressurreição nos revelará que Deus está da parte daquele que, enquanto ser humano, se faz garantia da verdade do divino. Em virtude deste Cristo-rei também nós nos despertamos como pessoas reais. E Pedro, uns poucos capítulos mais adiante, o experimentará em sua própria pessoa. Aqui já não há muros de cárceres que resistam. Ainda que encerrado em uma cela, acorrentado, vigiado por quatro guardas, o anjo do Senhor virá e o despertará do sono da morte, lhe fará atravessar o cárcere e nada o deterá. Estes são os milagres que Deus faz no céu e na terra. Nós somos pessoas maravilhosas, cheias de graça, e estamos chamados a descobrir e a realizar nosso ser (E. Drewermann, Vita Che nasce dalla morte, Brescia).

 

 

 

 

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TERÇA-FEIRA, 14 DE ABRIL DE 2020OITAVA DA PÁSCOA – ANO A

João 20,11-18 (Aparição a Maria Madalena) – A dinâmica narrativa de Jo 20 está guiada por um ritmo crescente que mostra o nascimento e a consolidação da fé dos primeiros discípulos em Jesus ressuscitado. Após o descobrimento do túmulo vazio (vv.1-10), onde a fé inicial do discípulo amado constitui só um primeiro estado da plena fé pascal, o texto apresenta o segundo estado: o do apro­fundamento da fé no Ressuscitado através da experiência pessoal de Madalena: dos sinais visíveis da ausência de Jesus se passa à sua presencia viva. O discípulo é convidado a entrar na ótica da fé na pessoa do Senhor. O texto se compõe de duas partes: a) a apari­ção dos anjos a Maria (vv..11-13); e     b) a aparição de Jesus à mulher (w.14-18). Maria necessita ser libe­rtada do apego demasiado sensível ao Jesus terreno. A superação desta visão terrena permite ao discípulo encontrar o Senhor. Maria não chega à fé no Cristo ressuscitado através dos anjos, que só têm a função de interlocutores: “Por que choras?” (v.13), mas só quando Jesus a chama por seu nome: “Maria!” (v.16), inaugurando nela uma nova vida. Maria, uma vez reconhecido o «rabboni» (v.16), é convidada por Jesus a anunciar aos outros discípulos o acontecimento da ressurreição. É agora que se converte no símbolo da fé plena, fazendo-se missionária e evangelizadora da Palavra de Jesus: «Foi correndo onde estavam os discípulos e lhes anunciou: “Vi o Senhor”» (v.18). O encontro de Jesus com Madalena e o anúncio levado aos irmãos contém uma grande mensagem para os discípulos de todos os tempos: o Senhor está vivo, e cada um de nós deve buscá-lo através de um caminho de fé, com a segurança de que se faz o que lhe corresponde, o Senhor, por sua vez, não tardará em sair-lhe ao encontro e em fazer-se reconhecer.

 

 

At 2,36-41 (Primeiras conversões) – Pedro conduz seu discurso com certa ênfase: to­dos os israelitas devem ter a certeza de que Jesus é Senhor e Messias. A fé cristã se fundamenta no tes­temunho apostólico sobre a ressurreição, que eleva Je­sus a esta condição. Lucas usa aqui os dois títulos do anúncio da boa notícia que levaram os anjos aos pastores (Lc 2,11), títulos plenamente realizados agora. O teste­munho de Pedro toca os corações e se inicia a longa corrente das conversões. O apóstolo pede a mudança de mentalidade e de comportamento (esse é o sentido de metánoia), e o batismo «no nome de Jesus», chamado simplesmente «Cristo» (sem o artigo): agora já é ele o Enviado, o Messias, o Salvador. O batismo é sinal da conversão e abertura à nova vida, feita da destruição do passado de morte e da plenitude de vida que procede do Espírito Santo. Deste modo se cumprem as promessas tanto para os que estão presen­tes como para os «de longe», quer dizer, para os que estão fora do judaísmo. Aparece, por último, o convite a pôr-se «a salvo desta geração perversa», isto é, daqueles que, com sua religiosidade legalista não foram capazes de acolher a novidade revolucionaria da mensagem e da realidade de Jesus, e o fizeram condenar recorrendo à mentira. A primeira pesca do «pescador de homens» foi, ver­dadeiramente, milagrosa: três mil pessoas receberam suas palavras e entraram em suas redes, umas redes que levam às águas da salvação.

 

Sl 32/33 (Hino à Providência divina) – A grande diferença entre o nosso Deus vivo de Israel e os falsos “deuses” é que o nosso vê, contempla e sente-se envolvido com o homem no processo de sua libertação. O Senhor viu o sofrimento e ouvi os gritos do seu povo, por isso decidiu libertá-los. Não é um Deus estranho ou que se esconde, sendo oposto aos “deuses”, que não estão preocupados conosco e brigam entre eles para ter a primazia e o poder. Como é bom saber que Deus nos vê, nos contempla e participa tanto de nossa história a ponto de enviar o seu único Filho para morrer por nós.

Senhor, olha em cada momento para mim a fim de que a tua graça e a tua força me sustentem, e que eu nunca me deixe seduzir pelas riquezas, pelo poder, pela violência, mas em cada momento viva o dom do seu amor sob o teu olhar misericordioso. Amém”.

 

MEDITATIO: A conversão de uma grande multidão é, em ver­dade, surpreendente e milagrosa. De fato, o dis­curso de Pedro não tem nada de extraordinário ou, ao me­nos, não parece irresistível. Porém estamos em Pentecostes, e o Espírito não age só em Pedro, mas também nos ouvintes, cujos corações se sentem traspassados até o fundo de uma maneira irresistível. Impõe-se uma con­clusão clara: quem converte é o Espírito Santo, que dá força à Palavra e a converte em uma espada de duplo fio capaz de penetrar inclusive nos corações mais endure­cidos. Todo o livro dos Atos dos Apóstolos, em especial os primeiros capítulos, constitui a demonstração desta verdade: o protagonista da evangelização é o Espírito Santo, que toca os corações­, quando e como quer, segundo seus desígnios mis­teriosos. Nestes anos se tem refletido muito sobre o papel do Espírito na evangelização, o qual tem representado um progresso. Porém, fica ainda um enorme caminho para considerá-lo em seu papel absolutamente prioritário na ordem do cotidiano. Para chegar longe por este caminho faz falta mais oração e mais paz, me­nos carreiras e menos afãs. Toda palavra, também a Palavra, traspassa o coração quando é o Espírito quem a leva com sua força irresistível, com seu poder, às vezes quebrantador e às vezes paciente sempre misterioso, sem­pre mais além de nossa compreensão, sempre digno de adoração.

 

ORATIO: Ó Espírito Santo, que pouco te invoco e que pouco me confio a ti e a tua ação misteriosa. Por momentos quebrantas tudo, em outras ocasiões pareces ausente… Faz-me compreender que sempre estás presente, inclusive quando o Evangelho tem dificuldades para ser acolhido, dando-me paz e não me tirando o va­lor de semear sem trégua. Faz-me ver claro que a mim pedes a semear e reservas para ti os frutos. Dá-me, sobretudo, a segurança de que sempre estás comigo em cada momento de meu trabalho apostólico, porque assim estarei seguro de que nunca será inútil nenhuma semeadura, ainda quando a maioria das vezes serão outros os que recolham. E a segurança de que, no céu, meus olhos verão certamente esses frutos tão esperados de meu trabalho e do teu.

 

CONTEMPLATIO: Devemos considerar a ressurreição [de Cristo], que é modelo de nossa ressurreição, ou seja, de nossa sorte. Cristo, cabeça e modelo de nossa ressurreição, ressuscitou com este objetivo, para assegurar a nós, seus membros, nossa própria ressurreição; de outro modo seria uma coisa monstruosa: ressuscitar a cabeça sem os membros. Por essa razão argumentava tão bem e com tanta eficácia o apóstolo contra aqueles que negavam a ressurreição, dizendo: «Se os mortos não ressuscitam tampouco Cristo ressuscitou». Mas, é necessário que Cristo tenha ressuscitado, porque o que acontece agora é impossível que não tenha acontecido, é ne­cessário, em consequência, que os mortos ressuscitem: «Em efeito, é necessário que este corpo corruptível se vis­ta de incorruptibilidade, e este corpo mortal, de imorta­lidade». Portanto, para semear nos corações dos fieis a fé na ressurreição e remover a ambi­guidade da desconfiança e da falta de esperança disse: «Se cremos, de fato, que Jesus morreu e ressuscitou, também, do mesmo modo, àqueles que morreram, os reunirá Deus com ele por meio de Jesus». Tendo, pois, esta firme confiança, com o beato Jó, não devemos entristecernos da morte de nenhum bom cristão, «como aqueles que não têm esperança» (Boaventura, Sermones, 21,6).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Estas palavras lhes chegaram até o fundo do coração» (Atos 2,37)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Quando sejamos livres desde o ponto de vista espiritual, não deveremos mostrar-nos ansiosos sobre o que tenhamos de dizer ou fazer em situações inesperadas ou difíceis. Quando não nos preocupemos do que os outros pensam de nós ou do que vamos a ganhar como que fazemos, então brotará as palavras e as ações justas desde o centro de nosso ser, porque o Espírito de Deus, que faz de nós filhos de Deus e nos liberta, falará e agirá através de nós. Disse Jesus: “Mas quando os entregarem, não vos preocupeis de como ireis falar. O que tenhais de falar se vos comunicará naquele momento. Porque não sereis vós os que falareis, mas o Espírito de vosso Pai que falará em vós” (Mt 10, 19-20). Continuemos confiando no Espírito de Deus, que vive em nós, a fim de que possamos viver livremente em um mundo que segue entregando-nos a quem quer valorizar-nos ou julgar-nos. (H.J.M Nouwen, Pan para el viaje, PPC, Madrid)

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 15 DE ABRIL DE 2020OITAVA DE PASCOA -ANO A

Lucas 24,13-35 (Os discípulos de Emaús) – O episódio da aparição de Jesus ressuscitado aos dois discípulos de Emaús apresenta o caminho de fé da vida cristã baseado no duplo fundamento da Palavra de Deus e da Eucaristia. Esta experiência do Senhor aparece descrita ao longo de dois momentos de­cisivos: a) o afastamento dos discípulos de Jerusalém, quer dizer, da comunidade, da fé em Jesus, para voltar a seu velho mundo (vv.13-29); b) a volta a Jerusalém com a recuperação da alegria e da fé por parte da comunidade dos discípulos (vv.30-35). No primeiro momento de desconcerto, Jesus, com o aspecto de um viajante, se aproxima dos discípulos desalentados e tris­tes, e conversando com eles ajuda-lhes, por meio do recurso à Escritura, a ler o plano de Deus e a recupe­rar a esperança perdida: «E começando por Moisés e seguindo por todos os profetas, lhes explicou o que diziam dele as Escrituras» (v.27). Agora que o coração se acalentou de novo, querem levar com eles o peregrino à mesa e, enquanto parte o pão, reconhecem o Senhor: «Então lhes abriram os olhos e o reconhe­ceram» (v.31). A catequese de Lucas é muito clara: quando uma comunidade se mostra disponível à escuta da Palavra de Deus, que está presente nas Escrituras, e põe a Eucaristia no centro de sua própria vida, chega gradualmente à fé e faz a experiência do Senhor re­ssuscitado. A Palavra e a Eucaristia constituem a única grande mesa, da qual se alimenta a Igreja em sua pere­grinação para a casa do Pai. Os discípulos de Emaús, através da experiência que tiveram com Jesus, compreenderam que o Ressuscitado está ali onde se encontram reunidos os irmãos em torno a Simão Pedro.

 

Atos 3,1-10 (Cura de um aleijado) – Pedro continua a prática libertadora de Jesus, não só com o anúncio, mas também com as obras milagrosas. Estas manifestam que chegou a salvação ao mundo. Este milagre dará ocasião a um novo discurso de explicação e de anúncio. Também Pedro, graças ao nome de Jesus, aparece «acreditado por Deus median­te milagres, prodígios e sinais» e, em consequência, au­torizado a anunciar a novidade cristã. O relato é vivaz: o templo aparece ainda no centro da piedade da primeira comunidade cristã, que, ainda não rompeu com os costumes judeus. Pedro, ante uma das portas mais famosas do edifício, encontra um mendigo paralítico de nascimento e, como não tem (“nem ouro nem prata”, ordena-lhe que se levante e caminhe. O que se se­gue é um relato «de ressurreição»: o paralítico entra finalmente no templo – do qual lhe havia excluído sua en­fermidade – saltando e louvando a Deus. É um homem «reconstruído» física e espiritualmente o que Pedro restitui à vida. A ressonância que teve esta cura foi enorme: pessoas, cheias «de admiração e pasmo», acorreram em grande quantidade junto ao pórtico de Salomão, onde Jesus discutia com os judeus e onde se reuniam os cristãos de Jerusalém para escutar os ensinamentos dos apóstolos (At 5,12). Aqui se dispõe Pedro a dar a explicação do acontecimento.

 

Sl 104/105(História maravilhosa de Israel)- Sigamos o exemplo de São Francisco, que via na natureza a mão criadora de Deus; que saibamos conhecer Deus nos menores detalhes e que façamos d’Ele nossa oração diária, adorando e bendizendo ao Senhor por tudo o que há nesta terra. Como não admirar o nascer ou o pôr do sol ou escutar o canto do rouxinol, o murmúrio das cascatas, ou a voz do vento? Medite este Salmo num bosque ou à beira de uma lagoa serena e tranquila. Assim, sentirá algo divino acontecer no seu coração.

Senhor, hoje quero pedir emprestado como oração o cântico de Daniel: “Bendizei ao Senhor, todas as obras do Senhor… (Dn 3,57-63.72-85). Amém. Senhor, é a nossa resposta à natureza como tua obra; tu és um Deus que ama a natureza e nos ensina a amá-la como obra tua ao nosso serviço. Amém.

 

 

MEDITATIO: Em nossos dias há fome e sede de milagres… Os meios de comunicação social os fazem espetaculares e os «operadores de prodígios» correm o risco de serem idolatrados. Porém, tanto Pedro e João, como Paulo e Barnabé (At 14,14ss), dizem de modo claro que não devem concentrar-se em torno de suas pessoas, mas em torno do poder do nome de Jesus. Quem tenha fé neste nome, quem o invoque, tam­bém poderá obter hoje milagres. Também hoje é possível realizar prodígios, é Deus que os realiza através da oração e da fé. Há, efetivamente, situações tão dolorosas que nos fazem invocar o milagre e nos impulsionam a dirigir-­nos às pessoas consideradas particularmente próximas a Deus. Porém, essas pessoas, a maioria das vezes, não têm «nem prata nem ouro»: vivem em meio à humildade e a oração. Nós, afastados, tanto do asceticis­mo de quem exclui a possibilidade ou a oportunidade dos milagres, como do fanatismo dos curandeiros mais ou menos supersticiosos, nos con­fiamos à oração e à fé para obter a intervenção extraordinária de Deus em casos extremos, deixando a Ele, que sabe tudo, a decisão final. Deus não abandona seu povo, e o socorre também com intervenções extraordinárias, especialmente através da oração de seus servos, que, confiando só n’Ele, não têm necessi­dade nem de ouro nem de prata.

 

ORATIO: Concede-me, Senhor, a atitude justa a respeito de tua ação no mundo. Suprime em mim o fanatismo e a busca de «sinais e prodígios», como se tu tivesses que demonstrar que existes. Extirpa em mim o coração fechado a admitir que tu podes intervir, inclusive de for­ma extraordinária, quando e como queiras. Concede-me o espírito de discernimento para que saiba reconhecer tua presença e a distinga do fanatismo e da supersti­ção. Concede-me, sobretudo, a fé simples de quem não se confia aos prodígios, ainda que também a fé ardente de quem se atreve a pedir-te, sem aborrecer-se quando não os concedes. Faz-me compreender, entretanto que não devo pôr minha confiança, exclusivamente, nos meios humanos para a implantação do Reino de Deus, mas que serei eficaz na medida em que me mantenha afastado do ouro e da prata. Porque o milagre maior que nos ofertas é a existência de pessoas que confiam em ti de tal modo que vivem pobres e humildes. É a elas a quem concedes, normalmente, a obtenção de milagres para o alívio e a alegria de teu povo.

 

CONTEMPLATIO: Através do desprendimento e da pobreza é como poderemos voltar a encontrar nosso lugar no coração do povo. Quanto mais pobres e desinteressados sejamos, menos exigentes seremos, mais amigos seremos do povo e mais fácil se torna fazer o bem. A po­breza é hoje mais necessária que nunca para lutar con­tra o mundo, contra o luxo e contra o bem estar que cresce por todos os lados. Se o cristão faz como o mundo, como poderá guiá-lo e instruí-lo? Quanto maior é o desprendimento interior e exterior em uma alma, mais abunda a graça nela, mais abundam a luz e o Espí­rito de Deus nela. A conformidade exterior com nosso Senhor é um meio para chegar à conformidade interior. Através da pobreza, da humildade e da morte é como Jesu­s Cristo gerou a sua Igreja, e desse mesmo modo é como nós a geraremos. Toda obra de Deus deve levar, por acima de tudo, o selo da pobreza e do sofrimento (A. Chevrier).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Não tenho prata nem ouro, porém em nome de Jesus, põe-te a andar(cf. Atos 3,6)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Como poderemos abraçar a pobreza como caminho que leva a Deus quando todos a nossa volta querem se fazer ricos? A pobreza tem muitas modalidades. Devemos perguntar-nos: “Qual é minha pobreza?” É a falta de dinheiro, de estabilidade emotiva, de alguém que me ame? Faltam garantias, segurança, confiança em mim mesmo? Cada uma das pessoas tem um âmbito de pobreza. Esse é o lugar onde Deus quer habitar! “Bem-aventurados os pobres”, disse Jesus (Mt 5,3). Isso significa que nossa benção está escondida na pobreza. Estamos tão inclinados a esconder nossa pobreza e a ignorá-la que perdemos, com frequência, a ocasião de descobrirmos a Deus. Ele mora justamente nela. Devemos ter a audácia de ver nossa pobreza como a terra onde está escondido nosso tesouro. (H.J.M,Pan para el viaje,PPC)

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 16 DE ABRIL DE 2020OITAVA DE PÁSCOA – ANO A

Lucas 24,35-48 (Jesus aparece aos apóstolos)- O tema do texto evangélico, que completa o relato da aparição aos dois discípulos de Emaús, sublinha as provas sobre a realidade da ressurreição de Jesus. Também a primeira comunidade cristã passou por dificuldades para penetrar no mistério do Senhor ressuscitado, e as superou empregando uma dupla prova. A prova real e material do contato físico dos dis­cípulos com Jesus, pondo de relevo a corporalidade do Cristo pascal: «Vede minhas mãos e meus pés; sou eu em pessoa. Tocai-me e convencei-vos» (v.39), assim como a ini­ciativa do Senhor de comer algo ante os seus: «Tens algo de comer?» (v.41). A outra prova é a espiritual, baseada na compreensão da Palavra nas Escritu­ras: «Estava escrito» (vv.46s). Lucas afirma que a história de Israel só adquire seu sentido e só se compreende no aconteci­mento histórico de Jesus de Nazaré morto e ressuscita­do. E, por outra parte, nos ensina que só quando os homens se abrem à conversão e experimentam o perdão de Deus podem compreender todo o triunfo da Páscoa do Senhor. A salvação está aberta a todos, e a Igreja tem a tarefa de anunciar a realidade física da páscoa do Senhor e seu valor como novo início da história humana, através da acolhida do perdão de Deus. A ressurreição é o dado certo onde se assenta a fé dos crentes e a história dos homens.

 

 

At 3,11-26 (Discurso de Pedro ao povo)– Com este discurso bem articulado, Pedro pretende convencer de seu erro os que rejeitaram Cristo, oferecendo-lhes a possibilidade de arrepender-se. Pe­dro estabelece uma distinção importante: antes da re­ssurreição era o tempo da ignorância, o tempo em que era possível cometer erros. Foi o tempo que per­mitiu a Deus dar cumprimento às profecias. Mas após já não se admite ignorância, pois aquele que foi crucificado pelos homens foi ressuscitado por Deus, e os que o rejeitam agora merecem ser excluídos do povo de Deus, como reincidentes. Por outra parte, o arrependimento e a aceitação de Jesus Cristo podem apressar os tempos das bênçãos messiânicas, quando Deus, ao final do mundo enviará Jesus pela segunda vez, a fim de que, tanto seus inimigos como os incrédulos lhe reconheçam como Messias. Agora está no céu, desde sua ascensão até a restauração final. Pedro fala, também, de Moisés, que havia dito: «O Senhor, vosso Deus, suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu». São Lucas lê «suscitará» no sen­tido de «voltar a suscitar» um profeta como Moisés, quer dizer, Jesus. A este escutarão. E o que não o faça será excluído do povo santo. Convém assinalar que, enquanto Mateus considera os cristãos como um povo novo, que substitui ao antigo Israel, o evangelista São Lucas sublinha a continuidade do povo de Deus através dos judeus que acolhem Jesus Cristo. Pedro afirma, por últi­mo, que seus ouvintes fazem parte do pacto através do qual serão benditas todas as nações na des­cendência de Abraão. Em suma, com sua ressurreição, Jesus Cristo traz a benção aos judeus e a oportunidade da conversão.

Sl 8/9 (Grandeza do Senhor e dignidade do homem) – Este belo Salmo nos auxilia a entender quem somos. Saber que Deus nos criou por amor e que no amor Ele nos chama à sua intimidade é a alegria mais profunda que o ser humano pode experimentar. Não estamos sós, não somos fruto do acaso, mas a obra de Deus. Podemos nos sentir amados e conhecidos por Ele. Tudo o que há no mundo é dom de Deus para nós.

Senhor, que o orgulho nunca possa me dominar e que, sempre com humildade, eu seja capaz de sentir a tua presença de Pai amoroso e saiba partilhar com os outros, o que tenho e o que sou. Que o egoísmo e o individualismo não me dominem em nenhum momento da minha vida. Amém.

 

 

MEDITATIO: Pedro fala da segunda vinda de Jesus como Me­ssias e apresenta como o acontecimento que nos traz «os tempos da consolação», «os tempos da restauração de todas as coisas». Propõe uma visão ampla e solene da história de Israel, uma história que é caminho para os dias de Jesus, o consolador de Israel e res­taurador de todas as coisas. Tudo concorre para preparar o grande dia da benção messiânica sobre todas as coisas, a partir de Israel e até «todas as famílias da terra», inclusive a toda a criação. A respiração da Igreja já é universal desde o começo, e inclui toda a realidade redimida pela cruz de Cristo. Pedro estende o olhar ao futuro de Deus com o o­timismo de quem sabe que a ressurreição é o fato decisivo, ainda que também com a consciência de que haverá um ato final, onde o mistério salvífico da ressurreição será revelado em plenitude e estendido a todos os povos e a toda a criação. Anuncia-se já aqui o e o ainda não da história cristã: esta se move entre o «já» da páscoa e o «ainda não» da re­construção definitiva de todas as coisas. Entre os dois limites está o tempo oportuno para a conversão e fazer-nos dignos das bênçãos messiânicas, as já realizadas e as que virão.

 

ORATIO: Que estreita é, Senhor, minha perspectiva! Meu problema de hoje me afadiga, me preocupa, parece que é tudo. Sem dúvida, me faz falta situar as coisas de cada dia no vasto horizonte da história da salvação, especialmente entre o da ressurreição e o ainda não da reconstrução final. Que alívio teriam com isso minhas pequenas ações e minhas pequenas ou grandes preocupações! Ajuda-me, Senhor, fazer cada dia o encaixe da situação, não tanto para relativizar minhas coisas, como para inseri-las no plano geral da história da salvação. Ajuda-me não a diminuir o valor do cotidiano, mas a compreender sua seriedade seu alcance dentro desta história. Já não vivo nos tempos da ignorância, mas nos da conversão, da espera laboriosa, da confiança, do oti­mismo, da aceleração da vinda da con­solação de Deus. Ó Senhor, faz-me caminhar para estes tempos definitivos com passo ágil, com o coração ardente, com mãos laboriosas, com otimismo, pois estás preparando a reconstrução de tudo.

 

CONTEMPLATIO: A Igreja suporta a adversidade desta vida com o fim de que a graça divina a leve aos prêmios eternos. Despreza a morte da carne porque tem fixado o olhar na glória da ressurreição. Os males que sofre são passageiros; os bens que espera, eternos. Não abriga a menor dúvida sobre estes bens porque po­ssui já, como fiel testemunho, a glória de seu Redentor. Vê em espírito sua ressurreição e reforça vigorosa­mente sua esperança. Alimenta a segura esperança de que o que vê já realizado em sua cabeça se realizará também em seu corpo. Não deve duvidar de sua própria ressurreição, porque possui já no céu, como testemunha fiel, àquele que ressuscitou dentre os mortos. Por isso, quando o povo crente padece a adversidade, quando passa pela dura prova das tribulações, deve elevar o espírito à esperança da glória futura e, confiando na ressurreição de seu Redentor, deve dizer: «Tenho no céu meu testemunho, meu defensor habita no alto» (Tb 16,19) (Gregorio Magno).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Vós sois testemunhas destas coisas» (Lc 24, 48)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Esperar a segunda vinda de Cristo e esperar a ressurreição é uma só e mesma coisa. A segunda vinda é a vinda de Cristo ressuscitado, que ressuscita em nossos corpos mortais com ele na glória de Deus. A ressurreição de Jesus e a nossa são fundamentais para nossa fé. Nossa ressurreição está tão intimamente ligada à ressurreição de Jesus como fato de ser prediletos de Deus está ligado ao fato de que Jesus é seu amado. Paulo se mostra absolutamente claro neste ponto. Disse: “Se não há ressurreição dos mortos, tampouco Cristo ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é nossa pregação, vazia também vossa fé” (1 Cor 15,13s). Esperamos de verdade que Cristo ressuscitado nos eleve com Ele à vida eterna com Deus? Da perspectiva de ressurreição de Jesus e da nossa tomam sua vida e a nossa seu pleno significado. Não temos de ser compadecidos, porque, como seguidores de Jesus, podemos olhar muito mais além dos limites de nossa breve vida sobre a terra e confiar que nada do que vivamos hoje em nosso corpo se perderá. (H.J.M. Neuwen, Pan para El viaje, PPC, Madrid)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2020OITAVA DA PÁSCIA – ANO A

João 21,1-14 (Aparição à margem do lago de Tiberiádes) – A «pesca milagrosa» apresenta a terceira aparição do Ressuscitado aos discípulos-pescadores reunidos junto á beira do lago de Tiberíades. O encontro de Je­sus com os seus, que haviam voltado ao seu antigo trabalho, des­creve de maneira simbólica a missão da Igreja primi­tiva e o retrato de cada comunidade. Estas permanecem estéreis quando ficam privadas de Cristo, porém se tornam fecundas quando obedecem a sua Palavra e vivem de sua presença. O texto se compõe de duas partes no âmbito da redação: a) ambientação da apa­rição na Galileia (vv.1-5); b) a pesca milagrosa e o re­conhecimento de Jesus (vv.6-14). Porém, sem Jesus na barca, o fracasso da «pesca» é total e anda às tontas na «noite» (v.3). Frente à consciência de não triunfar por si só na tarefa, in­tervêm Jesus «ao clarear o dia» (v.4) com o dom de sua Palavra, premiando a comunidade que tem perseverado unida no trabalho apostólico: «Lançai a rede ao lado direito da barca e pescareis» (v.6). A obediência à Palavra produz o resultado de uma pesca abundante. Os discípulos confiaram e experimentaram com o Senhor a desconcertante novidade de sua vida de fé. Jesus lhes convida depois ao banquete que ele mesmo preparou: «Vinde a comer» (v.12). No banquete, figura da Eucaristia, é o mesmo Je­sus quem dá de comer, fazendo-se presente de um modo misterioso. Os discípulos são agora espanto que lhes produz o mistério divino. A conclusão do evangelista é um convite à comunidade eclesial de todos os tempos para que volte a encontrar o sen­tido de sua própria vocação e ponha Jesus como Senhor da vida, de sorte que, através da escuta da Pa­lavra e da Eucaristia (=as duas mesas), a Igreja faça frutuosos todos seus compromissos entre os homens.

 

 

At 4,1-12 (Pedro e João diante do Sinédrio) – Dois são os temas principais deste texto: a reação dos chefes de Israel ante o êxito dos apóstolos e as importantes afirmações do discurso de Pedro. Primeiro tema: surpreendentemente, o «caso Jesus» não se encerrou com a crucifixão. Seus seguidores fazem prosé­litos. Mais ainda, pregam no templo, convertendo-se em mestres do povo (tarefa reservada aos doutores da Lei), e anunciam a ressurreição dos mortos (o que parece particularmente inoportuno aos saduceus). Os chefes do povo, surpreendidos e exasperados, se lançam e os metem no cárcere. Esta foi à pri­meira perseguição, à que seguiu um ulterior incremen­to numérico de discípulos. O Sinédrio, o mesmo que poucas semanas antes havia julgado a Jesus, se reúne. Nele se concentram os diferentes poderes: o religioso, o econômico, o teológico, o social e o que resta do poder político. Uns poderes que se sentiam ameaçados pela mensagem subversiva de Jesus e que; agora, de­vem ocupar-se novamente da questão. O segundo tema é o breve e vigoroso discurso de Pe­dro. Este, «cheio do Espírito Santo», tal como havia pro­metido Jesus, fala com uma grande parresia, quer dizer com uma audácia e uma coragem inauditas, ante os chefes do povo e pondo-lhes em uma situação seriamente embaraçosa. Parte do fato da cura para anunciar a salvação, a cura radical. As afirmações de Pedro são solenes e claras: aquele a quem vós condenastes a morte foi ressuscitado por Deus; e a pedra que vós desprezastes Deus converteu na pedra fundamental do novo edifício que pretende construir. Jesus, a quem os chefes rejeitaram e mataram, foi eleito por Deus para dar cumprimento a suas promessas. O conjunto está dominado pelo «nome de Jesus»; em nenhum outro nome há salvação.

 

Sl 117/118 (Cântico de alegria e de vitória) – Trata-se de um grande cântico de vitória e de ação de graças cantado na ceia pascal. Seria o salmista um rei que volta vitorioso da guerra? Alguém que superou uma grande enfermidade? Alguém que exerce uma influência no povo e que vê realizado o seu sucesso? Não importa quem seja ou o motivo que suscitou em seu coração esta oração; o que realmente importa é sempre agradar a Deus por tudo o que Dele recebemos. Este cântico era muito familiar à oração de Jesus. Ele deve tê-lo rezado muitas vezes no silêncio da noite, no monte e, quem sabe, com seus discípulos a fim de fazê-los compreender que Ele é a “porta” pela qual os justos devem entrar e encontrar a salvação. Tudo isso nos leva a rezar este Salmo com mais afinco.

Senhor, quero unir-me à voz de Cristo para cantar este Salmo e manifestar-te toda a minha gratidão pelas santas vitórias que tenho conseguido na minha vida, com a tua graça. As enfermidades superadas; as lutas, as injustiças sofridas que depois se clarearam; os desentendimentos familiares e comunitários que lentamente se iluminaram com a tua graça e presença. Louvo-te, Senhor, porque Cristo é minha pedra angular sobre a qual construo o meu futuro. Não tenho medo das rejeições nem das incompreensões, sei que isto faz parte do seguimento de Cristo. É doloroso, mas tão belo ver tua Igreja perseguida, porque isto nos garante que ela é fiel, não ao mundo, mas sim à tua Palavra. Que eu possa sempre meditar este Salmo, vivendo a Páscoa não só uma vez por ano, mas todos os dias da minha vida. Amém.

 

MEDITATIO: A segurança de Pedro procede da certeza interior de que Jesus é agora o único Salvador. A Igreja das origens vive desta certeza, que a faz forte, intrépida, gozosa, missionária, irresistível. As grandes epopeias missionárias nutriram-se sem­pre desta consciência. A Igreja será sempre missioná­ria, pois se interessa pela salvação do próximo, à luz de Cristo. Nossos tempos não é muito fácil… Apesar de tudo isso, Cristo, ontem como hoje e como amanhã, segue sendo o único Salvador. Trata-se é de converter esta certeza, não em uma arma contra ninguém, mas em uma proposta paciente e firme, se­rena e motivada, testemunhada e falada, orada e alegre, suave e valente, dialogante e confessante. Em todo am­biente, em todo momento da vida, ainda quando pareça tempo perdido, inclusive quando pareça fora de moda. Desta certeza nasce uma força nova: se liberam energias. Deixamos de ter medo dos juízos dos homens e nos convertemos em homens e mulheres inte­rior e exteriormente livres.

 

ORATIO: Devo confessar-me e confessar-te que estava mais seguro no passado: as muitas certezas apoiavam também esta certeza de tua unicidade. Porém devo admitir, assim mesmo, que agora, nestes tempos em que diminuíram as certezas, sinto que devo aferrar-me cada vez mais a ti e arriscar-me mais a reconhecê-lo, tanto em público como em privado. Reforça Senhor meu pobre coração, para que ponha e volte a pôr meu centro só em ti como Senhor e Salvador. Concede-me uma experiência vigorosa desta realidade para que eu possa dizer que tu és minha salvação e minha alegria. Concede-me uma experiência tão incisiva que suprima em mim toda insegurança na hora de anunciar teu nome.

CONTEMPLATIO: Quem é Jesus Cristo? (para mim). Quando nós refle­timos sobre estas perguntas simples, ainda que terríveis, não nos damos conta de que nos sentimos tentados a deslizar-nos para um nominalismo cristão e a eludir a lógica dramática do realismo cristão. Se Jesus Cristo é aquele fora do qual não há solução às questões essenciais de nossa existência, se são reais e atuais aquelas palavras de Pedro, «cheio do Espírito Santo» (At 4,11s), então nos sentiremos agitados e talvez despidos. Já não poderemos considerar o nome de Cristo como pura e simples denomi­nação que se tem insinuado na linguagem convencional de nossa vida, mas que sua presença, sua estatura – do­tada de uma infinita majestade – se levantará diante de nós. Ele é o Alfa e o Omega, o princípio e o fim de todas as coisas, o centro da ordem cósmica, que nos obriga a reconsiderar a dimensão de nossa filosofia, de nossa concepção do mundo, de nossa história pessoal. Não temos de sentir-nos aniquilados, como os apóstolos na montanha da transfiguração. A hu­mildade do Deus feito homem nos confunde na mes­ma medida que sua grandeza. Sem dúvida, esta não só faz possível o diálogo, mas que o oferece e o impõe. (Paulo VI)

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Senhor a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A vida é imprevisível. Podemos ser felizes um dia e estar tristes no dia seguinte, estarmos bons um dia e enfermos um dia depois, ser ricos um dia e pobres no seguinte. A quem poderemos, então, agarrar-nos? Em quem poderemos confiar para sempre? Só em Jesus, o Cristo. Ele é nosso Senhor, nosso pastor, nossa fortaleza, nosso refúgio, nosso irmão, nosso guia, nosso amigo. Veio de Deus para estar conosco. Morreu por nós e ressuscitou dentre os mortos para abrir-nos o caminho para Deus, e se sentou à direita de Deus e nos acolherá em sua casa. Com Paulo, devemos estar seguros de que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem principados, nem o presente nem o futuro, nem potestades nem a altura nem a profundidade, nem outra criatura alguma poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, Senhor nosso”. (Rm 8,33s) (H.J.M Nouwen, Pan para el viaje, PPC, Madrid 1999)

 

 

 

 

 

 

SÁBADO, 18 DE ABRIL DE 2020OITAVA DE PASCOA – ANO A

Marco 16,9-15 (Aparições de Jesus ressuscitado) – O texto é um acréscimo que serve de conclusão ao Evangelho. Está relatado por outra mão, ainda que pertença à época apostólica. Inclui a apa­rição de Jesus Cristo ressuscitado a Maria Madalena, que foi anunciar aos discípulos incrédulos o aconteci­mento da ressurreição (vv.9-11); a aparição do Senhor Jesus com aspecto de peregrino aos dois discípulos de Emaús, que voltavam a seu povo (vv.12s) e, por últi­mo, a aparição de Jesus Ressuscitado aos onze, reunidos em torno à mesa, isto é, recolhidos na celebração eucarística, a quem reprova sua incredulidade e sua atitude refratária ante o testemunho de alguns discí­pulos (vv.14s). Só a presença direta de Jesus libertará os apóstolos de sua dureza de coração e os transformará em verdadeiros crentes. Ao sublinhar a incredulidade dos discípulos, típica de todo o Evangelho de Marcos, o evangelista pretende pôr de relevo que a ressurreição não é fruto de uma imaginação ingênua ou de algu­ma sugestão coletiva dos seguidores do Nazareno, mas dom do Pai em favor daquele que se havia feito obediente até a morte para a salvação de toda a humanidade. Concluindo, o Ressuscitado envia os discípu­los ao mundo para que prolonguem sua missão e desenvolvam a atividade evangelizadora junto com o Senhor: “Ide por todo o mundo e proclamai a boa notícia a toda criatura» (v.15).

 

 

At 4,13-21 (Pedro e João diante do Sinédrio) – Pedro e João receberam em verdade, segundo a promessa de Jesus Cristo, «uma eloquência e uma sabedoria à qual não poderão resistir nem contradizer todos vossos adversários»: estes últimos se encontram, evidentemente, com dificuldades. O fragmento está dominado, de uma parte, pela força dos fatos que se impõem e, de outra, pela vontade de ocultá-los. Os fatos são a cu­ra constatada e clamorosa; é tudo o que Pedro e João viram e ouviram. De outra parte, está o poder que quer defender-se da irrupção dos fatos com seu poder de desestabilização. Os fatos são acreditados por «homens do povo e sem cultura», que passam de acusados a acusadores. Frente à ideia de proibir «ensinar no nome de Jesus», e nisto se mostra perspicaz o sinédrio, por­que o perigo procede desse “nome”, a verdadeira novidade, a resposta de Pedro e João é a apelação à evidência: não podem calar o que viram e ouviram. Trata-se da consciência de que falar destas coisas era vontade de Deus, um mandato divino, frente ao qual, os preceitos humanos perdem sua consistência. Não há ameaça humana que possa opor-se à força do testemunho dos apóstolos, porque está com eles a força irresistível de Deus.

 

Salmo 117/118 (Cântico de alegria e de vitória) – Trata-se de um grande cântico de vitória e de ação de graças cantado na ceia pascal. Seria o salmista um rei que volta vitorioso da guerra? Alguém que superou uma grande enfermidade? Alguém que exerce uma influência no povo e que vê realizado o seu sucesso? Não importa quem seja ou o motivo que suscitou em seu coração esta oração; o que realmente importa é sempre agradar a Deus por tudo o que Dele recebemos. Este cântico era muito familiar à oração de Jesus. Ele deve tê-lo rezado muitas vezes no silêncio da noite, no monte e, quem sabe, com seus discípulos a fim de fazê-los compreender que Ele é a “porta” pela qual os justos devem entrar e encontrar a salvação. Tudo isso nos leva a rezar este Salmo com mais afinco.

Senhor, quero unir-me à voz de Cristo para cantar este Salmo e manifestar-te toda a minha gratidão pelas santas vitórias que tenho conseguido na minha vida, com a tua graça. As enfermidades superadas; as lutas, as injustiças sofridas que depois se clarearam; os desentendimentos familiares e comunitários que lentamente se iluminaram com a tua graça e presença. Louvo-te, Senhor, porque Cristo é minha pedra angular sobre a qual construo o meu futuro. Não tenho medo das rejeições nem das incompreensões, sei que isto faz parte do seguimento de Cristo. É doloroso, mas tão belo ver tua Igreja perseguida, porque isto nos garante que ela é fiel, não ao mundo, mas sim à tua Palavra. Que eu possa sempre meditar este Salmo, vivendo a Páscoa não só uma vez por ano, mas todos os dias da minha vida. Amém.

 

 

MEDITATIO: É melhor obedecer a Deus que aos homens: trata-se de um critério que temos de desenterrar frente à prepotência do mundo. Este, através dos meios de co­municação e de outros meios todo-poderosos, pretende nivelar o modo de pensar e de valorizar típico do cristia­nismo, tomando como rasteiro o nível do consumo e dos horizontes exclusivamente ultra mundanos. A identidade cristã está padecendo uma agressão cada vez mais aberta, ainda que a maioria das vezes adocicada e solapada, que faz passar por normal e óbvio o que, com frequência, não é mais que um comportamento detestável. Em nome da vontade superior de Deus é preci­so iniciar um verdadeiro «combate cultural» destinado a desmascarar o perigo da homologação pagã. Porém este pressupõe um «combate espiritual» em nome de uma experiência forte de Cristo. Não se pode abafar a experiência da salvação, a experiência de sermos amados e acompanhados na vida pelo amor de Deus. Não se pode viver como se este amor não existisse nem atuasse na história. Há aqui um convite ulte­rior ao testemunho aberto e valente, que não quer im­por nada, porém que, tampouco quer receber imposições para ocultar o mais querido, o mais doce, o mais importante que move nossa vida.

 

ORATIO: Ilumina Senhor, para que perceba com quanta frequência obedeço em reali­dade mais aos homens que a ti, do contaminado que estou pela mentalidade deste mundo, da grande quan­tidade de seduções de que sou vítima, da grande quan­tidade de apelos que me fascinam. Às vezes me dou conta, quase de improviso, de que, de fato, estou pensando e julgando segundo os critérios do mundo e não segundo os teus. Descubro que me inclino aos ídolos fáceis, rápidos, envolventes, onipresentes. Ilumina as profundidades de meu ser, os estratos mais escondidos de minha personalidade, os pontos menos cons­cientes de minha sensibilidade, para que tenha a coragem de proceder uma revisão, de revisar meu modo de situar-­me frente à mentalidade corrente. Faz Senhor, que tua Palavra desça aos subterrâneos de minha psique, às sinuosidades de meu coração, para que pense segundo teus critérios, para que te obedeça, para que nunca – por inconsciência ou por temor, por homologação ou debili­dade – tenha eu que obedecer aos homens mais que a ti ou ir contra ti.

 

CONTEMPLATIO: Podemos perguntar-nos: penso acaso, em consciên­cia, como cristão? Inspira-se meu estado de ânimo na verdade que Cristo nos tem ensinado? Não estamos inclinados mais a tomar como guia de nossos pen­samentos, de nossos juízos, de nossas ações, nosso estado de ânimo pessoal, com uma autonomia que, com muita frequência, não admite conselhos nem com­parações? Podemos afirmar de verdade, sendo zelo­sos como somos de nossa independência, de nossa liberdade, que temos o ânimo livre? Não deveríamos admitir que há uma grande quantidade de outros elementos que se sobrepõem a nosso juízo conscien­te para forjar nossa mentalidade? Certamente, não po­demos escapar de sua influência, porém devemos perma­necer com uma atitude crítica frente a tudo isto e perguntar-nos com uma vigorosa liberdade interior: é cristão tudo isto? Penso verdadeiramente como cris­tão? O cristão é um ser novo, original, feliz, como afirma também Pascal: «Ninguém é feliz como um verdadeiro cristão, ninguém é tão razoável, virtuoso, amá­vel». (Pensamientos, 541) (Paulo VI)

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Melhor é refugiar-se no Senhor que confiar nos homens» (Sl 118,8)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Nós, homens de hoje, ainda que nos consideremos em comunhão com a religião cristã – uma comunhão que muito frequentemente se cala, se minimiza ou se seculariza –, possuímos rara vez ou de forma incompleta o sentido da novidade de nosso estilo de vida. Com frequência nos mostramos conformistas. O medo de ao “que dirão” nos impede apresentar-nos pelo que somos, isto é, como cristãos, como pessoas que livremente optaram por um determinado estilo de vida, austero, certamente, ainda que superior e lógico. A Igreja nos diz, então: “Cristão, sê consciente, coerente, fiel, forte. Em uma palavra: sê cristão”. “Renovai o espírito de vossa mente” (Ef 4,23). A palavra espiritual se refere à graça, isto é, ao Espírito Santo. Por isso diremos com Santo Inácio de Antioquia: “Aprendamos a viver segundo o cristianismo” (Ad Magnesios,10). Nisto consiste a renovação do Concilio. “Quem tenha ouvidos para ouvir, que ouça. (Paulo VI, Audiência Geral de 8 de janeiro de 1975)

 

 

 

 

AUTORES:(Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

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