LECTIO DIVINA SEMANAL DE 28 de Abril a 04 de Maio

PAZ E BEM LECTIO DIVINA

28 DE ABRIL A 04 DE MAIO

Click aqui pra baixar em PDF  PAZ E BEM LECTIO DIVINA maio de 2019

DOMINGO, 28 DE ABRIL DE 2019 – 2ª  SEMANA DA PÁSCOA  

João 20,19-31 (Aparição aos discípulos) Estes dois episódios, próximos e relacionados a um mesmo tema, a fé, são eco fiel do que ocorreu no coração dos apóstolos após a mor­te de Jesus. No primeiro (vv.19-22), Jesus aparece aos onze, que, apesar do anúncio de Maria Madalena, estão ainda fechados no cenáculo por medo dos judeus. Jesus vence as barreiras: passa através da porta, ma­nifestando que sua condição é totalmente nova, ainda que não tenha desaparecido nada do sofrimento que padeceu na carne. A insistente referência ao seu lado traspassado é própria de João, para indicar o cumprimento das profecias em Jesus (Ez 47,1; Zc 12,10.14). A tradicional saudação de paz assume, também, em seus lábios, sentido novo: do desejo passa à pre­sença. A paz, dom messiâ­nico por excelência, que inclui todo bem, é, pois, uma pessoa: é o Senhor crucificado e ressuscitado em meio dos seus (“se apresentou»:vv.14.19b.26b). Ao vê-lo, ficam cheios de alegria e confirmados na fé. O Espírito que Jesus sopra sobre eles, principio de uma nova criação (Gn 2,7), confe­re-lhes uma missão que prolonga a sua no tempo e no espaço e lhes concede o poder divino de libertar do pecado. O segundo quadro (vv.24-29) personaliza em Tomé as duvidas e o ceticismo que atribuem os sinóticos, de modo genérico, a «alguns» dos doze, e que po­dem surgir em qualquer um. Tomé viu a agonia de seu Mestre e se nega a crer agora em uma realidade que não seja concreta, tangível, quanto ao sofrimento do que foi testemunho (v.25). Jesus condescende à obstina­da pretensão do discípulo (v.27), pois é preciso que o grupo dos apóstolos se mostre firme e forte na fé para poder anunciar a ressurreição ao mundo. Precisamente a Tomé atribui a confissão de fé mais elevada e completa: «Meu Senhor e meu Deus!» (v.28). Aplica ao Ressuscitado os nomes bíblicos de Deus, Yahweh e Elohím, e o possessivo «meu» indica sua plena adesão de amor, mais que de fé, a Jesus. A visão conduz Tomé à fé, mas o Senhor declara, de modo aberto, para todos os tempos: bem-aventurados os que creram pela palavra dos testemunhos, sem pretender ver. Estes experimentarão a graça de uma fé pura que, sem dúvida, é confirmada pelo coração e o faz exultar com uma alegria inefável e radiante (1 Pe 1,8). Os vv.30s constituem a primeira conclusão do evangelho de João: trata-se de um testemunho escrito que não pretende ser exaustivo, mas só suscitar a fé em que«Jesus é o Cristo, o Filho de Deus» (cf.Mc 1,1).

 

 

At 5,12-16 (Quadro de conjunto) O texto apresenta o terceiro dos «compên­dios» dos Atos dos Apóstolos. Trata-se de resu­mos usados na narração de Lucas como «pontes» entre diferentes seções. Mostram como vivia a co­munidade cristã naqueles tempos e como deve viver sempre. Neste se vemos, de fato, sete verbos, em imperfeito, destinados a indicar uma situação habitual da comunidade: fala num lugar de encontro junto ao templo (o pórtico de Salomão), que se reúne em torno aos apósto­los e mostra possuir uma identidade bem diferente dos outros. No centro da narração aparece a presença e a ação dos apóstolos, em particular de Pedro. Estes fazem sinais e prodígios que testemunham o poder do Ressuscitado. O povo exulta; aumenta o número dos crentes;e também a fé suscitada pelo poder de cura dos apóstolos, até pela som­bra de Pedro. Perfilam-se aqui os traços da Igreja, que, enquanto vai se formando, agrega sempre, pelo poder do Espírito, novos membros, sobretudo me­diante a atividade dos apóstolos.

 

Ap 1,9-11a.12-13.17-19 (Visão preparatória) O Apocalipse é, por excelência, o livro da «re­velação» de Jesus, Exije do leitor o paciente trabalho de entrar em sua linguagem carregada de símbolos. João tem esta revelação em favor dos irmãos quando está exilado na ilha de Patmos. Na profunda experiência espiritual vivida por ele, tem lugar, precisamente, o domingo, dia memorial da ressurreição do Senhor. Ouve, às suas costas, uma voz potente, «como de trombeta», que o ordena escrever o que vê. Os elementos presentes aqui recordam a revelação do Sinai, mas entendida em sua plenitude, graças ao mistério pascal. De fato, João tem que voltar-se (=epistrépheil, mesmo verbo que indica a «conversão» como retorno a Deus) e, exatamente, porque se «converte», pode ver: aparece, então, ante seus olhos, um misterioso personagem, «uma espécie de figura humana» em meio a sete candelabros de sete braços. O único candelabro de sete braços do templo de Jerusalém se transformou, pois, em mu­itos candelabros para indicar que houve uma passagem do único lugar do culto – o templo – para toda a comunidade eclesial. Em meio deles está Cristo ressuscitado, descrito com elementos tomados do Antigo Testamento que expressam a unção messiânica que chegou a seu cume. A longa túnica e o cinto de ouro são um traço dis­tintivo sacerdotal (cf.Dn 10,5); o cabelo branco alude ao «ancião dos dias» de Dn 7,9. O Filho do homem é Deus mesmo. Ante ele reage João com desconcerto próprio de quem entra em contacto com Deus, mas o personagem glorioso o tranquiliza e se revela com cinco expressões que lhe qualificam como o Ressuscitado. É «o primeiro e o último», isto é, o criador e senhor do cosmos e da historia (cf.Is 44,8;48,12); «o que vive», a saber: o que tem a vida em si mesmo, segundo uma terminologia muito usada pelo Antigo Testamento. Não só é o que vive, mas o que tem as chaves, isto é, o poder da morte e do abismo dos mortos.

 

Sl 117/118 (Liturgia para a festa das Tendas) Trata-se de um grande cântico de vitória e ação de graças cantado na ceia pascal. Seria o salmista um rei que volta vitorioso da guerra? Alguém que superou uma grande enfermidade ou que exerce uma influência no povo e que vê realizado seu sucesso? Não importa quem seja ou o motivo que suscitou em seu coração esta oração; o que realmente importa é sempre agradar a Deus por tudo que d’Ele recebemos. Este cântico era muito familiar à oração de Jesus. Ele deve tê-lo rezado muitas vezes no silêncio da noite, no monte e, talvez, com seus discípulos para fazê-los compreender que Ele é a “porta” que os justos devem entrar e encontrar a salvação. Assim, rezemos este Salmo com mais afinco.

Senhor, quero unir-me à voz de Cristo para cantar este Salmo e manifestar-te toda a minha gratidão pelas santas vitórias que tenho conseguido na minha vida, com tua graça. As enfermidades superadas; as lutas, as injustiças sofridas que depois se clarearam; os desentendimentos familiares e comunitários que lentamente se iluminaram com tua graça e presença. Louvo-te, Senhor, porque Cristo é minha pedra angular sobre a qual construo meu futuro. Não tenho medo das rejeições nem incompreensões, sei que isto faz parte do seguimento de Cristo. É doloroso, mas tão belo ver tua Igreja perseguida, porque isto nos garante que ela é fiel, não ao mundo, mas sim à tua Palavra. Que eu possa sempre meditar este Salmo, vivendo a Páscoa não só uma vez por ano, mas todos os dias da minha vida.

 

 

MEDITATIO: «Estava morto, porém, agora vivo para sempre.» Jesus veio a compartilhar em tudo nossa condição humana e, agora também, nós temos nele a certeza de que a morte não é a última palavra pronunciada so­bre nosso destino. Esta certeza muda de modo radical a orientação de nosso coração. Nele, vivo, também nós vivemos uma vida nova. Assim, pois, é importante que todos nossos pensamentos, todas nossas ações, todos nossos encontros, estejam imbuídos da alegria e da novidade da vida ressus­citada que Jesus veio trazer-nos. A comunidade cristã é o lugar onde podemos levar a cabo e alimentar de maneira estável a experiência da vida nova, repleta de sentido e libertada da an­gustia e do medo. Sem dúvida, com excessiva frequência nos mostramos tardios e incrédulos, e nos reconhecemos facilmente na figura de Tomé, o apóstolo que queria tocar para crer. Como ele, também nós perseguimos, com frequên­cia, certezas que sejam conformes as nossas mesquinhas medidas. E o Senhor nos deixa fazer. Nos dá as provas que queremos e espera que, ante a evidencia, chegue­mos a proclamá-lo, com um ímpeto de fé e de amor que ele é nosso Senhor, nosso Deus.

 

ORATIO: Vem, fica conosco, Senhor, e ainda que encontres fechada a porta de nosso coração por temor ou por covardia, entra assim mesmo. Tua saudação de paz é bálsamo que faz desaparecer nossos medos; é dom que abre o caminho a novos horizontes. Dilata os espaços estreitos de nosso coração. Reforça nossa frágil es­perança e dá-nos olhos penetrantes para vislumbrar em tuas feridas, de amor os sinais de tua gloriosa ressurreição. Com frequência também nós nos mostramos incrédulos, necessitados de tocar e ver para poder crer e ser capazes de confiar. Faz que, iluminados pelo Espírito Santo, possamos ser contados entre os bem-aventurados que, ainda que não vendo, creram.

 

CONTEMPLATIO: Cristo veio aos apóstolos escondidos em uma casa e entrou pela porta fechada. Porém Tomé, que não estava durante esta aparição, permaneceu incrédulo. Deseja ver, não aceita, nem lhe basta ouvir falar dela. Fecha os ouvidos e quer abrir o coração. Queima-lhe a impaciência. Tomé, homem de caráter exigente e desconfiado, põe adiante sua incredulidade, esperando gozar, assim, de uma visão. «Se ele me aparece – disse – eliminará minha incredulidade. Porei meu dedo nas cicatrizes dos cravos e abraçarei o Senhor a quem tanto amo. Re­provará também minha incredulidade, porém me cumulará com sua visão». O Senhor aparece de novo, aplaca o tormento e elimina a duvida de seu discípulo. Porém, mais que a duvida, satisfaz seu desejo. Entra com as portas fechadas. Esta incrível aparição confirma sua incrível ressurreição. Então Tomé lhe toca, desaparece sua desconfiança e, cumulado de uma fé sincera e de todo o amor que se deve ao próprio Deus, exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». O Senhor lhe responde: «Porque me vistes, crestes. Bem-aventu­rados os que creem sem ter me visto. Tomé anuncia a ressurreição aos que não me verão. Arrasta toda gente para crer, não no que veem seus olhos, mas no que disse tua palavra». Estes são os novos recrutas do Senhor […]. Seguirão a Cristo sem tê-lo visto, o desejarão, crerão nele. Reconhecerão com os olhos da fé, não com os do corpo. Não porão seus dedos na ferida dos cravos, porém se unirão a sua cruz e abraçarão seus sofrimentos. Não verão o lado do Senhor, porém se unirão a seus membros através da graça (Basilio de Seleucia, Omelia sulla Pasqua).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20,28)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Encontrar Deus! Vê, estou sem luz. Penso que poderia dizer frases belas e com elas entusiasmar-me, mas justamente pronunciadas muito depressa, de modo superficial. Acho-me numa situação onde o crer já não se me apresenta como um conhecer algo sobre Deus, como um «Credo», mas como a pedra de toque de minha fé. Se eu cresse de verdade, seguiria sendo ainda presa de insignificantes contrariedades com tanta frequência? Sentir-me-ia alarmado por projetos tão medianos? Não, então nada seria objeto de desprezo, mas tudo ficaria iluminado por este inimaginável e rico cumprimento de tudo. Em consequência, é minha fé a que tem que ser reanimada… Porém, onde se encontra sua debilidade? Creio, seguramente, que Jesus é Deus que veio entre nós e deu vida a minha vida. Creio, certamente, em Jesus, verdadeiro homem, que morreu crucificado e ressuscitou dentre os mortos: como Deus verdadeiro, «a morte já não tem poder sobre Ele». Sim, Jesus, creio que ressuscitastes. Tu, o Filho de Deus encarnado, «a fidelidade encarnada de Deus», ressuscitastes com teu corpo de homem. Creio que  venceste à morte, também a minha. Porém, creio de uma maneira vital nesta ressurreição da carne, de minha carne, como afirmo no Credo? Justamente como a viveu Jesus e como a leio nos quatro evangelhos? Não entrarei de verdade na ressurreição de Jesus mas que se digo um «sim» incondicional a minha ressurreição. Este «sim» ao meu destino pessoal é o que devo pronunciar antes que qualquer outra coisa, além de todas as falsas aparência dos sentidos, um «sim» a um «eu que continua em uma vida nova». É preciso que minha vontade se comprometa com este «sim» a minha sobrevivência gloriosa, para que seja algo diferente de um simples som vocal (J.Loew,Dios incontro alí’uomo).

 

 

TERÇA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2019 – 2ª SEMANA DA PÁSCOA

João 3,7b-15 (O encontro com Nicodemos) O diálogo de Jesus com Nicodemos se torna aqui num monólogo sem interrupção que o evangelista põe nos lábios de Jesus. Encontramo-nos ante a palavras autênticas de Jesus e a testemunhos pós-pascais fundidos pelo autor em um só discurso. Trata-se duma profissão de fé usada no interior da vida litúr­gica da Igreja joanina. Nela contém, em síntese, a história da salvação. O tema desenrola o que vimos no texto de ontem, centrado no testemunho de Cristo, Filho do homem descido do céu, o único que está em condições de revelar o amor de Deus pelos homens através de sua própria morte e ressurreição (vv.11-15). João insiste agora na importância da fé. Se esta não cresce com a revelação feita por Jesus sobre seu destino espi­ritual, como poderá ser acolhida a grande revelação rela­cionada com seu êxodo pascal? Os homens devem dar crédito a Cristo, ainda que nenhum deles tenha subido ao céu para captar os mistérios celestiais, já que só ele, que desceu do céu (v.13), está em condições de anunciar a realidade do Espírito Santo, e é a verdadeira ponte entre o homem e Deus. Só Jesus é o lugar ideal da presença de Deus. Esta revelação terá seu cumprimento na cruz, quando Jesus é exalta­do na gloria, para que «todo o que crer nele tenha a vida eterna» (v.15). A humanidade poderá compreender o escandaloso e desconcertante acontecimento da salvação por meio da cruz e curar-se de seu mal, como os judeus curaram-se no deserto das picadas das serpentes fitando a serpente de bronze (cf. Nm 21,4-9). O simbolismo da serpente de Moisés afirma a verdade de que a salvação consiste em submeter-nos a Deus e dirigir nosso olhar ao Crucificado, verdadeiro ato de fé que co­munica a vida eterna (cf. Jo 19,37).

 

 

At 4,32-37 (A primeira comunidade cristã) Este é o segundo «compendio» onde Lucas apresenta o novo estilo de vida da Igreja, fruto do Espírito. Sublinha-se a comunhão de bens, descrita de um modo mais detalhado. Aparecem duas práticas de comunhão: a primeira con­siste em pôr em comum os próprios bens ou comunhão de uso. Cada um é proprietário de seus bens, porém se considera só administrador dos mesmos, pondo o fruto dos mesmos a disposição de todos. A se­gunda prática consiste na venda dos bens, segui­da da distribuição do arrecadado. Esta fazem os apóstolos depois que se deposita a seus pés a importância da venda. Estas duas práticas de co­munhão não são as únicas: os Atos dos Apóstolos apresentam outras. Paulo fala do trabalho de suas próprias mãos para prover às necessidades dos seus e dos débeis» (20,34s). O que importa a Lucas, sobretudo é mostrar que as distintas práticas de comunhão de bens estão arraigadas em uma profunda comunhão de espíritos e de corações. Do conjunto se desprende que estamos em presença da comunidade messiânica, herdeira das promessas feitas aos pais: «Não haverá nenhum pobre entre os teus, porque Yahweh te abençoará abundante­mente na terra que Yahweh teu Deus te dá em herança para que a possuas, porém só se escutas de verdade a voz de Yahweh teu Deus» (Dt 15,4s).

 

Salmo 92/93 (O poder do Deus Criador) Pequeno Salmo muito importante, mas, em especial, hoje, sua leitura se faz necessária e muito nos engrandece. O homem tem uma doença que se espalha rapidamente: a doença do poder e do orgulho. O homem não aceita estar abaixo de Deus e tenta a cada momento ser o próprio Deus. Não há mais limites para ele, que acredita ser capaz de enfrentar e vencer a tudo. Brinca de ser eterno e crê que um dia a ciência ressuscitará todos os mortos e encontrará a vida eterna. Esquece-se que uma pequeníssima picada de mosquito pode causar uma infecção incurável. Precisamos recuperar o sentido de nossa fragilidade e pobreza, esconder-nos na nossa humanidade e proclamar a toda voz que somente Deus é eterno, soberano e grande, e que somos pobres e pequenos.

Senhor, a minha oração de hoje é breve: liberta-me do orgulho, e que eu nunca, mas nunca mesmo, pense nem por um breve instante que sou mais poderoso do que tu. Que me prostre e te adore mesmo quando a minha inteligência se rebela e se recusa a te servir; que saiba só dizer: “quero te servir”. Amém.

 

 

MEDITATIO: O texto dos Atos é um dos mais aludidos por parte da tradição espiritual da Igreja. A partir do primeiro monacato, em todos os mo­mentos de crise ou de dificuldades na vida cristã se tem feito referência a este texto como a um modelo fun­dador e insuperável da vida da Igreja e, portanto, como a uma pedra sobre a qual é possível cons­truir formas autênticas de vida cristã.   Neste texto aparecem toda a fascinação e a nostalgia da fraternidade; mais ainda: de uma Igreja fraterna. Em um momento no qual parecem desaparecer outras perspectivas, eis aqui a possibilidade de retomar o caminho do renascimento a partir da fraternidade, fonte inesgotável do estilo de vida cristão. A novidade cristã se expressa, sobretudo na fraternidade: através de comunidades fraternas, através de uma Igreja fraterna, através de uma mentalidade fraternal que bus­ca acima de tudo criar relações fraternas, como sinal da vinda do Reino. Que lugar ocupa a fraternidade em minhas preocupações? Que importância tem a construção da fraternidade em minha vida espiritual? É, acaso, minha espiritualidade uma espiritualidade individualista, da qual estão praticamente excluídos os irmãos?

ORATIO: Senhor, mostra-te bondoso comigo, que, de fato, considero pouco importante a fraternidade. Estou preo­cupado de que as coisas «funcionem» e, assim, encontro pretexto para esquecer-me de que os outros são meus irmãos, quando não os converto em meros instrumentos. Estou preocupado por minha saúde e, assim, me esqueço dos outros que também têm seus problemas, talvez mais graves que os meus. Estou preocupado pelo bem que devo fazer e, com frequência, não me pergunto se faço de uma forma fraterna, se faço de irmão a irmão. Estou preocupado em levar-te aos afastados e esqueço dos que tenho próximo. Senhor, concede-me olhos e coração fraternos. Quão afastado ando de tudo isto! Estou afastado e, a maioria das vezes, nem sequer me dou conta, pois não levo a sério a fraternidade: é pouco gratificante, não me faz brilhar, não acende minha fantasia, não me faz sentir-me um herói. Senhor, para fazer que eu queira ser, de verdade, irmão de meu próximo, deves iluminar-me, sempre, com tua palavra e teu Espírito, como fizeste nos começos de tua Igreja.

 

CONTEMPLATIO: Nosso Criador e Senhor dispõe todas as coisas de tal modo que se alguém quiser orgulhar-se do dom que tem recebido, deve humilhar-se pelas virtudes de ­que carece. O Senhor dispõe todas as coisas de tal modo que quando eleva a um mediante uma graça que tem recebido, mediante uma graça diferente o submete outro. Deus dispõe todas as coisas de tal modo que enquanto todas as coisas são de todos, em virtude de certa exigência da caridade, tudo se torna de cada um, e cada um possui no outro o que não tem recebido, de tal modo que cada um oferece como dom ao outro o que tem recebido. É o que disse Pedro: «Que cada qual ponha a serviço dos demais a graça que recebeu, como bons administradores das diversas graças de Deus» (1 Pe 4,10) (Gregorio Magno).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Reina, Senhor, glorioso no meio de nós»

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A finalidade de uma comunidade não pode ser só oferecer a seus membros um sentimento de bem estar. Seu objetivo e seu significado são bem mais fazer que todos os membros possam incitar-se uns aos outros, dia a dia, a percorrer juntos o caminho da confiança, com maturidade, com lealdade e em meio da efetividade; que possam aclarar  mal entendidos que se produzem; que possam resolver os conflitos e, sobretudo, que possam arraigar-se em Deus. E é que, e, uma comunidade, só poderemos viver bem longamente se dirigimos continuamente nosso olhar a Deus como nossa verdadeira meta e causa ultima de nossa vida (A. Grun, A onore Del cielo, come segno per La terra, Brescia).

 

 

QUARTA-FEIRA, 01 DE MAIO DE 2019 2ª SEMANA DA PASCOA

 

 

QUINTA-FEIRA, 02 DE MAIO DE 20192ª SEMANA DA PÁSCOA

João 3,31-36 (Ministério de Jesus na Judéia. Ultimo testemunho de João) Este texto recolhe em uma síntese a reflexão do evangelista, expressada com uma sucessão de ditos de Jesus muito estimados pela Igreja joanina. O tema central segue sendo a figura de Je­sus, único revelador do Pai e doador de vida eterna, através do Espírito Santo. O discípulo está convidado pela Palavra a comprovar sua própria relação com Jesus. Isto se leva a cabo à luz do exemplo do Batista, que renunciou a si mesmo e se abriu com alegria a Cristo. Cristo é «o que vem do alto» (v.31 a): pertence ao mundo divino e é superior a todos os homens. O homem, sem dúvida, ainda quando seja um grande profeta, como o Batista, «é terreno» (v.31b) e segue sendo um ser terreno e limitado. Em consequência, só Jesus po­de falar de Deus ao homem por experiência direta. Mas, inclusive ante estas palavras de vida eterna, que revela Jesus, se negam os homens a crer. Contudo, existe um «resto» que vive da fé: são os crentes que confessam «que Deus disse a verdade» (v.33). Sua fé é a que confirma que o agir de Jesus forma unidade com o Pai. Mas, Cristo não é só a revelação da Palavra de Deus: é a Palavra mesma, é «Espírito e vida» (Jo 6,63). Esta realidade profunda do ser de Jesus faz que, não só seja Ele o que recebe tudo do Pai, mas também o que transmite, por sua vez, quanto possui. É o canal através do qual se dá o Espírito Santo. Como comunica Jesus este dom? Através de sua Palavra, quando se deixa que ela penetre no interior do homem, é como se dá o Espírito de Deus de um modo superabundante. As palavras de Jesus e o Espíri­to de Deus estão em perfeita correspondência.

 

 

At 5,27-33 (Comparecimento diante do Sinédrio) É o quarto discurso de Pedro, também diante do Sinédrio. Nele responde à dupla acusação de ter desobedecido à proibição de «en­sinar em nome de Jesus» e ter feito, aos notáveis do povo, responsáveis da morte de Jesus. É pre­ciso assinalar a alergia que sentem os membros do Sinédrio até «do nome desse», nome em torno ao qual se está levando a cabo o giro decisivo. As características deste breve discurso podem ser resumidas deste modo: primeiro, Pedro reafirma o dever de submeter-se a Deus antes que aos homens, pois só a quem se submete a Deus se lhe concede o Espírito (v.32). Segundo, a Jesus se lhe volta a chamar, uma vez mais, «Príncipe» (o autor, o iniciador) e «Salvador». Jesus é o novo Moisés que guia o povo para a libertação e salvação.Terceiro, a obra própria e originária deste Príncipe e Salvador consiste em «dar a Israel a ocasião de arrepender-se e de alcançar o perdão dos pecados». Trata-se de uma alusão a Jeremias: «Porei minha Lei em seu interior e sobre seus corações a escreverei, e eu serei seu Deus e eles serão meu povo» (31,33). Graças a Jesus, Príncipe e Salvador, chegaram os tempos deste dom sublime. Por último, o Espírito Santo é o que garante da autenticidade do testemunho, tanto em favor da vida nova, como da certeza e o valor que infunde e dos prodígios que realiza. A reação de raiva é preocupante: após a elimi­nação física do Nazareno, se pensa também na dos apóstolos.

 

Sl 33/34 (Louvor à justiça divina) (ver dia anterior)

 

 

MEDITATIO: Todos os discursos de Pedro concluem com a pro­messa da remissão dos pecados para os que se convertem. A obra de Jesus se apresenta aqui como a do iniciador e salvador destinado a dar a Israel a graça da conversão e da remissão dos pecados. Esta nos faz pensar: por que este tema está desa­parecendo da pregação e da consciência de muitos cristãos? Apresentar a salvação como perdão dos pecados está como que fora de moda. Não se usa muito. Sem dúvida, para quem tem o sentido de Deus, para quem se dá conta da importância decisiva que tem de estar em comunhão com ele, para quem sente a experiência da tragédia que supõe estar longe dele, para quem leva a serio o fato de que, em defini­tivo, o que conta é estar em amizade e em comunhão com Deus, o perdão dos pecados se apresenta como o fato decisivo da vida. Quem não é pecador? Quem não tem necessidade de perdão? Quem é mais «salvador” que aquele que, ao perdoar, restabelece a amizade com Deus? Apresentar a obra de Jesus como ligada ao perdão dos pecados é apresentá-la como a de alguém que restabelece a comunhão filial, amistosa, tranquilizadora, beatificante, com Deus. Esse é o inicio de qualquer outro bem messiânico. Que se pode construir sem este fundamento? Es­tar longe de Deus, sentir-nos não aceitos por Ele, sentir-­nos distantes da nossa origem e de nosso fim: se pode chamar a isso vida? Por isso Pedro anuncia Jesus como alguém que foi exaltado por Deus com o poder de oferecer o dom do restabelecimento da amizade entre o angustiado coração do homem e o ardente coração do Pai.

 

ORATIO: Dou-te graças, Senhor, por ter feito que me encontrasse hoje com esta Palavra que me recorda o dom do perdão dos pecados. Esqueço-me muito rápido das vezes que me tens perdoado, da alegria de sentir-me reconciliado por ti e contigo. Na tentativa de «atualizar» a palavra salvação para fazê-la compreensível e aceitável pelos outros, pelos irmãos que considero distraídos pelas excessivas coisas deste mundo, corro o risco de esquecer-me que a salvação, mesmo que soe também neste mundo, consiste, fun­damentalmente, em estar e em sentir-se em comunhão con­tigo. Para nós, pecadores, isso inclui e pressupõe que tu perdoas nossos pecados. Senhor, ilumina-me para que saiba falar de tua salvação em termos compreensíveis, mas, ao mesmo tem­po, não me esqueça do núcleo insubstituível desta reali­dade que é estar unido a Ti. Faz, sobretudo, que não perca a esperança de ter-te como amigo benévolo quando, oprimido por minhas culpas, me dirija trêmulo a Ti: mostra-me, então, teu rosto benigno de salvador e dá-me teu Espírito «para o perdão dos pecados».

CONTEMPLATIO: O vigor da conversão é o ardor da caridade de­rramada em nossos corações com a visita do Espíri­to Santo. Está escrito deste mesmo Espírito que é Ele o perdão dos pecados. De fato, quando se digna visi­tar o coração dos justos, os purifica, com grande poder, de toda a impureza de seus pecados, porque, apenas se derrama na alma, suscita nela, de maneira inefável, o ódio aos pecados e o amor às virtudes. Faz que a alma odeie de imediato o que amava, ame ardente­mente aquilo por que sentia horror e suspire intensa­mente por um e outro, porque se recorda de ter amado -para sua condenação – o mal, e odiado o bem que ama. De fato, quem se atreverá a dizer que um homem, ainda que esteja carregado com o peso de todo tipo de peca­dos, pode perecer, se é visitado pela graça do Espírito Santo? (Gregório Magno).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Bemaventurado o homem que se refugia no Senhor» (cf. Sl 2,12c)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL De que modo trabalhamos para a reconciliação? Em primeiro lugar e, sobretudo, reivindicando para nós mesmos o fato de que Deus nos reconciliou consigo em Cristo. Porém não basta com crer isto com nossa cabeça. Devemos deixar que a verdade desta reconciliação penetre em todos os recantos de nosso ser. Até que não estejamos plena e absolutamente convencidos de que fomos reconciliados com Deus; de que estamos perdoados; de que temos recebido um coração novo, um espírito novo, olhos novos para ver e ouvidos novos para ouvir; continuaremos criando divisões entre a gente, porque esperaremos dela um poder de cura que não possui. Só quando confiemos plenamente no fato de que pertencemos a Deus e podemos encontrar em nossa relação com Deus tudo o que necessitamos para nossa mente, nosso coração, nossa alma, poderemos ser livres de verdade neste mundo e ser ministros da reconciliação. Isto é algo que não resulta fácil; muito prontamente voltamos a cair na duvida e na rejeição de nós mesmos. Necessitamos que nos recorde constantemente através da Palavra de Deus, dos sacramentos e do amor ao próximo que estamos reconciliados de verdade (H.J.M. Nouwen, Pan para El viaje).

 

SEXTA-FEIRA, 03 DE MAIO DE 20192ª SEMANA DA PASCOA          

João 6,1-15 (A multiplicação dos pães) O milagre da multiplicação dos pães intro­duz, de modo simbólico, no magno «discurso do pão da vida» e está situado no centro da atividade publica de Jesus. Trata-se de um sinal querido pelo Mestre para revelar-se a si mesmo. Sem dúvida, João apresenta o sinal como o novo milagre do maná (cf. Ex 16), feito por Jesus, novo Moisés, em um novo Êxodo, e como símbolo da Eucaristia, cuja instituição durante a ultima ceia, à diferença dos sinóticos, não é contada. O texto revela um significado cristológico e sacramental preciso. Este sentido não é tanto o saciar a fome da multidão, mas, muito mais revelar a glória de Deus em Jesus, Palavra feita carne. O texto está dividido deste modo: a) introdução histórica (vv.1-4); b) diálogo entre Jesus e os discípulos (vv.5-10); c) descrição do sinal-milagre (vv.11-13); d) incompreensão da multidão e solidão de Jesus, que se retira a rezar no monte (vv.14s). Para João, Jesus é aquele em quem se cumpre o passa­do e se realizam todas as esperanças de Israel. De fato, o pão que o Mestre vai dar ao povo aperfeiçoa a páscoa judia –superando-a – e põe o grande milagre sob o sinal do banquete eucarístico cristão. Jesus fala em primeiro lugar ao povo que lhe segue, da no­va aliança com Deus e da vida eterna (à qual está destinada a humanidade). Em seguida, toma a ini­ciativa e chama a atenção do apóstolo Felipe sobre a di­ficuldade do momento. A solução humana não basta para saciar as necessidades do homem (v.7). É Jesus quem vai satisfazer em plenitude todas as necessidades. O alimento se multiplica em suas mãos. Todos ficam alimentados a tal ponto que, por indicação de Jesus, se recolhe o que sobrou em doze cestos «para que não se perca nada» (vv.12s). Com o sinal do pão, Jesus se apresenta como o Messias esperado que sacia a fome de seu povo sem faltar a compromissos com o projeto que o Pai  traçou.

 

 

At 5,34-42 (Intervenção de Gamaliel) Lucas apresenta sempre os fariseus sob uma luz favorável. De Gamaliel disse que é fariseu, quer dizer, um dos que, além de levar uma vida observante, crer na ressurreição. A intervenção do doutor da Lei se mostra prudente e resulta decisiva. A partir de dois exemplos de rebeliões, citados também pelo histo­riador Flavio Josefo, indica um principio de não intervenção, em nome da constante intervenção de Deus em favor de seu povo. Não se pode ir contra a agir divino mediante uma intervenção humana. Os apóstolos ficam em liberdade depois de – como Jesus – terem sido açoitados. É digna de destaque a ale­gria que sentem por terem merecido esse ultraje por amor ao Nome. Aparece aqui um eco da realização da bem-aventurança dos perseguidos: «Bem aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos ex­pulsem, os insultarem e proscrevam vosso nome como infame por causa do Filho do homem» (Lc 6,22). Porém, te­mos de assinalar também que, aqui se fala do Nome em absoluto para indicar a Jesus. Acontece que no judaísmo se em­pregava a expressão «o Nome» para dizer «Deus». Por sua vez, os Atos dos Apóstolos levam a cabo este atrevimento sem limites aos olhos dos judeus: substituir “Deus” (Uno, sim, trino, não, para o judaismo), por “Jesus”, para expressar que Deus opera em Jesus, que Deus se identifica com Ele. Mais ainda: o fato de que os apóstolos ensinem no templo de Jerusalém significa que, apesar das incompreensões e os abusos de poder das autoridades, os seguidores de Cristo ainda se encontravam fazendo parte do judaísmo, ou seja, era tidos, ainda, como uma «corrente», uma «seita» do judaísmo. Este, naquele período, se mostrava, te­ndo em conta todos os elementos, mas bem tole­rante. Até que chegou o furacão Estevão, que obrigou a situação a dar um decisivo e doloroso giro, ainda que vital.

 

Salmo 26/27 (Junto a Deus não há temor) Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Senhor, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e participe de todos os atos e realizações que busquem resplandecer o amor e a justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

MEDITATIO: A intervenção de Gamaliel resulta, ao final, favorável aos apóstolos. Seu principio de não intervenção – se não vem de Deus, não durará; e se é de Deus, é inú­til opor-se a ela – cita-se, com freqüência, como exemplo de conselho sábio e prudente. Ainda que nem sempre esteja ditado pela sabedoria, porque pode meter-se pelo meio certo desejo de viver tranquilo, de deixar correr as coisas – inclusive se poderia incorrer em fatalismo –, sem dúvida, quando está ditado por um espírito de fé no Deus que opera na historia, é, seguramente, um fato positivo. É preciso pôr em ação, ao menos em cir­cunstancias parecidas, o critério sugerido por Gama­liel, especialmente no Ocidente, onde tudo parece de­pender de nós e onde, até nas coisas de Deus, é o principio da eficiência o que dita a lei. É ne­cessário adquirir, de novo, o sentido de Deus, que opera continuamente, que pode operar, que está presente tanto nos fenômenos grandes como nos pequenos. É necessário que sejamos mais humildes frente aos proble­mas da salvação. Neles o protagonista é Deus; nós somos só pobres e pequenos colaboradores. O que se nos pede é que não «arruinemos» os planos de Deus, que discirnamos mais, com humildade, sua ação, para apoiá-la, não para pormos acima dela.

 

ORATIO: Que presunçoso e cego sou eu, Senhor, com meus progra­mas, planos, organogramas, projetos, projeções e organização! Ocorre-me com frequência, Senhor, que tento administrar tua «empresa» de salvação como se me pertencesse e devesse obter dela a maior utilidade possível. Entregue todo a meu afã de eficiência, esqueço-me de perguntar-me sobre o que estás fazendo, esqueço-me de perguntar o que estás realizando. E assim, sem dar-me conta, quis que entrasses em meus planos. E, assim, tuas surpresas – que são muitas! – me inquietam e perturbam. Concede-me o espírito de sabe­doria e discernimento para que seja capaz de buscar o justo caminho entre o que devo deixar-te fazer e o que a mim corresponde. Concede-me hoje, sobretudo, a humildade para aceitar o que queres e ajudar, de coração, teus planos, misteriosos com frequência, porém, sempre infalíveis.

 

CONTEMPLATIO – Suplico-vos que vos estabeleçais totalmente em Deus para todos vossos assuntos, sem confiar-se de vosso poder ou saber, nem tampouco da opinião humana. Com esta con­dição, considero-vos armados contra todas as grandes adversidades espirituais e corporais que vos possam sobrevir. De fato, Deus sustenta e fortifica os humildes, especialmente àqueles que, nas coisas pequenas e baixas, viram suas debilidades como em um claro espe­lho e se deixaram vencer. Quando esses homens se sentem presa de tribulações superiores a todas às que tem conhecido, nada pode derrubá-los, porque tem a segurança, em virtude da grandeza de sua confiança em Deus, de que nada pode acontecer-lhes sem sua permissão e sem seu consentimento (Francisco Javier).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Espera no Senhor e sê forte» (Sl 26,14a)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Uma leitura espiritual não significa somente ler sobre pessoas ou coisas espirituais.     É também ler espiritualmente, quer dizer, de maneira espiritual, a saber: ler com o desejo de que Deus venha mais próximo de nós. A maioria de nós lê para adquirir conhecimento ou para satisfazer sua própria curiosidade. A finalidade da leitura espiritual, sem duvida não é apoderar-se do conhecimento ou da informação, mas deixar que o Espírito de Deus reine sobre todos nós. Por muito estranho que possa parecer, a leitura espiritual significa deixar que Deus nos leia. Podemos ler com curiosidade a história de Jesus e perguntar-nos: “Aconteceu de verdade? Quem compôs esta história e como a fez?”. Porém também podemos ler a mesma história com atenção espiritual e perguntar-nos: “De que modo Deus me fala aqui e me convida a um amor mais generoso?” Podemos ler as noticias de cada dia simplesmente para ter algo de que falar em nosso trabalho. Porém podemos lê-las para fazer-nos mais conscientes da realidade do mundo, que tem necessidade das palavras e da ação salvifica de Deus. O problema não é tanto o que leiamos, mas como leiamos. A leitura espiritual é uma leitura que se faz prestando uma atenção interior ao movimento do Espírito de Deus em nossa vida exterior e interior. Esta atenção permitirá que Deus nos leia e nos explique o que verdadeiramente estamos fazendo (H. J. M Nouwen, Vivere nello Spirito).

 

 

 

 

 

SÁBADO, 04 DE MAIO DE 2019 2ª SEMANA DA PASCOA                                                                                               

João 6,16-21 (Jesus vem ao encontro de seus discípulos caminhando sobre o mar) Se o milagre dos pães tem a finalidade de revelar Jesus como Messias e profeta escatológico, o sinal do Senhor caminhando sobre as águas, destinado só aos discípulos, tem a de fazer-lhes compreender a divindade de Jesus, prevenir-lhes ante o escândalo da multidão e impedir sua deserção. Os discípulos estão na barca, já é noite. Já tinham remado fatigosamente e lutado contra as dificuldades do momento, quando vêem Jesus caminhando sobre o lago e ficam com muito medo (v.19). A confrontação com o Mestre constitui, para eles, um exame de consciência e uma chamada a superar sua curta visão e a confiar no mistério do homem-Jesus. Com as palavras «Sou eu. Não tenhais medo» (v.20), Jesus os tran­quiliza e se faz reconhecer, revelando-se como o Senhor em quem reside a presença poderosa e salvífica de Deus; quer dizer, se auto revela a seus discípulos, não só como Messias que sacia a fome, mas como pessoa divina que, uma vez mais, vai ao encontro com amor. Em seguida, no momento em que os discípulos acolhem Jesus e aceitam reconhecer sua identidade em âmbito superior, chegam de imediato à beira-mar. (v.21). Jesus é o lugar da presença de Deus entre os homens. Sob o rosto humano de Jesus se oculta seu mistério e sua identidade. Quem sabe ler na pessoa do Nazareno a manifestação própria de um Deus que ama, se converte em seu discípulo e permanece unido ao Profeta da Galiléia, apesar da áurea inacessível que envolve a sua pessoa.

 

 

 

At 6,1-7 (Instituição dos Sete) Os problemas cotidianos da jovem comunidade obrigam a tomar novas decisões. Trata-se de um problema, uma insatisfação: os apóstolos o levam a serio e resolvem. Há, primeiro, um lado econômico: talvez as viúvas dos homens da diáspora, que vieram passar os úl­timos anos de sua vida em Jerusalém e ficaram ago­ra sem apoio familiar. Trata-se de uma necessidade real, e deve ser enfrentada com saudável realismo. Mas, havia também um problema cultural: os helenistas que falam grego e lêem a Bíblia na tradução grega dos Setenta, têm uma sensibilidade diferente. É preci­so dispor de uma estrutura completa para eles, dotada de assistência espiritual e material. A passagem tem em conta estes dois aspectos: os «Se­te», de fato, são destinados tanto ao serviço da Palavra como ao das mesas. Aparecem como uma or­ganização eclesiástica «setorial» para os que têm uma língua, cultura e situação econômica diferentes dos judeus-cristãos da Palestina, como ocorre hoje com a criação de um «clero indígena».

 

Sl 32/33 (Hino à Providência divina) – A grande diferença entre o nosso Deus vivo de Israel, e os outros “deuses” é que o nosso vê, contempla e sente-se envolvido no processo de sua libertação. O Senhor viu o sofrimento e ouvi os gritos do seu povo, por isso decidiu libertá-los. Não é um Deus estranho ou que se esconde, sendo oposto aos “deuses”, que não estão preocupados conosco e brigam entre eles para ter a primazia e o poder. Como é bom saber que Deus nos vê, nos contempla e participa tanto de nossa história a ponto de enviar o seu único Filho para morrer por nós. Senhor, olha em cada momento para mim a fim de que a tua graça e a tua força me sustentem, e que eu nunca me deixe seduzir pelas riquezas, pelo poder, pela violência, mas em cada momento viva o dom do seu amor sob o teu olhar misericordioso. Amém.

 

 

MEDITATIO: O quadro romântico da comunidade «com um só coração e uma só alma», desenhado nas primeiras páginas dos Atos, parece obscurecer-se de improviso. Surgem as primeiras tensões. Porém o rea­lismo de Lucas sai elegante do desafio: os problemas exis­tem; até as comunidades mais perfeitas têm pro­blemas.      As tensões e os problemas têm que ser afrontados de uma maneira criativa e comunitária. Porém, sobretudo, não devem bloquear a comunidade com disputas perenes, não devem impedir a difusão do Evan­gelho. Tudo tem de ser considerado com um olhar posi­tivo; até o descontentamento, que tem de ser levado a serio porque oculta problemas sérios. Os apóstolos não consideram o descontentamento e a críti­ca como um gesto de rebelião, mas como o sintoma de um problema ao qual tem que se enfrentar e resolver. É um sinal de sabedoria e de prudência que nem sempre se tem repetido na historia da Igreja com notáveis con­sequências. Faz falta uma grande liberdade e um grande­ desprendimento, além de clarividência, por parte de quem possui a autoridade, para fazer frente às difi­culdades com espírito criativo. É preciso ter o senti­do da fraternidade cristã, capaz de escutar, de dia­logar, de buscar, juntos, soluções mais avançadas que correspondam melhor às novas situações. Os apóstolos nos dão aqui um exemplo de flexibilidade e de guia sabia da comunidade.

 

ORATIO: Quantos problemas surgem, Senhor, cada dia! Quan­tas tensões! E quão difícil acaba sendo solucioná-las! Com frequência, quando me sinto vítima, tenho a tentação de agredir e de atacar a quem possui a autoridade, enquanto que, quando sou eu quem carrego com ela, sinto a tentação de considerar aos que criticam como eternos insa­tisfeitos, como gente impossível de contentar, como gen­te sedenta de dinheiro e poder. Concede-me, Senhor, a sabedoria prudente dos doze, que escutam, envolvem toda a comunidade e dispõem-na. Faz que em nossas comunidades haja a mesma sabedoria, a mesma capacidade de escuta e de participação. Não deixes que nos falte a mesma criatividade, capaz de enfrentar com serenidade e de resolver as dificuldades normais. Aparta de meu coração a amargura e a agressividade que surgem quando não me sinto compreendido, e dá-me, ao contrário, o tom justo da crítica construtiva. Aparta de meu coração a arro­gância do poder que crê saber tudo e não presta ouvidos ao que não estava previsto. Senhor, vejo que a fraternidade está na base e na construção de tudo e de todos: desde a crítica à escuta, pela inteligência e pelo desejo de que tudo se resolva com espírito fraterno. Mostra-me, Pastor eterno, os cami­nhos cotidianos e concretos da construção paciente e sabia da vida fraterna, com os materiais de nossos limites, de nossas exigências, de nosso amor.

 

CONTEMPLATIO: O justo, que antes só prestava atenção à suas coi­sas e não estava disponível para carregar-se com os pesos dos outros e, como tinha pouca compaixão dos outros, não estava em condições de fazer frente às adversida­des; vai progredindo, de degrau em degrau, e se dispõe a tolerar a debilidade do próximo, chega a ser capaz de fazer frente à adversidade. E, assim, aceita com tanto mais valor as tribulações desta vida por amor à verdade, tanto quanto antes fugia das debilidades alheias.  Baixando-se, levanta-se. Inclinando-se se eleva e lhe fortalece a compaixão. Dilatando-se no amor ao próximo, concentra as forças para levantar-se para seu Criador. A caridade, que nos faz humildes e com­passivos, nos levanta depois a um degrau mais alto de contemplação. E a alma, engrandecida, arde em de­sejos, cada vez maiores, e anela chegar, agora, à vida do Espírito, também através dos sofrimentos corporais (Gregório Magno, Comentario moral a 1ob, VII, 18).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

“Concede-me, Senhor, o dom da escuta”

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Uma comunidade onde se vive com outros pode representar para o individuo o espaço vital no qual se produz um intercambio vivaz e uma experiência que faz amadurecer, um lugar de confiança no qual cada um pode crescer no amor a si mesmo e ao próximo. Uma comunidade de mulheres e de homens maduros estimula continuamente ao individuo para que faça frente às tarefas cotidianas e aos conflitos e, através destes, amadureça como pessoa e como cristão. A critica fraterna em um circulo de adultos constitui assim mesmo uma força criativa que serve para melhorar no conhecimento de nós mesmos em vistas a um projeto próprio de vida. Se a exercemos com respeito e misericórdia, nos ajuda a evitar ou a proteger-nos da tentação de esconder-nos na casa de nosso próprio corpo. Também os conflitos, inevitáveis em uma comunidade espiritualmente viva, seja entre anciãos e jovens, ou bem entre personalidades que chocam, poderia converte-se em matéria fértil para uma proveitosa cultura do conflito, necessária sobretudo nos conventos, onde convivem pessoas que não hão se elegido e que não estão unidas por vínculos de parentesco ou amizades. Acrescenta-se a isto que, em uma comunidade deste tipo, o individuo pode e deve confrontar-se também consigo mesmo de um modo mais radical do que o faria se vivesse só (Anselmo Grun, A onore Del cielo, come segno per le terra).

 

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