O Ano da Graça do Senhor (EFC)

Lucas 4,16-30

“O Espírito do Senhor está sobre mim”

Começamos, a partir de hoje, a leitura, quase continua, do evangelho segundo São Lucas. O primeiro texto que abordamos é o do discurso programático em Nazaré.

Jesus realiza sua primeira pregação:

  • Em Nazaré: É a cidade “onde havia sido criado” (4,16). Jesus é uma figura familiar para seu auditório: o viram crescer, educou-se em suas bancas, é membro dessa mesma comunidade, à qual tem frequentado todos os sábados. O que inicialmente parece ser uma vantagem, acaba sendo, ao final, uma barreira de separação entre Jesus e seu povo mais próximo.
  • Na liturgia da sinagoga: Extensa, composta de orações e leituras. O centro era a leitura de algumas passagens da Lei (primeiros 5 livros da Bíblia) e logo um dos profetas; após a leitura o comentário edificante para a assembléia. Jesus faz e comenta a leitura da passagem tomada de um dos profetas.

Que lê Jesus?

O texto lido por Jesus se encontra em Is 61,1-2 e 58,6. Nele se distinguem duas partes: (1) a auto apresentação do evangelizador; e (2) o conteúdo do anúncio.

(1) A auto apresentação do evangelizador: é o Messias (ungido) pelo Senhor (Yahweh)

O Espírito do Senhor está sobre mim…” (4,18ª)

A autoridade para realizar a missão vem da unção no Espírito. O texto de Isaías pensa na unção de um profeta (como em 1 Rs 19,16); de fato, segundo o pensamento dos rabinos da época de Jesus “um profeta fala pelo Espírito Santo”.

Jesus, então, é Profeta (7,16.39; 9,8.19 e, sobretudo 24,19). Mas o evangelista Lucas destaca que Jesus veio, não só como profeta, mas como Filho de Deus. Em momentos importantes Lucas vai recordar que o Messias é o Filho de Deus (ver como se colocam lado a lado em 4,41). Juntando todos estes detalhes Lucas segue clarificando quem é Jesus.

(2) O conteúdo do anúncio

“Para anunciar a boa nova aos pobres, para proclamar a liberdade aos cativos e recuperação da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor” (4,18b-19)

Apresenta-se em quatro frases paralelas:

  • Anunciar a boa nova aos pobres;
  • proclamar a liberdade aos cativos e recuperação da vista aos cegos;
  • pôr em liberdade os oprimidos; e
  • proclamar um ano de graça do Senhor.

Que há por trás destas palavras?

  • Trata-se de quatro modos de expressar a missão de Jesus em termos de uma ação libertadora para qualquer que seja o peso e opressão das pessoas. A mensagem de Jesus é a libertação total: das pessoas, da sociedade e do ambiente em que vivem. Assim nos ensina de maneira concreta que nesta difícil historia Deus está ao lado de todos os que sofrem e responde a sua esperança.
  • Trata-se de um novo tempo: o tempo messiânico. É o tempo do jubileu. O pano de fundo é o ano jubilar no Antigo Testamento (ver a instituição do ano sabático em Ex 23,12; Dt 15; Lv 25 e os antigos decretos de anistia pascal em Jr 34 e Ne 5) que tinha como ideal a restauração das relações do povo segundo o coração de Deus: nem opressor nem oprimido (havia que libertar os escravos), nem latifundiário, nem sem terra (redistribuição das terras), nem agiota nem devedor (perdão das dividas acumuladas). Por que tudo isto? Porque Deus é o único Senhor, nenhum homem tem o direito de exercer qualquer tipo de domínio sobre seu irmão. A chegada deste ano havia sido em outras épocas a esperança dos pobres e oprimidos. Aquele dia na sinagoga de Nazaré Jesus expôs o tema para anunciar assim a vinda do “Reino”;
  • Trata-se, do começo ao fim da instauração da soberania de Deus (Reino de Deus; ver 4,43). A presença imediata da ação salvífica de Deus que vem anunciando desde o começo do Evangelho é a chegada do Reino de Deus e com esta citação profética Jesus ilustra que a instauração do reinado de Deus na terra tem como conseqüência a libertação da humanidade;
  • Trata-se de um anuncio (notar: anunciar… proclamar… anunciar) que revive a esperança e convida a abrir-se à ação de Deus, porém aponta ao fato salvífico fundamental: “pôr em liberdade os oprimidos”, que abarca todas as formas de como se realiza a salvação no Evangelho, e que tem como ponto alto o maior dom de Deus: o perdão dos pecados. No Evangelho “libertar” e “perdoar” andam juntos (ver “curar” = “perdoar” em 5,24.31; libertar de uma “divida” = “perdoar” em 7,42.48).

A homilia de Jesus

Após proclamar o texto de Isaías, Jesus pronuncia sua brevíssima homilia: “Esta Palavra, que acabais de ouvir, se cumpriu hoje” (4,22). É como se tivesse dito: “Isto já não é mais uma promessa profética, se cumpriu com minha ação”.

A Boa noticia do Reino na boca de Jesus então é esta:

O anuncio da boa noticia aos pobres… Se cumpriu hoje!;

A proclamação da libertação aos cativos e a recuperação da vista aos cegos – Se cumpriu hoje!

A libertação dos oprimidos – Se cumpriu hoje!

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