O Deus dos pequeninos (EFC)
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Mateus 18,1-5.10.12-14
PRESENÇA DO CÉU AMIGA
“Seus anjos veem continuamente o rosto de meu Pai”.
No Evangelho de Mateus 18,10, Jesus evoca a convicção bíblica de que Deus cuida de seus pequeninos desprotegidos e vulneráveis ante a maldade humana. Para isso retoma com seu colorido a imagem da corte celestial : “Seus anjos veem continuamente o rosto de meu Pai”.
A ideia é que os “pequenos”, quer dizer, aqueles que por sua fragilidade podem ser facilmente excluídos, menosprezados ou escandalizados, contam com o respaldo de Deus. Quem se converte em ameaça para os “pequenos” terá que ver-se com Deus.
Mais ainda, estes “protegidos” do Pai, é a imagem do Filho por excelência, que é Jesus: “Ao que receber um pequeno como este em meu nome, a mim recebe. Porém…” (18,5-6); tudo mostra a gravidade que é a afronta contra o “pequeno” e ao mesmo tempo –com o verbo “receber”- ensina de que maneira cada um deve fazer-se “anjo” de Deus para eles.
Isto tem, todavia outra implicação: se o “pequeno” é o que aparece “custodiado” por Deus, não compreenderemos o que significa ser protegidos por Deus, se não nos fazemos “pequenos”.
A frase “Se não mudais e vos fazeis como crianças não entrareis no Reino dos céus” (18,4) faz supor que não pode captar em profundidade o que significa a “presença angelical” em sua vida quem não se coloca no lugar do pequeno que confia em Deus e se deixa guiar por Ele.
O caminho pascal pelo qual Jesus custodia nossos passos é o da conversão. E a conversão não é possível sem a docilidade de criança que –como esponja- aprende o que lhe oferece.
Este é o ponto de partida de todo crescimento espiritual. Santo Agostinho preferiu chamá-la “humildade” e a comparou a uma árvore que só é capaz de crescer se tem raízes profundas.
As raízes profundas do que cresce nos caminhos do Senhor, fazendo o percorrido desde a infância até a velhice, é esta capacidade de abandono humilde e confiante em Deus. Assim como as raízes profundas de uma criança é a confiança em sua mãe e em seu pai, assim também com o Deus da vida.
A confiança na providência de um Deus Pai e a docilidade a seu ensinamento que nos faz amadurecer nos dão a força para superar todas as dificuldades da vida e chegar vitoriosos à meta.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja
«Também é da vontade de vosso Pai do Céu que não se perca um só destes pequeninos»
Vinde, Senhor Jesus, procurai vosso servo; procurai vossa cansada ovelha; vinde, pastor […].
Enquanto demorais nas montanhas, eis que vossa ovelha erra, perdida; deixai as outras noventa e nove que tendes e vinde procurar aquela que se perdeu.
Vinde, sem que ninguém Vos ajude, sem Vos fazerdes anunciar; sou eu quem Vos espera.
Não tragais chicote, trazei amor; vinde com a doçura do vosso espírito.
Não hesiteis em deixar nas montanhas as noventa e nove ovelhas que possuís; aos altos
cumes onde as deixastes, não terão os lobos acesso […]
Vinde até mim, que me perdi do rebanho das alturas, porque também aí me havíeis posto,
mas os lobos da noite fizeram que abandonasse os vossos prados.
Procurai-me, Senhor, pois na minha prece procuro-Vos.
Procurai-me, encontrai-me, perdoai-me, levai-me!
Aquele a quem procurais Vós podereis encontrá-lo, aquele que encontrais, dignai-Vos perdoá-lo, e este a quem perdoais, ponde-o aos vossos ombros.
Nunca tal fardo de amor Vos pesará, pois que sem vos afadigardes sois o portador da justiça.
Vinde pois, Senhor, porque se é verdade que eu erro, «Não esquecerei as vossas palavras»
(Sl 118,16), e conservo a esperança do remédio.
Vinde, Senhor, só Vós podereis chamar a vossa ovelha perdida, e às outras que deixais não causareis mal algum; elas alegrar-se-ão por ver regressar o pecador.
Vinde, haverá salvação na Terra e alegria nos céus (Lc 15,7).
Não envieis servos nem mercenários, vinde Vós, em pessoa, procurar a vossa ovelha.
Perdoai-me nesta carne que com Adão caiu.
Reconhecei em mim, neste gesto, não o filho de Eva, mas de Maria, virgem pura, pela graça, sem mácula de pecado; depois levai-me até vossa cruz, que é a salvação dos homens perdidos, o único repouso dos homens cansados, a única vida de todos quantos morrem.