O Homem do sudário: Imagem gerada pela Inteligência Artificial
Uma imagem recente de Jesus gerada por IA, supostamente nos dando uma imagem precisa do homem no Sudário de Turim, levanta uma série de questões fascinantes.
OSudário de Turim voltou a ser notícia . O pano de linho, com a imagem de um homem que foi torturado e crucificado, tem sido uma fonte de controvérsia por centenas de anos. Muitos afirmam que é uma falsificação medieval, enquanto outros apontam inúmeros detalhes impressionantes que parecem confirmar que é realmente o pano de sepultamento de Cristo.
A imagem no pano, muito tênue quando vista pessoalmente, levanta muitas questões. Essa imagem foi criada por um ser humano, como uma pintura ou relevo, ou é uma imagem real, “fotográfica” do Cristo Crucificado, talvez criada por meio de algum processo desconhecido no exato momento da Ressurreição?
É importante notar que a Igreja não tomou nenhuma posição oficial sobre o assunto. Os católicos praticantes são livres para acreditar que o Sudário é autêntico ou falso. A análise científica apenas aprofunda o enigma. Um teste de datação por carbono em 1988 pareceu reforçar os argumentos dos céticos, indicando que o linho no sudário datava de 1260–1390 d.C. Vários estudos em periódicos científicos questionaram esse resultado, no entanto – e no mês passado, cientistas usando um método de datação diferente disseram que o tecido tinha 2.000 anos.
É talvez o artefato mais estudado da história, mas, de muitas maneiras, continua sendo um mistério. Nisso, o Sudário parece ecoar a pergunta que Jesus fez a seus discípulos: Quem vocês dizem que eu sou?
Uma verdadeira imagem de Jesus?
Uma das coisas mais estranhas sobre a imagem no Sudário de Turim é que ela tem as características de um negativo fotográfico. Isso foi descoberto em 1898 por Secondo Pia, um advogado e fotógrafo amador, que ao revelar uma foto que havia tirado do Sudário, percebeu que sua placa negativa mostrava uma imagem “positiva” do rosto (Ed. – Veja acima.)
O resultado foi tão chocante que muitos se recusaram a acreditar que não era um erro ou uma farsa. Fotografias posteriores confirmaram o resultado, no entanto. Poderia ser que esta fosse a imagem “verdadeira” do rosto de Cristo? O Sudário de Turno nos mostra como Jesus realmente era?
Se nosso desejo ao olhar para o Sudário é identificar a aparência real de Jesus, no entanto, mesmo uma fotografia melhorada do Sudário pode nos deixar frustrados. A imagem mostra um rosto que foi espancado, machucado e ensanguentado, mas as características exatas do homem permanecem tentadoramente elusivas.
Usando IA para “melhorar” a imagem do Sudário
Isso levou a tentativas de “melhorar” a imagem, originalmente fazendo com que artistas interpretassem a imagem para fazer uma imagem mais fotorrealista de Jesus que se encaixasse em nossas expectativas. Mais recentemente, e com grande alarde, o jornal Daily Star lançou uma imagem gerada por IA que, segundo ele, finalmente revela a verdadeira semelhança de Jesus.
https://x.com/Sachinettiyil/status/1826388576898335152
Conforme detalhado em um artigo de maio , recentemente pedi ao ChatGPT para criar visualizações de descrições de testemunhas oculares do “Milagre do Sol” de Fátima. O artigo descreveu como as imagens de IA são geradas – um fator importante a ser considerado ao julgar se uma imagem de IA pode ser confiável ou não. Também coloquei um link para um artigo fascinante de Mark Burchick e Diana Pasulka que é leitura obrigatória se você estiver interessado em como a IA pode nos ajudar a visualizar fenômenos milagrosos, junto com algumas armadilhas potenciais.
O que uma fotografia realmente nos diz?
O principal apelo da imagem de Jesus do Daily Star é que ela parece uma imagem fotorrealista de Jesus. Finalmente, temos uma imagem definitiva do Jesus real. O senso de autenticidade depende de nossa suposição de que uma fotografia nos dá a compreensão mais verdadeira não apenas da aparência de uma pessoa, mas de quem ela realmente é . Mas essa suposição é precisa?
Todos nós já tivemos a experiência de entrar na casa de um amigo ou vizinho pela primeira vez e ver fotos de seus parentes, amigos, etc. em uma mesa lateral ou lareira. Se você nunca conheceu a pessoa mostrada em tal foto, a experiência pode ser desconcertante. “Quem é esse?”, imediatamente nos perguntamos. Na verdade, olhando para a fotografia de um estranho, nunca pensamos: “Ah, ha! Agora eu conheço essa pessoa!” As fotografias nos dizem surpreendentemente pouco sobre as pessoas e geralmente só levantam mais perguntas em nossas mentes.
Pense na última vez que você leu um livro de não ficção sobre um evento na história recente. Ele provavelmente continha fotografias das pessoas mencionadas na história. Se você for como eu, você pode ter olhado para essas fotos, mas você não gastou muito tempo olhando para elas para entender melhor as pessoas retratadas. Você sabia instintivamente que a chave para entender essas pessoas estava contida principalmente no texto, e não em suas fotos. As aparências externas nos dizem algo sobre as pessoas, é claro, mas a chave para realmente entendê-las está em outro lugar – em suas palavras, ações e no testemunho de outros.
A verdadeira questão
Se, como muitos acreditam, o Sudário de Turim é uma imagem autêntica do Cristo Crucificado, então também faz sentido aceitar que é um ícone milagroso criado por Deus. Isso levanta uma questão final: se Deus nos deu uma imagem de seu Filho, por que alguém deveria tentar “melhorá-la”? Ao fazer isso, podemos facilmente ignorar o que Deus está tentando nos dizer e, em vez disso, impor nossa própria mensagem, distorcendo o rosto de Jesus em vez de realçá-lo.
Por esta razão, acredito que todas as tentativas de usar o Sudário para criar uma imagem “verdadeira” de Jesus são equivocadas. O erro é semelhante ao que alguns estudiosos bíblicos cometem quando desmontam os Evangelhos em uma tentativa de nos dar uma imagem “verdadeira” do Jesus histórico. No final, a busca pelo Jesus histórico nos deu muitos Jesuses diferentes, tão variados em caráter quanto os estudiosos que escrevem sobre ele. O Papa Bento XVI abordou este problema em seu prefácio a Jesus de Nazaré :
Aqueles que lerem um certo número dessas reconstruções uma após a outra perceberão imediatamente que elas são muito mais os instantâneos dos autores e seus ideais do que a revelação de um ícone que se tornou confuso. Enquanto isso, a desconfiança cresceu em relação a essas imagens de Jesus e, em todo caso, a figura de Jesus se afastou ainda mais de nós.
Da mesma forma, tentativas de criar uma imagem verdadeira e fotorrealista de Jesus com base no Sudário de Turim resultarão em uma variedade de imagens de Jesus que variam de acordo com os preconceitos e gostos do artista ou — talvez pior — com a programação da IA usada.
John Touhey – publicado em 08/09/24
matéria original: